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MIGUEL TEORIA DO ESTADO

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1
MATERIAL DE APOIO – TEORIA GERAL DO ESTADO 
PROF. MIGUEL SALIH EL KADRI TEIXEIRA 
 
ORIGEM E FORMAÇÃO DO ESTADO 
A denominação Estado significa a situação permanente de convivência e ligada à 
sociedade política, cujo primeiro aparecimento dá-se na obra “O principie”, de 
Maquiavel, escrita em 1513. 
A respeito do aparecimento do Estado, há várias teorias, as quais, todavia, podem ser 
reduzidas a 3 posições fundamentais: 
1) para muitos autores, tanto Estado quanto sociedade sempre existiram, em razão da 
convivência existente entre os homens, sendo o estado o elemento organizador de todo e 
qualquer grupamento social; 
2) para uma segunda corrente, a sociedade, por muito tempo, existiu sem a presença do 
Estado, o qual somente foi constituído posteriormente para atender às necessidades ou 
conveniências dos grupos sociais; 
3) a terceira posição refere-se aos autores que apenas admitem o Estado como a 
sociedade política dotada de certas características muito bem definidas, ou seja, que o 
Estado não é um conceito geral, válido para todos os tempos, somente tendo 
aparecimento com a idéia e prática de soberania, a qual somente veio a ocorrer no séc. 
XVII, através do tratado de paz de Westfália (onde diversos territórios foram fixados, em 
especial da França e Alemanhã). 
Com relação à formação do Estado, há dois grandes grupos que procuram explicá-la: 
1) natural ou espontânea: o estado forma-se naturalmente, sem atos voluntários. Divide-se 
em de origem familiar ou patriarcal; atos de força, violência ou de conquista; causas 
econômicas ou patrimoniais (primeiro em Platão, mas o maior expoente está em Marx e 
Engels); 
2) contratual: decorrente da vontade de alguns homens ou de todos. 
Com relação à formação derivada dos estados, isto é, à partir daqueles já existentes, 
destaque-se que estas ocorrem por fracionamento e/ou união de Estados. No 
fracionamento, os que nascem de tal fenômeno contem todos os requisitos necessários, 
mesmo no caso daquele que foi fracionado. Já na união, os que outrora existiam, deixam 
de existir para compor um novo. 
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO 
A verificação da evolução histórica do Estado significa a fixação das formas fundamentais 
que o Estado tem adotado através dos séculos, para descoberta de movimentos 
constantes, bem como para a descoberta de formulações que levam à futura evolução 
do Estado. 
 
2
Os autores que tratam deste assunto apresentam as seguintes fases: Estado Antigo; Estado 
Grego; Estado Romano; Estado Medieval e Estado Moderno. 
Estado Antigo: oriental ou teocrático, onde não se distingue o pensamento político da 
religião, da moral, da filosofia e outras doutrinas econômicas. Há 2 marcas fundamentais, 
a natureza unitária, ou seja, não se admite divisão interior, seja territorial ou funcional; bem 
como a religiosidade, onde o governante é a expressão de um poder divino ou a própria 
divindade. 
Estado grego: embora jamais tenha havido um único estado grego, englobando toda a 
civilização helênica, é comum a referencia ao mesmo. A característica fundamental é a 
generilazação, ou seja, as cidades-estado, onde a polis é a sociedade política de maior 
expressão, com a busca pela auto-suficiência. Inclusive, tais cidades-estado, ao 
efetuarem conquistas e dominarem outros povos, jamais integraram-se com estes, sem 
sequer formular expansão territorial. As decisões eram tomadas por uma faixa estrita da 
população, os cidadãos, sendo que estes eram somente aqueles que cumprissem alguns 
requisitos. 
Estado romano: iniciado com um pequeno grupo de pessoas, passou por diversas fases e 
formas de governo, expandido seu domino por grande extensão territorial, aspirando, até, 
a constituição de império mundial. Sua fundação ocorreu em 754 a.c. perdurando até a 
morte de Justiniano em 565 d.c.. Uma das suas características mais importantes era a base 
familiar, que, com o tempo, foi substituída por uma nobreza tradicional, momento este em 
que Roma pretendeu realizar a integração jurídica dos povos conquistados, ao meso 
tempo que tentava manter um sólido núcleo de poder político na cidade de Roma. 
Estado medieval: os principais elementos que se fizeram presentes para a caracterização 
do Estado medieval foram o cristianismo, as invasões dos bárbaros e o feudalismo. 
O cristianismo dava a idéia de que todos os homens eram iguais, de sorte a ter a intenção 
de criar o império da cristandade. Todavia, tal circunstância, que inclusive levou à 
titulação de Carlos Magno, em 800 d.c., como imperador, pelo Papa Leão III, gerou 
enorme atrito entre igreja e império, uma vez que este último deixou de obedecer à igreja, 
o que somente veio a terminar com o estado moderno, quando as monarquias 
apresentam-se absolutas. 
Já as invasões bárbaras, que tiveram inicio no séc. III, eram originárias dos povos do norte, 
e tinham como destino o império romano e geraram a segregação dos impérios. 
Com relação ao feudalismo, tal circunstancia é importante para a valorização da terra, 
em decorrência das invasões e guerras internas, uma vez que era o local de onde todos, 
ricos ou pobres, deveriam tirar sua subsistência. 
Estado moderno: surge como revolta ao estado medieval. Teve sua origem com o tratado 
de Westfália, que determinou a documentação da existência de estados com poder 
soberano dotado de território demarcado. 
ESTADO MODERNO 
Com relação às características essenciais, ou notas características do Estado Moderno, há 
grande diversidade de opiniões. 
 
3
Para Santi Romano são soberania e territorialidade. 
Todavia, para a maioria dos autores, são 3 os elementos, em que pese haja divergência 
com relação a estes. Afirmam haver 2 elementos materiais: território e povo, e um terceiro 
elemento, formal, identificado como autoridade, governo ou soberania. Há autores, 
ainda, que indicam que o Estado deve conter, para assim ser concebido, finalidade 
específica. 
Desta forma, para fins metodológicos, serão estudados 4 características, ou elementos do 
Estado, quais sejam: soberania, território, povo e finalidade. 
SOBERANIA 
Termo inexistente na antiguidade, uma vez que no mundo antigo não havia capaz de 
trazer à consciência o conceito de soberania: a oposição entre o poder do Estado e 
outros poderes, uma vez que o Estado, até então, limitava-se aos assuntos ligados a 
segurança e arrecadação de tributos, não a assuntos privados. Tais conflitos somente 
passaram a ocorrer na idade média. 
Assim, durante a idade média, o poder supremo, antes dividido entre senhores feudais e 
rei, passou a ser, com o passar do tempo, centralizado na pessoa do último, ocorrendo, 
em seu fim, a clara concentração e a realização de soberano único, o rei. 
A primeira obra a tratar do conceito de soberania, foi o livro “Os seis livros da república”, 
de Jean Bodin, em 1576. Para tal autor a soberania pode ser conceituada como “o poder 
absoluto e perpétuo de uma República, palavra que se usa tanto em relação aos 
particulares quanto em relação aos particulares tanto em relação aos que manipulam 
todos os negócios de estado de uma República”.1 
A única limitação, então, compreendida para a soberania seria o poder divino e natural, 
sendo este poder (soberania) portanto, absoluto e perpétuo (posto que, se fosse 
temporário, o detentor apenas seria depositário e guarda do poder, nada mais). 
Já naquela época, Bodin esclarece que o poder soberano é inalienável, no sentido de 
que ele não pode ser concedido a ninguém, pelo seu detentor, sem que, por sua via, não 
retenha sempre mais do que aquilo concedido. 
Em 1762, Rousseu, por meio de seu “O Contrato Social”, transfere a titularidade da 
soberania para o povo, caracterizando-a como inalienável e indivisível. 
Assim, quando da Revolução Francesa, em razão dos interesses da burguesia, a idéia de 
soberania nacional é concebida comoa nação como o próprio povo numa ordem. 
No começo do séc. XIX ganha corpo a noção de soberania como expressão de poder 
político, sobretudo por interessar às grandes potencias. 
Já na metade do séc. XIX, compreende-se, na Alemanha, a idéia de que, possuindo o 
Estado personalidade jurídica, este é o detentor da soberania. 
 
1
 República, para Bodin, tem o mesmo significado de Estado. 
 
4
Já no séc. XX, a soberania passa a ser compreendida como uma das notas características 
do próprio estado. 
Assim, pode-se dizer que o conceito e a idéia de soberania esta sempre ligada a uma 
concepção de poder, uma vez que mesmo concebida como o centro de uma ordem 
está implícita a idéia de poder de unificação. 
Em termos políticos, soberania pode ser conceituada como o poder inconstrastavel de 
querer coercitivamente e de fixar competências. 
Em termos jurídicos, soberania é o poder de decidir em ultima instancia sobre a 
atributividade das normas. 
Na concepção culturalista de Reale, este denomina soberania como política, 
conceituando-a como o poder de organizar-se juridicamente e de fazer valer dentro de 
seu território a universabilidade de suas decisões nos limites dos fins éticos da convivência. 
Quanto às características, os autores reconhecem a soberania como sendo uma, 
indivisível, inalienável e imprescritível. 
Zanzucchi, autor italiano, acrescenta a estas características as seguintes: originário, 
porque nasce com o estado; exclusivo, porque só o estado possui; incondicionado, uma 
vez que só encontra limites no estado; coativo, porque o estado pode fazer cumprir suas 
ordens coativamente. 
Sobre a justificação e titularidade da soberania, apresentam-se as seguintes teorias: 
Teorias teocráticas, do fim da idade média, onde o poder era oriundo de Deus e seu 
representante na terra, o monarca, era seu titular. 
Teorias democráticas, sustentando que a soberania originou-se do próprio povo. Em sua 
atual concepção, admite-se a soberania como direito, e sendo o povo sem 
personalidade jurídica, esta é, portanto, de titularidade de seu representante, e titular de 
personalidade, ou seja, do Estado. 
A soberania é tida como elemento superior aos indivíduos e demais grupos sociais dentro 
de determinados estados, e, com relação aos demais estados, significa independência e 
igualdade uns aos outros. 
TERRITÓRIO 
A noção de território como componente necessário do estado somente apareceu com o 
Estado moderno. Todavia, as cidades-estado anteriores já possuíam território, mas não 
havia necessidade de autoridade pública delimita-la, em razão da pouca complexidade 
social. 
Alguns afirma tratar-se de elemento material indispensável, outros como condição 
necessária exterior ao estado. Para Kelsen, o território não é componente do estado, mas 
apenas onde se circunscreve a validade da ordem jurídica estatal. 
Paulo Bonavides afirma haver quatro concepções fundamentais sobre território: 
 
5
01) território patrimônio: característica do Estado Medieval, ou seja, o estado é dono do 
território, como qualquer outra pessoa; 
02) território objeto: o território é concebido como direito real de caráter público, onde o 
estado exerce apenas o domínio, não a propriedade, sobre o território; 
03) território espaço: o território é a extensão espacial da soberania do estado, como até 
mesmo parte da personalidade jurídica do estado; 
04) território competência: é onde possui validade determinada ordem jurídica. 
Pontos fundamentais sem divergência: 
01) não existe estado sem território; 
02) o território delimita a ação de soberania do estado; 
03) o território é objeto de direitos do Estado. 
A extensão do território sobre o mar: também conhecido como “mar territorial”. 
Inicialmente com fins de segurança e soberania, onde era delimitado pelo alcance das 
armas (um tiro de canhão – séc. XVII). Atualmente, em linhas gerais, estabelece-se como 
sendo de 03 milhas náuticas, mas há acordos extensivos, especialmente por motivos 
econômicos, chegando, atualmente, em 200 milhas náuticas. 
A soberania sobre o espaço aéreo: em caráter inofensivo, de aviação civil internacional, é 
permitido. Todavia, com a atual circunstância dos países, especialmente em matéria 
bélica, perdeu sentido. 
POVO 
Primeiramente deve-se diferenciar povo e população, uma vez que esta última possui 
apenas conotação numérica, demográfica ou econômica, abrangendo o conjunto de 
pessoas que vivem em determinado território, até mesmo aqueles que se encontram ali 
temporariamente. 
Povo também não se confunde com nação, haja vista que o último possui vinculo 
histórico-cultural, pertencendo a ela, em regra, os que nascem em determinado 
ambiente cultural, geralmente expresso em língua comum. 
Na Grécia, povo era sinônimo de cidadão, membro ativo da sociedade política. Em 
Roma, inicialmente era igual, mas, posteriormente, atingiu-se a conotação do próprio 
estado-romano. Em 1324, Marsílio de Pádua, é o primeiro a estabelecer as bases de que 
todos possuem direitos políticos e, em ordem maior ou menor, devem ser cidadãos. 
Com a ascensão política da burguesia, passa-se a não ter qualquer diferenciação entre 
as pessoas, com a consagração do sufrágio universal (mulheres não votavam). 
Para Jellinek, a distinção é feita no seguinte sentido: a) os indivíduos enquanto 
subordinados ao estado são sujeitos de deveres; e b) enquanto membros do estado, são 
sujeitos de direitos. Desta forma, povo é todo cidadão sujeito de direitos e deveres com 
 
6
relação a um determinado estado. Todavia, não reflete terceiros, confundindo-se com 
população. 
O povo é o elemento subjetivo que dá condições ao Estado para formar e externar uma 
vontade. 
CONCEITO: povo é o conjunto de indivíduos que, através de um momento jurídico, se 
unem para constituir um novo Estado, estabelecendo com este um vínculo jurídico de 
caráter permanente, participando da formação da vontade do estado e do exercício do 
poder soberano. Assim, todos que se integram ao estado, através de vinculação jurídica 
permanente, adquirem a condição de cidadãos. 
CONCEITO 2: povo é o conjunto de cidadãos do Estado. 
Há cidadania ativa e a negativa, a primeira é quem pode exercer seus direitos, e a 
segunda não. Sendo que a perda de cidadania deve ser expressada pelo próprio povo, 
através de seu texto constitucional. 
ESTADO E NAÇÃO 
O conceito de nação surgiu como criação artificial, sendo largamente utilizado no séc. 
XVIII, em especial pela burguesia francesa, economicamente poderosa, em sua busca 
pelo pode político, uma vez que a nação era o instrumento hábil pelo qual se lutava 
contra a monarquia absoluta. 
Assim, a nação, em cujo nome se pretendia o governo do Estado, passa ser identificada 
como o próprio estado, de sorte que, no século XX, por meio da exploração dos 
chamados sentimentos nacionais, com a eclosão de duas grandes guerras mundiais, cuja 
base era, a princípio, o pretexto de reunir numa só unidade política os componentes de 
uma mesma nação, bem como firmar a existência de nações superiores. 
Há autores que diferenciam estado de nação, sendo a primeira reconhecida enquanto 
sociedade e a segunda enquanto comunidade, uma vez que a primeira seria formada 
por atos de vontade, não se exigindo que seus membros tenham afinidades espirituais ou 
psicológicas, mas sim ligações por vínculos jurídicos. 
Já a comunidade existe independente da vontade de seus membros, antes mesmo que 
estes tomem conhecimento desta, mas que, por estarem tão intimamente ligados, 
acabam por desenvolver costumes comuns. 
Portanto, sociedade depende de agrupamento prévio de indivíduos por vínculos jurídicos, 
que reconhecem uma ordenação jurídica. Enquanto que as comunidades independem 
de vontade para sua criação, inexistindo relação jurídica,mas apenas relações de 
costumes, sem necessidade de uma ordenação jurídica. 
Todavia, uma comunidade pode, por ato de vontade, constituir-se, com o tempo, em 
sociedade, o mesmo podendo ocorrer com a sociedade, que pode se transformar em 
comunidade por laços de afetividade. 
Atualmente, percebe-se que aquilo que vinculava os povos de cada estado, ou seja, que 
cada estado possui encerrado em si uma nação, que era sua origem, já não mais existe, 
 
7
uma vez que dentro de cada estado existem inúmeras nações, como ocorre, 
principalmente, em países continentais, como Brasil e EUA, o que pode criar, até mesmo, 
conflitos internos, tais como acontece na Espanha, Israel, Inglaterra. 
Assim, pode-se dizer que hoje em dia já não existe mais a necessária coincidência entre 
Estado e Nação, uma vez que, como visto, dentro de cada estado formam-se inúmeras 
nações, ou então que os indivíduos que formam as nações espalham-se por diversos 
estados (como os israelenses). 
MUDANÇAS DO ESTADO POR REFORMA E REVOLUÇÃO 
O processo apresenta-se de duas formas: uma onde o Estado não se adequa às 
realidades sociais, por amarras à sua estrutura, geralmente imóvel sob o argumento de 
manutenção da ordem; e uma segunda, onde a estrutura é absolutamente deixada de 
lado, surgindo apego apenas à vontade do povo, sem qualquer formalidade, sugerindo-
se, até mesmo, o abandono do conceito de Estado e suas instituições. 
Assim, há que se ter em mente que o Estado se acha constantemente submetido a um 
processo dialético, reflexo das tensões dinâmicas que compõem a realidade social, de 
sorte que o primeiro passo para sua manutenção é a concepção do direito como 
totalidade dinâmica, não estática da realidade social, a qual, inclusive jamais será 
composta de unanimidade, sendo o conflito, portanto, inerente à própria sociedade, mas 
deverá ter em conta que, apesar de não poder olhar somente para o interesse de um 
único individuo, deve voltar-se para as necessidades da maioria, não apenas de alguns 
ou determinados grupos. 
Desta forma, as transformações dentro de um Estado podem ocorrer de duas formas: a 
primeira por evolução, levando-se em conta os meios previstos e encontrados dentro do 
próprio ordenamento jurídico; e uma segunda, por revolução, que é uma ruptura total 
com o ordenamento anterior, criando-se uma nova ordenação, através de meio ilegal, 
não previsto por procedimento anterior. 
FINALIDADE E FUNÇÕES DO ESTADO 
O Estado atende a fins próprios ou deve ceder em favor de fins alheios aos seus? 
Pode ser a finalidade considerada como elemento do Estado, mesmo sendo tão 
subjetiva? 
Fins objetivos do Estado: prende-se ao papel do Estado no desenvolvimento da 
sociedade, ou seja, os fins comuns a todos os Estados em todos os tempos. 
Fins subjetivos do Estado: o que importa é o encontro da relação entre os Estados e os fins 
individuais, ou seja, o fim do Estado é a síntese dos fins individuais2. 
Fins expansivos do Estado: é a base dos Estados totalitários. Prega o crescimento 
desmedido do estado, a tal ponto que se acaba por anular o individuo. Divide-se em 
duas: utilitárias: quando indicam como bem supremo o máximo desenvolvimento material, 
 
2 Bem comum foi conceituado pelo Papa João XXIII como o conjunto de todas as condições de vida social 
que consintam ou favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana. 
 
8
mesmo que em detrimento e sacrifício da liberdade e de outros valores fundamentais da 
vida humana (estado do bem estar social – plano marshal); éticas: indicam a supremacia 
de fins éticos, levando a exagerado moralismo, de acordo com a vontade dos 
governantes. 
Fins limitados do Estado: são as teorias que dão ao Estado a mera posição de vigilante da 
ordem social, não admitindo que ele tome iniciativas, sobretudo em matéria econômica. 
Divide-se em 03 correntes: estado-polícia (segurança); estado-liberal (liberdade) e estado-
direito (direito). 
Fins relativos do Estado: a base de sua orientação é a idéia de solidariedade, razão pela 
qual lhe foi dado o nome de teoria solidarista (Brasil – seguridade social, baseada na 
solidariedade). Para essa teoria, a vida do estado reduz-se à conversação, ordenação e 
ajuda. 
Fins exclusivos do Estado: apenas cabe ao estado a segurança interna e externa. 
Fins concorrentes do Estado: primeiramente deve garantir a segurança e, após, buscar 
favorecer o desenvolvimento e progresso social. 
Dallari afirma que o diferenciador da finalidade de cada estado é a buscado do bem 
comum de um certo povo, situado em determinado território. Todavia, tal concepção 
pode ser aceita atualmente, no mundo globalizado? 
O PODER DO ESTADO 
Nada mais é do a expressão do poder do povo, mas há autores que dizem tratar-se de 
poder supremo, não apenas no plano jurídico, como, igualmente, no plano político. 
CONCEITO DE ESTADO 
A análise dos conceitos revela duas orientações fundamentais: ou se dá mais ênfase a um 
elemento concreto ligado à noção de força, ou se realça a natureza jurídica, tomando-se 
como ponto de partida a noção de ordem. 
Para DUGUIT, o Estado é uma força irresistível limitada e regulada pelo direito. 
Para HELLER, o Estado é uma unidade de dominação independente no exterior e interior, 
atuando de modo contínuo com meios de poder próprio e é claramente delimitada no 
plano pessoal e territorial. 
Para BURDEAU, Estado é a institucionalização do poder. 
Para GURVITCH, Estado é o monopólio do poder. 
Para RANELLETTI, Estado é um povo fixado num território e organizado sob um poder 
supremo originado de império, para atuar como ação unitária os seus próprios fins 
coletivos. 
Para DEL VECCHIO, Estado é a unidade de um sistema jurídico que tem em si mesmo o 
próprio centro autônomo e que é possuidor da suprema qualidade de pessoa. 
 
9
Para JELLINEK, Estado é a corporação territorial dotada de um poder de mando originário. 
Para KELSEN, Estado é a ordem coativa normativa da conduta humana. 
Para DALLARI, Estado é a ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um 
povo situado em determinado território. 
Neste último conceito, estariam presentes todos os elementos que compõem o Estado, 
onde a noção de poder estaria implícita na de soberania, que no entanto é referida 
como característica da própria ordem jurídica. A politicidade do Estado é afirmada na 
expressão ao bem comum, com a vinculação deste a um certo povo, e, finalmente, a 
territorialidade, limitadora da ação jurídica e política do Estado, que esta presente na 
menção a determinado território. 
PERSONALIDADE JURÍDICA DO ESTADO 
A origem da concepção do Estado como pessoa jurídica é atribuída aos contratualistas, 
através da idéia de coleitividade ou povo como unidade, dotada de interesses diversos 
dos de cada um de seus componentes, bem como de uma vontade própria, também 
diversa das vontades de seus membros isoladamente considerados. 
Todavia, a concepção plena de Estado como pessoa jurídica é atribuída a publicistas 
alemães do séc. XIX, sendo considerado como precursor Savigny. 
Tanto para Savigny, como para Kelsen, a concepção de Estado como pessoa jurídica 
decorre do reconhecimento da utilidade prática de atribuição de capacidade jurídica a 
certos grupamentos de interesses coletivos, onde os entes representativos teria 
personalidade jurídica própria, que não se confunde com a de seus componentes, cuja 
qual, inclusive, é criada pela lei. 
Já GERBER, adepto da escola realista, sustentando o Estado como organismo biológico, 
afirma que este seria um meio de construção jurídica, mas não mera fixação, desligada 
da realidade, e sim organismo moral, pensado personalisticamente, existente por si e não 
como simples criação conceitual. 
Para DALLARI o Estado é concebido como pessoa jurídica de direito, que se utilizadas 
pessoas, enquanto órgãos estatais, para externar sua vontade, não podendo, por 
conseguinte, ser imputadas a estas as conseqüências desta “vontade”, mas apenas ao 
Estado. 
Assim, afirma que para ser sujeito de direitos e deveres, é necessário que o Estado seja 
concebido como pessoa jurídica, até para que se evite a ação arbitrária em nome deste 
ou de próprios interesses coletivos. 
ESTADO ABSOLUTISTA 
No continente europeu surgiu, a partir do século XI, no período da Baixa Idade Média, 
pela aliança entre reis e burgueses e a necessidade socioeconômico e política da época. 
Uma espécie de centralização do poder. Começou na idade média e tomou forma na 
idade moderna. 
 
10
Para uma definição mais exata pode-se classificar o absolutismo como uma forma de 
governo autoritário, que está nas mãos de uma pessoa ou um grupo social. Estes tem o 
poder absoluto sobre o Estado. Com essa idéia em mente não é de admirar os abusos 
que foram cometidos pelos governantes. 
Neste sentido, cabe aqui destacar a lição, sempre clara e precisa, de Sahid Maluf, para 
quem 
A Monarquia absoluta assentava-se sobre o fundamento teórico do direito 
divino dos reis, com evidentes resquícios das concepções monárquicas 
assírias e hebraicas. A autoridade do soberano era considerada como de 
natureza divina e proveniente diretamente de Deus. O poder do imperium 
era exercido exclusivamente pelo Rei, cuja pessoa era sagrada e desligada 
de qualquer liame de sujeição pessoal: “sua soberania é perpétua, 
originária e responsável em face de qualquer outro poder terreno, ainda 
que espiritual” – doutrina de Bodin.3 
As afirmações acima consignadas ensejam a discussão dos principais pontos acerca do 
Estado Absolutista, o poder atribuído ao soberano, a origem de tal poder, além da forma 
e do modo pelo qual era exercido. 
Neste sentido, cabe aqui analisar a principal obra do maior doutrinador do Absolutismo, 
Thomas Hobbes (1588-1679), qual seja, Leviatã, onde mostra sua idéia de um estado 
poderoso e dominante. Este é necessário para manter a ordem do governo, sem ela os 
homens viveriam em constantes guerras. Como se o monarca fosse o protetor da lei e da 
ordem. 
Para Hobbes, o estado absoluto surgiu em função do avanço da sociedade, que antes 
era primitiva, sem leis, cada um por si. Mas depois que a razão e a autoconservação 
entram na sociedade, surgiu a necessidade da união para a criação de um estado forte. 
Neste estado há uma espécie de contrato ou acordo, onde cada cidadão concederia 
seus direitos à um soberano. 
Para Hobbes, a autoridade do estado tem de ser absoluta para proteger os cidadãos da 
violência e do caos, eis que estes, naquele que denomina de “estado natural”, são 
eminentementes maus, egoístas, brutais e agressivos, de forma que o soberano deve 
governar com autoridade, pois esta foi concedida pelo povo, eis que 
Tais mandamentos da natureza não podem ser praticados em segurança 
enquanto se conserva o homem no seu estado natural e persiste a guerra 
de todos contra todos. Para assegurar a paz e impor o cumprimento da lei 
da natureza, argumenta HOBBES, é preciso que os homem firmem um pacto 
pelo qual todos concordem em transfe-rir todo o seu poder e a sua força 
para um só homem, ou para uma assembléia do homem, sob a condição 
de que todos façam o mês-mo. O poder soberano assim constituído, a que 
ele chama de “Levia-tã”, ou “Deus Mortal”, deve utilizar a força e o poder 
conjunto dos cidadãos a fim de promover a paz, a segurança e a 
conveniência de todos.4 
 
3 MALUF, Sahid. Teoria Geral do Estado. 26 ed. São Paulo: Saraiva, 2003, pp. 119-120. 
4 BODENHEIMER, Edgar. Ciência do Direito. Filosofia e Metodologia Jurídicas. Rio de Janeiro: Forense, 1965, p. 
55. Sobre este tema consultar o capítulo XVII, do livro Leviatã, de Thomas Hobbes. 
 
11
Assim, resta claro que o poder no Estado Absolutista era exercido por um soberano, com 
fundamento em uma lei divina (de direito natural), em decorrência de um acordo 
formulado pelos cidadãos, que abdicavam de seus direitos decorrentes do “estado 
natural”, em prol de um soberano, que viria a exercê-lo no estado civil. 
Desta forma, para o exercício de tal poder, o soberano precisava de um forte aparelho 
burocrático para governar. O rei delegava o poder a ministros ou o exercia pessoalmente, 
apoiado nestes e nos Conselhos de Estado, corpo de assessores que apenas preparava 
suas decisões finais. Assim, o rei baixava leis, organizava a justiça, arrendava a cobrança 
dos impostos, mantinha exércitos, nomeava funcionários, tudo em nome do Estado que 
representava, ou seja, centralizava o rei a maioria de todas as decisões, possuindo, 
invariavelmente, a palavra final sobre praticamente todos os assuntos do Estado. 
Por fim, há que se destacar, todavia, que a figura máxima do Estado Absolutista deu-se na 
França, durante o reinado de Luis XIV (1661-1715), que preparado desde criança por 
Mazzarino, seu antecessor, para exercer o poder, sintetizou suas idéias absolutistas numa 
frase célebre: “L’État c’est moi” (O Estado sou eu). Ele acumulou as funções de rei e de 
ministro. Afastou os ministros permanentes. Esvaziou o Conselho. O poder central ficou com 
a seguinte composição: Conselho, com seis conselheiros; chanceler; diretor das finanças; 
secretários de Estado (Marinha, Guerra, Casa Real e Assuntos Estrangeiros). Nas províncias, 
foram confirmadas as intendências, ligadas ao poder central e com toda autoridade em 
matéria de justiça, finanças e polícia, além de encarregadas de fiscalizar os oficiais 
detentores de cargos públicos e supervisionar a arrecadação de impostos. 
Estas são, portanto, as principais características do Estado Absolutista, passando-se a 
discutir, na seqüência, as mesmas noções acerca do Estado Liberal. 
ESTADO LIBERAL 
O Estado Liberal constituía-se em antítese ao absolutista, pois com a ascensão da 
burguesia ao poder político, passaram a viger os seus princípios e valores. Institucionalizou-
se após a Revolução Francesa de 1789, no fim do século XVIII, constituindo o primeiro 
regime jurídico-político da sociedade que materializava as novas relações econômicas e 
sociais, colocando de um lado os capitalistas (burgueses em ascensão) e do outro a 
realeza (monarcas) e a nobreza (senhores feudais em decadência). 
A Revolução de 1789 foi uma revolta social da burguesia, inserida no Terceiro Estado 
francês, que se elevou do patamar de classe dominada e discriminada para dominante e 
discriminadora, destruindo os alicerces que sustentavam o absolutismo (antigo regime), 
pondo fim ao Estado Monárquico autoritário. 
O lema dos revolucionários era: "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", que resumia os 
reais desejos da burguesia: liberdade individual para a expansão dos seus 
empreendimentos e a obtenção do lucro; igualdade jurídica com a aristocracia visando à 
abolição das discriminações; e fraternidade dos camponeses e sans-cullotes com o intuito 
de que apoiassem a revolução e lutassem por ela. 
Pode-se citar, consoante os ensinamentos de José de Albuquerque Rocha5 e Carlos Ari 
Sundfeld6, as seguintes características básicas do Estado Liberal: não intervenção do 
 
5 ROCHA, José de Albuquerque. Estudos sobre o Poder Judiciário. São Paulo: Malheiros, 1995, p. 126. 
 
12
Estado na economia, vigência do princípio da igualdade formal, adoção da Teoria da 
Divisão dos Poderes de Montesquieu, supremacia da Constituição como norma limitadora 
do poder governamental e garantia de direitos individuais fundamentais. No mesmo 
sentido, Fernando Scaff, divisa bem os institutos que caracterizam o Estado Liberal, são 
eles : a) o princípio da legalidade; b) a separação de poderes; c) o voto censitário; d) a 
liberdade contratual; e) a propriedade privada dos meiosde produção e o fator 
"trabalho", f) separação entre os trabalhadores e os meios de produção.7 
Nesse contexto, a classe burguesa emergente detinha o poder econômico, enquanto 
que o poder político estava sob o domínio da realeza e da nobreza. Logo, percebe-se 
que o princípio da não intervenção do Estado na economia, defendido pelo Estado 
Liberal, foi uma estratégia da burguesia para evitar a ingerência dos antigos monarcas e 
senhores feudais nas estruturas econômicas da época, garantindo a liberdade individual 
para a expansão dos seus empreendimentos e a obtenção do lucro, de forma que os 
capitalistas em ascensão tinham liberdade para ditar a economia a seu favor, através da 
prática da auto-regulação do mercado, a qual está sendo bastante utilizada atualmente, 
por meio do surgimento do Estado Neoliberal, conforme posteriormente demonstrar-se-á. 
Pregava-se a mínima intervenção do Estado na economia, criando a figura do "Estado 
Mínimo", defendendo a ordem natural da economia de mercado, com o escopo de 
expandir seus domínios econômicos. 
Outra característica do Estado Liberal é a defesa do princípio da igualdade, uma das 
maiores aspirações da Revolução Francesa. Porém, é preciso observar quais os fatores 
que influenciaram a burguesia em ascensão a pregar a aplicação de tal princípio. 
Ressalte-se que a igualdade aplicada é tão-somente a formal, na qual se buscava a 
submissão de todos perante a lei, afastando-se o risco de qualquer discriminação. Logo, 
sob o manto de tal fundamento, todas as classes sociais seriam tratadas uniformemente, 
pois as leis teriam conteúdo geral e abstrato, não sendo específicas para determinado 
grupo social. 
Trata-se de outra tática da burguesia, pois se sabe que o sistema feudal possuía uma 
estrutura estamental ou de ordens, isto é, era composto por várias classes sociais, a que 
correspondiam diferentes ordenamentos jurídicos. Essa pluralidade de textos legais 
vigentes representava que a lei e a jurisdição eram distintas, variando conforme o grupo 
social do destinatário da norma. Tal situação acabava fazendo com que a realeza e a 
nobreza tivessem uma série de privilégios, enquanto a burguesia era discriminada. 
Percebe-se, pois, que esse grande número de ordenamentos jurídicos gerava temor à 
classe burguesa, pois temia que a nobreza, ainda detentora do poder político, 
continuasse implementando leis que conferissem privilégios apenas à sua casta. Então, os 
capitalistas idealizaram a criação de um único ordenamento jurídico, defendendo a 
igualdade formal, no qual todos eram iguais perante a lei, que possuía conteúdo geral e 
abstrato, aplicando-se indiscriminadamente a todos os grupos sociais, não permitindo o 
estabelecimento de prerrogativas para determinada classe em detrimento das outras, 
surgindo o conceito de Estado de Direito e a figura da Constituição, que passava a limitar 
os poderes do governante, visando conter seus arbítrios, que preponderavam no Estado 
Monárquico Absolutista.8 
 
6 SUNDFELD, Carlos Ari. Fundamentos de Direito Público. 4 ed. São Paulo: Ed. Malheiros, 1992, p. 50. 
7 SCAFF, Fernando. Responsabilidade do Estado Intervencionista. São Paulo: Saraiva, 1990, pp. 26- 32. 
8 CALMON, Pedro. Curso de Teoria Geral do Estado. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 1949, p. 95. 
 
13
No tocante à Teoria da Separação dos Poderes de Montesquieu, adotada pelo Estado 
Liberal, José de Albuquerque Rocha observa que o objetivo de Montesquieu ao idealizar 
os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, era preservar os privilégios da sua própria 
classe, a nobreza, ameaçada tanto pelo rei, que almejava recuperar sua influência 
nacional, quanto pela burguesia, que dominando o poder econômico, intentava o poder 
político9. Elaborou, então, sua teoria que repartia o poder entre a burguesia, nobreza e 
realeza, afastando, deste modo, a possibilidade da burguesia em crescimento ser a sua 
única detentora. Todavia, há que se destacar que, em se tratando de Estado Liberal, a 
doutrina vigente, em especial a Francesa, preconizavam pela supremacia do Poder 
Legislativo em relação aos demais, em clara contraposição ao modelo Absolutista que 
apregoava a supremacia de um único soberano, como forma, até mesmo, de limitar os 
poderes conferidos ao outrora soberano e agora chefe do Poder Executivo.10 
Assim, o Estado de Direito, na precisa lição de Carlos Ari Sundfeld pode ser definido: 
[...] como o criado e regulado por uma Constituição (isto é, por norma 
jurídica superior às demais), onde o exercício do poder político seja dividido 
entre órgãos independentes e harmônicos, que controlem uns aos outros, 
de modo que a lei produzida por um deles tenha de ser necessariamente 
observada pelos demais e que os cidadãos, sendo titulares de direitos, 
possam opô-los ao próprio Estado.11 
Desta feita, o Estado de Direito criou a figura do direito subjetivo público, isto é, a 
possibilidade do cidadão, sendo o titular do direito, ter a faculdade de exigi-lo em 
desfavor do Estado, regulando a atividade política, situação que não era prevista no 
Absolutismo, no qual apenas estabelecia direito subjetivo dos indivíduos nas suas relações 
recíprocas, isto é, o cidadão podia exigir o cumprindo de uma obrigação pactuada com 
outro cidadão, mas não em face do Estado, direito este que somente existiria nos escassos 
casos de direito de resistência, quando o soberano atentasse contra a vida dos súditos, 
como já previa Hobbes, em Leviatã. 
Desta forma, o Estado de Direito, ao passar a impedir o exercício arbitrário do poder pelo 
governante e garantir o direito público subjetivo dos cidadãos, reconhece, 
constitucionalmente, e de uma forma mínima, direitos individuais fundamentais, como a 
liberdade, consoante os ensinamentos de Norberto Bobbio, assim delineados: 
Na doutrina liberal, Estado de direito significa não só subordinação dos 
poderes públicos de qualquer grau às leis gerais do país, limite que é 
puramente formal, mas também subordinação das leis ao limite material do 
reconhecimento de alguns direitos fundamentais considerados 
constitucionalmente, e portanto em linha de princípio invioláveis.12 
Assim, o Estado Liberal cria os chamados "direitos de primeira geração", que decorrem da 
própria condição de indivíduo, de ser humano, situando-se, desta feita, no plano do ser, 
de conteúdo civil e político, que exigem do Estado uma postura negativa em face dos 
oprimidos, compreendendo, dentre outros, as liberdades clássicas, tais como, liberdade, 
 
9 ROCHA, José de Albuquerque. Estudos sobre o Poder Judiciário. São Paulo: Malheiros, 1995, p. 128. 
10 BONAVIDES, Paulo. Do Estado Liberal ao Estado Social. 7 ed. São Paulo: Malheiros, 2004, pp. 79-81. 
11 SUNDFELD, Carlos Ari. Fundamentos de Direito Público. 4 ed. São Paulo: Malheiros, 1992, pp.38-39. 
12 BOBBIO, Norberto. Liberalismo e Democracia. Trad. Marco Aurélio Nogueira. 2 ed. São Paulo :Brasiliense, 
1988, p. 19. 
 
14
propriedade, vida e segurança, denominados, também, de direitos subjetivos materiais ou 
substantivos. 
É preciso ressaltar que tais direitos exigiam do Estado uma conduta negativa, isto é, uma 
omissão estatal em não invadir a esfera individual do nacional, que deixou de ser 
considerado mero súdito, elevando-se à condição de cidadão, detentor de direitos 
tutelados pelo Estado, inclusive contra os próprios agentes estatais. 
Ao lado dos direitos subjetivos materiais, criaram-se as garantias fundamentais, também 
chamadas de direitos subjetivos processuais (ou adjetivos ou formais ou instrumentais), 
visando, efetivamente, assegurar os direitos substantivos, como, v.g., o habeas corpus, que 
tem o escopo de assegurar o direito à liberdade.Por conseguinte, pode-se resumir as características do Estado liberal, segundo Luis S. 
Cabral Moncada, como sendo um sendo um Estado, onde a finalidade é garantir o 
desenvolvimento das liberdades individuais; garantir a esfera de liberdade individual de 
forma que cada pessoa atinja os fins que eleger, segundo suas capacidades e talentos; 
promover ações para remover obstáculos que impedem que cada um alcance o bem-
estar individual e assim alcança-se o bem-geral; preocupar-se no sentido de possibilitar a 
coexistência dos indivíduos para alcançarem seus fins individuais; e a instituição e 
manutenção da ordem jurídica como condição de garantia do exercício das liberdades 
individuais.13 
ESTADO SOCIAL E DE BEM ESTAR SOCIAL 
O Estado Social tem sua origem nas revoltas e tentativas de revolução européias dos anos 
1848 e ganhou um empuxo ainda maior com a Comuna de Paris, em 1871. Depois, já no 
século XX, afirmou-se com a Revolução Mexicana, de 1910, e com a Revolução Russa, de 
1917. Portanto, o chamado New Deal (plano econômico de restauração da economia 
americana, abalada com a grave crise de 29) é apenas um marco econômico posterior 
do Estado Social. Isto é, de meados do século XIX até os anos de 1930, o Estado Social 
esteve consolidando suas bases históricas e matrizes ideológicas, havendo que se abrir um 
parênteses neste tópico para destacar a importância da Revolução Russa para a 
construção do Estado Social, destacando-se, neste sentido, a sempre precisa lição de 
Paulo Bonavides, para quem: 
Vista em quadros, a Revolução Francesa foi o Estado liberal. A Revolução 
Russa de 1917 é o Estado social, não unicamente pelos influxos que já 
exercitou sobre o Ocidente, mas pelo que doravante há de produzir 
também em matéria de transformação institucional nos países do Leste, 
debaixo da perestroika de Gorbachev, que acabou por decompor o 
sistema stalinista de autocracia imperial sobre as nacionalidades sequiosas 
de autodeterminação; um desfecho imprevisto que abalou o mundo, mas 
que não compromete em nada o futuro do socialismo democrático 
perfeitamente exeqüível na moldura do Estado social.14 
O Estado do Bem Estar Social (Welfare State), por seu turno, terá o Plano Marshall, datado 
de 1947, como ponto de referência histórica: com o fim da Segunda Guerra, a Europa 
precisava ser restaurada. Assim, de 1917 a 1947 são 30 anos de separação histórica e 
 
13 MONCADA, Luis S. Cabral de. Direito Econômico. 2 ed. Coimbra: Coimbra, 1988, p. 20. 
14 BONAVIDES, Paulo. Do Estado Liberal ao Estado Social. 7 ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 209. 
 
15
geográfica entre esses dois tipos de Estado, razão pela qual deve ser superada a comum 
confusão entre ambos, posto que não são necessariamente sinônimos. 
No que se refere ao Estado Social, a Comuna de Paris será uma síntese revolucionária do 
ponto de vista popular, com a tentativa de fixação de uma república-popular. Na 
Comuna, por exemplo, os juízes perderam as garantias de inamovibilidade e vitaliciedade. 
Na década de 1920, como terceira fase dessa gestação, a consciência do trabalhador 
acerca das condições do mundo do trabalho se transformou e passou a requerer por 
novos direitos: uma reivindicação tão presente que se converteu em matéria 
constitucional. 
O Estado Social, portanto, tem uma fase de adaptação/gestação que dura por volta de 
80 anos (com três contrações entre as décadas de 1910-1920), até que o processo 
culmina com seu nascimento: o New Deal (1933-1938) do Presidente Franklin D. Roosevelt 
teve uma legislação proposta por políticos progressistas e administradores a serviço do 
presidente. A inspiração veio de economistas da escola de Keynes, e pregava-se a 
intervenção do Estado na economia a fim de diminuir os conflitos sociais. 
Já o Welfare State nasceu de imediato, em caráter de urgência, com o fim da Segunda 
Grande Guerra Mundial, no período entre 1945-1947 (Plano Marshall). Pode-se dizer que o 
Welfare State é um produto econômico americano, o resultado de uma criação de 
laboratório acadêmico, enquanto o Estado Social é um exemplo claro das modificações 
sociais, históricas e jurídicas. Deve-se ainda pontuar a importância histórica e ideológica 
do Dia Internacional da Mulher e do Dia do Trabalho. 
Outra diferença marcante entre o Estado Social e o Welfare State, reside no fato de que o 
último é formulado nos EUA, seus engenheiros e ideólogos têm uma compreensão e 
padrão cultural único. Já o Estado Social conheceu realidades absolutamente distintas, 
como: México, Alemanha e Rússia. 
No que se refere à ideologia, o Estado Social é um Estado quase-socialista, pois afirma 
direitos e políticas socializantes (a maioria das conquistas da classe trabalhadora), a 
exemplo dos próprios direitos sociais e trabalhistas. Ocorre que o Estado Social não foi 
capaz de romper os limites e as barreiras do capitalismo, uma vez que se desenvolveu em 
países de economia capitalista. De qualquer forma, no entanto, tratava-se de um 
processo de intensas lutas operárias e sindicais anarquistas e socialistas que se iniciou nos 
anos 1848-1850, em países como França, Alemanha e Inglaterra e formou a base 
ideológica do Estado Social. Já o Estado do Bem Estar Social é uma resposta 
eminentemente capitalista ao desenvolvimento e avanço do socialismo que vinha do 
Leste Europeu. Portanto, o núcleo do Welfare State sempre esteve permeado por um 
posicionamento conservador diante das propostas socialistas testadas na prática desde o 
início do século XX. 
Trata-se da articulação Constituição-Povo que tornará as Constituições Sociais/Socialistas 
mais do que Constituições de papel, de acordo com a acepção pejorativa de Lassalle. 
Essas Constituições irão orientar legislações especializadas em direitos trabalhistas, em 
diversos países, a exemplo da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) no Brasil, em 1942. 
Por isso, cabe perguntar se isso será uma demonstração efetiva da força normativa da 
Constituição, como afirmava Hesse: 
 
16
A concretização plena da força normativa constitui meta a ser almejada 
pela Ciência do Direito Constitucional. Ela cumpre seu mister de forma 
adequada não quando procura demonstrar que as questões 
constitucionais são questões do poder, mas quando envida esforços para 
evitar que elas se convertam em questões de poder. Em outros termos, o 
Direito Constitucional deve explicitar as condições sob as quais as normas 
constitucionais podem adquirir a maior eficácia possível (...) Portanto, 
compete ao Direito Constitucional realçar, despertar e preservar a vontade 
de Constituição (...) que, indubitavelmente, constitui a maior garantia de 
sua força normativa.15 
A Constituição, no âmbito do Estado Social, portanto, caracteriza um contrato político 
legítimo, com amplo respaldo popular: como se fora o ícone do próprio Império do Direito 
e não só o badalado Império da Lei de origem liberal. 
O Estado Social foi ainda propício ao desenvolvimento do processo de redirecionamento 
das funções do Estado e de reapropriação do Direito pelas camadas sociais populares, 
bem como estimulou a transformação progressiva do Direito-coerção em 
Direito/Liberdade ou autonomia. Na verdade, é o primeiro exemplo efetivo da 
transposição do Estado e do Direito opressor, em prol dos trabalhadores e dos demais 
oprimidos. Os dois Estados, portanto, têm objetivos bem diversos, pode-se dizer que a 
teleologia política ou finalidade de ambos é contraditória ou avessa. 
No que se refere às suas origens em textos legais, o Estado Social está assentado em três 
documentos históricos: Constituição Mexicana, de 1917; Constituição Alemã, de 1919; 
Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado, advinda da Rússia 
revolucionária (socialista) e datada de 1917-1918. O Estado Social, desse modo, é um 
Estado que já nasceu pautado por pelomenos dois documentos históricos de cunho 
jurídico, ou seja, teve a garantia legal de duas Constituições (Mexicana e Alemã), além 
de uma Declaração de direitos proletários e socialistas. Portanto, um importante avanço 
do Estado Social foi ter conseguido constitucionalizar direitos sociais e trabalhistas. O 
Estado do Bem Estar Social não conheceu documentos propriamente jurídicos, mas sim 
um programa de recuperação econômica: o Plano Marshall. 
O Estado Social criou uma base, uma referência, um padrão jurídico a partir dessas 
Constituições e Declarações de Direitos na década de 1920 e que depois serviram de 
referência para inúmeros outros países. Uma natureza jurídica que permite até mesmo 
denominá-lo de Estado de Direito Social, tal foi sua demarcação jurídica especializada 
nos direitos sociais (e que, por sua vez, englobam os direitos trabalhistas). O Welfare State, 
por sua vez, nunca formulou claramente a intenção de orientar a construção de uma 
nova ordem jurídica. 
Por isso, o Estado Social constitui uma nova fase do chamado Estado Constitucional, que 
na sua primeira fase estão as primeiras requisições pelos direitos individuais (da Magna 
Carta, em 1215, ao Bill Of Rights, de 1689); na segunda, com as revoluções Americana e 
Francesa, o Estado conheceu uma estrutura jurídica diferenciada; e por fim, nesta terceira 
fase em que o Estado Social, além desses direitos já declarados ao longo dos séculos, teve 
que se pautar pelos direitos sociais e trabalhistas, mas agora como garantias irrenunciáveis 
do trabalhador. Por isso, o Estado Social pode ser tratado como a terceira fase do 
 
15 HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1991, p. 27. 
 
17
chamado Estado Constitucional, de forma que até 1930, tem-se a somatória do Estado de 
Direito clássico aos direitos sociais e trabalhistas. 
Por fim, cumpre destacar a preciosa síntese apresentada por Luís S. Cabral de Moncada, 
quando versa sobre as principais características do Estado social, afirmando que o Estado, 
em sua concepção social, passa a atuar em todas as atividades, inclusive na economia, 
com finalidades próprias, podendo ser distintas das dos indivíduos; ocorre a publicização 
da vida econômica e social por meio da intervenção estatal; questiona-se o clássico 
critério entre público e privado; a intervenção estatal nas relações privadas (contratos) 
por intermédio das normas denominadas de “normas de ordem pública”, para realizar 
valores de solidariedade, boa-fé, impondo limites à autonomia da vontade das partes; 
passa a ter um papel de agente regulador e viabilizador dos valores da ordem social e 
econômica; enquanto produtor de normas perde a postura de neutralidade axiológica; e, 
por fim, deve agir no sentido de efetivamente realizar os valores jurídicos, inclusive para 
implantação do modelo sócio-econômico indicado no texto constitucional.16 
 
 
16 MONCADA, Luis S. Cabral de. Direito Econômico. 2 ed. Coimbra: Coimbra, 1988, p. 22.

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