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NOcoES DE DIREITO DIREITO PENAL I Aula 01 Aplicacao da Lei Penal Parte I 2017032110215754

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Direito Penal | Material Complementar 
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APLICAÇÃO DA LEI PENAL (arts.1º até o artigo 12 do Código Penal) 
1-Princípio da legalidade
O artigo 5°, inciso lI, da Constituição Federal dispõe que "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma 
coisa senão em virtude de lei". Reforçando essa garantia, o artigo 5°, XXXIX da Carta Magna (com idêntica redação 
do artigo 1° do CP) anuncia que "não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal'. 
Advém da doutrina a ampliação que se dá à redação do artigo 1° do Código Penal ("não há crime sem lei anterior 
que o defina, nem pena sem prévia cominação legal'). Justamente por ser este postulado uma conquista do 
indivíduo contra o poder de polícia do Estado, onde se lê "crime", deve-se interpretar "infração penal", englobando, 
portanto, as contravenções penais; onde se lê "pena", por sua vez, deve-se ler "sanção penal", incluindo as medidas 
de segurança. 
Na busca da real garantia ao cidadão, não basta que a infração penal tenha sido instituída por lei (em sentido 
estrito), mas deve ser esta prévia ao f:ato criminoso, escrita, estrita e certa, além de necessária. 
Daí porque a doutrina desdobra o princípio em exame em outros seis, entretanto, trabalharemos em apenas três 
desdobramentos: princípio da reserva legal, princípio da anterioridade e princípio da taxatividade. 
Desdobramentos: 
A) PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL - Segundo o princípio da reserva legal, a infração penal somente pode ser criada
por lei em sentido estrito, ou seja, lei complementar ou lei ordinária, aprovadas e sancionadas de acordo com o
processo legislativo respectivo, previsto na CF/88 e nos regimes internos da Câmara dos Deputados e Senado
Federal.
Embora não possam criar infrações penais, as medidas provisórias podem versar sobre direito penal não 
incriminador. Neste sentido, decidiu o Supremo Tribunal Federal que a vedação constante do artigo 62, § 1°, I, "b" da 
CF/8884 não abrange as normas penais benéficas, assim consideradas "as que abolem crimes ou lhes restringem o 
alcance, extingam ou abrandem penas ou ampliam os casos de isenção de pena ou de extinção de punibilidade" 
Não obstante, temos no ordenamento jurídico pátrio exemplo de medida provisória versando sobre direito penal 
favorável ao réu, mesmo após a referida emenda constitucional. São as MPs editadas em função do Estatuto do 
Desarmamento (Lei n° l 0.826/2003). Entre os anos de 2003 e 2008, a posse irregular de arma de fogo fora 
considerada fato atípico em função de sucessivas medidas provisórias regularmente editadas pela Presidência da 
República 85, até que a MP 417/08 foi convertida na Lei n" 11.706/08. No período mencionado, ainda que 
apreciando de forma indireta o tema, o STF não se afastou do seu entendimento anterior à EC n° 32/2001, 
admitindo a MP veiculando conteúdo de direito penal benéfico. 
Também é inadmissível que a lei delegada verse sobre direito penal, com fundamento no artigo 68, §1°, CF/8887, 
uma vez que a redação do dispositivo, a um só tempo, impede a delegação de atos de competência exclusiva do 
Congresso Nacional e veda que a lei delegada discipline sobre direitos individuais, matéria Ínsita a toda norma penal. 
B) PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE
Não há crime (ou contravenção penal), sem pena (ou medida de segurança) sem lei anterior. 
Pelo princípio da anterioridade, a criação de tipos e a cominação de sanções exige lei anterior, proibindo-se a 
retroatividade em prejuízo ao agente. 
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Antes da novel Lei, a “cola eletrônica” (utilização de aparelho transmissor e receptor em prova), uma das formas 
mais corriqueiras de fraudar os certames de interesse público, foi julgada atípica pelos Tribunais Superiores. O 
Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Inquérito nº 1.145, decidiu que a referida fraude não se enquadraria 
nos tipos penais em vigor, em face do princípio da reserva legal e da proibição de aplicação da analogia in malam 
partem (por falta de previsão de lei e ser anterior o fato). (Cf. Informativo STF nº 453, de 18 e 19 de dezembro de 
2006). No mesmo sentido o Superior Tribunal de Justiça: 
 
“O preenchimento, através de ‘cola eletrônica’, de gabaritos em concurso vestibular não tipifica crime de falsidade 
ideológica. É que nos gabaritos não foi omitida, inserida ou feita declaração falsa diversa daquela que devia ser 
escrita. As declarações ou inserções feitas nos cartões de resposta por meio de sinais eram verdadeiras e apenas 
foram obtidas por meio não convencional. A eventual fraude mostra-se insuficiente para caracterizar o estelionato 
que não existe ‘in incertam personam’”. (Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 7376/SC, Sexta Turma, Relator 
Ministro Fernando Gonçalves, transcrição parcial da ementa). 
 
“A utilização de aparelho transmissor e receptor com o objetivo de, em concurso vestibular, estabelecer contato 
com terceiros para obter respostas para questões formuladas nas provas não constitui, mesmo em tese, crime. Pode 
configurar ação imoral”. (Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 4593/PR, Quinta Turma, Relator Ministro Jesus 
Costa Lima, transcrição parcial da ementa). 
 
Agora esse comportamento tem a sua tipificação no artigo 311-a do Código Penal, que foi incluído pela lei 
12550/2011. 
 
C) PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE OU DETERMINAÇÃO - O princípio da taxatividade ou da determinação é dirigido 
mais diretamente à pessoa do legislador, exigindo dos tipos penais clareza, não devendo deixar margens a dúvidas, 
de modo a permitir à população em geral o pleno entendimento do tipo criado. 
 
Como exemplo de tipo vago, incerto, temos o artigo 33 da Lei n° 11343/2006 (lei de drogas) que traz o crime de 
tráfico, que prevê crime sujeito a pena de reclusão de 5 a 15 anos a conduta de Art. 33. Importar, exportar, remeter, 
preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, 
guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização 
ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Note-se que a expressão "drogas" é genérica, imprecisa, 
sem especificar quais tipos de drogas serão objetos materiais para a tipificação do crime de tráfico. 
 
C.1)Princípio da legalidade, tipo aberto e a norma penal em branco 
 
O princípio da legalidade, como visto, exige a edição de lei certa, precisa, determinada. 
 
Vamos identificar a classificação da lei quanto ao conteúdo: 
 
{A) Completa: norma penal completa é aquela que dispensa complemento valorativo (dado pelo juiz) ou normativo 
(dado por outra norma). Exemplo: art. 121 do CP. (B) 
 
B) Incompleta: é a norma penal que depende de complemento valorativo (tipo aberto) ou normativo (norma penal 
em branco). 
Analisemos cada uma das espécies de lei incompleta. 
 
{Bi) Tipo aberto: é aquele que depende de complemento valorativo, a ser conferido pelo julgador no caso concreto. 
Os crimes culposos, por exemplo, são descritos em tipos abertos, uma vez que o legislador não enuncia as formas de 
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negligência, imprudência e imperícia, ficando a critério do magistrado na análise do caso concreto. Para não 
ofenderem o princípio da legalidade, a redação típica deve trazer o mínimo de determinação. 
Também são abertos os tipos em que o legislador utiliza na sua construção elementos normativos, que demandam 
juízo de valor do magistrado. O art. 154 do CP, por exemplo, considera violação de sigilo a sua revelaçãosem justa 
causa. Se houve (ou não) justa causa depende de análise do juiz, de acordo com as circunstâncias do caso concreto. 
 
(Bii) Normal penal em branco: é aquela que depende de complemento normativo. É dizer: seu preceito primário 
(descrição da conduta proibida) não é completo, dependendo de complementação a ser dada por outra norma. Esta 
espécie comporta as seguintes classificações: 
 
(A) Norma penal em branco própria (ou em sentido estrito ou heterogênea): o seu complemento normativo não 
emana do legislador, mas sim de fonte normativa diversa. 
Exemplo: a Lei n° 11.343/2006 (editada pelo Poder Legislativo) disciplina os crimes relacionados com o comércio de 
drogas, porém a aplicabilidade dos tipos penais depende de complemento encontrado em portaria do Ministério da 
Saúde, a Portaria n° 344/2008 (editada pelo Poder Executivo). 
 
(B) Norma penal em branco imprópria ou em sentido amplo ou homogênea): o complemento normativo, neste 
caso, emana do próprio legislador, ou seja, da mesma fonte de produção normativa. Por motivos de técnica 
legislativa, o complemento poderá ser encontrado no próprio diploma legal ou em diploma legal diverso. Assim, 
teremos: 
•Norma penal em branco imprópria homovitelina: o complemento emana da mesma instância legislativa (norma 
incompleta e seu complemento integram a mesma estrutura normativa). 
Exemplo: o artigo 312 d:> Código Penal trata do crime de peculato, conduta praticada por funcionário público. O 
conceito de funcionário público, para fins penais, está positivado em outro artigo, mais precisamente o 327, também 
do Código Penal. 
 Norma penal em branco beterovitelina: o complemento da norma emana de instância legislativa diversa (norma 
incompleta e seu complemento integram estruturas normativas diversas). 
Exemplo: o artigo 236 do Código Penal depende de complemento encontrado no Código Civil, instância legislativa 
diversa. Note-se que o conceito de "impedimento" é encontrado em diploma legal distinto (Código Civil). 
 
(C) Norma penal em branco ao revés (ou invertida): na norma penal em branco ao revés, o complemento refere-se 
à sanção, preceito secundário, não ao conteúdo proibitivo (preceito primário). 
Exemplo: A Lei n° 2.889/56, que cuida do crime de genocídio, não cuidou direta- mente da pena, fazendo expressa 
referência a outras leis no que diz respeito esse ponto. O complemento da norma penal em branco ao revés deverá, 
necessariamente, ser encontrado em lei. 
 
(D) Norma penal em branco ao quadrado: neste caso, a norma penal requer um complemento que, por sua vez, 
deve também ser integrado por outra norma. É o caso do art. 38 da Lei n" 9.605/98, que pune as condutas de 
destruir ou danificar Ao esta considerada de preservação permanente. O conceito de floresta de preservação 
permanente é obtido no Código Florestal, que, dentre várias disposições, estabelece uma hipótese em que a área de 
preservação permanente será assim considerada após declaração de interesse social por parte do Chefe do Poder 
Executivo. 
 
2- EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO 
Como decorrência do princípio da legalidade, aplica-se, em regra, a lei penal vigente ao tempo da realização do fato 
criminoso (tempus regit actum). A lei penal, para produzir efeitos no caso concreto, deve ser editada antes da 
prática da conduta que busca incriminar. Excepcionalmente, no entanto será permitida a retroatividade da lei penal 
para alcançar faros passados, desde que benéfica ao réu. 
A esta possibilidade conferida à lei de movimentar-se no tempo (para beneficiar o réu) dá-se o nome de extra-
atividade. A extra-atividade deve ser compreendida como gênero do qual são espécies 
 
A) Retroatividade - capacidade que a lei penal rem de ser aplicada a fatos praticados antes da sua vigência e 
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B) Ultra-atividade - que representa a possibilidade de aplicação da lei penal mesmo após a sua revogação ou
cessação de efeitos.
3-Tempo do crime
 Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do 
resultado.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) 
Para a correta (e justa) aplicação da lei penal é imprescindível definir o tempo do crime, ou seja, quando um crime se 
considera praticado. 
Temos três teoria para tratar sobre o tempo do crime: 
A) Teoria da atividade – para esta teoria é considerado tempo do crime o momento da ação ou omissão, ainda
que outro seja o momento do resultado;
B) Teoria do resultado – para esta teoria considera-se praticado o crime no momento do resultado
C) Teoria da ubiquidade ou mista – para esta teoria considera tempo do crime o momento da ação ou
omissão, como também o momento do resultado
A teoria adotada pelo artigo 4º do Código penal foi a teoria da atividade. 
Deste modo, se ao tempo do disparo de arma de togo o agente era menor de 18 anos, terá praticado ato infracional 
e será sancionado de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, ainda que a vítima somente venha a óbito 
quando o agente complete os 18 anos. 
O momento do crime é também marco inicial para saber a lei que, em regra, vai reger o caso concreto, ganhando 
ainda mais importância no caso de sucessão de leis penais no tempo. 
4-Sucessão de leis no tempo
4.1 – Sucessão de lei incriminadora - A “novatio” legis incriminadora é a lei que não existia no momento da pratica 
da conduta e que passa a considerar como delito a ação ou omissão realizada. Esta norma é irretroativa, nos termos 
do artigo 1° do Código Penal. 
Como exemplo, deve ser lembrado que o delito insculpido no artigo 311-A do Código Penal (fraude em certames de 
interesse público) não pode incidir sobre as condutas pratica- das ames do dia 16112/2011, dia em que a norma 
entrou em vigor. Portanto, esta norma ("neocriminalização") só incidirá nas ações ou omissões realizadas a partir 
desse dia. 
4.2 – “Novatio legis in pejus “ 
A nova lei que, e qualquer modo, prejudica o réu (lex gravior) também é irretroativa, devendo ser aplicada a lei 
vigente quando do tempo do crime. Trata-se, como na hipótese primeira (novatio legis incriminadora), de 
observância da lei ao princípio da anterioridade, corolário do princípio da legalidade. 
Como exemplo temos a hipótese de um crime cuja pena seja de reclusão de 6 meses até 2 anos, tendo o agente 
praticado o crime durante a vigência dessa lei. Caso, depois do fato, venha surgir uma lei que mude a pena para 
reclusão de 1 ano até 4 anos desse delito, esta não poderá retroagir, tendo em vista que é uma lei que está trazendo 
o tratamento de forma mais gravosa.
Qual lei deve ser aplicada se, no decorrer da prática de um crime permanente ou crime continuado, sobrevém lei 
mais grave? 
De forma sintética, é preciso entender que o crime permanente é aquele cuja consumação se prolonga no tempo. 
No crime de sequestro (art. 148, CP), por exemplo, enquanto a vítima não for libertada, a consumação se protrai. Por 
sua vez, o crime continuado é uma ficção jurídica através da qual, por motivos de política criminal, dois ou mais 
crimes da mesma espécie, praticados nas mesmas condições de tempo, lugar e maneira de execução, devem ser 
tratados, para fins da pena, como crime único, majorando- -se a pena. Suponhamos que a funcionária de um 
determinado supermercado subtraia, por quatro sextas-feiras seguidas, o dinheiro do caixa pelo qual é responsável. 
Temos furto em continuidade delitiva. 
De acordo com o STF, nessas hipóteses: 
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"a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à 
cessação da continuidade ou da permanência" (Súmula 711 do STF). 
 
4.3– Abolitio criminis 
A abolição do crime representa a supressão da figura criminosa. Trata-se da revogação de um tipo penal pela 
superveniência de lei descriminalizadora. 
 Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude 
dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
A abolitio criminis é fenômeno verificado sempre que o legislador, atento às mutações sociais (e ao princípio da 
intervenção mínima), resolve não mais incriminar determinada conduta, retirando do ordenamento jurídico-penal a 
infração que a previa, julgando que o Direito Penal não mais se faz necessário à proteção de determinado bem 
jurídico. É o que ocorreu com o crime de adultério, Interiormente previsto como crime no art. 240 do CP e revogado 
pela Lei n° 11.1 OG/2005. 
 
A Natureza jurídica da “abolitio criminis”, de acordo com a doutrina majoritária é causa extintiva da punibilidade, 
consoante o art. 107, inc. III, DO C.P.). 
 
Como ficam os efeitos da Condenação na hipótese de "abolitio criminis"? 
 
É necessário, fazer distinção entre os efeitos penais e os efeitos extrapenais da sentença condenatória. Os efeitos 
extrapenais estão positivados nos artigos 91 e 92 do Código Penal e não serão alcançados pela lei 
descriminalizadora. Assim, mesmo com a revogação do crime, subsiste, por exemplo, a obrigação de indenizar o 
dano causado, enquanto que os efeitos penais terão de ser extintos, retirando-se o nome do agente do rol dos 
culpados, não podendo a condenação ser c:x1siderada para fins de reincidência ou de antecedentes penais. 
 
4.4 – Novatio legis in mellius 
Trata-se da nova lei que de qualquer modo beneficia o réu, também conhecida como !ex mitior. Esta lei retroagirá, 
atendendo à regra, prevista também no art. 2°, parágrafo único, do Código Penal: 
"A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fotos anteriores, ainda que decididos por 
sentença condenatória transitada em julgado. " 
Como se depreende da parte ficai do dispositivo, a lei penal nova que beneficia o réu, a exemplo da abolicionista, 
também não respeita a coisa julgada, sendo aplicada mesmo quando o agente já tenha sido condenado 
definitivamente. 
 
Depois do trânsito em julgado, qual o juiz competente para aplicar a lei penal mais benéfica? 
 
A resposta a esse questionamento dependerá do conteúdo da lei penal benéfica. Se a sua aplicação depender de 
mera operação matemática, o juiz da execução da pena é competente para aplicá-la. Por outro lado, se for 
necessário juízo de valor para aplicação da lei penal mais favorável, o interessado deverá ajuizar revisão criminal (art. 
621 do CPP) para desconstituir o trânsito em julgado e aplicar a lei nova. 
Dessa maneira, podemos dizer que a súmula n° 611 do STF, dispondo que "transitada em julgado a sentença 
condenatória, compete ao juiz da execução a aplicação de lei mais benigna é incompleta, já que, se a lei mais 
benigna implicar juízo de valor, competirá ao juízo revisor, ou seja, àquele responsável pelo julgamento da revisão 
criminal 
 
4.5 – Princípio da continuidade normativo-típica 
 
A abo!itio criminis não se confunde com o princípio da continuidade normativo-típica. 
 
A abo!itio representa supressão formal e material da figura criminosa, expressando o deseje· do legislador em não 
considerar determinada conduta como criminosa. É o que a aconteceu com o crime de sedução, revogado, formal c 
materialmente, pela Lei n° 11.106/2005. 
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O princípio da continuidade normativo-típica, por sua vez, significa a manutenção do caráter proibido da conduta, 
porém com o deslocamento do conteúdo criminoso para outro tipo penal. A intenção do legislador, nesse caso, é 
que a conduta permaneça criminosa. 
Como exemplo temos o crime de atentado violento ao pudor, previsto no artigo 214 do Código Penal, que foi 
revogado pela lei 12015/2009, mas não foi abolido! Este saiu do art. 214 e migrou para o artigo 213 do Código Penal 
que traz o crime de estupro, ou seja, o que era antes atentado violento ao pudor passou a ser denominado de 
estupro. 
5-lei temporária e lei excepcional
 Lei temporária - é aquela instituída por um prazo determinado, ou seja, é a lei que criminaliza determinada 
candura, porém pre- fixando no seu texto lapso temporal para a sua vigência. É o caso da Lei 12.663/12, que criou 
inúmeros crimes que buscam proteger o patrimônio material e imaterial da FIFA, infrações penais com tempo certo 
vigência (até 31 de dezembro de 20 14). 
A lei excepcional (ou temporária em sentido amplo) - é editada em função de algum evento transitório, como 
estado de guerra, calamidade ou qualquer outra necessidade estatal. Perdura enquanto persistir o estado de 
emergência. 
As leis temporária e excepcional têm duas características essenciais: 
a) autorrevogabilidade - As leis temporária e excepcional são autorrevogáveis, daí porque chamadas também de leis
intermitentes. Esta característica significa dizer que as leis temporária e excepcional se consideram revogadas assim
que encerrado o prazo fixado (lei temporária) ou cessada a situação de anormalidade (lei excepcional).
b) ultra-atividade - Por serem ultra-ativas, alcançam os fatos praticados durante a sua vigência, ainda que as
circunstâncias de prazo (lei temporária) e de emergência (lei excepcional) tenham se esvaído, uma vez que essas
condições são elementos temporais do próprio fato típico. Observe-se que, por serem (em regra) de curta duração,
se não tivessem a característica da ultra-atividade, perderiam sua força intimidativa. Em outras palavras, podemos
afirmar que as leis temporárias e excepcionais não se sujeitam aos efeitos da abolitio criminis (salvo se houver lei
expressa com esse fim).
6- Lei penal no tempo: questões complementares
6.1 retroatividade da jurisprudência 
Discute-se na doutrina a possibilidade de a alteração jurisprudencial retroagir para alcançar fatos praticados na 
vigência de entendimento diverso. 
Imaginemos, por exemplo, um roubo praticado com emprego de arma de brinque- do. Antes de outubro de 2001, 
havia Súmula no STJ (n° 174) autorizando o aumento da pena mesmo quando cometido o crime com arma de 
brinquedo. Depois de outubro, o STJ cancelou a referida Súmula. Os fatos pretéritos, julgados com o aumento, 
poderiam ser beneficiados com a alteração do entendimento da Corte? 
A Constituição Federal de 1988 se refere somente à retroatividade da lei (proibindo quando maléfica e fomentando 
quando benéfica). De igual modo, o Código Penal não disciplinou a possibilidade da retroatividade da jurisprudência. 
O entendimento que prevalece é o de que a extra-atividade só se refere à lei, não se estendendo à jurisprudência. 
6.2 – Retroatividade da lei penal no caso de norma penal em branco 
Na hipótese de norma penal em branco, havendo alteração de conteúdo, alteram-se as respectivas normas 
complementares, surgindo a questão se, em relação a essas alterações, deve incidir (ou não) as regras da 
retroatividade. 
Espaço para anotar o exemplo: 
6.3 – Lei intermediária 
A lei intermediária (ou intermédia) é aquela que deverá ser aplicada porque benéfica ao réu, muito embora não 
fosse a lei vigente ao tempo do fato, tampouco seja a lei vigente no momento do julgamento. 
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Espaço para anotar o exemplo: 
LEI PENAL NO ESPAÇO 
1-PRINCÍPIOS APLICÁVEIS E TERRITORIALIDADE - Sabendo que um fato punível pode, eventualmente, atingir os
interesses de dois ou mais Estados igualmente soberanos, gerando, nesses casos, um conflito internacional de
jurisdição, o estudoda lei penal no espaço visa apurar as fronteiras de atuação da lei penal nacional.
Nas possíveis colisões, seis princípios sugerem a solução:
(A) Princípio da territorialidade: aplica-se a lei penal do local do crime, não importando a nacionalidade do agente,
da vítima ou do bem jurídico. 
Espaço para exemplo: 
(B) Princípio da nacionalidade ou personalidade ativa: aplica-se a lei do país a que pertence o agente, pouco
importando o local do crime, a nacionalidade da vítima ou do bem jurídico violado.
Espaço para exemplo: 
(C) Princípio da nacionalidade ou personalidade passiva: aplica-se a lei penal da nacionalidade do ofendido.
Espaço para exemplo: 
(D) Princípio da defesa ou real: aplica-se a lei penal da nacionalidade do bem jurídico lesado (ou colocado em
perigo), não importando o local da infração penal ou a nacionalidade do sujeito ativo.
Espaço para exemplo: 
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(E) Princípio da justiça penal universal ou da justiça cosmopolita: o agente fica sujeito à lei do país onde for
encontrado, não importando a sua nacionalidade, do bem jurídico lesado ou do local do crime. Esse princípio está
normalmente presente nos tratados internacionais de cooperação de repressão a determinados delitos de alcance
transnacional.
Espaço para exemplo:
(F) Princípio da representação, do pavilhão, da substituirão ou da bandeira: a lei penal nacional aplica-se aos
crimes cometidos em aeronaves e embarcações privadas, quando praticados no estrangeiro e aí não sejam julgados.
Espaço para exemplo: 
2- TERRITORIALIDADE
 Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime 
cometido no território nacional. 
Para fins de aplicação da lei penal o nosso espaço é composto do espaço físico e do espaço jurídico: 
ESPAÇO FÍSICO OU GEOGRÁFICO - Por território físico entende-se o espaço terrestre, marítimo ou aéreo, sujeito à 
soberania elo Estado (solo, rios, Lagos, mares interiores, baías, faixa do mar exterior ao longo da costa - 12 milhas 
marítimas ele largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continente e insular' e espaço aéreo 
correspondente. 
ESPAÇO JURÍDICO OU FICTO - São as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do 
governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes 
ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. 
Consideram-se também como extensão do território nacional, por isso será aplicada a lei penal brasileira quando os 
crimes forem praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se 
aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar 
territorial do Brasil. 
Embaixada é extensão do território que representa? 
ESPAÇO PARA A RESPOSTA: 
Aplica-se a lei brasileira ao crime cometido a bordo de embarcação privada estrangeira de passagem pelo mar 
territorial brasileiro? 
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ESPAÇO PARA A RESPOSTA: 
 
 
 
 
 
 
3- LUGAR DO CRIME 
art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem 
como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) 
Temos três teoria para tratar sobre o lugar do crime: 
A) Teoria da atividade – para esta teoria é considerado lugar do crime o momento da ação ou omissão, ainda 
que outro seja o momento do resultado; 
 
B) Teoria do resultado – para esta teoria considera-se lugar do crime o momento do resultado 
 
C) Teoria da ubiquidade ou mista – para esta teoria considera lugar do crime tanto o local prática da ação ou 
omissão, como também o momento do resultado 
 
A teoria da ubiquidade ou mista veio para resolver os casos de crimes a distância. 
Classificação de alguns crimes envolvendo esse assunto: 
A) Crimes a distância – O crime percorre territórios de dois Estados soberanos (Brasil e Argentina, por 
exemplo); 
Espaço para exemplo: 
B) Crimes em trânsito – O crime percorre territórios de mais de dois países soberanos (Brasil, Argentina e 
Uruguai, por exemplo); 
 Espaço para exemplo: 
C) Crimes plurilocais - O crime percorre dois ou mais territórios do mesmo país soberano (comarcas de 
Londrina, Cascavel e Foz do iguaçu). 
Espaço para exemplo 
 
4-Extraterritorialidade 
 
4.1 Extraterritorialidade incondicionada – Para lei brasileira ser aplicada, tendo em vista a prática de um crime, não 
precisa preencher nenhuma condição. 
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) 
 I - os crimes: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) 
 b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, 
de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; (Incluído 
pela Lei nº 7.209, de 1984) 
 c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) 
 d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) 
 
4.2 – Extraterritorialidade condicionada - Para lei brasileira ser aplicada, tendo em vista a prática de um crime, 
precisa-se do preenchimento das condições previstas no §2º, do artigo 7º, do Código Penal. 
Artigo 7º, II - os crimes: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) 
 b) praticados por brasileiro; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) 
a) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em 
território estrangeiro e aí não sejam julgados. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) 
 
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§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no
estrangeiro.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
Condições: 
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: (Incluído pela
Lei nº 7.209, de 1984)
a) entrar o agente no território nacional; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; (Incluído pela Lei nº
7.209, de 1984) 
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; (Incluído pela Lei nº 7.209, de
1984) 
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade,
segundo a lei mais favorável. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) 
Extraterritorialidade hipercondicionada - Para lei brasileira ser aplicada, tendo em vista a prática de um crime, 
precisa-se do preenchimento das condições previstas no §2º e §3º, do artigo 7º, do Código Penal. 
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se,
reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; (Incluídopela Lei nº 7.209, de 1984)
b) houve requisição do Ministro da Justiça. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
5- Pena cumprida no estrangeiro (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas,
ou nela é computada, quando idênticas. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
6- Eficácia de sentença estrangeira (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas
conseqüências, pode ser homologada no Brasil para: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; (Incluído pela Lei nº 7.209, 
de 11.7.1984) 
 II - sujeitá-lo a medida de segurança.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Parágrafo único - A homologação depende: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
 b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou 
a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
7- Contagem de prazo (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário
comum. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Espaço para anotações: 
8- Frações não computáveis da pena (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
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 Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na 
pena de multa, as frações de cruzeiro. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Espaço para anotações: 
9- Legislação especial (Incluída pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de
modo diverso. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Espaço para anotações: 
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