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1 Concordância escorregadia Há casos de concordância verbal que se afastam da norma-padrão e, em contextos formais, podem levar o redator à dúvida Josué Machado Alguns casos especiais de concordância verbal apresentam mais exceção do que outros. Entre eles, está a silepse1. A concordância ideológica ou silepse é aquela que se faz com o sentido, com a ideia das palavras, com o que elas expressam – e não com sua forma. Nisso difere da concordância verbal bem comportada, em que o predicado (verbo) concorda com o sujeito em número (singular ou plural) e pessoa (1ª, 2ª e 3ª). De acordo com o sentido originário, a silepse deveria referir-se apenas à concordância de número, mas acabou se estendendo a qualquer fenômeno da concordância ideológica. Portanto, a silepse pode ser de pessoa, com aparente discordância de pessoa; de gênero, com aparente discordância de gênero; e de número, com aparente discordância de número. [Vejamos alguns exemplos.] Silepse de número 1. A multidão cercou o palácio, e logo começaram a gritar palavras de ordem. [Neste caso, usou-se a forma verbal] “começaram” em vez de “começou”, porque o escriba considera a ideia plural contida no coletivo “multidão”. 1 Do grego súllépsis(eós) e do latim syllepsis(is), que significa “compreensão, inclusão, reunião”. 2 2. A assembleia age no impulso e acabam se descontrolando. Neste caso, usou-se a forma verbal “acabam” em lugar de “acaba”, porque registra o mesmo fenômeno. Silepse de gênero 1. Sua Santidade é fofo. Neste caso, a expressão de tratamento de forma gramatical feminina (“Sua Santidade”) está aplicada a adjetivo que representa o sexo masculino. 2. A gente fica irritado com certas manobras. Neste caso, a pessoa do sexo masculino usa o coletivo feminino “gente”. Silepse de pessoa 1. Os milhões de brasileiros esperamos por vida melhor. Neste caso, usou-se a forma verbal “esperamos” em vez de “esperam”, porque o declarante se inclui no sujeito enunciado na 3ª pessoa. 2. Naquela tarde, ficamos reunidos alguns eleitores. Neste caso, usou-se a forma verbal “ficamos” no lugar de “ficaram”, porque, como no exemplo anterior, o declarante se inclui entre os eleitores. Fonte REVISTA Língua Portuguesa. Dito & escrito. Publicação: jun. 2014. Disponível em: <http://revistalingua.com.br/textos/105/artigo314959-1.asp>. Acesso em: 21 jul. 2015.
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