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Resumo de Direito Romano – 1ª A.P. Rafael Barros Pires – 10.09.11 * Tábua cronológica * Fundação de Roma Morte de Justiniano 753 a.C. 510 a.C. 27 a.C. 565 d.C. Fase de Produção do Direito Romano INTRODUÇÃO I. CONCEITO Lato sensu: Compreende todo o Direito produzido em Roma, sua aplicação e influência, que perdurou até a promulgação do Código de Napoleão, em 1802. Stricto Sensu: É a fase de produção do Direito Romano, o conjunto de normas jurídicas que, de fato, regulavam a vida do povo romano e que foram compiladas pelo Imperador Justiniano no Corpus Juris Civilis, que será o nosso objeto de estudo. Realeza República Império Fase de Produção do Direito Romano Fase de Recepção Império II. CARACTERÍSTICAS Realista Positivista Pragmático Laico O Direito Romano procurava regular os fatos sociais na prática, estando bem atento ao dia-a-dia da população. O positivismo do Direito Romano traduz-se em três características: Seu caráter realista se deve ao fato de expressar em suas normas uma preocupação com a finalidade, com a efetivação do objetivo daquele regulamento, não se limitando a traçar apenas normas gerais (previsão de forma humana e viabilidade para ser pessoa). Seu caráter pragmático se expressa por sua consonância com a realidade fática de seu tempo, sempre se atualizando (edição do jus gentium, devido ao comércio com estrangeiros). Seu caráter laico deve-se à separação entre o místico e o mundano (separação entre o jus e o fas, distinguindo o direito profano do religioso). Conservador O Direito Romano não sofreu mudanças abruptas ou radicais enquanto esteve em vigor. Apesar de estar sempre em constante aperfeiçoamento, as transições entre os momentos políticos eram lentas e graduais, apenas adaptando o que já havia à nova realidade. Individualista No Direito Romano tinha-se, por exemplo, amplos poderes sobre a propriedade. No entanto, esse individualismo não era extremo, podendo o direito à propriedade sofrer limitações em razão da utilidade pública. III. EVOLUÇÃO POLÍTICA Realeza (753 a.C. – 510 a.C.) – monarquia constitucional Da fundação de Roma à deposição de Tarquínio (sétimo rei a governar). República (510 a.C. – 27 a.C.) Da ascensão dos cônsules Bruto e Colatino até o fim do segundo triunvirato. Magistrados (eleitos anualmente pelos comícios) REI Comícios (Assembléias Populares) Senado (órgão de aconselhamento) Por Curiae (critério de sangue, apenas patrícios) Por Centuriae (por critério de renda, aceitava plebeus ricos) Comícios por tribo (Critério de domicílio eleitoral) Senado (órgão legislativo) Império (27 a.C. – 565 d.C.) Da ascensão do Imperador Augusto, passando pelo declínio do império romano do ocidente (465 d.C.), até a morte de Justiniano, imperador bizantino. O que diferencia monarquia e república? Duração da permanência do poder e modo de transmissão do mesmo. Monarquia versus República vitalício, hereditário periódico, eletivo Roma foi monarquia na Realeza e no alto império (monarquia constitucional ou limitada) e no baixo império (monarquia absoluta). IV. EVOLUÇÃO INSTITUCIONAL Direito Antigo: Realeza + ½ República Direito Clássico: ½ República + Alto Império Direito Pós-Clássico: Baixo Império Baixo Império (dominado) Autocracia Monarquia absoluta Alto Império (principado) Imperador + Senado Monarquia limitada Stricta ratio (literalidade) ≠ Summa ratio (espírito da lei) Direito Antigo Consuetudinário: baseava-se no costume (mos) e no uso (consuetudo). Formalista: era inflexível, não cabia interpretação (stritcta ratio) – Justiça cega. Exclusivista: só dizia respeito ao cidadão romano. 450 a.C. – Lei das XII Tábuas Tábua é um tipo de divisão (como código, livro etc.) Apenas condensou, em forma de lex, os costumes e usos em prática na época. Direito Clássico Diversificado: tinha várias fontes (lex + mos + jurisprudentia...) Flexível: buscava a finalidade da lei (summa ratio) – Justiça ideal (equidade). Universal: abrangia também os cidadãos estrangeiros, por meio do jus gentium. * Em 212 d.C., o Imperador Caracala estendeu a cidadania romana a todos os estrangeiros para que eles passassem a pagar impostos, pois Roma encontrava-se com muitas dívidas. Direito Pós-Clássico Não houve produção jurídica, apenas compilação dos trabalhos produzidos. Manteve as mesmas características do Direito Clássico, porém era um Direito autoritário, autocrático, imposto pelo governante. A Constituição Imperial tornou-se a única fonte do Direito. V. CONCEITOS IMPORTANTES Jus: Direito “profano”, não ligado aos templos; leigo. Poderia ser tanto Direito objetivo (norma agendi – norma de agir), quanto Direito subjetivo (facultas agendi – faculdade de agir). Fas: Direito religioso (fas vem de fala, pois era Direito falado, revelado pelas divindades). Influenciou principalmente o Direito Romano Antigo, mas em um período curto o Estado tornou-se laico, passando-se a distinguir o Direito sacro do profano. Justitia: virtude, qualidade daquele que é justo, e justo é aquele que age de acordo com o Direito. Praticar a justiça é dar a cada um o que é seu, por direito. “Vontade firme e perdurável de atribuir a cada um o seu direito” – Ulpiano. Parte geral Parte específica - Atributos de uma virtude (parte geral): Consciência (pressupõe a vontade), firmeza (vontade inabalável) e perdurabilidade (vontade de quem sempre agirá com justiça). - Diferença da justiça para as outras virtudes (parte específica): Atribui a cada um o seu direito, portanto, situa-se no campo do Direito. Aequitas: Equidade, proporcionalidade (a justiça ideal, no caso concreto, respeitando suas peculiaridades). – Funções: esclarecer e aperfeiçoar a lei e preencher suas lacunas. – Tratar os iguais de maneira igual e os desiguais de maneira desigual, na medida exata de suas desigualdades. Equidade natural: já vem na própria norma. Equidade civil: pode ser feita pelo aplicador. Fontes: Jurisprudentia (doutrina) Conhecimento do jus. Jus honorarium (editos) Direito criado pelos magistrados (pretores). (mais plástico, flexível, liberal e humano) Jurisprudentia: Ciência do Direito, formulada pelos jurisconsultos e similar ao que chamamos hoje de Doutrina. “É o conhecimento das coisas divinas e humanas, a ciência do justo e do injusto.” – Ulpiano. prudentia = previsão Filosofia Direito Juris Praecepta: Preceitos (princípios), normas gerais a que todas as demais normas específicas deveriam ajustar-se. Não se restringiam ao Direito, alcançavam o campo da Ética. – Viver honestamente. – Não causar dano a ninguém. – Dar a cada um o que é seu. VI. DIVISÕES DO DIREITO ROMANO Quanto à forma (maneira de se expressar): Escrito (jus scriptum): lei (lex, passa por processo legislativo), plebiscito (plebiscitum, decisão da plebe), senatusconsultum (decisão do senado), edito dos magistrados (edictum magistratuum, normas baixadas por magistrados), as constituições imperiais (contitutiones imperiales, determinação por vontade do imperador) e as respostas dos jurisconsultos (responsa prudentium, doutrina dos jurisconsultos que detinham autorização do imperador, jurisprudência oficial). Não-escrito (jus non scriptum): costume (mos), uso (consuetudo, hábito), coisa julgada (res judicatae, as decisões nos casos concretos, jurisprudênciaem sentido moderno), jurisprudência não-oficial (respostas dos jurisconsultos que não detinham o jus publice respondendi). Quanto ao conteúdo (matéria de que trata): Público (jus publicum): coisas de interesse prevalecente do Estado, de interesse público (ex.: normas referentes à estrutura e funcionamento do Estado). Privado (jus privatum): trata das relações entre particulares (ex.: jus commerci – regulava relações de natureza patrimonial, jus connubi – direito de família). Jus naturale: o Direito que é sempre bom e equitativo.* Jus gentium: direito comum a todo o gênero humano. Jus civile ou jus quiritum: direito dos cidadãos, direito nacional. *Para Ulpiano, a divisão era tripartida. Para Gaio, o Direito Natural permeava o Direito das Gentes e o Direito Civil. VII. FONTES DE PRODUÇÃO Durante a Realeza Baseava-se nos costumes, norma que emana espontaneamente do consentimento do povo; e na “legis regiae”, leis que emanavam da realeza, mas que não eram leis propriamente ditas, mas mandamentos de ação (não passavam por nenhum processo legislativo). Durante a República Teve fontes mais diversificadas. As leis trazem maior segurança do que os costumes, pois emanam do povo (por meio dos comícios) e têm maior força (muitas vezes os governantes impunham sua vontade alegando basearem-se nos costumes). Havia também os plebiscitos, decisões da plebe para consigo mesma; a jurisprudência, a interpretação do Direito, constituindo-se em verdadeira doutrina (ciência do Direito); e os editos dos magistrados, que eram decretos que regiam as atividades do povo. Durante o Império Continuaram-se as mesmas fontes, mas novas fontes foram acrescentadas. As fontes mais importantes no Principado são os senatusconsultum, deliberações do senado, que durante o Principado foram equiparadas à lei; as respostas dos prudentes, que foram ganhando maior peso, culminando na Lei das Citações, que definia os jurisconsultos a serem levados em conta nas decisões; e as constitutiones imperiales, leis vindas do imperador, que no Dominado constituíram-se em única fonte do Direito. Conclusões: O Direito Romano era plástico, pois se adaptava, acompanhando a realidade de sua época; e tinha caráter democrático, pois, ao longo do tempo, mais classes passaram a tomar parte na produção do direito, a exemplo da plebe, caráter que começou a desaparecer apenas com o advento do império e da autocracia. VIII. FONTES DE CONHECIMENTO Textos pré-Justiniâneos: Lei das XII Tábuas (reuniu os costumes em prática na época), Edito Perpétuo (condensou os principais editos anteriores), Lei das Citações (proclamou os jurisconsultos cujas opiniões passaram a ter força de lei), Códigos Gregoriano, Hermogeneano e Teodosiano (reuniam as constituições imperiais). Textos Justiniâneos – Corpus Juris Civilis: sistematização de todo o acervo de leis, costumes e jurisprudência em um corpo único de normas. Codex Vetus, primeiro código que rapidamente se desatualizou e foi substituído por um segundo; o Codex Repetitae Praelectionis, coletânea de leges (lei), reunindo constituições desde Adriano; Digesto ou Pandectas, coletânea de jura (jurisprudência), compilavam o direito das obras dos principais jurisconsultos, tratando de tudo; Institutas, manual de Direito, para uso de estudantes; Novellae, conjunto das constituições mais novas ou recentes. DIREITO CONSTITUCIONAL ROMANO IX. FORMAS DE GOVERNO Monarquia Constitucional ou limitada Na Realeza O poder era tripartido: o Rei acumulava todas as funções de decisão, era chefe de Estado, general em chefe e juiz. Seu cargo era vitalício e seu sucessor era designado pela divindade; havia os comícios, assembleia de cidadãos para tratar de negócios públicos; e o senado, que era um órgão consultivo do Rei constituído por membros escolhidos por ele, que tratava de assuntos religiosos e de política internacional, e também fiscalizava e ratificava as leis do Estado. No Principado Também chamado de diarquia, pois o imperador substituiu os cônsules e concentrou em suas mãos o poder executivo, mas dividia com o senado as atribuições legislativas. Progressivamente o imperador foi absorvendo os poderes dos demais magistrados e do senado, que passou a ter seus membros indicados por ele. Absoluta No Dominado Nesse período o imperador concentrou, sem limitações, todos os poderes. Somente ele participava do processo legislativo, através das constitutiones imperiales, os comícios deixaram de existir e os senadores comportavam-se apenas como instrumentos da vontade imperial. República Aristocrática A República foi implantada após revolução que envolveu patrícios e plebeus e estabeleceu uma constituição que substituía o rei vitalício por magistrados, eleitos para mandatos temporários e atribuía ao senado função legislativa. Inicialmente a república era aristocrática, pois o sufrágio, nos comícios, ainda era restrito ou censitário, votando apenas os ricos. Os magistrados exerciam diversas funções, com poderes especiais, em nome do povo romano. Os magistrados maiores eram os cônsules, que faziam as vezes de primeiros ministros. Em época de crise, suspendiam-se as magistraturas ordinárias e o governo era entregue ao dictator, que governava com plenos poderes por seis meses para botar a república em ordem. Democrática Quando surgiram os comícios por tribos, que utilizavam o critério espacial de domicílio, a república se democratizou, pois todos os cidadãos participavam das eleições dos magistrados. O senado passou a ter maior amplitude de poderes e constituía-se de ex- magistrados. Dessa forma, misturava-se a monarquia (com os cônsules), a aristocracia (com os senadores) e a democracia (com os comícios). X. DIVISÃO DOS PODERES Executivo Realeza República Império Rei (poder unipessoal) Magistrados (órgão colegiado) Imperador (com características de princeps ou de dominus) Legislativo Realeza República Principado Dominado Comícios e Rei Comícios, Magistrados e Senado (sanção) Imperador e Senado (diarquia) Imperador (por meio das constitutiones imperiales) Judiciário Realeza República Império Rei e prepostos Pretor e juízes leigos Imperador e prepostos (juízes togados) XI. FORMAS DE ESTADO Estado simples (Realeza e República) Era o Estado unitário, onde se mantinha uma mesma organização político-administrativa e Roma exercia sua soberania incorporando novos territórios. Estado composto (Império) Roma misturou características de federação e confederação, firmava alianças com as cidades, mas sempre tinha posição de vantagem, recebendo tributos e decidindo sobre a guerra e sobre a paz. XII. NACIONALIDADE E CIDADANIA Conceito Nacionalidade e cidadania se confundem, pois todo nacional é cidadão, pelo menos em potência (se ainda não tem direito de fazer parte da vida política). Aquisição Adquiria-se a cidadania em Roma pelo nascimento (se fosse filho de cidadão romano), por lei (que concediam cidadania a peregrinos, coletiva ou particularmente), pela naturalização (quando o estrangeiro abandonava a nacionalidade de origem e adotava a romana, recebendo, assim, a cidadania) ou pela manumissão (correspondente à libertação do escravo, que passava a ser pessoa e cidadão romano, ainda que com direitos limitados). Perda Perdia-se a cidadania com a perda da liberdade (era a morte civil, pois transformando-se em escravo, passava a ser coisa – res – e sofria a capitis deminutio maxima), com a naturalização (quando abandonava a cidadania romana) e pela condenaçãoa penas perpétuas (penas como a deportação importavam na própria perda da cidadania). Categorias de cidadãos Ingênuos eram os cidadãos que nasceram livres e sempre gozaram de liberdade, a eles sendo assegurados todos os direitos individuais, civis e políticos; e os libertos eram os que haviam sido escravos, mas haviam adquirido liberdade, tornando-se cidadãos romanos, porém com várias restrições à direitos, assim como ocorria com os cidadãos naturalizados. XIII. DECLARAÇÃO DOS DIREITOS Direitos Individuais Os direitos individuais no Direito Romano nem sempre foram reconhecidos. Muitos autores alegam que, em Roma, tudo o que o cidadão podia fazer era dádiva do Estado, entretanto, mesmo entre os romanos já se reconhecia a existência de um direito natural, referente a todos os homens. O direito à vida no início era relativizado, sendo conferido ao detentor do pátrio poder o direito sobre a vida e a morte dos filhos. No entanto, com evolução do direito, o Estado passou a ter influência nas relações domésticas e a restringir tanto o direito do pai matar o filho, quanto o do senhor em relação ao escravo. O direito à liberdade, para os romanos, se referia à liberdade do indivíduo fazer o que quiser, a não ser que esteja proibido pela força ou pelo direito. A liberdade se expressa de maneira mais forte no direito de família, pois o Estado reconhecia certos poderes aos detentores do pátrio poder, quase não interferindo na esfera de atividade familiar. O direito à propriedade sempre foi muito forte entre os romanos, e traduzia-se no direito de usar (jus utendi), usufruir (jus fruendi) e dispor livremente, inclusive para destruir, (jus abutendi) determinada coisa. Na Realeza o Estado não interferia de maneira alguma em como cada um geria sua propriedade; na República, a propriedade foi inclusive critério de participação política (nos comícios por centuriae); e no Império, mesmo com a necessidade de angariar recursos, o Estado respeitava a propriedade, evitando o confisco e a expropriação, e criando institutos alternativos como o colonato, a enfiteuse e a nacionalização em massa. O direito à segurança sempre foi uma das principais preocupações dos romanos, tanto que se consolidou a prática do jus scriptum (direito escrito) para aumentar o grau de segurança jurídica por meio de normas precisas e específicas. Havia também o jus actionis (direito de ação), que era o direito de perseguir em juízo o que lhe é devido e servia para concretizar os direitos subjetivos. O jus provocationis era o direito de recorrer, apelar aos comícios das decisões de primeira instância que condenavam à pena de morte ou à multa suprema. O jus intercessionis era o direito que tinha o cônsul de vetar medidas de seu colega, ou o tribuno da plebe de vetar iniciativas de qualquer magistrado ou do senado, atuando como advogado da plebe e, para isso, tendo imunidade contra todos (o tribuno da plebe só deixou de existir com o advento dos comícios por tribos, por meio dos quais qualquer plebeu tinha acesso à magistratura). Direitos Civis Os direitos civis decorrem da cidadania e dizem respeito ao relacionamento do cidadão em sociedade. São eles o jus conubii (direito de casar-se), jus commercii (direito de estabelecer relações patrimoniais), o jus actioni (direito de ação), factio testamenti (direito de fazer testamento, ou dele ser beneficiado) e o tria nomina (direito ao nome, prenome e cognome). Direitos Políticos Direitos políticos são aqueles que relacionam o cidadão ao Estado, são eles: o jus suffragii (direito de votar), o jus honorum (direito de ser votado), o jus militiae (direito de prestar serviço militar) e o jus provocationis (direito de apelar). DIREITO DAS PESSOAS XIV. PESSOA FÍSICA Definição A palavra persona representava a máscara usada pelo artista no teatro. Posteriormente seu sentido foi estendido para todo ser humano. Pessoa física e pessoa natural são a mesma coisa, pois ambas as palavras derivam de natureza. * As mulheres e os filhos eram reconhecidos como pessoas, mas desprovidos de capacidade jurídica. Os escravos não tinham personalidade, eram objetos, bens. Requisitos Existência Para ser pessoa natural era necessário nascer vivo, ter forma humana (o produto disforme – monstrum – jamais poderia ter personalidade), e ser viável, apto à vida (aos que não tinham condições de sobreviver era negada a personalidade, e os prematuros eram considerados como aborto). Capacidade jurídica Capacidade de direito é a aptidão para ser titular de direitos e está condicionada a três filtros: o status libertatis, segundo o qual as pessoas podiam ser livres (tendo capacidade jurídica) ou escravas (não tendo capacidade e não sendo nem pessoa); o status civitatis, segundo o qual as pessoa eram cidadãs (cive, tendo plenos direitos) ou peregrinas (peregrini, tendo sua capacidade reduzida); e o status familiae, segundo o qual as pessoas, dentro da família, ou eram sui juris (de direito próprio, podendo ser pais de família – paterfamilias) ou alieni juris (de direito alheio, sujeitas ao pátrio poder, portanto, com capacidade reduzida). “A capacidade pressupõe vontade, que requer liberdade, sem a qual não há responsabilidade.” Cápitis deminutiones As pessoas poderiam sofrer diminuição de sua capacidade, que, dependendo da intensidade, seria: máxima (quando se perdia a liberdade, junto com todos os direitos da personalidade); média (quando se perdia a cidadania, passando a ser peregrinus); ou mínima (quando um sui juris era adotado – por meio da adrogatio – e passava a ser alieni juris). Fatores que afetam a capacidade Outros fatores afetam a capacidade, como a idade; o sexo (as mulheres eram relativamente incapazes, devendo estar sempre sob o pátrio poder, se alieni juris, ou sob tutela, se sui juris); a saúde (os loucos perdiam sua capacidade nos intervalos em que perdiam a lucidez, assim como os surdo-mudos, eunucos e os pródigos também sofriam restrição de capacidade); e a religião (após a cristianização do Império, judeus e hereges tiveram seus direitos restringidos). Infantes Impúberes Capazes Senis Homem 0 – 7 anos 7 – 14 anos 14 – 70 anos 70 anos em diante... Mulher 7 – 12 anos 12 – 70 anos * Houve época em que, após passarem da fase de impúberes, os sujeitos ficavam sob curatela até os 25 anos. XV. PESSOA JURÍDICA Definição A pessoa jurídica é a entidade a que a lei atribui capacidade para ser titular de direitos e obrigações. A capacidade de direito da pessoa jurídica tinha um campo muito mais limitado, que, porém, foi se alargando, chegando a permitir que elas exercessem a factio testamenti. As pessoas jurídicas são desprovidas de capacidade de fato, pois exerciam sua capacidade de direito através de seus prepostos (representantes). Classificação As univérsitas personarum eram conjuntos de pessoas, e poderiam ser de Direito público (como o Estado Romano, o fisco, as províncias, as cidades, as colônias, os municípios e as prefeituras) ou de Direito privado, como as corporações (que independem da composição de seus indivíduos – eles podem ser substituídos, têm patrimônio separado deles e pratica atos através de representantes). As univérsitas rerum era constituídas por bens, reunidos para um determinado fim, às quais o direito reconhecia capacidade jurídica. São consideradas assim as fundações (piae causae), cuja vontade era a de seu fundador, perpetuada na de seu administrador; e a herança jacente (hereditas jacens), que era o conjunto de bens, deixados pelo de cujus, que o herdeiro ainda não incorporou. Formação Para formara pessoa jurídica, antes do Império, bastava a lei da entidade (lex collegii), isto é, seu estatuto. No Alto Império, todas as corporações foram dissolvidas, necessitando-se de autorização do poder público para serem novamente formadas. No Baixo Império passou-se a permitir, sem necessidade de autorização, a formação das associações religiosas e das fundações de caridade. Extinção As principais causas para extinção da pessoa jurídica é o desaparecimento de seus membros, a convenção de todos os seus sócios, a consecução do objetivo para o qual fora criada, o decurso do prazo de funcionamento, se previsto em seu estatuto, e a cassação da autorização pelo poder público, no caso de cometimento de ilicitudes.
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