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FREUD, S. Capítulo VII - A Psicologia dos processos oníricos. In: FREUD. Volume V: A Interpretação dos Sonhos (I). Rio de Janeiro: Imago, 1996, p156 - p229. A PSICOLOGIA DOS PROCESSOS ONÍRICOS Isadora Manuelly Oliveira Serejo Em “A Interpretação dos Sonhos”, Freud formula novas ideias neurológicas em detrimento das ideias apresentadas e sustentadas como válidas anteriormente, pelo mesmo. No Capítulo VII do volume 05 do livro em questão, entitulado “A Psicologia dos Processos Oníricos”, o autor e pai da psicanálise irá definir de maneira tópica o inconsciente. Por tópico, entendamos, diz respeito ao lugar onde é possível encontrar o inconsciente. Abandonando os conceitos fisiológicos e materiais antes utilizados por Freud, em decorrência de sua formação como Fisiologista e Psiquiatra, a partir deste momento ele passa a afirmar que a realidade psíquica tem uma forma especial de existência, que não deve ser confundida com a realidade material. O lugas psíquico não é um lugar anatômico. Neste capítulo, durante o desenvolvimento desta nova perspectiva sobre o inconsciente e suas formas de se manifestar – neste caso, os sonhos, Freud aborda o esquecimento dos sonhos, a resistência nos processos oníricos, a regressão, a realização dos desejos, fala sobre os sonhos de angústia e, entre outras características dos sonhos, também traz os processos primário e secundário, onde ele nos apresenta o modo de funcionamento do inconsciente, tomando este como um sistema psíquico. Quando temos um sonho durante a noite e, ao acordar, nos esforcemos para lembrar, é comum que alguns trechos do sonho estejam faltando, que algumas partes não façam qualquer sentido ao tentar juntar com outras e o contexto geral do sonho sofra algumas modificações à medida que tentamos compreendê-lo. Tuda essa confusão acerca dos conteúdos dos sonhos faz parte do trabalho do nosso aparelho psíquico na tentativa do pré consciente em exercer alguma proteção sobre a nossa consciência. O esquecimento e as incertezas sobre os fragmentos que podem ser evocados, possivelmente manipulados arbitrariamente pela consciência, não passam de uma maneira de previnir que a consciência tenha notícias dos conteúdos provenientes do inconsciente. A falta de conexão e coerência entre as informações tem a ver com o processo de codificação da informação inconsciente. Sabemos que não há a possibilidade de evocarmos de maneira exata e original, o conteúdo que foi sonhado, o que torna as tentativas de interpretar os sonhos um desafio muito maior. Considerando esta informação, é imprescindível interpretar os componentes mais ínfimos, mais obscuros, incertos e de conteúdo nebuloso, do que aqueles que puderam ser evocados com maiores detalhes e precisão. Também é importante atentar para o momento em que as informações são fornecidas, a maneira como são relatadas, as falhas na capacidade de fornecer um relato íntegro, a falta de sentido. É preciso considerar também, a elaboração secundária, que acontece quando distorcemos as informações dos sonhos para tentar reproduzí-los e relatá-los. Neste processo, os conteúdos oníricos são remodelados e submetidos à censura do sonho. Anteriormente, foi considerado que estes pensamentos oníricos que sofreram distorções a nível da consciência, pelos pensamentos normais, atrapalhariam o processo de análise do conteúdo fornecido. Esta conclusão foi refutada por Freud, pois o mesmo não acreditava na arbitrariedade dos pensamentos utilizados na remodelagem do sonho. Segundo o autor é possível demonstrar que, quando um pensamento deixa de ser caracterizado por uma certa “cadeia de pensamentos”, a determinação e caracterização da mesma passa imediatamente a ser comandada por outra cadeia. Deste modo, Freud foi levado a solicitar que o paciente o relatasse seu sonho, em seguida solicitava que o mesmo repetisse o relato. Ele percebeu que a solicitação de que o paciente repetisse o que já havia relatado, advertiu o mesmo sobre a intenção do terapeuta em solucioná-lo; assim, na resistência conteúdo sonho, o paciente se apressa a encobrir informações antes tidas como arbitrárias, aquelas que serviriam ao propósito de ocultar informações que seriam importantes para a solução do sonho. Estas informações, agora servem como base para compreender como o sonho foi construído. A resistência é o trabalho da pré consciência em deslocar e substituir informações dos conteúdos oníricos como uma forma de evitar que este material de ordem do inconsciente irrompa para o território da consciência. Durante a análise do sonho relatado, é comum que o paciente apresente resistência, que pode se apresentar de maneira variada, desde níveis imperceptíveis até niveis que não se pode mensurar. A resistência se apresenta em forma de dúvidas do paciente acerca do que foi sonhado, dos trechos mais difusos, nebulosos, difíceis de evocar para a consciência. Em alguns casos, o paciente pode dizer que não se lembra de determinados trechos, quando na verdade eles apenas são informações desconexas e incoerentes, que a consciência trata de não dar a devida importância, numa tentativa de poupar energia mental. Este movimento que vai do inconsciente para a consciência se denomina de processo primário e processo secundario. Do ponto de vista econômico, os processos primário e secundário são correlativos dos dois modos de escoamento de energia psíquica. Este processo se dá de maneira dinâmica, onde o primeiro serve ao princípio do prazer (pulsão) e o segundo serve ao princípio da realidade. Na resistência, temos a realização do processo primário, onde o desejo do inconsciente se caracteriza por dois mecanismos básicos, que são o deslocamento e a condensação, que consistem numa codificação do conteúdo latente do sonho. Numa tentativa de se realizar, o desejo do inconsciente se codifica, para ter acesso à consciência. Nesta tentativa, a atuação do pré consciente estabelece uma espécie de filtro nas informações e não permite que todo este conteúdo inconsciente chegue à consciência, ou seja, atinja o processo secundário, do princípio da realidade. Na regressão, temos a explicação de Freud sobre os pensamentos oníricos e a influência destes sobre a formação de conteúdo latente dos sonhos. É sabido que os sonhos, em sua totalidade, são desejos que buscam por realização. O não reconhecimento dos sonhos por esta fundamentação, se dá pela censura à qual é submetido. Uma forma de fugir desta censura é através da condensação, que podemos entender como a representação de vários elementos através de um só. A regressão à qual o autor se refere neste capítulo tem relação com um retorno dos pensamentos que foram criados durante o dia, ou mesmo durante um estágio inicial do sono, que acaba por se transformar em uma característica ou ferramenta do sonho. Os conteúdos que foram pensados, tenham sido em forma de devaneios ou de desejos. A investigação feita por Freud chega ao modelo do arco reflexo, onde o sistema psíquico fica bem definido em inconsciente, pré consciente e consciência. Neste modelo, ele infere que o pré consciente fornece uma barreira para os pensamentos oníricos durante o dia através da censura imposta pela resistência. Durante a noite, estes mesmos pensamentos conseguem emergir à consciência, porém o fazem de maneira modificada. Isto significa dizer que durante a noite pode haver uma diminuição da resistência que promove uma barreira entre o inconsciente e o pré consciente. Não restam dúvidas, na obra de Freud, de que o sonho é a realização de um desejo, ou de vários desejos. A questão abordada no tópico sobre a realização dos desejos é bem simples de ser entendida. Aqui, o autor nos explica de que maneira acontecem estas realizações. Freud acredita que o desejo consciente somente se torna efetivo na provocação de um sonho, quando consegue suscitar um desejo inconsciente análogo que o reforça. É possível perceber que em nossos sonhos, desejos instintivos que foram manifestados, conseguem ser realizados. É possível perceber experiências que foram vividas nodia anterior, onde situações que serviram de ocasião para que determinados desejos pudessem emergir, porém foram suprimidos ou censurados, surjam novamente nos sonhos e se realizem, sanando assim o desejo latente. Ainda sobre a realização dos desejos, Freud determina o que vem a ser o sintoma. Usou como exemplo a histeria (de natureza física como convulsões, crises de falta de ar, paralisia, cegueira, surdez, enxaquecas, incapacidade de ingerir alimentos, entre outros sintomas que não são de ordem apenas biológica, mas psicossomática), sobre a qual debruçava suas pesquisas na época, e esquematizou sistematicamente como esta ocorre. Consideremos que o inconsciente é o lugar psíquico onde os desejos se encontram ativos e o pré consciente é o filtro que trabalha em prol da segurança da consciência, censurando e modificando o conteúdo inconsciente para que este não chegue em sua completude à consciência. Outro critério de realização dos desejos é o sintoma, neste caso, os sintomas histéricos, estes possuem uma característica que não foi possível a Freud descobrir nos sonhos, pois o sintoma não se trata simplesmente de uma expressão do desejo realizada; é preciso que haja uma convergência entre o desejo inconsciente e também um desejo do pré consciente (de censurar o desejo do inconsciente) realizados no mesmo sintoma. Temos assim, dois sistemas opostos agindo sobre o mesmo objetivo: o desejo. O que emerge deste conflito são comportamentos patológicos, autopunitivos e demais variações de pensamentos que emergem do inconsciente e se realizam na consciência através da censura da pré consciência, sob a forma de sintomas físicos de doenças de ordem biológica. De acordo com o psicanalista, os sonhos têm a função de manter o sono, e começam quando a pessoa está prestes a despertar. Como o sonho tem a ver com a vida inconsciente, segundo os conceitos da psicanálise freudiana, é durante o sono que ela se manifesta. Todo sonho tem como função, proteger o sono, ou seja, afastar eventuais perturbações ao sono através de uma realização do desejo. Esta proteção pode ser totalmente efetiva e concluir seu objetivo com sucesso, mas tbm pode falhar (quando isto ocorre, a pessoa que dorme, acorda, em função do próprio sonho). Os sonhos devem terminar de maneira incompleta ou devem ser abandonados completamente, mas a pessoa que dorme deve sonhar, devido ao enfraquecimento noturno da repressão e da censura pré consciente. Este enfraquecimento permite que a pulsão se torne ativa e que haja elaboração onírica para que este desejo possa se realizar, porém algumas vezes o empenho em transformar as reminiscências em satisfação, age de maneira falha. Quando isto ocorre o resultado é que a pessoa fica sem sono ou desiste de tentar dormir novamente, pois teme que a falha da função do sono aconteça novamente. Freud distingue dois tipos de energias fluentes no aparelho psíquico, uma que flui num estado livre de energia e a outra num estado ligado. O primeiro tipo corresponde ao processo primário e o segundo, ao processo secundário. O processo primário é a energia que obedece ao princípio do prazer/pulsão sexual, que exige satisfação imediata. É o modo de funcionamento do inconsciente, e opera através de dois mecanismos básicos, que são o deslocamento e a condensação. A condensação é o resumo das ideias que têm pontos em comum e uma analogia entre si. Funde elements que estão a um nível latente com traços comuns em um só. Estabelece uma relação entre o conteúdo manifesto e o conteúdo latente. Ao nível do conteúdo latente, onde existem ideais e ao nivel do manifesto, onde existem imagens. O deslocamento é a obra da censura, onde um elemento do sonho a nível latente é substituído por um dos seus fragmentos constituintes. Há uma transferência da importência que tem uma ideia para outra completamente diferente e afastada dela. O processo secundário é o modo de funcionamento do sistema consciente/pré-consciente. Aí, a energia é ligada. A energia tende a ter sua descarga retardada, de maneira a possibilitar um escoamento controlado. No processo secundário as representações são investidas de forma mais estável. A introdução do pensamento reflexivo e da temporalidade traz consigo também a substituição do princípio de prazer pelo princípio da realidade. Muito pode ser encontrado na tentativa de comparar pensamentos oníricos e sonhos manifestos que os substituem. Dessa forma, existe uma discordância entre a visão médica que diz não haver sentido nos sonhos, já que não existe crítica na atividade mental durante o sonho; já na visão psicanalítica, os sonhos necessitam de sentido quando uma parte crítica que se encontra nos pensamentos oníricos, considerados absurdos, tem de ser representada. As dúvidas e incertezas se referem à atividade de censura de sonhos e precisam ser identificados como tentativas de eliminação que não tiveram êxito. A forma como os contrários são tratados pela elaboração onírica que ocorrem nos sonhos latentes, são considerados para Freud, achados surpreendentes. Sabendo que as semelhanças nos sonhos latentes são substituídas por condensações no sonho manifesto; os contrários são tratados da mesma forma que as semelhanças, expressam-se mais pelo mesmo elemento manifesto que pode estar expressando a si mesmo, ou seu contrário, ou ambos. Decidindo qual versão escolher através do sentido, isso porque não se encontra uma representação isenta de ambiguidade nos sonhos.
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