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Trabalho de PPE 7

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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................10
ÉTICA E MORAL: VALORES FILOSÓFICOS EM FORMAÇÃO…...……....13 
QUAL A FUNÇÃO DA ESCOLA…….………………………………...…….......14
 2.2 VALORES E VIRTUDES…………….………………….………….…………....15
 3 A RELAÇÃO ESCOLA E FAMÍLIA……….………………...………………..…18
 O PAPEL DA ESCOLA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: IMPORTÂNCIA E LIMITES…………………….............................................................................19
 A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA TRANSMISSÃO DE VALORES…..........22
 A IMPORTÂNCIA DO BOM RELACIONAMENTO ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA……………………………………….…..…………………….…………24
METODOLOGIA…………………………………………………..…………….…27
 TIPO DE PESQUISA………………………………………………..………..…..28
 CAMPO DA PESQUISA…………………………………..…………………..….29
 TÉCNICAS UTILIZADAS……………………………..…………………………..30
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS………..……..…………………….... 31 
REFERÊNCIAS…………………………………………………………………..........32
APÊNDICES
APÊNDICE A – ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM PROFESSOR E GESTOR 
 DA ESCOLA ..……………………………………………………………………….....33
 APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PAIS……………..………….34
1 INTRODUÇÃO 
De uns anos pra cá, pôde-se observar uma mudança nas famílias, principalmente nas de classe média e alta. Cada vez mais é crescente a busca dos pais em suprir a falta de tempo, quer seja com brinquedos caros ou deixando de impor-lhes limite, para compensar a ausência. Segundo Tiba (2005), isso ocorre por alguns fatores da vida moderna. Como as mães precisam trabalhar para ajudar no sustento da casa, as crianças passam a frequentar a creche ainda muito cedo, passando a maior parte da infância nas escolas ou sendo cuidadas por babás. 
Num mundo violento, as famílias diminuíram e é comum que se isolem. Com a chegada da era tecnológica, cada vez mais foi diminuindo o convívio social e também vínculos importantes, assim como princípios e valores como gratidão, disciplina, cidadania, religiosidade, entre outros. Valores éticos e morais, princípios passados de uma geração à outra, ficaram esquecidos e foram negligenciados pela família. Nas famílias tradicionais, a primeira educação era recebida em casa. Assim devia ser, mas o que vemos hoje são crianças mal educadas, adolescentes problemáticos, famílias desestruturadas e a escola sendo cobrada por uma educação que não cabe só a ela.
Este problema foi observado em uma escola da rede particular, que atende famílias de classe média e alta, onde são recebidas crianças a partir dos 4 meses de idade, ficando até o 5º ano do Ensino Fundamental. As crianças são cuidadas e devidamente educadas no que compete à uma escola. Porém, percebe-se falta de interesse e um certo comodismo por parte da família em oferecer à essas crianças a primeira educação, aquela pautada em valores éticos, morais e sociais, preparando-as verdadeiramente para a sociedade, para o mundo. 
Segundo Chalita (2004) a responsabilidade de formar o caráter é da família. É ela quem educa para a vida e forma valores éticos e morais que se firmarão para sempre nos filhos, onde estes, devem se espelhar nos pais e assim desenvolverem cumplicidade entre si.
Diante disso, na tentativa de encontrar soluções para o problema da falta de valores éticos e morais, que ficaram esquecidos, surgem os questionamentos: Como a escola pode ajudar às famílias e vice-versa? Que tipo de cidadãos estão sendo formados? O que podemos esperar dessa nova geração? 
O objetivo geral desta pesquisa é analisar os papéis da escola e da família sobre a primeira educação e compreender a importância de um trabalho em parceria, com o intuito de resgatar uma educação pautada em valores éticos e morais. Para alcançar o objetivo geral, foram traçados alguns objetivos específicos, como: Identificar a responsabilidade da escola e da família, no que compete à cada uma, na busca por uma educação de qualidade; Analisar as questões que envolvem situações decorrentes da falta de parceria entre ambas; Propor uma reflexão sobre o antigo modelo de educação, pautado em valores éticos e morais e em princípios que se perderam com as transformações da sociedade moderna e com os avanços tecnológicos.
A justificativa encontrada para esse tipo de pesquisa é uma tentativa de resgate de um modelo de educação pautada nos conceitos de ética, moral, respeito e cidadania, que se perderam ao longo das décadas. Valores e princípios que devem ser recebidos em casa e trabalhados na escola. 
A família e a escola têm papéis distintos na educação das crianças. Se por um lado a escola tem a função de oferecer uma educação de qualidade, a família precisa desempenhar seu papel de parceira da escola, dando continuidade ao trabalho feito por ela. A escola deve ser receptiva, atendendo às exigências dos pais, porém as famílias precisam manter um estreito relacionamento com a escola, participando do processo, acompanhando e continuando o trabalho em casa. 
De acordo com Paro (2000), grande parte do trabalho do professor seria facilitado se o estudante já viesse para a escola predisposto para o estudo e se, em casa, ele pudesse contar com alguém que, convencido da importância da escolaridade, o estimulasse a esforçar-se ao máximo para aprender. Mas a escola não pode deixar de fazer a sua parte. Isso inclui – além de um ensino efetivamente agradável – o acolhimento dos pais, o cumprimento do dever de atender a seus interesses educativos e o oferecimento de uma escola da qual todos possam gostar.
A presente pesquisa está dividida em capítulos, os quais serão apresentados da seguinte forma: No capítulo dois, iniciaremos o tema sobre ética e moral e a formação dos valores filosóficos. Também serão abordados temas geradores como a função da escola, valores e virtudes. No capítulo três, falaremos da relação entre escola e família, bem como o papel da escola, sua importância e seus limites. É importante ressaltar neste capítulo – o que trataremos com bastante relevância – sobre a participação dos pais na transmissão de valores e a importância do bom relacionamento entre família e escola. No capítulo quatro apresentaremos a metodologia utilizada na pesquisa, bem como o tipo de pesquisa, campo e técnicas utilizadas, como entrevistas e questionários. No capítulo cinco serão apresentados os resultados desta pesquisa. Finalmente, no capítulo seis serão apresentadas as conclusões que foram obtidas através da pesquisa. 
2 ÉTICA E MORAL: VALORES FILOSÓFICOS EM FORMAÇÃO
Duas palavras diferentes, porém com significados iguais. Quando falamos de ética, 
devemos considerar todas as questões que nos levam à uma conduta como indivíduos, de onde vem a formação do nosso caráter e o que aprendemos sobre o que é certo e errado. Ética se aprende em casa, se aprende na escola também. O que chamamos de moral, são o conjunto de normas estabelecidas em diversos locais onde estamos inseridos. Seja nas casas, nas escolas, no trabalho ou no lazer, para um bom convívio, deve-se obedecer aos chamados padrões morais. Moral é aprendida nas relações entre os indivíduos, porém, assim como a ética, nem todos são obrigados a seguir. 
Os professores e toda a comunidade escolar, a forma de avaliação são transmissores de normas e valores que norteiam e preparam o individuo para viver coletividade. Assim, é importante que as questões de vida em sociedade faça parte, com clareza, da organização curricular, levando a ética ao centro de reflexão e do exercício da cidadania. (SERRANO, 2015)
Ética, sob o ponto de vista do filósofo Aristóteles, é caracterizada pela finalidade e pelo objetivo a ser atingido, que seria viver bem, ter uma boa vida, juntamente e para os outros. A excelência é obtida através da repetição do comportamento, isto é, do exercício habitual do caráter que se forma desde a infância. Para o filósofo, a virtude, ou excelência moral, resulta do hábito, de sua prática. (OLIVEIRA, 2009)
De acordo com o documento nº 082 sobre Ética do Ministério da Educação e Cultura “O homem vive em sociedade,convive com outros homens e, portanto, cabe-lhe pensar e responder à seguinte pergunta: “Como devo agir perante os outros?”. Trata-se de uma pergunta fácil de ser formulada, mas difícil de ser respondida. Ora, esta é a questão central da Moral e da Ética.” (BRASIL, 1995, p.49) 
Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), as crianças, desde que nascem, participam de diversas práticas sociais no seu cotidiano, dentro e fora da instituição de educação infantil. Dessa forma, adquirem conhecimentos sobre a vida social no seu entorno. A família, os parentes e os amigos, a instituição, a igreja, o posto de saúde, a venda, a rua entre outros, constituem espaços de construção do conhecimento social. Na instituição de educação infantil, a criança encontra possibilidade de ampliar as experiências que traz de casa e de outros lugares, de estabelecer novas formas de relação e de contato com uma grande diversidade de costumes, hábitos e expressões culturais, cruzar histórias individuais e coletivas, compor um repertório de conhecimentos comuns àquele grupo. (BRASIL, 1988, p. 181)
É importante que as crianças possam também aprender a indagar e a reconhecer relações de mudanças e permanências nos costumes. Para isso, as vivências de seus pais, avós, parentes, professores e amigos podem ser de grande ajuda. Nesse caso, a intenção é que reflitam sobre o que é específico da época em que vivem e da cultura compartilhada no seu meio social. (BRASIL, 1988, p. 182)
Moral e ética, às vezes, são palavras empregadas como sinônimos: conjunto de princípios ou padrões de conduta. Ética pode também significar Filosofia da Moral, portanto, um pensamento reflexivo sobre os valores e as normas que regem as condutas humanas. Em outro sentido, ética pode referir-se a um conjunto de princípios e normas que um grupo estabelece para seu exercício profissional (por exemplo, os códigos de ética dos médicos, dos advogados, dos psicólogos, etc.). Em outro sentido, ainda, pode referir-se a uma distinção entre princípios que dão rumo ao pensar sem, de antemão, prescrever formas precisas de conduta (ética) e regras precisas e fechadas (moral). (BRASIL, 1995, p.49)
Em 1971, pela Lei n. 5.692/71, institui-se a Educação Moral e Cívica como área da educação escolar no Brasil. Porém, o fato de, historicamente, verificar-se a presença da preocupação com a formação moral do aluno ainda não é argumento bastante forte. De fato, alguns poderão pensar que a escola, por várias razões, nunca será capaz de dar uma formação moral aceitável e, portanto, deve abster-se dessa empreitada. Outros poderão responder que o objetivo da escola é o de ensinar conhecimentos acumulados pela humanidade e não preocupar-se com uma formação mais ampla de seus alunos. Outros ainda, apesar de simpáticos à idéia de uma educação moral, poderão permanecer desconfiados ao lembrar a malfadada tentativa de se implantar aulas de Moral e Cívica no currículo. (BRASIL, 1995, p. 51)
As pessoas não nascem boas ou ruins; é a sociedade, quer queira, quer não, que educa moralmente seus membros, embora a família, os meios de comunicação e o convívio com outras pessoas tenham influência marcante no comportamento da criança. E, naturalmente, a escola também tem. É preciso deixar claro que ela não deve ser considerada onipotente, única instituição social capaz de educar moralmente as novas gerações. Também não se pode pensar que a escola garanta total sucesso em seu trabalho de formação. Na verdade, seu poder é limitado. Todavia, […], mesmo com limitações, a escola participa da formação moral de seus alunos. Valores e regras são transmitidos pelo professores, pelos livros didáticos, pela organização institucional, pelas formas de avaliação, pelos comportamentos dos próprios alunos, e assim por diante. Então, ao invés de deixá-las ocultas, é melhor que tais questões recebam tratamento explícito. Isso significa que essas questões devem ser objeto de reflexão da escola como um todo, ao invés de cada professor tomar isoladamente suas decisões. Daí a proposta de que se inclua o tema Ética nas preocupações oficiais da educação. (BRASIL, 1995, p. 51)
Na busca de maior clareza desta exposição, podem ser estabelecidas desde já duas decorrências centrais para a educação moral. São elas: 
• A escola deve ser um lugar onde cada aluno encontre a possibilidade de se instrumentalizar para a realização de seus projetos; por isso, a qualidade do ensino é condição necessária à formação moral de seus alunos. Se não promove um ensino de boa qualidade, a escola condena seus alunos a sérias dificuldades futuras na vida e, decorrentemente, a que vejam seus projetos de vida frustrados. 
• Ao lado do trabalho de ensino, o convívio dentro da escola deve ser organizado de maneira que os conceitos de justiça, respeito e solidariedade sejam vivificados e compreendidos pelos alunos como aliados à perspectiva de uma “vida boa”. Dessa forma, não somente os alunos perceberão que esses valores e as regras decorrentes são coerentes com seus projetos de felicidade como serão integrados às suas personalidades: se respeitarão pelo fato de respeitá-los. (BRASIL, 1995, p. 55)
A própria função da escola — transmissão do saber — levanta questões éticas. Para que e a quem servem o saber, os diversos conhecimentos científicos, as várias tecnologias? É necessário refletir sobre essa pergunta. Além do mais, sabe-se que um conhecimento totalmente neutro não existe. É portanto necessário pensar sobre sua produção e divulgação. O ato de estudar também envolve questões valorativas. Afinal, para que se estuda? Apenas na perspectiva de se garantir certo nível material de vida? Tal objetivo realmente existe, porém, estudar também é exercício da cidadania: é por meio dos diversos saberes que se participa do mundo do trabalho, das variadas instituições, da vida cotidiana, articulando-se o bem-estar próprio com o bem-estar de todos. (BRASIL, 1995, p. 64)
Em seu livro Pedagogia da Autonomia, Paulo Freire fala a respeito da ética: 
[…[ Mulheres e homens, seres histórico-sociais, nos tornamos capazes de comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper, por tudo isso, nos fizemos seres éticos […] É por isso que transformar a experiência educativa em ouro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. Educar é substantivamente formar […] Mas como não há pensar certo à margem de princípios éticos, se mudar é uma possibilidade e um direito, cabe a quem muda – exige o pensar certo – que assuma a mudança operada […] (2011, p. 34)
Sendo assim, podemos pensar a ética como uma reflexão sobre a moral e mesmo tendo papéis distintos, ambas possuem a finalidade de construir as bases do caráter, valores e virtudes do homem e a melhor forma de conviver em sociedade. 
2.1 QUAL A FUNÇÃO DA ESCOLA
Para o sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), a principal função do professor é formar cidadãos capazes de contribuir para a harmonia social.
Émile Durkheim, o criador da sociologia da educação, propõe que em cada aluno há dois seres inseparáveis, porém distintos. Um deles seria o que Durkheim chamou de individual. Tal porção do sujeito - o jovem bruto - segundo ele, é formada pelos estados mentais de cada pessoa. O desenvolvimento dessa metade do homem foi a principal função da educação até o século 19. Principalmente por meio da psicologia, entendida então como a ciência do indivíduo, os professores tentavam construir nos estudantes os valores e a moral. (FERRARI, 2008)
Durkheim acreditava que a sociedade seria mais beneficiada pelo processo educativo. Para ele, "a educação é uma socialização da jovem geração pela geração adulta". E quanto mais eficiente for o processo, melhor será o desenvolvimento da comunidade em que a escola esteja inserida. (FERRARI, 2008)
O artigo publicado em 2011, no Portal da Educação,pela professora Caroline Bacelar Hauschild, mostra que a função da escola se modificou ao longo dos anos acompanhando as mudanças, avanços e necessidades da sociedade e, aliado a isso, algumas mudanças relevantes no que diz respeito ao funcionamento e acesso à população brasileira ao ensino público. 
Como já se sabe, novas formas de organização da sociedade foram surgindo e o processo educativo que era único passou a ser dividido pela desigualdade social e econômica, fato este ocorrido pelas imposições do capitalismo e que perduram até a atualidade. Desse modo, estamos diante da escola como transformadora da sociedade, mas influenciada pelas transformações do homem e da sociedade.
A escola como ato social foi assim vista pela primeira vez pelo pedagogo Émile Durkheim, que defendia a postura social que a escola e a educação em si, devem permear. Apesar deste autor não ter desenvolvido modelos pedagógicos, suas ideias ajudaram a compreender o significado social do trabalho do professor, onde a educação escolar deixa de ser vista de forma individualista e sim através de uma perspectiva coletiva. (HAUSCHILD, 2011)
Um dos maiores desafios da educação atual é assegurar o direito à educação com igualdade de condições de entrada e permanência, pela oferta de ensino público e gratuito e de qualidade em todos os níveis de ensino.
Contudo, certas lacunas deixadas pelas leis que regem a educação no Brasil devem ser supridas pelas ações afirmativas na forma de políticas públicas educacionais. Essas medidas especiais temporárias ou não, desencadeadas pelo Estado (assim entendido como todas as esferas do poder público) têm como objetivo eliminar as desigualdades historicamente acumuladas, de forma a compensar as perdas provocadas pela discriminação e marginalização de determinados grupos sociais. (HAUSCHILD, 2011) 
Em entrevista concedida ao jornal O Globo, em 2015, o educador José Manoel Moran, diz: 
O professor não está ali para explicar o básico, mas para trabalhar as questões avançadas. O aluno sabe ler, assistir a um vídeo. Você dá algumas diretrizes para ele ir por conta própria e chegar até determinado ponto. Aí vem o professor e problematiza, faz relações que os alunos não conseguem fazer ainda. O professor não é o básico. É o “filé mignon". É o modelo que se chama aula invertida. É complexo, mas faz sentido num mundo em que o conteúdo é muito movediço, evolui. A sala de aula tem que ser um espaço vivo, de trocas, de resultados, de pesquisas.
É fato que a escola é lugar de relações, de trocas de experiências entre educadores e educandos e nenhum conhecimento que o aluno já possua, deve ser ignorado. Essa também é função da escola, a de valorizar os saberes já adquiridos no meio familiar e na comunidade. A professora Geni Serrano, escreveu em seu artigo: 
Papel da escola é socializar o conhecimento seu dever é atuar na formação moral dos alunos, é essa soma de esforço que promove o pleno desenvolvimento  o individuo como cidadão. A escola é o lugar onde a criança deverá encontrar os meios de se preparar para realizar seus projetos de vida, a qualidade de ensino é, portanto, condição necessária tanto na sua formação intelectual quanto moral, sem formação de qualidade a criança poderá ver seus projetos frustrados no futuro. (SERRANO, 2015)
Durkheim dizia que a criança, ao nascer, trazia consigo só a sua natureza de indivíduo. "A sociedade encontra-se, a cada nova geração, na presença de uma tábua rasa sobre a qual é necessário construir novamente", escreveu. Os professores, como parte responsável pelo desenvolvimento dos indivíduos, têm um papel determinante e delicado. Devem transmitir os conhecimentos adquiridos, com cuidado para não tirar a autonomia de pensamento dos jovens. A proposta de Durkheim levará o aluno a avançar sozinho? Esse modelo de formação externa contraria a independência nos estudos? Ou será uma condição para que a educação cumpra seu papel social e político? (FERRARI, 2008)
2.2 VALORES E VIRTUDES
Mais que uma cabeça bem cheia, as crianças devem ter uma cabeça bem formada, diz Montaigne. Em seu livro: “Gastando tempo com os filhos” a pedagoga, Mannoun Chimelli (2000, p.43) nos chama a atenção:
Que é, pois, ter uma cabeça bem formada? É saber que se é dotado de uma inteligência a ser desenvolvida, de uma vontade a ser treinada, de um coração rico em valores e virtudes… Valores. Virtudes. Palavras que vão voltando em diferentes tons ao nosso vocabulário […]
Ela ainda nos fala sobre a importância de formar hábitos, e que a criança aprende por repetição. Desta forma, se aprendem hábitos de higiene, sociabilidade, civilidade, entre outros. Tais atos repetidos, tornam-se virtudes e a maior parte delas são aprendidas e exercitadas antes na família, no lar […]
Uma observação valorosa que Chimelli faz é: “Quanto tempo é gasto, por exemplo, na educação propriamente dita, a da famosa e tão esquecida civilidade: as boas maneiras, a boa educação?” Continua dizendo (2000, p.44):
Quanto às virtudes de fundo, não é preciso nenhum “esquema” especial para ensiná-las: os próprios incidentes da vida de todos os dias dão ocasião aos pais transmitirem aos filhos. Acostumar uma criança desde pequenina a “brincar de ajudar”, faz com que ela assimile a virtude de servir, aprenda o gostoso que é ter as coisas em ordem, cada uma no seu lugar, junto com a alegria de encontrar logo o que precisa… 
Em entrevista a Paulo Faitanin, ao Portal da Família, Chimelli questiona: “Quanto tempo temos disponibilizado para a formação da criança? Para ensinar valores, princípios, que recebemos dos nossos familiares, mas que se perderam com a correria da vida, com as mudanças na sociedade?” (CHIMELLI, 2008)
Segundo a educadora Conceição Gigante, “A educação deve começar, continuar e acabar tendo sempre como meta prioritária divulgar os princípios, cultivar os valores e obter as virtudes que transformam as pessoas em cidadãos do século XXI.” (GIGANTE, 2015)
Não dedicamos tempo suficiente por exemplo, para ensinar respeito, quando na verdade, temos oportunidade para fazê-lo nas situações corriqueiras, sem precisar de muito tempo para isso. Num simples cumprimento ao porteiro da escola, ao ceder lugar para alguém se sentar, ao dar preferência numa fila, etc. São inúmeras situações diárias, que podemos aproveitar para ensinar às crianças. Respeito, educação, cidadania, tolerância, boas maneiras, são muitas possibilidades, mas por falta de tempo, com a correria da vida, muitas vezes deixamos passar despercebidas e, assim, vão se perdendo com o passar dos anos. (CHIMELLI, 2008) 
Ela prossegue dizendo que acredita na educação, especialmente na verdadeira educação que contempla o ser humano como um todo, e não apenas a educação entendida como  a ida à escola! É necessário resgatar nas famílias a consciência do quanto são importantes na vida dos filhos, que são responsáveis pela transmissão de  valores e sua importância para o ser humano. As escolas, por sua vez, devem deixar claro para os pais o seu papel e seus objetivos educacionais quanto à formação e não apenas informação.
A criança aprende moralidade e desenvolve-a observando. A presença de autoridade é importante para o desenvolvimento da mesma. É ainda no lar, o momento de ensinar as crianças conceitos simples de educação que ajudem a desenvolver princípios morais e valores éticos.
Ela precisa compreender que os valores estão presentes não só na sala de aula, mas no cotidiano também e que se deve fazer uso deles diariamente procurando não mentir, não discriminar, ajudar o próximo, ser prestativa. Enfim, somente pela educação preventiva podemos atingir o objetivo de formar cidadãos conscientes, mostrando-lhes qual o melhor caminho a seguir, fundamentado na ética e na moral (REIS, 2011).
Um estudo sobre as obras de L.S. Vigotsky, especificamente do livro “A formação social da mente”, no que diz respeito à zona de desenvolvimento proximal, entre outros assuntos primordiais sobre educação, está o pensamento do psicólogo russo sobre o fatode que o aprendizado das crianças começa muito antes delas frequentarem a escola.
Qualquer situação de aprendizado com a qual a criança se defronta na escola tem sempre uma história prévia. Por exemplo, as crianças começam a estudar aritmética na escola, mas muito antes elas tiveram alguma experiência com quantidades elas tiveram que lidar com operações de divisão, adição, subtração, e determinação de tamanho. 
Conseqüentemente, as crianças têm a sua própria aritmética pré-escolar, que somente psicólogos míopes podem ignorar. (1991, p.56)
Continua-se afirmando que o aprendizado tal como ocorre na idade pré-escolar difere nitidamente do aprendizado escolar, o qual está voltado para a assimilação de fundamentos do conhecimento científico. No entanto, já no período de suas primeiras perguntas, quando a criança assimila os nomes de objetos em seu ambiente, ela está aprendendo. De fato, por acaso é de se duvidar que a criança aprende a falar com os adultos; ou que, através da formulação de perguntas e respostas, a criança adquire várias informações; ou que, através da imitação dos adultos e através da instrução recebida de como agir, a criança desenvolve um repositório completo de habilidades? De fato, aprendizado e desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida da criança. (1991, p. 56)
3 A RELAÇÃO ESCOLA E FAMÍLIA
Muito já se falou sobre educação e diversas pesquisas e debates vêm se estendendo ao longo das décadas. De fato é um assunto que merece e necessita de um novo olhar. São inúmeros temas que abordam a necessidade de melhorar o relacionamento entre família e escola, estreitar os laços, enfim, tornar o trabalho um pouco mais fácil para ambas. Tudo isto já foi falado por diversos autores e a questão do relacionamento entre família e escola é um tema tão atual, quanto à crise econômica pela qual o mundo tem passado. 
Já vimos que a função da escola mudou com o passar dos anos. Com os avanços da tecnologia e as transformações na sociedade, bem como emancipação feminina e a própria crise econômica, a escola também precisou mudar, para dar conta de atender às necessidades da família e da sociedade. Porém, já não dá mais para adiar esse assunto que deixa pais frustrados, professores com sensação de fracasso e crianças sem referência do que é uma boa educação, do que são limites. 
Um bom começo é trazer escola e família à uma reflexão, a um consenso. Refletir sobre a família, sobre a criança, sobre a escola, sobre o trabalho, sobre o mundo. É isso que se pretende, no início deste trabalho, apesar de que há muito há se fazer, mas se apenas começarmos a refletir sobre a urgência dessas questões que envolvem escola e família, já teremos conseguido o principal objetivo que é chamar a atenção para a educação, especialmente para a criança, que requer tanto de nós. 
3.1 O PAPEL DA ESCOLA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: IMPORTÂNCIA E LIMITES
O papel da escola vai muito além de ensinar, educar e formar pessoas. Na escola se aprendem valores como dignidade, respeito, cidadania, ética, entre outros. Esta é sua função social: formar cidadãos para a transformação de uma sociedade digna e igualitária para todos. Seu papel é fundamental na sociedade e seu compromisso vai além ensinar conteúdos, transmitir conhecimentos e preparar para a universidade. A escola tem, além de seus objetivos, a função da formação do caráter, valores e princípios morais, direcionando assim cada aluno e preparando-o para utilizar os conhecimentos aprendidos de forma que sejam aplicados em favor da sociedade e consequentemente transformando a realidade de todos.
Muito se ouve a respeito da importância da escolarização, como por exemplo “para ser alguém na vida” ou para que os filhos alcancem aquilo que os pais não conseguiram, como um modo de ascensão social. O fato é que a escola possui suas limitações e a falta de políticas governamentais mais eficazes, não permitem que a escola desempenhe a função de transformação da sociedade. (PARO, 2000, p.52)
No artigo 205 da Constituição Federal, o ordenamento estabelece:
“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”
Desenvolver-se plenamente, significa desenvolver-se em todas as dimensões, não somente o intelecto ou a formação acadêmica, mas o ser humano na sua totalidade, ou seja, em todos os aspectos. Sendo assim, o Estado é responsável pelo incentivo à cultura, às práticas esportivas, à convivência social, ao cuidado com o meio ambiente. (CHALITA, 2004)
Desse modo, podemos assegurar que a escola tem múltiplas funções e seu papel na sociedade é essencial. Isso só vem mostrar que a escola, bem como a família precisam andar juntas, durante todo o processo educacional. Para formar um indivíduo pleno, é necessário que se inicie a educação em casa e que seja trabalhada na escola, de forma contínua e sistemática, a fim de que se atinjam todos os objetivos a que se propõe.
O educador Luis Carlos de Menezes, publicou o seguinte artigo à revista Nova Escola: 
Se as famílias se omitem, a escola precisa agir
Em minhas visitas a escolas e pelos comentários de leitores da coluna, observo um comentário recorrente: como é difícil trabalhar com alunos que ignoram os professores, se recusam a realizar atividades individuais e coletivas e se divertem em grupos de provocação, agredindo colegas e impossibilitando as aulas, além de outros com a autoestima tão baixa que rejeitam tarefas, achando que não aprenderão mesmo. Os alunos, segundo esses educadores, não teriam recebido a educação que se espera de casa, deixando seus mestres em situação insustentável. Não é um tema fácil, mas decidi refletir sobre ele porque se trata de uma questão de grande importância. 
Em escolas privadas ou públicas, sobretudo a partir da última etapa do Ensino Fundamental, tenho visto professores sem alternativa senão retirar de classe quem impede o trabalho dos outros. Solução imediatista, mas frustrante. Quando essa situação se repete, é natural conversar com as famílias, mas, por problemas próprios ou da relação com a escola, elas participam bem menos do que o desejável. A questão então é: quando as famílias se mostram indiferentes ao que se passa com seus filhos ou não parecem saber cuidar deles, a escola tem o direito de se omitir? Não (MENEZES, 2013) 
Este relato retrata a relevância desse assunto. São questões que permeiam a educação por décadas e como não solucionadas, só vem se agravando. Todos sofrem com isso. Sofrem as famílias, as crianças, a escola e a sociedade. É preciso um olhar sensível para a educação. Aquela educação que começa na família e se estende para a escola, com o objetivo de formar pessoas conscientes do seu papel na sociedade, mas sobretudo, plenas, felizes. Em fatos não muito isolados, existem famílias sofrendo com problemas de drogas e crimes, totalmente desestruturadas e decadentes no que diz respeito à questões morais e éticas. ciEe
De acordo com a Resolução nº 5, tendo em vista o Parecer nº 20/2009 do Conselho Nacional de Educação/ Câmara de Educação Básica, publicado no D.O.U. de Dezembro de 2009, em se tratando da Educação Infantil, entre outras questões esclarece que: 
O atendimento em creches e pré-escolas como um direito social das crianças, se concretiza na Constituição de 1988, com o reconhecimento da Educação Infantil como dever do Estado com a Educação, processo que teve ampla participação dos movimentos comunitários, dos movimentos de mulheres, dos movimentos de redemocratização do país, além, evidentemente, das lutas dos próprios profissionais da educação. A partir desse novo ordenamento legal, creches e pré-escolas passaram a construir uma nova identidade na busca de superação de posições antagônicas e fragmentadas, sejam elas assistencialistas ou pautadas em uma perspectiva preparatória a etapas posteriores de escolarização. (Despachodo Ministro, publicado no D.O.U. de 9/12/2009, Seção 1, p. 14)
A Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), regulamentando esse ordenamento, introduziu uma série de inovações em relação à Educação Básica, dentre as quais, a integração das creches nos sistemas de ensino compondo, junto com as pré-escolas, a primeira etapa da Educação Básica. […]
Neste mesmo sentido deve-se fazer referência ao Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº 10.172/2001, que estabeleceu metas decenais para que no final do período de sua vigência, 2011, a oferta da Educação Infantil alcance a 50% das crianças de 0 a 3 anos e 80% das de 4 e 5 anos, metas que ainda persistem como um grande desafio a ser enfrentado pelo país. 
A revisão e atualização das DCNEIs, é essencial para incorporar os avanços presentes na política, na produção científica e nos movimentos sociais na área. 
Do ponto de vista legal, a Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica e tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de zero a cinco anos de idade em seus aspectos físico, afetivo, intelectual, linguístico e social, complementando a ação da família e da comunidade. (Lei nº 9.394/96, art. 29)
Independente das nomenclaturas diversas que adotam (Centros de Educação Infantil, Escolas de Educação Infantil, Núcleo Integrado de Educação Infantil, Unidade de Educação Infantil ou nomes fantasia), a estrutura e funcionamento do atendimento deve garantir que essas unidades sejam espaço de educação coletiva.
Delineada essa apresentação legal e institucional da Educação Infantil, faz-se necessário refletir sobre sua função sociopolítica e pedagógica, como base de apoio das propostas pedagógica e curricular das intituições. 
O paradigma do desenvolvimento integral da criança a ser necessariamente compartilhado com a família, adotado no artigo 29 da lei, dimensiona aquelas finalidades na consideração das formas como as crianças, nesse momento de suas vidas, vivenciam o mundo, constroem conhecimentos, expressam-se, interagem e manifestam desejos e curiosidades de modo bastante peculiares. 
A função das instituições de Educação infantil, a exemplo de todas as instituições nacionais e principalmente, como o primeiro espaço de educação coletiva fora do contexto familiar, ainda se inscreve no projeto de sociedade democrática desenhado na Constituição Federal de 1988 (art. 3º, inciso I), com responsabilidade no desempenho de um papel ativo na construção de uma sociedade livre, justa, solidária e socioambientalmente orientada. (Resolução CNE/CEB 5/2009)
Cumprir tal função significa, em primeiro lugar, que o Estado necessita assumir sua responsabilidade na educação coletiva das crianças, complementando a ação das famílias. […]
3.2 A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA TRANSMISSÃO DE VALORES
Não é de se estranhar que, com tantos problemas pelos quais vem passando, tanto a família quanto a escola, são alvos de críticas e julgamentos. A vida está corrida, é o que mais se ouve. E não é desculpa, realmente o tempo está escasso, não há tempo para almoços diários em família, para passeios ou visitas. Um final de semana é pouco para compensar a rotina cansativa e estressante de uma semana inteira de trabalho ou estudo. São muitos afazeres, são outras responsabilidades, que a família moderna têm experimentado nos últimos anos. As pessoas têm se distanciado com frequência e com o avanço tecnológico os pais não têm tempo para os filhos. É posssível observar em restaurantes, praças, shoppings, que as pessoas não interagem mais. As crianças já se ocupam com celulares e tablets, numa forma de darem “sossego” para os pais e assim se distraírem, permitindo também que os pais tenham tempo livre. Enfim, se durante a semana os pais trabalham, muitas vezes estudam e não têm tempo para os filhos, quando chega o final de semana, não procuram sair da rotina, ou quando saem, não separam tempo para atividades de lazer que envolvam a família e os aproxime. Segundo Chalita (2004, p. 18):
Por melhor que seja uma escola, por mais bem preparados que estejam seus professores, nunca vai suprir a carência deixada por uma família ausente. Pai, mãe, avós, tios, quem quer que tenha a responsabilidade pela educação da criança, deve dela participar efetivamente sob pena de a escola não conseguir atingir seu objetivo. A família tem de acompanhar de perto o que se desenvolve nos bancos escolares. A droga, a violência, a agressividade, não vitimam apenas os filhos dos outros. Mas o horror estampado na face dos pais, diante da surpresa de saber dos filhos envolvidos em problemas, apenas demonstram a apatia em que vivem com relação a eles. 
É na família que a criança recebe a primeira educação, pautada em valores éticos e morais, princípios passados de uma geração a outra. No lar, a criança vai aprender, repetindo as atitudes dos pais, imitando os gestos, os hábitos e costumes. Se transmitimos coisas boas, bons hábitos, é fato que formaremos crianças de boa índole, de bom caráter. Já se os ensinamentos são maus, as crianças crescerão acreditando que isso é o certo, pois não possuem quem as oriente, quem as diga o que é ou não correto. Desta forma temos visto crianças e jovens desrespeitosos e indisciplinados com bastante frequência, principalmente nos bancos escolares.
“A família tem a responsabilidade de formar o caráter, de educar para os desafios da vida, de perpetuar valores éticos e morais.” (CHALITA, 2004, p.20)
No contexto familiar, ocorre a educação, ou pelo menos deveria ser assim. O papel da família é fundamental no que diz respeito ao desenvolvimento do caráter e na influência positiva no comportamento dos filhos. É na família que são transmitidos valores éticos, morais e sociais que servirão de base para o processo de socialização da criança, assim como algumas tradições e costumes próprios de cada família e que perduram através de gerações. Nesse ambiente são estabelecidas as relações de confiança, segurança, conforto e bem-estar que irão estabelecer e proporcionar a harmonia entre os membros.
3.3 A IMPORTÂNCIA DO BOM RELACIONAMENTO ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA
Acerca do bom relacionamento entre família e escola, Vitor Henrique Paro (2000, p.25) relata:
O tema da participação dos pais junto a seus filhos e na escola, com vistas a um melhor desempenho escolar destes, pode suscitar, inicialmente, duas dúvidas que é bom, desde já abordar.
Em primeiro lugar, trata-se do argumento contrário a essa prática sob a alegação de que a função de ensinar é da escola, não cabendo aos pais arcar com encargos profissionais que são específicos desta. Em outras palavras, alega-se que os pais têm direito a uma boa educação escolar para seus filhos, sem ter de trabalhar também para a escola. A preocupação é procedente diante das arbitrariedades que costumam acompanhar o discurso e as práticas relacionadas ao tema, mas é preciso um maior esclarecimento do assunto. 
O que o autor tenta nos mostrar, é que as famílias de hoje cobram uma boa educação por parte da escola, querendo se isentar da responsabilidade pela educação dos filhos. Isso poderia ser observado em escolas particulares, onde se paga caro por um ensino de qualidade e quanto mais se gasta, mais se exige. Porém, também é observado em escolas da rede pública de ensino. Talvez para explicar esse fato, pensaremos na questão das mudanças que houve na família nas últimas décadas. Com a modernidade e também as dificuldades para se criar os filhos, cada vez maiores em nosso país, a mãe precisa trabalhar fora para ajudar no sustento de casa, ou é ela muitas vezes a provedora do lar. Paro complementa: 
Por um lado, o fato de a escola ter funções específicas não a isenta de levar em conta a continuidade entre a educação familiar e a escolar; por outro é possível imaginar um tipo de relação entre pais e escola que não esteja fundada na exploração dos primeiros pela segunda. É possível imaginar um tipo de relação que não consista simplesmente de uma “ajuda” gratuita dos pais à escola. Pode-se pensar em uma integraçãodos pais com a escola, em que ambos se apropriem de uma concepção elaborada de educação que, por um lado é um bem cultural para ambos e, por outro, pode favorecer a educação escolar e, ipso facto, reverter-se em benefício dos pais, na forma da melhoria da educação de seus filhos. (PARO, 2000, p.25)
A família precisa entender qual o seu papel, compreender sua função na educação e formação dos filhos e ser parceira da escola. Participar ativamente das reuniões, apresentações e tudo que a escola oferece. Assim os laços se estreitarão e a parceria será real e eficaz. “O ato de educar não pode ser visto apenas como depositar informações nem transmitir conhecimentos” (CHALITA, 2004, P.11). 
Como bem diz Piaget (2007), é necessária uma ligação estreita e continuada entre os professores e os pais, provocando uma espécie de intercâmbio, que resulta em ajuda recíproca e, frequentemente, em aperfeiçoamento real dos métodos. Com isso, a escola se aproxima da vida e das preocupações pessoais da família, em contrapartida, os pais têm um interesse pelas coisas da escola, chegando até mesmo a uma divisão de responsabilidades [...] 
Sendo assim, essa relação deve ter como ponto de partida a própria escola, visto que os pais têm pouco ou nenhum conhecimento sobre características de desenvolvimento cognitivo, psíquico e tão pouco, entendem como se dá a aprendizagem, por isso a dificuldade em participar da vida dos filhos.
Como dizem Montandon e Perrenoud (1987:7), "de uma maneira ou de outra, onipresente ou discreta, agradável ou ameaçadora, a escola faz parte da vida cotidiana de cada família".
Portanto, o papel que a escola possui na construção dessa parceria é fundamental, devendo considerar a necessidade da família, levando-as a vivenciar situações que lhes possibilitem se sentirem participantes ativos nessa parceria. Vale ainda ressaltar que escola e família precisam se unir e juntas procurar entender o que é Família, o que é Escola, como eram vistas estas anteriormente e como são vistas hoje, e ainda o que é desenvolvimento humano e aprendizagem, como a criança aprende etc. “Os aprendizes se ajudam uns aos outros a aprender, trocando saberes, vivências, significados, culturas. Trocando questionamentos seus, de seu tempo cultural, trocando incertezas, perguntas, mais do que respostas, talvez, mas trocando.” (ARROYO, 2000, p. 166.)
Percebe-se desta forma que a interação família/escola é necessária, para que ambas conheçam suas realidades e suas limitações, e busquem caminhos que permitam e facilitem o entrosamento entre si, para o sucesso educacional do filho/aluno. Nesse sentido, faz-se necessário retomar algumas questões no que se refere à escola e à família tais como: suas estruturas e suas formas de relacionamentos, visto que, a relação entre ambas tem sido destacada como de extrema importância no processo educativo das crianças.

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