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Finanças Empresariais e o Cenário da Economia ( Prof. José Francisco Filho ( Chefe do Departamento de Ciências Econômicas da FMJ
FINANÇAS EMPRESARIAIS
E O CENÁRIO DA ECONOMIA
Professor José Francisco Filho*
INTRODUÇÃO
O novo cenário da economia requer cada vez mais das empresas decisões estratégicas rápidas e eficazes. Evidentemente, para atingir esse objetivo, existe a necessidade de informações gerenciais integradas de alto grau de abrangência e confiabilidade. 
Baseado nessa nova fase da economia é que este trabalho será desenvolvido, focalizando aspectos que mostram o comportamento das finanças das empresas. 
Esses aspectos, neste caso, são compostos, basicamente por:
solvência de curto prazo, que mostra a capacidade da empresa para cumprir suas obrigações de curto prazo;
endividamento, capaz de mostrar com que intensidade a empresa utiliza financiamento com capital de terceiros;
atividade, que mostra a capacidade da empresa para controlar seu investimento em ativos;
rentabilidade, que permite analisar o nível de lucratividade da empresa.
Os resultados serão analisados avaliando o desempenho das políticas adotadas, os reflexos conjunturais nos resultados operacionais, o desempenho operacional frente ao dos concorrentes, enfim, informações fundamentais para o suporte necessário de futuras decisões empresariais dentro do novo cenário da economia.
O Plano Real é até agora a mais bem sucedida tentativa de controlar a crônica inflação brasileira e transportou o país de uma época de especulação e ágio exorbitantes para a estabilidade monetária e dos preços. As grandes empresas foram obrigadas, cada vez mais, a testar sua competência no mercado. Houve, nos últimos anos, a abertura ao capital/investimento multinacional, inserindo a economia brasileira no ambiente da globalização e nos processos de reengenharia e de terceirização. Os empresários brasileiros, em geral, enfrentaram muitas dificuldades. Alguns ainda enfrentam. Contudo, a maioria das empresas, hoje já adaptadas, vive seus dias de maior lucratividade, ou seja, os empresários que apostaram numa melhor qualidade de seus produtos e souberam ser competitivos, vêm obtendo bons resultados em seus negócios, conforme análise do lucro das empresas à frente.
Informações geradas pelos demonstrativos econômico-financeiros.
O exame das informações geradas pelos demonstrativos econômico-financeiros tem como objetivo tornar os dados contábeis, expressos nesses demonstrativos, um instrumental essencial para análise e controle das situações financeiras e de políticas de investimento das empresas. De fato, a gestão racional e eficiente dos fluxos contábeis e de caixa da empresa é tão importante quanto produzir e vender. A análise das demonstrações financeiras de empresas com problemas financeiros tem mostrado dois pontos críticos:
excessiva dependência de capital de terceiros pelo endividamento em sua estrutura de capital, causando redução em seus resultados, ou seja, transferências de recursos dos setores produtivos para o setor financeiro, em função dos altos custos financeiros e conseqüente incapacidade de investimento;
inadequada administração do capital de giro, por falta de sincronização entre o ciclo de recebimento e o ciclo de pagamentos gerados, respectivamente, pelas compras e vendas a prazo. A maioria das empresas vende a prazo e, portanto, só recebe depois de algum tempo, sendo assim, necessita de capital de giro para financiar estoques de materiais, pessoal e todo o processo de custos para produzir e estocar suas mercadorias. Quando isso acontece, o ciclo de recebimento é maior do que o ciclo de pagamentos. Por conseguinte, existe alguma forma de endividamento oneroso, utilizado para financiar essa necessidade de capital de giro.
O capital de giro
De acordo com os dados agregados dos três grandes setores da economia, resultados das quinhentas maiores empresas em operação no país, listadas pela revista Conjuntura Econômica em 1998, conforme quadro a seguir.
BRASIL: SETORES DA ECONOMIA – 1998 – em bilhões de reais
 CAPITAL DE GIRO LÍQUIDO CAPITAL DE GIRO PRÓPRIO
Setor Primário 0,9 (-) 1,0
Setor Secundário 2,0 (-) 67,5
Setor Terciário (-) 4,9 (-) 17,4
Total dos Setores (-) 2,0 (-) 85,9
Fonte: Revista Conjuntura Econômica, Fundação Getúlio Vargas, agosto de 1999
O quadro mostra que o capital de giro líquido (ativo circulante menos passivo circulante) foi negativo em R$ 2 bilhões, revelando grande insuficiência de capital de giro do setor terciário. O capital de giro próprio (recursos próprios menos capital fixo) para o total das empresas foi negativo em R$ 85,9 bilhões. Tal montante revela que grande parcela das empresas não possui recursos próprios para financiar a sua estrutura produtiva, complementando essa necessidade com recursos de terceiros, com isso gerando resultado financeiro (receitas financeiras menos despesas financeiras) negativo de R$ 13 bilhões, valor que foi transferido do setor produtivo para o setor financeiro, consolidando, assim, maior concentração de renda.
Por outro lado, constata-se que o lucro líquido final gerado pela amostra das empresas foi de R$ 12,9 bilhões, ou seja, basicamente o mesmo montante do resultado financeiro, confirmando que as empresas trabalharam no ano de 1998 para dividir o resultado com o setor financeiro.
Capital de giro próprio
O capital de giro próprio negativo reflete que 44% do total do ativo das empresas estão sendo financiados por recursos de terceiros a longo prazo, e o restante 56% por capital próprio, o que significa que a situação de estrutura de capital das empresas é bem adequada e que os recursos de terceiros vêm gerando bons resultados e alavancando os recursos próprios, sob o ponto de vista da estrutura de patrimonial. Isso fica bastante claro e comprova que o que é extremamente alto são as taxas de juros cobradas no mercado financeiro, tanto para capital de giro quanto para financiamento da estrutura produtiva.
BRASIL: VALORES AGREGADOS DAS MAIORES EMPRESAS EM OPERAÇÃO
1996 a 1998 - em bilhões de reais*
 TOTAL Variação em %
Anos
Número Empresas
Ativo
Total
Receita
Líquida
Lucro Líquido
Ativo
Total
Receita
Líquida
Lucro
Líquido
1996
500
602
254
 5,9
-
-
-
1997
500
601
270
 9,8
(-) 0,3
6,3
66,1
1998
500
624
275
12,9
 3,8
1,6
31,6
 PRIVADAS Variação em %
Anos
Número Empresas
Ativo
Total
Receita
Líquida
Lucro
Líquido
Ativo
Total
Receita
Líquida
Lucro Líquido
1996
425
274
177
8,5
-
-
-
1997
423
295
196
7,4
 7,7
10,7
(-) 12,9
1998
451
375
220
9,8
27,1
12,2
 32,4
 ESTATAIS Variação em %
Anos
Número
Empresas
Ativo
Total
Receita
Líquida
Lucro
Líquido
Ativo
Total
Receita
Líquida
Lucro
Líquido
1996
75
328
77
(-) 2,6
-
-
-
1997
77
305
75
 2,4
(-) 7,0
(-) 2,6
-
1998
49
249
55
 3,1
(-)18,4
(-) 26,7
29,2
* A preços de 1998
Fonte: Revista Conjuntura Econômica, Fundação Getúlio Vargas, agosto de 1999.
OBS: Para leitura dos quadros:
Ativo Total representa o total dos investimentos em capital de giro e capital fixo.
Receita Líquida representa o total do faturamento, deduzido dos impostos indiretos e outras deduções.
Lucro líquido representa o valor do lucro depois do Imposto de Renda e das participações estatutárias e dos acionistas minoritários. 
Osvalores agregados das maiores empresas em operação no país mostram mudanças significativas no perfil da economia brasileira, neste novo cenário da economia, com a redução do número de estatais (de 77 em 1997 para 49 em 1998) devido ao processo de privatizações e à conseqüente ocupação de espaços pelo capital privado nacional e estrangeiro (passando o número de empresas de 423 em 1997 para 451 em 1998). 
No ranking publicado em 1998, as quinhentas maiores empresas em operação no país somavam um ativo total de R$ 624 bilhões, contra R$ 601 bilhões em 1997, mostrando crescimento real do ativo de 3,8% enquanto que o lucro líquido acumulado no mesmo período foi da ordem de R$ 12,9 bilhões com crescimento real de 31,6%. Isto representa aproximadamente dez vezes o crescimento real do ativo, resultado que demonstra a grande eficiência na gerência dos negócios e reflete cada vez mais a importância da transferência das empresas de capital estatal para o privado. 
De acordo ainda com as informações consolidadas acima, as empresas de capital privado totalizaram ativos de R$ 375 bilhões, representando 60% de participação no ativo total e 76% do lucro líquido, confirmando os resultados comentados anteriormente, mostrando crescimento real do ativo de 27,1% em relação a 1997 e lucro líquido final de 9,8 bilhões. O crescimento real foi de 32,4% no mesmo período, revelando situação bem mais equilibrada na estrutura dos recursos e geração de lucros quando comparado ao total das empresas do ranking geral. 
BRASIL: INDICADORES ECONÔMICO/FINANCEIROS EMPRESAS PRIVADAS E ESTATAIS – 1996 a 1998
 EMPRESAS PRIVADAS EMPRESAS ESTATAIS
1996
1997
1998
1996
1997
1998
Grau de endividamento
 0,67
 0,78
 0,78
 0,44
 0,51
 0,61
Liquidez corrente
 1,23
 1,30
 1,08
 0,68
 0,72
 0,98
Margem bruta %
25,44
22,66
23,0
 20,92
28,42
 29,0
Margem líquida %
 3,32
 3,94
 4,45
(-) 3,77
 1,28
 5,6
Rentabilidade do Patrimônio Líquido (%)
 4,23
 5,38
 4,70
(-) 0,73
 0,85
 2,20
Fonte: Revista Conjuntura Econômica, Fundação Getúlio Vargas, agosto de 1999.
Com relação aos indicadores financeiros, as empresas estatais mostram baixo grau de endividamento (relação entre recursos de terceiros e recursos próprios), de 0,51 em 1997 e 0,61 em 1998, em comparação aos 0,78 das empresas privadas. O indicador de liquidez corrente (relação ativo circulante sobre passivo circulante) teve comportamento inverso entre os dois segmentos das empresas. As de capital privado tiveram ligeira queda em relação aos anos anteriores, (de 1,30 em 1997 para 1,08 em 1998). Já as estatais vêm mostrando recuperação em todos os anos (de 0,68, em 1996, chegando a 0,98, em 1998), revelando tendência de estabilidade em termos de capital de giro. As estatais, por serem em sua quase totalidade empresas de infra-estrutura, possuem um grau de imobilização bastante alto, por isso dependem mais de recursos de longo prazo. Comparando as margens operacionais brutas, enquanto as empresas privadas, em função da pressão do mercado por sua competitividade, experimentaram redução das margens brutas de 25,4% para 23,0% em 1998, as empresas estatais obtiveram aumento de 20,9% para 29,0% em 1998, refletindo aumentos e reajustes de tarifas concedidas pelo governo.
É interessante observar que o endividamento das empresas brasileiras historicamente não é elevado, segundo padrões internacionais, em razão do temor do peso dos custos financeiros na prolongada fase de inflação descontrolada vivida pelo país. Nos últimos anos, a lógica dos juros altos, embutida no sucesso da estabilização da economia conseguido pelo Plano Real, tem levado boa parte do empresariado nacional a momentos difíceis. Nunca é demais destacar que a estabilidade também foi conseguida com a abertura da economia aos produtos importados, o que trouxe mais um desafio à criatividade 
* Chefe do Departamento de Ciências Econômicas da Faculdade Moraes Júnior.

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