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A homeopatia no bem estar animal

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INSTITUTO HAHNEMANNIANO DO BRASIL 
Departamento de Ensino 
 
Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Homeopatia 
 
Área Medicina Veterinária 
 
 
MONOGRAFIA 
 
 
A Homeopatia na promoção do Bem-Estar Animal 
 
 
 
Marcelo José Rocha de Menezes 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2011 
INSTITUTO HAHNEMANNIANO DO BRASIL 
Departamento de Ensino 
 
Curso de Pós-Graduação em Homeopatia 
 
Área Medicina Veterinária 
 
 
A Homeopatia na promoção do Bem-Estar Animal 
 
 
MARCELO JOSÉ ROCHA DE MENEZES 
 
Monografia submetida como requisito 
parcial para obtenção do certificado de 
conclusão do curso de pós-graduação 
lato sensu em Homeopatia área 
Medicina Veterinária. 
 
 
Rio de Janeiro 
2011 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Menezes, Marcelo José Rocha de 
 
 A Homeopatia na promoção do Bem-Estar Animal. 
Marcelo José Rocha de Menezes. – Rio de Janeiro: 
Instituto Hahnemanniano do Brasil, 2011. 
 64 f.; cm. 
 Orientadora: Maria Luiza Delavechia 
 1. Homeopatia. 2. Homeopatia Veterinária 3. Caso 
Clínico 4. Bem-estar Animal. 
 I. A Homeopatia na promoção do Bem-estar Animal. 
INSTITUTO HAHNEMANNIANO DO BRASIL 
Departamento de Ensino 
 
Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Homeopatia 
 
Área de Concentração em Medicina Veterinária 
 
 
MONOGRAFIA 
 
A Homeopatia na promoção do bem-estar animal. 
 
Marcelo José Rocha de Menezes 
 
MONOGRAFIA APROVADA EM ___/___/___ 
Nota: ______ 
 
 
 
___________________________________________ 
Instituto Hahnemanniano do Brasil 
Maria Luiza Delavechia – Doutora 
Orientadora & Coordenadora 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico aos meus pais Manacés Frederico de 
Menezes e Emília Rocha de Menezes. 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus, inteligência suprema e causa primária de todas as coisas, à 
Jesus, Irmão Maior, exemplo para a humanidade e, a Espiritualidade boa e 
amiga que está sempre ao meu lado ajudando, orientando e fortalecendo-me. 
 
Ao meu pai Manacés Frederico de Menezes e a minha mãe Emília Rocha 
de Menezes. Tudo o que eu sou e tenho devo a vocês. MUITO OBRIGADO!!! 
 
A minha esposa Dylce Basilio Cavalcanti de Menezes pelo amor, 
dedicação, amizade e incentivo. 
 
Ao meu filho Marlon Botafogo Cavalcanti de Menezes que trouxe-me o 
amor e a alegria de ser Pai. 
 
Ao meu irmão Márcio Augusto Rocha de Menezes pela amizade durante 
todos esses anos. 
 
Ao Jarlon Cavalcanti Maquiné da Justa e James Maquiné da Justa Júnior, 
“meus filhos” por terem-me recibo em seus lares com carinho, amizade e 
respeito. 
 
A todos os meus familiares, tios, tias, primos e primas por torcerem por 
mais essa conquista, em especial, tia Lena, tio Cláudio e Raphael. 
 
A minha Orientadora Dra. Maria Luiza Delavechia pelos ensinamentos 
transmitidos; pelo carinho, paciência e amizade. 
 
A Professora Roselene Barzellay Ferreira da Costa pelos ensinamentos 
transmitidos; pelo carinho, paciência e amizade. 
 
A todos os professores da área Medicina Veterinária do IHB, em especial, 
ao Dr. Luiz Figueira Pinto, a Dra Luciana Rodrigues, ao Dr. João Pereira Telhado 
e a Dra. Lílian Rangel de Castilho, pelos ensinamentos transmitidos, pela 
atenção e amizade. 
 
A todos os professores das áreas Medicina, Odontologia e Farmácia pelos 
ensinamentos transmitidos, pela atenção e amizade. 
 
A todos os discentes do curso da área de Medicina Veterinária, Medicina, 
Farmácia e Odontologia do Instituto Hahnemanniano do Brasil pela amizade. 
 
A todos que fazem o IHB, em especial a Lucia Mesquita (Presidente), Ana 
Tereza (Vice-Presidente), Cristina (Tesoureira), Dimitília (Secretária), Manoela, 
Bianca e Lilly, pela paciência, atenção e amizade. 
 
A todos os funcionários do IHB pelo carinho e amizade. 
 
As minhas companheiras, “irmãs” e “filhas” Ully; Layla, Shanna e Layza 
(In memórian) que me mostraram lealdade e amor incondicional. 
 
A todos os animais deste planeta de provas e expiações”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “Nós seres humanos estamos na 
natureza para auxiliar o progresso dos 
animais, na mesma proporção que os 
anjos estão para nos auxiliar. Portanto, 
quem chuta ou maltrata um animal é 
alguém que não aprendeu a amar”. 
 
 
Chico Xavier. 
RESUMO 
 
Objetivou-se, com este estudo, ressaltar a utilização da homeopatia como 
uma terapêutica médica de característica não invasiva aplicada em animais com 
os mais variados distúrbios físicos e comportamentais, reconhecida pelo 
Conselho Federal de Medicina Veterinária como uma especialidade médico 
veterinária. A homeopatia restaura o equilíbrio vital do ser, levando-o a um 
estado de harmonia e bem-estar possibilitando, assim, a cura do paciente. Os 
relatos bem sucedidos, de pesquisas e trabalhos, com esta terapia não 
convencional, têm sido validados através de diversas publicações científicas ao 
passar dos anos. 
Palavras-chave: Animais, terapêutica não convencional, equilíbrio vital. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This study aims to use Homeopathy as a noninvasive therapeutic feature 
applied to animals with various physical and behavioral disorders. Homeopathy, 
which was recognized by Conselho Federal de Medicina Veterinária, restores the 
vital balance of the animals as well as the human beings, enabling the healing of 
the pacient. The successful reports, research and work with this unconventional 
therapy has been validated through various scientific publications over the years. 
Keywords: animals, unconventional therapy, vital balance. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
ALT (TGP) – Alalina aminotransferase 
AMVHB – Associação Médico Veterinária Homeopática Brasileira 
AST (TGO) – Aspartato aminotransferase 
AVMA – Associação Americana de Medicina Veterinária 
BEA – Bem-estar Animal 
bpm - Batimentos por minuto 
0 C – Grau Celsius 
CFMV – Conselho Federal de Medicina Veterinária 
CH – Centesimal Hahnemanniana 
CHGM – Concentração de Hemoglobina Globular Média 
DNNE – Desvio Nuclear de Neutrófilos à Esquerda 
ELISA – Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay 
FA – Fosfatase Alcalina 
kg – quilogramas 
mg – miligramas 
PCR – Reação em Cadeia de Polimerase 
RIFI – Teste de Imunofluorescência Indireta 
SNC – Sistema Nervoso Central 
UFPEL – Universidade Federal de Pelotas 
UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco 
UNIMAR – Universidade de Marília 
VGM – Volume Globular Médio 
WSPA – Associação Mundial de Proteção Animal 
WVA – Associação Mundial de Veterinária 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................13 
2 HOMEOPATIA.....................................................................................15 
2.1 Princípios básicos da homeopatia....................................................17 
2.2 Medicamento homeopático...............................................................18 
3 HOMEOPATIA NA MEDICINA VETERINÁRIA...................................19 
3.1 Homeopatia como especialidade médico veterinária........................20 
3.2 Homeopatia naprática veterinária....................................................21 
4 CASO CLÍNICO...................................................................................21 
4.1 Erliquiose canina...............................................................................22 
4.2 Tratamento homeopático de erliquiose canina.................................25 
4.2.1 Imagem clínica da erliquiose canina..............................................30 
4.2.2 Imagem repertorial da erliquiose canina........................................31 
4.2.3 Imagem patogenética e medicamentosa da erliquiose canina......32 
4.2.4 Imagem clínica do caso clínico......................................................33 
4.2.5 Imagem repertorial do caso clínico................................................34 
4.2.6 Imagem patogenética e medicamentosa do caso clínico..............34 
4.2.7 Tipo Constitucional.........................................................................37 
4.2.8 Conduta terapêutica e justificativa.................................................38 
4.2.8.1 Auto-isoterápico de sangue........................................................38 
4.2.8.2 Natrum muriaticum......................................................................39 
4.2.8.3 Ferrum metalicum.......................................................................40 
4.2.8.4 Hirudo officinalis..........................................................................41 
4.2.9 Evolução do caso clínico................................................................41 
4.2.10 Resultados do caso clínico..........................................................44 
4.2.11 Conclusão do caso clínico...........................................................45 
5 BEM-ESTAR ANIMAL..........................................................................45 
5.1 As cinco liberdades...........................................................................47 
5.2 Os 3 R’s............................................................................................48 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................49 
7 REFERÊNCIAS....................................................................................51 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
Os animais são seres dotados de sensibilidade, no que se refere à dor, 
angústia, memória e instinto de sobrevivência, sendo assim, deve-se observar 
um ambiente ideal para o seu desenvolvimento (RAYMUNDO & GOLDIN, 2000). 
Prada (2008) vai mais além ao afirmar que os animais superiores possuem além 
do instinto, inteligência e psiquismo, pois o modelo básico de organização do 
sistema nervoso, particularmente, do cérebro, é o mesmo (homem e animal). 
Além disso, nos dias atuais, a neurociência admite que o lobo frontal do córtex 
cerebral seja a base estrutural das funções psíquicas superiores, responsáveis 
pela capacidade de aprendizado e de associações de ideias, idéia futura, 
planejamento de ações, capacidade de crítica, de situações, capacidade de 
julgamento, etc. 
O reconhecimento da senciência nos animais provoca o surgimento de 
reflexões éticas acerca do uso que damos a eles, do grau de sofrimento que os 
atinge em virtude da forma como o tratamos e dos efeitos que a interferência 
humana provoca em seu habitat. É necessário buscar os dois ramos recentes do 
conhecimento humano: a Bioética e a Ciência do Bem-Estar Animal (BEA) para 
melhor servir àqueles que trabalham e lidam com os animais (ALMEIDA e 
SOUZA, 2008). 
Cuidados na saúde e no bem-estar dos animais são cada vez mais exigidos 
na sociedade atual, através dos movimentos de proteção animal. Wensley 
(2008) observa que não se tolera mais apenas o bem-estar dos seres humanos 
quando se trata de interação homem-animal. Prada (2008) sugere adotar o 
paradigma biocêntrico ou ecocêntrico propondo maior interação com a natureza 
de uma forma não exploratória e sim harmônica, valorizando a manifestação da 
vida em todos os níveis. O bem-comum, ou seja, o bem de todo o planeta é o 
bem-estar de todas as formas de seres vivos. 
Conforme Grimaldi (1996), ter um animal significa possuir obrigações 
essenciais para com este, como lazer, higiene, nutrição adequada, 
acompanhamento veterinário, além do respeito ao seu instinto, 
independentemente da finalidade a que o mesmo se destine. Para Saldiva 
(1993), o médico veterinário é o responsável pela saúde e o BEA. 
O termo homeopatia já não causa estranheza para a maioria das pessoas 
com algum grau de instrução nos dias atuais. Mas, em se tratando de aplicá-la 
nos tratamentos de animais, causa ainda surpresa. Isto se deve ao fato de que, 
em nosso meio, ainda não está suficientemente desenvolvida a necessidade de 
contar com essa terapêutica para ajudar no restabelecimento da saúde dos 
animais. Como consequência disso, existem pouquíssimos cursos de graduação 
em que haja uma disciplina eletiva ou obrigatória nas instituições de ensino 
superior e a quantidade baixíssima de médicos veterinários homeopatas no 
Brasil, principalmente nas regiões do norte e nordeste brasileiro. 
A homeopatia é mais uma opção terapêutica disponível aos médicos 
veterinários. Os medicamentos homeopáticos não possuem contra-indicação, 
melhoram a qualidade de vida e favorecem o equilíbrio da energia vital do 
organismo (homeostase). Nos animais de produção, permite um rápido ganho 
de peso e uma redução no número de ectoparasitas. Além disso, são de fácil 
administração e menor custo quando comparados aos medicamentos 
enantiopáticos e alopáticos. 
Os animais que chegam à clínica com sugestão de abreviação da vida e 
são tratados homeopaticamente, muitos deles têm a expectativa de vida 
ampliada, melhorando a qualidade de vida. O que traz para o homeopata 
veterinário, uma realização profissional e pessoal enorme (TORRO, 1999). 
Em um estudo desenvolvido por Franco et al. (2003) junto a 120 alunos do 
curso de medicina veterinária da Universidade de Marília/UNIMAR, divididos em 
dois grupos distintos, sendo o grupo A representado pelos acadêmicos do 
terceiro semestre e o grupo B pelos discentes do nono semestre, questionados 
quanto às formas terapêuticas que priorizam o BEA, a homeopatia foi destacada 
por 39,7% do grupo A, e 38,3% dos entrevistados do B. 
A maioria dos discentes do curso de medicina veterinária da UNIMAR 
apresentou receptividade quanto à implantação do ensino de homeopatia na 
universidade, evidenciado no estudo realizado por Manhoso (1996). Uma vez 
implantada essa atividade, foi comprovado à importância do ensino mostrando o 
reflexo positivo gerado, devido à implantação do ambulatório homeopático no 
hospital veterinário local, além de motivar o fomento de várias pesquisas na área 
(MANHOSO & MANHOSO, 2002). 
 
Em virtude disso, justifica-se a importância da realização da presente 
revisão, objetivando-se divulgar a homeopatia como uma terapêutica médica, 
não invasiva, importantíssima, atuando no equilíbrio físico e emocional dos 
animais, proporcionando uma ótima qualidade de vida, preconizada pela ciência 
do BEA. 
 
 
2 HOMEOPATIA 
 
 
Em 1790, o médico alemão Christian Friedrich Samuel Hahnemann (1755-
1843) traduzindo uma obra do médico e químico escocês Willian Cullen (1710-
1790), deparou-se com a afirmação de que o quinino era um bom tratamento 
para a malária. Não acreditando na afirmação da presente obra, resolveu 
experimentar em si mesmo as doses de quinino, registrando-se os sintomas que 
sentia. Para a sua surpresa, estes sintomas eram os mesmos sintomas da 
malária. A partir daí, resolveu experimentar outras substâncias em si próprio eem outras pessoas anotando cuidadosamente os sintomas observados 
(BAROLLO, 2001; LOCKIE & GEDDES, 2001). 
O início da homeopatia no mundo é marcado pela publicação do artigo 
“Ensaio sobre um novo princípio para descobrir as virtudes curativas das 
substâncias medicinais seguido de algumas apreciações sobre princípios 
admitidos até nossos dias” em 1796 por Samuel Hahnemann com 150 páginas. 
Na primeira parte foi abordado o princípio da Similitude, enquanto os tratamentos 
de sua experiência pessoal foram abordados na segunda parte (SAMPAIO, 
1991; ROSENBAUM, 2000; RABANES, 2005). De acordo com Kossak-
Romanach (2003), Hahnemann afirmou, em 1796, que os animais podiam ser 
curados pela Homeopatia dentro dos mesmos critérios humanos. 
Em 1810, Hahnemann publica o Organon da Medicina Racional, e após 
dois anos, na Universidade de Leipzig, começa a lecionar Homeopatia (LOCKIE 
& GEDDES, 2001). Em vida, publicou ainda mais quatro novas edições sob o 
título de Organon da arte de curar. No ano de 1921, foi publicada uma edição 
póstuma por Haehl. O Organon da arte de curar foi traduzido para 15 línguas 
(RABANES, 2005). 
Hahnemann fez um comunicado em Leipzig, Alemanha, acerca do 
tratamento homeopático em animais domésticos em 1815 (KOSSAK-
ROMANACH, 2003) e Wolff (1986) cita Hahnemann a respeito de que os animais 
podem e devem ser tratados pela Homeopatia: 
 
“Os animais não expressam os sintomas de suas doenças 
tão claramente quanto os homens. Eles não podem falar, 
mas as alterações no seu exterior, em seu 
comportamento e em suas funções vitais servem como 
uma linguagem perfeita. Uma vez que o animal não 
conhece o fingimento, e não exagera na manifestação da 
sua dor, não esconde seus sentimentos ou mente sobre 
os sintomas, como o homem costuma fazer quando há 
deturpação do seu comportamento. Fica evidente que o 
animal deixa explícito através dos sintomas um quadro 
real da sua doença e do seu estado interno. Os animais, 
ainda por cima, estão sob nosso controle, eles devem 
seguir a dieta estabelecida no tratamento, eles não nos 
enganam e não se permitem elementos nocivos dos quais 
o médico nada sabe, como fazem as pessoas. Os animais 
em resumo, podem ser curados de uma maneira tão 
segura e perfeita pela homeopatia como os seres 
humanos.” 
 
Hahnemann nos informa a respeito de que não há como ocorrer auto-
sugestão e efeito placebo nos animais, devido ao fato de que os animais não 
sabem que estão em tratamento e nem do que estão ingerindo. 
 
Cairo (1923) afirma que: 
 
“Sendo as moléstias dos animaes, sobretudo orgânicas, 
inteiramente semelhantes e mesmo idênticas, pelos seus 
 Symptomas e alterações anatômicas, ás moléstias 
humanas, e sendo por outro lado, a homeopatia baseada 
no princípio dos semelhantes, isto é que os medicamentos 
curam ás moléstias, cujo conjuncto symptomatico se 
assemelha ao conjuncto dos seus efeitos physiologicos no 
corpo são, a ninguém, que seja homeopata, póde escapar 
a previsão de que a homeopathia tanto convem ás 
moléstias dos animaes como ás moléstias dos homens. ” 
 
Cairo nos chama a atenção para o fato de que a anatomia, a patologia e a 
farmacologia são semelhantes tanto na espécie humana quanto na espécie 
animal. A alopatia testa seus medicamentos em experimentos animais para 
depois serem utilizadas no homem, a homeopatia utiliza-se da experimentação 
no homem sadio podendo ser extrapolado para os animais. 
A homeopatia iniciou-se no Brasil a partir da vinda do médico francês Benoit 
Mure por volta de 1840, embora desde 1818 já se falava sobre homeopatia no 
país. Em doze de dezembro de 1843 foi fundado o Instituto Homeopático do 
Brasil passando a se chamar posteriormente de Instituto Hahnemanniano do 
Brasil (CAIRO, 1923), onde em 1914 foi fundada a Faculdade Hahnemanniana, 
chamando-se hoje Faculdade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro (BENEZ, 
2004). 
Há 215 anos, portanto, Hahnemann fundamentou uma terapêutica médica 
conhecida como Homeopatia (do grego homoios = semelhante; pathos = doença 
ou sofrimento). 
 
 
2.1 Princípios básicos da homeopatia 
 
 
A homeopatia possui quatro pilares fundamentais que são: Lei de 
semelhança, experimentação no homem são; doses mínimas ou infinitesimais e 
medicamento único (BENEZ, 2004). 
1) Lei dos semelhantes: uma substância capaz de curar um homem 
enfermo é a mesma que provoca sintomas semelhantes da doença em 
um homem sadio (DE PRIVEN, 2002; FONTES, 2005); 
2) Experimentação no homem sadio: somente o homem saudável é 
capaz de registrar fielmente os sintomas que sente (FONTES, 2005); 
3) Doses mínimas ou infinitesimais: doses diluídas e dinamizadas para 
evitar agravação dos sintomas e efeitos toxicológicos. Diminuição da 
concentração química e aumento da ação dinâmica do fármaco 
(FONSECA, 2002; FONTES, 2005); 
4) Dose única: isoladamente, uma por vez, afim de evitar as interações 
entre os medicamentos (BENEZ, 2004; FONTES, 2005). 
 
 
 
2.2 Medicamento homeopático 
 
 
De acordo com Fontes (2005): 
 
“Medicamento homeopático é toda apresentação 
farmacêutica destinada a ser ministrada segundo o 
princípio da similitude, com finalidade preventiva e 
terapêutica, obtida pelo método de diluições seguidas de 
sucussões e/ou triturações sucessivas. ” (Farmacopéia 
homeopática brasileira II). 
 
 
É necessário que os medicamentos sejam testados previamente no homem 
sadio para serem considerados homeopáticos. Os medicamentos homeopáticos 
provêm de todos os reinos da natureza (GÓMEZ, 2005), sendo o vegetal o que 
mais fornece matéria-prima. Utilizam-se veículos e excipientes, chamados 
insumos inertes, para a realização das diluições e triturações. Água purificada, 
álcool etílico, glicerina, lactose e sacarose são alguns exemplos. Na homeopatia, 
as formas farmacêuticas mais comuns são: líquida, glóbulos, microglóbulos, pó 
e tabletes (FONTES, 2005). 
A Farmacopéia homeopática é quem define as normas precisas da 
preparação homeopática, elaborada a partir de orientações básicas propostas 
por Hahnemann em 1810. No Brasil, O Governo Federal oficializou a 
farmacopéia homeopática brasileira em seu decreto n.0 78.841, de 25 de 
novembro de 1976, sendo revista e complementada, em 1977, pelo Ministério da 
Saúde. A segunda edição foi publicada em 2002 com atualizações (CASALI et 
al., 2006). Em 2011, foi publicada a terceira e atual edição da farmacopéia 
homeopática (ANVISA, 2011). 
As diluições e as sucussões fazem parte das preparações segundo a 
farmacopéia homeopática. A preparação de 1 CH (primeira diluição na escala 
centesimal), ou seja, uma parte da tintura mãe por 99 partes do solvente água-
álcool, sucuccionando 100 vezes, dá origem a 2 CH e assim por diante. Quando 
ultrapassa 12 CH não há mais moléculas da substância original, o que 
permanece é apenas a informação contida na solução hidroalcoólica. Na 
farmacopéia homeopática, quanto maior a dinamização (diluição + sucussão) 
mais forte é o efeito (CASALI et al., 2006). 
Para Wolff (1985), os animais se curam porque os medicamentos 
homeopáticos são eficazes, não tem efeitos colaterais, não tem odor e quase 
não tem sabor, e são absorvidos pelas papilas linguais e pelas mucosas. Já 
Rosenbaum (2000), afirma que os medicamentos homeopáticos não possuem 
contra-indicação como certos remédios alopáticos que não podem ser usados 
em todas as espécies, como por exemplo, em gatos. 
 
 
3 HOMEOPATIA NA MEDICINA VETERINÁRIA 
 
 
A homeopatia na medicina veterinária surgiu com o próprio Hahnemann 
quando utilizou Natrum muriaticum em um de seus cavalos que sofria de uma 
oftalmia periódica, curando-o (DE MEDIO, 1993; MANGIANI, 2002; DE MELLO, 
2003; KOSSAK-ROMANACH,2003). 
Um dos discípulos de Hahnemann, Ernest Ruckert utilizou o Aconitum, a 
Bryonia e a Dulcamara em animais domésticos. No ano de 1829 foi publicado 
um Tratado sobre o Sistema Homeopático para a Cura dos Equinos por L. 
Bruchner (DE MELLO, 2003). 
Johann Joseph Whilhelm Lux (1776-1849) foi o primeiro médico veterinário 
homeopata (LEAL, 1983) a recomendar a preparação de 30 CH de uma gota de 
sangue do animal doente para tratar carbúnculo e outra amostra de muco nasal 
na mesma potência para tratar mormo numa propriedade de um criador húngaro, 
em 1831 (DE MELLO, 2003; KOSSAK-ROMANACK, 2003). 
Em 1839, foi publicado um artigo cujo título Observações Fragmentárias da 
Ciência Veterinária por G. W. Gross. Desde então a literatura a respeito do tema 
não parou. Em pesquisa com ratos (inflamação provocada nas patas) testou-se 
a influência do medicamento homeopático Hepar Sulphur na 5 CH, pela 
pesquisadora P. Lallouette no ano de 1967. Em 1974, o medicamento Apis 
mellifica na 7 CH foi estudado nos eritemas provocados em cobaios albinos por 
M. Aubin (KOSSAK-ROMANACK, 2003). 
 
No Brasil, por volta da década de 40, os benefícios da homeopatia para os 
animais foram divulgados pelo médico paranaense Dr. Nilo Cairo através da 
publicação do livro Guia Prático de Veterinária (MANGIANI, 2002; DE MELLO, 
2003). 
O médico veterinário Cláudio Martins Real é considerado o pioneiro da 
homeopatia veterinária brasileira pela Associação Médico Veterinária 
Homeopática Brasileira (AMVHB) e precursor da homeopatia veterinária 
populacional, atuando com sucesso há mais de cinquenta anos (BENEZ, 2004). 
Para Mangiani (2002) e Pinto (1998), a criação de vários cursos específicos 
de formação em homeopatia para médicos veterinários favoreceu o crescimento 
da homeopatia veterinária brasileira nos últimos dez anos. O maior número de 
profissionais homeopáticos veterinários se concentra em São Paulo, Rio de 
Janeiro, Paraná, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. 
A primeira clínica veterinária brasileira a trabalhar com homeopatia foi 
fundada pelo médico veterinário Dr. Francisco Brisido Leal, localizada na 
avenida Santo Amaro em São Paulo-SP (LEAL, 1983). 
 
 
3.1 Homeopatia como especialidade médico veterinária 
 
 
Com o objetivo de congregar os médicos veterinários homeopatas do país, 
foi fundada em sete de agosto de 1993, a AMVHB. E em dezesseis de março de 
1995, pela resolução do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) n.0 
625/anexo, a homeopatia foi reconhecida como especialidade médico 
veterinária. A AMVHB foi a primeira associação entre as diversas especialidades 
veterinárias a obter a autorização para a concessão de título de especialista 
(homeopatia veterinária) em quatorze de junho de 2000 pela resolução n.0 662 
do CFMV (MANGIANI, 2002). 
 
 
 
 
 
3.2 Homeopatia na prática veterinária 
 
 
Todas as espécies animais podem ser tratadas com homeopatia. Cães, 
gatos, equinos, aves, ruminantes e outros. É necessário que o clínico veterinário 
conheça a espécie e que haja um relato minucioso dos sintomas observados 
(MANGIANI, 2002). 
Devido à convivência mais próxima com o homem, cães e gatos são as 
espécies mais levadas à clínica veterinária. No caso de cães, as doenças mais 
comuns tratadas pela homeopatia são de origens dermatológicas, distúrbios 
comportamentais e neurológicos (COSTA & MENEZES, 2011; DELAVECHIA & 
MEDEIROS, 2011). Em gatos, observam-se um predomínio das desordens 
urinárias e respiratórias. Os bovinos, suínos, frango de corte, galinhas poedeiras, 
caprinos, ovinos, viveiros de pássaros e animais silvestres devem ser tratados 
como população, no caso um indivíduo (Gênio Epidêmico), pois não há como 
individualizar devido à grande quantidade de animais (MANGIANI, 2002). 
Para Leal (1983), o tratamento homeopático na avicultura beneficia o 
animal e o homem, pois evita os efeitos colaterais nos animais e não há resíduos 
químicos de antibióticos na carne para o consumo humano. Segundo Mangiani 
(2002), a homeopatia aumenta a produtividade do rebanho. Observa-se maior 
precocidade, maior ganho de peso e diminuição de ectoparasitas (carrapatos, 
pulgas e piolhos). 
 
 
4 CASO CLÍNICO 
 
 
Para evidenciar a eficácia da terapêutica homeopática na promoção do 
BEA resultando numa melhor qualidade de vida, foi colocado como exemplo no 
presente estudo, um relato de caso de Carvalho e Sá (2006) sobre o tratamento 
homeopático da erliquiose canina. 
 
 
4.1 Erliquiose canina 
 
 
Uma das doenças mais frequentes em uma clínica veterinária é a doença 
do carrapato ou erliquiose. Acomete cães em todo o mundo (ALMOSNY, 1998), 
principalmente em regiões tropicais e subtropicais (BROUQUI et al., 1991), 
causando alta morbidade e mortalidade (RIKIHISA, 1991). O vetor é encontrado 
durante o ano todo parasitando cães (HOSKINS, 1991) em todas as regiões do 
Brasil (EVANS et al., 2000). 
 Um grupo de microrganismos pleomórficos, gram negativos, intracelulares 
obrigatórios que parasitam células brancas (leucócitos) de muitas espécies de 
animais domésticos e silvestres, inclusive o homem, é o causador desta doença 
(GALVÃO et al., 2002; COHN, 2003; SILVA & GALVÃO, 2004). 
De acordo com estudos de Dumler et al (2001), uma nova classificação foi 
proposta para os microrganismos da ordem das Rickettsiales em decorrência de 
análises de sequencias genéticas (Quadro 1). 
Conforme Headley et al (2006), os canídeos são suscetíveis a diferentes 
espécies de rickettsias dos gêneros Ehrlichia (E. canis, E. ewingii, E. 
chaffeensis), Anaplasma (A. platys, A. phagocitophilum) e Neorickettsia (N. 
sennetsu, N. risticii e N. helminthoeca). A E. canis apresenta distribuição mundial 
e a E. ewingii é restrita aos Estados Unidos (GREENE, 2006). Dentre todas 
essas espécies de Rickettsias em cães, a E. canis (parasita leucócitos e 
plaquetas) e o A. platys (parasita plaquetas) são os mais importantes podendo 
haver infecção concomitante devido ao fato de ser o mesmo vetor (SMITH et al., 
1975; LABRUNA & PEREIRA, 2001). 
A E. canis é o agente etiológico da Erliquiose Monocítica Canina (EMC) 
(Dumler et al., 2001), usualmente, é disseminada durante o ectoparisitismo do 
carrapato vermelho do cão, Rhipicephalus sanguineus (Vetor), o qual transmite, 
também, E. ewingii e provavelmente A. platys (COHN, 2003). Assim como, 
Babesia canis, B. gibsoni (PREZIOSI & COHN, 2002). Esse artrópode tem 
hábitos nidícolas e habita ambientes urbanos preferindo viver em ninhos, tocas 
e até em esconderijos nos canis. O pescoço, orelhas, dorso e os espaços 
interdigitais são regiões que preferem se fixar no cão (LABRUNA & PEREIRA, 
2001). 
O carrapato Rhipicephalus sanguineus infecta o hospedeiro quando se 
alimenta e sua secreção salivar é inoculada no local da picada (MCDADE, 1990). 
 
Quadro 1. Classificação da ordem Rickettsiales. 
 
ORDEM RICKETTSIALES 
FAMÍLIA ANAPLASMATACEAE 
GÊNERO ESPÉCIE 
 E. canis 
 E. chaffeensis 
EHRLICHIA E. ewingii 
 E. muris 
 E. ruminantium 
 A. platys 
 A. phagocitophila 
ANAPLASMA A. centrale 
 A. marginale 
 A. ovis 
 A. bovis 
 N. risticii 
 
NEORICKETTSIA 
 
N. sennetsu 
 
 N. helminthoeca 
 
WOLBACHIA 
 
W. pipientes 
 
Compilado de DUMLER et al (2001) 
 
Segundo Machado (2004) e Greene (2005), geralmente é de 8 a 20 dias o 
período de incubação da infecção por E. canis. A manifestação da doença se dá 
nas fases subclínica, aguda e crônica, caracterizadas por anormalidades clínicas 
e hematológicas. 
É bastante variável a idade dos cães acometidos pela erliquiose, sendo 
relatados casos da enfermidade emcães de dois meses até treze anos de idade 
(WADDLE e LITTMAN, 1987; ELIAS 1991; NEER e HARRUS, 2006; MANOEL, 
2010). 
Manoel (2010), observou em seu trabalho desenvolvido no Brasil que cães 
com faixa etária acima de oito anos, em média, possuíam infecção por E. canis 
em percentual maior que animais mais jovens. E a maioria dos cães em faixa 
etária mais elevada incluídos no estudo apresentava manifestações clínicas 
sugestivas da fase crônica. 
De acordo com o estágio da doença, os sintomas e sinais mais frequentes 
são: febre alta, anemia, letargia, anorexia, depressão, dispneia, hepatomegalia, 
linfadenomegalia, esplenomegalia, linfocitose, neutropenia, hiperglobulinemia, 
distúrbios cardiorespiratórios, nervosos e ofltalmias, hemorragias, epistaxe, 
petéquias, equimoses, melena, hifema e edema (CODNER & FARRIS-SMITH, 
1986; PRICE et al., 1987, WOODY & HOSKINS, 1991; HARRUS et al., 1997; 
SKOTARCZAK, 2003). Os principais achados laboratoriais são trombocitopenia, 
leucopenia e anemia normocítica normocrômica (LAPPIN, 2001; ALMOSNY & 
MASSARD, 2002; MENDONÇA et al., 2005; NAKAGHI et al., 2008). 
O conjunto de sinais clínicos, alterações hematológicas e bioquímicas 
indicativos de erliquiose servem como diagnóstico presuntivo da infecção por E. 
canis (LAPPIN, 2001; DAGNONE et al., 2001; GREENE, 2005; PINYOOWONG 
et al., 2007). A observação de mórulas em esfregaços de sangue periférico, 
feitos com a primeira gota de sangue da ponta de orelha, é o diagnóstico 
laboratorial mais comum (ALMOSNY & MASSARD, 2002). Porém, a baixa 
sensibilidade do exame de hemocitozoários nas fases subaguda e crônica é 
devido à dificuldade de visualização de corpúsculos e mórulas por causa da 
baixa parasitemia (MOREIRA et al., 2005). A mórula é encontrada 
principalmente durante a fase aguda da doença, porém a dificuldade em 
encontrá-la limita o diagnóstico a 4% dos casos (BULLA et al., 2004). Neste caso, 
tornam-se importantes os testes sorológicos, como a imunofluorescência indireta 
– RIFI (ORIÁ et al., 2004) e o DOT-ELISA (BÉLANGER et al., 2002; MACHADO, 
2004). Além do nested-PCR (diagnóstico molecular) para diferenciar as espécies 
de Ehrlichia spp. (DAGNONE et al., 2003). 
No tratamento alopático, diversos fármacos têm sido utilizados em clínicas 
e hospitais veterinários no Brasil para o tratamento da erliquiose entre eles estão: 
a oxitetraciclina, o cloranfenicol, o dipropionato de imidocarb, a tetraciclina e a 
doxiciclina. Comumente, administra-se doxiciclina como droga de eleição em 
todas as fases da doença. A doxiciclina é mais lipossolúvel e penetra nos tecidos 
e fluidos corporais melhor que o cloridrato de tetraciclina e a oxitetraciclina. A 
eliminação da doxiciclina se dá primariamente através das fezes por vias não 
biliares, na forma ativa. A vida média da doxiciclina no soro de cães é de 10-12 
horas (WOODY & HOSKINS, 1991). Em casos crônicos, recomenda-se fornecer 
tratamento de suporte, corrigindo a desidratação com fluidoterapia, e as 
hemorragias com transfusão sanguínea. O prognóstico em geral é bom, 
especialmente nos casos agudos que receberam tratamento adequado. Nos 
casos crônicos, onde observa-se hipoplasia medular, o prognóstico é ruim 
(TILLEY, 2003). 
 
 
4.2 Tratamento homeopático da erliquiose canina 
 
 
Carvalho e Sá (2006) descreve o tratamento de um animal adulto da 
espécie canina, sem raça definida, macho, aparentando seis anos, pertencente 
ao setor de internação do Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge 
Vaitsman, localizado no bairro da Mangueira na cidade do Rio de Janeiro-RJ. 
O emagrecimento progressivo, a prostração, a letargia e as mucosas 
hipocoradas foram os sinais clínicos que evidenciaram a queixa principal. 
No histórico da doença atual, o animal apresentava uma postura submissa 
e reservada perante outros animais dentro do canil. Apático, quieto, deitado, não 
reagia mesmo quando incomodado. 
Ao exame clínico observou-se: comportamento arredio, porém astênico, 
expressão de medo e um olhar distante vago, em direção ao chão, sem fixar a 
atenção em nada nem ninguém, além disso, ficaram evidenciadas a palidez de 
mucosas, as mioclonias marcantes na região frontal da cabeça com contração 
involuntária e tensão abdominal. 
No exame laboratorial constatou-se pancitopenia, anemia microcítica 
hipocrômica (redução dos valores hematimetria, hemoglobina, hematócrito, 
VGM e CHGM), leucopenia (número de leucócitos abaixo do normal) com 
neutrofilia (aumento no número de segmentados), linfopenia (número de 
linfócitos abaixo do normal), monocitose (número de monócitos acima do normal) 
e trombocitopenia (número de plaquetas abaixo do normal). A leucopenia como 
resultado da linfopenia revela queda da capacidade de resposta imunológica 
celular e humoral (GARCIA-NAVARRO, 2005) (Tabela 1). 
 
Tabela 1: Resultado do Hemograma 
Data: 07/08/2006 
PLT Flags: SCH MIC 
WBC: 4.5 L 103/mm3 (6.0 – 17.0) 
RBC: 3.87 L 106/mm3 (5.40 – 7.80) 
HGB: 8.1 L g/dl (13.0 – 19.0) 
HCT: 24.0 L % (37.0 – 54.0) 
PLT: 94 L 10³/mm3 (160 – 430) 
MCV: 62 L fm3 (64 – 74) 
MCH: 21.0 L pg (22.0 – 27.0) 
MCHC: 33.9 L g/dl (34.0 – 36.0) 
RDW: 16.0 % (14.0 – 17.0) 
MPV: 10.5 fm3 (6.7 – 11.1) 
DIFF 
LYM: 5,6% (0.0 – 99.0) 0.2 L 103/mm3 (1.2 – 3.2) 
MON: 1.8% (0.0 – 99.0) 0.0 L 103/mm3 (0.3 – 0.8) 
GRA: 92.6% (0.0 – 99.0) 4.3 103/mm3 (1.2 – 6.8) 
BASÓFILOS 0% 
EOSINÓFILOS 04% 
MIELÓCITOS 0% 
BASTÕES 01% 
SEGMENTADOS 82% 
LINFÓCITOS 02% 
MONÓCITOS 11% 
Extraído de Carvalho e Sá (2006) 
 
Na bioquímica sérica, uréia, creatinina, ALT, AST e fosfatase alcalina, 
apresentaram valores dentro da normalidade (Tabela 2). Estes sinais clínicos 
apresentados pelo paciente são compatíveis com a fase crônica da erliquiose 
canina. 
 
 
 
Tabela 2: Resultado do Exame Bioquímico 
Data: 07/08/2006 
Resultados Valores normais (CANINOS) 
Uréia: 29 mg/dL 5 a 54 mg/dL 
Creatinina: 0,7 mg/dL 0,5 a 1,8 mg/dL 
TGO: 28 UI 10 a 36 UI 
TGP: 20 UI 5 a 35 UI 
Fosfatase Alcalina: 32 UI/L (Acima de 1 ano) 15 a 80 UI/L 
Extraído de Carvalho e Sá (2006) 
 
A História Fisiológica revelou um animal vivendo num canil coletivo, 
alimentado com ração seca, duas vezes ao dia, água à vontade, apresentando 
normofagia e normodipsia. Embora, sendo um canil coletivo, não foram 
encontrados sangue em fezes e urina, nem diarreia ao realizarem a higiene. O 
animal foi vermifugado apenas no início do ano e não foi vacinado. O 
comportamento, dentro do canil, era ficar sempre deitado quieto num canto, 
dormindo, ou de cabeça baixa, sem interagir com os outros cães. Quando 
retirado do canil, relutava em sair e caminhar aparentando um pouco de 
desconfiança e medo. 
Como é um cão proveniente das ruas e pertencente a um canil coletivo, 
não há dados suficientes de serem coletados para a história patológica 
pregressa, a não ser a forma aguda da doença no início do ano. 
Os sintomas gerais constatados foram: apatia, emagrecimento, apetite 
voraz, mioclonias na região frontal da cabeça e palidez das mucosas. Com 
relação aos sintomas psíquicos: comportamento introspectivo, reservado, 
astênico, não interage com outros cães, apresenta um ar indiferente perante o 
que acontece ao seu redor, não demostrando atenção em nada nem reação de 
alegria, mas sim de medo. Ao exame físico, apresentou temperatura normal 
(38,40C), peso (11kg), frequência cardíaca normal (140 bpm), mucosas 
hipocoradas e mioclonias na região frontal da cabeça causando movimentação 
constante em sentido medial de orelhas e olhos involuntariamente. 
A erliquiose canina é classificada homeopaticamente como uma doença 
dinâmica aguda coletivaendêmica, apesar de ter sido anteriormente classificada 
como doença dinâmica aguda individual endêmica (PINTO, 2001). O 
desequilíbrio da sua força vital resultando em deficiências sindrômicas 
(hereditárias ou adquiridas) caracteriza uma doença dinâmica. Como o processo 
mórbido da força vital desequilibrada ocorre de forma rápida, tendo o desfecho 
o óbito ou a cura, classifica-se como aguda (TETAU, 1998; BENEZ, 2001; 
HAHNEMANN, 2002). Essa doença é coletiva e endêmica pela possibilidade de 
acometer diversos pacientes ao mesmo tempo sendo contraída a partir da 
mesma fonte de infecção (BENEZ, 2001; HAHNEMANN, 2002). 
A existência da força vital serve como elemento responsável pela 
manutenção do estado de saúde do organismo, seria um princípio responsável 
pela existência biológica, um elemento mantenedor do equilíbrio homeostásico 
(EGITO, 2005). 
O carrapato (vetor artrópode infectado - Rhipicephalus sanguineus) 
transmite, por até cinco meses, a doença numa população de cães, assumindo 
assim, um caráter endêmico. Cães portadores assintomáticos que são 
transportados de áreas endêmicas para áreas não endêmicas podem causar 
epidemias pela disseminação do microorganismo na população de forma 
repentina (WHITE, 1997). 
A totalidade sintomática da enfermidade que se desenvolve no paciente 
depende de seu terreno mórbido e reacional, ou seja, sua constituição, seu 
temperamento e sua diátese. Esse terreno revelará a realidade dinâmica 
evolutiva que vai orientar o organismo a determinadas reações patológicas frente 
às moléstias (TETAU, 1998; CORNILOT, 2005). 
As diferentes formas de manifestação e gravidade da enfermidade na 
população acometida é explicado devido ao terreno mórbido e reacional 
individual de cada animal infectado, mesmo que a doença seja classificada como 
coletiva (CARVALHO E SÁ, 2006). 
Conforme Pinto (2005), esta doença (dinâmica aguda coletiva – não 
diatésica) possui uma tendência a se manifestar em animais com predisposição 
à diátese sifilítica adaptada a indivíduos de constituição fosfórica e sulfúrica 
magra. Para Junior (1997); Michaud (1998); Tetau (1998); Franco (2004) e 
Cornilot (2005), esta doença está relacionada com indivíduos de constituição 
fluórica. Relata-se ainda haver a possibilidade de ocorrer uma interação 
diatésica entre sifilinismo-psora (PINTO, 2001). 
Pode-se observar outras interações diatésicas no terreno patológico ao 
acompanhar a dinâmica da patogenia da erliquiose clássica. Segundo Cornilot 
(2005), a noção de diátese deve ser reavaliada e recolocada dentro da totalidade 
sintomática, não sendo imutável e nem absoluta. 
Para Egito (2005), o aparecimento de uma série de estados considerados 
doenças é devido a uma condição que se manifesta num indivíduo chamada de 
diátese. Esta condição se refere a um estado orgânico em que um grande 
número de reações se fazem presentes envolvendo praticamente todas as 
funções do organismo. Seria uma resposta do organismo à ação das noxas. 
De acordo com Linhares (1997), a noxa seria a causa ou etiologia, um 
estímulo ou um fator desencadeante, podendo se classificar de acordo com a 
sua natureza (natural ou artificial), sua reação (específica ou inespecífica), sua 
imunidade (imunizante ou não imunizante) e sua duração (aguda ou crônica) em 
todos os indivíduos ou somente naqueles susceptíveis. 
Os sintomas descritos neste caso, principalmente na fase crônica, são 
compatíveis com a diátese sifilítica, como trombocitopenia, infiltração 
perivascular de células do sistema reticulo-endotelial ocasionando diversos 
sintomas, entre eles, meningoencefalite, além de acometer o SNC na fase 
terciária da doença lesando profundamente o tecido nervoso (TETAU, 1998) 
levando a tiques, crises convulsivas entre outros (JUNIOR 1997). As 
constituições fluóricas ou mistas com componente fluórico são características 
desta diátese (MICHAUD, 1998). Afirma Pinto (2001) que a interação psora-
sifilismo é predominante na Erliquiose canina. 
Irritação, ulceração e endurecimento formam a tríade fisiopatológica do 
sifilinismo sendo consequências da intoxicação pelo flúor (fluorismo) que tem 
tropismo pelos ossos, pele, tecido elástico, dentes e sangue (FRANCO, 2004). 
A patogenesia do medicamento Posphorus é adaptada a constituição fosfórica. 
Os fluóricos ou os de constituição mista marcada pelo fluorismo são indivíduos 
mais sensíveis ao sifilinismo, portanto a indicação deste medicamento está 
reforçada em animais de constituição mista (fosfofluórico) acometidos pela 
doença (JUNIOR, 1997; TETAU, 1998, PINTO, 2001). 
O temperamento representa uma maneira fisiológica e clínica da 
susceptibilidade do indivíduo a contrair uma doença e de evoluir numa direção, 
uma vez que, o indivíduo reage aos estímulos do meio conforme o seu modo de 
ser e agir. Os temperamentos classificam-se de acordo com a tonicidade 
(intensidade da reação) e plasticidade (extensão da reação do organismo aos 
estímulos do meio), podendo ser: atônico-plástico ou linfático; tônico-plástico ou 
sanguíneo; tônico-aplástico ou biliar e atônico-aplástico ou atrabiliar. Na 
erliquiose canina, sugere-se na fase aguda que o animal encontra-se tônico 
(reação estênica e inflamatória, violenta, brusca e aguda) e plástico (reação 
generalizada, participação de todo o organismo no processo mórbido) 
caracterizando o temperamento sanguíneo. Na fase crônica, verifica-se um 
indivíduo atônico (reações sub-agudas, lentas, progressivas e diminuição da 
força vital) e plástico ou aplástico, sendo neste último, a localização dos 
processos mórbidos (lesões) nos órgãos específicos, a característica mais 
marcante. Portanto, nesta fase, encontramos os temperamentos: biliar e 
atrabiliar (FRANCO, 2004). 
 
 
4.2.1 Imagem clínica da erliquiose canina 
 
 
Na erliquiose canina, os sinais clínicos variam de acordo com a fase da 
doença e da localização dos infiltrados perivasculares monocitários, que podem 
acometer vários órgãos do corpo (ABDALLA, 2001). Ressalta-se, ainda, 
anormalidades hematológicas duradouras caracterizadas por alterações de 
caráter imunomediado (WHITE, 1997). 
Anorexia, perda de peso, febre, depressão, corrimentos oculares e nasais, 
tosse, dispneia, linfadenopatia e relutância em andar são alguns sinais clínicos 
não específicos da erliquiose canina (LAU, 1996; LATIMER, 1997; AIELLO, 
1998; PINTO, 2001; TILLEY, 2003). 
Podem-se observar também, principalmente na fase crônica da doença: 
meningoencefalite, hiperestesia, contrações musculares, deficiências nos 
nervos cranianos, mioclonias, convulsões, esplenomegalia, melena, 
hepatomegalia, aumento da atividade das enzimas séricas hepáticas (ALT e FA) 
e da bilirrubina total, pneumonia instersticial, glomerulonefrite, insuficiência renal, 
vasculite, trombocitopenia, leucopenia, anemia normocítica normocrômica, 
pancitopenia, plasmocitose, hiperglobulinemia, equimoses, uveíte, mucosas 
hipocoradas, epistaxe, hipoplasia eritróide, aplasia medular, edemas de 
membro, edema de escroto (WHITE, 1997; AIELLO, 1998; ABDALLA, 2001; 
TILLEY, 2003). 
 
 
4.2.2 Imagem repertorial da erliquiose canina 
 
A imagem repertorial foi realizada através da transcrição dos sintomas 
clínicos da erliquiose canina em rubricas repertoriais (tabela 3), onde foram 
selecionados os medicamentos por pontuação e cobertura de sintomas para 
encontrar o que melhor representava a imagem clínica da enfermidade (Tabela 
4). Essas rubricas foram selecionadas por Pinto (2001), por sua vez, a imagem 
repertorial constituiu do resultado da repertorização matemática realizada 
informando os vinte medicamentos mais pontuados e com maior cobertura 
sintomática. 
 
Tabela3: Rubricas repertoriais 
Seção Rubrica 
Febre Febre, geral em 
Febre Contínua, febre tifo 
Febre Intermitente, crônica 
Febre Intensa, febre 
Generalidades Hemorragia 
Generalidades Hemorragia, orifícios, corpo por 
Generalidades Anemia 
Generalidades Inchação, gânglios 
Abdome Aumentado, baço 
Abdome Baço, queixas do 
Abdome Inchação, baço 
Olhos Secreções de muco ou pus 
Nariz Secreção amarela 
Estômago Apetite, diminuído 
Reto Diarréia 
Pele Erupções, pápulas 
Pele Erupções, vermelhas 
Extremidades Ataxia 
Extraído de Pinto (2001) 
O medicamento que melhor representou a imagem patogenética da 
erliquiose canina foi o Phosphorus, cobrindo todas as rubricas selecionadas e 
alcançando a maior pontuação na repertorização matemática, conforme visto na 
tabela 4 (PINTO, 2001). 
 
 
4.2.3 Imagem patogenética e medicamentosa da erliquiose canina 
 
 
Escolhe-se o medicamento homeopático conforme a semelhança 
observada entre a totalidade sintomática apresentada pelo paciente ou seja, 
seus sintomas dignos de cura e aqueles produzidos no homem são durante a 
experimentação patogenética da substância a ser usada como medicamento 
(HAHNEMANN, 2002). A similitude reacional entre duas doenças de naturezas 
diferentes: uma natural e a outra medicamentosa; é o objetivo a ser encontrado 
(CORNILOT, 2005). 
O gênio medicamentoso ou epidêmico é obtido a partir do estudo dos 
sintomas gerais de uma doença numa população. Pode ser administrado em 
pacientes saudáveis como forma de prevenção em áreas consideradas de risco 
reduzindo o número de indivíduos acometidos, o número de óbitos decorrentes 
da enfermidade e a gravidade dos sintomas daqueles que foram contaminados 
(BENEZ, 2001). 
 
Tabela 4: Medicamentos selecionados na repertorização. 
Medicamento Cobertura Pontos 
Phosphorus 18 41 
Arsenicum album 17 37 
Sulphur 16 36 
Lachesis 16 30 
Silicea 15 29 
Nitric acidum 14 32 
China officinalis 14 31 
Natrum muriaticum 14 30 
Nux vomica 14 27 
Rhus toxicodendron 14 27 
Iodium 14 26 
Calcarea 13 29 
Lycopodium 13 29 
Conium 13 26 
Psorinum 13 20 
Mercurius 12 27 
Bryonia 12 26 
Sulphuricum acidum 12 26 
Carbo vegetabilis 12 22 
Phosphoric acidum 12 22 
Extraído de Pinto (2001) 
 
O gênio medicamentoso da erliquiose canina é o Phosphorus, conforme 
visto na tabela acima, pois obteve maiores frequência e pontuação na 
repertorização da doença, demonstrando em sua patogenia maior semelhança 
com a totalidade sintomática da moléstia. Muitos dos sintomas de Phosphorus 
denotam uma pré-disposição ao sifilinismo e similitude com os sintomas da 
erliquiose canina (PINTO, 2001). 
O Phosphorus, em sua patogenesia de intoxicação, desorganiza o sangue 
provocando degeneração gordurosa dos vasos sanguíneos por todo o corpo, 
levando a sintomas hemorrágicos e icterícia hematogênica, gerando um quadro 
de catabolismo, com anemia, letargia, debilidade nervosa, sonolência, 
prostração e emagrecimento, tosse, hepatomegalia seguido de atrofia 
(VIJNOVSKY, 2003; FRANCO, 2004). Há grande semelhança com a 
fisiopatogenia da erliquiose canina onde são encontrados os seguintes sintomas 
vasculares, hemorrágicos, neurológicos e catabólicos. Assim sendo, a imagem 
patogenética da doença corresponde a imagem medicamentosa de Phosphorus 
na patogenesia de sua intoxicação (PINTO, 2001). 
 
 
4.2.4 Imagem clínica do caso clínico 
 
De acordo com a primeira avaliação clínica feita no paciente, os sinais 
clínicos apresentados foram compatíveis com a fase crônica da erliquiose 
canina. Além disso, verificou-se: 
- Mental: introspecção, desconfiança, medo, desejo de solidão, quieto; 
- Sistema nervoso central: meningoencefalite, contrações musculares e 
mioclonias na cabeça; 
- Cabeça: mioclonias na região frontal; 
- Olhos: movimentos involuntários em sentido medial, acompanhando as 
mioclonias na região frontal da cabeça; 
- Boca: mucosas hipocoradas, tártaro; 
- Sistema gastrintestinal: sensibilidade abdominal à palpação; 
- Pele e mucosas: palidez de mucosas; 
- Extremidades: relutância para andar; 
- Medula óssea: sinais hematológicos de hipoplasia medular generalizada. 
 
 
4.2.5 Imagem repertorial do caso clínico 
 
 
A imagem repertorial do caso clínico é feita de acordo com a totalidade 
sintomática do paciente (tabela 5). Neste caso, foi realizada uma repertorização 
matemática, na qual se obteve o Natrum muriaticum como medicamento 
sistêmico. 
Dentre os medicamentos, o Natrum muriaticum obteve os maiores valores 
em pontuação e frequência e a maior semelhança de sua patogenesia com o 
quadro clínico (Tabela 6). 
 
 
4.2.6 Imagem patogenética e medicamentosa do caso clínico 
 
 
Com relação a imagem patogenética e medicamentosa do caso, o 
medicamento escolhido foi o que apresentou maior semelhança entre a 
patogenesia de sua intoxicação experimental e a fisiopatogenia (totalidade 
sintomática apresentada). A similitude reacional entre a doença natural e a outra 
medicamentosa experimental revelam o medicamento escolhido. No indivíduo 
jovem, muitos dos sintomas do Natrum muriaticum denota uma pré-disposição 
ao tuberculinismo, enquanto que no indivíduo velho tende à psora (CARVALHO 
E SÁ, 2006). 
Benez (2001) afirma que o Phosphorus, representa a diátese sifilítica, 
sendo o gênio medicamentoso da erliquiose canina. 
 
Tabela 5: Rubricas repertoriais do caso clínico 
Seção Rubrica 
Mental Indiferença, apatia 
Mental Introspecção 
Mental Quieta, disposição 
Mental Quieto, quer estar 
Cabeça Contração espasmódica 
Cabeça Movimentos da cabeça involuntários 
Cabeça Puxão (fasciculação), fronte 
Cabeça Tensão, repuxamento para cima, da pele da fronte 
Olhos Contrativa (constrição), sensação, músculos da sobrancelha 
Olhos Esoforia 
Olhos Inquietos 
Olhos Movimento, globos oculares, constante 
Olhos Movimento, globos oculares, involuntário 
Olhos Movimento, globos oculares, lados, para os 
Generalidades Anemia, por moléstia extenuante 
Generalidades Anemia hipocrômica, microcítica (clorose) 
Generalidades Brancura de partes vermelhas 
Generalidades Caquexia 
Generalidades Clorose 
Generalidades Contrações espasmódicas dos músculos 
Generalidades Emagrecimento 
Generalidades Fraqueza, em anemia 
Generalidades Mucosas, brancas 
Generalidades Sangue, afecção do 
Extraído de Carvalho e Sá (2006) 
 
Para Michaud (1998), o Natrum muriaticum, na patogenesia de sua 
intoxicação, exerce profunda ação sobre os processos metabólicos, sobretudo 
nutricionais, pois o cloreto de sódio regula as funções de absorção e eliminação, 
os fenômenos de membrana e as funções de proteção do meio interior. 
 
Tabela 6: Medicamentos selecionados na repertorização 
Medicamento Cobertura Pontos 
Natrum muriaticum 13 27 
Phosphorus 12 26 
Sepia 11 23 
China 11 21 
Helleborus 10 19 
Belladona 11 20 
Pulsatilla 9 20 
Ferrum metallicum 9 20 
Arsenicum álbum 9 19 
Sulphur 9 19 
Extraído de Carvalho e Sá (2006) 
 
Junior (1997) afirma que o Natrum muriaticum é um regulador do equilíbrio 
osmótico do organismo, cuja concentração em diferentes pontos permite a troca 
de líquidos entre os meios intra e extracelulares, tornando possível a nutrição 
celular através da membrana plasmática sendo considerado um elemento vital 
para o corpo. 
A ação do Natrum muriaticum caracteriza-se principalmente pelos sintomas 
oriundos da má nutrição: anemia, emagrecimento (mesmo com apetite voraz), 
fraqueza, palidez, falta de vivacidade, depressão, desejo de ficar sozinho 
(FRANCO, 2004), desidratação, é silencioso,desconfiado, pouco cooperativo e 
taciturno, (MICHAUD, 1998), melancolia, irritabilidade com fadiga fácil (JUNIOR, 
1997). 
O cloreto de sódio possui ação reidratante a nível celular, retirando os 
elementos nutritivos que o organismo precisa e empobrecendo a água dos 
tecidos intersticiais, constituindo-se num fator de desidratação e ressecamento 
celular, no qual promove o emagrecimento (FRANCO, 2004). 
De acordo com Carvalho e Sá (2006), o medicamento Natrum muriaticum 
possui grande semelhança com a imagem clínica do paciente, sendo utilizado 
como medicamento sistêmico no tratamento. 
 
4.2.7 Tipo Constitucional 
 
 
O animal foi classificado biotipologicamente como sulfúrico magro, essa 
denominação se dá pela medição do ângulo charpy pelos bordos costais e com 
o esterno que é de 900, característico desta constituição. Pela resistência frente 
aos estímulos da doença (esteve muito tempo sem tratamento), apesar de não 
ter debelado a infecção, o organismo demonstrou ter resistido sobrevivendo à 
fase aguda e a fase crônica sem manifestar os sintomas mais graves, como os 
hemorrágicos (CARVALHO E SÁ, 2006). 
Segundo Franco (2004), o sulfúrico caracteriza-se por uma luta e 
movimento em direção centrífuga para eliminação das toxinas, por isso sua pré-
disposição psórica. Suas defesas são estênicas, agressivas, ativas, 
especialmente explosivas no sulfúrico magro, porém rapidamente controladas e 
conduzidas. É uma defesa organizada, caracterizada desse biótipo altamente 
eficaz e equilibrado no estado de saúde. Porém, com as múltiplas agressões do 
meio, essa estenicidade vai apenas se esgotando, mas não de forma 
desorganizada. Mesmo tendo uma boa ingestão alimentar, mas permanecendo 
magro devido ao aumento da atividade tireoidiana, consequentemente também 
de seu metabolismo basal, o sulfúrico magro tende a mimetizar algumas 
características da constituição fosfórica (JUNIOR, 1997; FRANCO, 2004), como 
a desmineralização, que é marcante no tuberculinismo e defesa equilibrada 
tendendo a ser inespecífica, desorganizada (JUNIOR, 1997), marcado pela 
astenia, más eliminações, perdas minerais, agitação e otimismo. (CORNILOT, 
2005). 
O animal se encontra no temperamento atrabiliar devido a possuir uma 
reação orgânica de atonicidade sub-aguda, lenta e progressiva, e de 
aplasticidade, nas quais apresenta sintomas mais localizados (FRANCO, 2004). 
A lesão no SNC, causando meningoencefalite, e hipoplasia medular levando a 
pancitopenia são observadas neste caso. 
A excreção a nível celular e emunctorial é função predominante no 
temperamento atrabiliar, pois há tropismo pelos sistemas nervoso e renal, além 
da diminuição da capacidade de adaptação a situações novas, ocorrendo 
também desassimilação e lentificação das funções, o que leva à esclerose e a 
calcificação (FRANCO, 2004). 
A expressão triste, o olhar fixo e inquieto, geralmente olhando para o chão, 
o pessimismo, a desconfiança, o egoísmo, a teimosia, o rancor, a vingança e a 
solidão são observados no temperamento atrabiliar característico do animal 
idoso (FRANCO, 2004). Embora, estes sintomas sejam de animais doentes que 
podem estar em qualquer fase da vida. 
A predominância dos sinais de lesões neurológicas e o aumento da 
destruição de células sanguíneas são sintomas da diátese sifilítica (CARVALHO 
E SÁ, 2006). 
 
 
4.2.8 Conduta terapêutica e justificativa 
 
 
O animal foi tratado com a administração oral dos seguintes medicamentos: 
Auto-isoterápico de sangue total, Natrum muriaticum, Ferrum metalicum e o 
Hirudo oficinalis. 
 
 
4.2.8.1 Auto-isoterápico de sangue total 
 
 
O medicamento obtido através de substâncias extraídas do próprio 
paciente ou de amostras do próprio agente causador da doença naquele 
paciente, como por exemplo o sangue total, caracteriza a terapêutica isoterápica 
ou a isoterapia (FRANCO, 2004). Seu uso foi contestado por Hahnemann, pois 
não usa o semelhante e sim o idêntico (Aequalia aequalibus curentur), no 
entanto, seu uso é cada vez mais difundido devido a respostas satisfatórias em 
conjunto com a Homeopatia habitual (CORNILOT, 2005). 
Segundo Tetau (1998b), a isoterapia faz parte das bioterapias, pois é 
baseada em uma analogia etiológica (toda doença contagiosa traz no próprio 
produto de contágio o meio de ser curada); utiliza medicamentos diluídos e 
dinamizados conforme a homeopatia e apela para uma reação própria do 
paciente. Além disso, os medicamentos isoterápico não possuem patogênese, 
constituindo portanto numa bioterapia. Neste caso, o medicamento foi 
confeccionado pelo próprio sangue do paciente. 
Justifica-se a utilização do medicamento bioterápico de sangue, em virtude 
da presença do parasita (agente etiológico) no sangue, na potência de 30 CH, 
administrado, por via oral, uma vez ao dia diariamente no intuito de melhorar e 
estimular a resposta imune do paciente (PINTO, 2001). 
 
 
4.2.8.2 Natrum muriaticum 
 
 
É o medicamento feito do cloreto de sódio, mineral que se forma pela 
evaporação das águas salgadas (LOCKIE & GEDDES, 2001). Constitui-se um 
elemento vital para o nosso metabolismo, pois atua no equilíbrio osmótico, 
regulando as funções de absorção e eliminação, os fenômenos de membrana, 
de proteção do meio intracelular e possibilita a nutrição celular (JUNIOR, 1997; 
MICHAUD, 1998). 
Desconfiados, tímidos, sérios, impacientes, rudes, desconte e indiferentes 
são algumas características dos tipos Natrum muriaticum (LOCKIE & GEDDES, 
2001; VIJNOVSKY, 2003). Observa-se emagrecimento e face pálida (JUNIOR 
1997), ainda de acordo com Franco (2004), o Natrum muriaticum é um dos 
melhores medicamentos para anemia e caquexia devido à perda de fluidos vitais. 
Este medicamento foi administrado primeiramente em altas potências: 30 
e 50 CH, 2 papéis, DU, por via oral em jejum, com intervalo de quinze dias entre 
as doses com a finalidade de melhorar a força vital do paciente e, sendo depois 
administrado em baixa potência: 6 CH, 2 tabletes, por via oral, uma vez ao dia, 
durante quinze dias, para alcançar um efeito mais organotrópico (CARVALHO e 
SÁ, 2006). 
 
4.2.8.3 Ferrum metalicum 
 
 
Este medicamento é obtido da matéria-prima dos minérios de ferro como a 
hematita (LOCKIE & GEDDES, 2001). É encontrado no sangue e nos alimentos, 
sendo um dos principais constituintes do nosso corpo. Aumenta o vigor e 
estimula o apetite e os batimentos cardíacos quando dado em doses ponderais, 
sendo, portanto um estimulante em casos de má nutrição, porém, seu uso 
prolongado pode causar atrofia e endurecimento do baço, leucocitose com 
anemia levando a palidez de pele e mucosas, enfartamento ganglionar, peso nos 
ombros, abatimento e fadiga, sonolência e tremores, devendo ser utilizado com 
cuidado (NOBRE, 1933). 
Muito usado em situações de profunda prostração e emaciação, anemia 
com zumbidos nos ouvidos e palidez da face, lábios e mucosas (ALLEN, 1995). 
A congestão com violenta pulsação e o entumescimento dos vasos sanguíneos 
é devido à irregular distribuição de sangue causado pela ação paralisante sobre 
os nervos vaso-motores e friabilidade que determina nos vasos sanguíneos, 
fazendo com que qualquer emoção ou exercício produza no paciente afluxo de 
sangue para a face, gerando sintomas como zumbidos e distúrbios hemorrágicos 
em vários órgãos (JUNIOR, 1997; MICHAUD, 1998, VIJNOVSKY, 2003). 
O Ferrum muriaticum foi administrado em baixa potência 6 CH, 2 tabletes, 
por via oral, uma vez ao dia, durante quinze dias, como tônico e estimulante do 
organismo e, principalmente do sangue, com o objetivo de restabelecer níveis 
normais dos componentes do sangue, aumentando assim,a vitalidade, junto ao 
medicamento sistêmico, Natrum muriaticum, que também atua nos processos 
anêmicos. 
 
 
 
4.2.8.4 Hirudo officinalis 
 
 
A partir da sanguessuga é feito o medicamento homeopático. Em sua 
patogenesia são descritos dois grupos de sintomas, os circulatórios e os 
dermatológicos. Machas, furúnculos, espinhas e lesões no rosto, nariz, lábios, 
olhos e queixo são observados na pele e, no sangue e nos vasos sanguíneos 
produz sangramentos diversos, característica de diátese hemorrágica associada 
a congestão sanguínea e espasmos da musculatura lisa, sendo indicado para 
trombocitopenia, hipocoagulabilidade do sangue levando a hemorragias e 
tromboflebite (BOERICKE, 2003; VIJNOVSKY, 2003). 
O medicamento foi administrado com potência baixa 6 CH, 2 tabletes, uma 
vez ao dia, por via oral, durante quinze dias com o objetivo de reverter a 
trombocitopenia levando a contagem de plaquetas a níveis normais. 
 
 
4.2.9 Evolução do caso clínico 
 
 
11/08/2006: Iniciou-se o tratamento com o bioterápico de sangue total, na 
potência 30 CH, 2 tabletes, uma vez ao dia, inicialmente por quinze dias. A 
utilização deste bioterápico (feito a partir de material biológico – sangue do 
próprio paciente) foi no intuito de estimular e melhorar a resposta imune do 
paciente (PINTO, 2001), em virtude da presença do parasita (agente etiológico) 
no sangue. 
18/08/2006: O paciente apresentava melhor disposição, mucosas mais 
coradas e desapareceram as mioclonias, só aparecendo em situações de 
estresse e de forma sutil. 
25/08/2006: Parâmetros fisiológicos normais, mucosas coradas e 
desaparecimento das mioclonias. Neste dia foi coletado sangue para exames 
hematológicos, onde constatou-se discreta diminuição na hematimetria, 
leucometria global, hemoglobina e hematócrito, porém melhora discreta na 
contagem de plaquetas e linfócitos (Tabela 7). A pesquisa de hemoparasitas 
tinha resultado sugestivo para Erlichia sp. 
Tabela 7: Resultado do Hemograma 
Data: 25/08/2006 
PLT Flags: MIC 
WBC: 3.9 L 103/mm3 (6.0 – 17.0) 
RBC: 3.62 L 106/mm3 (5.40 – 7.80) 
HGB: 7.7 L g/dl (13.0 – 19.0) 
HCT: 23.0 L % (37.0 – 54.0) 
PLT: 98 L 10³/mm3 (160 – 430) 
MCV: 63 L fm3 (64 – 74) 
MCH: 21.2 L pg (22.0 – 27.0) 
MCHC: 33.4 L g/dl (34.0 – 36.0) 
RDW: 15.6 % (14.0 – 17.0) 
MPV: 9.7 fm3 (6.7 – 11.1) 
 
DIFF 
 
LYM: 7,5% (0.0 – 99.0) 0.2 L 103/mm3 (1.2 – 3.2) 
MON: 2.6% (0.0 – 99.0) 0.1 L 103/mm3 (0.3 – 0.8) 
GRA: 89.9% (0.0 – 99.0) 3.6 103/mm3 (1.2 – 6.8) 
BASÓFILOS 0% 
EOSINÓFILOS 01% 
MIELÓCITOS 0% 
BASTÕES 0% 
SEGMENTADOS 80% 
LINFÓCITOS 04% 
MONÓCITOS 15% 
Extraído de Carvalho e Sá (2006) 
 
A medicação foi interrompida no décimo quinto dia de tratamento, pois o 
animal era de canil (foi combinado com a equipe do canil, já que as visitas eram 
semanais) ficando uma semana sem a medicação. 
01/09/2006: Constatado declínio no quadro clínico: mucosas pálidas, 
mioclonias, porém seus parâmetros fisiológicos não sofreram alterações. 
Coletou-se sangue (todo os valores tiveram aumento: hematimetria, leucometria, 
hemoglobina, hematócrito e plaquetas). A pesquisa de hemocitozoários foi 
sugestiva para Ehrlichia sp. O bioterápico de sangue foi novamente prescrito e 
não foram utilizadas outras medicações para observar a ação do bioterápico sem 
interferência de outros medicamentos. 
29/09/2006: Coletado sangue para exames (melhora na série vermelha e 
branca) e fezes para exame coproparasitológico, o animal foi medicado com: 75 
mg de praziquantel, 216 mg de palmoato de pirantel e 225 mg de Febantel, todos 
em dose única, por via oral. Esses medicamentos foram utilizados devido ao 
resultado coproparasitológico, onde constatou-se a presença de Toxocara sp. O 
reforço foi dado 21 dias depois da primeira dose. 
10/10/2006: Grande melhora na disposição, os parâmetros fisiológicos e o 
peso foram mantidos, assim como as mucosas apresentavam-se com coloração 
normal. A série branca exibiu resultado normal e observou-se melhora no quadro 
da série vermelha. A pesquisa de hematozoários apresentou resultado negativo, 
sendo suspenso o bioterápico, devido a este dia, administrou-se um papel de 
Natrum muriaticum 30 CH (dose única), medicamento encontrado na sua 
repertorização e o que mais se assemelhou a sua imagem clínica, sendo então 
seu medicamento sistêmico. Foi utilizado uma alta potência buscando uma 
reação do organismo. 
20/10/2006: Animal estável, a anemia passou de microcítica hipocrômica 
para normocítica normocrômica. Neste dia, foi administrado o reforço do 
vermífugo e uma segunda dose de Natrum muriaticum, desta vez 50 CH (um 
papel, via oral, dose única). Essa ascendência na potência foi feita para tentar 
alcançar resultados mais significativos. 
27/10/2006: No hemograma, observou-se a manutenção dos valores da 
série vermelha, no entanto, desceu significamente o valor da leucometria global 
com um DNNE devido ao aumento de bastões no exame. Trombocitopenia foi 
encontrada. Paciente novamente com pancitopenia. 
17/11/2006: Animal calmo, astênico e emagrecido apesar do peso 
continuar o mesmo, mucosas hipocoradas. Com relação ao hemograma 
observou-se decréscimo na série vermelha, com ausência de desvio nuclear de 
neutrófilos à esquerda (DNNE). Porém, neutrofilia, linfopenia e trombocitopenia 
foram encontrados. Iniciou-se o tratamento com Ferrum metallicum, Hirudo 
officinalis e Natrum muriaticum, com potência 6 CH, dois tabletes, por via oral, 
uma vez ao dia, durante quinze dias. O Ferrum metallicum foi administrado para 
combater a anemia, o Hirudo officinalis administrado para combater a 
trombocitopenia e o Natrum muriaticum foi administrado no intuito de alcançar 
um efeito a nível organotrópico. Após o resultado positivo para a pesquisa de 
hematozoários,rar optou-se pelo reinício do tratamento com o auto-bioterápico. 
(CARVALHO E SÁ, 2006). 
 
4.2.10 Resultados do caso clínico 
 
 
De acordo com Carvalho e Sá (2006), a evolução clínica do animal 
demonstrou que o auto-isoterápico de sague total promoveu um bom estímulo 
no paciente e também na melhoria do seu estado geral. A comprovação foi 
realizada através dos resultados dos exames solicitados, pois ao suspender 
essa medicação, os valores da série branca diminuíram bruscamente, mesmo 
após terem alcançado valores dentro da faixa da normalidade, assim como 
alguns sintomas reapareceram como a mioclonia que praticamente desapareceu 
durante o tratamento. Também foi constatado uma influência no comportamento 
do cão, estando mais reativo e estênico, devido a melhora da condição da força 
vital do indivíduo. 
O Natrum muriaticum, como medicamento sistêmico, provou ser eficiente 
em potências altas, tendo inclusive alterado as fascies, pois o cão olhava para 
quem o chamava, prestava atenção ao que acontecia ao redor e reagia de forma 
estênica aos estímulos do meio. Entretanto, não foram observados resultados 
significativos a nível físico com essas potências. 
A reinfecção confirmou que a infecção não imuniza para uma reinfecção, 
sendo a noxa persistente um obstáculo a cura do paciente. Ficando confirmado 
a importância da medida preventiva do controle do vetor artrópode. Ainda não 
foram obtidos dados suficientes para uma análise do protocolo instituído: Natrum 
muriaticum, Ferrum muriaticum e o Hirudo officinales. (CARVALHO E SÁ, 2006) 
 
 
 
 
4.2.11 Conclusão do caso clínico 
 
 
O tratamento da erliquiose canina com o auto-isoterápico de sangue total 
promoveu um estímulo de resposta imunológica efetiva no paciente 
possibilitando a debelação da infecção e melhorando o estado clínico, sendoentão eficaz. Porém, não impede uma reinfecção, o que se constatou a 
importância do controle do vetor artrópode; portanto, a persistência da noxa é 
um obstáculo à cura. O Natrum muriaticum nas altas potências promoveu o 
equilíbrio da força vital do animal, agindo em nível mental e comportamental, 
tendo comprovado a sua eficácia (CARVALHO E SÁ, 2006). 
 
 
5 BEM-ESTAR ANIMAL 
 
 
Hoje está largamente difundida e encorajada pela maioria dos médicos 
veterinários, a idéia de que toda pessoa que possui um animal ou que trata de 
uma ou de outra forma com animais tem obrigação moral para com estes. O 
público considera a medicina veterinária como uma profissão humanitária devido 
o profissional ter a habilidade em curar doenças e orientar o bom manejo dos 
animais. Isso fez com que muitos profissionais da medicina veterinária lutassem 
pelo desenvolvimento do BEA em geral, sejam eles de fazenda, laboratórios, 
animais silvestres, zoológico ou de companhia (BROOM, 1992). A população 
espera que o conhecimento veterinário abranja todos os aspectos da vida dos 
animais (BROOM, 1987) e que o médico veterinário seja um forte defensor da 
causa animal (ROLLIN, 1998). 
Defini-se BEA como o estado de harmonia do animal em relação ao seu 
ambiente, apresentando boas condições físicas e emocionais refletindo numa 
alta qualidade de vida (HURNIK, 1992). Pode variar de muito bom a muito ruim 
durante um período (BROOM, 1992). 
De acordo com Faraco (2010) torna-se necessário para o estudante de 
veterinária conhecer, aplicar e saber qual o alcance desta temática, 
confrontando-se com o desafio de qualificar-se com responsabilidade social e 
humanitária, levando em consideração: o controle da dor nos animais, 
tratamento e prevenção de doenças, aprovação ou rejeição de experimentos 
com animais em ensino e pesquisa, boas práticas de manejo na produção e o 
abate humanitário. 
O surgimento de doenças infecciosas e parasitárias que podem 
desaparecer para deixarem em seus lugares uma patologia muito mais insidiosa, 
na qual o manejo da criação e o papel dos fatores ambientais intervêm de 
maneira predominante, é propiciado pelo desconforto dos animais (MORRISE et 
al., 1982). 
Segundo Broom & Fraser (2010), o estudo científico do BEA desenvolveu-
se rapidamente durante os últimos 15 anos. Stafford (2007) afirma que BEA está 
relacionado com a experiência subjetiva de vida podendo ser evidenciado pela 
função biológica de cada indivíduo a curto (esforço para manter a hemostasia e 
o estresse/distresse resultante deste esforço) e em longo prazo (o estado de 
saúde animal, longevidade e o sucesso reprodutivo alcançado). Os estados 
físicos e mentais de cada animal influenciam estes aspectos (DUNCAN et al., 
1993). 
Conforme Faraco (2010), em um estudo realizado sobre nível de apego 
entre pessoas e animais residentes em oito estados brasileiros, com 202 
participantes, 79,3% afirmaram que os animais de companhia merecem o 
mesmo respeito destinado aos membros humanos da família. Já Mallmann et al. 
(2009) constatou em um estudo realizado com 70 estudantes dos cursos de 
Agronomia, Medicina Veterinária, História, Biologia e Direito da Universidade 
Federal de Pelotas (UFPEL), que a maioria dos entrevistados demonstrou 
preocupar-se com o BEA. Estes dados mostram a importância do conhecimento 
sobre BEA servindo como ferramenta indispensável para atender às pressões 
oriundas do poder público, da classe veterinária e da sociedade. 
Evidencia-se um crescimento das pesquisas na área de BEA no Brasil 
desde a década de 1980, principalmente nas universidades de Santa Catarina e 
São Paulo. A Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA) promoveu o I 
Congresso Internacional de Conceitos de BEA, no Rio de Janeiro em 2006 
(MOLENTO, 2008). Em 2008, foi realizado o I Congresso Brasileiro de Bioética 
e Bem-Estar Animal na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) 
em parceria com o CFMV. Ressalta-se ainda que a Associação Mundial de 
Veterinária (WVA) reconhece em seu estatuto de 1993 que a promoção do BEA 
é papel dos profissionais da medicina veterinária, e que esta promoção foi 
adotada pela Associação Americana de Medicina Veterinária (AVMA) como 
política oficial desde 1999 (PAIXÃO, 2001). 
As universidades européias, norte-americanas, sul-americanas e da 
Oceania, já ministram aulas de BEA, embora oferecendo essas aulas em 
momentos diferentes, no início e no meio do curso. Essas aulas são ministradas 
paralelamente a outras disciplinas, não tendo carga horária definida. No Brasil, 
as universidades estão implantando a disciplina de BEA de forma crescente 
(MOLENTO, 2008). Para Broom (2005) é extremamente importante o 
aprendizado na graduação dos conceitos sobre ética e bem-estar animal e suas 
aplicações para os profissionais que lidam com os animais. 
Os princípios éticos focados no bem-estar dos animais e da sociedade 
precisam ser seguidos pelos médicos veterinários. Recomenda-se uma 
mudança de postura no ensino médico veterinário, passando o objetivo principal 
de objeto “doença” para “saúde animal em todas as suas dimensões”. Isto 
colocaria o BEA como um dos pilares do curso de medicina veterinária (ESTOL, 
2001). 
A sociedade deve definir o que é aceitável ou não sob o ponto de vista 
ético, pois o BEA pertence ao domínio das representações sociais (FARIA, 
1998). E a universidade como formador de profissionais com senso de cidadania 
e responsabilidade visando sempre à preservação do BEA no exercício das 
atividades profissionais (MALLMANN et al., 2009). 
 
 
5.1 As cinco liberdades 
 
 
Para examinar as condições de criação dos animais de produção animal 
intensiva, o governo britânico estabeleceu a criação de um comitê, Brambell 
Report (1965), a fim de se estabelecer condições básicas para o bem-estar de 
animais de produção. Essas condições ficaram conhecidas como as cinco 
liberdades. As três primeiras condições caracterizam o bem-estar físico, 
enquanto as duas últimas se referem ao bem-estar mental (GRADIN & 
JOHNSON, 2010). São elas: 
1. Livre de fome e de sede; 
2. Livre de desconforto; 
3. Livre de dor, maus-tratos e doenças; 
4. Livre para expressar seu comportamento normal; 
5. Livre de medo e tristeza. 
 
Estas cinco liberdades, aceitas internacionalmente, são um marco na 
avaliação do BEA (MOLENTO, 2003). 
 
 
5.2 Os 3 R’s em bem-estar animal 
 
 
A partir da publicação do livro intitulado “The principles of humane 
experimental tecnique” (Os princípios das técnicas experimentais humanas) do 
microbiologista Rex Burch e do zoólogo Willian Russel, em 1959, surgiu a teoria 
dos 3 R’s em bem-estar animal (SPIELMANN, 2002; ZURLO et al., 2002; 
RODRIGUES et al., 2011). É assim denominado em função das iniciais, em 
inglês, de seus principais objetivos (DIPASQUALE & HAYES, 2001). O princípio 
dos 3 R’s é caracterizado por Danielski et al. (2010): 
 
1. Reduction (redução): “reduzir a quantidade de animais na pesquisa” 
2. Refinement (refinamento): “reduzir a dor, o sofrimento, o desconforto 
e o estresse”; 
3. Replacement (substituição): “utilizar métodos alternativos em 
substituição a animais”. 
 
Os dois primeiros representam os objetivos a curto-prazo e o último, a meta 
máxima a ser alcançada (DIPASQUALE & HAYES, 2001). Tais conceitos já são 
amplamente incorporados por organizações não governamentais, por 
pesquisadores e por algumas agências regulamentadoras. A reavaliação da 
utilização de animais em experimentos, concretizada a partir do programa 3 R’s 
em bem-estar animal é uma tendência mundial (CAZARIN et al., 2004). 
O crescente estímulo de publicações científicas com o propósito

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