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AMAZNIA CARIBENHA FORMAO DAS FRONTEIRAS NOS SCULOS XVIII E XIX

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INTRODUÇÃO
()... Quando as grandes potências da Europa não tiverem mais terras a ()...colonizar na África e na Austrália hão de voltar os olhos para os países da América Latina, devastados pelas guerras civis, se assim o estiverem, e não é provável que os ampare a chamada Doutrina de Monroe, porque na América do Norte também haverá excesso de população (bem como continuará a política imperialista) e já ali sustenta-se hoje o direito de desapropriação pelos mais fortes dos povos mais incompetentes. (Barão do Rio Branco, 22.11.1904.apud CONDURU, 1998, p. 68; apud DORATIOTO, 2001)[1: Despacho para a legação brasileira em Buenos Aires, 22.11.1904 apud. CONDURU, Guilherme Frazão. "O subsistema americano, Rio Branco e o ABC" Revista Brasileira de Política Internacional. Brasília: IBRI, ano 41, 2:1998, p. 68.]
Este trabalho tem por finalidade apresentar um olhar distinto sobre a colonização européia e as delimitações de fronteiras da Amazônia caribenha (OLIVEIRA, 2006; 2008), no qual o atual Estado de Roraima faz parte juntamente com Amapá, Amazonas e Pará. Ele surgiu da ansiosa tentativa de compreender as causas e problemas fronteiriços das quais o Brasil litigou com nações européias, num momento em que o país urgia em construir uma identidade internacional de auto-afirmação como república, mesmo que tenha herdado todos os percalços fronteiriços pendentes do Império.
O mesmo foi desenvolvido por meio de estudos, pesquisas realizadas em livros, tese de doutorados, artigos, revistas e pesquisas acadêmicas na internet ligada ao contexto históricos, social e político da região do século XVII até o século XIX. Os trabalhos de pesquisa foram iniciados no segundo semestre de 2010, com o projeto de pesquisa que tinha como titulo inicial “A importância do forte são Joaquim na questão do pirara”. Contudo, a busca pelas fontes levou-me a produção de Joaquim Nabuco, a tese de Doutorado de Oliveira (2003), do Rezende (2006), da Gouveia (2001), da Lacroix (2002), da Martins (2008) e outros trabalhos científicos como, Sarney (1999), Romani (2008) e vários outros profissionais. 
Para desenvolver esse trabalho vislumbrei a interdisciplinaridade e as áreas da geografia, relações internacionais da cartografia, entre outras como a vexilologia. Quanto ao caráter epistemológico segundo Japiassu (1981) esse trabalho contempla uma abordagem na globalidade do conhecimento construído, analisando e apontando o singular ou especifico nessa construção e baseou-se na abordagem de Severino (2000) quanto ao método do trabalho cientifico. Quanto à dimensão do campo histórico, segundo Barros descreve, o nosso trabalho está inserido na Geo-História com foco na História Política e econômica. [2: vexilologia (vexilo + -logia) s. f. Estudo das bandeiras, dos pavilhões nacionais e regionais. Fonte: dicionário da língua portuguesa on-line Priberam.]
Em relação à abordagem das fontes insere-se na história serial, haja vista que trataremos dos eventos apontados nessas fontes e em relação ao campo de observação fica claro o caráter regional desse trabalho, uma vez que embora a contextualização do nosso trabalho partisse de uma series de acontecimentos ocorridos na Europa o enfoque está direcionado a Amazônia Caribenha. No que toca ao domínio trabalhei em relação aos ambientes sociais e ao objeto em si abordei o sistema organizacional e a estrutura vigente a época dos acontecimentos históricos marcantes que culminaram na não observância desse quinhão historiográfico, cuja desconstrução certamente alavancaria várias discussões calorosas nesse processo de construção histórica.
Sua divisão abrange os seguintes passos: metodologia e fontes usadas no processo de pesquisa, ênfase nos tratados de paz realizados no século XVII que refletiram diretamente nas grandes navegações que dividiram o mundo em duas fronteiras religiosas, a saber, católicos e protestantes, que à medida que se consolidavam, acrescentavam outros binômios que reforçavam essas disputas fronteiriças ao transcorrer dos acontecimentos, tais quais administração estatal e iniciativa privada, Antigo Regime e Mercantilismo, América Espanhola e América Portuguesa, entre outros.
Como conseqüência desses tratados as fronteiras da América Espanhola e Portuguesa, ao passo que o antigo regime é substituído pelo Mercantilismo fomentado pelas grandes navegações, é redesenhada na Europa pelas nações que se lançaram tardiamente nessa nova investida as fronteiras do novo continente. 
O estudo justifica-se pela possibilidade de reinterpretar as contradições envolvendo essa região que pela visão dos historiadores centro-sulista a planificam com um olhar altivo e ofuscado pelo igualitarismo da vastidão de matas, água e rios, orienta apenas pelo “Grande Rio”, tal qual pela visão simplista, generalista e homogênea de uma Amazônia planificada etnicamente, economicamente e culturalmente e porque não afirmar de modo geográfico, haja vista que na historiografia pouco se ler sobre a Amazônia Caribenha e menos ainda a inserção de estados brasileiros como Roraima, Amapá, Amazonas e Pará nessa geografia ambiental e social. 
Dessa forma no primeiro capítulo estudamos os acordos de paz assinados na Europa no século XVI, que estabeleceram os alicerces das relações de poder entre nações católicas e protestantes fazendo surgir os déspotas esclarecidos e redesenhando o mapa geopolítico da Europa, marcando o auge da França e o declínio da Dinastia dos Habsburgo (Espanha). No segundo capítulo analisamos a ocupação da Amazônia e o desenrolar das ações que se iniciavam na Europa e que criaram a dinâmica das sociedades latino-americana e a passagem de um sistema econômico que, de início, era dominante, mas que, aos poucos, foi desintegrado por outro sistema econômico em formação abrindo caminho para uma sociedade capitalista em detrimento da sociedade feudal.
Ainda no segundo capítulo abordamos a colonização da América atrelada aos interesses de uma burguesia mercantil mobilizada cada vez mais em aumentar a sua expansão, as suas atividades comerciais e fundamentalmente acumular o capital mercantil, ao passo que na União Ibérica a colonização da América ficaria subordinada à política econômica mercantilista, ou política de Estado seguida por todos os Estados europeus.
No terceiro e último capítulo o enfoque é voltado para as definições das fronteiras na Amazônia Caribenha (OLIVEIRA, 2006; 2008) ou planalto das Guianas, que compreende as Guianas Espanhola, Holandesa, Inglesa, Francesa e Portuguesa, no período após independência, Imperial e República, onde as desavenças ideológicas por parte da república recém nascida são deixadas a parte com objetivo de consolidar a política portuguesa de manutenção e preservação das fronteiras em litígio.
()... a historicidade radicalmente brota, também, da corporeidade e do ser-no-tempo. O corpo, munido dos sentidos e a necessidade de decidir [...] fazem o homem descobrir, além de sua situação, a sua própria circunstância. Aberto ao exterior, percebe que a corporeidade o limita. Inserindo-se num contexto maior, porém, dá sentido a realidades variadas que constituem o seu habitat, o seu mundo [...] o homem toma consciência do seu tempo e do seu espaço [...] Esta é a forma humana de 
crescer, de fazer história, de ser presença, de ser sujeito, enfim de ser histórico. A historicidade co-existe com a consciência [...] Na raiz do seu ser o homem foi criado para ser sujeito da história.”(GIRARDI & QUADROS, 1998, P. 37, apud MICHALISZYN & TOMASINI, 2005, p. 16)
Ensina Pedro Demo que “o conhecimento teórico adequado acarreta rigor conceitual, análise acurada, desempenho lógico, argumentação diversificada, capacidade explicativa” (DEMO, 1994, p.36) e que “faz parte da pesquisa metodológica o estudo dos paradigmas, as crises da ciência, os métodos e as técnicas dominantes da produção científica” (DEMO, 1994, p.37).
Este estudo perseguiu essas exigências metodológicas previstas para a elaboração de um trabalho científico. Na abordagem técnica do assuntoexplorado, buscou-se uma reconstrução que contemple a subjetividade de um passado, por meio da análise bibliográfica e documental. A pesquisa realizada foi orientada para responder uma inquietação minha motivada pelo pressuposto da localização do Forte São Joaquim e sua real importância para Coroa Portuguesa no contexto da Amazônia no vale do Rio Branco. 
O objetivo da pesquisa foi determinado pela particularidade do tema proposto. Nesse contexto, a pesquisa deve atender a um conjunto de objetivos específicos que esclareçam os questionamentos e inquietações proposto pelo tema. A natureza do estudo, segundo os objetivos particulares da pesquisa, pode ser exploratória, descritiva ou causal.
()... Para Selltiz (1975) e Sbragia (1977), estudos exploratórios possuem como principal objetivo familiarizar-se como o fenômeno ou conseguir nova compreensão deste, sendo sua característica básica a relativa não existência de hipóteses. Já os estudos descritivos, por apresentarem precisamente as características de uma situação, têm como característica fundamental a exatidão, razão pela qual a exigência de hipóteses já aparece como uma condição muitas vezes necessária, se bem que não indispensável. Por fim, estudos causais (não somente no sentido restrito da casualidade como também para expressar a busca do entendimento das relações entre variáveis) procuram investigar possíveis relações de causa e efeito, sendo a existência de hipóteses prévias condições essenciais para o sucesso da pesquisa. ”(SELLTIZ, 1975; SBRAGIA, 1977; apud ANDREASSI, 1999, p. 67)
A natureza deste estudo possui características exploratórias, descritivas e causais.
Exploratória, por perseguir o objetivo principal da pesquisa: a compreensão do fenômeno da ocupação e definição das fronteiras da Amazônia Caribenha no período colonial, Império e República no Brasil. Descritiva, pela seleção de fontes diversas e avaliação dos acontecimentos ocorridos no período histórico investigado, procurando alcançar o esclarecimento das inquietações que levaram ao estudo. Causal, por investigar as relações dos diversos protagonistas envolvidos nos antecedentes da colonização, da Paz de Vestfália, da ocupação, consolidação e reconhecimento legal desse empreendimento frente aos interesses coloniais de outras nações européias e definição das fronteiras brasileiras na Amazônia.
O objetivo da investigação determina o método a ser utilizado. Dessa forma, para alcançar os objetivos desejados, o método de pesquisa adotado, que melhor se adequou às particularidades deste trabalho, foi a reconstrução objetiva do período histórico avaliado, realizada por meio de pesquisa bibliográfica e documental. A investigação do tema procurou apoiar-se na técnica, na pesquisa, na previsão e no planejamento.
Como ensina Albert Soboul: “Toda a reflexão do historiador é continuamente solicitada pela teoria, e é pelo ângulo da conceptualização e da teorização que podemos esperar esclarecer a anatomia e a fisiologia das sociedades.” (SOBOUL, 1965, p. 37).
PRÓLOGO
TRATADO DE MÜNSTER (1648)
Também conhecido como Tratado Hispano-Holandês assinado em 30 de janeiro de 1648 na cidade me Münster, faz parte de uma série de tratados entre eles inclui-se também o de Osnabrück, assinado em 24 de outubro de 1648 entre França, Espanha (conforme figura 1 As Espanhas englobam todo o território de verde no continente europeu), Sacro Império Romano-Germânico, Suécia e demais príncipes alemães que culminaram na Paz de Westfália ou Vestfália, pondo fim a uma série de eventos de guerras na Europa caracterizada pela influência do poder secular da Igreja e o comando do Papa sobre os príncipes. 
A Igreja reunia, assim, ao mesmo tempo, o poder secular e temporal. O poder da Igreja é uma das características fundamentais para se compreender esse período histórico já que exercia papel fundamental na estruturação da vida neste período (englobando também as questões políticas). Pode-se dizer, neste sentido, que o Papa era o principal ator internacional do período. “O poder papal penetrou nos diversos setores da sociedade medieval, impondo-se como o árbitro supremo de todos os seus segmentos, inclusive nas relações internacionais” (BEDIN, 2001, p. 47). O Papa era uma figura singular que arbitrava as controvérsias internacionais, coroava os reis e regia a política internacional. Essas guerras envolvendo vários países trouxeram a tônica o conflito entre católico e protestante. 
Segundo DÁROZ (2009) a Paz de Vestfália para as Províncias Unidas pôs fim a uma guerra de independência que durou 80 anos e para os demais países envolvidos numa guerra de 30 anos que deixou um saldo muito negativo para toda a Europa e em especialmente para Alemanha. No tratado de Münster 1648 a Espanha reconheceu a independência da Holanda (Países Baixos) que desde 1568 estava em guerra (Guerra dos 80 anos). O rompimento se deu em 1567, quando o Conselho de Felipe II excluiu do governo Espanhol, os nobres locais pertencentes aos Países Baixos que decidem por rebelar-se.
As implicações desse tratado na região litorânea amazônica de cultura caribenha foram de fundamental importância para a dinâmica comercial dos países baixos e posse reconhecida pela Espanha nas colônias das quais os holandeses haviam criado posto e entrepostos comerciais.[3: Região litorânea compreendida entre o delta do rio Orinoco e do rio Amazonas, popularizada como Costa Selvagem ou Guiana durante o processo de colonização européia, a partir do século XVI (RALEIGH, 1595 apud OLIVEIRA, 2008; VAN GRAVESANDE, 1967 apud OLIVEIRA 2008; GOSLINGA, 1971 apud OLIVEIRA, 2008).]
DUTCH TRADING REGULATIONS 
On the 10 August 1648, the States-General again issued trading regulations more specific than any which had been previously published. By these regulations, uncharted vessels were forbidden to trade on the Wild Coast. The mouth of the Orinoco was again made the starting point at which ships not belonging to the Dutch West India Company had the liberty to sail and trade. This clearly indicated that the whole of the coast between the Orinoco and the Amazon was treated as belonging to the West India Company (Tratado de Münster 1648). 
Fazendo um esforço analítico observemos o quadro geopolítico da Europa no período que o rompimento das Províncias Unidas dos Países Baixos em 1567 com a casa de Habsburgo (Espanha) e o reflexo diplomático na Europa e possessões ultramarinas:
Inicialmente interessava a Portugal apoiar as Províncias Unidas por ser a Espanha uma “inimiga em comum”, haja vista que a União Ibérica (1580-1640) se deu 12 anos depois em 1560, Felipe II rei da Espanha aceitou perante a assembléia dos Estados Gerais (Nobreza, Clero e Povo) - aberta de 16 de abril até 23 de abril de 1581 - o princípio de um rei, duas coroas, jurando manter a autonomia administrativa e jurídica dos portugueses. Portugal seria governado por um vice-rei indicado por ele, Felipe II, mas os cargos públicos, no Reino e nas possessões ultramarinas, seriam preenchidos com gente da casa, por portugueses. O interesse maior do monarca não era apenas nas rendas e tributos de Portugal ou do seu império colonial, mas manter a tão integridade política da Península Ibérica, ficou conhecido por juramento de Tomar. Ou seja, Portugal deixa de existir como coroa, mas não perde a administração das possessões adquiridas com as navegações e a manutenção das relações comerciais e diplomáticas, inclusive com os Países Baixos (CARDIM, 1985).[4: STELA, Roseli Santaella. Juramento de Tomar: base para uma revisão histórica do domínio espanhol: In Revista portuguesa de história, ISSN 0870-4147, Vol. 33, Nº 1, 1999, págs. 411-438.]
Embora lutando por sua independência os Países Baixos mesmo tardiamente fizeram duas viagens de circunavegação em 1598 e 1614 e cria a Companhia Holandesa das Índias Orientais em 1602, a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais em 1621, em 1624 invadem a Bahia e são expulsos pela Armada Espanhola em 1625, invade Pernambucoem 1630 após saquearem um corso espanhol carregado de prata extraído da região do Potosí no mar do caribe, e permanecem até 1654 e em 1641 invadem São Luís do Maranhão. Todas essas ações tinham um objetivo político importante que era enfraquecer o Império Espanhol por meio do saque as suas colônias, visto que após 1581 Felipe II proibiu o comércio da Holanda em seus portos. Nesse momento já não era lucrativo para Portugal o apoio aos Países Baixos (STELA, 1999)
A criação das Companhias Orientais e Ocidentais pelos Países Baixos sob influência da Grã-Bretanha de certa forma concedida a navegar pela Espanha, visto que Felipe II tinha sob seu poder a Armada Invencível que utilizava para minimizar essa influência Anglo-saxão aos países baixos, concede cartas de navegação para as companhias que são referenciadas no tratado de Münster:
TREATY OF MUNSTER
The independence of the Netherlands was finally recognised by the Treaty of Munster which was signed on the 30 January 1648. The terms of the Treaty stated that the navigation and trade to the East and West Indies should be maintained as indicated by the charters which were granted. All "potentates, nations and peoples" with whom the States-General and the East and West India Companies, within the limits of their charters, were in friendship and alliance, were to be included in the Treaty. The King of Spain and the States-General were respectively to remain "in possession and enjoyment of such lordships, towns, castles, fortresses, commerce and country" in the East and West Indies and Brazil and on the coasts of Africa, Asia and America as they then respectively held and possessed. In this description were specifically included the places which the Portuguese had taken from the States-General since the year 1641, as well as all places which the States-General should subsequently come to conquer and possess, without violating the Treaty.
E partir de então a Holanda, por conta da Restauração Portuguesa ter colocado Espanha e Portugal mais uma vez em lados opostos, ganha respaldo diplomático de sua antiga inimiga para proceder à reconquista do Maranhão, tomada pelos Portugueses em 1641 e é valido salientar que a então província do Maranhão era toda a faixa litorânea de terra que hoje faz divisa com Pernambuco até o Pará margem direita do Rio Amazonas, também não devemos esquecer que a margem esquerda do Rio Amazonas era dos Países Baixos pelo Tratado de Münster (1648) e já estava sendo navegada e explorada tanto por Holandeses como Ingleses e Franceses.
CAPÍTULO I
A OCUPAÇÃO HISTÓRICA DA AMAZÔNICA 
Gadelha (2002), historiadora e professora da PUC-SP, apontam três aspectos relevantes, sendo o primeiro relacionado ao relevo e a hidrografia existente do lado do território brasileiro (ver figura 02 abaixo retirada da exposição final de Nabuco, refere-se ao litoral norte da costa brasileira) contrasta como uma verdadeira fronteira representada pelos contrafortes da cordilheira andina, a prata do Potosí que acarretou em diversas medidas político-administrativas tomadas pela União Ibérica, e a última de caráter antropológico que trata da unidade cultural da ocupação humana diferenciadas entre os contidos nas cordilheiras andinas representada pelas civilizações maia-incáica que não excederam as bordas das florestas tropicais equatoriana, os grupos humanos que ocupava as floresta tropical e a vasta extensão do litoral atlântico português (MÉTRAUX, 1927).[5: Cortesão, 1966: 21 - Sobre esse espaço continental, situado nos trópicos úmidos e rodeado insularmente pelo sistema hidrográfico platino-amazônico, de traços muito vigorosos, destacavam-se, envolvendo-o num arco de círculo irregular, certas zonas de relevo áspero, declive abrupto ou profunda depressão, que opunham forte obstáculo à expansão humana e que chamaremos faixas ou centros formadores de fronteira.]
Dessa forma as teses apontam para três fatores interessantes, o metalista predominante na Europa no século XVI, a geografia agigantada das cordilheiras andinas e os distintos grupos humanos que ocupavam as cordilheiras andinas, a floresta tropical e o litoral atlântico.
Segundo Evangelista (2010), com a União Ibérica (1580-1640) foi desencadeado uma nova fase na formação territorial brasileira, com os interesses da Espanha bem definidos, tendo em vista que o Peru e sua prata, e não o Brasil e seu açúcar eram a coroação do Império e ninguém tinha certeza de quão distante estavam às minas de Potosí do litoral brasileiro (SCHWARTZ, 1979).
Entretanto Gadelha (2002) aponta para o elemento humano baseado na mestiçagem como fator importante para os lusitanos ultrapassarem os limites de Tordesilhas e conseqüentemente a incorporação definitiva da Amazônia ao estado brasileiro fato esse importante para compreensão do alargamento das fronteiras portuguesas pela vastidão amazônica. 
A autora aponta ainda, três itens importantes. O primeiro foi o mito da ilha Brasil que estar relacionada às raízes geográficas da expansão, o segundo elemento menos conhecido dos historiadores brasileiros é o regime eólico e o regime das correntes marítimas e o terceiro ponto foi o caráter político após a malograda tentativa de colonização do vale da Amazônia pelo adelantado Francisco de Orellana (1551-55) uma vez que havia a possibilidade mais fácil de obter riquezas no Peru e Nova Granada representada pelo cerro do Potosí.
No entanto, outros europeus tinham interesse nas riquezas da Amazônia: holandeses e ingleses procuraram ampliar seus domínios, das Antilhas até a América, visando à colonização. Entre os navegadores ingleses que comandaram viagens de reconhecimento pelo litoral das Guianas figuram os nomes de Sir Robert Dudley e Walter Raleigh (1544-1595), autor do livro “A Descoberta do grande, rico e belo império da Guiana”, no qual descreve a Amazônia como um verdadeiro paraíso.[6: GADELHA (2002, PAG 77) – A verdade é que bucaneiros, mercadores e colonos franceses, holandeses, ingleses e irlandeses já disputavam o acesso àquelas áreas, aproveitando-se da imensa costa desprotegida do território espanhol e dos poucos recursos disponíveis às autoridades coloniais para a defesa dessas régios periféricas.]
1.1 Espanhóis
Nessa perspectiva Neto (2001) trata da conquista da Amazônia pelos europeus, de seus projetos de conquista e expedições exploradoras, os quais provocaram conflitos entre esses conquistadores e sérias conseqüências que repercutem até hoje entre os remanescentes da povoação indígena. 
Neto (2001) conta que os primeiros europeus a pisarem as terras da Amazônia foram os navegadores espanhóis, a serviço da Espanha de Santa Maria de La Mar Dulce, sob o comando do navegador Vicente Pizón. Logo depois, Diogo Lepe também realizara expedição na região Norte do Brasil, percorrendo as águas fluviais do Amazonas, enfrentando ataques de tribos indígenas, as quais o fazem desistir de ocupar a área. 
Segundo Góes Filho (2001), de fato Pizón e Lepe teriam percorrido a costa brasileira desde ao cabo a que Pizón chamou de Santa Maria de La Consolación, identificado por muitos historiadores como cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, até o Amapá.
O autor narra que em fins do século XV, os espanhóis já encontraram aldeias indígenas de grandes dimensões. No século XVI, a Amazônia contava com dois milhões de índios, ocupando toda a planície amazônica, principalmente na região de Várzea. Eram índios de diversas etnias: Aruak, Karib, Tupi, Jê, Katukina, Pano, Tukana, Xiriana (MÉTRAUX, 1927). Diz que, inicialmente, os portugueses realizaram expedições pelo litoral norte do Brasil, seguindo os passos de Pizón, embora ainda não conseguissem conquistar o território. 
Concordando com Gadelha (2002), Góes Filho (2001) comenta a abertura desse caminho para outros europeus passaram a participar da expansão ultramarina: franceses, holandeses, ingleses e irlandeses. Entretanto, os espanhóis não tinham desistido de ocupar o vale amazônico, até porque tinham direitoà área pelo Tratado de Tordesilhas entre Espanha e Portugal (07/06/1494). Segundo Neto (2001) outras expedições ocorreram pelo rio Amazonas, de Quito à direção oeste-leste. Dali partiu os navegadores espanhóis Gonçalo Pizarro (irmão de Francisco Pizarro que já tinha tropas instaladas no Peru desde 1532), Francisco Orelllana e seus companheiros (1541-1542) em expedição pelo rio Amazonas, sendo essa a primeira grande viagem que os espanhóis realizaram na região, navegando em toda extensão do rio. 
Segundo (REZENDE 2006) somente em 1546 Orellana foi quem, como Governador e Capitão-General das terras que descobrisse, organizou uma expedição para conquistar a região. No comando da tropa mal preparada, perdeu-se no delta do rio e morreu vitimado pelos índios. Tendo como partida a cidade de Quito, os espanhóis não desistiram e realizaram nova expedição à Amazônia, garantindo a posse para os domínios da Coroa Espanhola, a qual visava à conquista das minas de Potosí, na região andina.
Nessa perspectiva Neto (2001) aponta como a última viagem espanhola pelo amazonas foi organizada pelo governo espanhol do Vice-Reinado do Peru em 1560, expedição comandada pelo militar Pedro de Ursua, em direção ao Eldorado, sendo Pedro morto pelos seus companheiros, passando a comandar o aventureiro Lopo de Aguirre, que alcançou o delta do Amazonas, em 1561, não sendo ainda permitindo a sua ocupação. 
Entretanto REZENDE (2006) relata várias doações da Amazônia a exploradores e aventureiros no período de 1501-1604:
“o mundo Amazônico havia sido concedido para exploração aos soldados espanhóis Vicente Yáñez Pizon 1501. De acordo com o historiador argentino Enrique de Gandia, em umas séries de atos de Carlos V, que governou a Espanha de 1516-1555; Felipe II monarca de 1555-1598; e Felipe III, de 1598-1621, a Amazônia foi doada a Diego de Ordaz em 1530, a Francisco de Orellana em 1551, a Jerônimo de Aguayo em 1552, a Diego de Vargas em 1554, a Juan Despes em 1563, a Hernandez de Serpa e Pedro Molover de Silva em 1568, a Juan Ortiz de Zarate em 1569, a Antônio Berrio em 1585, a Hernando de Oruna y la Hoz em 1601 e a Pedro de Betranilla em 1604 (REIS, 1948).”
Nessa percepção fica claro que tanto para historiografia luso-brasileira como em outras historiografias o mundo Amazônico estava dividido entre a Amazônia portuguesa (margem direita do rio) e espanhola (margem esquerda do rio) e conclui-se que nesse período por está as duas coroas unificadas esse limites fronteiriços são enfraquecidos com o consentimento da coroa espanhola e ansiosa busca portuguesa pelo “el-dorado”, segundo espanhol Juan de La Cruz o mapa da localização do el-dorado, seria o lago Parimé, em 1775 (ver figura 03, extraída exposição final de Nabuco).
Portugueses
A União Ibérica (1580-1640) favoreceu o processo de expansão portuguesa pela região Amazônica. Portugal e Espanha permaneceram unidos até que o Tratado de Tordesilhas perdeu sua força com a restauração da autonomia portuguesa para conduzir o processo de ocupação da Amazônia, o que provocou modificações nas fronteiras e nos domínios desses povos. Com o Tratado de Madri (1750), a Espanha reconhece o direito português na Amazônia antes conquistada pelos espanhóis. 
Segundo Gadelha (2002) em 1612, um conquistador francês, Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardièri, fundou a cidade de São Luís do Maranhão (ver figura 04 que ocuparam a margem direita do rio amazonas, portanto em terras pertencente a Portugal), estabelecendo amizade com os índios Tupinambá, no vale do rio Pará. Em guerra contra os Camarapins, os franceses subiram as águas do rio Tocantins, derrotando os Pacajá e Parissó. Ameaçados pelos portugueses, desistiram de explorar a região, sendo assim expulsos pelos luso-brasileiros da Amazônia e do litoral maranhense.
A autora comenta ainda que após a expulsão dos franceses, o comandante português Alexandre de Moura determinou uma expedição para ocupar as terras amazônicas, a qual era chefiada por Francisco Caldeira Castelo Branco, que, em 25/12/1615 entrou pela Baía de Guajará, construiu um forte de madeira a que chamou de Presépio, o qual deu origem à cidade de Nossa Senhora de Belém (12/01/1616). [7: Antonio Sérgio de Souza Jr (2005) - Tendo em vista o controle do rio funda-se então pela Coroa Portuguesa, por intermédio de Francisco Caldeira de Castelo Branco, em 12 de janeiro de 1616, o que se tornaria ‘capital da Amazônia”. Partindo da idéia de que sendo fundamental para o domínio do rio e por fim, da conquista do território, o melhor lugar encontrado, cumprindo o regimento, Castelo Branco firma-se neste lugar, constituindo aí um forte, que segundo Gonçalves, traz no nome um símbolo significativo, o “Forte do Presépio”. ]
Diante da violência dos portugueses, os índios Tupinambá, aliados dos franceses, invadem a cidade de Belém (07/01/1619) e destroem várias edificações, comandados pelo Cacique Guaimiaba (Cabelo de Velho), provocando a morte de muitos índios e a revolta dos luso-brasileiros. “Na conquista da Amazônia, então fizeram os portugueses suas guerras contra as populações nativas da região, quase sempre as exterminando e subjugando-as ao seu domínio, embora devessem também guerrear contra os outros invasores europeus: ingleses e holandeses, pela posse do território”(SOUZA JUNIOR, 2005)[8: Antonio Sérgio de Souza Jr (2005) - A conquista da desembocadura do Tocantins com o rio Grão-Pará, um dos braços do rio das Amazonas, nessa confluência a Feliz Lusitânia, atual Belém do Pará, não fora algo fácil apesar de que Alexandre de Moura, havia advertido Castelo Branco sobre como evitar o confronto com os nativos levando franceses, tendo em vista o bom relacionamento dos mesmos com os franceses e vice-versa.][9: Ibem - A preocupação da posse do rio para a conquista do território, era prioridade além de expulsar os estrangeiros ali instalados, sendo que em todos, a questão do controle do rio é marcante assim como no regimento dado a Francisco Caldeira de Castelo Branco, quando de sua oficialização como escolhido para liderar a conquista da foz do “rio das amazonas”.]
Vê-se que, na visão dos autores da obra acima citada (Ibem), a fundação de Belém, na embocadura do Amazonas, foi o primeiro importante passo dos portugueses, pela posse da região, permitindo o controle da navegação fluvial do Amazonas ao Oceano Atlântico (observa-se pela figura 06 a nítida estratégia militar portuguesa visando à ocupação e domínio do rio Amazonas), sendo considerada como uma “decisão acertada” dos conquistadores lusos. Depois disso, os portugueses passaram a realizar uma série de expedições militares pela região amazônica para expulsão não só dos ingleses e holandeses, mas também de qualquer povo estrangeiro que desejem ocupar a região.
Para Bezerra Neto (2001), a colonização portuguesa no vale amazônico estava baseada em três pontos: comércio, aldeamento e fortalezas, sendo que os últimos garantiam as condições para o sistema colonial funcionar na região, com práticas mercantilistas na venda de drogas do sertão, ação realizada pelo índio destribalizado e aldeado sob comando das ordens religiosas, que através da catequização e expansão do catolicismo desestruturavam as sociedades indígenas, transformando os índios em cristãos a serviço da colonização portuguesa, atuando como carregadores, canoeiros, remeiros, guerreiros, guias, intérpretes, domésticos, artistas, operários e coletores de ervas. Entre as principais ordens que se fizeram presentes na Amazônia o autor destaca quatro grupos: os Jesuítas, os Mercedários, os Franciscanos e os Carmelitas. 
Para Bittar (2000) pedagoga e Rezende (2005, pag. 227) historiador, ambos dentro de suas áreas especificas discorrem sobre o processo de aculturação dos índios enfocando os conflitos entre os jesuítas e os colonos pela disputa da mão-de-obra indígena que provocou a expulsão dos jesuítas, haja vista que um (colono) detinha o poder secular dos índios enquanto o outro (missionários)detinha o poder espiritual. [10: Marisa Bittar (2000) - A aculturação e o predomínio da cultura ocidental cristã na dominação do Novo Mundo, como escreveu Darcy Ribeiro (1995, p. 59), foram exercidos, até 1759, por duas forças opostas: "de um lado, a dos colonos, à frente de seus negócios; do outro, a dos religiosos, à frente de suas missões". Em princípio, cresceram paralelamente, mas depois o contraste converteu-se em conflito aberto, cujo desfecho foi a expulsão dos jesuítas.]
Conclui-se que independentemente das áreas de conhecimento que abordam as missões jesuíticas na Amazônia em face do que aponta Neto (2001) e Bittar (2000) em comum está à questão da destribalização do nativo e sua inserção nessa ordem social dominante imposta pelo europeu. A partir do século XVII e definitivamente no século XVIII pelas reformas pombalinas e a oposição do Marquês de Pombal aos soldados de Cristo. Os índios “descidos” para as missões eram ‘alugados’ aos colonos pelos jesuítas que regulavam o valor dos serviços; por outro lado, os colonos não lhe pagavam pelo trabalho dos índios e raramente os devolvia às missões, escravizando-os ilegalmente por meio das “guerras justas” e “Tropas de resgate” Rezende (2005).
Holandeses
A independência da Holanda foi finalmente reconhecida pelo Tratado de Munster assinado em 30 de janeiro de 1648 que faz parte de um conjunto de outros acordos pertencente a paz de Vestfália. Os termos do Tratado afirmava que:
“The independence of the Netherlands was finally recognised by the Treaty of Munster which was signed on the 30 January 1648. The terms of the Treaty stated that the navigation and trade to the East and West Indies should be maintained as indicated by the charters which were granted. All "potentates, nations and peoples" with whom the States-General and the East and West India Companies, within the limits of their charters, were in friendship and alliance, were to be included in the Treaty. The King of Spain and the States-General were respectively to remain "in possession and enjoyment of such lordships, towns, castles, fortresses, commerce and country" in the East and West Indies and Brazil and on the coasts of Africa, Asia and America as they then respectively held and possessed. In this description were specifically included the places which the Portuguese had taken from the States-General since the year 1641, as well as all places which the States-General should subsequently come to conquer and possess, without violating the Treaty. With reference to the mention of places taken by the Portuguese from the Dutch since 1641, it should be remembered that in that year the Portuguese had severed themselves from the Crown of Spain, and were, at the date of the Treaty of Munster, regarded by the King of Spain as rebels. The object of this provision was that the Dutch should be at liberty to recapture from the Portuguese all places which the latter had acquired at their expense during the Portuguese rebellion.”
Ou seja, a rota de navegação e comércio das Companhias das Índias Ocidentais e Orientais deveria ser mantida como indicado pelas cartas que foram concedidos pelo tratado (ver figura 07). Todos os "potentados, povos e nações" com o qual os Estados-Gerais e as Empresas das Índias Orientais e Ocidentais, dentro dos limites de suas cartas, eram de aliança e amizade estavam incluído no tratado. O Rei de Espanha e os Estados Gerais estavam, respectivamente, de acordo com o ato de posse de tais senhores, cidades, castelos, fortalezas, comércio e país das Empresas das Índias Orientais e Ocidentais, no Brasil e nas costas da África, Ásia e América como então, respectivamente, detinhas a posse. Nessa descrição foram especificamente incluídos os lugares que os portugueses tomaram do Estado-Geral desde o ano de 1641, bem como todos os lugares que os Estados-Gerais devem, posteriormente vir a conquistar e possuir, sem violar o Tratado.[11: OLIVEIRA (2011, prelo) - Todas as informações do cronista jesuíta Acuña foram publicadas em forma de relatório em Madri, no ano de 1641. O tema abordado pela expedição de Pedro Teixeira necessita de maiores estudos para preencher a ausência de informações sobre a posse portuguesa no rio Branco durante o século XVII][12: LIMA (2006, pag. 249) - Com a restauração da monarquia portuguesa em 1640 e coroação de D.João IV temos uma reviravolta nas relações entre espanhóis e portugueses. Os espanhóis vão tentar assegurar os seus antigos domínios na América. No Grão- Pará o problema estava em garantir a soberania espanhola nas áreas do Amazonas que foram colonizadas pelos portugueses durante a campanha contra os holandeses e ingleses. No Memorial do Padre Cristóvão de Acuña, da Companhia de Jesus, existe uma série de informações acerca do Amazonas e a passagem para a Província de Quito, no Peru. Acuña faz uma série de justificativas para a coroa espanhola investir na conquista da região e enviar padres da Companhia de Jesus para essas terras. Uma das justificativas apontadas era a possibilidade dos portugueses, com apoio dos holandeses, dominarem o rio e chegarem às minas do Peru.]
Com referência à menção de lugares tomados pelos Portugueses dos holandeses desde 1641, deve-se lembrar que naquele ano, Portugual tinha cortado relações com a Coroa de Espanha, e eram, à data do Tratado de Munster, considerado pelo Rei da Espanha como rebeldes. O objetivo desta disposição foi a de que os holandeses deveriam ter a liberdade de recaptura as próprias custas todos os lugares que os Portugueses tinha adquirido, durante a rebelião Portuguesa (Restauração).[13: OLIVEIRA (2011, prelo) - Tais mudanças ocorridas na primeira metade do século XVII favoreceram tanto o reino português, com a restauração da dinastia de Bragança e a possibilidade de posse do Estado Independente do Grão-Pará e Maranhão, como aos Países Baixos que ganharam a Independência e a posse da costa das Guianas.]
Em 10 de agosto de 1648, como parte ainda do Tratado de Münster os Estados-Gerais emitiu novas regulamentações comerciais:
“DUTCH TRADING REGULATIONS 
On the 10 August 1648, the States-General again issued trading regulations more specific than any which had been previously published. By these regulations, uncharted vessels were forbidden to trade on the Wild Coast. The mouth of the Orinoco was again made the starting point at which ships not belonging to the Dutch West India Company had the liberty to sail and trade. This clearly indicated that the whole of the coast between the Orinoco and the Amazon was treated as belonging to the West India Company.”
Por esse regulamento, as embarcações desconhecidas foram proibidas de comercializar na Costa Selvagem. A foz do Orinoco foi novamente feito o ponto de partida em que os navios não pertencentes à Companhia das Índias Ocidentais holandesa tinha a liberdade para navegar e comércio. Isto indica claramente que toda a costa entre o Orinoco e o Amazonas era considerado como pertencente à Companhia das Índias Ocidentais.[14: LIMA (2006, pag. 251) - No caso, restringiam-se as atividades de pirataria e contrabando de mercadorias passadas aos indígenas das ilhas em troca de alguns produtos. A diversidade de nacionalidades, holandeses, ingleses e franceses nos dá essa pista. Esse termo é utilizado apenas na historiografia brasileira e por alguns autores entre eles NETO (2005, pag. 82) - Nesse sentido, o contrabando holandês com os índios jamais poderia ser evocado para justificar a soberania inglesa sobre o território disputado, entretanto na historiografia Inglesa, Holandesa ou Francesa o termo utilizado é comércio.]
José Maia Bezerra Neto (2001) esclarece que também expedições holandesas (1598), no litoral amazônico, estabeleceram feitorias, com 1600 homens em Orange e Nassau, nas margens do rio Xingu. Os ingleses, em 1611, já tinham estabelecido feitorias no delta do Amazonas, com suas primeiras tentativas de ocupar a região, em busca de exploração mercantil de suas riquezas naturais: as drogasdo sertão. 
Essas primeiras ações dos ingleses e holandeses foram de iniciativa particular, ao contrário de Portugal e Espanha que tinham aval dos reinos. Mais tarde, os governos de Inglaterra e Holanda assumem os empreendimentos em águas e terras da região, passando a organizar a Companhia de Navegação e Colonização dos territórios da Amazônia (LIMA, 2006, pag. 173; OLIVEIRA, 2011, pag. 20; EVANGELISTA, 2010, pag., 4). Ingleses e Holandeses, mesmo não tendo muito êxito, pois foram expulsos pelas tropas portuguesas, mas conseguiram se instalar nas Guianas, uma vez que não havia muito interesse de Portugal em colonizar a região e essa parte do oceano era guarnecida pelos navios de contrabando estrangeiro, isto acabou favorecendo a penetração de holandeses e ingleses na Amazônia (1580-1640). [15: GADELHA (1980) – Na historiografia portuguesa e brasileira, diversos autores entre eles Gadelha, Rezende entre outros se utiliza desse substantivo para qualificar a atividade mercantil de outras nações que não pertencia a União Ibérica, entretanto na historiografia Inglesa, Holandesa e Francesa e poucos historiadores brasileiro, nesse caso podemos citar Prof Reginaldo Gomes pesquisador da região da Amazônia Caribenha, usa o conceito de comércio para qualificar essa atividade na costa do caribe e margem esquerda do rio Amazonas.]
Além desses, os franceses também tentaram conquistar além do Rio de Janeiro e Maranhão onde já haviam penetrado, deram início à ocupação do território da Guiana, procurando fixarem-se no Amapá, na Capitania do Cabo Norte. Desta forma, os franceses penetraram em território da Amazônia, fundaram fortificações militares e núcleos coloniais que deram origem à Macapá (1764), cujas origens revelam as ações de defesa portuguesa contra a invasão francesa na região amazônica. 
Em suma, a situação de posse da Amazônia estava confirmada para as Espanhas a partir da viagem de Orellana (1546) sob o manto da bula Inter coetera (Tratado de Tordesilhas, 1494, ver figura 08 acima), tendo em vista que a dinastia dos Habsburgo predominou na Europa quando assume o sacro império germânico (ver figura 01, pag. 9). A partir de 1580 com a União Ibérica alguns portugueses receberam dos reis espanhóis autorização para navegar pela margem direita do rio Amazonas (REZENDE, 2006) entre eles estavam: Bento Maciel Parente 1621; Luis Aranha de Vasconcelos 1623; Pedro Teixeira 1626; Pedro da Costa Favela 1627; Jesuítas em 1669 entre diversos outros até 1750, momento em que o tratado de Madri é assinado e a Espanha enfraquecida pelas crises e guerras (REZENDE 2006, pag. 171) é convencida por Portugal a adota o principio fundamental do uti Possidetis. 
Entretanto, nesse ínterim, com a assinatura do Tratado de Münster os Países-Baixos (Holanda) são autorizados a tomar posse das terras ocupadas pelos portugueses desde 1641, que havia se rebelado contra a Espanha - Restauração portuguesa 1640 – e recebe como reconhecimento de sua independência o livre acesso da costa selvagem (VAN GRAVESANDE, 1967 apud OLIVEIRA; DALY, 1975 apud OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2011) da Guiana desde o delta do Orenoco até a foz do rio Amazonas, incluído está nesse acordo à navegação pela margem esquerda do rio Amazonas que outrora pertencia à Espanha (ver figura 09 acima). 
Então é de presumir-se que a tomada do forte presépio em Belém foi fator implicativo para posse da embocadura do rio amazonas e conseqüentemente a posse da terra como aponta Júnior e Mota (2005):
“Mas todos esses fatos ocorridos na então Feliz Lusitânia, tinham um significado maior. A posse do rio e o controle do mesmo para dominação do território.”
Compreendemos também a permissividade da coroa Espanhola quanto a portugueses navegar as duas margens do rio amazonas entre o período que se encontrava debilidade pela decadência da dinastia dos Habsburgo e o esfacelamento do sacro império germânico, período esse que coincide com as investidas de franceses, irlandeses, ingleses e holandeses na região amazônica, bem como foi apontado por Gadelha (2005):
“Porém, no início do século XVII, desviados os interesses dos espanhóis do vale do grande rio, os monarcas não hesitaram em entregar aos capitães portugueses a responsabilidade pela vigilância, ocupação e colonização daquela região. A verdade é que bucaneiros, mercadores e colonos franceses, holandeses, ingleses e irlandeses já disputavam o acesso àquelas áreas, aproveitando-se da imensa costa desprotegida do território espanhol e dos poucos recursos disponíveis às autoridades coloniais para a defesa dessas regiões periféricas. Portanto, apesar dos alertas recebidos de funcionários reais e de missionários que melhor conheciam a região, pareceu natural ao rei de Espanha entregar aos súditos portugueses a responsabilidade pela vigilância e o controle da vastidão das terras penetradas pelo grande rio das Amazonas e seus afluentes, cuja posse dos limites Pedro Teixeira fixara, em 1639, lavrando ata diante de testemunhas espanholas e portuguesas,”
Concluímos então que a ocupação da Amazônia foi feita partir de um pano de fundo formado por peças que se completaram na Europa e que criaram a dinâmica das sociedades latino-americana, neste período enfocado foi o período que tradicionalmente se estuda com o nome de Idade Moderna. De fato este período na Europa foi de transição ou período de passagem de um sistema econômico que, de início, era dominante, mas que, aos poucos, foi desintegrado por outro sistema econômico em formação, ou seja, a passagem de uma sociedade feudal para uma sociedade capitalista.
Essa época de transição do feudalismo ao capitalismo foi marcada, na Europa, pelo surgimento de grandes unidades políticas – os chamados Estados Nacionais e esses Estados Nacionais foram se formando atendendo aos interesses dos setores feudais que se sentiam, por um lado, atemorizados face à freqüentes revoltas camponesas, revoltas que precisavam ser contidas. Os Estados Nacionais atendiam, também, aos interesses da classe burguesa. A burguesia precisava de um mercado nacional. Por isso, ela surgiu como uns dos sustentáculos mais importantes das monarquias na Europa e em sua maioria se rearranjaram com o absolutismo monárquico como forma predominante de governo. No absolutismo o rei passava a exercer, de direito e de fato, todos os poderes. Nada ficaria fora do controle do rei, inclusive as atividades econômicas. Por isso, nesses Estados, governados por monarquias absolutistas, a política econômica que se aplicou foi o mercantilismo.
A colonização da América foi condicionada pelos interesses de uma burguesia mercantil mobilizada cada vez mais em aumentar a sua expansão, as suas atividades comerciais e fundamentalmente acumular o capital mercantil. Mas, ao mesmo tempo, a colonização da América ficaria subordinada à política econômica mercantilista, seguida por todos os Estados europeus.
CAPÍTULO II
Amazônia Caribenha: Formação das Fronteiras nos Séculos XVIII e XIX
2.1 Formação Histórica
A região denominada de ilha Amazônica Caribenha é um termo novo que foi introduzido na UFRR pelo Professor Reginaldo Gomes de Oliveira. Apoiando-se nos estudos desse pesquisador é que iniciamos nossa argumentação. Segundo OLIVEIRA (2008; 2011) o primeiro “batismo” ou designação nominal para região que hoje conhecemos por Amazônia Caribenha foi dada por RALEIGH em 1595 chamado-a por Costa Selvagem, Guianas segundo dicionário Aurélio quer dizer “terras de muitas águas” ou Amazônia Caribenha foi descrita pelos primeiros cronistas ou exploradores europeus como uma região de complexa cartografia fluvial. Quando esses exploradores europeus começaram a navegação pelo litoral Atlântico Norte, tinham dificuldades para identificar a terra firme porque esse litoral amazônico está localizado abaixo do nível do mar. Para OLIVEIRA (2008; 2011) a idéia da Amazônica Caribenha como ilha tem como base as observações disponíveis na cartografia holandesa do século XVII. OLIVEIRA constatou, durante seus estudos, queapesar das dificuldades do europeu ancorar nessa região, o viajante descrevia em suas notas a longa faixa litorânea de água marítima escura, mas com a vazante (resultante das marés) e o surgimento da terra oferecia possibilidades de exploração.[16: Região litorânea compreendida entre o delta do rio Orinoco e do rio Amazonas, popularizada como Costa Selvagem ou Guianas durante o processo de colonização européia, a partir do século XVI (RALEIGH, 1595; VAN GRAVESANDE, 1967; GOSLINGA, 1971).][17: Termo usado para identificar o território da Ilha das Guianas com grande contingente de índios Karíb. É a região que marca o contexto das rotas comerciais e alianças político-econômicas e sócio-culturais entre europeus, indígenas, africanos e asiáticos, habitantes dessa região amazônica e do Mar do Caribe (OLIVEIRA, 2006, p.86 e 2008).][18: Com o auxílio do pesquisador Lodewijk Hulsman tivemos acesso a mapas dos séculos XVI e XVII disponíveis nos Arquivos em Amsterdam. (OLIVEIRA, 2008).]
A idéia de fronteiras que na Europa durante muito tempo poderia ser compreendida como envolvendo representações zonais, já que baseadas em territórios que estariam sob as diferentes influências (BLACK, 1997), no Brasil, desde o início assumem a forma de uma linha. De fato, mesmo antes de uma efetiva implantação de colonos europeus, se impõe uma representação de um espaço, cujos limites seriam determinados a partir de um referencial longínquo (as ilhas de Cabo Verde) com uma forma abstrata que se superpõe às realidades locais: o meridiano de Tordesilhas. No século XIX, no momento em que a maioria das terras sul americanas passa a assumir a forma de países independentes, mesmo se a forma de uma linha meridiana única já é reconhecida há tempo como um embaraço invencível (Cortesão, 2009, pg. 274), a idéia de demarcar um limite linear preciso, ainda está em vigor. Durante o século XVIII, a sucessão de tratados como o de Madrid em 1750, do Pardo em 1761 e de São Ildefonso em 1777, são seguidos por campanhas de mapeamento importantes, sem que as fronteiras obtenham definições únicas. 
Diante que foi exposto nos capítulos anteriores conclui-se que a atual configuração do que denominamos Amazônia, em suas linhas gerais, resulta do processo de ocupação da região pelos colonizadores europeus, entre os séculos XVI e XIX, que se envolveram não apenas em conflitos entre os diversos povos autóctones, mas também em disputas entre Espanha, Portugal, Inglaterra, Holanda e França, no marco das várias guerras coloniais do período que resultaram em diversos tratados de paz, como já vimos. De acordo com o Tratado de Tordesilhas (1494), a América do Sul deveria ser repartida entre Espanha e Portugal. Mas, ao ocuparem grande parte do litoral norte do continente, a partir do final do século XVI, no que hoje corresponde à Guiana, à Guiana Francesa e ao Suriname, ingleses, franceses e holandeses romperam o pretendido domínio ibérico sobre a totalidade do continente, inserindo nesse novo mundo uma nova forma do colonialismo que de certo ponto de vista se contrapunha ao colonialismo mercantilista estatal dos países católicos, o colonialismo empresarial ligada “as Companhias”, que ficou caracterizado pela participação da burguesia ascendente dos países protestantes. 
No obstante é de suma importância observamos que o termo fronteira na Europa estava relacionado à idéia de nação e dessa percepção se formou os Estados Nacionais na Europa. Assim sendo, entendemos que o vazio idealizado no período colonial e herdado no século XIX, foi o vazio dissociado da lógica colonial, de corpos fora dos domínios real, ausentes de vassalos do rei, nessa perspectiva a fronteira refere-se ao limite humano cuja idéia central está na dicotomia civilizaçãoxselvageria. [19: Tese de fronteira de Frederick J. Turner que inovou os estudos da época, fins do XIX, pela perspectiva cultural apontada para o caso americano.]
Na historiografia brasileira a fronteira está ligada a noção da ação dos bandeirantes defendida por Sérgio Buarque de Holanda fortemente influenciado pela Tese de Turner, em sua obra Caminhos e Fronteiras. Na concepção de Michel de Certeau, a fronteira seria o local de interação, espaço de delimitação e mobilidade, seria esta “um entre dois”, ao mesmo tempo em que separa espaços distintos, ela os liga, comunicando-os, e assumindo com isso papel mediador. Além disso, adquire sentido de lugares de encontro ou zonas de contato.[20: CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano. Petrópolis: Vozes, 1994.]
Os territórios colonizados, em geral, se encontravam ocupados com habitantes que possuíam cultura e estruturas sociais próprias, dando margem a diferentes formas de contato e ao nascimento de novas sociedades. Nesse lugar de contato, geralmente se desenvolve uma cultura própria, claramente híbrida, sendo fronteira nada mais do que palco de encontros culturais.
Os hábitos e os costumes dos colonos não se transplantam simplesmente, eles se adaptam, moldam e compõem com o semelhante, sempre sujeitos a uma ação transformadora. A transformação, a mutação decorrente desse processo caracteriza o espaço de fronteira, esse espaço plural, híbrido, ambivalente, que ao congregar duas situações, traz como resultado algo novo, ímpar, mesclado. Essa era a idéia de fronteira que predominava nos países não Ibéricos, o que nos é notório diante das analises feitas com esse estudo. Entretanto o que pode observar que a perspectiva de fronteira predominante na União Ibérica estava relacionada à civilização x selvageria, onde o efeito civilizatório iria redimir mediante a expansão dos domínios reais inserindo os “selvagens” nesse processo com a ocupação ainda que para isso fosse necessário dizimá-los para brota um espaço civilizado.[21: POMPA, Cristina. Religião como tradução: missionários, Tupi e “Tapuia” no Brasil colonial. São Paulo: EDUSC, 2003.]
A partir das analises entendemos com clareza o fato de que ingleses, franceses e holandeses com instrumentos de cortes entre outros influenciavam e alteravam o status cultural tribal objetivando mesclasse nas relações intertribais com os nativos ao mesmo tempo em que obtinham lucros com essa pratica, ainda que o objetivo fosse o mesmo dos países Ibéricos a expansão colonial, e ainda gozavam da confiança entre os nativos, haja vista que após a expulsão de colonos não Ibéricos da região Amazônica como foi o caso do Maranhão, para citarmos como exemplo, a primeira reação vinha logo dos próprios nativos que, devido o sentido da expansão portuguesa ocorrem com extrema brutalidade e no sentido litoral-sertão produzindo certamente um fluxo migratório também nessa direção, se rebelavam. 
A hegemonia de lusos e espanhóis foi colocada em jogo em muitas outras regiões do mundo colonial, como as Antilhas, os centros de fornecimento de escravos na costa africana, as diversas colônias na Ásia e o litoral brasileiro – cuja porção nordeste os holandeses ocuparam por mais de trinta anos, na primeira metade do século XVII.
A cartografia holandesa e francesa do século XVII projetava os virtuais domínios de seus países sobre a totalidade do que então se denominava região da Guiana – bem mais ampla da que conhecemos nos dias atuais e, em alguns mapas, também denominados “Reino das Amazonas”, delimitada, ao sul, pelo rio Amazonas; a oeste, pelo rio Orenoco; ao norte, pelo mar do Caribe e, a leste, pelo oceano Atlântico (Costa, 2002). Nas quatro primeiras décadas do século XVII, o Amazonas foi bastante freqüentado por expedições inglesas e holandesas que penetravam no grande rio navegando ao norte da ilha de Marajó e chegava até a confluência do rio Xingu, travando longas disputas com os portugueses pelo controle do curso inferior do rio Amazonas e de sua desembocadura. Porém, não alcançaram êxito nessas empresas, consolidando apenas o controle da Guiana.
Os franceses, estabelecidos em Caiena desde o final do século XVII, realizaram tentativas de ocupação do atual litoral norte do Brasil, onde fundaram a cidade de São Luís, em 1612,e iniciaram um movimento para o oeste, chegando a freqüentar o rio Tocantins, como parte de um amplo projeto colonial denominado “França Equinocial”. Malogrados seus intentos de expansão territorial, fixaram-se na Guiana. Mas, até o ano de 1900, ainda disputavam com o Brasil, em cortes diplomáticas, o território ao sul do rio Oiapoque (Semerene, 2002).
O movimento português sobre a Amazônia, cujos marcos inicial são a conquista de São Luís dos franceses, em 1615, e a fundação de Belém, em 1616, teve como principal meta a ocupação do rio Amazonas. Essa longa planície fluvial, em uma extensão de cerca de três mil quilômetros, figurou-se como uma região a ser virtualmente explorada e ocupada pelos colonizadores lusos, sobretudo depois que Pedro Teixeira, em trajeto inverso ao de Orellana, chegou a Quito após remontar o Amazonas, fixando muito além do meridiano de Tordesilhas os limites mais tarde reivindicados por Portugal – provavelmente, na confluência dos rios Napo e Aguarico, hoje em terras equatorianas.
Embora não possa ser considerado como elemento determinante, já que diversos fatores devem ser levados em conta na explicação de êxitos ou fracassos das políticas coloniais, é certo que o fator geográfico desempenhou papel relevante em favor dos portugueses, facilitando o deslocamento Amazonas acima em um ambiente relativamente homogêneo em toda a sua extensão, ao compararmos com as dificuldades enfrentadas pelos espanhóis: o grande desnível entre os Andes e as áreas amazônicas representava não apenas obstáculos ao deslocamento – relevo abrupto, rios não navegáveis – mas, também, uma rigorosa diferença climática que levou à morte milhares de índios deslocados compulsoriamente da cordilheira para o trabalho nas regiões de floresta.
Conflitos entre portugueses e espanhóis ocorreram no curso do Amazonas, no trecho em que ele recebe o nome de Solimões, opondo os jesuítas a serviço da Espanha, em particular o tcheco Samuel Fritz, que haviam estendido as missões de
Maynas rio abaixo, e os portugueses caçadores de escravos (Semerene, 2009).
Holandeses e ingleses concentraram-se, especialmente, no litoral entre os rios Essequibo, Demerara, Berbice e Suriname, alternando entre si o controle dessas áreas entre meados do século XVII e o início do século XIX. As colônias do Essequibo, Demerara e Berbice foram fundadas e controladas pelos holandeses até as últimas décadas do século XVIII. As diversas iniciativas privadas dos primeiros anos foram substituídas, em 1621, pelo monopólio da Companhia das Índias Ocidentais, que durou até a segunda metade do século XVII, quando o controle e a administração das colônias passaram às mãos das câmaras das cidades holandesas de Veere, Middelburg e Vlissengen (FARAGE, 1991:88-89). No final do século seguinte, em 1796, os ingleses ocuparam esse território pela força das armas e, depois de sucessivos conflitos e alternâncias o domínio e cedido aos holandeses após o final das guerras napoleônicas em 1814, e finalmente são unificadas as três colônias sob o nome de Guiana Inglesa, alguns anos mais tarde, em 1831(OLIVEIRA, 2006; 2008).
No rio Suriname, os ingleses expulsaram os holandeses e se estabelecem ocupando a região com plantações de cana-de-açúcar, em 1656. Mas os holandeses assumiram o controle da região quando, em 1667, o Tratado de Breda pôs fim à guerra anglo-holandesa e estabeleceu, entre outros acordos, a troca do Suriname por Nova Amsterdã, na América do Norte (Semerene, 2009). A região abrigou plantadores de açúcar anteriormente instalados no litoral nordeste do Brasil, de onde os holandeses haviam sido expulsos em 1654.
A maior parte do território amazônico, no entanto, tocou aos dois países ibéricos, Espanha e Portugal. Ainda na primeira metade do século XVI, como já foram citados nos capítulos anteriores, os espanhóis empreenderam uma série de incursões a leste dos Andes, das quais a mais célebre é a expedição Gonzalo Pizarro/ Francisco de Orellana (1541-42), que desceu o rio Napo e realizou a primeira navegação, por europeus, até a foz do Amazonas. Mas, uma série de outras incursões, realizadas entre 1536 e 1560.
“permitieron la penetración más sistemática y el reconocimiento de una franja de unos cién kilómetros de ancho, constituida por el declive externo de la cordillera oriental y el sistema subandino (hondonadas y pequeñas cordilleras paralelas al eje general de los Andes y conjuntos de colinas en las bajas estribaciones) y su incorporación provisional a la economía colonial” (Jean Paul Deler, 1987:55).
Após o fracasso dessas primeiras iniciativas, a colonização espanhola da Amazônia passaria a ser feita, entre fins do século XVI e meados do século XVIII, quase exclusivamente pela ação missionária, pois, como forma de conter os excessos dos conquistadores, a coroa espanhola, por meio da Real Cédula de 1573, proibiu novas expedições armadas ao Oriente e determinou que toda ação colonizadora naquela região fosse realizada apenas pelas ordens religiosas (TIBESAR, 1989: p.16).
Além disso, baseados nos feitos de Pedro Teixeira, os portugueses reivindicavam a posse sobre aqueles territórios. Segundo Semerene (2009), a ordem dos Carmelitas portugueses assumiu os aldeamentos com a retirada dos Jesuítas da Espanha no início do século XVIII. Mais tarde, os tratados de Madri (1750) e de Santo Ildefonso (1777) sacramentaram a posse portuguesa até a confluência do rio Javari.
Ao longo dos séculos XIX e XX, foram solucionadas disputas fronteiriças localizadas, envolvendo todos os países da região. Algumas dessas disputas eram resultantes das antigas indefinições de limites; outras, da expansão territorial ocasionada pelo aumento da exploração de produtos florestais. De todo modo, as principais questões de limites entre domínios espanhóis e portugueses, na Amazônia, haviam sido solucionadas pelos tratados de 1750 e 1777, definindo as linhas gerais do território amazônico.
Para Meira Mattos também, o Tratado de Madri (1750) finaliza, formalmente, os conflitos da fronteira amazônica entre espanhóis e portugueses, que incluíam conflitos entre a Igreja e a Coroa. 
Entretanto, a margem esquerda do rio Amazonas tinha apenas três pontos de comandamento dentro da política pombalina, sendo o Forte de Macapá, o São Joaquim e de São Gabriel (ver figura 12). No entanto esse Tratado não impediu incursões de outros impérios europeus. Para Mattos o direito de posse reivindicado pelos portugueses (ver figura 13) pela defesa que assegurava a ação de manutenção do território contra as invasões inglesas, holandesa e francesa é contemplado no tratado, confirmando a ocupação lusa do imenso leque norte e oeste do grande rio e seus afluentes. 
Dessa maneira, origina-se o atual delineamento da fronteira amazônica brasileira (MEIRA MATTOS, 1980). A imposição da posse portuguesa pela supremacia militar era evidente nas fortificações e preocupações estratégicas do grande rio e seus afluentes. 
Entretanto as incursões feitas pelos ingleses, holandeses e franceses não foram feitas apenas pela margem esquerda do rio Amazonas, mas também por rios na Amazônia Caribenha que ora correm no sentido sul-norte, que são maioria, por exemplo, Demerara, Essequibo, Suriname e outros, ora correm no sentido oeste-leste, como rio Cuyuni, Mazaroni e outros ainda que suas nascentes estejam ao sul e correm para o norte e em um dado ponto geográfico correm no sentido leste-oeste, como é o caso do pirara, ou seja, o complexo hidrográfico da Amazônia Caribenha é distinto do complexo hidrográfico da Amazônia portuguesa (ver figura 14), e, em alguns casos estão ligados pelos afluentes da margem esquerda do grande rio. [22: NABUCO, Construção das Memórias Inglesa, pag. 145, Vol. I. “Teoria Janssen”.]
Essa é uma das dificuldades existentes nos conflitos de fronteiras entre portugueses e ingleses, holandeses e franceses, herdados pelo Brasil envolvendo as Guianas que a historiografia e os historiadores que não visualizam a Amazônia Caribenha, tampouco os Estados do Amapá oNorte do Pará e Roraima como parte desse complexo Amazônico conhecido pela geografia como planalto das Guyanas, que se diferencia da margem esquerda do rio Amazonas. 
A posse efetiva – uti possidetis – é, assim, fundamental para decidir em favor dos lusos a conquista da Amazônia. Outro componente importante para o domínio português da Amazônia é a função da região no jogo diplomático internacional que dirimia os conflitos entre as potências da época. Portugal e Espanha, agora em oposição, amparavam-se, respectivamente, em alianças com a Inglaterra e a França, necessárias para a manutenção de suas colônias. À Inglaterra interessava que a Amazônia fosse assegurada como possessão de Portugal, enfraquecendo a expansão francesa na região e garantindo os grandes lucros que obtinha como intermediária nas transações portuguesas. 
Entretanto, a colonização não se realizou em uma terra de ninguém, sem densidade demográfica. A Amazônia Portuguesa não era em absoluto um território desabitado a ser disputado e partilhado pelas potências coloniais européias. Ao contrário, a espinha dorsal do processo de colonização estava na relação entre os colonizadores e os povos indígenas, ocupantes originais do território, nisso concordam diversos autores como Farage, Becker e Semerene entre outros.
O interesse da Coroa residia no fortalecimento do Estado e na sua autonomia em relação ao poder da Igreja (BECKER, 2009). Dessa forma, a implementação da economia, a nacionalização da estrutura comercial colonial e a garantia da presença do Estado português no território eram essenciais.
O esvaziamento de poder dos jesuítas, com a declaração de liberdade dos índios (1775), e finalmente sua expulsão, assim como o aparelhamento administrativo da província são ações centrais da metrópole, ou seja, ações governamentais. 
A instalação da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (1755-1778) por Pombal é o instrumento do Estado mercantil para equacionar os problemas econômicos e políticos da metrópole, buscando, inclusive, maior independência de Portugal diante da Inglaterra. Mas a ação econômica de Pombal envolveu também o estímulo ao extrativismo, recuperando a exportação do cacau – a mais importante da região –, a implementação da agricultura do algodão e do café, sobretudo no Maranhão, o incentivo a manufaturas de algodão, de anil, de preparo de madeiras e embarcações, enfim, a realização de várias experimentações na Amazônia (FARAGE, 1991). 
Mecanismos institucionais eram essenciais para organizar na região uma unidade política de eficácia econômica e estratégica para a metrópole. Imediatamente à assinatura do Tratado de Madri, como que a colocá-lo em prática, Portugal recria o Estado do Grão-Pará e do Maranhão, desta feita com o centro de decisão em Belém (1751), tendo como governador o irmão do marquês de Pombal. E para proteger os limites ocidentais do Grão-Pará cria-se, em 1757, a Capitania de São José do Rio Negro, que progrediu gerando dezenas de vilas e povoados, lavoura de cacau, algodão e café, fabricos, animando o povoamento regional e integrando a construção de um verdadeiro cinturão de segurança para a região. Em 1772, já em fase pós-Pombal, é criado o Estado do Grão-Pará e do Rio Negro, separado do Estado do Maranhão, e revelando preocupação com a integração interna da Amazônia. [23: BECKER (2009, pag. 206) - Em 1621, a Espanha cria o Estado do Maranhão e Grão-Pará – logo separado do Estado do Brasil (1624) – que se estendia desde o Ceará até o rio Amazonas, com sede própria em São Luís, e estreita ligação com Portugal, onde gozava de regalias; a Capitania do Cabo (1637) criada em represália à fundação de companhia comercial francesa na Guiana (Cabo Norte) conteve as pretensões da França assegurando a posse do Amazonas ao governo do Rio Negro e protegendo os limites ocidentais do Grão-Pará. Em 1639, por sua vez, a expedição exploratória de Pedro Teixeira destrói os fortes holandeses implantados no Xingu.]
Na orientação do governo português no século XVIII, a articulação da Amazônia com o Brasil - Colônia não é mais para garantir uma reserva de riqueza para o futuro, e sim para a atualidade (BECKER, 2009). Instruções expressas do marquês de Pombal são dadas para povoar a fronteira ocidental e com ela assegurar a navegação do rio Madeira para o Mato Grosso e a passagem daquelas minas para o Cuiabá; separar os padres jesuítas da fronteira da Espanha, enfim, completar o aparelhamento defensivo do Império na orla fronteiriça iniciada em Mato Grosso e prosseguindo no Rio Grande do Sul (MEIRA MATTOS, 1980). O perímetro das fortalezas e casas-fortes até então centrados ao longo da linha de costa foi expandido de modo a incorporar as margens de terras do Estado do Brasil e do Estado do Grão-Pará. A linha fortificada pombalina corresponde de certa forma, ao atual limite das terras brasileiras formalizado pela primeira vez no Tratado de Madri. 
O fato de a Amazônia ter sido sempre uma área diretamente administrada pela Coroa portuguesa parece ter sido decisivo para fazer dela uma unidade propícia às experimentações reformistas e torná-la uma parede física e política de proteção à manutenção do domínio português na América: fronteira de outros domínios coloniais (...), ponte de articulação com o sertão do Brasil (...), com saída para o mar e, ao mesmo tempo, unidade administrativa da Coroa sem a intermediação de poder desenvolvida pelas camadas senhoriais do Nordeste (SILVA, 2004, p. 90). 
Apesar de a fase pombalina terminar na Europa e na Amazônia em 1777, o reformismo português continua na Amazônia, inclusive com a idéia de elevar a região à categoria de vice-reino, já sugerida a Pombal por seu irmão. Tal proposta, embora discutida de meados do século XVIII até 1820, ao lado do projeto de independentização de Portugal do domínio inglês, foi inviabilizada quando a metrópole se deu conta de que ela representava o risco de independência da colônia (BECKER, 2009). 
Embora atuando num período relativamente curto, até 1777, Pombal revelou-se grande estadista com uma visão nacional de Portugal e suas colônias. E suas ações para articular a Amazônia ao império português acabaram por constituir as primeiras conexões da região com o Estado do Brasil.
O século XVIII foi caracterizado pelo esforço português em ampliar e consolidar os seus anteriores impulsos expansionistas (BECKER, 2009). Ao norte o governo de Lisboa empenhou-se na conquista da Amazônia e do litoral do Cabo do Norte até o rio Oiapoque. No século anterior havia sido instalado o Forte do Presépio (1616), na boca do rio Amazonas, no local onde hoje se encontra a cidade de Belém e enviada à expedição exploratória de Pedro Teixeira (1673), que subindo o grande rio e seus formadores, alcançou a região de Quito, na Cordilheira dos Andes. Antes mesmo desta expedição de Pedro Teixeira, o destemido bandeirante paulista Raposo Tavares já fizera o seu extraordinário périplo, partindo de São Paulo, cruzando os rios Paraná e Paraguai, penetrando nos Andes Bolivianos e saindo no rio Amazonas. 
Durante o século XVIII, na fronteira oeste, com a descoberta do ouro em Cuiabá, consolidou-se a ocupação portuguesa do centro-oeste. Com o estabelecimento de fortes lusos nos extremos alcançados pelos portugueses nos rios formadores do Amazonas, ao norte e noroeste, fincaram-se os marcos de ocupação, de presença, que a corte de Lisboa conseguiu legitimar através do princípio de “uti possidetis”, consagrado pelo Tratado de Madrid (1750). 
Através de negociações, em particular aquelas impostas pelos tratados de Utrecht (1713), Madrid (1750) e Santo – Ildefonso (1777), os limites máximos de dilatação fronteiriça tiveram que recuar em alguns pontos, mas o contorno geográfico de nosso território, em grandes linhas, foi mantido. 
O século XIX, após a Independência (1822) e durante o período monárquico e republicano, caracterizou-se essencialmente pela negociação diplomática, visando à consolidação das fronteiras (DORATIOTO, 2001). Os conflitos militares no Sul, operaçõesno território rio-grandense, intervenção no Uruguai, a Guerra contra Rosas, a Guerra da Tríplice Aliança, caracterizaram-se mais como resultado de antagonismos políticos insuperáveis pela via diplomática, do que como movimentos visando à expansão fronteiriça. 
No tocante às nossas fronteiras marítimas a preocupação maior sempre foi de defendê-las e não expandi-las. Sua expansão deu-se naturalmente seguindo os impulsos de dilatação dos lindes terrestres: para Norte, na chamada costa leste-oeste, do Ceará, sucessivamente, para o Maranhão, Belém e a foz do Oiapoque. Entretanto, a luta pela defesa da fronteira marítima foi a mais cruenta, assinalada por tentativas várias de invasão entre as quais se destacaram: 
- a invasão francesa no Maranhão comandado por Daniel de La Touche, 1612, expulsos depois de renhidas lutas, contra tropas portuguesas, mamelucos e índios reunidos no Ceará e em Pernambuco; 
- as tentativas de ocupação da foz do rio Amazonas pelos ingleses, de 1613 a 1637; 
No fim do século XIX e princípio do século XX quando várias questões de limites levantavam perigosas dúvidas e suscitavam veladas ameaça, no Brasil teve na figura de José Maria da Silva Paranhos Júnior (Barão do Rio Branco), segundo Doratioto 2001 a grande “águia” de sua diplomacia. 
O historiador Helio Viana resume a gestão do Barão do Rio Branco à frente da diplomacia brasileira, durante 10 anos da seguinte forma:
“a política exterior da República, da proclamação da independência ao fim do governo do Sr. Getúlio Vargas, pode ser dividida em três períodos distintos: antes, durante e depois da gestão do Barão do Rio Branco na pasta das Relações Exteriores. Antes de 1902, quando assumiu esse posto, sua ação fez-se sentir em questões da importância das que tivemos com a Argentina, a propósito de Palmas, impropriamente chamada das Missões, e com a França por motivo da posse da região do Amapá, na fronteira com a Guiana Francesa, além de ter escrito uma memória referente à questão dos limites com a Guiana Britânica. Durante aquela gestão, de quase dez anos, através de quatro presidências da República, resolveu pendências de vulto, como a do Acre, influiu na solução do caso da Guiana Inglesa, liquidou os dois limites, a Colômbia e Peru, e coroou sua obra magnífica com a brilhante participação do Brasil na Terceira Conferência Internacional Americana, no Rio de Janeiro, e na Segunda Conferência de Paz, em Haia, e com a generosa cessão do condomínio da Lagoa Mirim e do rio Jaguarão ao Uruguai”. 
Vários autores, entre eles Everardo Backeuser, Helio Viana e Gil Dias Ferreira apontam com relativa semelhança quatro fases históricas-políticas na marcha de evolução de nossas fronteiras terrestres: fase de expansão, durante o período colonial, que se caracterizaram principalmente pelo deslocamento da lide de Tordesilhas para o norte, sul e oeste; fase de regularização ou de legalização do “statu-quo”, que se desenvolveu particularmente durante o período monárquico; fase de demarcação, durante a República quando foram realizados os maiores esforços das Comissões de Limites; e fase de vivificação ou povoamento, cujas preocupações vêm se acentuando progressivamente, baseadas, no tempo, pela construção dos fortes, instalação das colônias militares, organização das unidades militares de fronteiras e, ultimamente pelo projeto Calha Norte. 
Não se trata de fases que têm início e fim periodizados, mas de superposições, caracterizadas pela predominância de interesses que se concentram em cada uma delas. Entretanto não nos atentaremos nesse momento a essa discussão, ficando para outra oportunidade tal estudo.
Guiana Espanhola, Inglesa, Holandesa, Francesa e Portuguesa (Roraima/Amapá)
A partir desse momento abordaremos como fonte mais abrangente que possuímos a defesa de Nabuco no litígio envolvendo o Brasil e a Grã-Bretanha que ficou conhecida na historiografia brasileira como a questão do Pirara. Nessa defesa Nabuco reportasse ao litígio entre a Venezuela e a Grã-Bretanha na região conhecida como guiana Essequiba para contrapor argumentação da pretensão Britânica na região.
O direito do Brasil está dividido em cinco volumes, a saber a Primeira memória brasileira que dividi-se Observações Preliminares, quatro Capítulos e uma Conclusão. As observações preliminares abordam o Tratado de Arbitramento, a sentença Anglo-venezuelano, objeto de litígio em si nominado por Memória e as normas que regulamentam o tratado. O primeiro capítulo trata da posse e domínio da Amazônia no século XVI e XVII, o segundo capítulo trata da posse e domínio do Rio Negro, o terceiro da posse e domínio do Rio Branco e o quarto da posse e domínio do território contestado e uma conclusão. O primeiro volume é a segunda memória titulada de LA PRÉTENTION ANGLAISE e LA CONSTRUCTION DES MÉMOIRES ANGLAIS, o segundo volume é a primeira memória Inglesa com titulo de NOTES SUR LA PARTIE HISTORIQUE DU PREMIER MÉMOIRE ANGLAIS, o quarto volume é a EXPOSE FINAL.
A região de fronteira no estado de Roraima - Brasil, formada pelas terras do rio Branco em conjunto com a Gran Savana venezuelana e com as savanas do Rupununi guianense, áreas diretamente limítrofes, constitui o espaço em foco nessa reflexão. Configurando-se como um espaço pouco populoso e pouco povoado, entrecortado por reservas indígenas, por áreas de preservação ambiental, áreas militares, de produção agrícola, além de núcleos urbanos, esse espaço se organiza dentro de uma realidade que o torna única.
Essa área permaneceu toda ela como periferia extrema, conquistada politicamente, é certo, mas não tornada em front econômico estável e permanente (BARROS, 1995, p.192). 
É uma área que pode ser considerada como refúgio dos últimos indígenas contatados. Para o Monte Roraima, inspirações como a de the lost world (o mundo perdido) foram imaginadas pela sua distância e isolamento, realidade que pode ser considerada, em alguns aspectos, na atualidade.
Analisando a política demarcatória, a intenção de formalização de qualquer fronteira obedece a fases seqüenciais, tais como: negociação, delimitação, formalização de um tratado, demarcação, densificação e, finalmente, a inspeção permanente (FREITAS, 1998, p.155). 
Ao longo de séculos, de ocupação européia, na América do Sul, vários esforços diplomáticos foram realizados para estabelecer suas bases territoriais. O Tratado de Tordesilhas, de 17 de junho de 1494, o Tratado de Madri, de 1750 e o Tratado de Santo Idelfonso, de 1777, iniciaram a formação territorial do Brasil e do continente. Merecem destaque: em 1807, a viagem de Alexander von Humboldt, o Tratado de Caracas em 1859, o Tratado do Rio de Janeiro em 1928, os Protocolos de 1905, 1912 e 1928, o Tratado de Londres de 1901, o Tratado de Roma de 1904, a Convenção Especial e Complementar de 1926 e os Acordos de 1930 e 1932 que conseguiram estabelecer a atual fronteira. [24: Prefácio de José Sarney ao livro Fronteira Brasil/Venezuela, encontros e desencontros, de Aimberê Freitas, 1998.]
Esse imenso território colonizado por portugueses e espanhóis, teve, ao longo do tempo, diferentes formas de penetração e ocupação. Havia, segundo Semerene, (2001, p.27), “ (...) permanente indefinição quanto aos limites entre os dois grandes domínios (...).” 
Considerando o Tratado de Tordesilhas, o espaço da atual Amazônia Legal, de acordo com a linha divisória, era quase todo espanhol antes do processo de interiorização que resultou no atual território brasileiro. 
O domínio português na região foi formalizado a partir de diferentes fatos históricos, entre eles a fundação do Forte do Presépio em 1616, que originou a cidade de Belém, a criação do estado do Maranhão em 1621 e a nova conquista do rio Amazonas por Pedro Teixeira em 1634. Como Portugal estava sob o domínio espanhol, com a sucessão das famílias reais entre 1580 e 1640, esta conquista se consolidou a partir da União Ibérica. 
Com relação especifica as terras do rio Branco – Roraima

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