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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Engenharia Química PLATÃO Isadora Luisa Novy Lara Juliana Corrêa Perazoli Karolina Lorrane Alves Costa Vítor Antônio Campos Chaves Belo Horizonte 2016 Isadora Luisa Novy Lara Juliana Corrêa Perazoli Karolina Lorrane Alves Costa Vítor Antônio Campos Chaves PLATÃO Trabalho referente à disciplina de Filosofia II – Antropologia e Ética, apresentado no curso de Engenharia Química na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, campus Coração Eucarístico. Orientador: Prof. José Gabriel dos Reis Valle Belo Horizonte 2016 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 4 2. PLATÃO ......................................................................................................................... 5 2.1 A questão platônica ....................................................................................................... 5 2.2 A fundação da metafísica .............................................................................................. 8 2.3 O conhecimento, a dialética, a retórica, a arte e a erótica ........................................ 12 2.4 Concepção do homem ................................................................................................. 14 2.5 O Estado ideal e suas formas históricas.................................................................... 19 2.6 Conclusões sobre Platão ............................................................................................ 20 2.7 A Academia platônica e os sucessores de Platão ..................................................... 20 3. CONCLUSÃO..................................................................................................................22 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................23 4 1. INTRODUÇÃO A filosofia grega surgiu na Grécia no século VI a.C. a partir de condições sociopolíticas pelas quais passavam o povo grego, a religião e a poesia. Esta é dividida em quatro períodos: pré-socrático, socrático, pós-socrático e helenístico. O pré-socrático aconteceu do século VII ao século V a.C., caracterizado por um pensamento representado pela physis (natureza), onde se procurava entender por meio da razão a origem e as mudanças que aconteciam com a natureza e o homem. O período socrático aconteceu do final do século V ao século IV a.C., destacando-se com o surgimento da democracia, havendo uma mudança nos elementos de pesquisa da filosofia, saindo da metafísica em direção ao homem em si. O período pós-socrático aconteceu do século IV ao século III a.C., onde houve a tentativa de unificar o pensamento a partir de diversas teorias do passado. Já o período helenístico aconteceu do século III a.C. ao século VI d.C. Este engloba o período do Império Romano e dos Padres da Igreja, tratando-se das relações entre o homem, a natureza e Deus. Platão foi um dos filósofos que teve destaque no período socrático. Dessa forma, este trabalho irá apresentar a vida e o pensamento deste filosofo, com o objetivo de conhecer melhor sobre um dos períodos da filosofia grega. 5 2. PLATÃO 2.1 A questão platônica 2.1.1 Vida e obras de Platão Nascido em Atenas em 428/427 a.C., Platão, cujo verdadeiro nome é Aristócles, foi apelidado dessa maneira devido ao seu vigor físico, pela amplitude de seu estilo e pela extensão de sua testa, sendo que platos significa, em grego, “amplitude”, “largueza” ou “extensão”. Por ser descendente do rei Codros, por parte de pai, e de Sólon, por parte de mãe, Platão já estava interligado com a vida política, encontrando o seu próprio ideal: nascimento, inteligência, aptidões. O filósofo foi inicialmente discípulo de Crátilo, seguidor de Heráclito, e posteriormente foi discípulo de Sócrates. Já seu primeiro contato com a vida política foi em 404/403 a.C., quando a aristocracia assumiu o poder com métodos facciosos e violentos, levando-o ao desgosto e frustração, principalmente com a condenação de Sócrates à morte. Por ter feito parte do círculo socrático, após o ano de 399 a.C., Platão se hospedou em Mégara para fugir de perseguições, e viajou para a Itália a fim de conhecer as comunidades dos pitagóricos, onde conheceu o tirano Dionísio I e foi obrigado a ir até Siracusa, na Sicília, onde se indispôs contra ele e sua corte. Ele implantou seus ideais em seu amigo Díon, parente do rei tirano, a fim de torna-lo rei- filósofo, irritando Dionísio I, que o vendeu como escravo a um embaixador da cidade de Egina. Posteriormente, ele foi resgatado por Anicérides de Cirene. Novamente em Atenas, Platão fundou a Academia, onde divulgou primeiramente o Menon, adquirindo grande prestígio a escola, integrando numerosos jovens e até mesmo homens ilustres. 6 Em, 367 a.C., o filósofo retornou a Sicília depositando confiança em Dionísio II, que sucedia o trono após o falecimento do Dionísio I, para tentar implantar novamente os desígnios de Platão, mas o rei revelou as mesmas tendências do pai, exilou Díon e manteve Platão quase como prisioneiro. Posteriormente Platão foi permitido a voltar a Atenas por estar empenhado numa guerra. Em 361 a.C, retornou pela terceira vez a Sicília, onde foi convencido por Díon a aceitar o convite de Dionísio II, que o desejava novamente na corte com a finalidade de completar sua própria preparação filosófica. Mas novamente ele foi enganado pelo rei e quase perdeu a vida. Em 367 a.C., Díon assumiu o poder em Siracusa, mas por pouco tempo, sendo assassinado em 353 a.C. Por fim, Platão retornou a Atenas em 360 a.C. e permaneceu na cidade até sua morte em 347 a.C., com 81 anos de idade. Em seguida, os trinta e seis trabalhos de Platão foram subdivididos em nove tetralogias: I: Eutífron, Apologia de Sócrates, Críton, Fédon; II: Crátilo, Teeteto, O Sofista, A Política; III: Parmênides, Filebo, O Banquete, Fedro; IV: Alcibíades I, Alcibíades II, Hiparco, Os Amantes; V: Teages, Cármides, Laques, Lísis; VI: Eutidemo, Protágoras, Górgias, Menon; VII: Hípias menor, Hípias maior, Íon, Menexeno; VIII: Clitofonte, A República, Tímeu, Crítias; IX: Minos, As Leis, Epínome, Cartas. 7 2.1.2 A questão da autenticidade e da evolução dos escritos No século passado, a crítica se empenhou em desvendar a autenticidade dos trinta e seis escritos, duvidando de quase todos os diálogos. Mas o problema perdeu a importância e hoje em dia quase todos, ou até mesmo todos, são considerados autênticos. Analisou-se o desenvolvimento espiritual de Platão para classificar os escritos, onde ele de início aborda uma problemática acentuadamente ética (ético- política), em seguida recupera-se os temas centrais da filosofia physis através da autêntica revolução do pensamento, denominada como “segunda navegação”, ou seja, aquela navegação que o levou à descoberta do supra-sensível. 2.1.3 Os escritos, as “doutrinas não escritas” e suas relações Na Academia, Platão ministrou cursos intitulados Sobre o bem, cujo teor ele não quis escrever, discutindo sobre realidades últimas e supremas, ou seja,sobre os primeiros princípios, adestrando os discípulos para a compreensão desses princípios através do rigoroso raciocínio metódico e dialético. O filósofo estava convencido de que essas realidades só podiam ser transmitidas através de adequada preparação e de rigorosas observações, que só podem ocorrer no diálogo vivo e através do emprego oral da dialética. Entretanto, alguns discípulos escreveram doutrinas Sobre o bem, levando Platão a desaprová- las e condená-las como nocivos e inúteis, mas que poucos haviam compreendido bem suas lições. 2.1.4 Os diálogos platônicos e Sócrates como personagem dos diálogos Platão buscou sempre evitar conferir-lhes tratamento “sistemático” nos temas dos quais pudesse escrever, procurando reproduzir o espírito do “diálogo socrático”, que se tornou um gênero literário específico inventado por ele. 8 Desse modo, Sócrates se tornava o protagonistas dos diálogos platônicos, passando de “pessoa” histórica para “personagem” da ação dialógica. Mas Platão realiza uma transposição do plano histórico para o plano teórico, assim, Sócrates nos diálogos é, na verdade, Platão. 2.1.5 Recuperação e novo significado do “mito” em Platão O mito consiste na suposição do desconhecido, onde a origem do universo e dos seres se dão através de Deuses, forças divinas e sobrenaturais. Já logos é o pensamento racional, coerente e lógico da filosofia, onde se explica o surgimento e a produção natural das coisas pela combinação, composição e separação dos quatro elementos: água, ar, terra e fogo. Para Platão, mais do que expressão de fantasia, o mito é expressão de fé e crença, sendo que em muitos diálogos sua filosofia afirma que o mito procura clarificação no logos e o logos busca complementação no mito. Por exemplo, ele sustenta o seu mito crendo no conceito da imortalidade da alma e a sua moradia, o corpo. 2.2 A fundação da metafísica Na filosofia platônica, o ponto fundamental consiste na descoberta de uma realidade suprassensível, na qual as explicações para as coisas se opõe as explicações dos naturalistas (fenômenos são explicados a partir de causas de caráter físico e mecânico). O problema fundamental leva a pensar sobre as verdadeiras causas, isto é, o problema está em tentar entender se as causas de caráter físico e mecânico são os verdadeiros motivos ou se essas causas são algo não físico e não mecânico. Com todas essas dúvidas e questionamentos, Platão apostou na ideia da “segunda navegação”. Para entender melhor sobre a “segunda navegação”, é 9 necessário compreender também a “primeira navegação”. Na “primeira navegação”, as ideias da filosofia eram seguidas de acordo com a filosofia naturalista. Essa navegação estava presa no sensível e nos sentidos, foi então, que ela acabou sendo desconsiderada quando foi impossível explicar o sensível por meio do próprio sensível. A partir de então, veio a “segunda navegação”, essa ideia teve a contribuição pessoal de Platão, onde o percurso da filosofia seguia pelo estímulo de suas próprias forças. Na “segunda navegação”, é seguido um novo caminho, conduzindo a descoberta do suprassensível, ou seja, do ser inteligível. A partir disso, tem-se que a “segunda navegação” mostra a existência de dois planos do ser: o visível (fenomênico) e o invisível (metafenomênico). Este último, captável apenas com a mente. Em relação ao mundo inteligível, Platão observou que não seria possível falar sobre uma ideia sem o seu por que. Um exemplo seria o belo, isto é, para explicar a sua origem, seria necessário recorrer a elementos da física como a cor. Dessa forma, seria necessário ter uma ideia que seria a causa verdadeira de todas as outras, ou seja, a justificativa de toda a ideia do que é belo e do qual todas as outras causas participam, sendo então uma causa de característica pura, inteligível. Essa ideia se concretiza para todas as coisas, ou seja, para qualquer coisa física existente, existe uma causa que não é de caráter físico, logo, são de caráter “metafísico”. Com a “segunda navegação” foi fundada a metafísica, sendo possível falar sobre o material e imaterial, o sensível e o suprassensível, o empírico e o metaempírico e o físico e o suprafísico. 10 Percebe-se então, que Platão divide a realidade em duas: o mundo sensível e o inteligível. O mundo sensível é o qual se habita, aquele que é acessível pelos sentidos, enquanto o mundo inteligível é acessado apenas pelo intelecto. O Hiperurânio é caracterizado por Platão como o conjunto de ideias que são as verdadeiras causas de todas as coisas e que são dispostas na forma hierárquica na sua organização. Para Platão, as ideias estão dispostas de forma hierárquica, ou seja, das ideias inferiores até as que ocupam o topo, sendo essas as ideias do Bem. Essas ideias do bem preserva todas as outras ideias, fazendo com que elas sejam entendidas, fazendo com que a mente conheça e seja capaz de produzir o ser e a substância. Nas doutrinas não escritas, o Bem é denominado Um. A diferença entre esses dois termos está na questão do Um sintetizar o Bem e o Bem ser uma característica do Um. Abaixo do Um está a Díade, princípio de ordem inferior, conhecido também como dualidade indefinida ou princípio indeterminado e ilimitado. Os nascimentos das ideias surgiram a partir da colaboração do Um e da Díade. As ideias tem origem na Ideia superior, porém, essas, são a causa de tudo que existe no mundo sensível. Para o surgimento dessas ideias, o Um usa o bem e que age sobre a Díade, como princípio limitante e determinante. Com isso, se resulta no surgimento das Ideias (Eidos). Cada ideia, surgi com a mistura dos princípios de delimitação de um ilimitado. O mundo sensível é denominado cosmos, pois é uma ordem perfeita. Neste mundo, existe um modelo, que é o mundo ideal; existe uma cópia, considerada o mundo sensível e existe o Artífice, que produz a cópia a partir do modelo. O Artífice 11 é um Deus que pensa e quer. Com isso, o mundo do sensível foi criado no sentido do verdadeiro termo, onde o mundo foi gerado por bondade e por amor ao bem. Por meio da “segunda navegação”, surgi o mundo inteligível através do mundo sensível. Este mundo deriva das ideias, que tem a característica de um princípio ilimitado e indeterminado de caráter físico. Platão assimila o mundo como vivo e inteligente, ou seja, um mundo perfeito. Como característica ao mundo, o Demiurgo (Deus-artífice), colocou o mundo acima de um corpo perfeito, mas também de uma alma e de uma inteligência perfeita. E surgiu a alma do mundo. Esta possui três princípios: a essência, o idêntico e o diferente. A partir disso, se tem um mundo em uma espécie de Deus visível. Enquanto mundo inteligível está presente na dimensão do eterno, o mundo sensível se coloca na dimensão do tempo, sendo este tempo, caracterizado pela geração e pelo movimento. Logo, o tempo nasceu como céu, ou seja, o tempo começou como o mundo, não existindo o tempo antes dele. O Demiurgo é um Deus com características de pessoa, situado abaixo do mundo das Ideias, ele não é o criado do mundo, é apenas seu dependente. Oposto ao Demiurgo (Deus-pessoa) se tem a Divina, a Ideia do bem, o deus impessoal. Este se encontra na hierarquia de inteligível, ou seja, o ente divino e impessoal. Essa ideia do deus impessoal, do divino como suprassensível, foi proporcionada com a descoberta do suprassensível na “segunda navegação”. Podendo proporcionar isso, Platão também devia deixar entendido que o divino é estruturalmente múltiplo. 12 2.3 O conhecimento, a dialética, a retórica, a arte e a erótica 2.3.1 A anamnesecomo raiz do conhecimento Anteriormente era tratado somente de assuntos do mundo inteligível, mas resta examinar qual o método de acesso do homem ao inteligível. Para que Platão superasse a impossibilidade objetiva de obter resposta, ele descobre um novo caminho. Surge então o conhecimento da anamnese que é caracterizada como uma certa “recordação” do que já existe dentro da alma, pela conclusão de Platão o entendimento de que a alma compreende é de fácil entendimento. A mesma extrai de si mesma uma verdade que já existe e essa extração é um exemplo de recordação. 2.3.2 Os graus do conhecimento: a opinião e a ciência O conhecimento é explicado em sua raiz pela anamnese, enquanto essa explicação se assegura no verdadeiro na alma. Como existe uma realidade intermediária, Platão concluiu que existe um conhecimento intermediário entre a ciência e a ignorância: caracterizado como um tipo de conhecimento que não encaixa nos quesitos de conhecimento verdadeiro, este pode ser descrito como opinião. Para Platão essa opinião nem sempre era enganadora, poderia ser reta e verdadeira, mas não pode garantir total exatidão no processo. Essa opinião ela pode ser alterada, de modo que para garantir a verdade teria que se impor com um “raciocínio causal” através de um conhecimento da causa da situação. 2.3.3 A dialética Os primeiros degraus do conhecimento são responsáveis por deter homens comuns, isto é, os mesmos não passam dos níveis de opinião. Os homens com um grau elevado de conhecimento são caracterizados em parâmetros diferenciados, ou 13 seja, o processo em que o intelectual passa a informação ou passa ideia para ideia, constitui a “dialética”. O intelectual que passa a informação é caracterizado “dialético”. Na dialética existem dois modelos, a ascendente e a descendente. A ascendente é caracterizada como a libertação do sensível e do sentido, conduz as ideias e leva a mesma até alcançar a ideia suprema. Já a descendente é caracterizada como o inverso. A dialética consiste na capacitação do intelectual e no posicionamento de cada ideia respeitando o posicionamento de ideias opostas. Nesse pensamento citado, surge o respeito que é caracterizado como uma atitude que favorece as relações interpessoais. 2.3.4 A arte como distanciamento da verdade De acordo com a temática metafísica e a dialética a problemática platônica deve ser tratada estreitamente. Quando se trata de essência, função da arte, entre outros, Platão preocupa apenas em estabelecer o valor da verdade. Sua resposta perante essa situação é sempre negativa, a arte ela não consegue revelar nenhuma situação ela apenas esconde o verdadeiro. Ela, não é uma forma de conhecimento e sim uma forma de corromper e deseducar o homem para que assim possa voltar para faculdades irracionais da alma que é constituída pela parte “negativa” que temos dentro de nós. 2.3.5 A retórica como mistificação do verdadeiro A retórica, segundo Platão é uma forma de adulterar o verdadeiro. A arte é uma forma de retórica, pois a mesma imita ou adultera as coisas sem mesmo ter um verdadeiro conhecimento. O poder de persuasão e convencimento são dois motivos primordiais para a existência da retórica, e como a arte cria fantasmas sobre as coisas a retórica cria opiniões infundadas e crenças ilusórias. Para que se constrói a 14 verdadeira arte de persuadir é preciso conhecer a natureza das coisas (dialética) e a natureza da alma (discursos). 2.3.6 A erótica como caminho alógico para o Absoluto O que os homens denominam de amor, na concepção intelectual é considerado apenas uma pequena representação do mesmo. O amor ele não tem duas faces, o amor não é belo nem bom, não é tudo ou nada, não é vida ou morte. O amor é um caminho que necessita ser alimentado para que sempre floresça o bem. O verdadeiro amante é aquele que não desiste no primeiro obstáculo, é aquele que acima de tudo ama até o fim, ama até chegar a visão do belo absoluto. 2.4 Concepção do homem 2.4.1 Concepção dualista do homem Pode se dizer, que a concepção platônica é dualista em alguns diálogos visando à relação entre o corpo e a alma. O corpo representa não só o refúgio da alma, ele também é entendido como a “tumba”, como “cárcere” da alma, sendo aquele lugar que a mesma cumpre suas penas. Ao considerar que possuímos um corpo somos considerados “mortos”, uma vez que como a alma situa-se no corpo, ela se encontra na situação de morte. O corpo é a raiz de todo mal, fonte de amores, paixões, discórdias, da ignorância e da loucura, isso tudo representa fatores de morte para a alma. Logo, o morrer é o viver! Quando se morre, há a libertação da alma. Considera-se então que a ética de Platão apresenta parcialmente condicionada pelo dualismo citado. Uma vez que, seus teoremas e corolários apoiam-se na distinção da metafísica entre o corpo e a alma e o corpo, visando no ser dotado de afinidade como o inteligível e a realidade sensível do corpo. 15 2.4.2 Os paradoxos da “Fuga do corpo” e da “fuga do mundo” e seu significado A “fuga do mundo” e “fuga do corpo” é considerada os principais paradoxos na ética platônica, visto que os mesmos foram entendidos de forma incorreta, pois atentou-se mais para a fisionomia graduada do que para fundação da metafísica. A fuga do corpo se comporta como o reencontro com o espírito, nesse sentido, a morte traz benefícios que representam a abertura para a verdadeira vida da alma. Logo, com a ideia de que a alma deve sempre fugir do corpo faz com que o verdadeiro filósofo sempre deseje a morte. Nesse contexto, esse paradoxo torna-se mais preciso, pois o filósofo deseja a verdadeira vida presa ao corpo, sendo necessário que haja a morte para a vida de espírito. O segundo paradoxo, fuga do mundo, significa que ao fugir do mundo é tornar-se virtuoso e assemelhar a Deus. O mal sempre existirá, pois haverá algo que será oposto e contrário do bem. Dessa maneira, os dois paradoxos possuem significados idênticos, praticar a virtude e dedicar–se ao conhecimento tornando-se assim semelhante a Deus. 2.4.3 A purificação da alma como conhecimento e a dialética como conversão Para Platão a purificação se realiza na medida em que a alma após ultrapassar os sentidos, conquista o mundo do inteligível e do espiritual, ou seja, a purificação coincide no processo de elevação ao conhecimento supremo do inteligível. O “misticismo” platônico consiste no esforço de busca e ascensão ao conhecimento. Consequentemente, é conhecendo que a alma cuida de si mesma realizando a purificação, nisso reside à verdadeira virtude. Pois, o processo de 16 conhecimento racional também representa para Platão um processo de “con-versão” moral. 2.4.4 A imortalidade da alma Platão afirma que a alma humana é capaz de conhecer coisas imutáveis e eternas. Para poder conhecer tais coisas é necessário que ela possuir uma natureza dotada de afinidade com essas coisas. Ou, por si não estas ultrapassariam a capacidade da alma. Logo, para que a alma seja eterna e imutável, as coisas que a mesma deve conhecer, deverão ser imutáveis e eternas. Uma proposição de Platão é que as almas não nascem, nem morrem. Elas seriam por determinação divina, não estando sujeito à morte. A imortalidade da alma e sua existência só possuem sentindo quando se admite a existência do ser meta empírico, ou seja, a alma constitui a dimensão inteligível. 2.4.5 A metempsicose e os destinos da alma após a morte A metempsicose é a doutrina que ensina a transmigração da alma em vários corpos e por isso, propõe o “renascimento” da alma em diferentes formas de seres vivos. Platãoretoma essa doutrina, ampliando-a em duas formas complementares. A primeira forma afirma que as almas vivem uma vida ligada ao corpo, às paixões, ao amor, e aos prazeres não conseguindo assim se separar inteiramente do mesmo com a morte. Logo, por algum tempo essas almas vagam como fantasmas junto aos sepulcros, até serem atraídas pelo desejo corpóreo, se ligando novamente aos corpos podendo ser também de animais. O segundo tipo de reencarnação, é diferente, pois afirma que o número de almas é limitado. Logo, quando todas forem contempladas haveria um momento em que não restaria nenhuma alma pela terra. Por essa razão, como Platão considera 17 que tanto o prêmio e o castigo possuem tempo limitado. Para ele, a vida dura no máximo cem anos, influenciado pela mística do número dez, o mesmo acredita que a vida ultraterrena dura 10 vezes mais a mais, ou seja, mil anos. Para as almas que cometeram crimes graves a punição continuará após o milésimo ano, após esse ciclo elas voltam a se reencarnar. Dessa maneira, o ciclo se torna um ciclo vinculado as vicissitudes do individuo e de um ciclo cósmico. 2.4.6 O mito de Er e seu significado Após a viagem dos mil anos, as almas se reúnem em uma planície, onde será determinado o destino futuro de cada uma delas. Segundo Platão a escolha fica inteiramente entregue a liberdade das próprias almas. Pois, o homem não é livre pra viver ou não viver, mas é livre de optar viver ou não de acordo com as normas da moral. A escolha depende da liberdade das almas, porém o mais correto seria dizer que a escolha é de acordo com o conhecimento ou ciência da vida boa e má, para Platão isto se transforma em força salvadora. 2.4.7 O mito do carro alado Outra visão mais complexa seria que a alma se encontrava junto aos deuses, vivendo em uma vida divina, porém, por causa de um culpa, a mesma poderá estar projeta em corpo na terra. Sendo que, a alma se assemelha a um carro alado puxado por dois cavalos e guiado pelo auriga, este que por sua vez representa a razão. Os dois cavalos dos deuses são iguais, sendo os dois bons. Já os cavalos das almas dos homens são diferentes, representando o mau e o bem, o que os torna difíceis de guiar. Sendo assim, as almas desfilam no cortejo dos deuses, voando pelas estradas do céu, procurando chegar o ápice do céu, também chamado de planície 18 da verdade. Porém, ao contrário do que acontece com o dos deuses, para as nossas almas, especialmente por causa do “cavalo do mau” é puxada para baixo quando a mesma tenta contemplar o Ser. Sucede então, que para que a mesma contemple o ser, é necessário que te delas vivam com os deuses. As que não conseguem chegar à planície da verdade amontoam-se, chocam-se, brigam-se e precipitam sobre a terra. Dessa maneira, quando a alma consegue contemplar o Ser ela não cai em um corpo na terra, e de ciclo em ciclo, continua a viver na companhia dos deuses e demônios. Após a morte do corpo, a alma é julgada e usufruirá de prêmios ou cumprirá penas correspondentes aos méritos ou deméritos da vida na terra e só após o milésimo ano volta a se reencarnar. Sendo que, transcorridos os dez mil anos, todas as almas voltam às asas e retornam junto aos deuses. As boas almas, que viveram de acordo com os ensinamentos da filosofia por três vidas, gozam por um destino privilegiado, pois retomam as asas após três mil anos. 2.4.8 Conclusões sobre a escatologia platônica Os mitos procuram sugerir e fazer acreditar que a verdade fundamental é uma verdade de “fé raciocinada”. Essa verdade consiste em admitir que o homem encontra-se na passagem da terra e que a vida terrena constitui uma prova. A verdadeira vida situa-se no além, a alma é julgada no critério de justiça ou injustiça. As ideias de juízo, prêmio e castigo transparece em todos os mitos escatológicos a ideia do significado “libertador” das dores sofrimentos humanos. Transparecendo assim, a ideia de força salvífica da razão e da filosofia, isto é, busca da visão da verdade que salva “para sempre”. 19 2.5 O Estado ideal e suas formas históricas 2.5.1 A estrutura da “República” platônica Platão relaciona a arte política com a arte do filósofo, sendo a verdadeira política a arte que “cura a alma”, tornando-a mais virtuosa. Sendo assim, apenas na condição de o político se tornar filósofo (ou vice-versa), é que se torna possível construir a Cidade autêntica, ou seja, um Estado voltado para a justiça e o bem. Segundo o filósofo, a Cidade necessita de três classes sociais: a dos lavradores, artesões e comerciantes, que provêm à necessidade dos materiais, desde o alimento até às vestes e à habitação; a dos guardas, responsáveis pela guarda e defesa da Cidade; e a dos governantes, que devem saber governar adequadamente, contemplando o bem e tendo uma alma racional. Desse modo, Platão considera as três classes do Estado como as três classes da alma: a apetitiva, a irascível e a racional. Assim, a justiça só existe exteriormente, nas suas manifestações, enquanto existir interiormente, na sua raiz, ou seja, na alma. 2.5.2 A “Política” e as “Leis” Sendo A República um ideal a ser alcançado, Platão se ocupou expressamente com política em A Política e em As Leis para a construção de um “Estado segundo”, destinado a suceder o Estado ideal, atribuindo uma maior consideração aos homens vistos como efetivamente são e não apenas como deveriam ser. As constituições históricas podem ser de três formas diferentes: monarquia, onde um só homem governa; aristocracia, onde vários homens ricos governam; democracia, onde o povo governa. 20 Por fim, Platão recomenda os conceitos de “sociedade mista” e o de “igualdade proporcional”, onde a fórmula ideal se encontra no respeito à liberdade, devidamente mesclado com a autoridade exercitada com a “justa medida”, que, de todas as coisas, é Deus. 2.6 Conclusões sobre Platão O mito fala sobre prisioneiros (desde o nascimento) que vivem presos em correntes numa caverna e que passam todo tempo olhando para a parede do fundo que é iluminada pela luz gerada por uma fogueira. Nesta parede são projetadas sombras de estátuas representando pessoas, animais, plantas e objetos, mostrando cenas e situações do dia-a-dia. Os prisioneiros ficam dando nomes às imagens (sombras), analisando e julgando as situações. Segundo Platão, os seres humanos possui visão distorcida da realidade. De acordo com o mito, os prisioneiros somos nós que enxergamos em coisas criadas pela cultura em que vivemos. A caverna é representada pelo mundo em que vivemos e para que possamos ser libertos devemos sair dessa caverna e conhecer novos conhecimentos que não foram ensinados pela vivência. 2.7 A Academia platônica e os sucessores de Platão A escola de Platão foi fundada na Grécia em aproximadamente 388 a.C., foi considerada um acontecimento memorável devido ainda não existirem instituições desse tipo. Para Platão obter o conhecimento jurídico da Academia, é possível que o mesmo tenha apresentado como uma comunidade de culto consagrada às Musas e a Apolo. A finalidade da escola era traduzir, através do saber e de sua organização, formar homens novos capazes de renovar o Estado. Ou seja, a Academia 21 fundamentou-se no pressuposto de que o conhecimento torna os homens melhores que aperfeiçoaria a sociedade e o Estado. A academia abriu as portas à personalidade diversificada de varias tendências. Alguns dos lecionadores eram: matemáticos, astrônomos e médicos. Eudoxio de Cnido, por exemplo, o mais celebre matemático e astrônomo daquela época, chegou até mesmo a participar dos debatessobre a teoria das ideias. O primeiro sucessor de Platão era seu sobrinho Espêusipo, o mesmo dirigiu a Academia de 347/346 a 339/338, o que se ocasionou em uma rápida decadência da Escola. Pois, ele havia negado a existência das Ideias e dos Números ideias, reduzindo o mundo inteligível de Platão apenas aos “entes matemáticos”. Espêusipo foi seguido por Xenócrates, que dirigiu a Academia de 339/338 a 314/315 a.C. Ele corrigiu as teorias do antecessor, buscando uma posição entre esta e a platônica. Xenócrates deixou marcada sua influencia em física, ética e dialética. O que teve um grande sucesso, visto que essa tripartição serviram para o pensamento helenístico como o pensamento da época imperial. A academia foi dominada por Polemom, Crátetes e Crântor após a morete de Xenócrates. Essas três figuras de pensadores que realizaram tal mudança em seu clima espiritual que a escola de Platão tornou-se irreconhecível. Polemon dirigiu a escola, Cratetes sucedou Polemom por um breve período e Crânto era o companheiro e discípulo de Polemom. Seus escritos e pensamentos além do modo de viver, já dominavam as formas de pensamento de uma nova época. 22 3. CONCLUSÃO De acordo com certos aspectos dos escritos de Platão, podemos concluir que a filosofia era entendida por ele como uma prática que visava primeiramente a uma transformação profunda e pessoal dos que a investigavam. O ato de Filosofar para ele era, acima de tudo, buscar com todo o seu ser melhorar a própria vida. Para Platão, o homem está ligado permanente em dois mundos com realidades diferentes. A primeira é o inteligível, ou seja, uma realidade igual a si mesma, e a segunda é uma realidade em tudo que nós sentimos. 23 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: volume 1: antiguidade e idade média. 7. ed. São Paulo: Paulus, 2012. BURTON, Neel. O Mundo De Platão: A Vida e a Obra de Um dos Maiores Filósofos de Todos os Tempos. 1. ed. Editora Cultrix. 2013. MATHEUS, Carlos. Platão – Vida e Obra. 1. ed. Audiolivro Editora. 2008.
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