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Livro Eletrônico Aula 01 Criminologia p/ PC-MG (Delegado) Pós-Edital Professor: Renan Araujo 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo AULA òNICA TîPICOS DE CRIMINOLOGIA SUMçRIO 1 CRIMINOLOGIA: FUNDAMENTOS. VITIMOLOGIA. PROCESSOS DE CRIMINALIZAÌO. ...................................................................................................... 4 1.1 Fundamentos tericos .................................................................................... 4 1.1.1 Conceito ....................................................................................................... 4 1.1.2 Objeto de estudo ........................................................................................... 5 1.2 Vitimologia ..................................................................................................... 6 1.2.1 Conceito e classificao ................................................................................... 6 1.2.2 Processos de vitimizao ................................................................................. 8 1.3 Processos de criminalizao ......................................................................... 10 1.3.1 Criminalizao primria ................................................................................ 10 1.3.2 Criminalizao secundria ............................................................................. 10 2 MODELOS TEîRICOS ........................................................................................... 10 2.1 Criminologia cientfica e seus modelos tericos ........................................... 10 2.2 Teorias bioantropolgicas, psicodinmicas e psicopsicolgicas. O homem delinquente ............................................................................................................... 12 2.3 Teorias sociolgicas ..................................................................................... 16 2.3.1 Criminologia do consenso .............................................................................. 16 2.3.1.1 Escola de Chicago .................................................................................. 16 2.3.1.2 Teoria da associao diferencial (aprendizagem social ou social learning) ...... 18 2.3.1.3 Teoria das subculturas delinquentes ......................................................... 18 2.3.1.4 Teoria da anomia .................................................................................. 19 2.3.2 Criminologia do conflito ................................................................................ 20 2.3.2.1 Teoria do etiquetamento ou labeling approach ........................................... 20 2.3.2.2 Garantismo, minimalismo e abolicionismo penal ........................................ 21 2.3.3 Criminologia ambiental ................................................................................. 24 3 SISTEMA PENAL E CONTROLE SOCIAL. POLêTICA CRIMINAL NO BRASIL Ð A PREVENÌO DA INFRAÌO PENAL NO ESTADO DEMOCRçTICO DE DIREITO .............. 26 3.1 Sistema penal e controle social .................................................................... 26 3.1.1 Conceito e Instituies .................................................................................. 26 3.1.2 Discrepncia entre discurso e realidade ........................................................... 26 3.2 A preveno penal no Estado Democrtico de Direito ................................... 27 3.2.1 Preveno primria ...................................................................................... 28 3.2.2 Preveno secundria ................................................................................... 28 3.2.3 Preveno terciria ....................................................................................... 29 3.2.3.1 Teoria absoluta da pena ......................................................................... 29 3.2.3.2 Teoria relativa e sua finalidade preventiva ................................................ 29 3.2.3.3 Teoria Mista (unificadora ou ecltica ou unitria) e sua dupla finalidade ........ 30 3.2.4 Programas de preveno de infraes penais ................................................... 30 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo 4 CRIMINOLOGIA E POLêTICA CRIMINAL. CRIMINOLOGIA E CIæNCIAS CRIMINAIS 33 4.1 MODELOS DE REAÌO AO CRIME .................................................................. 33 4.1.1 Clssico ou dissuasrio ................................................................................. 33 4.1.2 Ressocializador ............................................................................................ 34 4.1.3 Restaurador ................................................................................................ 34 5 RESUMO .............................................................................................................. 34 6 EXERCêCIOS DA AULA ......................................................................................... 44 7 EXERCêCIOS COMENTADOS ................................................................................. 59 8 GABARITO .......................................................................................................... 87 Ol, meus amigos! com imenso prazer que estou aqui, mais uma vez, pelo ESTRATGIA CONCURSOS Ð CARREIRAS JURêDICAS, tendo a oportunidade de poder contribuir para a aprovao de vocs no concurso da PC-MG. Ns vamos estudar teoria e comentar exerccios sobre CRIMINOLOGIA, para o cargo de DELEGADO DE POLêCIA. E a, povo, preparados para a maratona? O edital acabou de ser publicado! So 76 vagas para Delegado de Polcia Substituto, para provimento imediato, mais cadastro de reserva. O concurso ser realizado pela FUMARC, com provas objetivas em 17/6 e provas discursivas em 12/8. Bom, est na hora de me apresentar a vocs, no ? Meu nome Renan Araujo, tenho 30 anos, sou Defensor Pblico Federal desde 2010, atuando na Defensoria Pblica da Unio no Rio de Janeiro, e mestre em Direito Penal pela Faculdade de Direito da UERJ. Antes, porm, fui servidor da Justia Eleitoral (TRE-RJ), onde exerci o cargo de Tcnico Judicirio, por dois anos. Sou Bacharel em Direito pela UNESA e ps- graduado em Direito Pblico pela Universidade Gama Filho. Minha trajetria de vida est intimamente ligada aos Concursos Pblicos. Desde o comeo da Faculdade eu sabia que era isso que eu queria para a minha vida! E querem saber? Isso faz toda a diferena! Algumas pessoas me perguntam como consegui sucesso nos concursos em to pouco tempo. Simples: Foco + Fora de vontade + Disciplina. No h frmula mgica, no h ingrediente secreto! Basta querer e correr atrs do seu sonho! Acreditem em mim, isso funciona! muito gratificante, depois de ter vivido minha jornada de concurseiro, poder colaborar para a aprovao de outros tantos concurseiros, como um dia eu fui! E quando eu falo em Òcolaborar para a aprovaoÓ, no estou falando apenas por falar. O Estratgia Concursos possui ndices altssimos de aprovao em todos os concursos! 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG(2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo Neste curso vocs recebero todas as informaes necessrias para que possam ter sucesso na prova da PC-MG. Acreditem, vocs no vo se arrepender! O Estratgia Concursos est comprometido com sua aprovao, com sua vaga, ou seja, com voc! Bom, neste curso estudaremos todo o contedo de CRIMINOLOGIA previsto no edital. Nosso curso ser curto, contando apenas com esta aula. Com relao s questes, vamos dar preferncia quelas que tenham sido cobradas em concursos de nvel superior na rea jurdica (Magistratura, Defensoria Pblica, MP, etc.). Alm da teoria e das questes, vocs tero acesso a duas ferramentas muito importantes: ¥! RESUMO Ð Nossa aula ter um resumo daquilo que foi estudado, indo direto ao ponto daquilo que mais relevante! Ideal para quem est sem muito tempo. ¥! FîRUM DE DòVIDAS Ð No entendeu alguma coisa? Simples: basta perguntar ao professor Vinicius Silva (responsvel pelo frum), que ir responder seus questionamentos no frum de dvidas exclusivo para os alunos do curso. No mais, desejo a todos uma boa maratona de estudos! Prof. Renan Araujo E-mail: profrenanaraujo@gmail.com Periscope: @profrenanaraujo Facebook: www.facebook.com/profrenanaraujoestrategia Instagram: www.instagram.com/profrenanaraujo/?hl=pt-br Youtube: www.youtube.com/channel/UClIFS2cyREWT35OELN8wcFQ Observao importante: este curso protegido por direitos autorais (copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a legislao sobre direitos autorais e d outras providncias. Grupos de rateio e pirataria so clandestinos, violam a lei e prejudicam os professores que elaboram os cursos. Valorize o trabalho de nossa equipe adquirindo os cursos honestamente atravs do site Estratgia Concursos. ;-) 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo 1! CRIMINOLOGIA: FUNDAMENTOS. VITIMOLOGIA. PROCESSOS DE CRIMINALIZAÌO. 1.1!Fundamentos tericos 1.1.1!Conceito Inicialmente, devemos analisar a criminologia por seu conceito. A criminologia pode ser conceituada como a cincia emprica (humana e social) que busca estudar o crime, o criminoso, a vtima, o controle social, bem como todas as circunstncias que envolvem o fenmeno do crime. Na definio de GARCêA-PABLOS DE MOLINA1, Ò(...) trata-se de uma cincia emprica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vtima e do controle social do comportamento delitivo(...).Ó Inicialmente, a palavra CRIMINOLOGIA fora utilizada por RAFFAELE GAROFALO. Porm, h indcios de que esta palavra j teria sido utilizada anteriormente, por TOPINARD. Diz-se que a criminologia uma cincia emprica porque ela trabalha sobre bases concretas, atravs da anlise dos acontecimentos no mundo real, e no meramente abstratos, utilizando-se, portanto, do mtodo da observao e da experimentao. Entende-se a criminologia, ainda, como uma cincia INTERDISCIPLINAR, eis que como seu objeto de estudo por demais amplo, ela necessariamente se vale de outros ramos da cincia como forma de auxlio (Dentre elas a psicologia, a sociologia, a antropologia, etc.). Embora seja reconhecida pela maioria da Doutrina como uma cincia autnoma em relao ao Direito Penal, h quem defenda sua vinculao ao Direito Penal. Contudo, prevalece, com acerto, a separao entre ambos. O Direito Penal uma cincia meramente NORMATIVA, que analisa o fenmeno do crime do ponto de vista da transgresso da norma pura e simplesmente, e as consequncias que dessa transgresso adviro. A Criminologia, por sua vez, uma cincia CAUSAL-EXPLICATIVA, ou seja, busca explicar o delito no como mera violao norma, mas tendo em conta todas as suas causas (sejam elas psicolgicas, biolgicas, sociais, etc.), 1 GARCêA-PABLOS DE MOLINA, Antnio; FLçVIO GOMES, Luiz. Criminologia. editora RT. So Paulo, 2002. Pgina 30. 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo bem como se volta anlise do delinquente numa perspectiva ressocializadora (PREVENÌO ESPECIAL). Assim, ambos analisam o CRIME, s que cada um analisa por um prisma prprio. Assim: 1.1.2!Objeto de estudo Como dissemos anteriormente, no s do crime vive a criminologia, ela tambm se ocupa: ⇒!DO CRIMINOSO Ð A criminologia, enquanto cincia causal-explicativa, est sempre em busca de entender o delinquente, a estrutura social que o cerca, bem como todos os fatores internos e externos que o levaram a delinquir. ⇒!DA VêTIMA Ð Antigamente no se dava muita importncia para o papel da vtima no estudo do fenmeno conhecido como ÒcrimeÓ, relegando- a a um papel meramente secundrio. Curioso que, nos dias atuais, a vtima no s ganhou mais espao, como recebeu ateno destacada, tendo sido criado um sub-ramo especfico para seu estudo (A VITIMOLOGIA). ⇒!DO CONTROLE SOCIAL Ð Como diria Hobbes, o ÒHomem lobo do HomemÓ. Partindo desta premissa, podemos concluir que o ser humano incapaz de viver em sociedade sem que haja algum aparato de controle, cuja finalidade estabelecer um conjunto normativo apto a reger as relaes interpessoais, sob pena de estabelecimento do caos. Um dos instrumentos de que se vale o Estado para o exerccio deste controle o DIREITO PENAL. Contudo, o controle social no se d CRIME DIREITO PENAL PRISMA NORMATIVO CRIMINOLOGIA PRISMA EXPLICATIVO- CAUSAL 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo apenas pelo Estado, mas tambm por meio dele. Existem formas de controle social no vinculadas ao Estado, e inclusive prvia a ele, como a famlia, a religio, etc. Todas estas so formas de controle social, ainda que no formais. Quando estas formas de controle social se mostram deficitrias, o indivduo tende a desvirtuar-se e o Estado chamado a intervir a posteriori, por meio do seu instrumento de represso por excelncia: O DIREITO PENAL. 1.2!Vitimologia 1.2.1!Conceito e classificao A vitimologia , basicamente, o estudo da vtima e sua importncia no fenmeno do crime. Este sub-ramo da criminologia passou a ganhar relevncia com a obra de MENDELSOHN, que entendia que a vtima no poderia, de forma alguma, continuar a ser analisada como mero coadjuvante. Na classificao de MENDELSOHN, temos que a vtima pode ser: ⇒! VêTIMA IDEAL (OU COMPLETAMENTE INOCENTE) Ð aquele que no contribui, em nada, para a ocorrncia do delito. EXEMPLO: Um trabalhador que assaltado e tem sua carteira roubada, sem que estivesse ostentando qualquer bem ou, de alguma forma, chamando a ateno. ⇒! VêTIMA DE CULPABILIDADE MENOR (OU POR IGNORåNCIA) Ð Trata-se da vtima que contribui para a ocorrncia do delito, embora no haja um direcionamento doloso para isso. EXEMPLO: Rapaz que anda sozinho noite na Linha Vermelha, ostentando um celular de R$ 4.000,00 e acaba sendo vtima de roubo. ⇒! VêTIMA TÌO CULPADA QUANTO O INFRATOR (OU VOLUNTçRIA) Ð Trata-se da vtima que contribui para o delito em grausemelhante ao do prprio infrator. O exemplo clssico o da roleta-russa. ⇒! VêTIMA MAIS CULPADA QUE O INFRATOR Ð Aqui ns temos a figura da vtima que d causa, que provoca a ao do infrator. EXEMPLO: A vtima que mata o filho do vizinho e acaba sendo por ele assassinada. ⇒! VêTIMA UNICAMENTE CULPADA Ð Classificam-se em: vtima infratora (aquela que se torna vtima por ter praticado um delito prvio), vtima simuladora (aquela que simula a ocorrncia de um delito para gerar uma acusao em face de algum) e vtima imaginria (por um problema psicolgico, acredita que foi vtima de crime, quando no foi). Podemos utilizar, portanto, o seguinte esquema: 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo CUIDADO! Imprescindvel que se compreenda o conceito de PERIGOSIDADE VITIMAL. Perigosidade vitimal o nome que se d ao estado em que a vtima se coloca de forma a estimular sua vitimizao, de forma direta ou indireta. H, ainda, outras classificaes menos utilizadas: ⇒! Vtima nata Ð Apresenta, desde seu nascimento, predisposio para figurar como vtima de crimes. ⇒! Vtima potencial Ð Apresenta comportamento ou estilo de vida que atrai o criminoso. ⇒! Vtima eventual ou real Ð Aquela que no contribui em nada para o evento criminoso, a vtima ÒverdadeiraÓ. ⇒! Vtima simuladora (ou falsa) Ð Est consciente de que no foi vtima de delito algum, mas por alguma razo imputa a algum a prtica de um crime contra si. ⇒! Vtima voluntria Ð Aquela que consente com o crime, exercendo algum ÒpapelÓ na produo criminosa. ⇒! Vtima acidental Ð Aquela que vtima de sua prpria conduta, geralmente por ausncia de observncia de um dever de cuidado. ⇒! Vtima ilhada Ð Aquela que se afasta das relaes sociais. VÍTIMAS IDEAL POR IGNORÂNCIA TÃO CULPADA QUANTO O INFRATOR MAIS CULPADA QUE O INFRATOR UNICAMENTE CULPADA VÍTIMA INFRATORA VÍTIMA SIMULADORA VÍTIMA IMAGINÁRIA 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo SêNDROME DE ESTOCOLMO Ð A sndrome de Estocolmo nada mais que o desenvolvimento de laos afetivos entre vtimas de crimes que envolvam privao da liberdade (sequestro, crcere privado, etc.) e seus raptores. Termo criado por NILS BEJEROT, a sndrome se desenvolve a partir de uma tcnica de defesa, consistente na tentativa da vtima em conquistar a simpatia do infrator, mas acaba criando laos de afeto. 1.2.2!Processos de vitimizao Alm da classificao dos Òtipos de vtimaÓ, importante se mostra o estudo dos PROCESSOS DE VITIMIZAÌO. A vitimizao ou processo vitimizatrio o processo pelo qual algum se torna vtima, em definio livre. Podemos defini-lo da seguinte forma: ⇒! VITIMIZAÌO PRIMçRIA - aquela inerente ao prprio crime, prpria conduta criminosa, como os danos causados pela prtica da conduta (leses corporais, psicolgicas, etc.); ⇒! VITIMIZAÌO SECUNDçRIA - aquela provocada, direta ou indiretamente, pelo Poder Pblico, pelas chamadas "instncias de controle social", quando, na tentativa de punir o crime, acabam por provocar mais danos vtima (normalmente psicolgicos, por ter que relembrar o fato, ter contato com o infrator, etc.); ⇒! VITIMIZAÌO TERCIçRIA - Causada pela sociedade que envolve a vtima, geralmente pelo afastamento, desamparo dos familiares, dos amigos ou do crculo social da vtima, de um modo geral. Ocorre, com maior frequncia, nos crimes que provocam efeitos ÒestigmatizantesÓ, como o estupro. Nesse sentido: 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo Esse processo de REVITIMIZAÌO tambm ocorre no plano interno, ou seja, dentro da prpria vtima, no que se chamou de AUTOVITIMIZAÌO SECUNDçRIA. Neste processo a vtima passa a nutrir sentimentos negativos contra si prpria, de culpa inconsciente pela ocorrncia do delito.2 A vtima possui papel relevante, ainda, no CP. O art. 59 assim estabelece: Art. 59. "O juiz, atendendo culpabilidade, aos antecedentes, conduta social, personalidade do agente, aos motivos, s circunstncias e consequncias do crime, bem como o comportamento da vtima, estabelecer, conforme seja necessrio e suficiente para reprovao e preveno do crime". Percebam, assim, que o Òtipo de vtimaÓ (na classificao de MENDENSOHN) ir influenciar no momento da fixao da pena base, podendo gerar, em alguns casos, a atipicidade da conduta (nos crimes em que a discordncia da vtima exigida) ou a excluso da ilicitude, dentre outros reflexos. ATENÌO! Parte da Doutrina, ao analisar o papel da vtima no campo criminolgico e o reflexo deste papel na responsabilidade penal do infrator e na pena aplicada, entende que se est diante de um ramo conhecido como VITIMODOGMçTICA. 2 Todos estes processos de vitimizao, notadamente a vitimizao secundria e a terciria (provocadas pelas agncias de controle e pela sociedade, respectivamente), colaboram para que a vtima acabe se desestimulando no processo de busca pela punio ao infrator, muitas vezes sequer levando o fato autoridade competente, ocasionando as chamadas Òcifras negrasÓ, ou seja, infraes penais que no entram nas estatsticas oficiais. VITIMIZAÇÃO PRIMÁRIA DECORRENTE DO PRÓPRIO FATO SECUNDÁRIA DECORRENTE DA ATUAÇÃO DAS INSTÂNCIAS FORMAIS DE CONTROLE TERCIÁRIA OCORRE NO SEIO SOCIAL DA VÍTIMA - PRINCIPALMENTE NOS CRIMES ESTIGMATIZANTES 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo Entretanto, as vtimas nem sempre foram compreendidas da mesma maneira no campo criminolgico. GARCêA-PABLOS DE MOLINA descreve trs fases na evoluo histrica da compreenso da vtima e seu papel: ⇒! PROTAGONISMO Ð Deu-se no perodo da vingana privada. Neste momento histrico a vtima recebe a incumbncia de fazer, ela prpria, a Justia. ⇒!NEUTRALIZAÌO Ð Punio com vis imparcial e preventivo, sem grande preocupao com a figura da vtima e a necessidade de reparao dos danos sofridos. ⇒! REDESCOBRIMENTO Ð Surgiu no segundo ps-guerra, como resposta ao processo de vitimizao de minorias que atingiu diversos grupos vulnerveis, como os judeus, por exemplo. 1.3!Processos de criminalizao 1.3.1!Criminalizao primria O processo de criminalizao pode ser dividido em fases, no qual temos como fase primria o momento de seleo do bem jurdico-penal que se pretende tutelar, ou o grupo social que se pretende atingir com determinada criminalizao, ou seja, com a escolha das condutas que sero criminalizadas. 1.3.2!Criminalizao secundria J a criminalizao secundria no ocorre no plano legislativo, mas no plano concreto, quando o delito j praticado reprimido pelas Instituies do Estado (MP, Polcia, Judicirio, etc.). Assim, a criminalizao primria abstrata e anterior ao fatocriminoso, enquanto a criminalizao secundria concreta e posterior ao fato criminoso. 2! MODELOS TEîRICOS 2.1!Criminologia cientfica e seus modelos tericos A criminologia enquanto cincia s surge no final do sculo XIX, e apesar de romper com o modelo criminolgico pr-cientfico, se valeu de algumas contribuies destas ÒpseudocinciasÓ para seu desenvolvimento. Pr-cientificamente podemos citar a: 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo DEMONOLOGIA Explica o crime por meio da existncia do demnio. Focava muito nos doentes mentais, pois eram confundidos com possudos e endemoniados FISIONOMIA Foi a pseudocincia que mais se aproximou da criminologia positivista (ou positivismo criminolgico) do final do sculo XIX. Busca explicar o crime com base na aparncia do indivduo, na sua fisionomia, fazendo uma ligao entre o fsico e o psquico. Por meio das caractersticas fsicas seria possvel determinar se o indivduo era ÒbomÓ ou ÒmalÓ e, portanto, menos ou mais propenso prtica de delitos. Tem em DELLA PORTA o seu maior expoente (embora o precursor mais rudimentar tenha sido SÌO JERïNIMO). Curiosamente, a repercusso de tal pseudocincia foi to grande que chegou-se at mesmo ao conhecido ÒDITO DE VALRIOÓ3. FRENOLOGIA Os frenlogos se valem da contribuio da fisionomia para desenvolver sua teoria. Contudo, para esta teoria, o comportamento delitivo poderia ser explicado por meio da anlise do crnio, especificamente. Foi fundada e difundida por FRANOIS JOSEPH GALL. Para GALL o formato do crnio ir influenciar a atividade cerebral, podendo, pela anlise externa da caixa craniana, saber quais faculdades cerebrais so mais ou menos desenvolvidas e, assim, determinar as caractersticas psicolgicas da pessoa (agressividade, coragem, etc.), o que culmina na possibilidade de afirmar a propenso prtica de delitos. PSIQUIATRIA Surge com o francs PHILIPPE PINEL. Sua grande contribuio foi a diferenciao entre criminoso e enfermo mental. Tal diferenciao possibilitou o desenvolvimento da ideia de imputabilidade penal e de criao de estabelecimentos distintos para cada um (doente mental e criminoso). Ultrapassada esta fase pr-cientfica, a criminologia passa a tentar explicar o fenmeno do crime e o comportamento criminal de forma mais cientfica, utilizando-se do empirismo como ponto de partida. 3 ÒQuando se tem dvida entre dois presumidos culpados, condena-se o mais feioÓ (VIANA, Eduardo. CRIMINOLOGIA, 2¼ ed. 2014. Ed. Juspodivm. Pg. 24.) 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo Seus PRINCIPAIS MODELOS TEîRICOS FORAM: CRIMINOLOGIA CLçSSICA E NEOCLçSSICA Tinham como ponto central de seu trabalho o LIVRE ARBêTRIO. Para este modelo, o homem LIVRE para fazer suas escolhas, inclusive para cometer delitos. Nega completamente a influncia de fatores externos, como a condio econmico-social, etc. CRIMINOLOGIA POSITIVISTA Rompe com a ideia de que o homem ÒdelinqueÓ porque quer delinquir. Para este modelo terico, compreender o fenmeno criminal uma tarefa que demanda a anlise de fatores causais-explicativos, ou seja, deve-se buscar as causas do delito (o que se pode chamar de Òparadigma etiolgicoÓ). Contudo, as ÒcausasÓ do delito poderiam se de diversas ordens (biolgicas, psicolgicas, sociais, etc.). SOCIOLOGIA CRIMINAL Enquanto a criminologia positivista v o crime como uma consequncia de determinados fatores (diversos), a sociologia criminal rompe com a ideia de Òcausas do crimeÓ e parte para a ideia da teoria da criminalizao. Com uma forte influncia marxista, tal modelo entende que no importa tanto a ÒcausaÓ de determinado comportamento criminoso, e mais o ÒporquÓ de se considerar criminoso determinado comportamento, ou seja, quais os interesses esto por trs da criminalizao de determinadas condutas. A teoria da REAÌO SOCIAL o principal marco deste modelo. Tambm conhecida como teoria da rotulao social ou do etiquetamento (labelling aproach). LUIZ FLAVIO GOMES e ANTONIO GARCêA-PABLOS DE MOLINA ainda acrescentam um QUARTO modelo terico, que seria representado por diversas correntes criminolgicas contemporneas (como a teoria do curso da vida, a teoria das trajetrias criminais, etc.), que tentam explicar o fenmeno delituoso por meio de uma anlise dinmica dos padres de comportamento do indivduo ao longo da vida (e suas diversas variveis). 2.2!Teorias bioantropolgicas, psicodinmicas e psicopsicolgicas. O homem delinquente Embora na atualidade a classificao dos criminosos em determinados ÒgruposÓ, de acordo com suas caractersticas biolgicas, psicolgicas, etc., tenha perdido bastante de sua relevncia, ainda gozam de algum prestgio em determinados setores. 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo Vamos estudar as principais classificaes do Òhomem delinquenteÓ: Classificao de HILçRIO VEIGA DE CARVALHO BIOCRIMINOSOS PUROS (pseudocriminosos) So criminosos apenas por fatores biolgicos, de forma que se nega a estes o livre arbtrio ( o caso dos doentes mentais) BIOCRIMINOSOS PREPONDERANTES (criminosos de difcil correo) Possuem uma tendncia biolgica ao delito, e acabam por delinquir ao ceder a estmulos externos. Aqui h alguma dose de livre arbtrio. BIOMESOCRIMINOSOS (criminosos de correo possvel) Sofrem influncias de fatores biolgicos e externos, no sendo possvel definir qual destes fatores prepondera. A reincidncia, aqui, ocasional. MESOCRIMINOSOS (criminosos de correo provvel ou esperada) Possuem personalidade fraca, sofrendo grande influncia do meio. So os clssicos ÒMaria vai com as outrasÓ, nas palavras do prprio mestre HILçRIO. MESOCRIMINOSOS PUROS (criminosos ambientais) So considerados ÒvtimasÓ do meio. Agem de forma antissocial apenas em razo de fatores externos. o caso do holands que vem ao Brasil e acende um cigarro de maconha. Em seu seio social tal conduta permitida. No Brasil, trata-se de conduta criminosa (posse de droga para uso prprio). Para esta classificao os ÒPUROSÓ (mesocriminosos puros e biocriminosos puros) so considerados ÒpseudocriminososÓ, pois no possuem todos os elementos necessrios ao delito. Em relao aos ltimos faltaria a conscincia da ilicitude, no possuindo a inteno de violar a Lei. Em relao aos primeiros faltaria a possibilidade de autodeterminao. Classificao segundo LOMBROSO, FERRI e GAROFALO Classificao de LOMBROSO NATOS Um degenerado, por fatores biolgicos (cabea pequena ou deformada, sobrancelhas salientes, etc.). Um selvagem sem correo. 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo LOUCOS Perverso, louco moral, alienado mental. Deve permanecer fora da sociedade, segregadoem manicmio ou similar. DE OCASIÌO Possuem predisposio hereditria e so influenciados pelo meio, ou seja, so criminosos em razo das circunstncias (ÒA ocasio faz o ladroÓ. POR PAIXÌO So inconsequentes, irrefletidos, impulsivos, exaltados. Classificao de ENRICO FERRI NATO Possui as mesmas caractersticas do criminoso nato de LOMBROSO. LOUCO Inclui, alm dos alienados completos, os semiloucos (ou fronteirios). OCASIONAL O indivduo que no se dedica ao crime habitualmente, mas acaba por cometer delitos de forma ocasional, inclusive em razo das circunstncias momentneas. Pode ser associado ao criminoso Òde ocasioÓ de LOMBROSO. HABITUAL Faz do crime seu meio de vida. Poderia comear como ocasional e Òse desenvolverÓ para o criminoso habitual. PASSIONAL Semelhante ao criminoso Òpor paixoÓ de LOMBROSO. impetuoso, inconsequente, etc. Classificao de GARîFALO ASSASSINOS So instintivos, egostas, aproximando-se dos seres selvagens e das crianas. ENRGICOS OU VIOLENTOS Possuem senso moral, mas lhes falta compaixo. LADRÍES OU NEURASTæNICOS Falta a estes criminosos a ideia de honestidade, de probidade, embora no lhes falte o senso moral. Percebam que as classificaes destes trs expoentes do POSITIVISMO criminolgico so bem semelhantes. As classificaes de FERRI e LOMBROSO, ento, so praticamente idnticas. Classificao de ODON RAMOS MARANHÌO 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo OCASIONAL Sua personalidade normal, mas em decorrncia de algum fator poderoso (externo ou interno) h um rompimento transitrio dos mecanismos de conteno impulsos. SINTOMçTICO Seus atos esto mais vinculados predisposio criminosa decorrente de uma doena do que existncia de um fato desencadeante. CARACTEROLîGICO A delinquncia, aqui, deriva de falha na formao do carter, havendo pouca ou nenhuma influncia de um fator desencadeante. Classificao para GUIDO ARTURO PALOMBA IMPETUOSOS Seus atos so frutos de Òamnsia momentnea do senso crticoÓ. So similares aos criminosos passionais de FERRI. OCASIONAIS No se dedicam atividade criminosa, cometendo crimes esporadicamente, em razo de fatores internos e externos. HABITUAIS Segundo o professor, so Òincapazes de readquirir uma existncia honestaÓ. Fazem do crime seu meio de vida. o chamado Òcriminosos contumazÓ. FRONTEIRIOS Apresentam deformidades permanentes em seu senso moral, com distrbios de afeto e sensibilidade. Tais alteraes psquicas os conduzem ao crime. LOUCOS CRIMINOSOS Dois tipos: (i) Agem mediante um processo lento e reflexivo; (ii) Agem por impulso. Como vocs podem perceber, a bem da verdade, existem diversas classificaes que acabam por dizer, se no a mesma coisa, quase a mesma coisa, com pequenas variveis. Assim, podemos resumir as teorias BIOANTROPOLîGICAS como aquelas que buscam explicar o criminoso com base em fatores biolgicos. Para esta teoria, existe o ÒcriminosoÓ e Òno criminosoÓ. As teorias PSICODINåMICAS tambm entendem haver o ÒcriminosoÓ e o Òno criminosoÓ, mas ao invs de considerar tal distino com base em fatores biolgicos, enxergam a diferena entre eles como decorrncia de falhas no processo de aprendizado e socializao do indivduo. Por fim, as teorias PSICOSOCIOLîGICAS verificam a existncia de predominncia dos fatores sociais sobre o fenmeno do crime, em detrimento de fatores ligados personalidade do criminoso. 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo 2.3!Teorias sociolgicas Sociedade crimingena , por definio, uma sociedade que PRODUZ CRIME. Essa ideia de que a sociedade produz o criminoso e, por consequncia, o crime, possibilitou o surgimento de diversas teorias calcadas na ideia de que o centro da anlise do fenmeno delitivo no o criminoso, e sim a sociedade (embora aquele tambm merea ateno). Assim, desloca-se o centro do estudo para o meio (a sociedade), criando-se o que se convencionou chamar de SOCIOLOGIA CRIMINAL. Dentro deste quadro sociolgico, dois grandes grupos tericos se desenvolveram: A TEORIA DO CONSENSO e a TEORIA DO CONFLITO. A teoria do consenso ou Òcriminologia do consensoÓ parte da premissa de que a sociedade formada por uma sria de valores fundamentais consensuais, que devem ser protegidos e promovidos por todos. Assim, o Direito Penal nada mais seria que uma ferramenta para a defesa destes valores comuns a todos os indivduos. Inserem-se nesta ideia as teorias desenvolvidas pela ESCOLA DE CHICAGO, ANOMIA E ASSOCIAÌO DIFERENCIAL. A criminologia do conflito, por sua vez, verifica a sociedade no como um todo coeso e harmnico, fundado em valores comuns a todos os indivduos, e sim um campo de batalha entre classe dominante e dominada. Partindo deste vis marxista, as teorias decorrentes desta ideia vo estabelecer que o Direito Penal nada mais que uma ferramenta a servio da classe dominante, de forma a garantir a manuteno do status quo, coagindo a classe dominada a Òandar na linhaÓ. Para tanto, o Direito Penal seria absolutamente seletivo na escolha das condutas que seriam criminalizadas, optando por uma criminalizao primria voltada s condutas geralmente praticadas pelos indivduos pertencentes classe dominada (furto seria mais grave que condutas lesivas ordem econmica, por exemplo). Feita essa distino, vamos anlise das principais teorias relativas sociologia criminal. 2.3.1!Criminologia do consenso 2.3.1.1! Escola de Chicago A Escola de CHICAGO e sua explicao ECOLîGICA do crime talvez seja a principal escola criminolgica moderna. PARK foi o principal expoente desta Escola. Este autor analisou o crescimento populacional na cidade de Chicago no comeo do sculo XX e, com suas observaes, a Escola de Chicago chegou concluso de que o fenmeno delitivo 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo estava relacionado diretamente ao conglomerado urbano e suas caractersticas (multiculturais, tnicas, etc.). Assim, a CIDADE (mais especificamente do que a ÒsociedadeÓ genericamente considerada) seria o foco principal da ateno da criminologia. Para os tericos desta Escola, a CIDADE, ou seja, o meio urbano produz a criminalidade (crescimento populacional, crescimento desordenado, etc.). A Escola de Chicago tambm chegou concluso de que a delinquncia era mais concentrada em determinadas reas, e tal concentrao seria fruto, dentre outras coisas, da desorganizao social destas reas. So oriundas da Escola de Chicago as teorias ECOLîGICA, ESPACIAL, DAS JANELAS QUEBRADAS e DA TOLERåNCIA ZERO. Vejamos sinteticamente cada uma delas: ECOLîGICA (DESORGANIZAÌO SOCIAL) Para esta teoria o progresso leva a criminalidade aos grandes centros urbanos. Prope que a estabilidade e a integrao contribuem para a ordem social, enquanto a desordem social e a ausncia de integrao entre os indivduos contribuem para ndices mais elevados de criminalidade. A deteriorao de ncleos primrios (famlia, igreja, etc.), a superficializaodas relaes sociais, tudo isso cria um meio desorganizado e potencialmente crimingeno4. ESPACIAL Defendia a reestruturao arquitetnica das cidades como forma de preveno do delito, inclusive como forma de permitir maior controle sobre as pessoas. Teve em OSCAR NEWMAN seu maior expoente. JANELAS QUEBRADAS Tem suas razes na obra dos estadunidenses JAMES WILSON e GEORGE KELLING. Para esta teoria a represso dos menores delitos ABSOLUTAMENTE INDISPENSçVEL para inibir a prtica dos delitos mais graves. Tem este nome em razo de um experimento de PHILIP ZIMBARDO. O citado psiclogo deixou um carro estacionado na rua em um bairro de classe alta da cidade de Palo Alto, Califrnia. Durante a primeira semana, o carro permaneceu intacto. Aps, o pesquisador quebrou uma das janelas do veculo e o deixou mais uma semana parado na rua. Ao final desta segunda semana o veculo foi completamente destrudo e furtado por vndalos. Da a ideia de que um ÒpequenoÓ dano sociedade, se no consertado, gera 4 GARCêA ÐPABLOS DE MOLINA, Antonio. GOMES, Luiz Flavio. Criminologia. Ed. Revista dos Tribunais. 8¼ ed. P. 344. 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo a sensao de que Òtudo permitidoÓ, estimulando a prtica de delitos. TOLERåNCIA ZERO A teoria da tolerncia zero (neorretribucionismo) decorre naturalmente da ideia defendida pela teoria das janelas quebradas. Trata-se de uma poltica criminal de represso a toda e qualquer conduta desviante, por menor que seja, como forma de reafirmar o poder do Estado e a necessidade de respeito Lei. Surgiu em Nova York, no comeo dos anos 90. Trata-se de decorrncia do como ÒMovimento Lei e OrdemÓ (Law and Order), que pugna pela expanso do Direito Penal, um seja, um incremento da resposta formal do Estado. 2.3.1.2! Teoria da associao diferencial (aprendizagem social ou social learning) Difundida por Edwin Sutherland, tendo como base as ideias de Gabriel TARDE (e suas ÒLeis da ImitaoÓ). SUTHERLAND focou seus estudos sobre os crimes de colarinho Branco, nos Estados Unidos da Amrica, mais especificamente em Chicago. Para Sutherland, as explicaes fornecidas pelas diversas teorias criminolgicas at ento no seriam capazes de responder de forma adequada questo dos crimes de colarinho branco, j que todas (ou quase todas) viam nas mazelas sociais (desorganizao social, pobreza, etc.) a gnese do crime, de forma que se distanciavam da realidade dos crimes de colarinho branco (White colar crimes). Para Sutherland, ningum nasce criminoso, mas APRENDE a se tornar um, ou seja, o crime mero resultado de um processo inadequado ou falho de socializao do indivduo. Segundo esta teoria o indivduo se tornaria criminoso ao observar outras condutas criminosas e INTERAGIR com outras pessoas, notadamente aquelas que se dedicam ao delito. Assim, a pessoa se tornaria delinquente por estar mais submetida a modelos de comportamento delitivo do que a modelos de comportamento no delitivos. A cultura criminosa existe e, a depender do nvel de atuao do Estado em determinados grupos sociais, ela predomina em relao cultura legal. 2.3.1.3! Teoria das subculturas delinquentes Tal teoria acaba defende que a conduta delitiva no seria um reflexo negativo da desorganizao social e outras mazelas da sociedade contempornea. Para esta teoria todo agrupamento humano dotado de subculturas, com uma filosofia de vida e regras prprias. 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo Assim, a existncia de subculturas corresponde, naturalmente, existncia de valores distintos daqueles pregados pela cultura dominante. Desta forma, possvel que algumas destas subculturas possuam valores que se contraponham aos valores da cultura dominante e, em razo disso, o delito no derivaria de uma predisposio violao da Lei, e sim um mero reflexo destas diferenas culturais. 2.3.1.4! Teoria da anomia Denominada por alguns de Òestrutural-funcionalistaÓ, teve como principais expoentes ROBERT MERTON e TALCOTT PARSONS, que se valeu das ideias de DURKHEIN, para desenvolver sua teoria. Para esta teoria, o crime um fenmeno ÒnaturalÓ, inerente sociedade, de forma que seriam invlidas as ideias de criminoso como anormal, bem como as tentativas de explicar o crime com base em aspectos sociolgicos. DURKHEIM, talvez o principal nome desta teoria, entendia que o crime era algo ÒnormalÓ na sociedade, pois uma sociedade sem crime seria absolutamente invivel, e que patologia social no seria a existncia de crime, mas a sua ausncia. Para DURKHEIM, o crime era o fenmeno o social que permitia a reafirmao da ordem social, pois toda vez que um crime era praticado surgia a possibilidade de reafirmao e legitimao dos vnculos estruturais e estruturantes da sociedade. Tal Teoria no prega a desvinculao entre crime e ambiente social, apenas entende que o crime decorrncia natural do meio social, e no uma anormalidade. Para esta teoria a sociedade impe objetivos e metas inalcanveis para a maioria dos indivduos (sucesso, poder, status), e como tais metas so inatingveis, a dissociao entre os objetivos e os instrumentos para seu alcance geraria a ANOMIA, que seria uma situao de renncia s normas sociais. Esta teoria elenca diversos modelos de adaptao do indivduo sociedade. Primeiro temos o indivduo que aceita as metas sociais e os meios sua disposio. Depois temos o indivduo que, ao perceber que os meios no so hbeis obteno das finalidades, continua aceitando as metas sociais, mas no os meios colocados sua disposio. Ou seja, aqui ele passa a buscar um ÒatalhoÓ para alcanar as metas sociais. Outro modelo o do ritualismo. O indivduo renuncia s metas sociais, aos objetivos culturais, mas permanece apegado s normas da sociedade. H, tambm, o modelo evasivo (retraimento). Neste grupo se incluem os bbados habituais, mendigos, drogados crnicos, etc. Tais indivduos se conformam e buscam mecanismos de fuga. 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA 2 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo Por fim, h o modelo da rebelio. Aqui o indivduo rejeita completamente as metas culturais e os meios sua disposio (institucionalmente falando). Este indivduo passa a se dedicar luta pela criao de novos paradigmas sociais, de uma nova ordem. 2.3.2!Criminologia do conflito 2.3.2.1! Teoria do etiquetamento ou labeling approach No seio da criminologia crtica, surge a TEORIA DO LABELING APPROACH, ou ÒTeoria do EtiquetamentoÓ. A teoria do etiquetamento vai dizer, basicamente, que o crime no um dado ontolgico, ou seja, no existem condutas que so, por sua prpria natureza, criminosas. O que existem so condutas, simplesmente, condutas. A qualidade de ÒcriminosaÓ a uma conduta o que revela o carter de ÒetiquetamentoÓ do Direito Penal, ou seja, as condutas, em seu estado natural, no so criminosas, at que surge um dado novo, de cunho normativo, que lhes confere tal ÒestigmaÓ. Tal teoria tem, em grande parte, fundamento naideia de Òinteracionismo simblicoÓ. A expresso Òinterao simblicaÓ se refere aos processos de relacionamento interpessoal entre os indivduos, de forma que a noo de crime surge da relao entre os indivduos e da eleio dos valores que devem ser protegidos, ou seja, o rtulo de ÒcrimeÓ a uma conduta dado pela sociedade, e no pela natureza. Isto posto, temos uma corrente criminolgica que sustenta que no se deve buscar entender por que algum vira criminoso, mas porque a sociedade rotula tal conduta cromo criminosa (ou tal pessoa como criminosa). EXEMPLO: A conduta criminosa prevista no art. 169, ¤ nico, II do CP, que estabelece o crime de Òapropriao de coisa achadaÓ. Vejamos a redao: Art. 169 - Apropriar-se algum de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou fora da natureza: Pena - deteno, de um ms a um ano, ou multa. Pargrafo nico - Na mesma pena incorre: (...) Apropriao de coisa achada II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restitu-la ao dono ou legtimo possuidor ou de entreg-la autoridade competente, dentro no prazo de 15 (quinze) dias. 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA b Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo Vejam, assim, que a conduta de Òapropriar-se de coisa achadaÓ no , por si s, crime. Ela passa a ser crime quando a norma penal assim estabelece. Qual a grande sacada desta teoria? Ela desmistifica a ideia de criminoso. Imagine que a ideia de criminoso esteja centrada sobre aquele que furta. Se amanh surgir nova lei dizendo que furto no crime, aquela pessoa Òdeixaria de ser criminosoÓ e todos os estudos referentes ao crime e suas causas iriam por gua abaixo. Alm disso, seguindo a linha da teoria do conflito, a teoria do etiquetamento entende que o Direito Penal procede ÒrotulaoÓ de condutas no em razo da persecuo de um fim legtimo e a defesa de valores comuns aos cidados, mas tendo como objetivo supremo a perpetuao da estrutura social dividida em classes. Desta forma, o Estado se vale do Direito Penal para rotular como ÒcriminosasÓ as condutas praticadas com maior frequncia pelos membros das classes mais baixas, bem como impe a elas penas mais severas. Com relao s condutas praticadas com maior frequncia pelas classes altas, ou no so rotuladas como criminosas ou, quando o so, recebem penas brandas. Para esta teoria, portanto, o crime no seria um fenmeno social, mas um fenmeno normativo, ou seja, o Estado rotula como crime as condutas que ele pretende sejam consideradas como criminosas. Assim, no existiria um crime Òpor naturezaÓ, mas apenas ÒcondutasÓ, que recebem o rtulo de criminosas de acordo com os interesses do Estado (que nem sempre protegem por igual os interesses dos mais diversos grupos sociais, tendendo a conferir maior proteo aos bens de interesse da classe dominante).5 Alm disso, no seriam apenas as condutas (isoladamente consideradas) que influenciariam na resposta do Estado, mas tambm a pessoa do indivduo e sua posio social. Portanto, ao desviar o foco do desviante para o processo de criminalizao (e suas seletivas escolhas), a teoria da reao social coloca em xeque os repressores, ao argumento de que o desviante mero produto das instncias formais de controle na sociedade punitiva. Teve como principais expoentes GOFFMAN, LEMERT e BECKER. 2.3.2.2! Garantismo, minimalismo e abolicionismo penal O principal papel da criminologia num Estado Democrtico de Direito pugnar pelo desenvolvimento de um sistema jurdico-penal que respeite os direitos e garantias fundamentais. Um modelo, portanto, GARANTISTA. 5 HASSEMER, Winfried. MUOZ CONDE, Francisco. Introducin a la Criminologia y al Derecho Penal. Ed. Tirant lo blanch. Valncia, 1989, p. 18 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA d Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo FERRAJOLI6 foi o maior expoente do Garantismo penal, que para ele pode ser definido segundo trs prismas: ¥! Modelo normativo ¥! Teoria Jurdica ¥! Filosofia Poltica Nas palavras de FERRAJOLI: ÒSegundo um primeiro significado, "garantismo" designa um modelo normativo de direito: precisamente, no que diz respeito ao direito penal, o modelo de "estrita legalidade, prprio do Estado de direito, que sob o plano epistemolgico se caracteriza como um sistema cognitivo ou de poder mnimo, sob o plano poltico se caracteriza como uma tcnica de tutela idnea a minimizar a violncia e a mxima liberdade e, sob o plano jurdico, como um sistema de vnculos impostos func ̧o punitiva do Estado em garantia dos direitos dos cidados. , consequentemente, "garantista" todo sistema penal que se conforma normativamente com tal modelo e que o satisfaz efetivamente. (...) Em um segundo significado, "garantismo" designa uma teoria jurdica da "validade" e da "efetividade" como categorias distintas no s entre si mas, tambm, pela "existncia" ou "vigor" das normas. Neste sentido, a palavra garantismo exprime uma aproximac ̧o terica que mantm separados o "ser" e o "dever ser" no direito; e, alis, pe como questo terica central, a diverge ̂ncia existente nos ordenamentos complexos entre modelos normativos (tendentemente garantistas) e prticas operacionais (tendentemente antigarantistas), interpretando-a com a antinomia - dentro de certos limites fisiolgica e fora destes patolgica - que subsiste entre validade (e no efetividade) dos primeiros e efetividade (e invalidade) das segundas. (...) Segundo um terceiro significado, por fim, "garantismo" designa uma filosofia poltica que requer do direito e do Estado o o ̂nus da justificac ̧o externa com base nos bens e nos interesses dos quais a tutela ou a garantia constituem a finalidade. Neste ltimo sentido o Garantismo (pressupe) a doutrina laica da separao entre direito e moral, entre validade e justic ̧a, entre ponto de vista interno e ponto de vista externo na valorao do ordenamento, ou mesmo entre o "ser" e o "dever serÓ do direito. E equivale assuno, para os fins da legitimac ̧o e da perda da legitimac ̧o tico- poltica do direito e do Estado, do ponto de vista exclusivamente externo. Um Estado democrtico de Direito deve, portanto, buscar a adoo de um sistema penal garantista, no apenas no que tange s previses normativas, mas tambm no que se refere ao efetivo respeito ao modelo normativamente adotado, a fim de que seja respeitado pelas instncias de controle (Polcia, Judicirio, etc.). Assim, um modelo baseado no ÒDireito Penal do InimigoÓ, por exemplo, no pode, de forma alguma, ser admitido num Estado democrtico de Direito. 6 O Garantismo penal foi bem desenvolvido por FERRAJOLI, professor da Universidade de Camerino, na Itlia. Para um aprofundamento maior: FERRAJOLI, LUIGI. Direito e razo: teoria do garantismo penal. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 683 e seguintes. 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA e Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo Mas o que seria o ÒDireito Penal do InimigoÓ? Trata-se de um modelo que pressupe a existncia de umDireito Penal que mitigue as garantias constitucionais aos criminosos considerados ÒcontumazesÓ, ou seja, aqueles que fazem do crime seu meio de vida.7 Assim, haveria um ÒDireito Penal do CidadoÓ (garantista), no qual so observados os direitos e garantias fundamentais do acusado, e um ÒDireito Penal do InimigoÓ, no qual estas garantias poderiam ser flexibilizadas ou afastadas, j que no se estaria diante de algum que merecesse qualquer considerao por parte do Estado. Este tipo de teoria inadmissvel num Estado Democrtico de Direito por, inicialmente, violar o princpio da isonomia. Num segundo plano, no menos importante, violaria, ainda, a ideia de que o Direito Penal pune as pessoas pelo que elas FAZEM e no pelo que elas SÌO. Da mesma forma, num Estado Democrtico de Direito o ser humano o centro, o fim ltimo de toda e qualquer ao do Estado. Desta maneira, a pena deve ter por finalidade no apenas castigar o infrator, tampouco servir apenas a uma esperada Òpreveno especialÓ, mas tambm, e principalmente, ressocializar o infrator. O MINIMALISMO penal, por sua vez, prega a reduo do raio de abrangncia do Direito Penal, que deve ser reservado apenas quelas condutas absolutamente incompatveis com a vida em sociedade, e apenas para a proteo dos bens jurdicos mais valiosos (Direito Penal mnimo). O minimalismo tem em FERRAJOLI e BARATTA dois de seus maiores expoentes. A lgica do minimalismo clara: se o Direito Penal o instrumento mais invasivo de regulao social, s deve ser utilizado em ltimo caso (ultima ratio). Alm da reduo do raio de abrangncia do Direito Penal, o minimalismo prega, ainda a reduo da aplicao da pena privativa de liberdade, que deve, sempre que possvel, ser substituda por sanes alternativas. Por fim, o ABOLICIONISMO PENAL prega a supresso do Sistema Penal, seja porque se nega legitimidade tico-poltica a essa forma de controle social, desde seu surgimento, seja porque visto, na prtica, como mais danoso que vantajoso. Os fundamentos do abolicionismo so: ⇒! Anomia do sistema penal Ð Apesar de existir, o Direito Penal no consegue regular a vida em sociedade. ⇒! Seletividade do sistema penal Ð O Direito penal no tutela de maneira uniforme a vida em sociedade, mas seleciona, cuidadosamente, os destinatrios de sua atuao. ⇒!O Direito Penal estigmatiza o condenado Ð Ao invs de ressocializar o apenado, o Direito Penal funciona como uma marca negativa para aqueles 7 Este termo foi desenvolvido de maneira aprofundada pelo professor alemo, da Universidade de Bonn, Gnther Jakobs. JAKOBS, Gnther. La normativizacin de la dogmtica jurdico-penal. Trad. Manuel Cancio Meli e Bernardo Feij Snchez. 1. ed. Madrid: Ed. Thomson Civitas, 2003, p. 57 e seguintes. 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA 9 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo que foram condenados, privando-os, perpetuamente, do retorno vida social. ⇒!O Direito Penal marginaliza a vtima Ð O Estado, por meio do Direito Penal, expropria o problema (que, a princpio, se d entre dois indivduos), castiga o infrator (quando consegue), mas no se preocupa com a vtima. H, basicamente, duas grandes vertentes abolicionistas: ⇒! Abolicionismo imediato Ð Defendido, dentre outros, por LOUCK HULSMAN, prega a imediata supresso do Direito Penal. Isso no significa que esses doutrinadores pregam a ausncia total de controle formal do Estado sobre as condutas lesivas sociedade, mas a substituio imediata do Direito Penal por outros mtodos de soluo de conflitos (composio civil dos danos, etc.). ⇒! Abolicionismo mediato Ð Tambm conhecido como minimalismo radical, prega que o ideal seria a abolio do Direito Penal, mas a realidade impe a manuteno de tal sistema, j que seria impossvel sua supresso sem que houvesse um abalo social considervel, com possvel transmutao da violncia estatal para a vingana privada sem qualquer regulamentao estatal. Dentre os defensores do Abolicionismo mediato podemos citar THOMAS MATHIESEN como o principal expoente. 2.3.3!Criminologia ambiental Vrios so os fatores crimingenos, ou seja, o crime um fenmeno que deriva de uma srie de fatores, como a personalidade do agente, o meio social no qual est inserido, etc. Esta ideia de que a conduta criminosa influenciada pelo ambiente em que se insere o criminoso o principal fundamento da chamada Òcriminologia ambientalÓ. Assim, o ambiente que cerca o infrator no momento do crime pode e deve ser considerado um fator crimingeno. A criminologia ambiental, portanto, estuda os eventos criminosos no sob a perspectiva do infrator como um ser isolado, mas sob a perspectiva de um indivduo cercado por um determinado contexto. Garofalo, j em 1914, dizia que o estilo de vida de uma pessoa era um fator capaz de determinar sua maior ou menor propenso a sofrer um delito. Isto parte da ideia de Òteoria da oportunidadeÓ. As Òteorias da oportunidadeÓ foram melhor desenvolvidas por CLARKE e FELSON, e se fundamentam na ideia de que o comportamento criminoso produto de da interao de trs fatores: um infrator inclinado a praticar o delito, uma vtima propcia e a ausncia de controle. Assim, a ÒoportunidadeÓ para delinquir seria, em determinados casos, um fator determinante para a ocorrncia do delito. 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo EXEMPLO: Jos uma pessoa comum, trabalhadora, no inclinada, em regra, prtica de delitos. Certo dia, um caminho-frigorfico tombou prximo sua casa, espalhando quilos de carne pela estrada. Como no havia policiamento, vrias pessoas comearam a saquear a carga. Jos, percebendo a oportunidade e a ausncia de controle, resolveu furtar tambm 01 quilo de carne. Percebam que Jos, possivelmente, no furtaria 01 quilo de carne no aougue da esquina, ou no supermercado, em condies normais. Todavia, as circunstncias relatadas formaram um cenrio ideal para a prtica do delito. Um outro exemplo pode ajudar a esclarecer: EXEMPLO: Imaginem que torcedores de times rivais frequentam o estdio sem entrar em confronto, j que ambos possuem um nmero de integrantes semelhante e h bastante policiamento. Todavia, em determinado ÒclssicoÓ, uma das torcidas organizadas comparece com apenas 20 integrantes, enquanto outra comparece com cerca de 500 integrantes. Neste mesmo dia, a polcia militar enviou efetivo extremamente reduzido para acompanhar a partida. Assim, os integrantes da torcida organizada que estava em maior nmero, resolveram armar uma emboscada, para agredir os torcedores rivais. Percebam, assim, que no ltimo exemplo a torcida organizada que praticou o delito encontrou um cenrio ideal para a prtica do delito: uma vtima perfeita (uma torcida em menor nmero) e a ausncia de controle. Tudo isto, aliado inclinao daqueles indivduos prtica delitiva, gerou o fato criminoso. Assim, a ideia de que o contexto ajuda a maximizar ou minimizar a ocorrncia de um evento criminoso fundamental para que se possa combater a criminalidade. Atravs de dados estatsticos possvel determinar quais locais e situaes criam Òoportunidades delitivasÓ, de maneira que o aparato estatal possa intervir para fazer desaparecer tais oportunidades ou, ao menos, reduzi- las ao mnimo possvel.01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo 3! SISTEMA PENAL E CONTROLE SOCIAL. POLêTICA CRIMINAL NO BRASIL Ð A PREVENÌO DA INFRAÌO PENAL NO ESTADO DEMOCRçTICO DE DIREITO 3.1!Sistema penal e controle social 3.1.1!Conceito e Instituies O sistema penal uma das formas de controle social, atuando atravs da aplicao do Direito Penal, o mtodo mais invasivo de regulamentao da vida em sociedade, eis que impe a mais grave das sanes (no Brasil, a pena privativa de liberdade). Divide-se, em sntese, em trs grupos de Instituies8: ⇒! Policial Ð Responsvel pela apurao (investigao) da infrao penal. O MP, a despeito de no integrar a Polcia, atua como Instituio de investigao e acusao. ⇒! Judicirio Ð Trata-se da Instituio responsvel pela efetiva aplicao da Lei. ⇒! Penitenciria Ð Esta a Instituio responsvel por executar a pena efetivamente aplicada pelo Judicirio. Essas, porm, so as instncias formais de controle, que compem o sistema penal forma. H, ainda, o sistema penal informal, composto pela famlia, pela escola, pela opinio pblica, etc., todos eles contribuindo, de alguma forma, para o modo pelo qual o sistema penal ir se desenvolver. EXEMPLO: Em sociedades muito fechadas, em que o estupro uma desonra para a famlia, essa Instituio (famlia) pode desempenhar um papel importante na punio destes crimes (desestimulando a vtima, etc.). 3.1.2!Discrepncia entre discurso e realidade A despeito do belo discurso (algum descumpre a norma e recebe a pena justa), a realidade da operacionalizao do sistema penal alvo de crticas severas por parte da Doutrina especializada. O discurso oficial calcado sobre dois pilares aparentemente irrefutveis: ⇒! Retribuio Ð Quem comete crime deve pagar por isso. ⇒! Ressocializao Ð Quem comete crime deve ser trabalhado e reintegrado sociedade. 8 Zaffaroni inclui, ainda, dois outros ÒsujeitosÓ: o legislador e o pblico. O primeiro responsvel pela parte de criao da norma, possibilitando a atuao do sistema. O segundo atuaria de duas formas: como delator (denncia annima, etc.) e como opinio pblica (capaz de influenciar a produo da norma). 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo Contudo, partindo-se de um vis crtico, possvel verificar que o sistema penal busca, na verdade, perpetuar as relaes de poder j existentes na sociedade, objetivando a manuteno do status quo, por meio da pena (e da ameaa de pena). EXEMPLO: O furto (furto, no roubo) um crime, eminentemente, Òde pobreÓ. A pena para este delito, se qualificado, varia de 02 a 08 anos de recluso (art. 155 do CP). Vejamos, agora, o crime de reduo condio anloga de escravo (em sntese, tratar algum como escravo). Este delito tem a mesma pena que o delito de furto qualificado. No parece razovel que essas duas condutas recebam a mesma pena. Contudo, este ltimo um crime eminentemente Òde ricoÓ. No satisfeitos? Vejamos o crime de homicdio culposo na direo de veculo automotor. Outro crime Òde ricoÓ. A pena? Varia de 02 a 04 anos de deteno (art. 302 do CTB). Esses so apenas alguns exemplos capazes de pulverizar a tese de que a finalidade real do sistema penal seja a proteo da sociedade, embora seja possvel reconhecer que, em alguns casos, a privao da liberdade de determinadas pessoas acaba por proteger a sociedade (manacos, estupradores, etc.). Alm desse aspecto legislativo, a discrepncia no tratamento entre ricos e pobres continua nas instncias formais de controle, com tratamento evidentemente diferenciado para os reais destinatrios do sistema penal (os pobres) e os eventuais destinatrios do sistema (os ricos). Essa, portanto, a crtica mais feroz que se pode fazer em relao ao Sistema Penal, ou seja, a discrepncia entre o discurso e a realidade. 3.2!A preveno penal no Estado Democrtico de Direito O principal papel da criminologia num Estado Democrtico de Direito pugnar pelo desenvolvimento de um sistema jurdico-penal que respeite os direitos e garantias fundamentais. Assim, um modelo criminolgico baseado no ÒDireito Penal do InimigoÓ9, por exemplo, no pode ser admitido, j que pressupe a existncia de um 9 A teoria do Direito Penal do inimigo foi melhor desenvolvida por Gnther Jakobs. Para o autor, o Direito Penal deve separar as pessoas dos inimigos. As pessoas seriam aquelas que, eventualmente, cometeram algum delito, mas que no se dedicam a atividades criminosas. Para estes, o Direito Penal preservaria toda o sistema de garantias processuais. De outro lado, aqueles que praticam crimes de forma reiterada perderiam a condio de ÒpessoaÓ, sendo considerados inimigos da sociedade e, portanto, estaria autorizada uma flexibilizao no sistema de garantias. (JAKOBS, Gnther. La normativizacin de la dogmtica jurdico-penal. Trad. Manuel Cancio Meli e Bernardo Feijo Snchez. Ed. Thomson civitas, primera edicin. Madrid, 2003, p. 57-59) 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo Direito Penal que mitigue as garantias constitucionais aos criminosos considerados ÒcontumazesÓ, ou seja, aqueles que fazem do crime seu meio de vida. Assim, haveria um ÒDireito Penal do CidadoÓ, no qual so observados os direitos e garantias fundamentais do acusado, e um ÒDireito Penal do InimigoÓ, no qual estas garantias poderiam ser flexibilizadas ou afastadas, j que no se estaria diante de algum que merecesse qualquer considerao por parte do Estado. Este tipo de teoria inadmissvel num Estado Democrtico de Direito por, inicialmente, violar o princpio da isonomia. Num segundo plano, no menos importante, violaria, ainda, a ideia de que o Direito Penal pune as pessoas pelo que elas FAZEM e no pelo que elas SÌO. Da mesma forma, num Estado Democrtico de Direito o ser humano o centro, o fim ltimo de toda e qualquer ao do Estado. Desta maneira, a pena deve ter por finalidade no apenas castigar o infrator, tampouco servir apenas a uma esperada Òpreveno especialÓ, mas tambm, e principalmente, ressocializar o infrator. Mais especificamente no que tange preveno, podemos estabelecer a preveno do delito, no Estado Democrtico de Direito, como: ¥! MEDIDAS DIRETAS DE PREVENÌO Ð Atuam diretamente sobre o delito, como a pena, a tipificao de condutas, etc. ¥! MEDIDAS INDIRETAS DE PREVENÌO DE DELITOS Ð Atuam nas causas da criminalidade (melhorias na condio de vida da populao, educao, sade, emprego, moradia, etc.). Por outra classificao, podemos ter a preveno nos seguintes moldes: ¥! Preveno primria ¥! Preveno secundria ¥! Preveno terciria Vejamos cada uma delas: 3.2.1!Preveno primria Programas cuja finalidade atacar a causa da criminalidade, ou seja, a origem do problema (desigualdade social, pobreza, desemprego, etc.). Trata-se, portanto, de uma forma de preveno que busca atingir as estruturas do sistema. Temos, aqui, os mtodos preventivos com resultado de mdio a longo prazo.3.2.2!Preveno secundria Momento posterior ao delito ou na iminncia de sua ocorrncia. Aqui o foco da preveno recai sobre os setores sociais em que a criminalidade mais se manifesta, ou seja, recai sobre os grupos que apresentam determinadas 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo caractersticas que os tornam mais propensos a praticar ou sofrer delitos. Apresentam resultados de curto a mdio prazo. A preveno secundria ocorre, por exemplo, por meio da criminalizao de condutas, da ao policial, etc. 3.2.3!Preveno terciria Aqui a preveno recai sobre o condenado, ou seja, visa a evitar a reincidncia. Pode se dar por meio da escolha da pena mais apropriada, pela progresso de regime, que possibilita o reencontro paulatino do preso com a sociedade, etc. A preveno terciria materializada por meio da pena, ou seja, a pena o instrumento utilizado pelo Estado para alcanar preveno terciria, de forma a evitar a reincidncia. Para a melhor compreenso do tema, necessria se faz uma breve sntese das finalidades atribudas pena criminal, de acordo com as diversas teorias: 3.2.3.1! Teoria absoluta da pena Para esta teoria, pune-se o agente simplesmente porque ele cometeu uma transgresso ordem estabelecida e deve ser castigado por isso. No h nenhuma finalidade educacional de reinsero do indivduo vida social. A pena mero instrumento para a realizao da vingana estatal. Trata-se de um imperativo categrico de Justia ou de Moral (se delinquiu, deve ser punido, independentemente de qualquer outra finalidade).10 3.2.3.2! Teoria relativa e sua finalidade preventiva Pune-se o agente no para castig-lo, mas para prevenir a prtica de novos crimes. Essa preveno pode ser: Preveno Geral Ð Busca controlar a violncia social, de forma a despertar na sociedade o desejo de se manter conforme o Direito. Pode ser negativa11, quando busca criar um sentimento de medo perante a Lei penal, ou positiva, quando simplesmente se busca reafirmar a vigncia da Lei penal. Preveno especial Ð No se destina sociedade, mas ao infrator, de forma a prevenir a prtica da reincidncia. Tambm pode ser negativa, quando busca intimidar o condenado, de forma a que ele no cometa novos delitos por medo, ou positiva, quando a preocupao est voltada ressocializao do condenado (Infelizmente, no h uma preocupao com isto na prtica). 10 BACIGALUPO, Enrique. Manual de Derecho penal. Ed. Temis S.A., tercera reimpressin. Bogot, 1996, p. 12 11 ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general. Madrid: Civitas, 1997. tomo I, p. 91. 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo IMPORTANTE! FRANZ VON LISZT foi um dos mais conceituados expoentes da ÒEscola Moderna AlemÓ. Buscou enxergar a pena como meio de ressocializao do indivdio, muito alm da mera punio pelo ato cometido. Para tanto, defendia que a pena deveria ter finalidade preventiva, mas apenas em relao aos criminosos corrigveis. Para ele, os criminosos poderiam ser divididos em: ⇒!Habituais Ð Sem chance de ressocializao. A pena no teria, aqui, finalidade preventiva especial. ⇒! Iniciantes Ð Estes poderiam ser ressocializados, de maneira que a pena teria, em relao a estes, finalidade preventiva especial. ⇒!Ocasionais Ð Estes no necessitariam de ressocializao, pois apenas cometeram um desvio pontual. Tais pensamentos ficaram conhecidos como ÒPrograma de MarburgoÓ. 3.2.3.3! Teoria Mista (unificadora ou ecltica ou unitria) e sua dupla finalidade Aqui, entende-se que a pena deve servir como castigo (punio) ao infrator, mas tambm como medida de preveno, tanto em relao sociedade quanto ao prprio infrator (preveno geral e especial). Alm de consagrada na maioria dos pases ocidentais12, foi a adotada pelo art. 59 do CP.13 3.2.4!Programas de preveno de infraes penais Podemos elencar como principais programas os seguintes: ⇒! PROGRAMAS DE PREVENÌO SOBRE DETERMINADAS ÒçREAS GEOGRçFICASÓ Ð Trata-se da preveno ÒdirigidaÓ. Tem como premissa a existncia de um determinado espao, geogrfica e socialmente delimitado, em praticamente todos os centros urbanos, que concentra os mais elevados ndices de criminalidade. So reas geralmente muito pobres, deterioradas, esquecidas pelo Poder Pblico e com alta desorganizao social. ⇒! PREVENÌO DO DELITO POR MEIO DO DESENHO ARQUITETïNICO E URBANêSTICO Ð Visam a reestruturao urbana e se valem do desenho arquitetnico, de forma a neutralizar o elevado risco de influncias que 12 DOS SANTOS, Juarez Cirino. Direito Penal, Parte Geral. Curitiba: Ed. Lumen Juris, 2008, p. 470 13 Art. 59 - O juiz, atendendo culpabilidade, aos antecedentes, conduta social, personalidade do agente, aos motivos, s circunstncias e consequncias do crime, bem como ao comportamento da vtima, estabelecer, conforme seja necessrio e suficiente para reprovao e preveno do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 01377082628 - WESLLEY DE OLIVEIRA SILVA Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 31 de 88 CRIMINOLOGIA Ð PC-MG (2018) Ð DELEGADO DE POLêCIA Teoria e questes Aula òNICA Ð Prof. Renan Araujo favorecem o comportamento criminoso, existente em certos espaos. Somente desloca o delito para outras reas menos protegidas, mas no atinge as bases do problema criminal. ⇒! PROGRAMAS DE PREVENÌO VITIMAL - Orientada para as vtimas, parte de uma perspectiva de que o risco de se tornar vtima no se distribuir de forma isonmica na populao nem produto do acaso: O risco de se tornar vtima possvel de ser calculado de forma estatstica, tendo como base inmeras variveis, todas relacionadas com a prpria vtima (idade, personalidade, classe social, etc.) ⇒! PROGRAMAS DE PREVENÌO POLêTICO-SOCIAL - So programas de preveno ÒprimriaÓ, autntica preveno. Uma sociedade que assegura a todos os seus membros um acesso efetivo aos mecanismos para o alcance dos fins que lhe so exigidos, reduz, consequentemente, a possibilidade de que o indivduo recorra a instrumentos paralelos para a obteno destes fins, o que contribui para a queda nas taxas de criminalidade. ⇒! PROGRAMAS DE PREVENÌO DA CRIMINALIDADE DE ORIENTAÌO COGNITIVA Ð Fundamenta-se na premissa de que a aquisio de determinadas habilidades (positivas) uma tcnica reintegradora com alto potencial de sucesso, porque afasta o criminoso de influncias negativas, substituindo-as por boas influncias, no que se pode conceber como um ataque s Òsubculturas criminaisÓ. ⇒! PROGRAMAS DE PREVENÌO Ë REINCIDæNCIA Ð So programas de preveno terciria, pois aqui o crime j ocorreu, de forma que se buscar evitar sua nova ocorrncia. Na verdade, estes programas esto mais relacionados interveno (sobre o delinquente) do que preveno (para evitar que haja delinquncia). Um dos maiores problemas no que tange profilaxia criminal a diferena entre a criminalidade real e a criminalidade registrada pelas agncias de controle, a denominada de CIFRA NEGRA. Assim, temos como Òcifra negraÓ o nmero de delitos que, por qualquer razo, no chegam ao conhecimento das agncias
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