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ERU487 Desenvolvimento Econômico Notas de Aula (1)

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Notas de Aula - ERU 487 - Desenvolvimento Agrícola
Leonardo Cardoso
22 de Maio de 2017
Conteúdo
0.0.1 Avisos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1 Estado da Arte do Desenvolvimento Econômico 5
1.1 Conceito de Desenvolvimento Econômico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.1.1 Crescimento como medida suficiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.2 Formas de Mensuração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.2.1 O Novo IDH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.3 Diferenças Básicas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento . . . . . . . 13
1.3.1 Como os pobres de hoje diferem dos ricos nos seus estados iniciais . . . . 14
1.4 Questões e Sugestões de Leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.4.1 Questões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.4.2 Leituras Complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2 Unidade 2: Teorias do Desenvolvimento Econômico 16
2.1 Desenvolvimento como Crescimento Econômico . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.2 Solow - Introdução - seguindo [Jones and Vollrath, 2016] - Graduação . . . . . . 16
2.2.1 Função de Produção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.2.2 Função de Acumulação de Capital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.2.3 Estática Comparativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.2.4 Por que alguns países são ricos e outros são pobres - por Solow . . . . . . 21
2.2.5 Crescimento Econômico no Modelo Simples . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.2.6 O Modelo de Solow com Tecnologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2.7 Limitações do Modelo de Solow . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.2.8 Questões e Leituras - Pós . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.3 Modelo Teórico da Cepal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.4 Modelos Contemporâneos de Desenvolvimento e Subdesenvolvimento . . . . . . 30
2.4.1 Subdesenvolvimento como falha de coordenação . . . . . . . . . . . . . . 30
2.5 Diagrama para Múltiplos Equilíbrios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.6 Big Push . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.7 O-Ring . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.7.1 The O-Ring Model . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.8 Materiais Auxiliares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3 Unidade 3: Conceitos Básicos de Desenvolvimento Agrícola 37
3.1 Globalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.2 Conceitos Básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.3 Elasticidades da Demanda e Instabilidade dos Ganhos . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.4 Hipótese de Prebish-Singer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.4.1 Vantagens Absolutas, Vantagens Competitivas e Modelo de Heckscher
Ohlin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.5 O Agronegócio Brasileiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
1
4 Unidade 4: Teorias de Desenvolvimento Agrícola 48
4.1 Estratégias de Desenvolvimento Agrícola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.2 Microeconomia do Setor Rural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
5 Unidade 5: Desenvolvimento Agrícola no Brasil 49
5.1 Desenvolvimento Agrícola pré-1945 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
5.2 Desenvolvimento Agrícola pós-1945 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
5.3 Desenvolvimento Agrícola Brasileiro Contemporâneo . . . . . . . . . . . . . . . 49
2
Comentários Iniciais e Avisos
Esse é um material feito para que eu assimile e organize os conceitos que terei que passar pros
senhores. Se vocês estão tendo acesso a ele, é porque, de alguma forma, confiei inocentemente
que vocês farão uso desse material, mas não negligenciarão os livros sugeridos.
A ementa da disciplina está no catálogo da UFV ( http://www.catalogo.ufv.br/PDF/
VICOSA/ERU487.pdf).
Os livros mais usados no decorrer desse curso são os da bibliografia básica e o [Todaro et al., 2009]
que está na lista complementar.
Esse é um material inicial, sua primeira versão está sendo feita agora, em 2017. Se por
algum motivo você encontrar erros ortográficos, teóricos ou de qualquer outra natureza, envie
um email para leonardocardoso005@gmail.com. O erros vão sendo corrigidos ao longo da dis-
ciplina, de forma que é indicado que você olhe sempre o último arquivo disponível.
0.0.1 Avisos
Infelizmente eu não tenho uma proxy boa o suficiente para inferir o quanto vocês assimilaram do
curso. Dentre todas as péssimas proxies, provas individuais parecem ser as melhores escolhas.
Dito isso, informo que:
• São 3 provas, cada uma valendo 30% da nota. Os outros 10% serão as notas das listas
(vocês escolheram que eu pontue as listas ao invés de termos alguns seminários);
• Existe uma prova substitutiva com o conteúdo total da disciplina para quem perder
alguma prova. Não será possível que o aluno que tirou nota baixa em alguma das provas
faça a substitutiva apenas para substituir uma nota;
• Vocês podem olhar as provas, individualmente, em um horário que eu agendarei. Prova-
velmente será após a aula da sexta-feira, no período de 16h às 19h;
• Vocês podem olhar a "prova corrente". Ou seja, se eu já entreguei a terceira prova, apenas
ela poderá ser contestada. A segunda está fora, a primeira está mais fora ainda;
• As datas das provas combinadas em sala de aula foram:
� Prova 1 - 11 de abril (terça);
� Prova 2 - 23 de maio 9 (terça);
� Prova 3 - 30 de junho (sexta);
� Prova Substitutiva - 4 de julho (terça);
� Exame Final - 11 de julho (terça).
Alguns avisos complementares para que eu possa me organizar:
3
• A Lista 1, contendo os exercícios sobre definições de crescimento econômico, formas de
mensuração e diferenças básicas entre ricos e pobres, ficou para ser entregue no dia
31/março;
• Eu dei um exercício em sala, dia 24/março, que foi entregue no dia 28/março, valendo
um ponto extra na primeira prova;
• A Lista 2, sobre o modelo de Solow, será entregue para vocês hoje (29/março) e deverá
ser entregue no dia da prova, 11/abril;
4
Capítulo 1
Estado da Arte do Desenvolvimento
Econômico
Essa primeira unidade do curso é baseada em [Todaro et al., 2009], Capítulos 1 e 2.
1.1 Conceito de Desenvolvimento Econômico
Diferente de elasticidade ou inflação, desenvolvimento econômico não tem uma definição precisa
em economia. Existem várias definições, cada uma enfatizando uma diferente particularidade
do processo de desenvolvimento.
Tradicionalmente desenvolvimento econômico é definido como crescimento da renda per ca-
pita. Logo, se o país consegue aumentar a disponibilidade de bens de forma mais rápida do que
o crescimento da sua população, está ocorrendo crescimento econômico. O que, segundo essa
visão tradicional, é igual a desenvolvimento econômico.
Outras definições tradicionais abordam a estrutura produtiva da economia. Países mais
"desenvolvidos"são associados a estruturas produtivas mais intensivas relativamente no setor
industrial (estou falando que a participação da indústria no PIB é maior) e com uma parcela
da menor da população vivendo em áreas rurais.
Entretanto, durante a década de 1950 e 1960, algumas nações conseguiram ter crescimento
econômico positivo, ao passo que esse crescimento não se espraiava para a população como um
todo, ficando concentradoem alguns setores.
"Crescimento é condição necessária, mas não suficiente para o desenvolvimento."
Durante a década de 1970, a definição de desenvolvimento começou a abarcar também as
noções de redução (ou eliminação da pobreza), redução da desigualdade de renda, e aumento
do nível de emprego.
"Redistribuir para crescer"passou a ser o slogan. Dudley Seers em [Todaro et al., 2009,
p.15] diz que as questões passaram a ser direcionadas à pobreza, emprego e desigualdade. Se
dois ou até um desses pontos centrais não estivessem melhorando, ficaria difícil chamar isso de
desenvolvimento. Mesmo que a renda dobrasse nesse período.
Diante de uma diversidade enorme das definições para desenvolvimento econômico, escolhe-
5
mos as duas que parecem ser as mais importantes, uma de Amartya Sen, nobel em Economia,
e outra de Michael Todaro, autor de um dos mais importantes manuais de desenvolvimento:
• Sen: Processo de melhora do bem estar da população dando liberdades para que essa ela
exerça sua cidadania de forma crescente. Processo de expansão de liberdades reais.
• Todaro diz que para que exista desenvolvimento a população precisa estar aumentando:
os bens básicos à sobrevivência, o padrão mínimo de vida (incluindo educação) e as
possibilidades de escolhas.
Para entender o conceito de Sen
1
, a gente precisa entender o que ele chama de liberdades.
Um pouco antes disso, vamos passar às explicações pelas quais crescimento não é sinônimo de
desenvolvimento para Amartya Sen. Para ele, existem, pelo menos 5 motivos pelos quais duas
pessoas com a mesma renda per capita tenham diferentes níveis de bem-estar:
• Heterogeneidades das pessoas � dificuldades motoras, idade e outras;
• Heterogeneidades quanto ao clima � para uma mesma renda, se uma pessoa precisa gastar
1/3 da renda para se aquecer, obviamente que apenas a renda não reflete os níveis de bem-
estar das duas;
• Heterogeneidades sociais � para a mesma renda, uma família pode estar em uma comu-
nidade violenta e o outra não. A violência restringiria o acesso a parques, horários de
passeios, dentre outras coisas;
• Heterogeneidade no tratamento dentro da família. Três décadas de controle de natalidade
geraram um excedente de 33 milhões de homens na China, que hoje conta com 116 rapazes
para 100 mulheres. Dez anos atrás a proporção era de 121/100. A média Global para
referência é de 103 a 107 homens para cada mulher. Se o gênero está impactando no
número de crianças, ele pode estar gerando diferenças no tratamento das pessoas dentro
da mesma família, gerando níveis diferentes de bem estar para dois indivíduos dentro da
mesma família. 100
2
;
• Diferenças em relação às perspectivas (o que as pessoas pensam para uma vida de sucesso).
Uma boa proxy para saber se as pessoas estão alcançando o que elas acreditam que seja
uma vida de sucesso é se elas estão confortáveis para �appear in public without shame�.
O que pode determinar isso? Filhos, sucesso dos filhos, roupas, acesso à TV, internet,
dentre outros. A ideia aqui é que dois indivíduos podem ter níveis diversos de bem estar,
mesmo tendo a mesma renda, simplesmente porque eles partem de perspectivas diferentes
do que seja sucesso.
1
Nobel em Economia em 1988, professor do departamento de Economia e do de Filosofia em Harvard.
2
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/11/1701548-china-in-town-deficit-de-mulheres-na-china-e-quase-um-canada.
shtml
6
Voltando às liberdades (capabilities) de Sen, existe uma hierarquia nessas liberdades. Uma
eleição limpa não é uma liberdade se a população passa fome. Ou seja, existem diferentes
formas de privação e essas podem ser hierarquizadas.
Hierarquia das formas de privação de liberdade de Sen: alimentação, nutrição
adequada, saúde, saneamento, educação, emprego, segurança econômica e social,
liberdades políticas e direitos cívicos.
Junto com o conceito de liberdades de Sen vem o conceito de funcionalidade de um bem,
ou seja, o que realmente importa não é a posse do bem, mas a funcionalidade dele, o que pode
ser feito com ele. Aqui vai a crítica à abordagem utilitarista, quando Todaro diz que "what
matters for well-being is not just the characteristics of commodities consumed, as in the utility
approach, but what the consumer can and does make of commodities"[Todaro et al., 2009, p.
16]. Bicicletas não geram aumentos nas possibilidades de locomoção de cadeirantes, nem livros
para pessoas que não sabem ler. Em ambos os casos existe uma privação à funcionalidade do
bem por conta de uma heterogeneidade individual. Correto, mas, até por isso que bicicletas
não são demandas por cadeirantes, nem livros por pessoas que não sabem ler. Possibilitando a
inferência de bem-estar pelo consumo.
Em suma, Desenvolvimento Econômico para Sen é o processo pelo qual se melhora o bem
estar e qualidade de vida da população. Sendo que esse processo tem que incluir, além de
melhorias na qualidade de vida da população como um todo, o foco na redução da pobreza,
acesso à educação e serviços de saúde, aumento das liberdades individuais e das possibilidades
de escolha.
A definição de desenvolvimento econômico para Todaro é parecida com a de Sen. Para To-
daro existem 3 esferas básicas que precisam ser contempladas para que exista desenvolvimento
econômico.
• Itens Básicos (comida, moradia e saúde) devem ser distribuídos de forma que todos te-
nham o mínimo necessário;
• Padrão de vida mínimo, aqui também em relação à educação e saúde;
• Liberdade de Escolhas: voto, liberdade de expressão e democracia.
1.1.1 Crescimento como medida suficiente
Em um livro de crescimento econômico, geralmente crescimento é proxy para desenvolvimento,
sem restrições. Nós, do alto da nossa humildade, não podemos supor que Acemoglu não co-
nhece as limitações das medidas de crescimento econômico. A questão fundamental é que ele
simplesmente diz que "crescimento é uma medida suficiente"mostrando, no capítulo 1 do seu
livro [Acemoglu, 2008] que maiores PIBs estão correlacionados positivamente com todos os in-
dicadores de desenvolvimento humano que veremos a seguir.
Adiantando que expectativa de vida é um dos determinantes, na Figura de Acemoglu, não
existem países nos cantos superior esquerdo e inferior direito. Ou seja, usando a faixa dos 70
7
anos como referência, não existem países pobres com expectativa acima de 70, nem países ricos
com expectativa abaixo disso
3
.
Figura 1.1: Expectativa de Vida por PIB per capita
A comparação com expectativa de vida é apenas uma das comparações que Acemoglu faz,
ele também usa correlação entre PIB e consumo e PIB e escolaridade para dizer que: o PIB é
uma medida suficiente, países ricos têm cidadãos que consomem mais, vivem mais,
são mais educados e com mais saúde. Na média, não tem nada mais parecido com bem
estar do que PIB. O que está em desacordo com J. Stiglitz: "GDP is not a good measure of
economic performance; it's not a good measure of well-being."
Essa sub secção tem o objetivo apenas de mostrar que existem grandes e respeitados auto-
res dizendo coisas diferentes sobre como desenvolvimento deve ser encarado. Se apenas como
função de crescimento, ou não.
1.2 Formas de Mensuração
As diferenças de renda per capita existem e elas são enormes. Os EUA, por exemplo, têm
aproximadamente 15 vezes a renda da África Sub Saariana e 3,5 vezes a renda do Brasil.
3
Duas outras referências sobre o assunto:
i) http://blog.euromonitor.com/2014/03/economic-growth-and-life-expectancy-do-wealthier-countries-live-longer.
html;
ii) http://www.gapminder.org/answers/how-does-income-relate-to-life-expectancy/
8
0
20
00
0
40
00
0
60
00
0
N
Y
.G
D
P
.P
C
A
P
.P
P
.C
D
1990 1995 2000 2005 2010 2015
Year
BRA Europa (Euro)ASS USA
PIB per Capita PPP 
Renda USA é 
17x a ASS e 
quase 4x a 
Brasileira. ANO 
DE 2011. 
Mesmo existindo um debate sobre se crescimento pode ou não ser uma medida para desen-
volvimento, por hora, vamos assumir que desenvolvimento deve ser medido de alguma outra
forma que não apenas pelo PIB per capita ou pelo PIB per capita PPP.
Essa ideia de que precisávamos de uma nova medida para desenvolvimento ganha força du-
rante as décadas de 1970 e 1980 quando a academia começa a notar que existiam países que
mesmo passando por um processo de crescimento acelerado não conseguiam que o crescimento
fosse distribuído para toda a população.
Todas as razões pelas quais duas pessoas com renda semelhante podem não estar no mesmo
nível de bem estar citadas acima são importantes nesse processo de caminhar em direção às
novas medidas. O ponto é que, não adiantava criticar crescimento como medida de desenvolvi-
mento se não fosse proposto um novo número, um novo índice. De preferência simples e fácil
de ser calculado e que pudesse ser comparável entre os países.
Desta necessidade nasce o IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, criado pelo PNUD,
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, em 1990, em uma equipe encabeçada
por Mahbud-ul Had e que continha Amartya Sen e Keith Griffin como membros.
O novo conceito deveria responder 3 perguntas:
1. As pessoas estão vivendo bastante e vivendo bem?
2. Elas são educadas? Conseguem ler e escrever?
3. Elas têm uma vida decente no sentido financeiro?
A primeira pergunta é respondida basicamente pela expectativa de vida ao nascer. A segunda
é respondida pela percentagem da população com mais de 15 anos que sabe ler e pela percen-
tagem da população que está na escola. A terceira pergunta é respondida com o PIB PPP.
É fácil perceber que somente somar esses números não é uma boa ideia. Eles são de gran-
dezas totalmente diferentes, de forma que o somatório pouco indicaria sobre desenvolvimento
9
econômico. Por isso, o IDH é composto não pelo somatório dos valores, mas pela média simples
de três índices, que aqui nos chamaremos de:
• Índice de Expectativa de Vida (IV);
• Índice de Educação (IE);
• Índice de Renda (IR);
O IDH será a média simples entre esses três índices (IV, IE e IR).
O Índice de Expectativa de Vida (IV) será:
IV = (Expec− 25)/85− 25 (1.1)
O índice de expectativa de vida (IV) é uma normalização do tipo max-min equalizado
4
, com
a diferença de que os valores de máximo e de mínimo não são os valores observados na série,
mas os definidos como razoável pela ONU. Ou seja, mesmo que a expectativa de vida de 25
anos não tenha sido verificada em nenhum momento, ainda assim esse será o valor mínimo de
referência.
É possível que países tenham expectativa de vida acima dos 85 anos. Nesse caso, o índice
seria maior que 1. Porém, fica definido que, nesses casos, o índice será 1.
O índice de educação (IE) é composto por dois outros índices: 2/3 pelo índice de taxa de
alfabetização e 1/3 da porcentagem de pessoas na escola. Esses dois índices que compõe o IE já
estão no formato da normalização max-min, com os valores de referência para o mínimo sendo
zero e 100 para o máximo, de forma que não precisa ser feita nenhuma modificação na taxa
de alfabetização e na taxa de pessoas frequentando a escola para compor o IE. Eles devem ser
apenas ser ponderados por 2/3 e 1/3, respectivamente.
O índice de renda (IR) é definido por:
IR =
log(PIB PPP )− log(100)
log(40000)− log(100) (1.2)
Os valores de referência para o máximo e mínimo são 40.000 dólares e 100 dólares (ambos
medidos em dólares PPP). Note que o índice da renda vem em log, o que lhe confere retornos
marginais decrescentes. Ou seja, se nós fizermos
∂IDH
∂PIB
veremos que esse é um número positivo,
um dólar a mais, obviamente aumenta o IDH. Entretanto, o dólar marginal aumenta cada vez
menos o IDH, o que é facilmente observado pelo sinal negativo de
∂2IDH
∂2PIB
.
Em suma, o IDH será:
IDH = (IV + IE + IR)/3 , onde IE =
2
3
.Alf +
1
3
.F req (1.3)
Por ser uma média entre 3 índices que variam entre 0 e 1, o IDH também não pode ser menor
que zero, nem maior que 1. Com os IDH mais baixos estão países como Burundi, Burkina Faso,
4
Com o índice sendo definido por I = X−min(x)max(X)−min(X) .
10
Serra Leoa, Mali, Libéria e Congo, todos com IDH abaixo de 0,44 em 2014
5
. Na outra ponta do
ranking estão países como Canadá, Estados Unidos, Noruega, Dinamarca e Suíça, todos com
IDH superiores a 0.91 (os dados são para o relatório mais recente, o de 2015, que traz IDHs de
2014).
Pense em uma função de produção onde o PIB seja apenas um insumo para produzir o IDH.
Se todos os países conseguem transformar PIB em IDH da mesma maneira, se todos eles têm a
mesma função de produção, se isso for verdade: o país mais rico será também o país com maior
IDH, o segundo mais rico será o segundo com maior IDH e assim sucessivamente. Então, se
nós reduzirmos a colocação no Ranking do PIB da colocação no Ranking de IDH, o resultado
seria zero. Entretanto, nem sempre isso acontece, como mostra a figura abaixo retirada de
[Todaro et al., 2009].
Ou seja, existem países que possuem valores negativos pra última coluna. Esses não con-
seguem traduzir PIB em IDH de forma tão eficiente. Os países que possuem valores positivos
para essa variável parecem fazer isso de forma mais eficiente.
Existem diversas classificações para países quanto a renda e IDH. Aqui vamos falar ape-
nas das duas mais importantes para renda (Banco Mundial e ONU) e a mais importante para
IDH(ONU).
Em julho de 2016 o Banco Mundial começou a reclassificar os países quanto à renda. A
classificação é feita pelo Gross National Income (GNI)(Renda Nacional Bruta) e não pelo GDP
(PIB). Países low-income têm renda inferior a $1.025, lower middle-income tem renda entre
$1.026 e $4.035. Upper middle-income são aqueles com renda entre $4.036 e $12.475. Países
com renda maior que $ 12.476 são considerados high-income. A metodologia para cálculo está
5
http://hdr.undp.org/en/indicators/137506
11
Figura 1.2: Observatório das Desigualdades. https://observatorio-das-desigualdades.
com.
aqui
6
. A Argentina fica exatamente na divisória entre os grupos de renda alta e média alta,
com renda nacional bruta per capita de $ 12.460. Nós, brasileiros, estamos no grupo do renda
média alta, com GNI de $9.850.
Na classificação por renda da ONU existem três grandes grupos: países desenvolvidos,
países em transição e países em desenvolvimento. Veja que não existe mais a classificação de
países "não desenvolvidos. O Brasil está no grupo de países em desenvolvimento, junto com
a Argentina e junto com Togo, Congo e Serra Leoa. O problema da definição da ONU é que
coloca muita gente não semelhante em um grupo apenas. Parece existir interesse em inflar
o grupo dos países em desenvolvimento para que as possibilidades de intervenções sejam am-
pliadas. Pois Congo e Argentina definitivamente não estão nem próximos de terem níveis de
desenvolvimento semelhantes.
1.2.1 O Novo IDH
Algumas críticas pertinentes podem ser feitas ao IDH. Na parte da educação, por exemplo,
duas nações com crianças matriculadas e com idade abaixo dos 15 anos, atingiriam exatamente
o mesmo índice de escolaridade, mesmo que em um país todas as crianças fossem reprovadas,
enquanto que no outro elas estivesse realmente aprendendo algo. Isso ocorre porque uma parte
do índice conta apenas se as crianças estão matriculadas ou não. E a outra parte dele conta a
percentagem que sabe ler entre os maiores de 15 anos.
Tentando diminuir esse e outros problemas, o IDH mudou em para o Novo IDH (NIDH) em
dezembro de 2010. As mudanças mais relevantes foram:
1. Renda Nacional Bruta passou a ser usadaao invés do PIB;
6
https://datahelpdesk.worldbank.org/knowledgebase/articles/378832-what-is-the-world-bank-atlas-method.
12
2. A percentagem da população matriculada e a percentagem da população que sabe ler aos
15 anos deram lugar aos anos médios de estudo (para pessoas com mais de 25 anos ou
mais) e a expectativa de anos médios de estudos para as crianças que estão entrando na
escola. Ainda assim, a medida de anos médios de estudos traz problemas se para dado
um ano de estudo, países diferentes entreguem cargas de conhecimento díspares. Ou seja,
se um ano de estudo em Mali for muito diferente de um ano de estudo na Noruega, a
medida tem um problema.
3. Os valores máximos foram redefinidos para que fossem os máximos observados na série;
4. O valor mínimo para renda (log (100)) foi revisto por conta da mínima história do Zim-
babue em 2007;
5. A média usada passou a ser a média geométrica.
1.3 Diferenças Básicas entre países desenvolvidos e em de-
senvolvimento
• Baixos Níveis de Produtividade - os países pobres têm menores níveis de produtividade
do que os ricos. Ou seja, dados os mesmos insumos, pobres conseguem produzir uma
quantidade menor de produto final; Abaixo vocês encontram a produtividade por traba-
lhador no primeiro gráfico. E, no segundo, a ilustração de quais países mais avançaram
em termos de produtividade entre 1992 e 2006.
13
• Baixos Níveis de Capital Humano;
• Altos níveis de desigualdade de renda e altos níveis de pobreza absoluta;
• Altas taxas de crescimento populacional;
• Geografia Adversa;
• Mercados Pouco Desenvolvidos;
• Legado Colonial;
• Dependência Externa.
1.3.1 Como os pobres de hoje diferem dos ricos nos seus estados ini-
ciais
A questão é se as condições que propiciaram aos países ricos ficassem ricos se repetem nos
pobres de hoje. Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e outros "ricos de hoje", se pareciam,
quando estavam nos seus estágios iniciais de industrialização, com os pobres de hoje?
A resposta é não, por vários motivos:
• Endowments (dotação de fatores) - Os países pobres de hoje têm menos recursos naturais
do que os ricos quando estavam no seus estágios iniciais. Isso tanto falando de recursos
naturais, quando de capital humano;
• Níveis de Renda - As pessoas que hoje vivem nos países pobres têm menores níveis de
renda do que os países que hoje são ricos nos seus estágios iniciais;
• Crescimento Populacional - Os pobres de hoje em dia crescem a taxas maiores que os
ricos nos seus estágios iniciais. A média de crescimento dos países em desenvolvimento é
2,5% a.a., enquanto EUA e Europa jamais cresceram a taxas maiores que 2%;
14
• Migração Internacional - Durante períodos difíceis na história dos países ricos, grandes
parcelas da sua população migrou para outros países. Américas, por exemplo, teriam
recebido 60 milhões de imigrantes entre 1850 e 1914. Em sua maioria trabalhadores
pouco especializados.
1.4 Questões e Sugestões de Leitura
1.4.1 Questões
1. Qual a definição de desenvolvimento econômico para Amartya Sen? (A resposta deve
conter a definição de liberdades para o mesmo autor.)
2. Cite 4 ou mais razões pelas quais duas pessoas com o mesmo nível de renda podem ter
níveis distintos de bem estar, segundo Amartya Sen.
3. Qual a definição de desenvolvimento econômico para Michael Todaro?
4. Quais as questões básicas devem ser respondidas pelo IDH?
5. Qual a intenção de colocar o índice de renda em log no IDH?
6. Você acha que desenvolvimento econômico deve ser medido apenas como crescimento
econômico? Quais os argumentos prós e contra?
7. Os países ricos de hoje, nos seus estágios iniciais de industrialização, eram parecidos com
os pobres de hoje? Cite pelo menos 3 diferenças básicas.
8. Sabendo que o IDH de um país qualquer foi de 0,6, que suas percentagens de pessoas com
mais de 18 anos que sabem ler e de pessoas que frequentam a escola são ambas iguais a
0,6, e que a expectativa de vida do país é de 70 anos, qual a renda em dólares PPP do
país?
1.4.2 Leituras Complementares
• Relatório sobre desenvolvimento da ONU, com vídeos e estatísticas. http://report.
hdr.undp.org/;
15
Capítulo 2
Unidade 2: Teorias do Desenvolvimento
Econômico
.
2.1 Desenvolvimento como Crescimento Econômico
Prezados alunos, essa parte do curso é baseada no Capítulo 2 do [Jones and Vollrath, 2016].
Vocês devem ler tanto as notas de aula, quanto o livro.
2.2 Solow - Introdução - seguindo [Jones and Vollrath, 2016]
- Graduação
A primeira consideração a ser feita é que a literatura de crescimento está falando de longo
prazo (períodos de, no mínimo, 10 anos). Não é de se supor que uma variação na poupança em
dezembro surtirá efeito na taxa de crescimento em janeiro.
Outra coisa importante de se ter em mente é que pequenas mudanças no crescimento econô-
mico fazem grandes transformações no longo prazo. A regra dos 70 nos dá uma boa aproximação
disso. Um crescimento de 10% ao ano, dobra o PIB em aproximadamente 7 anos. Fazendo uma
comparação entre taxas de crescimento mais modestas, uma taxa de crescimento de 1% ao ano
dobra o PIB em 70 anos, enquanto uma taxa de crescimento de 2% dobra o PIB em 35 anos.
Ou seja, se o Brasil tivesse uma taxa anual média apenas 2% maior do que ele efetivamente
teve de quando eu nasci até hoje, eu, hoje, viveria com o dobro de PIB per capita.
O Modelo de Solow foi desenvolvido em 1950 para mostrar como as taxas de poupança e a
taxa de crescimento da força de trabalho determinam a acumulação de capital e, por sua vez,
o crescimento econômico.
Robert Solow (Nobel em 1987) principalmente pela contribuição iniciada em "A Contribu-
tion to the Theory of Economic Growth"(1956).
16
Faremos aqui algumas hipóteses sobre o funcionamento da economia. A primeira delas é
que os países produzem um mesmo bem homogêneo, logo, não há razão para existir
comércio internacional, sendo a economia, uma economia fechada. Nessa economia fechada,
a tecnologia é exógena e a decisão mais importante a ser tomada é qual a parcela do produto
será consumida hoje e qual a parcela do produto será poupada. A poupança aqui é apenas uma
fração da renda.
2.2.1 Função de Produção
Essa forma mais simples do Modelo de Solow começa com uma função de produção Cobb
Douglas para K (capital ) e L (trabalho):
Y = KaL1−a (2.1)
Perceba que a é um número entre 0 e 1, e que essa função apresenta retornos constantes de
escala
1
. ELA É HOMOGÊNEA DE GRAU: a + 1-a = 1.
Os salários (w) são a remuneração do fator de produção L e o aluguel (r) é a remuneração
pelo fator de capital (K). Uma vez que os mercados dos dois fatores (K e L) são concorrenciais,
normalizando o preço para 1, a firmas tem que maximizar o lucro com base em:
Max PRODUTO − CUSTOS (2.2)
Max F = KaL1−a − w.L− r.K (2.3)
Veja que a escolha da firma é com relação a quantidade de capital e de trabalho que será
contratada, por isso, a maximização é em relação a K e L.
∂F/∂K = a.Ka−1.L1−a − r = 0 (2.4)
∂F/∂L = (1− a).Ka.L1−a−1 − w = 0 (2.5)
Essas duas equações podem ser reescritas por w = (1 − a).Y/L e r = a.Y/K. Essa forma
de escrever as condições de primeira ordem é especialmente benéfica se formos trabalhar com
a notação Y/L = y e K/L = k, normalizando L/L=1. Veja que se fizermos um gráfico
do comportamento do produto por trabalhador (Y/K) em função do capital por trabalhador
(K/L), esse gráfico será descrescente em K. O capital apresenta retornos decrescentes!
1
Dobrando-se os insumos, o produto dobrará. θY = θKaL1−a
17
Figura 2.1:
Como que a gente pode garantir que o gráfico Y/L x K/L é crescente? Pela primeira
derivada! A gente precisa saber qual o sinal de:
∂Y/L
∂K/L
(2.6)
Dividindo a equação Y = KaL1−a por L, a gente vai chegar a:
Y/L = (K/L)a(L/L)1−a(2.7)
Resultado em:
Y/L = (K/L)a (2.8)
Tirando a primeira derivada em relação a K/L, a gente chega a:
∂Y/L
∂K/L
= a.(K/L)a−1 = positivo! (2.9)
18
Tirando a segunda derivada, também em relação a K/L:
∂2Y/L
∂2K/L
= (a− 1)a.(K/L)a−2 = negativo! (2.10)
Sabe-se que a primeira derivada é positiva, implicando em uma função crescente, porque a
é um número entre 0 e 1. De forma semelhante, percebe-se que ela cresce a taxas decrescentes
porque a segunda derivada é negativa! O mesmo ocorre se fizermos as derivadas parciais de Y
em relação a L.
2.2.2 Função de Acumulação de Capital
Após as explanações sobre a função de produção, a segunda equação que precisa ser elucidada
é a equação de acumulação de capital:
K˙ = sY − dK (2.11)
Essa equação diz que a acumulação de capital em um período é igual a diferença entre o
que é poupado (sY) e o que é perdido na depreciação (d). Obviamente que se a depreciação
é maior que a poupança, a acumulação de capital é negativa e o estoque de capital cai.
O próximo passo é supor que a taxa de crescimento da população é constante. Isso
implica que L˙/L = n, n é apenas o nome da constante que será usada para a taxa de crescimento
da população. Dito isso, podemos dizer que:
L˙/L = n → dlnL/dt = n → dlnL = dtn (2.12)
Aplicando a integral:
lnL+ c = tn+ clnL = tn+ cL(t) = C.ent L(t) = Lo.ent (2.13)
Veja que eu substitui a constante por Lo, sendo esse o valor inicial da série. A parte que você
precisa gravar dessa conversa é que L˙/L = n. Pois bem, agora a gente quer sair da equação
básica da acumulação de capital (K˙ = sY − dK ) e chegar até a função de acumulação de
capital por trabalhador (k˙):
k˙
k
=
K˙
K
− L˙
L
(2.14)
k˙
k
=
K˙
K
− n (2.15)
Isolando K˙:
K˙ =
k˙.K
k
+ nK (2.16)
19
Figura 2.2:
Agora a gente pode igualar essa última equação à equação básica de acumulação de capital:
sY − dK = k˙.K
k
+ nK (2.17)
k˙.K
k
+ nK = sY − dK (2.18)
k˙.K
k
= sY − dK − nK (2.19)
Dessa equação é só a gente pegar
k˙.K
k
e trocar k por K/L, assim a gente vai ficar com k˙.L do
lado esquerdo da equação, significando que se eu dividir o lado direito por L, chego na equação:
k˙ = sy − (d+ n)k (2.20)
Essa equação está nos dizendo que a cada novo período aparecem novos trabalhadores, nL,
se não houver investimento de, no mínimo essa taxa somada a depreciação, a taxa de capital
por trabalhador cairá. Dito de outra forma, para que k˙ = 0, a gente precisa que sy = (d+n).k.
Ou seja, o investimento por trabalhador tem que ser igual ao crescimento da população somado
à depreciação para que k˙ = 0.
Isso é visto de forma mais fácil no Diagrama Básico de Solow. Lembre-se que a sY é somente
uma fração de Y, ou seja, ela tem a mesma forma de Y. Considerando n e d como constantes,
temos que:
Então, aquele ponto k* é exatamente o ponto onde sy = (d+ n).k, onde a variação de ca-
pital por trabalhador é zero. Nos pontos à direita, a depreciação e o crescimento da população
são maiores que o investimento, fazendo com que o a variação de capital seja negativa. Nos
pontos à esquerda de k*, o investimento é maior que a depreciação somada com o crescimento
20
Figura 2.3:
populacional, fazendo com que a variação de capital por trabalhador seja positiva. O ponto em
que k˙ = 0 é exatamente o que chamados de estado estacionário, steady state.
Se a gente plotar também a função y no gráfico, fica fácil de saber que o k* também tem
um y* de equilíbrio.
A diferença entre o que é produzido e o que é poupado é exatamente o consumo por
trabalhador.
2.2.3 Estática Comparativa
O que ocorre com o modelo se considerarmos alguns choques?
• Um aumento no investimento, por exemplo, vai deslocar a curva sy para cima, cruzando
a curva (n+d).k em um ponto mais alto, o que nos levará para um steady state com um
maior k*, o que, por sua vez, leva a um maior y*;
• Um aumento da população? Um aumento da população é representado por um aumento
de n, esse aumento de n faz com que a curva (n+d).k aumente a sua inclinação, cruzando
a curva sy em um ponto "menor"que o anterior, o que fará com y* também se reduza.
Essa redução de k é uma redução da proporção K/L! Lembre-se que K/L=k.
2.2.4 Por que alguns países são ricos e outros são pobres - por Solow
Com as propriedades do estado estacionário (k˙ = 0) conseguimos chegar às primeiras respostas
para essa pergunta. Primeiro vamos determinar qual o y*. Para isso, vamos primeiro saber
qual o k* (k do estado estacionário). Sabendo que k˙ = 0:
k˙ = sy − (d+ n)k (2.21)
21
sy = (d+ n)k (2.22)
Substituindo y = ka:
ska = (d+ n)k (2.23)
ka = (d+ n)k/s (2.24)
k−1ka = (d+ n)k/s (2.25)
ka
k
=
d+ n
s
(2.26)
k
ka
=
s
d+ n
(2.27)
k1−a =
s
d+ n
(2.28)
k∗ = ( s
d+ n
)1/1−a (2.29)
Uma vez que achamaos o k*, é só substituí-lo em y para acharmos y*:
y∗ = ( s
d+ n
)a/1−a (2.30)
De Eq.2.30 conseguimos achar os sinais das derivadas parciais de y* em relação s, d e n.
Sabendo que a é um número entre zero e um, fica fácil de verificar que as parciais em relação
a d e n são negativas, enquanto que a derivada parcial em relação a s é positiva (lembre-se
que existe um -1 para as derivadas que estão no denominador, pense em colocar 1/d+ n como
(d+ n)−1). Essas parciais revelam como y* se relaciona com tais parâmetros.
2.2.5 Crescimento Econômico no Modelo Simples
O modelo que acabamos se adequa bem a vários fatos estilizados. Por exemplo, gera diferenças
de renda per capita a partir de diferentes taxas de poupança e de relação capital-trabalho
(K/L). Porém, no estado estacionário existe crescimento econômico, porém a renda cresce à
mesma taxa do crescimento populacional, fazendo que com a renda per capita por trabalhador
não cresça. Ou seja, no estado estacionário do modelo simples, não existe progresso, o que não
se verifica empiricamente!
Pelo fato da segunda derivada da função de produção ser negativa tanto em relação ao
capital, quanto em relação ao trabalho, implica que será cada vez mais difícil crescer ao se
tornar intensivo em apenas um dos insumos. A taxa de crescimento será positiva quando a
relação K/L estiver aquém da taxa de steady state, ficando cada vez menor até tender a zero
quando o k tende a k*.
Essa parte é minha! Tenho que checar bonitinho. Partindo da função de acumulação de
capital, se a gente quiser saber a taxa de acumulação de capital (k˙/k) a gente precisa dividir a
22
equação de acumulação de capital por k:
k˙ = sy − (n+ d).k (2.31)
Dividindo por k e subsituindo y por ka:
k˙/k = ska−1 − (n+ d) (2.32)
Para saber como o crescimento da acumulação de capital (k˙/k) varia em relação a k, basta
a gente fazer a parcial dela em relação a k:
∂k˙/k/∂k = (a− 1).s.ka−2 (2.33)
O termo (a-1) é negativo, enquanto s.ka−2 é positivo, deixando a parcial inteira negativa.
Ou seja, a medida que k aumenta, a taxa de acumulação de capital diminui. Isso faz com que
os valores de k acima do estado estacionário tragam taxas de crescimento que fazem com o
estoque de capital por trabalhador diminua, enquanto que k abaixo do estado estacionário faz
com que o estoque de capital por trabalhador aumente.
2.2.6 O Modelo de Solow com Tecnologia
A gente pode incluir a tecnologia (A) no modelo de diversas formas:
Y = F (K,L) colocando A =

Y = A.F (K,L)→ Hicks−Neutra
Y = F (AK,L)→ Solow −Neutra
Y = F (K,AL)→ Harrod−Neutra
(2.34)
A gente vai escolher a forma Harrod-Neutra ou a tecnologia é "aumentadora de trabalho".
Ela poderia ter sido incluída junto ao capital (K), sendo "Solow-neutra"ou ainda poderia ter
vindo como uma multiplicação de F(Y), sendo "Hicks-neutra". Nesse uso da Cobb-Douglas
que a gente vem fazendo, se ela é Solow-Neutra ou Harrold-Neutra, não tem tantaimportância
porque ambas as formas terão retornos decrescentes para tecnologia (segunda derivada parcial
de Y em relação a A é negativa em ambas as situações). Porém, na forma Hicks-neutra, a gente
teria retornos constantes de escala para tecnologia.
Veja que em Solow a tecnologia é exógena. Ou seja, o nível de capital, nem o de
trabalho, influenciam em A. Por hora, simplesmente supomos que a tecnologia cresce a uma
taxa constante (A˙/A = g). Dito isso, vamos fazer construir a nossa função de produção com
inclusão de tecnologia Harrold-Neutra:
Y = Ka.(AL)1−a , 0 < a < 1. (2.35)
23
De onde conseguimos derivar a função de produção com tecnologia por trabalhador:
y = ka.A1−a (2.36)
Partindo da equação de acumulação de capital que tínhamos anteriormente (K˙ = sY − dK)
e da mesma regra para para a taxa de crescimento do capital (k˙/k = K˙/K − n), chega-se
novamente a:
k˙ = sy − (d+ n).k (2.37)
Ao substituir y por ka.A1−a a gente chega a equação de movimento com tecnologia:
k˙ = s.ka.A1−a − (d+ n).k (2.38)
De onde podemos chegar ao steady state (k˙ = 0):
ska.A1−a = (d+ n).k (2.39)
A1−a.ka−1 = (d+ n)/s (2.40)
(k/A)a−1 = (d+ n)/s (2.41)
(k/A) = [(d+ n)/s]1/a−1 (2.42)
(k/A) = [s/(d+ n)]1/(1−a) (2.43)
k = A.[s/(d+ n)]1/(1−a) (2.44)
O problema de Eq. 2.44 é que A não é constante (o que é constante é a taxa de crescimento
de A (A˙/A = g), logo, a gente não pode dizer que k é k*. Entretanto, Equação 2.44 dá alguns
insights sobre a relação das variáveis s, d e n com a taxa de crescimento A gente veio até aqui
só pra dizer que, com o modelo com tecnologia, a gente tem que considerar então um artifício,
a gente tem que considerar as variáveis por trabalhador (L) e por tecnologia (A), considerando
as divisões de Y/AL = yˆ e K/AL = kˆ. Dessa forma:
˙ˆ
k =
K˙
K
− L˙
L
− A˙
A
(2.45)
O que é a mesma coisa que escrever:
K˙ = K.
˙ˆ
k
kˆ
+ (n+ g).K (2.46)
24
Iqualando essa equação 2.46 à equação de acumulação de capital (K˙ = sY − dK):
K.
˙ˆ
k
kˆ
+ (n+ g).K = sY − dK (2.47)
K.
˙ˆ
k
kˆ
= sY − (n+ g + d).K (2.48)
Aqui a gente precisa do mesmo auxílio usado no modelo sem tecnologia, vamos olhar apenas
para o lado esquerdo da equação:
K.
˙ˆ
k
kˆ
= K.
˙ˆ
k
K/AL
=
˙ˆ
k.(AL)−1 (2.49)
Por isso, chegamos a:
˙ˆ
k.(AL)−1 = sY − (n+ g + d).K (2.50)
Significando que se eu dividir Y por AL chegarei a yˆ e se eu dividir K por AL, chegarei a yˆ,
chegando, finalmente a:
˙ˆ
k = syˆ − (n+ g + d)kˆ (2.51)
Agora sim, da Equação 2.51 conseguimos deduzir o steady state (k˙ = 0):
syˆ = (n+ g + d)kˆ (2.52)
s.kˆa = (n+ g + d)kˆ (2.53)
kˆa−1 = (n+ g + d)/s (2.54)
kˆ = [(n+ g + d)/s](1/a−1) (2.55)
kˆ∗ = [s/(n+ d+ g)](1/1−a) (2.56)
Daí conseguimos achar o yˆ∗:
yˆ∗ = [s/(n+ d+ g)](a/1−a) (2.57)
O que ocorre com o modelo caso exista:
• Aumento de poupança? Imagine que uma economia inicialmente em equilíbrio (steady
state) tem um aumento permanente de s. O que isso faz com que a curva sy se desloque
para cima, alcançando níveis maiores de kˆ, isso porque momentaneamente o investimento
vai ser maior que (n + d + g).kˆ, aumentando kˆ. Ou seja, esse aumento de s faz com que
a taxa de crescimento aumente de forma temporária, só até a economia atingir o novo kˆ.
• Aumento do Investimento
• Aumento da taxa de natalidade
25
Partindo da equação de produção inicial:
Y = Ka.L1−a (2.58)
Ao incluirmos a tecnologia (A) na forma Harrod-Neutra, chega-se a:
Y = Ka.(AL)1−a (2.59)
Escrevendo essa função na forma de função por trabalhador (divindo tudo por L):
y = ka.A1−a (2.60)
Escrevendo a Equação 2.60 no steady state a gente vai ver como a tecnologia influencia no
steady state:
y ∗ (t) = A(t).[s/(n+ d+ g)](a/1−a) (2.61)
Veja que pra escrever a equação acima a gente pode apenas "abrir"(yˆ = K/AL) na Equação
2.57.
2.2.7 Limitações do Modelo de Solow
Estamos falando de uma economia fechada. Mesmo se existisse possibilidade de comerciar, isso
não faria sentido quando se tem apenas um bem e esse bem é homogêneo. Não existe razão para
o comércio internacional. Isso limita as explicações sobre crescimento, o comércio internacional
importa e importa muito. Basta olhar a relação entre corrente de comércio (X+M)/Y e o
crescimento do PIB por trabalhador. Mas o MS acerta, e muito, quando a gente olha os dados
de taxa de crescimento populacional, taxa de investimento e poupança e relaciona isso com a
renda per capita.
Veja que a maioria dos países tem crescimento da renda per capita sustentada. O modelo
sem progresso técnico chega a um y* de equilíbrio à medida que o capital começa a manifestar
rendimentos decrescentes. Quando se relaxa a hipótese de "não progresso técnico"começamos
entender um pouco melhor o crescimento do produto por trabalhador dos últimos 200 anos.
26
2.2.8 Questões e Leituras - Pós
Leituras
Leitura básica:
• Capítulos 2 e 3 do [Jones and Vollrath, 2016].
Vídeos e Leituras complementares:
1. Capítulo 1 - Growth - [Bénassy, 2010];
2. Capítulo 1 - [Romer, 1996]
3. https://www.youtube.com/watch?v=Dx7ZvAKfL9k
4. https://www.youtube.com/watch?v=PfTJQrL1QZc
5. https://www.youtube.com/watch?v=UwQBlJ6ve5U
6. https://www.youtube.com/watch?v=-06UOz8or34
7. https://www.youtube.com/watch?v=dO3LKXpqipM&t=3195s
8. https://www.youtube.com/watch?v=Koar_AerjJg&t=323s
Questões
1. Considerando uma função de produção do tipo Cobb-Douglas,
Y = KaL1−a, onde Y é produto agregado da economia, K é o capital agregado, L é o
número de trabalhadores nesta economia e α está entre 0 e 1, responda:
(a) Quais os pressupostos para a função de produção (Y)?
(b) Mostre que
∂Y
∂K
> 0;
(c) Mostre que
∂2Y
∂2K
< 0;
(d) Trace o gráfico de Y x K;
(e) Qual a função de produção por trabalhador para o Modelo de Solow com Crescimento
Populacional, usando y=Y/L e k=K/L?
2. No Modelo de Solow com Crescimento Populacional, como obtenho a função de acumula-
ção de capital por trabalhador partindo da função de produção agregada de acumulação
de capital?
3. Qual a condição de equilíbrio para o Modelo de Solow com Crescimento Populacional?
Desenhe o Diagrama de Solow e caracterize k∗ quanto à estabilidade do equilíbrio.
27
4. Na imagem abaixo de Y=F(K, L, A) por K, em qual dos dois gráficos os pressupostos da
função de produção agregada são respeitados? Explique.
5. A taxa de poupança (s) tem um papel central no modelo de Solow. O que ocorre com o
equilíbrio se essa taxa de poupança aumentar marginalmente?
6. Como uma economia que comece em um ponto k < k∗ chega até o ponto de steady state?
7. Imagine uma economia que está em equilíbrio, mas que por algum motivo ocorreu um
aumento no crescimento populacional. Mostre os dois equilíbrios no Diagrama de Solow.
8. Considerando dois países com as seguintes características:
• Ambos têm a mesma função de produção: Y = K 12 (AL) 12
• Ambos têm a mesma taxa de depreciação: δ = 0, 02
• Ambos têm o mesmo crescimento populacional: n = 0, 01;
• Ambos têm a mesma taxa de poupança: s = 0, 16;
• O país A tem crescimento tecnológico (ga = 0, 01), enquanto o país B tem cresci-
mento tecnológico (gb = 0, 03).
Pergunta-se:
(a) Qual a função de produção por trabalho efetivo (yˆ) genérica?
(b) Qual o yˆ e kˆ de steady state para ambos os países?
(c) Qual a taxa de crescimento de y (Y/L) para os dois países?
(d) Qual o y no cenário base com A=1, e qual o y 100 anos depois (para os dois países)?
28
2.3 Modelo Teórico da Cepal
Essa parte não tem notas de aulas. Os alunos devem ler:
• [Bielschowsky and Ribeiro, 2000];
• [Cimoli et al., 2005]
29
2.4 Modelos Contemporâneos de Desenvolvimento e Sub-
desenvolvimento
Prezados, aqui nós vamos conversar sobre modelos contemporâneos de desenvolvimentoe
de subdesenvolvimento. A referência básica é o Capítulo 4 do Todaro, p. 155 do livro,
[Todaro et al., 2009, Cap. 4, p. 155]. Como o livro é em inglês, eu vou fazer essas notas
de aula. Outros materiais vão sendo citados ao longo do texto.
2.4.1 Subdesenvolvimento como falha de coordenação
Desenvolvimento é possível, mas extremamente difícil de ser alcançado e não-automático (re-
quer esforço sistemático). Relembre do Modelo de Solow e perceba que nós não fizemos qualquer
contextualização sobre o modelo, uma diminuição marginal da taxa de natalidade geraria au-
mento na acumulação de capital por trabalhador em qualquer nação. A partir da aula da
CEPAL, nós temos um contexto para os modelos de desenvolvimento, os modelos são feitos
para um certo grupo de países, os modelos são feitos para países em desenvolvimento.
Muitas das teorias abordadas aqui vão levar em consideração o conceito de complementa-
ridades. Um conjunto de coisas deve funcionar bem o suficiente para que o desenvolvimento
seja alcançado. Nós não podemos colocar uma Fábrica da Ferrari em Cruz das Almas - BA
hoje, muito embora as condições para o sucesso da fábrica possam ser criadas, elas ainda não
existem. Cruz das Almas - BA, por mais bacana que seja, não oferece as condições mínimas
para que a fábrica seja instala.
As complementariedades seriam as ações tomadas por uma firma ou trabalhador que au-
mentam os incentivos para outros agentes tomarem ações similares. [Todaro et al., 2009] evita
falar em externalidades positivas, por essa ser uma linguagem um pouco mais ortodoxa, mas
penso que não há outro conceito mais preciso para falar do fenômeno. Pense no caso de uma fá-
brica, não precisa ser uma da Ferrari, pode ser uma um pouco mais comum, mas que de alguma
forma precise de um número mínimo de engenheiros bem formados. A própria empresa pode
investir em educação pode não ser a melhor escolha, por duas questões: i) custo; ii) caronas.
Formar engenheiros não custa barato, nem é possível fazê-lo de um dia pro outro. O problema
dos caronas se refere ao fato de, uma vez formado, o engenheiro pode ir trabalhar em outra
fábrica por um salário um pouco maior. De forma que a fábrica que investiu na formação não
obtenha o retorno e sim uma outra, a caroneira, que nada investiu.
Em relação às falhas de coordenação, de uma forma simplificada, pense na existência de
dois equilíbrios: melhor (M) e pior (P). Os agentes podem ter perfeita informação de que M
existe, uma vez estando em P, mas, mesmo assim, não conseguem sair do equilíbrio P. Existe
então, uma falha de coordenação, os agentes não conseguem se organizar de tal forma a sair de
P em direção a M. Alguns motivos básicos para que essa situação exista: expectativas e carona.
No caso do investimento em educação citado acima, pense que o retorno do investimento está
ligado ao investimento de outros agentes. Eu comecei a estudar turbinas, para que exista um
retorno, é preciso que outros agentes realmente estudem outros componentes, é preciso haver
30
uma coordenação. O problema do carona, novamente, é que existe um grande incentivo para
que eu deixe um outro ser o agente que se move primeiro. Pense que eu quero contratar um
engenheiro de turbinas e eu sou a Rolls-Royce e quero 50 Engenheiros para fundar uma fábrica
em Cruz das Almas, é melhor eu deixar General Eletric treinar os funcionários e eu vou lá,
pago um pouco a mais e deixo a RR sem funcionários. Sabendo disso, qual a melhor estratégia
para a General Eletric? Talvez seja melhor eu não fazer nada e esperar que outro treine os
funcionários. Por isso que o governo vai ter um papel importante nessa coordenação ou para
tentar fazer com que as empresas se movam conjuntamente, ou sendo ele o primeiro a se mover.
Quanto maior a maturação do investimento, maior o lag entre o investimento e o retorno,
mais provável a falha de coordenação. Pense numa hidrelétrica em que o retorno do investi-
mento será determinado por uma demanda que está 30 à frente, toda essa incerteza faz com
que a iniciativa seja desencorajada investir no setor.
Subdesenvolvimento pode então ser entendido como um problema de falhas de coordenação
e a manutenção nele sendo ligada às complementariedades. Um país é pobre porque não con-
seguiu coordenar os agentes com a finalidade de sair dos equilíbrios piores para os melhores.
E a manutenção na pobreza se dá por conta da ausência das condições mínimas para que o
processo de desenvolvimento comece.
Interessante que essa parte do capítulo serve para entender a maioria dos problemas de
fronteiras tecnológicas, tanto para países ricos, quanto para países de renda média. Baixo in-
vestimento em P&D é um caso clássico de falha de coordenação. Por que eu investiria em novas
tecnologias com uma incerteza enorme e sem a garantia de que, caso eu tenha sucesso, a minha
nova tecnologia não será simplesmente copiada por um carona? O governo aqui ajudaria tanto
com suporte financeiro à pesquisa e tecnologia, quanto organizando as expectativas quanto à
posse futura dessas novas tecnologias, na forma de uma legislação de patentes.
[Coyne and Leeson, 2004] fazem um paper interessante sobre o papel da media nessa coor-
denação para um equilíbrio melhor. Fala também que a media precisa ser livre para que isso
ocorra, pois, na média, países com maior parcela de media estatal têm piores outcomes.
Outro exemplo sobre múltiplos equilíbrios e falhas de coordenação remete aos nossos tecla-
dos. Por que escrevemos em teclados QWERTY? Perceba que a disposição das teclas provavel-
mente não respeita um critério linguístico, uma vez que em inglês a disposição é a mesma que
em português, que é a mesma que em francês. O teclado do tipo QWERTY foi criado com a
finalidade de diminuir a probabilidade que os usuários teclassem letras próximas (isso faria com
que as máquinas estragassem). Por isso, eles separam as letras que apareciam mais próximas e
as colocaram em locais opostos do teclado. Hoje, uma vez que não temos mais essa limitação
técnica, por que ainda usamos o QWERTY ao invés, por exemplo, do DVORAK
2 3 4
?
Ainda sobre equilíbrios múltiplos e falhas de coordenção, [Basu and Weibull, 2002] estima-
2
Em 1932, um professor da Washington State University desenvolveu um teclado e colocou o seu nome
Dvorak. A ideia era colocar as letras mais utilizadas no meio do teclado, de forma a otimizar a digitação. A
saber, a fileira do meio, ao invés de ASDFGHJKL, passaria a AOEUIDHTNS, assim, a taxa de uso dessa fileira
passa de 32% no QWERTY para 70% no Dvorak.
3
https://www.youtube.com/watch?v=tIJNusYZXMA
4
https://www.youtube.com/watch?v=iQb1GRQxXdA
31
ram que o Equador perdia entre 4 e 10% do PIB devido a atrasos. "Latin American"time é
uma expressão comum quando marcamos algum compromisso em países desenvolvidos em ou-
tros países. Começou então uma campanha nacional: jornais começaram a publicar uma lista
de personalidades do governo que atrasavam os seus compromissos oficiais. O governo come-
çou a distribuir encartes do tipo "do not disturb"que são encontrados em hotéis, mas ao invés
dos conhecidos "não incomode", existia um lado dizendo "você é bem-vindo, está no horário"e
outro com "infelizmente você chegou atrasado, não atrapalhe a reunião".
2.5 Diagrama para Múltiplos Equilíbrios
Quanto um fazendeiro receberá pela sua produção? Esse valor, todo o resto constante, vai
depender de quanto os outros fazendeiros vão se especializar no mesmo produto. Ou seja, se
eu vou plantar milho, o preço que eu receberei por saca vai depender do número de outros
fazendeiros que plantarão milho. Em um mercado de um único equilíbrio, o equilíbrio é encon-
trado pela "tesoura marshalliana". Em um mercado com múltiplos equilíbrios, esse equilíbrio
é encontrado no ponto onde afunção de decisão racional individual (privately rational decision
function) é igual ao que a média dos agentes esperava.
Pense em um equilíbrio para investimento em treinamento, por exemplo, olhe para o Grá-
fico 2.4, comece pelo ponto Y1, nele as firmas esperavam que ninguém fosse investir, porém
algumas firmas investiram, o Y1 sendo positivo. Uma vez que isso ocorreu, elas (as firmas) não
esperam mais que o investimento seja zero, elas reajustam suas expectativas, para cima, no
futuro. Esse ajuste ocorre até o ponto D1, onde as firmas esperavam que a produção fosse D1
e ela realmente foi D1 (por isso a reta de 45 graus). D1 é um ponto de equilíbrio. Nós saímos
de Y1 e chegamos até D1 por conta desse ajuste de expectativas. No caso dos investimentos
privados (P) e da média do mercado (M), se P>M, nos tenderemos a um ponto à direita, se
P<M, nós tenderemos para um ponto à esquerda. Por isso que D1 e D3 são equilíbrios estáveis,
enquanto D2 é um equilíbrio instável. Os pontos em que a curva está acima da reta, temos
P>M e os pontos em que a curva está abaixo da reta, temos P<M.
Ou seja, a ideia de equilíbrio continua sendo a que todos os participantes do mercado estão
fazendo o melhor que eles podem, dado que acertam o comportamento do outro. Toda vez que
eles erram o comportamento (pontos fora da reta de 45 graus) não estamos em equilíbrio. E
toda vez que eles acertam (reta de 45 graus) estamos em equilíbrio. Novamente: esse equilíbrio
pode ser estável, uma perturbação marginal tende ao equilíbrio anterior. Ou, pode ser instável,
uma perturbação marginal não tende ao equilíbrio anterior.
32
Figura 2.4: Múltiplos Equilíbrios
2.6 Big Push
É mais simples manter níveis de crescimento, manter níveis de desenvolvimento, do que con-
seguir desenvolvimento (dado que não existia desenvolvimento anterior). Por que é tão difí-
cil iniciar o processo de desenvolvimento? Solow, por exemplo, não serve para explicar isso.
Lembre-se que quanto menor o nível de capital, maior o retorno. Pelas Condições de Inada, o
limite do retorno marginal de K tende a zero quando K tende a infinito e tende a infinito quanto
K tende a zero. O que, em outras palavras, diz que o retorno do capital é maior em países mais
pobres. Logo, em um mundo em que o capital tem relativa mobilidade, nós observaríamos um
enorme fluxo de capital dos países ricos (excesso de capital) para os países pobres (escassez de
capital). Logo, em lugares muito pobres e com baixíssimo nível de capital, começar o processo
de desenvolvimento deveria ser mais fácil.
Paul Rosenstein-Rodan no seu Modelo do Big Push diz que existem muitos problemas,
muitos obstáculos, para começarmos o processo de desenvolvimento em uma economia de sub-
sistência. Fazendo uma suposição de que a economia não pode exportar, a primeira pergunta
que Paul RR faz é: para quem a primeira empresa vai vender? Se a economia é de subsistência,
os trabalhadores dessa economia não têm dinheiro para comprar esses bens. A lucratividade (e
sobrevivência) de uma fábrica dependeria da abertura de outras fábricas.
O segundo obstáculo é que a primeira fábrica tem que treinar os trabalhadores e isso pode
não ser a melhor estratégia por conta da possibilidade de uma segunda entrante pagar salários
33
um pouco maiores e levar o trabalhadores treinados pela primeira firma a pedirem demissão.
Sabendo disso, a firma 1 simplesmente não investiria em treinamento e não conseguiríamos sair
do equilíbrio inicial, um equilíbrio pobre.
O Big Push então é um modelo no qual as falhas de coordenação trabalham para que o pro-
cesso de industrialização inicial não consiga dar o primeiro start, necessitando assim de ajuda
governamental para isso.
O modelo do Big Push tem alguns pressupostos:
• Existem dois setores na economia, um setor moderno e um setor tradicional;
• Existem custos fixos (barreiras à entrada) no setor moderno e não existem barreiras à
entrada no setor tradicional;
• O setor moderno tem retornos crescentes de escala, enquanto o setor tradicional tem
retornos decrescentes de escala;
• Isso faz com que o setor moderno possa gerar oligopólios e monopólios, enquanto o setor
tradicional opera em concorrência perfeita.
Com essas características, a gente pode dizer que as firmas do setor moderno olham para
basicamente duas características para entrar no mercado:
• O tamanho dos custos fixos;
• O salário do setor moderno.
Se a firma do setor moderno acha que os custos fixos são razoáveis e que o salário do setor
moderno é baixo o suficiente para garantir a entrada, ela entrará. Porém, se ela achar que,
embora os salários do setor estejam baixos agora, o treinamento dos funcionários fará com que
as concorrentes rapidamente aumentem a concorrência por trabalhadores, de forma que os sa-
lários aumentem, isso pode fazer com que a entrada não seja tão interessante. Além dessa
questão básica (investimento em treinamento), a gente pode ter a necessidade de um Big Push
por conta do tamanho do mercado. Pode ser que o governo "tenha"que aumentar o tamanho
do mercado para possibilitar a industrialização. Um exemplo claro disso é a urbanização. Do
ponto de vista da logística, é mais simples suprir os bens básicos a uma população concentrada
em uma cidade do que espalhada pela zona rural.
Por que não uma única super empresa? Por que não uma grande empresa que entre em
todos os mercados que estão em um equilíbrio pior por conta dos problemas de coordenação?
Existem custos de monitoramento, e parece que esses aumentam mais que proporcionalmente
com o aumento do tamanho da firma. Além disso, como uma firma conseguiria angariar fundos
e conhecimento para essa empreitada? A razão pela qual não é possível que um única empresa
faça esse papel é, em suma, a razão pela qual existe capitalismo
5
.
5
Vejam esse vídeo de Friedman no qual ele explica a força do mercado, indicando que um único homem no
mundo não conseguiria fazer um simples lápis, mas que o mercado consegue coordenar as forças produtivas a
ponto de produzir, sem muito trabalho, muitos deles ( https://www.youtube.com/watch?v=R5Gppi-O3a8 ).
E essa matéria da The Economist explicando Why do firms exist? (http://www.economist.com/node/
17730360).
34
Problemas futuros de um equilíbrio múltiplo.
Vamos supor que existam equilíbrios múltiplos e que uma empresa chamada First conseguiu
ultrapassar os requerimentos mínimos de custo fixo e julgou os salários do setor moderno baixos
o suficiente para entrar no mercado. A questão é que o "mundo do Big Push"diz que existem
economias de escala para o setor moderno. Caso First comece a produzir para todo o mercado
e fique nessa condição por algum tempo, a segunda empresa terá além do problema de custo
fixo, o problema de First ter uma grande produção (um menor custo unitário), de forma que os
seus custos unitários estarão cada vez mais distântes. First então impede a entrada de outras
empresas.
Nada contra a First, mas ela pode ainda inibir a mudança pra uma nova trajetória tecno-
lógica. Pense em um produto que está muito à frente em relação à uma trajetória tecnológica,
soja, petróleo e a criação bovina, por exemplo. O fato de estudarmos essas trajetórias tecno-
lógicas por muito tempo faz com que, uma segunda trajetória (mesmo que mais vantajosa no
longo prazo) tenha custos muito elevados inicialmente, impossibilitando a mudança.
2.7 O-Ring
Michael Kremer vai dizer que a produção moderna precisa de vários insumos IGUALMENTE
MODERNOS para ocorrer. Vai fornecer uma boa explicação da razão pela qual as economias
permanecem em equilíbrios ruins. E a razão será a forte complementariedade entre os inputs.
2.7.1 The O-Ring Model
• A produção é dividida em n tarefas;
• Os trabalhadores têm um degradê de habilidades (q) que pode variar entre 0e 1, quanto
maior o q, maior a chance da tarefa ser completada. Logo, as empresas preferem traba-
lhadores com maior q, logo elas pagam mais por esses trabalhadores;
• A função de produção de O-Ring vai multiplicar é feita de forma bastante simples: apenas
multiplicando as habilidades dos trabalhadores envolvidos nas n tarefas;
• Supondo que existem apenas duas tarefas, dois trabalhadores serão necessários, logo, a
função de produção será apenas q1.q2. Agora imagine que a empresa, com esta função
de produção precisa ir ao mercado para contratar trabalhadores, se o mercado é con-
correncial, cada trabalhador será remunerado pelo seu produto marginal. Considerando
que a empresa dispõe de um total de 1 para dividir entre esses dois trabalhadores. Qual
habilidade ela escolherá? Max: Y = q1.q2 sujeito a q1 + q2 = 1.
• Essa função de produção traz um positive assortative mating ou positive assortative mat-
ching! O mating está mais ligado ao casamento, acasalamento; enquanto o matching está
35
mais ligado aos modelos de economia. Os dois termos querem dizer basicamente a mesma
coisa, os indivíduos não vão se parear, acasalar, trabalhar juntos, de forma aleatória.
Hardy-Weinberg mostrou que os equilíbrios genéticos mantinham algumas populações
com baixa variabilidade genética. Pense que, dado um pool genético, as populações deve-
riam estar "mais misturadas"do que realmente estão. Se isso for verdade, existe evidência
de que indivíduos "parecidos"estão acasalando entre si, diminuindo a variabilidade ge-
nética "de equilíbrio"dessa população. Em humanos, existem evidências de assortative
matching segundo a cor da pele, a altura dos indivíduos e renda. Existem casos de ne-
gative assortative matching para humanos quanto a resposta imunológica, por exemplo.
Indivíduos intuitivamente escolhem parceiros com respostas imunológicas distintas das
suas. Questão: Índice de Gini x Assortative Mating! A pesquisa citada na nota de ro-
dapé diz que o positive assortative matching está aumentando nos EUA, que se o padrão
de 2005 fosse mantido, o Gini seria 0.34 ao invés de 0.43.
6
• Imagine uma economia com apenas 4 pessoas, dois com habilidade 1 e dois com habilidade
0.5, qual a melhor combinação para produzir 2 bens se a função de produção for do tipo
q1.q2? Exemplo genérico foi feito em sala com indivíduos habilidosos (H) e indivíduos
menos habilidosos (L) e, a partir (x− y)2, conseguimos mostrar que era melhor combinar
HH + LL do que 2HL.
2.8 Materiais Auxiliares
• Modelo Big Push - Leiam a introdução e a parte 2 deste artigo: http://www.anpec.org.
br/encontro2007/artigos/A07A102.pdf
• Modelo Big Push - http://www.scielo.br/pdf/ecos/v24n3/0104-0618-ecos-24-03-00573.
pdf
• Vídeo - Modelo de O-Ring: https://www.youtube.com/watch?v=odoaRA-CSEA
• O-Ring: http://www.sfu.ca/~akaraiva/kremer.pdf
• Música para os seus ouvidos 1 - Gregory Porter - Grammy best vocal jazz em 2014:
https://www.youtube.com/watch?v=07rb7QQYk7E
• Música para os seus ouvidos 2 - Ben L'Oncle Soul - https://www.youtube.com/watch?
v=wFwP32FFzro&index=1&list=PL12cb3zQENWlMVyyfGS--6dnLdSr5xu7B
• Música para os seus ouvidos 3 - Talvez vocês não saibam, mas Frank Sinatra já gravou com
Tom Jobim - https://www.youtube.com/watch?v=mW6pZhw3Woc&list=PLved0dTYa2_s1QGEON7sAfCGti6PEO6Pr
6
Para mais informações sobre assortative mating ou matching, veja: https://www.youtube.com/watch?v=
6FiCUtEnsJQ.
http://www.nber.org/papers/w19829.
36
Capítulo 3
Unidade 3: Conceitos Básicos de
Desenvolvimento Agrícola
Nessa parte do curso nós vamos dar um panorama da evolução da comercialização entre países,
como as melhoras na logística permitiram tais feitos. E, por fim, a importância do comércio
para o desenvolvimento econômico, tanto do ponto de vista teórico, como o que a evidência
empírica tem a dizer sobre.
"New trade theory does suggest... bigger gains from trade liberalization."(Paul Krugman)
3.1 Globalização
Nesta parte do livro ele começa a dar alguns conceitos que serão necessários para entender o
comércio internacional e sua importância para o desenvolvimento. Por isso que os próximos
parágrafos parecem (e são) meio desconexos uns dos outros.
Globalização é uma das palavras mais utilizadas nas discussões sobre desenvolvimento.
O processo de globalização seria o processo de aumento dos links entre os países. Esses
"links"podem ser entendidos como o aumento do setor externo nos mercados de bens, ser-
viços e capitais. Globalização também pode ser entendido como fenômeno cultural por conta
dos países serem mais parecidos hoje do que décadas atrás. Eles assistem os mesmos filmes,
vestem as mesmas roupas e têm hábitos parecidos.
Em um mundo com forte presença do comércio internacional, os conflitos inevitavelmente
aparecerão, a World Trade Organization (WTO), em inglês, ou Organização Mundial do Co-
mércio (OMC), em português, é órgão responsável por balizar esses conflitos entre os países.
Um bom exemplo desses conflitos é o caso das laranjas brasileiras x laranjas americanas
1
.
Para algumas pessoas globalização quer dizer: aumento dos ganhos de comércio, crescimento
acelerado, transferência de tecnologia. Para outras pessoas, globalização quer dizer degradação
ambiental, aumento da desigualdade de renda, dominância dos países ricos.
Conseguir absorver tecnologia tem a ver com uma parcela mínima de capital humano. Ou
1
Laranjas Brasileiras x Laranjas Americanas: http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,
brasil-e-eua-buscam-solucao-para-suco-de-laranja-importado,20021010p39034
http://economia.ig.com.br/2013-05-07/relembre-as-disputas-comerciais-do-brasil-na-omc.html .
37
seja, existe um nível mínimo de capital humano sem o qual as pessoas simplesmente não con-
seguem absorver tecnologia. Obviamente que esse nível mínimo muda conforme a tecnologia.
Essa ideia do nível mínimo de capital humano necessário justificaria a permanência de países
em níveis de baixa renda e até a permanência em níveis de renda média (armadilha da po-
breza e armadilha da renda média). A gente consegue explicar porque globalização parece não
chegar até a Africa por essa ideia do capital humano mínimo necessário para fazer o catching up.
• O papel do setor externo está aumentando em relação ao PIB dos países (X+M)/Y está
aumentando no mundo?
38
• Se cada é cada vez maior a parcela do PIB que está sendo trocada com outros países,
poderíamos supor que é cada vez maior o custo da logística no PIB?
39
• Antes do Canal do Panamá, como um navio saindo da Costa Oeste Americana (São
Francisco, Los Angeles) e precisasse chegar na Europa?
40
A ideia de uma melhor logística conseguindo melhorar o nível de bem estar de uma população
não é nova. Adam Smith, em 1776 já dizia que a divisão do trabalho é limitada pelo tamanho do
mercado. Dessa forma, uma logística mais eficiente consegue "diminuir o tamanho do mundo",
consegue aumentar o tamanho dos mercados. Produtos que conseguiam ser competitivos nas
suas vizinhanças começam a chegar em locais mais distantes, aumentando o fluxo de produtos
no mundo, possibilitando que cada um se especialize no que faz de melhor. Mas, hoje, é possível
dizer que "does trade cause growth?"Esse é o título de um, bastante citado, AER de Frankel
e Romer (1999) e ele é tão citado porque: i) diz que a forma como estimamos trade (OLS),
superestima o efeito deste na renda; ii) diz que é difícil estabelecer uma relação causal entre
trade e renda, a relação parece bi-causal.
3.2 Conceitos Básicos
Sobre os conceitos básicos, [Todaro et al., 2009] começa categorizando o que são produtos pri-
mários como sendo aqueles advindos de atividades extrativistas, pesca, agricultura, assim como
matérias primas em geral. Ele diz também que ospaíses pobres geralmente exportam esse tipo
de produto.
Vocês podem olhar o que cada país exporta no site http://atlas.cid.harvard.edu. As
figuras abaixo foram retiradas desse site. Se a ideia é, por exemplo, saber o que:
• O que o Brasil tem exportado?
41
Figura 3.1: Exportações do Brasil em 2014.
Figura 3.2: Exportações do Brasil em 2014 (detalhado).
• Para onde o Brasil tem exportado?
42
Figura 3.3: Para onde exportamos?
• O que outros países exportam?
Figura 3.4: Japão em 2014
43
Figura 3.5: Chile em 2014
Figura 3.6: Congo em 2014
44
Figura 3.7: Nigéria em 2014
Mas qual o problema de ter uma pauta de exportações concentrada em produtos primários?
Primeiro existe um aumento do risco. A pauta do Congo, por exemplo, é basicamente petróleo,
caso o preço do petróleo caia, a renda interna do Congo é afetada significativamente. O segundo
problema é a volatilidade desses preços. O petróleo, por exemplo, é conhecido como um dos
produtos com maior volatilidade de preço que conhecemos, logo, a incerteza sobre uma renda
baseada em petróleo é maior do que a incerteza sobre a renda baseada em outros produtos. O
terceiro motivo seria uma tendência de queda nos preços dos produtos primários em relação
aos produtos industrializados. Afirmar que existe tal tendência secular não é fácil
2
. Países
pobres são tipicamente mais dependentes das exportações do que países ricos (maior parcela de
X em Y). Exportações de países pobres são muito menos diversificadas como vimos nas figuras
acima.
E parece que a concentração em algumas commodities é o comum para países pobres. David
Harley, por exemplo, diz que para 40 países, a produção de 3 ou poucas commodities explicam
todos os ganhos com exportações.
Somado a uma pauta de exportações concentrada e com produtos de baixo valor agregado,
chegam as importações de bens de consumo e máquinas para abastecer a indústria local. Sendo
que para a maioria dos países em desenvolvimento o valor total das exportações supera o valor
total das importações. O que gera um déficit em balança comercial que precisa ser equilibrado
via conta capital. Se o capital externo realmente é atraído, o balança de pagamentos se equi-
libra. Do contrário, ele fica deficitário, o que tem gerado redução de reservas, instabilidade
monetária e, consequentemente, baixo crescimento.
2
Revisões das evidências empíricas: http://econwpa.repec.org/eps/it/papers/0403/0403001.pdf;
http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.511.106&rep=rep1&type=pdf
45
3.3 Elasticidades da Demanda e Instabilidade dos Ganhos
Voltemos aos produtos primários, que são caracterizados por baixa elasticidade da demanda e
da oferta, o que ocorre com um choque exógeno? Caso ocorra algum deslocamento da oferta,
o ajuste é feito totalmente via preços, os preços mudam muito, uma vez que a demanda é
inelástica. Isso resulta em uma alta volatilidade de preços.
Por exemplo, uma quebra de safra representa uma contração da curva de oferta, ela vai
se deslocar pra cima, pois dado o mesmo preço, a oferta será menor. Se isso ocorrer com
uma demanda perfeitamente inelástica a preços, o ajuste será totalmente via preços, pois a
quantidade ficará inalterada. Faça o mesmo exemplo só que para uma demanda perfeitamente
elástica a preço, uma reta horizontal. Nesse segundo caso, o ajuste será feito totalmente via
quantidades e o preço se manterá inalterado. Novamente, quanto menor a elasticidade da
demanda, maior a variação no preço (dado o mesmo choque).
Tomando exemplos pro caso do choque ser na demanda. Pense em um aumento da demanda
por um motivo qualquer, de forma que a demanda se mova pra direita, para um mesmo preço, as
pessoas demandarão maiores quantidades. Se isso ocorrer com uma oferta inelástica a preços,
todo o ajuste será feito via preços, se isso for feito com uma oferta perfeitamente elástica a
preços, o ajuste será feito totalmente via quantidades. Ou seja, quanto menor a elasticidade da
oferta, maior a parte do ajuste que será feita via preços (dado o choque).
Ou seja, menores elasticidades da demanda e da oferta (bens agrícolas) tendem a grandes
variações de preços (volatilidade dos preços). O que gera uma instabilidade dos ganhos.
3.4 Hipótese de Prebish-Singer
Para entender a HPS você precisa lembrar quais são os impactos da elasticidade renda no preço
de longo prazo, dado a oferta. A literatura indica que elasticidade de bens primários é baixa.
Isso obviamente é no agregado, porque parece que para combustíveis e aço, por exemplo, essa
elasticidade seja maior do que para bens da agropecuária. [Todaro et al., 2009, p. 572] diz
que um aumento de 1% na renda dos países ricos vai aumentar em aproximadamente 0.6% a
demanda por produtos primários e em 1.9% a demanda por produtos industrializados. A renda
mundial cresce, no longo prazo, dada a oferta, é de se esperar que os produtos industrializados
tenham maiores preços. Logo, os termos de troca de um país pobre dado pelo índice de preços
dos produtos exportados (Px) divido pelo índice de preços dos produtos importados (Pm) deve
diminuir no longo prazo. Uma vez que as exportações líquidas são um componente do PIB,
é de se esperar que a renda com exportações líquidas seja menor, no longo prazo, para países
pobres do que para ricos. Ou seja, o diferencial nas elasticidades renda fez com que houvesse
uma deterioração dos termos de troca para os países exportadores de bens primários.
Lembre-se que essa é uma hipótese de longo prazo. Logo, não é correto pegar apenas um
46
período pequeno, por exemplo, o recente boom de commodities, boom esse que não ocorria
desde 1900, e fazer a relação de Px/Pm apenas para esse período.
3.4.1 Vantagens Absolutas, Vantagens Competitivas e Modelo de Hecks-
cher Ohlin
Existem muitas referências sobre vantagens comparativas, absolutas e Modelo de Heckscher
Ohlin em português:
• Resenha sobre vantagens comparativas e Modelo HO - http://www.ie.ufrj.br/oldroot/
hpp/intranet/pdfs/goncalves_r._resenha_comercio_internacional_1997.pdf
• https://www.youtube.com/watch?v=tjSGwVy39H4
• https://www.youtube.com/watch?v=xUci8q8V-PU
47
Capítulo 4
Unidade 4: Teorias de Desenvolvimento
Agrícola
4.1 Estratégias de Desenvolvimento Agrícola
4.2 Microeconomia do Setor Rural
48
Capítulo 5
Unidade 5: Desenvolvimento Agrícola no
Brasil
5.1 Desenvolvimento Agrícola pré-1945
5.2 Desenvolvimento Agrícola pós-1945
5.3 Desenvolvimento Agrícola Brasileiro Contemporâneo
49
Bibliografia
[Acemoglu, 2008] Acemoglu, D. (2008). Introduction to modern economic growth. Princeton
University Press.
[Basu and Weibull, 2002] Basu, K. and Weibull, J. W. (2002). Punctuality: A cultural trait as
equilibrium.
[Bénassy, 2010] Bénassy, J.-P. (2010). Macroeconomic theory. Oxford University Press.
[Bielschowsky and Ribeiro, 2000] Bielschowsky, R. and Ribeiro, V. (2000). Cinqüenta anos de
pensamento na CEPAL.
[Cimoli et al., 2005] Cimoli, M., CEPAL, N., et al. (2005). Heterogeneidad estructural, asime-
trías tecnológicas y crecimiento en américa latina.
[Coyne and Leeson, 2004] Coyne, C. J. and Leeson, P. T. (2004). Read all about it! unders-
tanding the role of media in economic development. Kyklos, 57(1):21�44.
[Jones and Vollrath, 2016] Jones, C. and Vollrath, D. (2016). Introdução à teoria do cresci-
mento econômico, volume 2. Elsevier Brasil.
[Romer, 1996] Romer, D. (1996). Advanced macroeconomics. mcgraw-hill companies.
[Todaro et al., 2009] Todaro, M. P. S. et al. (2009). Economic development. Technical report.
50
	Avisos
	Estado da Arte do Desenvolvimento Econômico
	Conceito de Desenvolvimento Econômico
	Crescimento como medida suficiente
	 Formas de Mensuração
	O Novo IDH
	Diferenças

Outros materiais