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A devolução de Crianças e Adolescentes durante o estágio de convivência.

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0 
 
UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA 
ÁREA DAS CIÊNCIAS HUMANAS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
KÁTINA JAÍNE MARCOLIN 
 
 
 
 
 
 
A RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DA DEVOLUÇÃO 
INJUSTIFICADA DE CRIANÇAS OU ADOLESCENTES DURANTE O ESTÁGIO DE 
CONVIVÊNCIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Maravilha(SC) 
2017 
 
1 
 
KÁTINA JAÍNE MARCOLIN 
 
 
 
 
 
 
 
A RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DA DEVOLUÇÃO 
INJUSTIFICADA DE CRIANÇAS OU ADOLESCENTES DURANTE O ESTÁGIO DE 
CONVIVÊNCIA 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de 
Direito, Área das Ciências Humanas, da Universidade do 
Oeste de Santa Catarina, Campus de Maravilha como 
requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em 
Direito. 
 
 
 
 
 
Orientadora: Profª Alexandra Vanessa Klein Perico 
 
 
 
 
 
 
 
 
Maravilha(SC) 
2017 
 
2 
 
 
SUMÁRIO 
2 A HISTÓRIA DA ADOÇÃO............................................................................. 9 
2.1 A EVOLUÇÃO DO DIREITO DE FAMÍLIA..................................................... 9 
2.1.1 A Adoção no Direito Romano e Grego............................................................. 11 
2.1.2 A Adoção na Idade Média.................................................................................. 13 
2.1.3 A Adoção na Idade Moderna............................................................................. 13 
2.1.4 A Adoção no Código Civil de 1916.................................................................... 15 
2.1.5 A Adoção na Constituição Federal de 1988...................................................... 16 
2.1.6 A Adoção no Código Civil de 2001 e a Lei nº 8.069 – Estatuto da Criança e 
do Adolescente.................................................................................................... 
17 
2.2 PODER FAMILIAR............................................................................................. 20 
2.2.1 Limitações ao exercício do poder familiar: perda, suspensão e destituição.. 22 
3 A RESPONSABILIDADE CIVIL E O DEVER DE 
INDENIZAR....................................................................................................... 
26 
3.1 REPONSABILIDADE CIVIL: ORIGEM DO INSTITUTO E 
PRESSUPOSTOS GERAIS................................................................................. 
27 
3.2 TEORIAS E SEUS PRESSUPOSTOS................................................................ 35 
3.2.1 Teoria Subjetiva da Responsabilidade Civil.................................................... 35 
3.2.2 Teoria Objetiva da Responsabilidade Civil...................................................... 36 
3.3 O DANO E SUA QUANTIFICAÇÃO................................................................ 37 
4 A ADOÇÃO: A (IM) POSSIBILIDADE DE CONFIGURAR O DEVER 
DE INDENIZAR NAS DEVOLUÇÕES OCORRIDAS DURANTE O 
ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA....................................................................... 
45 
4.1 ADOÇÃO: QUEM ESTÁ APTO PARA ADOTAR E SER ADOTADO............ 45 
4.2 CARACTERÍSTICAS E MODALIDADES DE ADOÇÃO............................... 46 
4.2.1 Características.................................................................................................... 46 
4.2.2 Modalidades........................................................................................................ 47 
4.2.2.1 Adoção Unilateral................................................................................................ 47 
4.2.2.2 Adoção Póstuma................................................................................................... 48 
4.2.2.3 Adoção à Brasileira.............................................................................................. 49 
4.2.2.4 Adoção Internacional........................................................................................... 51 
4.2.2.5 Adoção intuiu personae....................................................................................... 55 
4.3 O PROCEDIMENTO PARA ADOÇÃO: OS CANDIDATOS............................ 56 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4.4 ESTATÍSTICAS SOBRE A ADOÇÃO NO BRASIL.......................................... 58 
4.5 O ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA E SEUS OBJETIVOS................................. 59 
4.6 A DEVOLUÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES DURANTE O 
ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA: DEVER DE INDENIZAR?........................... 
62 
4.6.1 Precedentes jurisprudenciais............................................................................ 73 
5 CONCLUSÃO .................................................................................................... 77 
 REFERÊNCIAS................................................................................................. 79 
4 
 
KÁTINA JAÍNE MARCOLIN 
 
 
 
 
A RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DA DEVOLUÇÃO 
INJUSTIFICADA DE CRIANÇAS OU ADOLESCENTES DURANTE O ESTÁGIO DE 
CONVIVÊNCIA 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao 
Curso de Direito, da Universidade do Oeste de Santa 
Catarina, como requisito parcial para a obtenção do 
título de Bacharel em Direito. 
 
 
Aprovada em ___/___/____ 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 __________________________________________________ 
Profª Alexandra Vanessa Klein Perico 
Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC 
 
 
__________________________________________________ 
Profº Nédio Dariva Pires de Lima 
Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC 
 
 
 
 
 
 
5 
 
RESUMO 
 
 O presente trabalho de conclusão de curso trata sobre a perspectiva de responsabilização civil 
dos pretendentes à adoção e o dever de indenizar por danos provocados, em virtude da 
desistência da medida durante o estágio de convivência. Tal análise se faz a partir dos 
princípios da proteção integral, da dignidade da pessoa humana e do melhor interesse da 
criança e do adolescente, todos estampados na Constituição Federal de 1988 e no Estatuto da 
Criança e do Adolescente. Almejou-se evidenciar o cabimento e a importância da reparação 
por danos morais causados em crianças e adolescentes que sofrem com a devolução imotivada 
às instituições de acolhimento. Para isso, disserta-se sobre a evolução histórica do instituto da 
adoção e as modificações sofridas no ordenamento jurídico brasileiro, particularmente com o 
surgimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, que ocasionou uma mudança de 
paradigma em relação ao papel ocupado pelos infantes na sociedade. Analisar-se-á ainda, os 
motivos que possibilitam a responsabilização civil devido à devolução dos adotandos durante 
o estágio de convivência, uma vez da inexistência de legislação que verse sobre o assunto. 
 
Palavras-chave: Adoção; desistência; estágio de convivência; responsabilidade civil; dano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
ABSTRACT 
 
The present work of conclusion of course deals with the perspective of civil responsibility of 
the pretenders to the adoption and the duty to indemnify for damages caused, due to the 
waiver of the measure during the stage of coexistence. This analysis is based on the principles 
of integral protection, the dignity of the human person and the best interest of the child and 
the adolescent, all stamped in the Federal Constitution of 1988 and the Statute of the Child 
and Adolescent. It was hoped to highlight the importance and the importance of reparation formoral damages caused to children and adolescents who suffer from the unimpeded return to 
the host institutions. In order to do so, the article discusses the historical evolution of the 
adoption institute and the changes undergone in the Brazilian legal system, particularly with 
the emergence of the Child and Adolescent Statute, which led to a paradigm shift in relation to 
the role of infants in society. It will also analyze the reasons that allow civil responsibility due 
to the return of adoptees during the stage of coexistence, once there is no legislation that deals 
with the subject. 
 
Word-keys: Adoption; Withdrawal; Stage of coexistence; civil responsability; damage. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho trata sobre a possibilidade de reparação civil, no que pese a 
indenização por dano moral, na eventual devolução de crianças e adolescentes durante o 
estágio de convivência às instituições de acolhimento. O principal questionamento deste 
trabalho é a respeito da responsabilização civil e o dever de indenizar ou não, crianças e 
adolescentes que tenham passado pela experiência de novo abandono. 
O tema é muito pertinente, ainda que não haja vedação legal para tal ato e que a 
adoção apenas se efetiva e passa a ter caráter irrevogável após o trânsito em julgado da 
sentença, argumenta-se que o estágio de convivência não pode amparar o fundamento para a 
devolução e por consequência, causar dano emocional ou psicológico às crianças e 
adolescentes. 
 A análise da possibilidade de responsabilização civil dos pretendentes à adoção torna-
se inevitável, particularmente, diante da repetição de situações desse gênero, demonstrando 
descaso com os sentimentos do adotando, além de configurar grave ofensa a sua dignidade. 
O tema abordado se justifica por sua valia para proteger o melhor interesse de crianças 
e adolescentes, de modo que a lei deve ser interpretada a seu favor. Ao colocar a criança ou o 
adolescente em família substituta, acredita-se que esse novo núcleo familiar seja capaz de lhes 
oferecer um ambiente sadio para o seu desenvolvimento e também atenuar o histórico de 
rejeição já vivenciado. O estágio de convivência serve propriamente para observar se o 
adotado está se adaptando ao novo ambiente familiar e se a adoção efetivamente lhe trará 
benefícios, não se traduzindo em favor dos adotantes. 
 O presente trabalho se dividirá em três capítulos, a saber: 1) A história da adoção, a 
evolução do direito de família e o poder familiar; 2) A responsabilidade civil e o dever de 
indenizar e suas teorias; e 3) A possibilidade do dever de indenizar dos adotantes pela 
desistência durante o estágio de convivência. 
O primeiro capítulo discutirá a história da adoção, abordando a evolução do direito de 
família. Também, analisar-se-á o instituto sob o Código Civil de 2002 e a Lei n. 8.069/1990 – 
Estatuto da Criança e do Adolescente, de modo a demonstrar as alterações sofridas pelo 
instituto no ordenamento jurídico brasileiro. Por fim, será abordado o poder familiar e suas 
limitações. 
Por sua vez, o segundo capítulo tratará sobre o instituto da responsabilidade civil e o 
dever de indenizar, falando sobre a origem do instituto e os pressupostos exigidos, bem como 
abordando as teorias, quais sejam, responsabilidade civil subjetiva quanto no caso de 
8 
 
responsabilidade civil objetiva. 
No terceiro capítulo, se dissertará quanto a (im)possibilidade de indenização por dano 
moral diante da desistência da adoção durante o estágio de convivência. Será analisado quem 
está apto para adotar e ser adotado, as características da adoção e suas modalidades. Também, 
as estatísticas da adoção no Brasil e os objetivos do estágio de convivência. Por fim, 
apresentará decisões dos tribunais brasileiros acerca do tema, demonstrando posições 
favoráveis e contrárias acerca da configuração do dano moral e a possibilidade de 
indenização. 
O estudo se desenvolveu mediante pesquisa bibliográfica, procurando identificar os 
entendimentos jurisprudenciais e doutrinários acerca do tema, com a análise de diversos 
artigos sobre a matéria. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
2 A HISTÓRIA DA ADOÇÃO 
 
A evolução cultura, histórica e social, do mesmo modo que as conquistas na área do 
Direito vêm reforçando que a justiça tem como propósito acompanhar a necessidade da 
população, visto que a dignidade das pessoas humanas prevalece, tendo como finalidade 
colocar em primeiro plano das prioridades o ser humano, o cidadão. 
A adoção é um dos institutos que tem por finalidade, a de proporcionar ao cidadão o 
atendimento às suas necessidades e estabelecer o bom convívio social, instituto este que será 
objeto de estudo. 
Será abordada a evolução histórica e legislativa do instituto da adoção, ressaltando os 
aspectos relevantes da história e as legislações que regulamentaram a adoção no Brasil, dentre 
estes, o Estatuto da Criança e do Adolescente, que forma a base da adoção nos moldes atuais, 
da mesma forma que o Código Civil de 2002, busca regulamentar. 
 
2.1 A EVOLUÇÃO DO DIREITO DE FAMÍLIA 
 
A família pode ser considerada a unidade social mais antiga, a qual, historicamente, 
mesmo antes do homem se estabelecer em comunidade, constituía-se em um conjunto de 
pessoas relacionadas a partir de um ancestral comum ou através do matrimônio. A família era 
uma unidade econômica, religiosa, política e jurisdicional ao mesmo tempo (WALD, 2002). 
Todos os membros da família assumiam obrigações morais entre si, sob a liderança do 
ancestral comum, conhecido como “patriarca”, normalmente da linhagem masculina, símbolo 
da unidade da entidade social, reunindo-se em uma mesma comunidade todos seus 
descendentes, os quais compartilhavam de uma identidade cultural e patrimonial. Essas 
primeiras entidades familiares, unidas por laços sangüíneos de parentesco, receberam o nome 
de clãs (MIRANDA, 2001). 
Com o crescimento territorial e populacional, essas organizações familiares tiveram 
que se associar promovendo o surgimento das primeiras tribos, grupos sociais compostos de 
corporações de grupos de descendentes. Deste modo, a organização primitiva das famílias, 
estabelecida principalmente nas relações de parentesco sanguíneo, foi o primórdio das 
primeiras sociedades humanas organizadas (MIRANDA, 2001). 
O termo “família” advém da expressão latina famulus, que significa “escravo 
doméstico”, que designava os escravos que trabalhavam de forma legalizada na agricultura 
familiar das tribos ladinas, situadas onde hoje se localiza a Itália (MIRANDA, 2001). 
10 
 
Com o desenvolvimento de sociedades mais complexas, na qual os laços sanguíneos 
eram cada vez mais dissolvidos entre a população, ganha importância no Direito da Roma 
Antiga a expressão família natural, formada apenas por um casal e seus filhos. Ao contrário 
dos clãs, que se formavam a partir da relação de parentesco com um ancestral comum, 
a família natural romana originava-se através de uma relação jurídica, o casamento 
(MIRANDA, 2001). 
Não obstante a importância do afeto na relação matrimonial, o modelo romano de 
família mantinha a estrutura de poder despótico, “concentrados sob a patria potestas do 
ascendente comum vivo mais velho”. O poder do patriarca era dividido empater familias, o 
chefe da família natural, o qual exercia seu poder sobre os seus descendentes não 
emancipados, sua esposa e com as mulheres casadas com seus descendentes (WALD, 2002). 
A família natural foi adaptada pela Igreja Católica, que transformou o casamento em 
instituiçãosacralizada e indissolúvel, e única formadora da família cristã, formada pela união 
entre duas pessoas de diferentes sexos, unidas através de um ato solene, e por seus 
descendentes diretos, a qual ultrapassou milênios e predomina até os dias atuais (CASTRO, 
2002). 
Destaca-se dentro do modelo canônico de família a importância destinada ao sexo, 
sendo que a relação carnal entre os nubentes tornou-se requisito de validade para a 
convalidação da união. Esta condição estabelecida pelo direito eclesiástico é fruto da 
indissociação entre o matrimônio e a procriação, função primordial da união e que poderia 
ocorrer após o sacramento do casamento (CAPARELLI, 1999). 
 
Entendia-se dessa forma que o fim do matrimônio enquanto instituição era a 
procriação e, por conseguinte, a educação da prole, o que tornava justificável a 
prática do ato sexual dos cônjuges, autorizado no seio dessa instituição como 
remédio (...) 
 
A evolução da família, em específico no interior das sociedades ocidentais, 
fundamentou-se na consanguinidade entre seus integrantes, originando-se grandes ordens 
familiares provenientes de um singular patriarca. Gradativamente, essa formação foi 
substituída por núcleos familiares menores, compostos a partir do laço entre homens e 
mulheres por meio de ato solene, chamado casamento, que foi enraizado e sacralizado pela 
Igreja Católica (GOMES, 1998). 
A família iniciou sua passagem para a contemporaneidade com o ingresso da mulher 
no mercado de trabalho por volta de 1950 e com a conquista da igualdade entre os cônjuges. 
11 
 
O afeto passou a ser um elemento essencial para a união entre pessoas, tornando-as cúmplices 
do amor e da felicidade, formando assim, entidades familiares diversas, tuteladas ou não pelo 
Direito (CAROSSI, 2003). 
A família contemporânea se faz distinta pela diversidade, fundamentada pela 
incansável procura pelo afeto e felicidade. Dessa forma, a filiação também tem seus alicerces 
no afeto e na convivência, abrindo brechas para a possibilidade da filiação não ser 
simplesmente aquela que decorre dos laços de sangue, mas da mesma forma do amor e da 
convivência, como é o caso da filiação socioafetiva (CAROSSI, 2003). 
 
 2.1.1 A Adoção no Direito Romano e Grego 
 
Em Roma, o instituto da adoção ganha notável desenvolvimento, acompanhando as 
transformações da família romana, que nos primeiros tempos tinha uma concepção 
eminentemente pública ou política, não determinada necessariamente pelos laços sanguíneos. 
O parentesco chamado agnatício compreendia todos os que estavam debaixo do poder de 
um pater familae (SIQUEIRA, 1992). 
Na Fase Romana existiam três formas de adoção: arrogatio (ad- 
rogação), a adoptio (adoção) e aadoptio per testamentum (adoção por testamento). Na “ad-
rogação” um pater familae era adotado por outro pater familae, juntamente com o seu 
patrimônio, tornando-se, por isso, um incapaz pois perdia seus bens e família para o adotante. 
Este deveria ter mais de sessenta anos e ser, pelo menos, dezoito anos mais velho que o 
adotado. Na adoptio, que era a adoção propriamente dita, o adotando mudava de uma família 
para outra, o adotante deveria ser homem, com diferença de 18 anos em relação ao adotando e 
não possuir filhos legítimos ou adotados. Como em Roma existia culto aos mortos, existia a 
adoptio per testamentum, terceira modalidade de adoção, em que os efeitos da mesma 
ocorriam após a morte do testamenteiro, deixando, dessa forma, herança ao nome, bens e os 
deuses ao adotado (GRANATO, 2010). 
A história mostra que um grande número de filhos adotivos tornaram-se imperadores 
em Roma: Scipião Emiliano, César Otaviano, Calígola, Tibério, Nero, Justiniano. No fim da 
República, Cláudio, para chegar ao tribunato, fez-se adotar por um plebeu, e Galba adotou 
Pison, homem do povo, para que ele continuasse as tradições de seu governo (COULANGES, 
1961). 
A fim de continuar a sacra privata, ou por motivos políticos, para assegurar sucessor 
ao príncipe; para transformar plebeus em patrícios; para atribuir o jus civitatis, a um latino, 
12 
 
era relevante a adoção entre os romanos, pois servia, entre outras coisas, para dar herdeiro a 
quem não os tinha, por motivos de família. Constituía-se da adoção propriamente chamada de 
adoptio, que entre os romanos é o ato pelo qual o allieni juris, homem ou mulher, sai da 
família de origem para colocar-se sob outra patria potestas, ou seja, da família do adotante 
(CHAVES, 1994). 
A adoptio ou adoção, em sentido estrito, ou propriamente dita do direito romano, é a 
que mais se assemelha à concepção moderna do instituto. Esse tipo de adoção possuía os 
seguintes requisitos em relação à pessoa do adotante: deveria este último ser sui juiris 
(homem), ser mais velho ao menos dezoito anos que o adotado, e não possuir filhos legítimos 
ou adotados (CHAVES, 1994). 
Em Roma, à época de Justiniano, havia duas espécies de adoptio: 1. A plena; e 2. A 
minus plena. A primeira tinha a finalidade de conceder pátrio poder a quem não o tinha, 
porém somente entre membros da mesma família natural ou de sangue. A adoptio minus 
plena, em contrapartida, se caracterizava por manter os laços de parentesco do adotivo com 
sua família natural, ficando sob o pátrio poder de seu pai de sangue. Neste caso, na 
eventualidade de o adotante falecer sem testamento (ab intestato), o filho adotivo concorria à 
sucessão. Praticada entre pessoas estranhas, este tipo de adoção exigia a presença do 
magistrado para concretizá-la (MARCILIO, 2001). 
Na Grécia Antiga, mais especificamente em Atenas, a adoção poderia ser vista como 
um ato extremamente formal, de cunho religioso, onde apenas os cidadãos, que eram os 
homens livres maiores de 18 anos e que tinham posse, possuíam o direito de adotar. As 
mulheres não poderiam adotar vez que não eram cidadãs, porém poderiam ser adotados, assim 
como os homens (GRANATO, 2010). 
Quando a mulher não poderia ter filhos ou ainda só tinha dado a luz a crianças do sexo 
feminino e não tinha outro membro do sexo masculino que pudesse manter as oferendas, 
então se recorria para a adoção (REDE, 1999). 
Desta forma, passava a conviver com os costumes, éticos, morais, culturais e 
religiosos deixando para trás toda e qualquer costumes religiosos a família que pertencia ou 
cultuava, pois, a partir do momento em que passava ser membro daquela família, teria que se 
dedicar somente a mesma, tendo assim obrigação de continuar os ritos religiosos dos que 
eram agora sua família e antepassados do mesmo modo como seu pater adotivo, que, após a 
sua morte, passava as obrigações para este seu filho do qual adotou, que também assumiria 
total controle sobre os negócios da família, tendo também que, deixar sempre um herdeiro 
para que após a sua morte lhe prestassem homenagens fúnebres e aos deuses da religião 
13 
 
correspondente àquela família, para que esse também viesse a abençoar sua família. Era 
assim, pois, que funcionava a adoção na Grécia, levada pelo medo de não descansar em paz a 
quem não fosse rendido homenagens (REDE, 1999). 
A adoção também era a saída para homens que não haviam contraído o matrimonio, 
segundo a Lei de Licurgo de Esparta, visto que o celibato não era permitido e as famílias eram 
constituídas com o principal intuito de procriar, então estes adotavam para não sofrerem as 
sanções que Licurgo os impunha (JAEGER, 2001). 
 
2.1.2 A Adoção na Idade Média 
 
A Idade Média foi época de grandes conflitos com muitas perdas humanas. As guerras 
empreendidas durante a civilização e organização da sociedade germana admitiam a adoção 
com objetivo de aumentar o numero de guerreiros e dar continuidade às lutas empreendidas 
pelos pais e famílias dos adotados,tendo como efeito, conferir ao adotado o nome, as armas e 
o poder publico do adotante (ARIÉS, 2003). 
Durante o período medieval, as crianças eram, em sua maioria, aprendizes de tarefas 
domésticas e tinham por função servir aos adultos. A prática corrente era de se entregar as 
crianças para outras famílias a fim de serem educadas em algum ofício. Os mestres 
transmitiam aos filhos de outras famílias o conhecimento do trabalho e seus valores. Nessas 
condições, a criança, desde muito cedo, escapava da sua própria família, mesmo que voltasse 
a ela mais tarde, depois de adulta, o que nem sempre acontecia. Era uma época em que as 
relações afetuosas e com sentimentos mais profundos entre pais e filhos, não ocorriam, porque 
não havia tempo para isto. A adoção não se acomodava aos costumes e às instituições dessa 
época, caindo em desuso, por ser considerada contraria aso direitos eventuais dos senhores 
sobre os feudos (ARIÉS, 2003). 
 
2.1.3 A Adoção na Idade Moderna 
 
Foi no Direito Francês, início da Idade Moderna, que a adoção renasce, adoção através 
do Código Napoleônico (séc. XIX), dando a ele novos fundamentos e regulamentando-o de 
forma a satisfazer aos interesses do Imperador Napoleão Bonaparte, o qual não tinha filhos e 
pretendia adotar um de seus sobrinhos para que o sucedesse no Império. Entretanto, só era 
reconhecida a adoção de maiores de idade, devendo o adotante contar com idade mínima de 
50 anos (WALD, 2005). 
14 
 
 Sobre a adoção na França, Wald (1999, p. 188) muito bem lecionou: 
Coube à França ressuscitar o instituto, dando-lhe novos fundamentos e 
regulamentando-o no Código Napoleão, no início do século XIX, com interesse do 
próprio Imperador, que pensava adotar um dos seus sobrinhos. A lei francesa da 
época só conheceu a adoção em relação a maiores, exigindo por parte do adotante 
que tenha alcançado a idade de cinqüenta anos e tornando a adoção tão complexa e 
as normas a respeito tão rigorosas que pouca utilidade passou a ter, sendo de rara 
aplicação. Leis posteriores baixaram a idade exigida e facilitaram a adoção, 
permitindo que melhor desenvolva o seu papel na sociedade moderna. 
O Código Napoleônico estabeleceu quatro tipos de adoção: 
Adoção ordinária: permitia que pudessem adotar pessoas com mais de cinquenta 
anos, sem filhos e com a diferença de mais de quinze anos do adotado; previa a 
alteração do nome e a determinação de ser o filho adotivo herdeiro do adotante. Era 
contrato sujeito a homologação judicial. 
- Adoção remuneratória: prevista na hipótese de ter sido o adotante salvo por 
alguém, poderia então, adotar essa pessoa. 
- Adoção testamentária: permitia ao tutor, após cinco anos de tutela. 
- Adoção oficiosa: que era uma espécie de “adoção provisória”, em favor dos 
menores (GRANATO, 2013). 
 
 
Foi a legítima legislação francesa, que trazia ao adotado o desligamento total de sua 
família biológica e integrado totalmente a família substituta, sendo ele órfão devido a morte 
dos pais ou simplesmente abandonado ou em casos de gratidão por salvar a vida de alguém, 
podendo o mesmo ser acolhido, integrado e ter plenos direitos como menciona acima nos 
tipos que Napoleão estabeleceu (GRANATO, 2013). 
A respeito do direito português daquela época, sua definição não era desenvolvida 
com plenitude, diferente dos outros direitos como, por exemplo, o romano, o direito português 
tinha efeito apenas se o príncipe autorizasse para que fosse aberta algo adverso da lei existente 
e a filiação só servia para pedir títulos de alimentos. Esse direito não foi acolhido, vindo mais 
tarde a entrar em vigor no surgimento do Código Civil de 1966, nas formas de adoção plena 
(GRANATO, 2013). 
Assim destaca Eunice Ferreira Granato (2013, p. 42): 
 
Assim, a adoção, no direito português antigo era um título de filiação que servia 
apenas para pedir alimentos e ter outras distinções: só por graça do príncipe, por lei 
especial, poderia ter todas as consequências que existiam no Direito Romano. 
Não foi acolhida a adoção no Código Civil português de 1867, mais foi restaurada 
pelo Código Civil de 1966, nas formas de adoção plena e de adoção restrita. 
 
 
 
 
15 
 
2.1.4 A Adoção no Código Civil de 1916 
 
A forma de adoção no Código Civil de 1916 foi muito criticada pelas suas restrições, 
como, por exemplo, o parentesco do adotado ser apenas com os pais adotivos. Assim, era a 
previsão do art. 336 que preconizava ser o parentesco resultante da adoção meramente civil, 
sendo limitado, por força do art. 376, apenas entre adotante e adotado (BRASIL, 1916). 
Segundo esta orientação, pode-se dizer que havia discriminação e preconceito entre 
filhos legítimos e filhos adotados que acabou por gerar mudanças no Código Civil de 2002. 
Durante a vigência do Código Civil de 1916, a adoção era realizada através de escritura 
pública, da qual não se admitia condição ou termo. Não havia a intervenção judicial no ato da 
Adoção, efetivando-se esta, presentes os requisitos, apenas com a averbação da escritura da 
Adoção no Registro Civil, salvo quanto aos impedimentos matrimonias estabelecidos pelo art. 
183, do referido código: 
 
CC/16 - Lei nº 3.071 de 01 de Janeiro de 1916 
Art. 183. Não podem casar (arts. 207 e 209): 
[...] 
II - os afins em linha reta, seja o vínculo legítimo ou ilegítimo; 
III - o adotante com o cônjuge do adotado e o adotado com o cônjuge do adotante 
(art. 376); 
[...] 
 
 Inicialmente, o Código Civil de 1916, determinava que a adoção geraria seus efeitos 
ainda que o adotante viesse a ter filhos, a não ser que já houvessem sido concebidos no 
momento da adoção e que os direitos e deveres resultantes do parentesco natural não se 
extinguiam pela Adoção, com exceção do pátrio poder, que era transferido para o pai adotivo 
(SÁ, 1986). 
Ao ser instituído o Código Civil de 1916, a adoção tinha sentido diverso do atual, 
sendo a única forma de adoção, de natureza negocial que objetivava principalmente à pessoa 
dos adotantes, afastando para segundo plano os interesses do adotado, ao contrário do aspecto 
moderno pretendido pelo instituto, que busca atender necessariamente à pessoa destes. Seus 
modelos estavam fundados no passado com uma instituição destinada a dar filhos àqueles que 
não tinham e não podiam ter (SÁ, 1986). 
Somente era permitida a adoção para pessoas que não possuíssem prole legítima ou 
legitimada. Desta forma, quem não possuísse filhos, mas tivesse netos legítimos ou 
legitimados também não poderia adotar. Só era concedido o direito a adoção para duas 
pessoas, caso fossem marido e mulher. Não se permitia a adoção por homem e mulher se não 
16 
 
fossem unidos pelo matrimônio, nem tampouco por casais do mesmo sexo (FONSECA, 
2006). 
O Código Civil de 1916 vigorou em uma época de discriminação por não julgar capaz 
para ser pai ou mãe pessoas que não atendessem às determinações legais e religiosas como 
homens e mulheres que não eram legalmente casados, como casais homoafetivos e as pessoas 
solteiras. Para a legislação, eram pessoas “incapazes” e não podiam assumir a paternidade e a 
maternidade (FONSECA, 2006). 
 
2.1.5 A Adoção na Constituição Federal de 1988 
 
Inspirada nos Direitos Fundamentais, a Constituição Federal de 1988 deu atenção 
significativa ao instituto da adoção, no art. 227, § 6º que dispõe: “os filhos, havidos ou não da 
relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas 
quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação” (BRASIL, 1988). 
Assim, a Constituição Federal deixou de atender as formas de adoção até então 
vigentes (civil, simples e plena), equiparando em direitos e qualificações a condição defilho, 
fossem ou não provenientes de relação de casamento ou por adoção. Desta forma, não seria 
mais necessária à coexistência das três formas de adoção até então vigentes (civil, simples e 
plena), pois estas apresentavam diferentes efeitos em relação à condição dos adotados. 
Percebe-se que as antigas formas de adoção sugeriam discriminação em relação aos filhos 
adotivos que não possuíam os mesmos direitos que os filhos legítimos (CARVALHO, 2009). 
Enquanto o adotado plenamente estaria legalmente equiparado aos filhos de sangue 
(legítimos, legitimados e naturais reconhecidos), com os mesmos direitos e deveres, os 
adotados, em consonância com as regras que disciplinam a adoção civil e simples, seriam 
considerados filhos de segunda categoria. A princípio, seria do entendimento de que estariam 
assim revogados os dispositivos no Código Civil relativos à Adoção, bem como no Código do 
Menor, em relação às disposições sobre a Adoção Simples. Com relação aos maiores de 18 
anos, no entanto, continuavam os mesmos dispositivos da adoção Civil do Código de 1916 
(CARVALHO, 2009). 
 
 
 
 
17 
 
2.1.6 A Adoção no Código Civil de 2002 e a Lei nº 8.069 de 1990 - Estatuto da Criança e 
do Adolescente 
 
O Código Civil de 2002 trata da Adoção nos artigos 1.618 a 1.629. Tal como 
promulgado, abordando de forma ampla, diversos institutos, o referido diploma, sem dúvida 
trará problemas de interpretação o que gerará, muito em breve modificações intensas 
(BRASIL, 2002). 
Anterior ao Código de 2002, podia-se considerar três espécies de adoção: simulada, 
civil e estatutária. A simulada, também conhecida como adoção “à brasileira”, é uma criação 
da jurisprudência. 
 
a) A expressão "adoção simulada" foi empregada pelo Supremo Tribunal Federal ao 
se referir a casais que registram filho alheio, recém-nascido, como próprio, com a 
intenção de dar-lhe um lar, de comum acordo com a mãe e não com a intenção de 
tomar-lhe o filho. Embora tal fato constitua, em tese, uma das modalidades do crime 
de falsidade ideológica, na esfera criminal tais casais eram absolvidos pela 
inexistência do dolo específico. Atualmente, dispõe o Código Penal que, nesse caso, 
o juiz deixará de aplicar a pena. No cível, o Supremo manteve o mesmo 
entendimento, não determinando o cancelamento do registro de nascimento, 
afirmando tratar-se de uma adoção simulada. 
b) A adoção civil era a tradicional, regulada no Código Civil de 1916, também 
chamada de restrita porque não integrava o menor totalmente na família do adotante, 
permanecendo o adotado ligado aos seus parentes consangüíneos, exceto no tocante 
ao poder familiar, que passava para o adotante. Com a entrada em vigor do Estatuto 
da Criança e do Adolescente ficou limitada aos maiores de dezoito anos. 
 c) Adoção estatutária era a prevista no mencionado diploma para os menores de 
dezoito anos. Era chamada, também, de adoção plena, porque promovia a absoluta 
integração do adotado na família do adotante, desligando-o completamente da sua de 
sangue, exceto no tocante aos impedimentos para o casamento. Como o referido 
Estatuto e omisso no tocante à adoção do nascituro (GONÇALVES, 2006). 
 
 
Alguns doutrinadores como, Venosa (2006), Gonçalves (2006) e Carvalho (2010), 
dentre outros, afirmam que a Lei n.º 8.069/90, como microssistema jurídico regente dos 
direitos e garantias das crianças e dos adolescentes, não foi revogada pelo novo ordenamento 
jurídico que se impõe, devendo esta ser aplicada em tudo o que não conflitar com o Novo 
Código Civil. Podemos citar como exemplo prático, a maioridade que se atinge ao completar 
18 anos, estando-se apto a todos os atos da vida civil. Dessa forma, salvo para o ato 
infracional e seus efeitos, cujo fundamento é diverso, tudo o que se referir a capacidade civil e 
suas consequências, não mais se observa a antiga regra do Estatuto da Criança e do 
Adolescente que faz menção aos 21 anos de idade. 
18 
 
No novo Código Civil, o instituto da adoção compreende tanto a de crianças e 
adolescentes como a de maiores, exigindo procedimento judicial em ambos os casos 
(GONÇALVES, 2006). 
 Não cabe, portanto, qualquer alteração de nomenclatura, devendo ambas serem 
chamadas unicamente de “adoção”. Foram reproduzidos, quase que em sua totalidade e com 
algumas alterações de redação, os dispositivos do Estatuto. Contudo, o novo código não traz 
normas procedimentais, não tratando da competência jurisdicional. Mantendo-se, portanto, a 
atribuição exclusiva do Juiz da Infância e da Juventude para conceder a adoção e observar os 
procedimentos previstos no mencionado Estatuto, no tocante aos menores de dezoito anos 
(GONÇALVES, 2006). 
 Quanto à natureza jurídica, informa Gonçalves (2006, p. 97): 
 
A adoção é negócio bilateral e solene. Todavia, a partir da constituição de 1988, 
passou a constituir-se por ato complexo, a exigir sentença judicial, destacando-se o 
ato de vontade e o nítido caráter institucional. Os principais requisitos constantes do 
novo Código Civil são: a) idade mínima de dezoito anos para o adotante (art. 1.618); 
b) diferença de dezesseis anos entre adotante e adotado (art. 1.619); c) 
consentimento dos pais ou dos representantes legais de quem se deseja adotar; d) 
concordância deste, se contar mais de doze anos (art. 1.621); e) processo judicial 
(art. 1.623); f) efetivo benefício para o adotando (art. 1.625) 
 
 
O novo Código Civil revogou a legislação do Código Civil de 1916, buscou manter, no 
possível, as determinações, que se formara de dispendiosos estudos doutrinários e 
jurisprudenciais, adequando-se, contudo, aos princípios da Constituição de 1988 e à evolução 
social. A adoção, após o novo Código Civil, passou a ser irrestrita com importantes reações 
nos direitos de personalidade e nos direitos sucessórios. Terminava a dicotomia da adoção em 
“Simples” e “Plena” (DINIZ, 2007). 
Com a revogação da legislação, anterior o novo Código, acabou-se com a modalidade 
de adoção por escritura pública do antigo Código de 1916 e acresceu a forma de adoção plena 
contemplada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente a adotandos de qualquer idade, 
seguindo os demais requisitos legais (DINIZ, 2007). 
A redução da idade mínima foi a principal inovação trazida pela nova lei civil, 
reduzindo de 21 anos para 18 anos, permitindo ainda a adoção por pessoas casadas ou que 
vivam em União Estável, desde que um deles tenha completado esse mínimo de idade. Essa 
redução decorre da diminuição da própria menoridade civil pelo novo Código. Manteve, 
contudo, como forma de se respeitar a natureza, a diferença mínima de 16 anos entre adotante 
e adotando nos moldes das legislações anteriores (DINIZ, 2007). 
19 
 
Rodrigues (2002, p. 389) completa que se estabeleceu também, ao tratar do 
consentimento para a Adoção, que este pode ser revogado até a publicação da sentença 
constitutiva da Adoção (art. 1621, § 2º), e quanto a essa possibilidade de revogação do 
consentimento, não agiu bem o legislador, conforme observou: 
 
Permitir a retratação do consentimento, até a publicação da sentença, se for ela 
manifestada no final do processo, certamente trará numerosos transtornos 
processuais, além de ensejar significativo desgaste emocional ao menor, se já 
adaptado, no estágio de convivência e guarda provisória, à nova família, podendo 
representar traumática frustração das expectativas do menor e dos próprios 
adotantes. 
 
No ano de 1990, em 13 de julho, criou-se o Estatuto da Criança e do Adolescente pela 
Lei 8.069 que veio a revogar totalmente o Código do Menor de 1979. Diante da criação do 
Estatuto da Criança e do Adolescente e os novos princípios que a Constituição Federal trazia 
para o campo do Direito de Família, restava saber seainda seguiriam em vigor as disposições 
sobre Adoção existentes no Código Civil (LISBOA, 1996). 
Promulgou-se então o Estatuto da Criança e do Adolescente que já em seu art. 1º 
estabeleceu sua função primordial de proteção integral à criança e ao adolescente, 
considerando, para os efeitos legais, criança, a pessoa até 12 anos de idade incompletos, e 
adolescente, aquela entre 12 e 18 anos de idade (BRASIL, 1988). 
A Adoção no Estatuto é disposta entre os art. 39 a 52 sendo somente permitida ao 
adotando de, no máximo 18 anos de idade, à data do pedido, salvo se já se encontrasse sob a 
guarda ou tutela dos adotantes (BRASIL, 1990). 
Para Lisboa (1996), a formalização para a adoção pelo Estatuto da Criança e do 
Adolescente, é necessário o processo judicial, sendo competente o juízo da Vara da Infância e 
Juventude, independente da situação jurídica do menor, se abandonado ou em situação 
regular. 
Essa disposição leva à conclusão de que o Estatuto da Criança e do Adolescente não é 
aplicável, exclusivamente, pelas Varas da Infância e Juventude e, não sendo o caso de ameaça 
ou violação aos direitos fundamentais da criança ou adolescente, a competência para conhecer 
dos pedidos de tutela ou guarda será das Varas de Família (PEREIRA, 2003). 
O juízo territorialmente competente para apreciação do pedido de adoção será o do 
foro do domicílio dos pais ou responsável pela criança ou adolescente, ou ainda do local onde 
ela se encontrar, à falta dos pais ou responsável (art. 147, I e II do Estatuto da Criança e do 
Adolescente) (BRASIL, 1990). 
20 
 
Percebe-se que o Estatuto da Criança e do Adolescente apresenta sensíveis inovações 
ao instituto da Adoção no Brasil que procuraram atender aos princípios da Constituição 
Federal de 1988, declarando a igualdade de direitos que o ato da adoção confere ao filho 
adotado, em relação aos filhos consanguíneos, aos quais se igualam em todos os direitos, ate 
mesmo sucessórios, afastando o vínculo jurídico do adotado com os parentes consanguíneos, 
salvo para os efeitos matrimoniais. Estabeleceu a necessidade de procedimento judicial para a 
Adoção, bem como proibiu a Adoção por meio de procuração (VENOSA, 2006). 
Venosa (2006) ressalta que antes do novo Código Civil em 2002, era o Estatuto da 
Criança e do Adolescente a lei que regulava o instituto da adoção. Assim, após o CC de 2002, 
os dispositivos do Estatuto, incompatíveis com a nova legislação foram revogados. Mas, no 
geral, os dispositivos do Estatuto da Criança e do Adolescente foram protegidos no Código 
Civil de 2002 que inseriu apenas algumas modificações. 
 
2.2 PODER FAMILIAR 
 
Na Antiguidade o pater tinha poderes ilimitados sobre os filhos, enquanto a mãe, 
totalmente submissa, nada podia decidir quanto à educação dos filhos. A evolução do referido 
instituto foi no sentido do termo “poder familiar”, antes intitulado pátrio-poder, deixar de ser 
o poder que o pai detinha sobre a vida e morte dos filhos, passando a ser um munus público, 
um poder/dever dos pais no interesse dos filhos. Foi em virtude do reconhecimento dos filhos 
como seres humanos dotados de dignidade, que se passou a reconhecer seus direitos, 
destacando o direito/dever de convívio com ambos os pais, independente de coabitação 
(OLIVEIRA, 1995). 
Oliveira (1995, p. 353), afirma que o poder familiar é um instituto jurídico destinado a 
proteger os filhos menores. 
No mesmo sentido, Elias (1999, p.6) retrata o poder familiar como: “um conjunto de 
direitos e deveres, em relação à pessoa e aos bens dos filhos menores e não emancipados, com 
a finalidade de propiciar o desenvolvimento integral de sua personalidade”. 
Com base na política de proteção absoluta às crianças e adolescentes, o Estatuto da 
Criança e do Adolescente, estabeleceu o direito dos filhos de serem protegidos e cuidados 
pelos pais. Desta forma, cabe ao pai e à mãe, em igualdade de condições, o exercício do poder 
familiar, dirigir e comandar a estrutura da família, devendo sempre buscar a felicidade e o 
afeto mútuo, para que os filhos tenham a possibilidade de preparar-se e desenvolver-se como 
cidadãos a fim de alcançar a ampla e irrestrita dignidade humana (OLIVEIRA, 1995). 
21 
 
O poder familiar compõe uma responsabilidade partilhada entre os genitores, de 
prestar aos filhos, enquanto civilmente incapazes, o necessário ao seu sustento, 
proporcionando-lhes, alimentação, vestuário, educação, moradia, lazer, assistência à saúde, 
em conformidade com os artigos 227 da Constituição Federal e o 22 do Estatuto da Criança e 
do Adolescente, art. 22: “Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos 
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as 
determinações judiciais” (BRASIL, 1990). 
Diniz (2007, P. 515), destaca que “o poder familiar decorre tanto da paternidade 
natural como da filiação legal, e é irrenunciável, intransferível, inalienável e imprescritível. 
As obrigações que dele fluem são personalíssimas”. 
Refere-se a um dever conferido pelo Estado aos pais, no intuito de que estes protejam 
o futuro de seus filhos, que serão posteriormente entregues à sociedade. O poder familiar “é 
uma espécie de função similar a um encargo privado, sendo o poder familiar um direito-
função e um poder-dever, que estaria numa posição intermediária entre o poder e o direito 
subjetivo”. É, portanto, um dever atribuído pelo Estado aos pais, em benefício dos filhos, de 
forma irrenunciável (DINIZ, 2007). 
O estado de filiação é imprescritível e irrenunciável, conforme institui o artigo 27 do 
ECA. Monteiro (2003, p. 121) destaca: 
 
Essa imprescritibilidade descansa na conexão existente entre o interesse do 
individuo e o do Estado. Além disso, o status families implica coincidência de 
direitos e deveres, que impede que alguém se isente de seus deveres, despojando-se 
dos direitos que porventura lhe assistam. Nesse sentido a súmula 149 do STF. 
 
O poder familiar compreende disposições legais dos deveres atribuídos aos pais, para 
que cuidem dos interesses de seus filhos menores. Os deveres do poder familiar, entretanto, 
podem ser delegados a outras pessoas que não seja os pais, mas o poder familiar, em sua 
totalidade, é indelegável e irrenunciável. (GOMES, 2000) 
O poder familiar confere aos pais diversos deveres e direitos irrenunciáveis, dentre os 
quais o dever de tê-los em sua guarda e companhia. Os pais devem estar presentes na vida de 
seus filhos e esse dever é fundamental para que estes possam crescer e se desenvolver. Desta 
forma, mesmo no caso de não haver coabitação com os pais ou nos casos de separação, o 
poder familiar persistirá conjuntamente aos deveres intrínsecos a ele, devendo ser respeitados 
e cumpridos integralmente (GOMES, 2000). 
22 
 
O poder familiar “conserva ainda, a natureza de uma relação de autoridade, por haver 
um vínculo de subordinação entre pais e filhos, pois os genitores têm o poder de mando e a 
prole, o dever de obediência”. Destaca-se que a autoridade do pai é em benefício do 
desenvolvimento do filho e o poder de mando deve ser exercido dentro dos limites da lei, sem 
haver abusos (DINIZ, 2007). 
De acordo com Diniz (2007, p. 378) o poder familiar: 
 
Compreende o conjunto de faculdades encomendadas aos pais, como instituição 
protetora da menoridade, como fim de lograr o pleno desenvolvimento e a formação 
integral dos filhos, seja físico, mental, moral, espiritual ou socialmente. A autoridade 
paternal é o veículo instrumentalizador de direitos fundamentais dos filhos, de modo 
a conduzi-lo à autonomia responsável. 
 
A autoridade dos pais concentra-se, principalmente na educação e criação dos filhos, 
estabelecendolimites para que desde cedo compreendam o sentido das normas e que estas 
devem ser respeitadas. Os pais conscientes de sua tarefa como educadores deverão preparar 
os filhos para a vida em sociedade (MIRANDA, 2001). 
 
2.2.1 Limitações ao exercício do poder familiar: perda, suspensão e destituição. 
 
O poder de família é atribuição característica dos pais e deve durar por toda a 
menoridade, não sendo possível a sua renúncia voluntária, ademais essa atribuição é 
irrenunciável, inalienável e indelegável. Assim, sempre que comprovada a existência de fato 
incompatível com o exercício do poder de família configura-se a possibilidade de suspensão 
ou até mesmo perda do poder (COMEL, 2003). 
A suspensão é uma restrição no exercício da função dos pais e está regulada no artigo 
1.637 do Código Civil e assim dispõe: “Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando 
aos deveres a ele inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum 
parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do 
menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha” (BRASIL, 2006). 
Entende-se que a suspensão é a interrupção transitória do exercício do poder familiar 
por decisão judicial com fundamentação definida em lei. É medida temporária utilizada 
quando houver abuso da atribuição dos pais que cause prejuízo e vai permanecer durante 
necessária e conveniente aos interesses do filho (COMEL, 2003). 
23 
 
Representa medida menos severa e facultativa, podendo ser sujeita a reavaliação. 
Existe a possibilidade de ser decretada com referência a um único filho e não toda prole, bem 
como, pode ser suspenso parcial ou total (DIAS, 2007). 
Suspende-se o mencionado poder quando o genitor empregar o filho em atividade 
proibida ou diversa a moral, ou em práticas que deixem em risco sua saúde, vida e 
moralidade. No entanto, é fundamental que haja responsabilidade do pai no procedimento 
(RIZZARDO, 2006). 
O artigo 24 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe a cerca da perda e 
suspensão do poder familiar: 
 
A perda e a suspensão do pátrio poder serão decretadas judicialmente, em 
procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na 
hipótese de descumprimento injustificado os deveres e obrigações a que alude o art. 
22. (BRASIL, 2006) 
 
 
Conforme o que dispõe o artigo acima citado, a suspensão e a perda do poder de 
família serão decretadas judicialmente, qualquer que seja a causa que motiva tal medida. É 
importante proporcionar as partes envolvidas a possibilidade de ampla defesa, para afirmar a 
imparcialidade e a justiça na decisão. Os artigos 155 a 163 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente estabelece o rito a ser seguido. É importante salientar que a suspensão atinge 
somente o exercício e não a titularidade da função paterna, esta permanece intacta (COMEL, 
2003). 
Toda suspensão é provisória, não definitiva e deve perdurar enquanto durar os motivos 
que a causaram, guardando preliminarmente o interesse do menor. Essa medida pode ser 
revista e modificada sempre que cessarem os fatos que a provocaram (COMEL, 2003). 
A doutrina distingue perda de extinção. Perda é uma penalidade imposta por sentença 
judicial, enquanto a extinção ocorre pela morte, emancipação ou extinção do sujeito passivo. 
O artigo 1.635 do Código Civil traz as hipóteses de extinção acima citadas e acrescenta a 
extinção pela maioridade, pela adoção do filho por terceiros e em virtude de decisão judicial, 
no entanto, não há nenhuma conotação punitiva (COMEL, 2003). 
O primeiro motivo que extingue o poder de família é o falecimento de um dos pais ou 
do filho, com a morte dos pais desaparece o sujeito ativo e dessa maneira, não há maneiras de 
manter alguma ligação protetivo com o filho (COMEL, 2003). 
A segunda hipótese mencionada pelo artigo 1.635 do Código Civil de 2002 é a 
emancipação nos termos do artigo 5°, § único do mesmo código. O menor emancipado se 
24 
 
equipara em tudo ao maior. Com a cessação da incapacidade do filho, há a extinção do poder 
familiar que tem por finalidade a proteção do incapaz (COMEL, 2003). 
Os incisos contidos no paragrafo único do art. 5° do Código Civil menciona algumas 
formas de emancipação do menor: 
 
Art. 5° A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica 
habilitada à pratica de todos os atos da vida civil. 
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: 
I – pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento 
público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, 
ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; 
II- pelo casamento; 
III – pelo exercício de emprego público efetivo; 
IV – pela colação de grau em curso de ensino superior. 
 
 
A primeira possibilidade de emancipação é aquela proporcionada por qualquer um dos 
pais ou de ambos, desta forma, tornando o filho maior e assim dando a ele capacidade civil 
antes da idade legal (RIZZARDO, 2006). 
O artigo 1.635, inciso III do Código Civil, trata da extinção do poder de família devido 
a maioridade civil. Se dá aos 18 anos completos, quando o pai passa a ser isento do dever de 
ampla proteção ao filho, o que não quer dizer que ele deva diminuir o interesse no futuro do 
filho, nem mesmo deixar de dedicar-se a vida que lhe deu(COMEL, 2003). 
Com a adoção afasta-se o poder familiar entre a família biológica, passando esse poder 
para os pais adotantes. Alguns doutrinadores consentem que não há extinção do poder de 
família nesse caso, o que acontece é uma substituição de quem o exerce (RIZZARDO, 2006). 
A última modalidade expressa de extinção do poder familiar é por meio de decisão 
judicial que a decreta, conforme art. 1.638 do Código Civil de 2002. Previamente, a perda do 
poder familiar não era causa de extinção, com a redação do novo Código Civil, passou a se 
entender que seja qual for à modalidade de perda, motivará extinção (RIZZARDO, 2006). 
A extinção do poder familiar se da de forma automática e natural, tendo como efeito a 
cessação definitiva da função paterna, acaba o dever de proteção que existia entre os pais e os 
filhos. A destituição do poder familiar é uma medida judicial de extrema gravidade, pois é 
através dela que os pais que falharam no cumprimento de seus deveres para com seus filhos 
menores de idade são definitivamente proibidos de exercer tal encargo (RIZZARDO, 2006). 
Neste sentido, afirma Arnaldo Rizzardo (2009, p.625) que, “Aspecto de maior 
relevância diz respeito à perda do poder familiar, que ocorre em casos de suma gravidade na 
infringência dos deveres paternais”. 
25 
 
Distintamente da suspensão, na destituição do poder familiar a penalidade aplicada aos 
pais tem caráter definitivo, visto que eles desrespeitaram gravemente com os deveres que lhes 
são atribuídos. 
O Código Civil de 2002 traz em seu artigo 1.638 as hipóteses que ocasionam a 
destituição do Poder Familiar. 
Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que: 
I - castigar imoderadamente o filho; 
II - deixar o filho em abandono; 
III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes; 
IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente. 
 
 
Além destas hipóteses previstas no Código Civil de 2002, o Estatuto da Criança e do 
Adolescente determina ainda que caso os pais descumpram os deveres que lhes são atribuídos, 
como os de guarda, sustento e educação dos filhos menores de idade, também ocorrerá a 
destituição do poder familiar (RIZZARDO, 2006). 
Percebe-se desta maneira que a intenção do legislador é proteger a Criança e o 
Adolescentede todos os atos de seus genitores que possam ser nocivos ao seu 
desenvolvimento, visando o cumprimento dos princípios da dignidade da pessoa humana, da 
proteção integral e do melhor interesse da Criança e do Adolescente, previstos na 
Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (RIZZARDO, 2006). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
3 A RESPONSABILIDADE CIVIL E O DEVER DE INDENIZAR 
 
A responsabilidade civil, no âmbito do direito de família, recai sobre os contornos de 
interações familiares que possam a vir a prejudicar algum de seus membros, assim sendo, para 
se analisar a incidência da responsabilidade civil no âmbito da família, se deve se ater ao fato 
de que as relações familiares são compostas por uma pluralidade de interações entre seus 
membros, sendo que algumas destas formas de interações podem causar danos a um ou mais 
dos componentes desta família. Estes danos podem ser de natureza material, ou de natureza 
psicológica, onde, neste caso são subjetivas, os danos causados à psique de um dos membros 
da família, não pode ser aferidos por critérios unicamente objetivos (GUILHERME, 2013). 
Contudo, este não é o entendimento empregado pelos peritos judiciais. O dano 
psicológico, apesar de ser tipo um dano extrapatrimonial, não é considerado necessariamente 
de natureza moral: 
O dano psicológico é definido como sendo extrapatrimonial, mas não necessariamente 
de natureza moral. Nesse sentido, é possível dizer que o dano psicológico é 
perfeitamente caracterizável e avaliável, haja vista, que as consequências psicológicas 
são demonstráveis (ex: alterações perceptivas, depressão, fobias, tentativas de suicídio, 
dentre outros). O dano psicológico pode ser objeto de indenização, desde que fique 
caracterizado como uma incapacidade que importe uma lesão de tal entidade que 
implique alteração ou perturbação significativa do equilíbrio emocional da 
vítima, cujas consequências resultem em descompensação que afete gravemente sua 
integração ao meio social (MACIEL, 1998). 
 
 
Nesta conjuntura, a valoração e extensão do dano moral é incumbência atribuída ao 
julgador, vez que o dano moral lesa o íntimo do ofendido, sem possibilidade de análise 
técnica, sendo que as alegações devem ser capazes somente de atingir o livre convencimento 
do magistrado (GONCALVES, 2009). 
A responsabilidade civil parte da opinião que todo sujeito que violar um dever jurídico 
por meio de um ato lícito ou ilícito, tem a obrigação de reparar, uma vez que todos têm um 
dever jurídico originário que é o de não gerar danos a outrem e ao infringir este dever jurídico 
originário, passa-se a ter um dever jurídico sucessivo, o de reparar o dano que foi causado 
(CAVALIERI, 2008). 
A palavra "responsabilidade" surgiu do verbo latin respondere, conceituando que 
quando alguém, à frente de uma ação ou omissão ocasionar um dano, este tem o dever de 
responsabilizar-se, assumindo quaisquer resultados que este dano tenha causado 
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2003). 
27 
 
 A reparação do dano levaria de fato a um equilíbrio, o qual a parte prejudicada 
retornaria a sua condição anterior como se não lhe teria acontecido. O principal propósito da 
ordem jurídica é o de preservar o lícito e coibir o ilícito, no mesmo momento em que ela se 
dedica em tutelar a atividade do homem que se comporta de acordo com o Direito e reprimir a 
conduta daquele que contraria (BITTAR, 1994). 
 
3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL: ORIGEM DO INSTITUTO E PRESSUPOSTOS 
GERAIS 
 
O termo responsabilidade é utilizado em várias áreas da ciência, dispondo de 
significados diversos conforme o contexto. No âmbito filosófico, responsabilidade é “a 
possibilidade de antever os efeitos da própria conduta e de corrigi-la com base em tal previsão 
[...]”. Em contrapartida, a ideia jurídica de responsabilidade traz o indivíduo para um patamar 
distinto da filosofia, pois neste âmbito científico tem como propósito o de exprimir a 
obrigação de reparar um dano, vinculada a ideia de compensação por um prejuízo causado 
(ABBAGNANO, 2003). 
O termo responsabilidade possui conexão direta com o conceito de obrigação de 
caráter contratual proveniente do direito romano, onde a responsabilidade associava o devedor 
ao credor por meio de um contrato realizado verbalmente, com perguntas e respostas. A 
expressão responsabilidade não surgiu para simbolizar a obrigação de reparar um dano, mas 
sim com o intuito que o devedor confirmava possuir com o credor uma obrigação, garantida 
desta forma por uma caução (AZEVEDO, 2004). 
No âmbito do direito civil, o tema da responsabilidade contempla o ramo do direito 
obrigacional, relativo ao dever, segundo o qual a conduta humana está ligada ao seu fim, 
econômico ou social, e, na casualidade do descumprimento da obrigação, surge, então, o 
dever de compensar o dano causado (STOCO, 2007). 
Apesar dos conceitos de responsabilidade civil e obrigação serem muito semelhantes, 
possuem concepções distintas: 
 
[...] a responsabilidade civil, nós a diferenciamos da obrigação, surge em face do 
descumprimento obrigacional. Realmente, ou o devedor deixa de cumprir um 
preceito estabelecido num contrato, ou deixa de observar o sistema normativo, que 
regulamenta sua vida. A responsabilidade nada mais é do que o dever de indenizar o 
dano. (LIMONGI FRANÇA, 1977, p. 332). 
 
28 
 
A responsabilidade civil tem uma vasta e lenta evolução histórica. De maneira geral, o 
dano causado pelo ilícito sempre foi rejeitado pelo Direito. O que se remodelou ao longo da 
trajetória humana foi tão somente o modo de ação contra os danos sofridos em virtude de um 
ato praticado em descumprimento a um dever de conduta (DINIZ, 2009). 
Inicialmente na evolução histórica da responsabilidade civil, a culpa do agente 
responsável pelo dano não era considerada, bastando, meramente, a ação ou omissão deste e o 
dano sofrido pela vítima para que o agente fosse responsabilizado. Neste período os costumes 
comandavam as regras de convivência social, levando os atingidos a reagir de forma direta e 
violenta contra o causador do dano. Essa ação lesiva do ofendido era exercida mediante a 
vingança coletiva, caracterizada pela “reação conjunta do grupo contra o agressor pela ofensa 
a um de seus componentes” (DINIZ, 2009). 
O marco inicial da responsabilidade civil em Roma se associa com o período das 
vinganças coletivas, estabelecendo que a retaliação, antes pertencente ao grupo dominante, 
passasse a ser reconhecida e legitimada pelo Poder Público. É a chamada vingança 
privada, ou vendetta. Vigorava a Lei de Talião, sintetizada pela ideia de “olho por olho, dente 
por dente”. Bastava o dano efetivamente sofrido pela vítima para provocar “a reação imediata, 
instintiva e brutal do ofendido” (GONÇALVES, 2009). 
Por este motivo a desnecessidade ou inaplicabilidade da culpa do ofensor. 
 
O talião, aplicado primeiramente pelos povos do Oriente Médio e depois por outros 
que foram influenciados por eles, como os da bacia mediterrânea (chegando à Roma 
do tempo da Lei das XII Tábuas, que é de meados do século V a.C.), representou 
outro progresso, com a reciprocidade que representava, entre ofensa e castigo – 
mesmo que hoje pareçam chocantes preceitos como o contido no § 230 do Código 
de Hammurabi (de começos do século XVIII a.C.), segundo o qual se a casa 
construída ruísse e matasse o filho do proprietário, o filho do construtor deveria ser 
morto. (NORONHA, 2007, p. 528) 
 
Durante este período o poder público por vezes mantinha-se inerte, intervindo 
meramente para declarar quando e como a vítima poderia ter o direito de retaliação, para 
produzir no ofensor um dano idêntico ao queexperimentou. (DINIZ, 2009). 
O período que adveio ao da vingança privada é o da composição, onde a vítima passou 
a reparar as vantagens e conveniências pela troca da violência pela reparação econômica do 
dano. Desta forma, surgiu o princípio pelo qual o patrimônio do agente ofensor precisaria 
responder por suas dívidas e não mais sua pessoa. Emerge então as tarifações para 
determinadas formas de dano, como aquelas instituídas pelo Código de Ur-Nammu, Código 
de Manu e Lei das XII Tábuas (FIUZA, 2011). 
29 
 
As ideias primárias sobre diferenciação de pena e reparação foram definidas pelos 
romanos, ante a distinção entre delitos públicos e privados. Por consequência, o delito público 
tinha uma implicação mais elevada, quando havia violação de norma jurídica que o Estado 
considerava de relevante importância social, enquanto o delito privado era a ofensa feita à 
pessoa ou aos seus bens (ALVES, 2003). 
O conceito de reparar o dano indevidamente causado surge em uma época tanto 
quanto recente da história do Direito, pois, primeiramente a responsabilidade civil e penal se 
confundiam, sendo futuramente separadas, empregando no que se cabe a responsabilidade 
civil, a indenização e, relativo à responsabilidade penal, a pena (VENOSA, 2009). 
Contudo, apenas com o surgimento da Lei de Aquilia é que se inicia um princípio 
norteador para a reparação do dano. Essa norma “[...] foi um plebiscito aprovado 
provavelmente em fins do século III ou no início do século II a.C., que possibilitou atribuir ao 
titular de bens o direito de obter o pagamento de uma penalidade em dinheiro de quem tivesse 
destruído ou deteriorado seus bens” (VENOSA, 2009). 
A Lei de Aquilia é vista como marco primordial para a utilização da culpa na 
obrigação de indenizar, ocasionando a responsabilidade extracontratual, também denominada 
“responsabilidade aquiliana” a partir da qual a conduta do causador do dano é medida pelo 
grau de culpa com que atuou. Após este período, o Estado assumiu definitivamente 
o ius puniendi, tomando para si a função de punir os ofensores da ordem jurídica. Surge então 
a ação de indenização derivada da responsabilidade civil. (VENOSA, 2009). 
Na Idade Média, como consequência dos princípios e normas romanas, o direito foi 
aperfeiçoando a responsabilidade civil em toda a Europa Medieval, especialmente no direito 
francês, sendo que pouco a pouco, foram convencionados certos princípios, que exerceram 
sensível influência nos outros povos: direito à reparação sempre que houvesse culpa, ainda 
que leve, separando-se a responsabilidade civil (perante a vítima) da responsabilidade penal 
(perante o Estado); a existência de uma culpa contratual (a das pessoas que descumprem as 
obrigações) e que não se liga nem a crime nem a delito, mas se origina da negligência ou da 
imprudência (GONÇALVES, 2009). 
Apenas nos séculos que se seguiram à Idade Média, especialmente no século XVIII, é 
que houve a absoluta distinção entre a responsabilidade civil e penal, com determinações de 
penas, quando houvesse violação penal e aquela delimitada à sua atribuição basilar de 
reparação de danos, no âmbito privado (NORONHA, 2007). 
A Idade Moderna foi marcada pela transformação de paradigma no fundamento da 
responsabilidade civil, que passou a se estabelecer na quebra do equilíbrio patrimonial 
30 
 
causado pelo dano. Houve então uma mudança do enfoque da culpa, como acontecimento 
centralizador da indenização, para o dano. (VENOSA, 2009). 
A mudança de padrão se deu especialmente em razão do aumento do progresso, da 
industrialização e do aumento dos danos, que ocasionaram a origem de novas teorias dentro 
da responsabilidade civil, capazes de proporcionar uma maior proteção às vítimas. Desta 
forma, se deu a origem e estabilização da teoria do risco, vista sob o aspecto objetivo, quando 
alguém sofre um dano, aquele que tira proveito da atividade perigosa deve repará-lo, 
independentemente da existência de culpa (GONÇALVES, 2009). 
No Brasil, a responsabilidade civil atravessou vários estágios de desenvolvimento, 
especialmente pela modificação da legislação existente, como por exemplo o Código Criminal 
de 1830, que se fundava na justiça e equidade, que previa a reparação natural ou a 
indenização ao ofendido, quando fosse viável (GONÇALVES, 2009). 
Inicialmente “a reparação civil era condicionada à condenação criminal. 
Posteriormente, foi adotado o princípio da independência da jurisdição civil e da criminal” 
(GONÇALVES, 2009). 
Desde o descobrimento, o Brasil, adotou as Ordenações do Reino de Portugal 
(Afonsinas, Manuelinas e Filipinas) como parâmetro normativo para as relações privadas, que 
perduraram até 1916, quando, então, surgiu o primeiro Código Civil. O Código Civil de 1916 
associou-se a teoria subjetiva da responsabilidade civil, exigindo uma prova forte da culpa do 
agente causador do dano, e, em determinados casos, presumindo-a (CAVALIERI FILHO, 
2009). 
O Código Civil sustentou a teoria subjetiva da responsabilidade civil, determinando a 
demonstração da culpa do agente, apontando que todo aquele que, mediante ação ou omissão 
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, comete ato 
ilícito. O Código também ampliou a noção de ato ilícito, firmando a ilicitude do exercício de 
um direito quando violar seu fim econômico, social ou os limites da boa-fé e bons costumes. 
Houve, desta forma, o condicionamento do exercício de um direito a certos limites que vedam 
seu uso de forma abusiva. (CAVALIERI FILHO, 2009). 
Em virtude principalmente dos riscos gerados pela revolução industrial, fazendo 
crescer a procura pela reparação de danos decorrentes das máquinas, a exigência de uma 
conduta culposa norteada pelo século XIX não era compatível com a necessidade social de se 
proporcionar a reparação dos danos, mesmo que seu causador não houvesse agido com culpa. 
O direito não deveria preocupar-se somente com o comportamento do agente, precisava olhar 
o lado do prejudicado também (NORONHA, 2007). 
31 
 
Portanto, o Código Civil admitiu a teoria do risco em determinados casos, onde o 
simples exercício de uma atividade perigosa estabelece a obrigação de indenizar os danos por 
ventura causados, sem a obrigação de comprovação da culpa do agente que causou o dano 
(NORONHA, 2007). 
Para que surja a obrigação de indenizar são necessários os seguintes pressupostos: 
 
1. Que haja um fato (uma ação ou omissão humana, ou um fato humano, mas 
independente da vontade, ou ainda um fato da natureza), que seja antijurídico, isto é, 
que não seja permitido pelo direito, em si mesmo ou nas suas consequências; 
2. Que o fato possa ser imputado a alguém, seja por dever a atuação culposa da 
pessoa, seja por simplesmente ter acontecido no decurso de uma atividade realizada 
no interesse dela; 
3. Que tenham sido produzidos danos; 
4. Que tais danos possam ser juridicamente considerados como causados pelo ato ou 
fato praticado, embora em casos excepcionais seja suficiente que o dano constitua 
risco próprio da atividade do responsável, sem propriamente ter sido causado por 
esta (NORONHA, 2010, p. 468/469). 
 
O elemento inicial de todo ato ilícito, e por decorrência da responsabilidade civil, é 
uma conduta humana. Compreende-se por conduta o comportamento humano voluntário, que 
se evidencia através de uma ação ou omissão, provocando consequências jurídicas 
(CAVALIERI FILHO, 2009). 
Neste sentido a conduta é: 
 
 A ação, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o ato humano, 
comissivo ou omissivo, ilícito ou licito, voluntario e objetivamente imputável do 
próprio agente ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause 
dano a outrem, gerando o deverde satisfazer os direitos do lesado. (DINIZ, 2005, p. 
43). 
 
 
A responsabilidade resultante do ato ilícito baseia-se na ideia de culpa, no tempo em 
que a responsabilidade sem culpa baseia-se no risco. O ato comissivo é aquele que não 
deveria, enquanto a omissão é a não obediência de um dever. A voluntariedade é característica 
essencial da conduta humana, representando a liberdade de escolha do agente. Sem este 
elemento não haveria de se falar em ação humana ou responsabilidade civil (DINIZ, 2005). 
O ato de vontade, no âmbito da responsabilidade civil, deve ser oposto ao 
ordenamento jurídico. É necessário destacar que voluntariedade significa genuína e 
meramente o discernimento, a consciência da ação, e não a consciência de causar um 
resultado danoso sendo este o conceito de dolo. Cabe ressaltar ainda, que a voluntariedade 
deve estar presente tanto na responsabilidade civil subjetiva quanto na responsabilidade 
objetiva (CAVALIERI FILHO, 2009). 
32 
 
A existência de dano é outro pressuposto primordial para a responsabilidade civil. Não 
seria aceitável tratar sobre indenização, nem em reparação se não existisse o dano: 
 
 
O ato ilícito nunca será aquilo que os penalistas chamam de crime de mera conduta; 
será sempre um delito material, com resultado de dano. Sem dano pode haver 
responsabilidade penal, mas não há responsabilidade civil. Indenização sem dano 
importaria enriquecimento ilícito; enriquecimento sem causa para quem a recebesse 
e pena para quem a pagasse, porquanto o objetivo da indenização, sabemos todos, é 
reparar o prejuízo sofrido pela vítima, reintegrá-la ao estado em que se encontrava 
antes da prática do ato ilícito. E, se a vítima não sofreu nenhum prejuízo, a toda 
evidência, não haverá o que ressarcir. Daí a afirmação, comum a praticamente todos 
os autores, de que o dano é não somente o fato constitutivo mas, também, 
determinante do dever de indenizar. (CAVALIERI FILHO, 2008, p. 71). 
 
 
O dano pode ser estabelecido como a lesão, que devido a um determinado ato, uma 
pessoa sofre, contra sua vontade, em qualquer bem ou interesse, patrimonial ou moral. 
 
O dano é, pois, elemento essencial e indispensável à responsabilização do agente, 
seja essa obrigação originada de ato ilícito ou de inadimplemento contratual, 
independente, ainda, de se tratar de responsabilidade objetiva ou subjetiva. (STOCO, 
2007, p. 128). 
 
 
 
Para que o dano seja indenizável é essencial à existência de alguns requisitos. 
Inicialmente é necessário que haja a violação de um interesse jurídico patrimonial ou 
extrapatrimonial de uma pessoa física ou jurídica (DINIZ, 2005, p. 43). 
Desta forma, o dano pode ser classificado em patrimonial e extrapatrimonial. O 
primeiro também entendido como material é aquele que causa destruição ou redução de um 
bem de valor econômico. O segundo intitulado de moral é aquele que está relacionado a um 
bem que não tem atributo econômico, não é mensurável e não pode retornar ao estado anterior 
(STOCO, 2007). 
 Os bens extrapatrimoniais são aqueles intrínsecos aos direitos da personalidade como 
o direito a vida, a integridade moral, física, ou psíquica. Desta forma, é difícil a valoração da 
reparação, uma vez que é uma espécie de bem com valor imensurável. (STOCO, 2007). 
O nexo de causalidade é outro requisito chave entre a relação de causa e efeito, a 
conduta praticada e o resultado. Para que se possa caracterizar a responsabilidade civil do 
agente, não basta que o mesmo tenha praticado uma conduta ilícita, e nem mesma que a 
vítima tenha sofrido o dano. É imprescindível que o dano tenha sido causado pela conduta 
ilícita do agente e que exista entre ambos uma necessária relação de causa e efeito. O nexo de 
33 
 
causalidade é condição essencial para toda espécie de responsabilidade, ao contrário do que 
ocorre com a culpa, que não está presente na responsabilidade objetiva (DINIZ, 2005). 
Inúmeras teorias emergiram para procurar explicar o nexo de causalidade, quais se 
pode citar as principais como sendo a teoria da causalidade adequada, teoria dos danos diretos 
e imediatos e a teoria da equivalência dos antecedentes (CAVALIEIRI FILHO, 2008). 
A teoria da equivalência dos antecedentes, chamada também como teoria da 
equivalência das condições, ou ainda, conditio sine qua non, enfatiza que toda e qualquer 
circunstância que tenha concorrido para a produção do dano é considerada como causa. 
Seguindo a maioria dos doutrinadores, é a teoria empregada pelo código penal brasileiro 
(CAVALIEIRI FILHO, 2008). 
Esta teoria é alvo de diversas críticas, uma vez que pode levar a um retrocesso infinito. 
Se essa teoria fosse adotada na órbita civil, por exemplo, no caso de acidentes de transito, a 
obrigação de indenizar a vítima, não seria unicamente do condutor do veículo causador do 
dano, mas sim de quem lhe vendeu o veículo, quem o fabricou e assim por diante. 
(CAVALIEIRI FILHO, 2008). 
Na teoria da causalidade direta ou imediata, que igualmente pode ser chamada de 
teoria da interrupção do nexo causal, a causa pode ser classificada como unicamente o 
antecedente fático que, ligado por um vínculo ao resultado danoso, determina esse último 
como uma consequência sua, direta e imediata (STOCO, 2007). 
A teoria da causalidade adequada prega que haverá nexo causal quando, pela ordem 
natural das coisas, a conduta do agente poderia adequadamente produzir o nexo causal. Isto é, 
quando várias condições concorrerem para a ocorrência de um mesmo resultado, a causa será 
a condição mais determinante para a produção do efeito danoso, desconsiderando-se as 
demais mais remotas (STOCO, 2007). 
Diante da diversidade de teorias: 
 
Enfim, independente da teoria que se adote, como a questão só se apresenta ao juiz, 
caberá a este, na análise do caso concreto, sopesar as provas, interpretá-las como 
conjunto e estabelecer se houve violação do direito alheio, cujo resultado seja 
danoso, e se existe um nexo causal entre esse comportamento do agente e o dano 
verificado. (STOCO, 2007, p. 152). 
 
 
A culpa do agente é outro pressuposto determinante na responsabilidade civil. Ela não 
é definida e nem idealizada na legislação brasileira. A regra geral do Código Civil Brasileiro 
para caracterizar o ato ilícito, estabelece que este somente terá materialidade se o 
34 
 
comportamento for culposo, presente a culpa lato sensu, que abrande tanto a dolo quanto a 
culpa em sentido estrito (CARDOZO, 2005). 
Por dolo se pode entender a conduta intencional de causar o dano, na qual o agente age 
conscientemente de forma que deseja que ocorra o resultado antijurídico ou assume o risco de 
produzi-lo (CARDOZO, 2005). 
Na culpa stricto sensu não existe a intenção do agende de causar dano, a conduta é 
voluntária, mais o resultado alcançado não. O agente não deseja o resultado, mas acaba por 
alcançá-lo ao agir sem o dever de cuidado. A inobservância do dever de cuidado revela-se 
pela negligência, imprudência ou imperícia (CARDOZO, 2005). 
A negligência tem relação com como falta de cautela ou distração e envolve em 
omissão ou falta de observância do dever, ou seja, o mesmo de agir de forma prudente, não 
age com a atenção devida a situação. Portanto, é quando aquele que deveria tomar conta para 
que um fato não acontecesse, não presta a atenção devida e deixa acontecer (BITENCOURT, 
2002). 
Por imprudência, ou ainda imprevidência, tem se que o ato, tem relação com algo mais 
do que a simples desatenção ou falta cuidado, o ato pode até se revelar de má fé, ou seja, com 
conhecimento do mal e intenção de praticá-lo. Desta forma, imprudente é aquele que não 
toma os cuidados normais que qualquer pessoa tomaria (BITENCOURT, 2002). 
A imprudência tem como característica

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