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Direito Penal | Material Complementar Prof. Antônio Pequeno | https://www.facebook.com/Prof.AntonioPequeno FOCUSCONCURSOS.COM.BR APLICAÇÃO DA LEI PENAL (arts.1º até o artigo 12 do Código Penal) 1-Princípio da legalidade O artigo 5°, inciso lI, da Constituição Federal dispõe que "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei". Reforçando essa garantia, o artigo 5°, XXXIX da Carta Magna (com idêntica redação do artigo 1° do CP) anuncia que "não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal'. Advém da doutrina a ampliação que se dá à redação do artigo 1° do Código Penal ("não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal'). Justamente por ser este postulado uma conquista do indivíduo contra o poder de polícia do Estado, onde se lê "crime", deve-se interpretar "infração penal", englobando, portanto, as contravenções penais; onde se lê "pena", por sua vez, deve-se ler "sanção penal", incluindo as medidas de segurança. Na busca da real garantia ao cidadão, não basta que a infração penal tenha sido instituída por lei (em sentido estrito), mas deve ser esta prévia ao f:ato criminoso, escrita, estrita e certa, além de necessária. Daí porque a doutrina desdobra o princípio em exame em outros seis, entretanto, trabalharemos em apenas três desdobramentos: princípio da reserva legal, princípio da anterioridade e princípio da taxatividade. Desdobramentos: A) PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL - Segundo o princípio da reserva legal, a infração penal somente pode ser criada por lei em sentido estrito, ou seja, lei complementar ou lei ordinária, aprovadas e sancionadas de acordo com o processo legislativo respectivo, previsto na CF/88 e nos regimes internos da Câmara dos Deputados e Senado Federal. Embora não possam criar infrações penais, as medidas provisórias podem versar sobre direito penal não incriminador. Neste sentido, decidiu o Supremo Tribunal Federal que a vedação constante do artigo 62, § 1°, I, "b" da CF/8884 não abrange as normas penais benéficas, assim consideradas "as que abolem crimes ou lhes restringem o alcance, extingam ou abrandem penas ou ampliam os casos de isenção de pena ou de extinção de punibilidade" Não obstante, temos no ordenamento jurídico pátrio exemplo de medida provisória versando sobre direito penal favorável ao réu, mesmo após a referida emenda constitucional. São as MPs editadas em função do Estatuto do Desarmamento (Lei n° l 0.826/2003). Entre os anos de 2003 e 2008, a posse irregular de arma de fogo fora considerada fato atípico em função de sucessivas medidas provisórias regularmente editadas pela Presidência da República 85, até que a MP 417/08 foi convertida na Lei n" 11.706/08. No período mencionado, ainda que apreciando de forma indireta o tema, o STF não se afastou do seu entendimento anterior à EC n° 32/2001, admitindo a MP veiculando conteúdo de direito penal benéfico. Também é inadmissível que a lei delegada verse sobre direito penal, com fundamento no artigo 68, §1°, CF/8887, uma vez que a redação do dispositivo, a um só tempo, impede a delegação de atos de competência exclusiva do Congresso Nacional e veda que a lei delegada discipline sobre direitos individuais, matéria Ínsita a toda norma penal. B) PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE Não há crime (ou contravenção penal), sem pena (ou medida de segurança) sem lei anterior. Pelo princípio da anterioridade, a criação de tipos e a cominação de sanções exige lei anterior, proibindo-se a retroatividade em prejuízo ao agente. 1 Direito Penal | Material Complementar Prof. Antônio Pequeno | https://www.facebook.com/Prof.AntonioPequeno FOCUSCONCURSOS.COM.BR Antes da novel Lei, a “cola eletrônica” (utilização de aparelho transmissor e receptor em prova), uma das formas mais corriqueiras de fraudar os certames de interesse público, foi julgada atípica pelos Tribunais Superiores. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Inquérito nº 1.145, decidiu que a referida fraude não se enquadraria nos tipos penais em vigor, em face do princípio da reserva legal e da proibição de aplicação da analogia in malam partem (por falta de previsão de lei e ser anterior o fato). (Cf. Informativo STF nº 453, de 18 e 19 de dezembro de 2006). No mesmo sentido o Superior Tribunal de Justiça: “O preenchimento, através de ‘cola eletrônica’, de gabaritos em concurso vestibular não tipifica crime de falsidade ideológica. É que nos gabaritos não foi omitida, inserida ou feita declaração falsa diversa daquela que devia ser escrita. As declarações ou inserções feitas nos cartões de resposta por meio de sinais eram verdadeiras e apenas foram obtidas por meio não convencional. A eventual fraude mostra-se insuficiente para caracterizar o estelionato que não existe ‘in incertam personam’”. (Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 7376/SC, Sexta Turma, Relator Ministro Fernando Gonçalves, transcrição parcial da ementa). “A utilização de aparelho transmissor e receptor com o objetivo de, em concurso vestibular, estabelecer contato com terceiros para obter respostas para questões formuladas nas provas não constitui, mesmo em tese, crime. Pode configurar ação imoral”. (Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 4593/PR, Quinta Turma, Relator Ministro Jesus Costa Lima, transcrição parcial da ementa). Agora esse comportamento tem a sua tipificação no artigo 311-a do Código Penal, que foi incluído pela lei 12550/2011. C) PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE OU DETERMINAÇÃO - O princípio da taxatividade ou da determinação é dirigido mais diretamente à pessoa do legislador, exigindo dos tipos penais clareza, não devendo deixar margens a dúvidas, de modo a permitir à população em geral o pleno entendimento do tipo criado. Como exemplo de tipo vago, incerto, temos o artigo 33 da Lei n° 11343/2006 (lei de drogas) que traz o crime de tráfico, que prevê crime sujeito a pena de reclusão de 5 a 15 anos a conduta de Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Note-se que a expressão "drogas" é genérica, imprecisa, sem especificar quais tipos de drogas serão objetos materiais para a tipificação do crime de tráfico. C.1)Princípio da legalidade, tipo aberto e a norma penal em branco O princípio da legalidade, como visto, exige a edição de lei certa, precisa, determinada. Vamos identificar a classificação da lei quanto ao conteúdo: {A) Completa: norma penal completa é aquela que dispensa complemento valorativo (dado pelo juiz) ou normativo (dado por outra norma). Exemplo: art. 121 do CP. (B) B) Incompleta: é a norma penal que depende de complemento valorativo (tipo aberto) ou normativo (norma penal em branco). Analisemos cada uma das espécies de lei incompleta. {Bi) Tipo aberto: é aquele que depende de complemento valorativo, a ser conferido pelo julgador no caso concreto. Os crimes culposos, por exemplo, são descritos em tipos abertos, uma vez que o legislador não enuncia as formas de 2 Direito Penal | Material Complementar Prof. Antônio Pequeno | https://www.facebook.com/Prof.AntonioPequeno FOCUSCONCURSOS.COM.BR negligência, imprudência e imperícia, ficando a critério do magistrado na análise do caso concreto. Para não ofenderem o princípio da legalidade, a redação típica deve trazer o mínimo de determinação. Também são abertos os tipos em que o legislador utiliza na sua construção elementos normativos, que demandam juízo de valor do magistrado. O art. 154 do CP, por exemplo, considera violação de sigilo a sua revelaçãosem justa causa. Se houve (ou não) justa causa depende de análise do juiz, de acordo com as circunstâncias do caso concreto. (Bii) Normal penal em branco: é aquela que depende de complemento normativo. É dizer: seu preceito primário (descrição da conduta proibida) não é completo, dependendo de complementação a ser dada por outra norma. Esta espécie comporta as seguintes classificações: (A) Norma penal em branco própria (ou em sentido estrito ou heterogênea): o seu complemento normativo não emana do legislador, mas sim de fonte normativa diversa. Exemplo: a Lei n° 11.343/2006 (editada pelo Poder Legislativo) disciplina os crimes relacionados com o comércio de drogas, porém a aplicabilidade dos tipos penais depende de complemento encontrado em portaria do Ministério da Saúde, a Portaria n° 344/2008 (editada pelo Poder Executivo). (B) Norma penal em branco imprópria ou em sentido amplo ou homogênea): o complemento normativo, neste caso, emana do próprio legislador, ou seja, da mesma fonte de produção normativa. Por motivos de técnica legislativa, o complemento poderá ser encontrado no próprio diploma legal ou em diploma legal diverso. Assim, teremos: •Norma penal em branco imprópria homovitelina: o complemento emana da mesma instância legislativa (norma incompleta e seu complemento integram a mesma estrutura normativa). Exemplo: o artigo 312 d:> Código Penal trata do crime de peculato, conduta praticada por funcionário público. O conceito de funcionário público, para fins penais, está positivado em outro artigo, mais precisamente o 327, também do Código Penal. Norma penal em branco beterovitelina: o complemento da norma emana de instância legislativa diversa (norma incompleta e seu complemento integram estruturas normativas diversas). Exemplo: o artigo 236 do Código Penal depende de complemento encontrado no Código Civil, instância legislativa diversa. Note-se que o conceito de "impedimento" é encontrado em diploma legal distinto (Código Civil). (C) Norma penal em branco ao revés (ou invertida): na norma penal em branco ao revés, o complemento refere-se à sanção, preceito secundário, não ao conteúdo proibitivo (preceito primário). Exemplo: A Lei n° 2.889/56, que cuida do crime de genocídio, não cuidou direta- mente da pena, fazendo expressa referência a outras leis no que diz respeito esse ponto. O complemento da norma penal em branco ao revés deverá, necessariamente, ser encontrado em lei. (D) Norma penal em branco ao quadrado: neste caso, a norma penal requer um complemento que, por sua vez, deve também ser integrado por outra norma. É o caso do art. 38 da Lei n" 9.605/98, que pune as condutas de destruir ou danificar Ao esta considerada de preservação permanente. O conceito de floresta de preservação permanente é obtido no Código Florestal, que, dentre várias disposições, estabelece uma hipótese em que a área de preservação permanente será assim considerada após declaração de interesse social por parte do Chefe do Poder Executivo. 2- EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO Como decorrência do princípio da legalidade, aplica-se, em regra, a lei penal vigente ao tempo da realização do fato criminoso (tempus regit actum). A lei penal, para produzir efeitos no caso concreto, deve ser editada antes da prática da conduta que busca incriminar. Excepcionalmente, no entanto será permitida a retroatividade da lei penal para alcançar faros passados, desde que benéfica ao réu. A esta possibilidade conferida à lei de movimentar-se no tempo (para beneficiar o réu) dá-se o nome de extra- atividade. A extra-atividade deve ser compreendida como gênero do qual são espécies A) Retroatividade - capacidade que a lei penal rem de ser aplicada a fatos praticados antes da sua vigência e 3 Direito Penal | Material Complementar Prof. Antônio Pequeno | https://www.facebook.com/Prof.AntonioPequeno FOCUSCONCURSOS.COM.BR B) Ultra-atividade - que representa a possibilidade de aplicação da lei penal mesmo após a sua revogação ou cessação de efeitos. 3-Tempo do crime Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) Para a correta (e justa) aplicação da lei penal é imprescindível definir o tempo do crime, ou seja, quando um crime se considera praticado. Temos três teoria para tratar sobre o tempo do crime: A) Teoria da atividade – para esta teoria é considerado tempo do crime o momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado; B) Teoria do resultado – para esta teoria considera-se praticado o crime no momento do resultado C) Teoria da ubiquidade ou mista – para esta teoria considera tempo do crime o momento da ação ou omissão, como também o momento do resultado A teoria adotada pelo artigo 4º do Código penal foi a teoria da atividade. Deste modo, se ao tempo do disparo de arma de togo o agente era menor de 18 anos, terá praticado ato infracional e será sancionado de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, ainda que a vítima somente venha a óbito quando o agente complete os 18 anos. O momento do crime é também marco inicial para saber a lei que, em regra, vai reger o caso concreto, ganhando ainda mais importância no caso de sucessão de leis penais no tempo. 4-Sucessão de leis no tempo 4.1 – Sucessão de lei incriminadora - A “novatio” legis incriminadora é a lei que não existia no momento da pratica da conduta e que passa a considerar como delito a ação ou omissão realizada. Esta norma é irretroativa, nos termos do artigo 1° do Código Penal. Como exemplo, deve ser lembrado que o delito insculpido no artigo 311-A do Código Penal (fraude em certames de interesse público) não pode incidir sobre as condutas pratica- das ames do dia 16112/2011, dia em que a norma entrou em vigor. Portanto, esta norma ("neocriminalização") só incidirá nas ações ou omissões realizadas a partir desse dia. 4.2 – “Novatio legis in pejus “ A nova lei que, e qualquer modo, prejudica o réu (lex gravior) também é irretroativa, devendo ser aplicada a lei vigente quando do tempo do crime. Trata-se, como na hipótese primeira (novatio legis incriminadora), de observância da lei ao princípio da anterioridade, corolário do princípio da legalidade. Como exemplo temos a hipótese de um crime cuja pena seja de reclusão de 6 meses até 2 anos, tendo o agente praticado o crime durante a vigência dessa lei. Caso, depois do fato, venha surgir uma lei que mude a pena para reclusão de 1 ano até 4 anos desse delito, esta não poderá retroagir, tendo em vista que é uma lei que está trazendo o tratamento de forma mais gravosa. Qual lei deve ser aplicada se, no decorrer da prática de um crime permanente ou crime continuado, sobrevém lei mais grave? De forma sintética, é preciso entender que o crime permanente é aquele cuja consumação se prolonga no tempo. No crime de sequestro (art. 148, CP), por exemplo, enquanto a vítima não for libertada, a consumação se protrai. Por sua vez, o crime continuado é uma ficção jurídica através da qual, por motivos de política criminal, dois ou mais crimes da mesma espécie, praticados nas mesmas condições de tempo, lugar e maneira de execução, devem ser tratados, para fins da pena, como crime único, majorando- -se a pena. Suponhamos que a funcionária de um determinado supermercado subtraia, por quatro sextas-feiras seguidas, o dinheiro do caixa pelo qual é responsável. Temos furto em continuidade delitiva. De acordo com o STF, nessas hipóteses: 4 Direito Penal | Material Complementar Prof. Antônio Pequeno | https://www.facebook.com/Prof.AntonioPequeno FOCUSCONCURSOS.COM.BR "a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência" (Súmula 711 do STF). 4.3– Abolitio criminis A abolição do crime representa a supressão da figura criminosa. Trata-se da revogação de um tipo penal pela superveniência de lei descriminalizadora. Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) A abolitio criminis é fenômeno verificado sempre que o legislador, atento às mutações sociais (e ao princípio da intervenção mínima), resolve não mais incriminar determinada conduta, retirando do ordenamento jurídico-penal a infração que a previa, julgando que o Direito Penal não mais se faz necessário à proteção de determinado bem jurídico. É o que ocorreu com o crime de adultério, Interiormente previsto como crime no art. 240 do CP e revogado pela Lei n° 11.1 OG/2005. A Natureza jurídica da “abolitio criminis”, de acordo com a doutrina majoritária é causa extintiva da punibilidade, consoante o art. 107, inc. III, DO C.P.). Como ficam os efeitos da Condenação na hipótese de "abolitio criminis"? É necessário, fazer distinção entre os efeitos penais e os efeitos extrapenais da sentença condenatória. Os efeitos extrapenais estão positivados nos artigos 91 e 92 do Código Penal e não serão alcançados pela lei descriminalizadora. Assim, mesmo com a revogação do crime, subsiste, por exemplo, a obrigação de indenizar o dano causado, enquanto que os efeitos penais terão de ser extintos, retirando-se o nome do agente do rol dos culpados, não podendo a condenação ser c:x1siderada para fins de reincidência ou de antecedentes penais. 4.4 – Novatio legis in mellius Trata-se da nova lei que de qualquer modo beneficia o réu, também conhecida como !ex mitior. Esta lei retroagirá, atendendo à regra, prevista também no art. 2°, parágrafo único, do Código Penal: "A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fotos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. " Como se depreende da parte ficai do dispositivo, a lei penal nova que beneficia o réu, a exemplo da abolicionista, também não respeita a coisa julgada, sendo aplicada mesmo quando o agente já tenha sido condenado definitivamente. Depois do trânsito em julgado, qual o juiz competente para aplicar a lei penal mais benéfica? A resposta a esse questionamento dependerá do conteúdo da lei penal benéfica. Se a sua aplicação depender de mera operação matemática, o juiz da execução da pena é competente para aplicá-la. Por outro lado, se for necessário juízo de valor para aplicação da lei penal mais favorável, o interessado deverá ajuizar revisão criminal (art. 621 do CPP) para desconstituir o trânsito em julgado e aplicar a lei nova. Dessa maneira, podemos dizer que a súmula n° 611 do STF, dispondo que "transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juiz da execução a aplicação de lei mais benigna é incompleta, já que, se a lei mais benigna implicar juízo de valor, competirá ao juízo revisor, ou seja, àquele responsável pelo julgamento da revisão criminal 4.5 – Princípio da continuidade normativo-típica A abo!itio criminis não se confunde com o princípio da continuidade normativo-típica. A abo!itio representa supressão formal e material da figura criminosa, expressando o deseje· do legislador em não considerar determinada conduta como criminosa. É o que a aconteceu com o crime de sedução, revogado, formal c materialmente, pela Lei n° 11.106/2005. 5 Direito Penal | Material Complementar Prof. Antônio Pequeno | https://www.facebook.com/Prof.AntonioPequeno FOCUSCONCURSOS.COM.BR O princípio da continuidade normativo-típica, por sua vez, significa a manutenção do caráter proibido da conduta, porém com o deslocamento do conteúdo criminoso para outro tipo penal. A intenção do legislador, nesse caso, é que a conduta permaneça criminosa. Como exemplo temos o crime de atentado violento ao pudor, previsto no artigo 214 do Código Penal, que foi revogado pela lei 12015/2009, mas não foi abolido! Este saiu do art. 214 e migrou para o artigo 213 do Código Penal que traz o crime de estupro, ou seja, o que era antes atentado violento ao pudor passou a ser denominado de estupro. 5-lei temporária e lei excepcional Lei temporária - é aquela instituída por um prazo determinado, ou seja, é a lei que criminaliza determinada candura, porém pre- fixando no seu texto lapso temporal para a sua vigência. É o caso da Lei 12.663/12, que criou inúmeros crimes que buscam proteger o patrimônio material e imaterial da FIFA, infrações penais com tempo certo vigência (até 31 de dezembro de 20 14). A lei excepcional (ou temporária em sentido amplo) - é editada em função de algum evento transitório, como estado de guerra, calamidade ou qualquer outra necessidade estatal. Perdura enquanto persistir o estado de emergência. As leis temporária e excepcional têm duas características essenciais: a) autorrevogabilidade - As leis temporária e excepcional são autorrevogáveis, daí porque chamadas também de leis intermitentes. Esta característica significa dizer que as leis temporária e excepcional se consideram revogadas assim que encerrado o prazo fixado (lei temporária) ou cessada a situação de anormalidade (lei excepcional). b) ultra-atividade - Por serem ultra-ativas, alcançam os fatos praticados durante a sua vigência, ainda que as circunstâncias de prazo (lei temporária) e de emergência (lei excepcional) tenham se esvaído, uma vez que essas condições são elementos temporais do próprio fato típico. Observe-se que, por serem (em regra) de curta duração, se não tivessem a característica da ultra-atividade, perderiam sua força intimidativa. Em outras palavras, podemos afirmar que as leis temporárias e excepcionais não se sujeitam aos efeitos da abolitio criminis (salvo se houver lei expressa com esse fim). 6- Lei penal no tempo: questões complementares 6.1 retroatividade da jurisprudência Discute-se na doutrina a possibilidade de a alteração jurisprudencial retroagir para alcançar fatos praticados na vigência de entendimento diverso. Imaginemos, por exemplo, um roubo praticado com emprego de arma de brinque- do. Antes de outubro de 2001, havia Súmula no STJ (n° 174) autorizando o aumento da pena mesmo quando cometido o crime com arma de brinquedo. Depois de outubro, o STJ cancelou a referida Súmula. Os fatos pretéritos, julgados com o aumento, poderiam ser beneficiados com a alteração do entendimento da Corte? A Constituição Federal de 1988 se refere somente à retroatividade da lei (proibindo quando maléfica e fomentando quando benéfica). De igual modo, o Código Penal não disciplinou a possibilidade da retroatividade da jurisprudência. O entendimento que prevalece é o de que a extra-atividade só se refere à lei, não se estendendo à jurisprudência. 6.2 – Retroatividade da lei penal no caso de norma penal em branco Na hipótese de norma penal em branco, havendo alteração de conteúdo, alteram-se as respectivas normas complementares, surgindo a questão se, em relação a essas alterações, deve incidir (ou não) as regras da retroatividade. Espaço para anotar o exemplo: 6.3 – Lei intermediária A lei intermediária (ou intermédia) é aquela que deverá ser aplicada porque benéfica ao réu, muito embora não fosse a lei vigente ao tempo do fato, tampouco seja a lei vigente no momento do julgamento. 6 Direito Penal | Material Complementar Prof. Antônio Pequeno | https://www.facebook.com/Prof.AntonioPequeno FOCUSCONCURSOS.COM.BR Espaço para anotar o exemplo: LEI PENAL NO ESPAÇO 1-PRINCÍPIOS APLICÁVEIS E TERRITORIALIDADE - Sabendo que um fato punível pode, eventualmente, atingir os interesses de dois ou mais Estados igualmente soberanos, gerando, nesses casos, um conflito internacional de jurisdição, o estudoda lei penal no espaço visa apurar as fronteiras de atuação da lei penal nacional. Nas possíveis colisões, seis princípios sugerem a solução: (A) Princípio da territorialidade: aplica-se a lei penal do local do crime, não importando a nacionalidade do agente, da vítima ou do bem jurídico. Espaço para exemplo: (B) Princípio da nacionalidade ou personalidade ativa: aplica-se a lei do país a que pertence o agente, pouco importando o local do crime, a nacionalidade da vítima ou do bem jurídico violado. Espaço para exemplo: (C) Princípio da nacionalidade ou personalidade passiva: aplica-se a lei penal da nacionalidade do ofendido. Espaço para exemplo: (D) Princípio da defesa ou real: aplica-se a lei penal da nacionalidade do bem jurídico lesado (ou colocado em perigo), não importando o local da infração penal ou a nacionalidade do sujeito ativo. Espaço para exemplo: 7 Direito Penal | Material Complementar Prof. Antônio Pequeno | https://www.facebook.com/Prof.AntonioPequeno FOCUSCONCURSOS.COM.BR (E) Princípio da justiça penal universal ou da justiça cosmopolita: o agente fica sujeito à lei do país onde for encontrado, não importando a sua nacionalidade, do bem jurídico lesado ou do local do crime. Esse princípio está normalmente presente nos tratados internacionais de cooperação de repressão a determinados delitos de alcance transnacional. Espaço para exemplo: (F) Princípio da representação, do pavilhão, da substituirão ou da bandeira: a lei penal nacional aplica-se aos crimes cometidos em aeronaves e embarcações privadas, quando praticados no estrangeiro e aí não sejam julgados. Espaço para exemplo: 2- TERRITORIALIDADE Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. Para fins de aplicação da lei penal o nosso espaço é composto do espaço físico e do espaço jurídico: ESPAÇO FÍSICO OU GEOGRÁFICO - Por território físico entende-se o espaço terrestre, marítimo ou aéreo, sujeito à soberania elo Estado (solo, rios, Lagos, mares interiores, baías, faixa do mar exterior ao longo da costa - 12 milhas marítimas ele largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continente e insular' e espaço aéreo correspondente. ESPAÇO JURÍDICO OU FICTO - São as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. Consideram-se também como extensão do território nacional, por isso será aplicada a lei penal brasileira quando os crimes forem praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. Embaixada é extensão do território que representa? ESPAÇO PARA A RESPOSTA: Aplica-se a lei brasileira ao crime cometido a bordo de embarcação privada estrangeira de passagem pelo mar territorial brasileiro? 8 Direito Penal | Material Complementar Prof. Antônio Pequeno | https://www.facebook.com/Prof.AntonioPequeno FOCUSCONCURSOS.COM.BR ESPAÇO PARA A RESPOSTA: 3- LUGAR DO CRIME art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) Temos três teoria para tratar sobre o lugar do crime: A) Teoria da atividade – para esta teoria é considerado lugar do crime o momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado; B) Teoria do resultado – para esta teoria considera-se lugar do crime o momento do resultado C) Teoria da ubiquidade ou mista – para esta teoria considera lugar do crime tanto o local prática da ação ou omissão, como também o momento do resultado A teoria da ubiquidade ou mista veio para resolver os casos de crimes a distância. Classificação de alguns crimes envolvendo esse assunto: A) Crimes a distância – O crime percorre territórios de dois Estados soberanos (Brasil e Argentina, por exemplo); Espaço para exemplo: B) Crimes em trânsito – O crime percorre territórios de mais de dois países soberanos (Brasil, Argentina e Uruguai, por exemplo); Espaço para exemplo: C) Crimes plurilocais - O crime percorre dois ou mais territórios do mesmo país soberano (comarcas de Londrina, Cascavel e Foz do iguaçu). Espaço para exemplo 4-Extraterritorialidade 4.1 Extraterritorialidade incondicionada – Para lei brasileira ser aplicada, tendo em vista a prática de um crime, não precisa preencher nenhuma condição. Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) I - os crimes: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) 4.2 – Extraterritorialidade condicionada - Para lei brasileira ser aplicada, tendo em vista a prática de um crime, precisa-se do preenchimento das condições previstas no §2º, do artigo 7º, do Código Penal. Artigo 7º, II - os crimes: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) b) praticados por brasileiro; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) a) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) 9 Direito Penal | Material Complementar Prof. Antônio Pequeno | https://www.facebook.com/Prof.AntonioPequeno FOCUSCONCURSOS.COM.BR § 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) Condições: § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) a) entrar o agente no território nacional; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) Extraterritorialidade hipercondicionada - Para lei brasileira ser aplicada, tendo em vista a prática de um crime, precisa-se do preenchimento das condições previstas no §2º e §3º, do artigo 7º, do Código Penal. § 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) a) não foi pedida ou foi negada a extradição; (Incluídopela Lei nº 7.209, de 1984) b) houve requisição do Ministro da Justiça. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) 5- Pena cumprida no estrangeiro (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 6- Eficácia de sentença estrangeira (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas conseqüências, pode ser homologada no Brasil para: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - sujeitá-lo a medida de segurança.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - A homologação depende: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 7- Contagem de prazo (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Espaço para anotações: 8- Frações não computáveis da pena (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 10 Direito Penal | Material Complementar Prof. Antônio Pequeno | https://www.facebook.com/Prof.AntonioPequeno FOCUSCONCURSOS.COM.BR Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Espaço para anotações: 9- Legislação especial (Incluída pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Espaço para anotações: 11
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