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Civil V Notas de aulas

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Prévia do material em texto

Professor Michel Possídio Faculdade Universo 
2015/2 
"Como todas as artes, a advocacia somente se aprende com sacrifício; e como elas, também se vive em perpétua aprendizagem. O artista, mínimo corpúsculo fechado no imenso cárcere de ar, vive esquadrinhando sem cessar suas próprias grades e seu estudo somente termina com sua própria vida". 
Eduardo J. Couture 
 
 
 
 
 
Direito Civil IV – Professor Michel Possídio – 2015/1 
 
 Notas de aulas André Teles 
 
2 
 
 
Referências: 
Coelho, Fábio Ulhôa - Curso de direito civil, volume 5, família, sucessões, 5° edição - 
São Paulo, editora Saraiva, 2012. 
Farias, Cristiano Chaves de - curso de direito civil, famílias, 4° edição revista, ampliada 
e atualizada – Bahia: editora Juspodivm, 2012. 
Gagliano, Pablo Stolze - Novo curso de direito civil, volume 6: direito de família: as 
famílias em perspectiva constitucional – 4° edição, revista e atualizada – São Paulo: editora 
Saraiva, 2014. 
Gonçalves, Carlos Roberto - Direito civil brasileiro, volume 6, direito de família – 11° 
edição – São Paulo, editora Saraiva, 2014. 
Pereira, Caio Mário da Silva, Instituições de direito civil, volume V – 22° edição – Rio 
de Janeiro: editora Forense, 2014. 
Tartuce, Flávio - Manual de direito civil: volume único, 4° edição revista, atualizada e 
ampliada – São Paulo, editora Método, 2014. 
LNDB - Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - Decreto-lei n. 4.657, de 
4/9/1942 
 
 
ANTENÇÃO: o conteúdo destas notas de aulas reflete a minha compreensão sobre o 
que foi ministrado em sala de aula, desta forma, você estará lendo o meu 
entendimento sobre o assunto e não necessariamente o que foi dito pelo professor. 
Ademais, as notas de aulas podem sofrer alterações na esquematização, na ordem, 
bem como acréscimos de outras fontes de pesquisa (estes estão com o estilo da fonte 
em itálico) - André Teles. 
Direito Civil IV – Professor Michel Possídio – 2015/1 
 
 Notas de aulas André Teles 
 
3 
 
06/08/2015 
A formação familiar sofreu diversas alterações a partir da CF/88. O art. 226 insere a figura da família monoparental, família eudemonista (todos os participantes do núcleo familiar procuram o bem-estar uns dos outros). 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
§ 1.º O casamento é civil e gratuita a celebração. 
§ 2.º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. 
§ 3.º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento 
§ 4.º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. 
§ 5.º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. 
§ 6.º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. 
§ 7.º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos 
Direito Civil IV – Professor Michel Possídio – 2015/1 
 
 Notas de aulas André Teles 
 
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educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. 
§ 8.º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. 
O casamento é um contrato sui generis e, segundo o CC/2002 arts. 1.535 e 1.514, é preciso um homem e uma mulher para haver o casamento. Em 26/12/77 entrou em vigor a Lei 6.515 que criou o divórcio. Em 1889 foi criado o desquite e regulamentado pelo código civil de 1916 passando a vigorar em 1917, isso perdurou até 1977. No desquite era proibido um novo casamento. Em 1977, com o divórcio e separação judicial, possibilitou um novo casamento, porém só mais uma vez. Como requisito para o divórcio era necessário estar separado a pelo menos dois anos ou entrar com a separação judicial após um ano de casado e esperar mais um ano para obter o divórcio. 
A CF/88 permitiu o divórcio sem desquite, mas após dois anos de separação de fato. A Emenda Constitucional 66/10 extinguiu o prazo para o divórcio, permitindo o divórcio a qualquer tempo. Essa emenda não revogou a separação judicial, que ficou em desuso e, por isso, alguns autores entendem como uma revogação da lei por inaplicabilidade. 
Incluído nestas mudanças o conceito e tratamento dos filhos que deixa de existir a distinção entre filhos legítimos e ilegítimos. Filho é filho, não importa a origem: do casamento, extraconjugal, adotado ou até mesmo afetivo. 
Formação da família - Consideradas as funções da chefiada pelo cidadão romano 
como ponto de partida, a família tem percorrido uma trajetória histórica de perdas. No início, desempenhava funções religiosas (não havia religião fora de casa) e econômicas (na família se produziam os principais bens para subsistência de seus membros) que perdeu totalmente. Desempenhava, também, funções educacionais e assistenciais, que em parte não tem mais. As funções biológicas e afetivas são as que, por enquanto, mantêm as famílias. Coelho (2012, p. 25). 
Na família, as principais relações jurídicas são, de um lado, as horizontais e, de outro, as verticais. As relações horizontais são as de conjugalidade, empregada a expressão aqui num sentido muito amplo, que abarca todos os enlaces entre duas pessoas adultas (não irmãs) voltadas à organização da vida em comum. Mantêm relações horizontais de família os casados, os que convivem em união estável, em união livre e as pessoas de mesmo sexo em comunhão de vida. As relações verticais são as de ascendência e descendência, como as que unem pais aos filhos, avós aos netos etc. As relações horizontais dizem respeito, em geral, os vínculos fundadores de novo núcleo familiar, incluindo os estabelecidos pelo casamento de duas pessoas de sexo oposto, mas não se limitando a essa hipótese. Mas não são os únicos vínculos fundadores de nova família, porque também ela se forma por relações verticais, como no caso da adoção de filho por pessoa solteira, divorciada ou viúva, a geração e 
Direito Civil IV – Professor Michel Possídio – 2015/1 
 
 Notas de aulas André Teles 
 
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educação de criança por mulher não casada (chamada “produção independente”), o acolhimento do neto, em sua casa, pelos avós etc. Coelho (2012, p. 32). 
Conceito - Tendo como parâmetro os institutos tratados pelo CC/2002, o Direito de Família 
pode ser conceituado como sendo o ramo do Direito Civil que tem como conteúdo o estudo dos seguintes institutos: a) casamento; b) união estável; c) relações de parentesco; d) filiação; e) alimentos; f) bem de família; g) tutela, curatela e guarda. Além desse conteúdo, acrescente-se a investigação das novas manifestações familiares. O Direito de Família contemporâneo pode ser dividido em dois grandes livros, o que consta do CC/2002: 
Direito Existencial de Família está baseado na pessoa humana, sendo as normas 
correlatas de ordem pública ou cogentes. Tais normas não podem ser contrariadas por convenção entre as partes, sob pena de nulidade absoluta da convenção, por fraude à lei imperativa (art. 166, VI, do CC). 
Direito Patrimonial de Família tem o seu cerne principal no patrimônio, relacionado a 
normas de ordem privada ou dispositivas. Tais normas, por óbvio, admitem livremente previsão em contrário pelas partes. 
Para ilustrar, é nulo o contrato de namoro nos casos em que existe entre as partes envolvidas uma união estável, eis que a parte renuncia por meio desse contrato e de forma indireta a alguns direitos essencialmente pessoais, como é o caso do direito a alimentos. Por outra via, é válido o contrato de convivência, aquele que consagra outro regime para a união estável que não seja o da comunhão parcial de bens (art. 1.725 do CC). Tartuce(2014, p. 824). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Direito Civil IV – Professor Michel Possídio – 2015/1 
 
 Notas de aulas André Teles 
 
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Casamento 
 
13/08/2015 - artigos 1.511 a 1.590 
Conceito – é a união existente entre homem e mulher na forma da lei, com o intuito de 
constituir família. 
Em nosso Direito, luminosa é a constelação de autores que se esforçaram em definir o ato matrimonial, em diversas oportunidades, refletindo-se, em cada uma das definições, os valores predominantes na época em que tais conceitos foram elaborados. LAFAYETTE RODRIGUES PEREIRA, clássico do nosso Direito, escreveu: “O casamento é o ato solene pelo qual duas pessoas de sexo diferente se unem para sempre sob a promessa recíproca de fidelidade no amor e da mais estreita comunhão de vida”. MARIA HELENA DINIZ, por sua vez, conceitua o casamento como sendo: “O vínculo jurídico entre o homem e a mulher que visa ao auxílio mútuo material e espiritual, de modo que haja uma integração fisiopsíquica e a constituição de uma família”. PAULO LÔBO, com habitual precisão, preleciona: “O casamento é um ato jurídico negocial solene, público e complexo, mediante o qual um homem e uma mulher constituem família, pela livre manifestação de vontade e pelo reconhecimento do Estado”. Gagliano (2014, p. 212). 
Natureza jurídica – são três teorias sobre a natureza jurídica do casamento: teoria 
institucionalista, teoria contratual e teoria mista ou eclética. Há muitas discursões sobre que tipo de contrato, alguns doutrinadores, inclusive a banca, afirmam que se tratar de um negócio jurídico bilateral, um contrato sui generis1, pois não cabe certas características comuns aos contratos como vício redibitório, evicção, etc. Também, não há liberdade para contratar ou criar livremente cláusulas contratuais. É um tipo de contrato que tem a interferência direta do Estado, muito embora a lei diga que este não deve intervir nas relações familiares. 
 
1 (Latim) – De seu gênero, único no gênero, especial, original, sem comparação –Dicionário Jurídico Massoft Mobile 
Direito Civil IV – Professor Michel Possídio – 2015/1 
 
 Notas de aulas André Teles 
 
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Por isso, é mais pertinente afirmar que o casamento constitui um negócio jurídico especial, com regras próprias de constituição e princípios específicos que, a priori, não existem no campo contratual: princípio da monogamia, princípio da liberdade de escolha, como exercício da autonomia privada e princípio da comunhão plena de vida, regido pela igualdade entre os cônjuges. 
Sendo negócio jurídico, é possível e viável juridicamente aplicar ao casamento as regras referentes à teoria geral do negócio jurídico previstas na Parte Geral do CC/2002. Isso, desde que não exista regra específica no seu tratamento na Parte Especial. Ilustrando, em relação à nulidade e anulabilidade do casamento, devem ser observadas as regras especiais relativas à sua invalidade (arts. 1.548 a 1.564 do CC). Em caso de ausência de norma sobre um caso específico de invalidade, é possível socorrer-se à Parte Geral. A natureza especial do casamento como negócio jurídico também pode ser retirada do estudo da capacidade matrimonial e dos impedimentos. Tartuce (2014, p. 841). 
Art. 1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família. 
Desta forma, deve ser aplicado os três planos do negócio jurídico: validade, eficácia e existência. Assim, se pensarmos no casamento homossexual, na visão do código civil, ele é inexistente, pois foge à idoneidade do objeto, não preenche todos os requisitos. 
Com efeito, para apreender sistematicamente o tema — e não simplesmente reproduzir regras positivadas — faz-se mister analisá-lo sob os três planos em que pode ser visualizado: 
a) existência: um negócio jurídico não surge do nada, exigindo-se, para que seja considerado como tal, o atendimento a certos requisitos mínimos; 
b) validade: o fato de um negócio jurídico ser considerado existente não quer dizer que ele seja considerado perfeito, ou seja, com aptidão legal para produzir efeitos; 
c) eficácia: ainda que um negócio jurídico existente seja considerado válido, ou seja, perfeito para o sistema que o concebeu, isso não importa em produção imediata de efeitos, pois esses podem estar limitados por elementos acidentais da declaração. Gagliano (2014, p. 371). 
Art. 1.514. O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados. 
Finalidade do casamento – Sem dúvida, a principal finalidade do casamento é 
estabelecer uma comunhão plena de vida, como prevê o art. 1.511 do Código Civil de 2002, impulsionada pelo amor e afeição existente entre o casal e baseada na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges e na mútua assistência. Já L AFAYETTE proclamara que a procriação da prole, envolvendo no véu do direito a relação física dos dois sexos, é um dos principais intuitos do casamento, mas que “o fim capital, a razão de ser desta instituição, está nessa admirável identificação de duas existências, que, confundindo-se uma na outra, 
Direito Civil IV – Professor Michel Possídio – 2015/1 
 
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correm os mesmos destinos, sofrem das mesmas dores e compartem, com igualdade, do quinhão de felicidade que a cada um cabe nas vicissitudes da vida”. Gonçalves (2014, p. 75). 
Os demais objetivos, embora também importantes, são secundários, não essenciais, como a procriação, a educação dos filhos e a satisfação sexual, já citados, aliados à atribuição de nome de um dos cônjuges ao outro, e o de ambos aos filhos, bem como à legalização de estados de fato. Gonçalves (2014, p. 75). 
Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges. 
A finalidade do casamento está descrita no art. 1.511, ter filhos não faz parte desta finalidade, é apenas uma consequência da união. (Ver livro de Frederik Engels - A Origem da Família da Propriedade Privada e do Estado, que teoriza como a civilização começou e como surgiu as situações de poligamia ou poliandria). 
Invalidade do Casamento – para o casamento ser válido deve haver adversidade de 
sexo (pelo código civil, pois isto já foi superado pelo STF), consentimento e solenidade. Também, a vontade e o consentimento expresso dos nubentes de se casarem. Se não houver consentimento, o casamento é inexistente. Quando é feita a pergunta na cerimônia sobre se aceitam, ficando em silêncio caracteriza que não houve a expressão da vontade e o casamento é nulo. Como negócio jurídico, para alguns doutrinadores o casamento válido deve corresponder aos planos de existência, validade e eficácia. 
Casamento inexistente - A teoria não é pacificamente aceita. Argumentam, de um lado, que a proclamação de um “ato inexistente” envolve contradição nos próprios termos (contradictio in adiectio), pois que, se é ato, é porque existe, e se não tem existência, não é ato, brigando entre si as palavras mesmas (des mots qui hurlent de se trouver ensemble); de outro lado, acrescentam que nenhuma falta faz a teoria do casamento inexistente, bastando a das nulidades para a solução das questões (Planiol et Ripert, De Page, Colin et Capitant, Sá Pereira, Irmãos Mazeaud). No particular do Direito brasileiro, há quem proclame peremptoriamente não termos casamentos inexistentes. Não parece procedente a objeção, bastando ponderar que os adversários consideram, por exemplo, que a inexistência por identidade de sexo é substituída pela anulabilidade por erro essencial quanto à pessoa, e, como o escoamento do prazo de decadência convalida para sempre o matrimônio, tal aberração jurídica e moral se tornaria em casamento inatacável pela fluência do prazo prescricional. 
Admitindo-se a distinção entre casamentoinexistente e nulo, poder-se-á fixar a diversidade de efeitos: é que a nulidade do casamento somente pode ser decretada em ação própria, ao passo que, ocorrendo algum dos casos de inexistência, poderá o juiz pronunciá-la a qualquer tempo, e sem a necessidade de se propor ação ordinária anulatória. Mais que isto, é lícito, mesmo a terceiros, desconhecer de direito e de fato o vínculo, que é meramente aparente. Em resumo, o casamento inexistente não produz qualquer efeito, mesmo provisório. 
Direito Civil IV – Professor Michel Possídio – 2015/1 
 
 Notas de aulas André Teles 
 
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Não obstante as resistências prosperou a teoria do casamento inexistente (v., sobre “ato inexistente in genere”, o que dissemos no nº 112, supra, v. I). E compreende três hipóteses: identidade de sexos, falta de celebração e ausência total de consentimento, nas quais falta um pressuposto de fato (quaestio facti), diversamente das nulidades em que falta um pressuposto de direito (quaestio iuris), que induz à invalidade do vínculo. Pereira (2014, p. 320). 
Casamento nulo – O art. 1.548 do CC consagra as hipóteses de nulidade absoluta do casamento: 
Art. 1.548. É nulo o casamento contraído: 
I - pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil; 
Esta previsão de nulidade é exatamente a mesma constante do art. 3.º, II, do CC, também incluindo os doentes mentais sem discernimento, eis que enfermidade e doença são expressões sinônimas. Deve apenas ser feita a ressalva de que não se exige o processo de interdição prévio para o casamento ser considerado nulo. 
O Enunciado n. 332 CJF/STJ, aprovado na IV Jornada de Direito Civil, deu interpretação restritiva ao dispositivo, não admitindo a nulidade absoluta do casamento das pessoas descritas no art. 3.º, III, do CC. Assim: “A hipótese de nulidade prevista no inc. I do art. 1.548 do Código Civil se restringe ao casamento realizado por enfermo mental absolutamente incapaz, nos termos do inc. II do art. 3.º do Código Civil”. Tartuce (2014, p. 856) 
II - por infringência de impedimento. 
Tais impedimentos, outrora estudados, constam do art. 1.521 do CC (impedimentos decorrentes de parentesco consanguíneo, de parentesco por afinidade, de parentesco civil, de vínculo matrimonial e de crime). A grande maioria das situações práticas envolve duplicidade de casamento, em desrespeito ao art. 1.521, VI, do CC (nesse sentido, ver: TJSP, Apelação com Revisão 482.968.4/8, Acórdão 3207986, São Paulo, 7.ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Élcio Trujillo, j. 27.08.2008, DJESP 20.10.2008). Superada a análise das hipóteses de nulidade do casamento, é preciso expor os efeitos e procedimentos da ação declaratória de nulidade do casamento, conforme tópicos a seguir: 
• A ação declaratória é imprescritível, eis que a nulidade não convalesce pelo decurso do tempo (art. 169 do CC). A não sujeição à prescrição está justificada uma vez que a demanda envolve preceitos de ordem pública e de Direito de Família (TJMG, Acórdão 1.0106.06.020387-9/001, Cambuí, 8.ª Câmara Cível, Rel.ª Des.ª Teresa Cristina da Cunha Peixoto, j. 19.07.2007, DJMG 02.08.2007). Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo. 
• A decretação de nulidade pode ser promovida mediante ação direta, por qualquer interessado ou mesmo pelo Ministério Público, do mesmo modo por envolver preceitos de ordem pública (art. 1.549 do CC). Art. 1.549. A decretação de nulidade de casamento, pelos 
Direito Civil IV – Professor Michel Possídio – 2015/1 
 
 Notas de aulas André Teles 
 
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motivos previstos no artigo antecedente, pode ser promovida mediante ação direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público. 
• conforme aponta a doutrina quase que com unanimidade, diante do princípio da não intervenção, a nulidade do casamento não pode ser reconhecida de oficio, mas apenas o impedimento matrimonial, de acordo com o art. 1.522 do CC. - Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, até o momento da celebração do casamento, por qualquer pessoa capaz. 
Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento da existência de algum impedimento, será obrigado a declará-lo. 
• A ação declaratória de nulidade, assim como a ação anulatória e as demais demandas que dissolvem a sociedade conjugal e o casamento, poderá ser precedida de medida cautelar de separação de corpos, devendo o juiz conceder a liminar com maior brevidade possível se for constatada a sua necessidade (art. 1.562 do CC). - Art. 1.562. Antes de mover a ação de nulidade do casamento, a de anulação, a de separação judicial, a de divórcio direto ou a de dissolução de união estável, poderá requerer a parte, comprovando sua necessidade, a separação de corpos, que será concedida pelo juiz com a possível brevidade. Tartuce (2014, p. 856). 
• Por fim, os efeitos da sentença da ação declaratória de nulidade são retroativos à celebração do casamento, conforme o art. 1.563 do CC (efeitos ex tunc). A parte final do dispositivo traz uma inovação importante, enunciando que essa sentença com efeitos retroativos não poderá “prejudicar a aquisição de direitos, a título oneroso, por terceiros de boa-fé, nem resultante de sentença transitada em julgado”. Dois institutos são aqui protegidos: a boa-fé objetiva (daquele que adquiriu direitos com boa conduta – v.g., adquirente de um imóvel que pagou o preço com total pontualidade) e a coisa julgada (conforme o art. 5.º, XXXVI, da CF/1988, e art. 6.º da Lei de Introdução). Com essa proteção, a boa-fé objetiva, no que tange ao Direito de Família, é elevada ao posto de preceito de ordem pública. Primeiro, por estar ao lado da coisa julgada. Segundo, porque consegue vencer o ato nulo. Ilustrando, A e B, marido e mulher, vendem um imóvel a C, que o adquire de boa-fé. O casamento dos primeiros é declarado nulo por sentença judicial, pois A já era casado. Mesmo havendo essa nulidade, o que geraria eventual partilha do bem, a venda é válida, pois celebrada com boa-fé por C, que funciona como um escudo contra a nulidade. - Art. 1.563. A sentença que decretar a nulidade do casamento retroagirá à data da sua celebração, sem prejudicar a aquisição de direitos, a título oneroso, por terceiros de boa-fé, nem a resultante de sentença transitada em julgado. Tartuce (2014, p. 857). 
Art. 1.564. Quando o casamento for anulado por culpa de um dos cônjuges, este incorrerá: 
I - na perda de todas as vantagens havidas do cônjuge inocente; 
II - na obrigação de cumprir as promessas que lhe fez no contrato antenupcial. 
Direito Civil IV – Professor Michel Possídio – 2015/1 
 
 Notas de aulas André Teles 
 
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Casamento anulável – casamento celebrado com pessoa absolutamente incapaz, celebrado por autoridade incompetente. 
Art. 1.550. É anulável o casamento: 
I - de quem não completou a idade mínima para casar; 
Como visto, o menor que tiver menos idade do que o limite mínimo para casar necessitará de autorização judicial. Eventualmente, sendo celebrado o casamento sem a referida autorização judicial, o ato será considerado anulável. Deve ser feito ao alerta de que o casamento não será nulo, raciocínio normalmente desenvolvido, tendo como parâmetro a teoria geral do negócio jurídico (art. 166, I, do CC). O prazo para a ação anulatória é decadencial de 180 dias, podendo ser proposta pelo próprio menor, por seus representantes legais ou por seus ascendentes (art. 1.552 do CC). Tartuce (2014, p. 857). 
Art. 1.552. A anulação do casamento dos menores de dezesseis anos será requerida: 
I - pelo próprio cônjuge menor; 
II - por seus representantes legais; 
III - por seus ascendentes. 
Sobre o início da contagem do prazo, duas são as regras constantes do art. 1.560, § 1º, do CC: 
– Se a ação for proposta pelo próprio menor, devidamente representado, o prazo será contado a partir do momento em que completar a idade núbil (16 anos). (Art. 1.560 – 180 dias) 
– Se a ação for propostapelo representante legal ou ascendente, o prazo será contado a partir do momento em que o casamento foi celebrado. 
Eventualmente o casamento poder ser convalidado em duas hipóteses: 1ª Hipótese – não se anula o casamento, por motivo de idade, se dele resultou gravidez, não sendo necessária sequer a autorização do seu representante legal (art. 1.551 do CC). Art. 1.551. Não se anulará, por motivo de idade, o casamento de que resultou gravidez. 
2.ª Hipótese – o menor poderá, depois de completar a idade núbil, confirmar o seu casamento, com a autorização de seus representantes legais, se necessária, ou com suprimento judicial (art. 1.553 do CC). Art. 1.553. O menor que não atingiu a idade núbil poderá, depois de completá-la, confirmar seu casamento, com a autorização de seus representantes legais, se necessária, ou com suprimento judicial. Tartuce (2014, p. 858). 
Art. 1.550. É anulável o casamento: 
II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal; 
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 Notas de aulas André Teles 
 
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O menor entre 16 e 18 anos não necessita de autorização judicial para se casar, mas de autorização especial de seus pais ou outros representantes, caso dos tutores (art. 1.517 do CC). O prazo para propositura da ação anulatória é decadencial de 180 dias, com as seguintes regras de contagem (art. 1.555, caput e § 1.º, do CC): Art. 1.555. O casamento do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal, só poderá ser anulado se a ação for proposta em cento e oitenta dias, por iniciativa do incapaz, ao deixar de sê-lo, de seus representantes legais ou de seus herdeiros necessários. 
§ 1° O prazo estabelecido neste artigo será contado do dia em que cessou a incapacidade, no primeiro caso; a partir do casamento, no segundo; e, no terceiro, da morte do incapaz. 
– Se a ação for proposta pelo menor, o prazo será contado a partir do momento em que completar 18 anos. 
– Se a ação for proposta pelo representante legal, o prazo será contado a partir da celebração do casamento. 
§ 2° Não se anulará o casamento quando à sua celebração houverem assistido os representantes legais do incapaz, ou tiverem, por qualquer modo, manifestado sua aprovação. 
– Sendo proposta a ação por herdeiro necessário, o prazo será contado da data do óbito do menor. Tartuce (2014, p. 858). 
Art. 1.550. É anulável o casamento: 
III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558; 
A coação moral que anula o casamento tem conceito específico no art. 1.558 do CC, pelo qual é anulável o casamento em virtude de coação, quando o consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus familiares”. Duas são as diferenças em relação à coação moral prevista para a teoria geral do negócio jurídico, uma vez que a última pode estar relacionada a bens e a pessoas que não sejam da família do coagido (art. 151 do CC). Tartuce (2014, p. 858). 
Art. 1.556. O casamento pode ser anulado por vício da vontade, se houve por parte de um dos nubentes, ao consentir, erro essencial quanto à pessoa do outro. 
Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: 
I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado; 
II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal; 
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III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; 
IV - a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado. 
Art. 1.558. É anulável o casamento em virtude de coação, quando o consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus familiares. 
Art. 1.559. Somente o cônjuge que incidiu em erro, ou sofreu coação, pode demandar a anulação do casamento; mas a coabitação, havendo ciência do vício, valida o ato, ressalvadas as hipóteses dos incisos III e IV do art. 1.557. 
Art. 1.550. É anulável o casamento: 
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento; 
Essa previsão engloba os ébrios habituais (alcoólatras), os viciados em tóxicos, as pessoas com discernimento mental reduzido e os excepcionais sem desenvolvimento completo (art. 4.º, II e III, do CC). Segundo o entendimento considerado majoritário, nessa previsão também se enquadram as pessoas que por causa transitória ou definitiva não puderem exprimir vontade (art. 3.º, III, do CC). Tal forma de pensar chegou a ser adotada pelo STJ, em remoto julgado, referente ao CC/1916 (STJ, EDcl no AgRg no Ag 24.836/MG, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, 4.ª Turma, j. 18.10.1993, DJ 13.12.1993, p. 27.463). Tartuce (2014, p. 860). 
Este autor não concorda com o último posicionamento, pois em casos tais o casamento deveria ser considerado nulo, por equiparação ao que consta do art. 3.º, II, do CC. Assim, parece correta a premissa categórica de que o art. 1.550, IV, do CC, somente se aplica aos relativamente incapazes descritos no art. 4.º. O prazo decadencial para a ação anulatória é de 180 dias, contados do casamento, nos termos do art. 1.560, caput, e § 1.º, do CC. Tartuce (2014, p. 860). 
Art. 1.550. É anulável o casamento: 
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges; 
O casamento poderá ser anulado se realizado por mandatário, ocorrendo a revogação do mandato, sem que o representante e o outro cônjuge tenham conhecimento da extinção do contrato. Obviamente, essa revogação somente surtirá efeitos se realizada antes da celebração do casamento. Em caso contrário o ato encontra-se aperfeiçoado, não sendo o caso de sua invalidade. Tartuce (2014, p. 861). 
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O prazo para a propositura da ação anulatória é decadencial de 180 dias, a contar do momento em que chegue ao conhecimento do mandante a realização do casamento (art. 1.560, § 2.º, do CC). Por força da lei, equipara-se à revogação a invalidade do mandato reconhecida judicialmente, caso da sua nulidade absoluta ou relativa (art. 1.550, parágrafo único, do CC). A anulação do casamento cabe somente ao mandante, que detém a titularidade dessa ação personalíssima. O ato será convalidado se houver coabitação entre os cônjuges (art. 1.550, V, parte final). Tartuce (2014, p. 861). 
Art. 1.550. É anulável o casamento: 
VI - por incompetência da autoridade celebrante. 
Parágrafo único. Equipara-se à revogação a invalidade do mandato judicialmente decretada. 
Entende-se que a hipótese trata da incompetência relativa em relação ao local (ratione loci). Ilustrando, um juiz de paz de uma determinada localidade realiza o casamento em outra, fora de sua competência. 
O prazo para a propositura da ação anulatória é decadencial de 2 anos contado da data da celebração do casamento (art. 1.560, II, do CC). O art. 1.554 do CC trata de hipótese de convalidação de tal casamento, sanando a anulabilidade, ao enunciar que: 
Art. 1.554. Subsiste o casamento celebrado por aquele que, sem possuir a competência exigida na lei, exercer publicamente as funções de juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no Registro Civil. 
Prazos 
Art. 1.560. O prazo para ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar da data da celebração, é de: 
I - Centoe oitenta dias, no caso do inciso IV do art. 1.550; 
II - dois Anos, se incompetente a autoridade celebrante; 
III - três anos, nos casos dos incisos I a IV do art. 1.557; 
IV - quatro Anos, se houver coação. 
§ 1° Extingue-se, em cento e oitenta dias, o direito de anular o casamento dos menores de dezesseis anos, contado o prazo para o menor do dia em que perfez essa idade; e da data do casamento, para seus representantes legais ou ascendentes. 
§ 2° Na hipótese do inciso V do art. 1.550, o prazo para anulação do casamento é de cento e oitenta dias, a partir da data em que o mandante tiver conhecimento da celebração. 
Consequências 
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Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória. 
§ 1° Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão. 
§ 2° Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só aos filhos aproveitarão. 
Art. 1.562. Antes de mover a ação de nulidade do casamento, a de anulação, a de separação judicial, a de divórcio direto ou a de dissolução de união estável, poderá requerer a parte, comprovando sua necessidade, a separação de corpos, que será concedida pelo juiz com a possível brevidade. 
Art. 1.563. A sentença que decretar a nulidade do casamento retroagirá à data da sua celebração, sem prejudicar a aquisição de direitos, a título oneroso, por terceiros de boa-fé, nem a resultante de sentença transitada em julgado. 
Art. 1.564. Quando o casamento for anulado por culpa de um dos cônjuges, este incorrerá: 
I - na perda de todas as vantagens havidas do cônjuge inocente; 
II - na obrigação de cumprir as promessas que lhe fez no contrato antenupcial. 
Celebração – Ocorre que, dada a grande importância de que se reveste o ato, a celebração 
do casamento deve ser realizada em estrita observância das normas legais, sob pena, a depender da situação concreta, de inafastável nulidade. 
Primeiramente, lembremo-nos de que o ato deverá ser presidido pelo juiz de direito, pelo juiz de paz ou, no matrimônio religioso com efeitos civis, pela autoridade religiosa. 
Faltando competência legal para o ato, deverá ser considerado inexistente, consoante teremos a oportunidade de ver, brevemente, em capítulo posterior. 
O casamento será celebrado no dia, hora e lugar previamente designados pela autoridade que houver de presidir o ato, mediante petição dos contraentes, que se mostrem habilitados com a certidão de habilitação, expedida pelo Cartório de Registro Civil responsável pela publicação dos proclamas (art. 1.533, CC-02; art. 192, CC-16). 
Importante previsão, nessa linha, consta no art. 1.534 do Código Civil de 2002 (art. 193, CC-16), firmando a necessária publicidade de que deve, necessariamente, se revestir o ato, exigindo-se a presença de testemunhas e a observância das “portas abertas”. Gagliano (2014, p. 332). 
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Art. 1.533. Celebrar-se-á o casamento, no dia, hora e lugar previamente designados pela autoridade que houver de presidir o ato, mediante petição dos contraentes, que se mostrem habilitados com a certidão do art. 1.531. 
Art. 1.534. A solenidade realizar-se-á na sede do cartório, com toda publicidade, a portas abertas, presentes pelo menos duas testemunhas, parentes ou não dos contraentes, ou, querendo as partes e consentindo a autoridade celebrante, noutro edifício público ou particular. 
§ 1° Quando o casamento for em edifício particular, ficará este de portas abertas durante o ato. 
§ 2° Serão quatro as testemunhas na hipótese do parágrafo anterior e se algum dos contraentes não souber ou não puder escrever. 
Art. 1.535. Presentes os contraentes, em pessoa ou por procurador especial, juntamente com as testemunhas e o oficial do registro, o presidente do ato, ouvida aos nubentes a afirmação de que pretendem casar por livre e espontânea vontade, declarará efetuado o casamento, nestes termos: "De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados." 
Art. 1.536. Do casamento, logo depois de celebrado, lavrar-se-á o assento no livro de registro. No assento, assinado pelo presidente do ato, pelos cônjuges, as testemunhas, e o oficial do registro, serão exarados: 
I - Os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento, profissão, domicílio e residência atual dos cônjuges; 
II - Os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento ou de morte, domicílio e residência atual dos pais; 
III - o prenome e sobrenome do cônjuge precedente e a data da dissolução do casamento anterior; 
IV - A data da publicação dos proclamas e da celebração do casamento; 
V - A relação dos documentos apresentados ao oficial do registro; 
VI - O prenome, sobrenome, profissão, domicílio e residência atual das testemunhas; 
VII - o regime do casamento, com a declaração da data e do cartório em cujas notas foi lavrada a escritura antenupcial, quando o regime não for o da comunhão parcial, ou o obrigatoriamente estabelecido. 
Art. 1.537. O instrumento da autorização para casar transcrever-se-á integralmente na escritura antenupcial. 
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Art. 1.538. A celebração do casamento será imediatamente suspensa se algum dos contraentes: 
I - Recusar a solene afirmação da sua vontade; 
II - Declarar que esta não é livre e espontânea; 
III - manifestar-se arrependido. 
Parágrafo único. O nubente que, por algum dos fatos mencionados neste artigo, der causa à suspensão do ato, não será admitido a retratar-se no mesmo dia. 
Espécies de Casamento 
Casamento em caso de moléstia grave - e um dos nubentes estiver acometido por 
moléstia grave, o presidente do ato celebrará o casamento onde se encontrar a pessoa impedida, e sendo urgente ainda que à noite. O ato será celebrado perante duas testemunhas que saibam ler e escrever. Segundo a jurisprudência, a urgência dispensa o processo de habilitação anterior (TJRS, Apelação Cível 70013292107, Carazinho, 7.ª Câmara Cível, Rel. Des. Ricardo Raupp Ruschel, j. 11.01.2006). Tartuce (2014, p. 850). 
Eventual falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o casamento será suprida por qualquer dos seus substitutos legais, e a do oficial do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado pelo presidente do ato (art. 1.539, § 1.º, do CC). O termo avulso, lavrado por esse oficial nomeado às pressas, será registrado no respectivo registro dentro em cinco dias, perante duas testemunhas, ficando arquivado (art. 1.539, § 2.º, do CC). Tartuce (2014, p. idem). 
Pode-se discutir a viabilidade jurídica desse casamento, sendo certo que se estiver presente eventual simulação, o ato deve ser considerado nulo (art. 167 do CC). Aliás, deve ser feito o alerta de que muitas vezes tal casamento pode ser buscado com interesses escusos de enriquecer-se às custas da união. Tartuce (2014, p. idem). 
Art. 1.539. No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o presidente do ato irá celebrá-lo onde se encontrar o impedido, sendo urgente, ainda que à noite, perante duas testemunhas que saibam ler e escrever. 
§ 1° A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o casamento suprir-se-á por qualquer dos seus substitutos legais, e a do oficial do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado pelo presidente do ato. 
§ 2° O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no respectivo registro dentro em cinco dias, perante duas testemunhas, ficando arquivado. 
Obs.: quando faz a conversão de união estável em casamento é dispensado a celebração. Outra situação dispensada a celebração é o casamentonuncupativo 
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Casamento nuncupativo (em viva voz) ou in extremis vitae momentis, ou in articulo 
mortis (art. 1.540 do CC) 
A presente situação não pode ser confundida com a anterior, apesar de próxima. Nos termos do art. 1.540 do CC, “Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo a presença da autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença de seis testemunhas, que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau”. Como se pode notar, não há a presença da autoridade celebrante prevista em lei, ao contrário da modalidade prevista no art. 1.539 do CC. Tartuce (2014, p. 850). 
Mais uma vez, consigne-se que essa forma de casamento não poderá ser utilizada com o intuito de enriquecimento sem causa, o que pode motivar a decretação da sua nulidade absoluta, por fraude à lei imperativa (art. 166, VI, do CC). Igualmente não prevalecerá se decorrer de simulação absoluta, o que de igual modo gera a sua nulidade (art. 167 do CC). Tartuce (2014, p. idem). 
Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo a presença da autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença de seis testemunhas, que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau. 
e puder ratificar o casamento na presença da autoridade competente e do oficial do registro. 
Justamente para evitar fraudes é que o art. 1.541 do CC determina que, realizado esse casamento, devem as testemunhas comparecer perante a autoridade judicial mais próxima, dentro em dez dias, pedindo que lhes tome por termo a declaração de: a) que foram convocadas por parte do enfermo; b) que este parecia em perigo de vida, mas em seu juízo; c) que, em sua presença, declararam os contraentes, livre e espontaneamente, receber-se por marido e mulher. Instaura-se um procedimento de jurisdição voluntária, no qual deve intervir o Ministério Público. Autuado o pedido e tomadas as declarações, o juiz (da autoridade judicial mais próxima) procederá às diligências necessárias para verificar se os contraentes podiam ter-se habilitado, na forma ordinária, ouvidos os interessados que o requererem, dentro em quinze dias (art. 1.541, § 1.º, do CC). Tartuce (2014, p. 851). 
Art. 1.541. Realizado o casamento, devem as testemunhas comparecer perante a autoridade judicial mais próxima, dentro em dez dias, pedindo que lhes tome por termo a declaração de: 
I - que foram convocadas por parte do enfermo; 
II - que este parecia em perigo de vida, mas em seu juízo; 
III - que, em sua presença, declararam os contraentes, livre e espontaneamente, receber-se por marido e mulher. 
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§ 1° Autuado o pedido e tomadas as declarações, o juiz procederá às diligências necessárias para verificar se os contraentes podiam ter-se habilitado, na forma ordinária, ouvidos os interessados que o requererem, dentro em quinze dias. 
§ 2° Verificada a idoneidade dos cônjuges para o casamento, assim o decidirá a autoridade competente, com recurso voluntário às partes. 
§ 3° Se da decisão não se tiver recorrido, ou se ela passar em julgado, apesar dos recursos interpostos, o juiz mandará registrá-la no livro do Registro dos Casamentos. 
§ 4° O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento, quanto ao estado dos cônjuges, à data da celebração. 
§ 5° Serão dispensadas as formalidades deste e do artigo antecedente, se o enfermo convalescer 
Verificada a idoneidade dos cônjuges para o ato, o casamento será tido como válido e assim o decidirá a autoridade competente, com recurso voluntário às partes (§ 2.º). Se da decisão ninguém tiver recorrido, ou se ela passar em julgado, apesar dos recursos interpostos, o juiz mandará registrá-la no livro do Registro dos Casamentos (§ 3.º). O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento, quanto ao estado dos cônjuges, à data da celebração (§ 4.º) – os efeitos são ex tunc. Tartuce (2014, p. idem). 
Porém, serão dispensadas tais formalidades se o enfermo convalescer e puder ratificar o casamento na presença da autoridade competente e do oficial do registro (§ 5.º). Isso porque a confirmação posterior afasta a necessidade de todas as formalidades para se verificar a idoneidade da vontade. Tartuce (2014, p. idem). 
A princípio, não sendo respeitados os requisitos constantes desses dispositivos, o casamento deve ser tido como ineficaz, não gerando efeitos. Também é possível concluir por sua nulidade, por desrespeito à forma e às solenidades (art. 166, IV e V, do CC). Socorre-se à teoria geral do negócio jurídico da Parte Geral do CC/2002. Tartuce (2014, p. idem). 
Casamento por procuração (art. 1.542 do CC) - O casamento poderá ser celebrado por 
procuração, desde que haja instrumento público com poderes especiais para tanto. A eficácia do mandato não ultrapassará 90 dias da sua celebração (art. 1.542, § 3.º). Ilustrando, se o marido está trabalhando no exterior, poderá outorgar poderes para que sua mãe o represente quando da celebração. Como se pode notar, não se exige diversidade de sexos quando da celebração, eis que o mandatário age em nome do mandante. Tartuce (2014, p. 852). 
Eventualmente, ser o mandante quiser revogar o mandato, a revogação não necessita chegar ao conhecimento do mandatário (art. 1.542, § 1.º, do CC). Ressalte-se que somente é possível revogar o mandato para o casamento por meio de instrumento público (art. 1.542, § 4.º). Celebrado o casamento sem que o mandatário ou o outro contraente tivessem ciência da revogação anterior, responderá o mandante por perdas e danos perante o eventual 
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prejudicado, caso do outro nubente. Estão incluídas as despesas materiais com a celebração do casamento. Tartuce (2014, p. 852). 
Por fim, no casamento in extremis, nada impede que o nubente que não esteja em iminente risco de vida seja representado nesse casamento nuncupativo (art. 1.542, § 2.º, do CC). Tartuce (2014, p. idem). 
Art. 1.542. O casamento pode celebrar-se mediante procuração, por instrumento público, com poderes especiais. 
§ 1° A revogação do mandato não necessita chegar ao conhecimento do mandatário; mas, celebrado o casamento sem que o mandatário ou o outro contraente tivessem ciência da revogação, responderá o mandante por perdas e danos. 
§ 2° O nubente que não estiver em iminente risco de vida poderá fazer-se representar no casamento nuncupativo. 
§ 3° A eficácia do mandato não ultrapassará noventa dias. 
§ 4° Só por instrumento público se poderá revogar o mandato. 
Casamento religioso com efeitos civis (Tartuce, 2014, p. 852) 
O CC/2002 traz duas regras quanto aos efeitos jurídicos do casamento religioso, complementando a previsão do art. 226, § 2.º, da CF/1988 (“O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei”). Na opinião deste autor, para ter efeitos civis, o casamento pode ser celebrado perante qualquer religião, uma vez que o Estado brasileiro é laico e pluralista. São acompanhadas as lições de Paulo Lôbo, para quem “O inc. VI do art. 5.º da Constituição brasileira assegura a liberdade de ‘exercício de cultos religiosos’, além da ‘proteção aos locais de culto e a suas liturgias’. Dessa garantia depreende-se que não poderá haver restrição a qualquer tipo de crença religiosa, supondo organização mínima decorrente de seus locais de culto e de liturgia”. A esse propósito, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho discorrem sobre a possibilidade do casamento espírita, citando decisão paradigmática do Tribunal de Justiça da Bahia que concluiu por sua viabilidade. 
O art. 1.515 do CC prevê que “o casamentoreligioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua celebração. ” Em suma, o registro tem efeitos retroativos (ex tunc) até a celebração do ato. 
Duas são as situações possíveis de casamento religioso com efeitos civis, nos termos do art. 1.516 do CC: 
→ Casamento religioso precedido por processo de habilitação – o ato deve ser registrado no prazo decadencial de 90 dias, contados de sua realização, mediante comunicação do 
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celebrante ao ofício competente, ou por iniciativa de qualquer interessado. Após o referido prazo, o registro dependerá de nova habilitação. 
→ Casamento religioso não precedido por processo de habilitação – terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for registrado, a qualquer tempo, no registro civil, mediante prévia habilitação perante a autoridade competente. Nesse caso, deve ser respeitado o prazo de 90 dias, contados de quando foi extraído o certificado para a eficácia dessa habilitação (art. 1.532 do CC). Sendo homologada a habilitação e certificada a inexistência de impedimento, o oficial fará o registro do casamento religioso, o que tem efeitos ex tunc, à celebração. 
Diante do princípio da monogamia, “será nulo o registro civil do casamento religioso se, antes dele, qualquer dos consorciados houver contraído com outrem casamento civil” (art. 1.516, § 3.º). 
Casamento putativo 
Do latim, putare significa crer, imaginar. Sendo assim, o casamento putativo é o casamento da imaginação. Trata-se do casamento que embora nulo ou anulável – nunca inexistente –, gera efeitos em relação ao cônjuge que esteja de boa-fé subjetiva (ignorando o motivo de nulidade ou anulação). Tartuce (2014, p. 862) 
A categoria está tratada nos art. 1.561 do CC, com três regras fundamentais: 
1.ª Regra – Havendo boa-fé de ambos os cônjuges, o casamento gera efeitos em relação a estes e aos filhos, até o trânsito em julgado da sentença de nulidade ou anulação. Por isso, eventuais bens adquiridos no período devem ser partilhados entre os cônjuges de acordo com o regime de bens adotado. Em suma, o Direito de Família atinge ambos os cônjuges. Segue-se a corrente doutrinária e jurisprudencial que sustenta a permanência de efeitos pessoais mesmo após a sentença. Nesse sentido, Flávio Augusto Monteiro de Barros aponta três efeitos existenciais que persistem: a) o direito de usar o nome; b) a emancipação; c) a pensão alimentícia.58 Preservando o uso do nome do cônjuge de boa-fé após a sentença, da jurisprudência: TJPR, Recurso 0117667-8, Acórdão, 360, Faxinal, Oitava Câmara Cível, Rel. Des. Ivan Bortoleto, DJPR 24.06.2002. Tartuce (2014, p. idem) 
2.ª Regra – Havendo boa-fé de apenas um dos cônjuges, o casamento somente gera efeitos para este e para os filhos do casal. O art. 1.564 do CC atribui culpa ao cônjuge de má-fé, sofrendo as seguintes sanções: a) perda de todas as vantagens havidas do cônjuge inocente, caso da necessidade de devolver bens, dependendo do regime de bens adotado; b) dever de cumprir as promessas feitas no contrato antenupcial, como é o caso de doações antenupciais. Tartuce (2014, p. idem) 
Art. 1.564. Quando o casamento for anulado por culpa de um dos cônjuges, este incorrerá: 
I - na perda de todas as vantagens havidas do cônjuge inocente; 
II - na obrigação de cumprir as promessas que lhe fez no contrato antenupcial. 
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Todavia, com a entrada em vigor da Emenda do Divórcio (EC 66/2010), há quem entenda que a culpa foi banida do sistema de casamento, o que inclui a anulação do casamento, perdendo aplicação o dispositivo em comento. Tartuce (2014, p. idem) 
3.ª Regra – Havendo má-fé de ambos os cônjuges, o casamento somente gera efeitos para os filhos. Eventualmente, se bens forem adquiridos durante a união deverão ser partilhados de acordo com as regras obrigacionais que vedam o enriquecimento sem causa (arts. 884 a 886 do CC). Isso porque o Direito de Família não atinge os cônjuges. Tartuce (2014, p. 863) 
Casamento consular 
LNDB Art. 7.º A lei do país em que for domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. 
§ 1.º Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração. 
§ 2.º O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes. 
§ 3.º Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal. 
§ 4.º O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os 
§ 5.º O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro. 
§ 6.º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais. 
§ 7.º Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda. 
§ 8.º Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou naquele em que se encontre. 
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Registro – Realizado o casamento, dispõe o art. 1.536 do CC-0245, lavrar-se-á o assento 
no livro de registro. No assento, assinado pelo presidente do ato, pelos cônjuges, testemunhas, e Oficial do Registro. É muito comum, quando da convolação das núpcias, que a mulher passe a adotar o nome do marido. Todavia, em respeito ao princípio constitucional da igualdade, o inverso também poderá suceder: o marido acrescer ao seu o patronímico da sua esposa, consoante disposto no Código Civil de 2002, sem equivalente na codificação anterior. Gagliano (2014, p. 340). 
Finalmente, é bom frisar que o registro do casamento religioso com efeitos civis opera-se de forma muito semelhante ao casamento civil, diferenciando-se, especialmente, pela circunstância de que a autoridade celebrante, responsável por colher a manifestação de assentimento recíproca e posterior encaminhamento do instrumento formal para o Cartório respectivo, não é o juiz de direito ou de paz, mas sim o ministro ou representante da religião seguida ou escolhida pelos nubentes. Gagliano (2014, p. 340). 
Art. 1.515. O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua celebração. 
Art. 1.516. O registro do casamento religioso submete-se aos mesmos requisitos exigidos para o casamento civil. 
§ 1° O registro civil do casamento religioso deverá ser promovido dentro de noventa dias de sua realização, mediante comunicação do celebrante ao ofício competente, ou por iniciativa de qualquer interessado, desde que haja sido homologada previamentea habilitação regulada neste Código. Após o referido prazo, o registro dependerá de nova habilitação. 
§ 2° O casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas neste Código, terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for registrado, a qualquer tempo, no registro civil, mediante prévia habilitação perante a autoridade competente e observado o prazo do art. 1.532. 
§ 3° Será nulo o registro civil do casamento religioso se, antes dele, qualquer dos consorciados houver contraído com outrem casamento civil. 
20/08/2015 
Esponsais - O noivado é um fato social, mas alguns autores referem-se a ele como 
contrato solene de compromisso de casamento, como coloca Silvio Venosa, no entanto, este evento social não tem regulamentação no Direito brasileiro. Se pode comparar com as tratativas do contrato, não vincula nenhuma das partes. O que se discute é o rompimento injustificado do noivado, se este gera dano e responsabilidade jurídica. Portanto, fato social, a princípio não gera dano moral ou patrimonial, estes têm que ser provados. 
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Observamos que as formas de envolvimento afetivo experimentaram visível mudança, o que pode ser observado pelas fugazes — senão sumárias — formas de união, a exemplo do que socialmente se convencionou chamar de “ficada”. Gagliano (2014, p. 249). 
Não nos arriscamos a apresentar um conceito definitivo, senão uma breve noção deste tipo de união passageira, de cunho afetivo ou meramente sexual, e que, posto não apresente natureza propriamente familiar, pode, sim, repercutir no Direito de Família, como já decidiu o próprio Superior Tribunal de Justiça, ao reconhecer no “ficar” ou “curtir” indício de presunção de paternidade. Gagliano (2014, p. 249). 
Outra intrincada questão diz respeito ao namoro. Mais sério do que o simples encontro casual, o namoro não se notabiliza simplesmente pelo envolvimento sexual, mas também pelo comprometimento afetivo. Tal aspecto, no entanto, não serve para conferir-lhe roupagem jurídica familiar, dada a sua tessitura instável, mais pertinente à Moral do que propriamente ao Direito. Por isso, inclusive, a jurisprudência tem entendido que a ruptura de um namoro — por mais que traduza uma dor que parece não ter fim... — não reverbera na seara jurídica. 
Ultrapassando os umbrais do simples namoro, o noivado, importante e (necessariamente) refletido passo na vida das pessoas, traduz maior seriedade no vínculo afetivo, uma vez que, por meio dele, homem e mulher firmam a promessa recíproca de unirem-se por meio do casamento, formando uma comunhão familiar de vida. Servem, pois, os esponsais, ou simplesmente noivado — lembra-nos ANTÔNIO CHAVES — como um meio pelo qual os noivos ou nubentes podem aquilatar as suas afinidades e gostos, firmando, de maneira séria e inequívoca, um compromisso de casamento. Gagliano (2014, p. 253). 
RESPONSABILIDADE CIVIL POR RUPTURA DO NOIVADO 
Interessante questão diz respeito à ruptura do noivado. Não pensemos que o desfazimento dos esponsais opera-se sempre como um simples fim de namoro, em que os envolvidos simplesmente resolvem não se ver mais — com a consequente e já tradicional devolução das cartas de amor e até mesmo de alguns presentes ou recordações — ou decidem consolidar, a partir dali, uma bela amizade. Gagliano (2014, p. 253). 
A ruptura injustificada do noivado pode, sim, acarretar, em situações especiais, dano moral ou material indenizável. Não o simples fim da afetividade, mas a ruptura inesperada e sem fundamento pode determinar a responsabilidade civil extracontratual do ofensor, pelos prejuízos efetivamente sofridos, excluídos, por óbvio, os lucros cessantes. Gagliano (2014, p. 253). 
A ausência da tessitura contratual, entretanto, não impede a configuração do ilícito, quando o noivo desistente, violando a legítima expectativa de casamento, impõe, ao outro, prejuízo material ou moral. É o caso, por exemplo, do noivo que deixa a sua pretendente, humilhada, no altar, sem razão ou aviso; ou a desistência operada pouco tempo antes do casamento, tendo a outra parte arcado com todas as despesas de bufê, enxoval e aprestos, na 
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firme crença do matrimônio não realizado; na mesma linha e não menos grave, o anúncio constrangedor do fim da relação em plena festa de noivado ou chá de cozinha, por vingança; e, finalmente — exemplo extraído de parte da doutrina brasileira — temos a hipótese da noiva que deixa o emprego para casar (não faça isso, minha amiga!) e, com a posterior recusa do prometido, fica sem o trabalho e o marido. Gagliano (2014, p. 253). 
Não se imagine, no entanto, com tudo que dissemos, que, por havermos noivado, somos obrigados a casar. 
Não é isso. 
Temos todo o direito de desistir, até porque, se assim não fosse, não teria a autoridade celebrante a obrigação de perguntar se aceitamos ou não o nosso consorte. Ocorre que, a depender das circunstâncias da desistência, conforme vimos nos exemplos acima, a negativa pode traduzir um sério dano à outra parte, não sendo justo ignorarmos esse fato e seguirmos em frente, como se nada houvesse acontecido. Gagliano (2014, p. 253). 
O que o direito pretende evitar é o exercício abusivo desse direito. 
Raciocínio contrário, aliás, a par de incrementar o enriquecimento sem causa, poderia configurar, inclusive, dada a mencionada natureza do ato matrimonial, quebra de boa-fé objetiva pré-contratual. Vale dizer, afronta o princípio da eticidade o desfazimento injustificado do compromisso assumido, lesando a legítima expectativa nutrida pelo outro no sentido da realização do ato matrimonial. Gagliano (2014, p. 259). 
Nesse sentido, a jurisprudência brasileira tem reconhecido, em determinadas situações, a responsabilidade civil pelo fim do noivado. Na dúvida, portanto, é melhor cuidarmos de encontrar a melhor maneira de desistir do casamento, atuando, segundo o princípio da eticidade, no sentido de evitar ou minorar os efeitos danosos decorrentes da ruptura. Sob pena de responsabilidade civil... Gagliano (2014, p. 259) 
No pórtico das relações de família, é comum tratarem os escritores nossos e alheios dos esponsais (sponsalia per verba de futuro). Não se cogita no Código de 2002 do compromisso ou promessa de casamento, que, em outros sistemas, inclusive o nosso direito pré-codificado, tanta importância apresentava. Tal é o conceito de liberdade matrimonial hoje vigorante, que a “promessa de casamento” fica reduzida a pouco mais que um “idílio sem consequência jurídica”. Pereira (2014, p.212). 
Os esponsais tinham cunho contratual (Lafayette, Beviláqua), participando da dupla feição que nos outros sistemas jurídicos se lhe atribui, de contrato simultaneamente de Direito de Família e de Direito de Obrigações. E a consequência seria resolver em perdas e danos o inadimplemento do contrato esponsalício. Repudiados pelo direito positivo, a partir do Código de 1916 restou o noivado, que é um compromisso puramente moral dos nubentes, sem que possa ser exigido o seu cumprimento, e de que os noivos podem arrepender-se. O rompimento do noivado é facultado sempre, como pertinente à noção de que o matrimônio há 
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de refletir a vontade espontânea dos nubentes. Mas não se pode recusar o ressarcimento de perdas e danos, se se provar o prejuízo advindo a um dos noivos diretamente do rompimento (como, por exemplo, se o noivo exigiu que a noiva se demitisse do emprego, e depois, injustificadamente, quebra o compromisso). Pereira (2014, p.213). 
Habilitação - é um procedimento administrativo feito perante o oficial de registro de 
pessoas naturais para verificar se existe ou não algum impedimento para a celebração do casamento. Em regra, a habilitação será sempre prévia, todavia, a lei autoriza habilitaçãoposterior nos casos de casamento meramente religioso, conversão de união estável em casamento e casamento nuncupativo. Portanto, habilitação é um requerimento conjunto dos nubentes afirmando que querem se casar e que não possuem impedimentos, devendo constar declarações de duas testemunhas que conheçam os noivos atestando a inexistência de impedimento e a este requerimento deve se juntar também documentos que comprovem a idade, o estado civil e domicílio dos noivos. 
Art. 1.525. O requerimento de habilitação para o casamento será firmado por ambos os nubentes, de próprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, e deve ser instruído com os seguintes documentos: 
I - certidão de nascimento ou documento equivalente; 
II - autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra; 
III - declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhecê-los e afirmem não existir impedimento que os iniba de casar; 
IV - declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais, se forem conhecidos; 
V - Certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou de anulação de casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença de divórcio. 
Art. 1.526. A habilitação será feita perante o oficial do Registro Civil e, após a audiência do Ministério Público, será homologada pelo juiz. 
Art. 1.526. A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, com a audiência do Ministério Público. (Redação dada pela Lei n° 12.133, de 2009) Vigência 
Parágrafo único. Caso haja impugnação do oficial, do Ministério Público ou de terceiros, a habilitação será submetida ao juiz. (Incluído pela Lei n° 12.133, de 2009) Vigência 
Art. 1.527. Estando em ordem a documentação, o oficial extrairá o edital, que se afixará durante quinze dias nas circunscrições do Registro Civil de ambos os nubentes, e, obrigatoriamente, se publicará na imprensa local, se houver. 
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Parágrafo único. A autoridade competente, havendo urgência, poderá dispensar a publicação. 
Art. 1.528. É dever do oficial do registro esclarecer os nubentes a respeito dos fatos que podem ocasionar a invalidade do casamento, bem como sobre os diversos regimes de bens. 
Art. 1.529. Tanto os impedimentos quanto as causas suspensivas serão opostos em declaração escrita e assinada, instruída com as provas do fato alegado, ou com a indicação do lugar onde possam ser obtidas. 
Art. 1.530. O oficial do registro dará aos nubentes ou a seus representantes nota da oposição, indicando os fundamentos, as provas e o nome de quem a ofereceu. 
Parágrafo único. Podem os nubentes requerer prazo razoável para fazer prova contrária aos fatos alegados, e promover as ações civis e criminais contra o oponente de má-fé. 
Art. 1.531. Cumpridas as formalidades dos arts. 1.526 e 1.527 e verificada a inexistência de fato obstativo, o oficial do registro extrairá o certificado de habilitação. 
Art. 1.532. A eficácia da habilitação será de noventa dias, a contar da data em que foi extraído o certificado. 
A habilitação para o casamento consiste em um procedimento administrativo, disciplinado pelo Código Civil e pela Lei de Registros Públicos, por meio do qual o Oficial do Registro Civil afere a concorrência dos pressupostos de existência e validade do ato matrimonial, expedindo, ao fim, a habilitação necessária à concretização do enlace. Gagliano (2014, p. 325). 
Vale destacar, a propósito, que a Resolução n. 175/2013 do CNJ, veda às autoridades competentes a recusa de habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em casamento entre pessoas de mesmo sexo. Gagliano (2014, p. 325). 
Lembremo-nos, neste ponto, de que a habilitação para o casamento, o registro e a primeira certidão serão isentos de selos, emolumentos e custas, para as pessoas cuja pobreza for declarada, sob as penas da lei, nos termos do parágrafo único do art. 1.512, CC-0225, norma sem equivalente no Código Civil brasileiro anterior. Gagliano (2014, p. 325). 
Art. 1.512. O casamento é civil e gratuito a sua celebração. 
Parágrafo único. A habilitação para o casamento, o registro e a primeira certidão serão isentos de selos, emolumentos e custas, para as pessoas cuja pobreza for declarada, sob as penas da lei. 
Em geral, a documentação é simples, mas há situações em que são exigidos outros documentos como, por exemplo, casamento de jovens entre 16 e 18 anos precisa da autorização de ambos os pais. Apenas um deles negando, pode-se entrar com ação de suprimento de consentimento e, neste caso, será necessário apresentar a sentença do juiz 
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aprovando o casamento. Menor de 16 anos tem que comprovar o estado gravídico, autorização dos pais, sentença do juiz e parecer do MP. 
Após as providências documentais, o cartório providenciará a publicação de editais de proclamas num prazo de 15 dias, chamando os interessados para impugnarem ou não a habilitação. Este proclamas são afixados no domicílio dos nubentes e também publicados no diário oficial. Ainda que não haja impugnação, o MP verificara todas as habilitações para que se dê sequência ao processo e somente se houver impugnação o juiz se manifestará. Não havendo impugnação, será expedida pelo cartório a certidão de habilitação de casamento que tem um prazo de validade de 90 dias. Com a celebração do casamento, o cartório expedirá a certidão do registro de casamento, que é a prova que o casamento foi celebrado. Portanto, a principal função da habilitação é verificar se há algum impedimento para o casamento. 
Capacidade para o casamento 
Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil. 
Parágrafo único. Se houver divergência entre os pais, aplica-se o disposto no parágrafo único do art. 1.631. 
Art. 1.518. Até à celebração do casamento podem os pais, tutores ou curadores revogar a autorização. 
Art. 1.519. A denegação do consentimento, quando injusta, pode ser suprida pelo juiz. 
Art. 1.520. Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil (art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez. 
Em 7 de agosto de 2009 surge a Lei 12.015, encerrando o debate anterior, pois não é mais possível o casamento da menor com aquele que cometeu o crime. Na espécie foi introduzido o tipo do estupro de vulnerável (art. 217-A do Código Penal), sendo a ação penal correspondente pública incondicionada (art. 225, parágrafo único, do CP). Desse modo, não sendo mais a ação penal privada, não pode o casamento funcionar como forma de perdão tácito do crime, conforme outrora era defendido. Ademais, o conceito de vulnerabilidade é jurídico, encerrando uma presunção absoluta que não pode ser mitigada. Em suma, a nova lei coloca o Direito Penal em posição de prestígio em relação ao Direito de Família, o que é lamentável em algumas situações. Tartuce (2014, p. 842). 
A esse propósito, entendem Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, a quem se filia que “as especificidades do caso concreto poderão determinar solução diversa. Verificando o juiz ter havido namoro sério, numa ambiência psicológica de maturidade inequívoca das partes envolvidas, especialmente a incapaz (e isso não é incomum nos dias de hoje) e concorrendo, ainda, a anuência dos pais, poder-se-ia, em tese reconhecer a atipicidade do 
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fato criminoso, o que justificaria, por consequência, a autorização para casar. Faltaria, nessa linha de intelecção, justa causa para a própria ação penal passível, portantode trancamento”. Tartuce (2014, p. 843). 
Impedimentos Matrimoniais - Hoje só existe um tipo de impedimento, o absoluto, 
mas no código de 1916 haviam dois: impediente e suspensivo. Alguns doutrinadores tratam os impedimentos matérias como se fossem espécies do gênero absoluto, os quais constam no art. 1.521 
Causas impeditivas ou impedimento absoluto 
Art. 1.521. Não podem casar: 
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; - exemplo de parentesco civil: irmão adotivo ou por reconhecimento socioafetivo 
II - os afins em linha reta; - parentes por afinidade do cônjuge são: pais, filhos, netos do cônjuge. Nos termos do art. 1.595 do CC, há parentesco por afinidade entre um cônjuge (ou companheiro) e os parentes do outro consorte (ou convivente). O impedimento, por razão moral, existe apenas na afinidade em linha reta até o infinito (sogra e genro, sogro e nora, padrasto e enteada, madrasta e enteado, e assim sucessivamente). Os cunhados podem se casar, depois de terminado o casamento, pois são parentes afins colaterais. Destaque-se que o CC/2002 inovou ao reconhecer a afinidade em decorrência da união estável. Anote-se ainda que o vínculo por afinidade na linha reta é perpétuo, sendo mantido mesmo nos casos de dissolução do casamento ou da união estável (art. 1.595, § 2.º, do CC). Por isso, em tom jocoso, afirma-se que sogra é para a vida inteira. Tartuce (2014, p. 844). 
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; - este inciso foi copiado do código de 1916 e é desnecessário, pois já há a proibição no inciso II 
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; - no código de 1916 era permitido o casamento com parentes de terceiro grau desde que houvesse um laudo médico confirmando que não havia incompatibilidade sanguínea. 
V - o adotado com o filho do adotante; - deixou de existir distinção entre filho natural ou não, é irmão. 
VI - as pessoas casadas; - bigamia ainda é crime 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. – A interpretação deste inciso deve ser restrita, pois se não houver uma vinculação direta com a pessoa pretendida e o crime, o casamento é possível. Tal impedimento somente nos casos de crime doloso e havendo trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Ilustrando, se o casamento ocorre no curso do processo criminal, será reputado válido, pois quando da celebração não havia a limitação à autonomia privada. Em reforço, incide o princípio da presunção da inocência. O casamento permanece válido, 
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mesmo no caso de sentença penal transitada em julgado superveniente, ou seja, posterior ao matrimônio, o que demonstra a reduzida aplicação prática da previsão, que deve ser extinta, conforme o Estatuto das Famílias (PL 2.285/2007). Tartuce (2014, p. 845). 
Em relação aos efeitos, os impedimentos matrimoniais impossibilitam a celebração do casamento mediante procedimento administrativo que corre perante o Cartório de Registro das Pessoas Naturais (arts. 1.529 e 1.530 do CC). A sua oposição poderá ocorrer até o momento da celebração, por qualquer pessoa capaz (art. 1.522 do CC). Caso o oficial do registro ou qualquer juiz tenha conhecimento do impedimento, deverá reconhecê-lo de ofício (e ofício). Caso o casamento seja celebrado, será ele nulo de pleno direito, havendo nulidade absoluta (art. 1.548, II, do CC). Tartuce (2014, p. 845). 
Causas suspensivas 
As causas suspensivas do casamento são situações de menor gravidade, relacionadas a questões patrimoniais e de ordem privada. Não geram a nulidade absoluta ou relativa do casamento, mas apenas impõem sanções patrimoniais aos cônjuges. A sanção principal é o regime da separação legal ou obrigatória de bens (art. 1.641, I, do CC). O art. 1.523 do CC/2002 faz uma recomendação, prevendo que não devem casar: 
Art. 1.523. Não devem casar: 
I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros; - a causa é meramente patrimonial. Assim, se o nubente não tem filho não há impedimento. Além da imposição do regime da separação obrigatória de bens, essa causa suspensiva gera uma segunda sanção, qual seja a imposição de uma hipoteca legal a favor dos filhos sobre os bens imóveis dos pais que passarem a outras núpcias antes de fazerem o inventário do cônjuge falecido (art. 1.489, II, do CC). Se o filho for apenas do cônjuge falecido, ou seja, não for filho do viúvo ou viúva que pretende se casar novamente, não se impõe a causa suspensiva ao cônjuge sobrevivente, pois se trata de limitação da autonomia privada que somente pode decorrer de lei, não admitindo interpretação extensiva ou analogia. O mesmo ocorre se o filho for apenas daquele que pretende se casar. Tartuce (2014, p. 845). 
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal; mais uma vez existe a questão patrimonial. A viúva pode estar gestante do dê cujos, gerando um herdeiro, mas ela pode se casar com regime normal, comunhão parcial, se comprovar o estado de não gravidez. 
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal; pode casar, mas é exigido o regime de separação obrigatória de bens. 
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IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas. - 
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do prazo. 
Por fim, adiante-se que desaparecendo o motivo de imposição da causa suspensiva, justifica-se a ação de alteração de regime de bens, a ser proposta por ambos os cônjuges (art. 1.639, § 2.º, do CC). Nesse sentido, o Enunciado n. 262 CJF/STJ, da III Jornada de Direito Civil: “A obrigatoriedade da separação de bens, nas hipóteses previstas nos incs. I e III do art. 1.641 do Código Civil, não impede a alteração do regime, desde que superada a causa que o impôs”. Essa premissa vem sendo muito bem aplicada pela jurisprudência nacional (STJ, REsp 821.807/PR, 3.ª Turma, Rel.ª Min. Fátima Nancy Andrighi, j. 19.10.2006, DJU 13.11.2006, p. 261; TJSP, Apelação sem Revisão 552.439.4/9, Acórdão 2630948, São Vicente, 3.ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Beretta da Silveira, j. 27.05.2008, DJESP 28.07.2008). Tartuce (2014, p. 845). 
Art. 1.524. As causas suspensivas da celebração do casamento podem ser arguidas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consanguíneos ou afins, e pelos colaterais em segundo grau, sejam também consanguíneos ou afins. 
27/08/2015 
Efeitos jurídicos do casamento - Os efeitos jurídicos do casamento se dividem em 
pessoais, sociais e patrimoniais. 
Efeitos pessoais - estes dizem respeito aos direitos e deveres de ambos os cônjuges que se encontram dispostos no art. 1566. Vale ressaltar que também como efeito pessoal e por força do art. 1565, os cônjuges assumem a posição de companheiros entre si sendo solidariamente responsáveis pelos encargos da família, tendo por obrigação decidir sobre o planejamento da mesma, obrigação esta que se encontra em consonância com o art. 226, § 7° da CF/88. 
Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição

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