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AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I FISIOPATOLOGIA DA NUTRIÇÃO E DIETOTERAPIA I Aula 14: Doenças do intestino delgado AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Sintomas comuns de disfunção intestinal (BEYER, 2010) Esteatorreia: Consequência da má absorção na qual a gordura não absorvida permanece nas fezes. O limite superior de gordura fecal normal é de 7%. A esteatorreia pode resultar: • Insuficiência biliar secundária à hepatopatia, obstrução biliar, síndrome da alça cega ou ressecção ileal; • Insuficiência pancreática; • Falha de absorção normal devido ao dano da mucosa (doença celíaca, doença de Crohn); • Reesterificação de gordura diminuída. A esteatorreia é um sintoma. A causa subjacente de má-absorção deve ser determinada e tratada. AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Categorias de reações adversas a alimentos (SCHWARTZ & SEMRAD, 2016) AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Intolerância à lactose (CHEMIM, 2007) Inabilidade para digerir completamente a lactose, o açúcar predominante do leite. • A lactase é uma beta galactosidase, que tem predomínio no jejuno e é localizada no ápice das vilosidades; • Lactose não digerida: permanece no intestino e atua osmoticamente. As bactérias colônicas fermentam a lactose gerando ácidos graxos de cadeia curta e gases. Sintomas • Cólicas, flatulência, dor, náuseas/vômitos e diarreia osmótica. Causas de Hipolactasia do tipo adulto • Cirurgia do intestino delgado, desuso prolongado do trato digestório (NPT). AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Alergia alimentar (SPERIDIÃO & MORAIS, 2014) Principais Alimentos Alergênicos Tratamento: exclusão ou eliminação do alergéno alimentar (“dieta de exclusão”). AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Doença celíaca ou enteropatia sensível ao glúten (BEYER, 2010; SEMRAD, 2016) É uma enteropatia que afeta o intestino delgado proximal em crianças e adultos geneticamente predispostos, precipitada pela ingestão de glúten. Peptídeos Agressores • Glutenina e gliadina (trigo); • Hordeína (cevada); • Secalina (centeio, incluindo o malte); • A gliadina e a glutenina são ricas em prolina e glutamina (prolaminas) - potentes ativadores da resposta imunológica na doença celíaca. Representação histológica do intestino delgado normal e na doença celíaca pré e pós retirada do glúten. Fonte: Clínica Médica, 2016 AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Doença celíaca ou enteropatia sensível ao glúten (SEMRAD, 2016) Epidemiologia • Prevalência mundial em caucasianos é de 1%; • Aumento do Índice de diagnósticos: cultivo de grãos de trigo com maior quantidade de glúten, infecção por rotavírus (aumenta a permeabilidade intestinal) e mudanças na prática de amamentação (introdução de uma pequena quantidade de glúten entre 5 e 7 meses de idade pode impedir ou retardar o advento em crianças geneticamente susceptíveis); • Geralmente se manifesta entre 1 a 2 anos, e na vida adulta em qualquer idade. ID- intestino delgado AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Doença celíaca ou enteropatia sensível ao glúten (SEMRAD, 2016) Fisiopatologia • Os peptídeos de gliadina cruzam o epitélio intestinal; • Na lâmina própria, tornam-se mais negativamente carregados, mediante a conversão da glutamina em ácido glutâmico pela transglutaminase tecidual (tTg) ligadas à bolsa positivamente carregadas de moléculas HLA-DQ2 e DQ8; • Esses antígenos ativam a célula T, que resultam na liberação de interferon-y e em inflamação intestinal; • A gliadina também atua diretamente no epitélio intestinal, para estimular a liberação de IL 15. IL-interleucina AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Doença celíaca ou enteropatia sensível ao glúten (BEYER, 2010) Classificação HLA- complexo maior de histocompatibilidade AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Doença celíaca ou enteropatia sensível ao glúten (SEMRAD, 2016) Manifestações Clínicas Adultos • Diarreia (50%); • Gases; • Inchaço; • Perda de peso; • Depressão; • Ansiedade; • Fadiga crônica; • Infertilidade; • Amenorreia. Má-absorção e desnutrição AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Doença celíaca ou enteropatia sensível ao glúten (SEMRAD, 2016) Diagnóstico • Biópsia Duodenal - padrão ouro do diagnóstico; • Atrofia vilosa com hiperplasia das criptas; aumento de linfócitos intraepiteliais e de linfócitos e plasmócitos na lâmina própria; • Acomete o intestino delgado proximal (o 1º lugar de exposição ao glúten é o duodeno); • Teste Genético - útil para excluir o diagnóstico de DC; quando os resultados da biópsia duodenal são duvidosos, e para avaliar o risco em parentes de 1º grau; • Avaliar a presença de alelos de risco HLA-DQ2 ou DQ-8. Fonte: Clínica Médica, 2016 DC-doença celíaca AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Doença celíaca ou enteropatia sensível ao glúten (SEMRAD, 2016) Teste de Detecção de Anticorpos - necessário somente dosar um marcador. • Anticorpo antiendomísio (EMA) - preditiva de progressão para atrofia de vilosidades; • Anticorpo antitransglutaminase tecidual (anti-tTG) - é o mais eficiente. Pode ser realizado retirada capilar ou na saliva; • Anticorpo Antigliadina (AGA IgA) - sensibilidade e especificidade insatisfatória e não é mais usado. Testes sorológicos são usados para apoiar o diagnóstico, triar grupos de alto risco e monitorar adesão à dieta. Anticorpos ficam negativos após 3-12 meses de dieta. AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Doença celíaca ou enteropatia sensível ao glúten (SEMRAD, 2016) Consequências Nutricionais AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Recomendação nutricional - Doença celíaca ou enteropatia sensível ao glúten (Adaptado da CHEMIM, 2007) Sintomas clássicos desaparecem após 2 a 8 semanas de dieta sem glúten. AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Legislação - Doença celíaca ou enteropatia sensível ao glúten www.anvisa.gov.br • Lei nº 8543, de 23/12/1992 - determina que todas as empresas que produzam alimentos com glúten mantenham a inscrição (Contém glúten) na embalagem dos produtos; • Lei federal nº 10.674/2003 - determina o uso das expressões "Contém Glúten" e "Não contém glúten", conforme o caso, no rótulo dos alimentos brasileiros; • Resolução – RDC nº 137, de 29/05/2003 - obriga aos fabricantes de remédio a identificarem no rótulo se o medicamento contém glúten em sua formulação. AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Síndrome da alça cega (LEITE & BRANCO, 2016) Crescimento bacteriano excessivo resultante de estase no TGI Etiologia: da secreção ácida pelo estômago (gastrite atrófica, antiácidos, cirurgias gástricas); da motilidade intestinal (diabetes ou esclerodermia);condições anatômicas e pós-cirúrgicas; Crescimento bacteriano (interfere): ação dos sais biliares, integridade das microvilosidades, absorção de nutrientes (vit. B12 e ácido fólico); Recomendação Nutricional; • Dieta sem lactose; • Uso de TCM; • Vit. B12 parenteral. TGI-trato gastrointestinal; vit.- vitamina; TCM- triglicerídeo de cadeia média AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Síndrome do intestino curto (WAITZBERG, 2009) Ressecções maciças que envolvem mais de 75% do intestino Etiologia • Doença vascular mesentérica, câncer e doença de Crohn; Ressecções Distais • Falta de sais biliares e problemas na absorção de gorduras; • Prejuízo na absorção vit. B12; • Deficiência de vitaminas lipossolúveis; • Deficiência de cálcio, magnésio e zinco (formação de sabões insolúveis com ácidos graxos); • Maior risco de formação de cálculos de oxalato pela maior absorção deste no cólon. AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Síndrome do intestino curto (WAITZBERG, 2009) Ressecções Distais • Irritação no cólon por sais biliares e AG não absorvidos; • Na ausência de válvula ileocecal, ocorre refluxo de conteúdo bacteriano colônico, desconjugação dos sais biliares e utilização bacteriana de vit. B12. Ressecções Proximais • Hipersecreção gástrica; • Inativação da lipase pancreática por acidez gástrica; • Insuficiência pancreática por redução da secretina e colecistoquinina; • Carga osmótica dos açúcares não absorvidos (falta das dissacaridases). AG- ácidos graxos ; vit.- vitamina AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Síndrome do intestino curto (WAITZBERG, 2009) Fase Inicial da SIC • Dura em média 1 a 3 meses; • Fase logo após a ressecção intestinal; • Desequilíbrio hidroeletrolítico; • Incapacidade de usar o trato digestório; • Controle de quadros infecciosos relacionados ao cateter venoso profundo; • Controle da diarreia e hiperglicemia. Recomendações Nutricionais • Reposição hidroeletrolítica. Atentar para os níveis de K, Ca, P e Mg; • Início da TNP - 3 a 4 dias no pós-operatório. SIC- síndrome do intestino curto; TNP- terapia nutricional parenteral; K- potássio; Ca- cálcio; P- fósforo; Mg- magnésio AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Síndrome do intestino curto (WAITZBERG, 2009) Fase Intermediária da SIC • Transição TNP/TNE; • Processo adaptativo; • Desmame progressivo da TNP e introdução da TNE; • TNE tem efeito trófico; • Atentar para a composição da dieta (carboidratos, lipídeos e proteínas) e osmolaridade. Recomendações Nutricionais • Energia: 30-40 Kcal/Kg de peso ideal/dia. Dobrar recomendação para aqueles que perderam 50% ou mais do seu intestino; • Proteínas: 1,5 a 2,0g/Kg/dia. SIC- síndrome do intestino curto; TNP- terapia nutricional parenteral; TNE- terapia nutricional enteral. A absorção da ingestão calórica total é de 65%, que deve ser compensada. AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Síndrome do intestino curto (WAITZBERG, 2009) Fase Tardia da SIC • Fase crônica - 3 a 12 meses - 2 anos; • Máxima adaptação intestinal deve ser atingida; • Ocorre a dependência ou independência da TNP; • Prevenção de complicações da SIC ou da TN; • Término do processo adaptativo intestinal. Recomendações Nutricionais • Alimentação VO; • 6 a 8 refeições/dia; • Dieta pobre em resíduos e rica em fibras solúveis; • Hiperproteica, hipercalórica, pobre em gordura e com restrição de lactose e sacarose; • Vitaminas lipossolúveis parenteral. SIC- síndrome do intestino curto; TNP- terapia nutricional parenteral; TN- terapia nutricional ; VO- via oral AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Fístulas digestivas (WAITZBERG, 2009) Comunicação anormal entre dois órgãos ou entre um órgão e o exterior • Localização: interna e externa; • Débito: alto > 500 mL/dia, médio entre 200 e 500 mL/dia, baixo < 200 mL/dia; • Causas: PO e espontâneas; • Consequências: local da fístula, local de drenagem e volume de líquido drenado; • Complicações: perdas hidroeletrolíticas (desequilíbrio ácido-básico e eletrolítico); desnutrição (perda de proteínas, vitaminas); inflamação (sepse). Fechamento espontâneo x Fechamento cirúrgico PO- pós operatória AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Absorção e secreção de líquidos pelo trato digestório (LEITE & BRANCO, 2016) AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Fístulas digestivas (WAITZBERG, 2009) Tratamento • Correção dos distúrbios hidroeletrolíticos; • Descompressão nasogástrica; • Redução do débito pelo estoma; • Supressão farmacológica das secreções gastrointestinais; • Drenagem por sucção; • Proteção da pele; • Diagnóstico e controle precoce da infecção. Recomendação Nutricional • Proteínas: 1,5 a 2g/kg; • Reposição de vitaminas e minerais: acompanhar bioquímica. Zinco: 10 a 15mg/L de débito; • Nutrição Enteral vs Parenteral. AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I • Sintomas gastrointestinais inexplicáveis como flatulência, dor abdominal e diarreia podem frequentemente estar associados a níveis baixos de atividade de dissacaridases intestinais; • Nova abordagem da doença celíaca é a digestão da proteína do glúten, utilizando uma endopeptidase na dieta ou em alimentos que contenham glúten; • As futuras terapias propostas para a doença celíaca incluem trigo geneticamente modificado; grãos de trigo primitivo não tóxicos (Triticum monococcum) e inibidores de interleucina 15, de bolsas de ligação DQ-2 e DQ- 8 ou de transglutaminase tecidual. Considerações finais AULA 14: DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I CUPPARI, L. Nutrição Clínica no Adulto. 3. ed. Editora Manole, 2009. Cap.: 19, págs.: 471-478. MAHAN, L. Kathleen; ESCOTT-STUMP, Sylvia. Krause - Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. Cap.: 27, págs.: 673-689. MARTINS, M.A.; CARRILHO, F. J.; ALVES, V. A. F. et al. Clínica Médica, volume 4: doenças do aparelho digestivo, nutrição e doenças nutricionais. São Paulo: Manole, 2016. Cap.: 12, págs.: 151- 159. ROSS, A. C.; CABALLERO, B.; COUSINS, R; TUCKER, K. L.; ZIEGLER, T. R. Nutrição Moderna de Shils na Saúde e na Doença. 11. ed. Rio de Janeiro: Manole, 2016. Caps.: 79 e 80, págs.: 1095-1108. WAITZBERG, D. L. Nutrição Oral, Enteral e Parenteral na Prática Clínica. Rio de Janeiro: Editora Atheneu, 2009. Bibliografia complementar AVANCE PARA FINALIZAR A APRESENTAÇÃO. Assuntos da PRÓXIMA AULA Anatomia do Intestino Grosso; Constipação; Doença Hemorroidária; Síndrome do Intestino Irritável.
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