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FARMACOTERAPIA DO DIABETES MELLITUS Profa. Dra. Patrícia Corrêa Dias Curso de Farmácia - Unimep - Uma das grandes epidemias mundiais do século 21 e importante problema de saúde pública - No mundo: cerca de 135 milhões em 1995 e 240 milhões em 2005, com projeção de atingir 366 milhões em 2030, dos quais dois terços em países em desenvolvimento . - Nas Américas: número estimado em 35 milhões para o ano 2000 e projetado para 64 milhões em 2025 - No Brasil (estudo multicêntrico): em população urbana de 30 a 69 anos, ao final dos anos 1980, a prevalência foi de 7,6%, incidindo igualmente nos dois sexos, mas aumentando com a idade e a adiposidade corporal. As maiores taxas foram em São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS), sugerindo a influência da urbanização e industrialização Arq Bras Endocrinol Metab. 2009;53/6 DADOS GERAIS DE INCIDÊNCIA DO DM farmacoterapia DIABETES MELLITUS - DM Grupo de doenças metabólicas caracterizadas por HIPERGLICEMIA e associadas a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos (olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sangüíneos). - Muita sede (polidipsia) - Vontade constante de urinar e grande volume de urina (poliúria) - Perda de peso - Fome exagerada (polifagia) - Visão embaçada - Infecções repetidas na pele ou mucosas - Machucados que demoram a cicatrizar - Fadiga (cansaço inexplicável) - Dores nas pernas por causa de má circulação SINTOMAS GERAIS CLASSIFICAÇÃO DO DM – TIPO I - Doença autoimune, caracterizada pela destruição das células beta produtoras de insulina (autoanticorpos) - Início geralmente na infância e adolescência - Supressão total de produção de insulina - Pacientes dependem de insulina exógena (insulinodependentes) - Predisposição genética ou não (perda emocional ou também alguma agressão por determinados tipos de vírus como o cocsaquie) - Ocorre contínua produção de insulina pelo pâncreas - Pode haver produção diminuída de insulina ou - Diminuição da capacidade de absorção da glicose pelas células musculares e adiposas (resistência Insulínica) - Possui um importante fator hereditário e grande relação com a obesidade e o sedentarismo. - O início ocorre geralmente na vida adulta (após os 40 anos) - Tratamento com dieta, exercício físico, hipoglicemiantes orais e em situações extremas, a insulina CLASSIFICAÇÃO DO DM – TIPO II CLASSIFICAÇÃO DO DM – GESTACIONAL - Qualquer intolerância a carboidratos, resultando em hiperglicemia, com início ou diagnóstico na gestação - Ocorre elevação de hormônios contra-reguladores da insulina, pelo estresse fisiológico da gravidez e a fatores predeterminantes (genéticos ou ambientais) - O principal hormônio relacionado com a resistência à insulina é o lactogênico placentário (outros: cortisol, estrógeno, progesterona e prolactina) - A incidência é de 3% a 7%, variando de acordo com a população estudada e os critérios diagnósticos utilizados - No Brasil, estima-se prevalência de 2,4% a 7,2%, dependendo do critério utilizado para o diagnóstico Normal -Glicemia de jejum entre 70 mg/dl e 99mg/dl e inferior a 140mg/dl 2 horas após sobrecarga de glicose Intolerância à glicose - Glicemia de jejum entre 100 a 125mg/dl Diabetes - 2 amostras colhidas em dias diferentes com resultado igual ou acima de 126mg/dl. ou quando a glicemia aleatória (feita a qualquer hora) estiver igual ou acima de 200mg/dl na presença de sintomas. Teste de tolerância à glicose aos 120 minutos igual ou acima de 200mg/dl. American Diabetes Association Sociedade Brasileira de Diabetes DIAGNÓSTICO DO DM DIAGNÓSTICO DO DM - Neuropatia diabética pode se manifestar tanto por lesão em nervos periféricos como por disfunção autonômica. A disfunção autonômica pode afetar vários sistemas como o cardiovascular, o gastrintestinal e o geniturinário ALGUMAS COMPLICAÇÕES DO DM - Aterosclerose artérias coronarianas, dos membros inferiores e cerebrais - complicações macroangiopáticas - Problemas de visão (retinopatia diabética), doença renal (nefropatia diabética) e doença vascular periférica (pé diabético) – alterações microangiopáticas • Indicação de agentes antidiabéticos (reduzir glicemia e hemoglobina glicada ( HbA1C ou mais recentemente A1C), que é uma ferramenta de diagnóstico na avaliação do controle glicêmico) • Meta da SBD = 7% de A1C, evitando o risco de hipoglicemia principalmente em cardiopatas) • As complicações do DM ocorrem acima destes níveis (7%) DM2 PACIENTES QUE NÃO RESPONDEM ÀS MEDIDAS NÃO MEDICAMENTOSAS Como os eritrócitos têm um tempo de vida de aproximadamente 120 dias, refletem a glicemia média dos últimos dois a três meses antes do exame. HEMOGLOBINA GLICADA HEMOGLOBINA GLICADA E AS COMPLICAÇÕES DO DM HEMOGLOBINA GLICADA E GLICEMIA OBSERVAÇÕES PARA A SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS • Glicemia de jejum e pós prandial • Dosagem de hemoglobina glicada • Peso e idade • Presença de complicações (outros problemas metabólicos ou doenças associadas) • Interações medicamentosas • Reações adversas e contra-indicações HIPOGLICEMIANTES ORAIS SECRETAGOGOS DE INSULINA - Aumentam a liberação de insulina pelas células beta, que devem estar funcionantes - Receptores de alta afinidade para as sulfonilureias sobre os canais de K+ sensíveis ao ATP na membrana da célula beta - Redução da permeabilidade das células ao K+, causando despolarização, entrada de cálcio e secreção de insulina SULFONILUREIAS Mecanismo de Ação As sulfonilureias estão indicadas para pacientes com diabetes não-obesos ou quando há perda de peso e na fase inicial da doença, visto que a evolução da doença está relacionada a uma maior disfunção das células beta e, consequentemente, uma ineficácia desses fármacos. Os pacientes obesos respondem mal às sulfonilureias, possivelmente como decorrência da resistência à insulina que costuma acompanhar a obesidade SULFONILUREIAS INDICAÇÕES E CONTRA-INDICAÇÕES HIPOGLICEMIANTES ORAIS - NÃO SECRETAGOGOS DE INSULINA BIGUANIDAS METFORMINA Hipoglicemiantes orais que não necessitam de células beta funcionantes Aumentam a captação de glicose no músculo esquelético Possuem efeito sobre absorção e produção hepática de glicose Metformina • Diminuição do apetite (DM2 obesos) • Não libera insulina do pâncreas • Diminui a produção hepática de glicose (redução da gliconeogênse?) • Aumenta a ação da insulina no músculo e tecido adiposos (captação de glicose) • Aumenta o número e afinidade de receptores de insulina • Melhora o perfil lipídico (diminui ldl e vldl) • Pode ser combinada com sulfonilureia Contra-indicaçõeas Paceintes com comprometimento renal PACIENTES COM DIANÓSTICO RECENTE Diretrizes Brasileira, Americana e Europeia inidicam a modificação do estilo de vida + metformina Quando a glicemia de jejum for menor que 150 mgdl, indica-se medicamentos que não promovem a secreção de insulina, principalmente em obesos. • Secretagogos de insulina, ação prolongada (sulfonilureias) • Favorecem o ganho de peso e a ocorrência de hipoglicemia • Secretagogos de insulinade ação curta (período pós-prandial – metiglinidas) CONTRA-INDICAÇÃO PARA OBESOS CONSIDERAÇÕES PARA CONTINUIDADE • Associação entre perda de peso e hiperglicemia sinaliza a deficiência de insulina (estágio mais avançado e descompensado da doença) • Indicação dos medicamentos secretagogos em monoterapia ou terapia combinada • O desenvolvimento da doença ao longo dos anos e o desenvolvimento de sintomas/complicações secundários à hiperglicemia podem requerer a administração de insulina mesmo no DM2 • No início, insulina de ação intermediária ou prolongada por via sc antes de jantar ou dormir • A melhor terapia depende da fase/capacidade secretória do pâncreas Escolha dos medicasmenyos HIPOGLICEMIANTES ORAIS SECRETAGOGOS DE INSULINA Período inicial, hiperglicemia discreta, obesidade e insulino- resistência Metformina Diminuição da secreção de insulina Secretagogo (em associação), com opção para insulina basal Progressão da diminuição da secreção de insulina (uma década de doença), perda de peso e co- morbidades, Secretagogo e outros agentes orais e insulina Predomínio da insulinopenia Uma ou duas apls de insulina NPH ou análogos de ação prolongada, insulina prandial (rápida ou ultrarápida antes das refeições e agente oral sensibilizador O PÂNCREAS ENDÓCRINBO A ILHOTA DE LANGERHANS - Células A – secreção de glucagon - Células B – secreção de insulina e polipeptídeo amiloide das ilhotas (amilina) - Células D – somatostatina A QUÍMICA DA INSULINA - Proteína com sequência de aminoácidos definida em 1955 - Possui duas cadeias polipeptídicas A (21 aminoácidos) e B (30 aminoácidos) unidas por ligações dissulfeto – PM 5734 Cadeia A Cadeia B Ligações dissulfeto INSULINA - Precursor: pre-pro-insulina no retículo endoplasmático rugoso (110 aa) - Pre-pro-insulina transportada até o aparelho de Golgi, onde sofre modificação (clivagem proteolítica em pro-insulina e insulina + peptídeo C - Insulina e peptídeo C armazenados em grânulos das células beta e são co- excretados por exocitose em quantidades iguais, junto com parte de pro-insulina OS INTERMEDIÁRIOS DA INSULINA Glicose Aminoácidos Ácidos graxos Célula B Célula D Célula A TGI Alimentos digeridos LIBERAÇÃO FISIOLÓGICA DA INSULINA (+) (+) (+) Insulina Nervos parassimpáticos (Ach) Nervos simpáticos (Nor – alfa2) (-) (-) (-) somatostatina glucagon (+) MECANISMO PARA A LIBERAÇÃO DA INSULINA - Canais de K+ determinam o potencial de membrana em repouso na célula beta - Glicose entra na célula pelo transportador GLUT-2 - Glicose é transformada em glicose 6 fosfato (glicoquinase) e entra na via da glicólise, aumentando o ATP intracelular - ATP bloqueia os canais de K+ e ocorre a despolarização celular - Ocorre a abertura dos canais de Ca++ voltagem dependentes – aumento do influxo e da mobilização intracelular no RE liso - Migração, fusão com a membrana e extrusão dos grânulos de insulina na corrente circulatória 1 2 3 4 O RECEPTOR DA INSULINA - Insulina é um agonista de seu receptor, do tipo acoplado à tirosina quinase - Receptor na superfície de células alvo - complexo glicoproteico transmembrana (400 KDa), com duas subunidades alfa e duas beta, ligadas por pontes dissulfeto - Subunidades alfa são extracelulares e possuem dois sítios de ligação com a insulina - Subunidades beta são proteínas transmembrana, com atividade tipo tirosina quinase - As subunidades alfa suprimem a atividade de tirosina quinase das subunidades beta - A ligação da insulina na subunidade alfa ativa a atividade de tirosina quinase na subunidade beta MECANISMO DE AÇÃO DA INSULINA Interação da insulina com seus receptores (menos de 10% ocupados para efeito máximo) Agregação dos receptores em grupos e posterior internalização do complexo receptor insulina (degradação da insulina por lisossomos e receptores reenviados para a membrana) Promoção de cascata de reações de quinases e fosfatases deflagradas pela tirosina quinase As proteínas de substrato do receptor de insulina (IRS – insulin receptor substrate) sofrem rápida fosforilação A ligação dos receptores à insulina induz a translocação do transportador de glicose dependente de insulina (GLUT 4) em direção a membranacelular, efetuando assim a captação da glicose para dentro da célula A INSULINOTERAPIA - Insulina utilizada em todos os casos de DM 1 e alguns casos de DM2 - Pode ser utilizada pelas vias ev ou im em situações especiais - Uso da via subcutânea a longo prazo - A ideia é aproximar a forma de administração à liberação endógena Locais para rodízio na aplicação sc de insulina CLASSIFICAÇÃO DAS INSULINAS De acordo com a espécie d e origem - Bovina (duas alterações adicionais na cadeia A – treonina e isolecunina nas posições A8 e A10 substituídas por alanina e valina, respectivamente - Suína (difere da humana em um único aminoácido – alanina no lugar da treonina na posição 30 da cadeia B -Humana (produzida por processos biotecnológicos e amplamente disponível) -Padronização em unidades – uma unidade é a quantidade de insulina necessária para reduzir a glicemia de um coelho em jejum para 45 mg/dl -Insulina humana – 100 U/mL = 3,6 mg / mL Tipo Aspecto Proteína adicionada Qte de zinco (mg/100 U) Tampão Início de ação (horas) Pico de ação (horas) Duração de ação (horas) RÁPIDA Solúvel regular Lispro Claro Claro Não Não 0,01 – 0,04 0,02 Não Fosfato 0,5 – 0,7 0,25 1,5 – 4,0 0,5 – 1,5 5 – 8 2 - 5 INTERMEDIÁRIA NPH Lenta Turvo Turvo Protamina Não 0,016 – 0,04 0,02 – 0,25 Fosfato Acetato 1,0 – 2,0 1,0 – 2,0 6,0 – 12,0 6,0 – 12,0 18,0 – 24,0 18,0 – 24,0 LENTA Ultralenta Zíncica com protamina Glargina Turvo Turvo Claro Não Protamina Não 0,20- 0,25 0,20 – 0,25 0,03 Acetato Fosfato Não 4,0 – 6,0 4,0 – 6,0 2,0 – 5,0 16,0 – 18,0 14,0 – 20,0 5,0 – 24,0 20,0 – 36,0 24,0 – 36,0 18,0 – 24,0 CLASSIFICAÇÃO DAS INSULINAS 2 Zn++ formam hexâmeros de insulina nas formulações INSULINAS RÁPIDAS COMENTÁRIOS - Insulina de ação rápida – administrada 30 ou 45 minutos antes das refeições - Pode ser administrada em combinação com formulação de ação intermediária ou lenta - Pode ser utilizada pela via endovenosa em situações especiais - O que é a insulina lispro? - Em insulinas, os monômeros se organizam em hexâmeros em complexo com o zinco, o que retarda a absorção - Foi necessário desenvolverinsulina monomérica ou dimérica para diminuir o tempo para absorção (3 vezes mais rápidos) - Lispro – mudança/inversão de aminoácidos em B28 (prolina) e B29 (lisina) (hexâmeros que se dissociam mais rapidamente) regular lispro INSULINAS INTERMEDIÁRIAS COMENTÁRIOS - NPH = Insulina com Protamina Neutra de Hagedorn - (1936 – Hagedorn descobre que a adição de protamina retarda a absorção da insulina) - Complexo com zinco e protamina em tampão fosfato - Insulina lenta – suspensão – MISTURA - de insulina cristalizada (ultralenta) e amorfa (semilenta) em tampão acetato (pouca solubilidade) INSULINAS INTERMEDIÁRIAS COMENTÁRIOS - Suspensão insulina zíncica prolongada (baixa concentração de insulina ao longo do dia - Solução incolor pH 4 (estabilização do hexâmero) - Não pode ser misturada com insulinas de pH neutro - Insulina glargina – análogo de insulina humana com 2 argininas acrescentadas à cadeia Be substituição da asparagina pela glicina na posição A21 INSULINAS EM MISTURA EXEMPLOS - 70% NPH + 30% regular - - 50% NPH + 30% regular DIFERENTES INSULINAS NO DECURSO TEMPORAL INSULINA EFEITOS COLATERAIS - Hipoglicemia - extremo – lesão cerebral - Alergia e resistência à insulina (reações cutâneas mediadas por IgE) - Lipoatrofia (imune) e/ou lipo-hipertrofia (ação lipogênica) - Edema Necessidade de variação nos locais de aplicação sc HIPOGLICEMIANTES ORAIS - Sulfonilureias - Biguanidas - Inibidores da alfa glicosidade Utilizados no DM2 SULFONILUREIAS Aumento da liberação de insulina pelo pâncreas do DM2 1ª geração Tolbutamida, Tolazamida, Acetoexamida e Clorpropamida 2ª geração Glibenclamida, Glipizida, Glicazida e Glimepirida SULFONILUREIAS Efeitos Colaterais - 4% dos pacientes com fármacos de 1ª geração, com menor incidência com os de 2ª geração -Hipoglicemia (clorpropamida > tolbutamida) (glibenclamida > glimepirida) Hipoglicemia – gradro neurológico importante - Náusea, vômito, icterícia, anemia e reações de hipersensibilidade TIAZOLIDINEDIONAS Rosiglitazona e pioglitazona (boa redução de hemoglobina glicada em DM2) Ativação de genes que respondem à insulina e regulam metabolismo de carboidratos e lipídeosa Ação principal em aumentar a sensibilidade à insulina nos tecidos periféricos, aumentando seu transporte para o músculo e gordura, intensificando a síntese e translocação de transportadores de glucose Necessidade de monitorização da função hepática Risco cardiovascular com rosiglitazona (retirada do mercado) INIBIDORES DA ALFA-GLICOSIDASE Diminuem a absorção intestinal de carboidratos pela inibição da alfa-glicosidase na borda intestinal em escova – aumento de glicose pro prandial diminuído Usados sozinhos em idosos com hiperglicemia pos prandial ou em associação com outros agentes orais e insulina Não causam hipoglicemia, mas causam má absorção, flatulência, diarreia e distensão abdominal
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