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AT 1 CUIDADOS COM A SAÚDE DA MULHER 2 32 S U M Á R IO 3 UNIDADE 1 - Introdução 5 UNIDADE 2 - Assistência à Adolescência 6 2.1 Modificações do organismo feminino 6 2.2 Desenvolvimento psicossocial 6 2.3 Exame ginecológico 7 2.4 Consulta de enfermagem 10 UNIDADE 3 - Aconselhamento Genético 12 3.1 Aconselhamento Genético em Obstetrícia 14 3.2 O papel do enfermeiro no aconselhamento genético 16 UNIDADE 4 - Planejamento Familiar e Contracepção 16 4.1 Planejamento familiar 17 4.2 Evolução dos métodos anticoncepcionais 19 4.3 Os métodos contraceptivos atuais 22 4.4 A consulta de Enfermagem 25 UNIDADE 5 - Infertilidade e Fertilização 25 5.1 Causas da infertilidade feminina e masculina 26 5.2 Classificação dos fatores de infertilidade 27 5.3 Métodos e Técnicas de fertilização e reprodução 29 5.4 A conduta da enfermagem 33 UNIDADE 6 - Abortamento 33 6.1 Definição, incidência e fatores predisponentes ao aborto 33 6.2 Diagnóstico e classificação das manifestações clínicas de abortamento 33 6.3 Complicações 34 6.4 Métodos para abortamento 34 6.5 Condutas de Enfermagem 37 UNIDADE 7 - Climatério e Menopausa 38 7.1 Fisiologia do climatério 39 7.2 Aspectos psicossociais 40 7.3 Sintomas e exames 41 7.4 Consulta de Enfermagem 45 REFERÊNCIAS 2 33 UNIDADE 1 - Introdução Da puberdade à velhice, a mulher merece e precisa de atenção e cuidados específicos em cada uma dessas etapas de vida. Começaremos o módulo discorrendo so- bre a assistência à adolescência, quando veremos as modificações do organismo, o desenvolvimento psicossocial, o exame gi- necológico e os procedimentos da consulta de enfermagem. A terceira unidade foi dedicada ao acon- selhamento genético que ainda é área nova para muitos profissionais, mas nela reside a possibilidade de diagnosticar e muitas vezes prevenir doenças que vem de herança gené- tica. Os estudos dos geneticistas oferecem avanços em diagnóstico, prevenção e trata- mento de enfermidades genéticas, permi- tindo muitas vezes reduzir o sofrimento e as mortes produzidas por esses estados pato- lógicos. Planejamento familiar e contracepção são os temas da unidade quatro, momento de re- fletir sobre esses conteúdos e mais uma vez sobre a conduta de enfermagem para essas situações. Causas da infertilidade, classificação dos fatores, métodos e técnicas de fertilização e reprodução e aqui também a conduta de en- fermagem serão os temas da unidade cinco. Como lembram Barros, Graner e Faria (2009), uma das maiores preocupações em todos os povos e tempos foi conseguir meios de corrigir a infertilidade conjugal. Os primei- ros relatos sobre a fertilidade e a infertilida- de datam de 1.100 anos a.C. Nos tempos primitivos havia rituais de fecundidade onde vinculavam a maternida- de a objetos ou elementos como estátuas e animais. Caldeus e assírios acreditavam na importância da influência dos astros sobre a fertilidade. Já os judeus consideravam a falta de filhos como um castigo de Deus. Para os aborígenes, a infertilidade era uma maldição relacionada à fúria dos antepassados, das bruxas e deuses. Além desses, há relatos de crenças praticadas pelos povos da Nigéria do Norte, África e persas! Na unidade seis, voltamos nossas aten- ções para as questões que envolvem o aborto: definições, incidência, fatores pre- disponentes, diagnóstico e classificação das manifestações clínicas de abortamento, complicações, métodos e condutas de enfer- magem. Chegando ao final do módulo, veremos o climatério e menopausa. O estudo do clima- tério feminino é tema de interesse e pesqui- sa mundial. Nas três últimas décadas, o Brasil tem dado especial atenção a essa fase da vida da mulher, principalmente pelo aumen- to cada vez maior da expectativa de vida, visando à melhor qualidade de vida (PINELLI; SOARES, 2009). Sua fisiologia, aspectos psicossociais, sin- tomas e exames e para finalizar as condutas de enfermagem também serão revistas nes- sa unidade. Ressaltamos em primeiro lugar que embo- ra a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este 4 54 módulo é uma compilação das ideias de vá- rios autores, incluindo aqueles que conside- ramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expres- sas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de refe- rências básicas, encontram-se outras que foram ora utilizadas, ora somente consulta- das, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos estudos. 4 55 UNIDADE 2 - Assistência à Adolescência A palavra adolescência vem de adoles- cere do Latim e significa crescer, engros- sar, tornar-se maior, atingir a maioridade. A adolescência é um período de transi- ção entre a infância e a idade adulta. A Or- ganização Mundial de Saúde (OMS, 1985) considera adolescente o indivíduo que se encontra na idade dos 10 aos 20 anos. En- tretanto, a idade cronológica não é precisa para se definir os seus limites, pois este período é marcado por grandes transfor- mações gerais do organismo, transforma- ções locais do aparelho genital, além de transformações psíquicas. Esta fase e seu início sofrem influências do clima, do sexo, da hereditariedade, da cultura e de outros fatores (CARVALHO; MERIGHI, 2004). A puberdade, por sua vez, define o com- ponente biológico das transformações características da adolescência. O termo puberdade origina-se do Latim pubertas (idade fértil), caracterizando o período no qual adquirimos a capacidade de nos repro- duzir. A puberdade é, portanto, uma parte da adolescência que se evidencia pelo apa- recimento dos caracteres sexuais secun- dários até o completo desenvolvimento fí- sico, parada do crescimento e aquisição da capacidade de reprodução. A puberdade e a adolescência iniciam-se no mesmo período, porém, a adolescência prolonga-se após o término da puberdade. Tem-se observado, a partir do século XIX, uma aceleração do crescimento e ma- turação biológica, caracterizado por um aumento progressivo da estatura de crian- ças, adolescentes e da estatura final dos indivíduos. Observa-se também uma antecipação do início da puberdade e da menarca. Esse fenômeno é considerado por alguns auto- res como resultante da melhoria das con- dições gerais de vida e de saúde, principal- mente no que se refere à nutrição. Fisiopatologicamente, a puberdade fe- minina pode ser classificada em precoce, quando ocorre antes dos 9 anos e tardia, quando acontece após os 16 anos. Didaticamente, a adolescência pode ser dividida em estágios: inicial ou precoce, média e tardia (OPS, 1992; NICHOLS e PO- DGURSKI, 1997, LEAL e SAITO, 2001, et al. apud CARVALHO; MERIGHI, 2004): adolescência inicial ou precoce: de 11 a 13 anos; adolescência média: de 14 a 16 anos; adolescência tardia: de 17 a 19 anos. Como já dito, a idade cronológica, entre- tanto, não é precisa para se definir os limi- tes da adolescência, a qual é também mais que um fato biológico. Pode-se dizer que ela tem um início biológico e uma resolução psicossociocultural. Esta resolução pode ser caracterizada por: separação e independência dos pais; estabelecimento da identidade sexu- al; aceitação do trabalho; elaboração de um sistema de valores éticos; 6 7 capacidade de manter relações dura- douras; retorno aos pais numa nova relação fundamentada numa igualdade relativa (CARVALHO; MERIGHI, 2004).2.1 Modificações do orga- nismo feminino Desenvolvimento do tronco. Deposição de gordura nos quadris e tórax. Desenvolvimento das mamas e hiper- pigmentação das aréolas e proeminência dos mamilos. Surgimento dos pelos pubianos e axi- lares. Alargamento da bacia. Acontecimento da menarca. Mudança de entonação da voz. Desenvolvimento do ovário e matura- ção folicular. Modificações do útero e tubas uteri- nas. Transformações no tecido de revesti- mento da vagina. Desenvolvimento das formações la- biais. Fechamento da rima vulvar. Crescimento discreto do clitóris. Alterações endócrinas. Alterações emocionais. 2.2 Desenvolvimento psi- cossocial O indivíduo tem uma capacidade ines- gotável para desenvolver-se psicosso- cialmente. Esta capacidade inicia-se com o nascimento e teoricamente só termina com a sua morte. É talvez, na fase de adolescência que o indivíduo mais exercita esta capacidade, pois nessa fase, ele precisa criar sua pró- pria identidade. Para isso, há necessidade de elabora- ção pelos adolescentes e pelos seus pais, de três perdas ou lutos que são (KNOBEL, 1999): a) Perda do corpo infantil: trata-se da aceitação das transformações corporais que geralmente são vividas com muita an- siedade. É na adolescência que há uma de- finição sexual em nível psicológico. A mas- turbação é intensa nesta fase e tem um sentido exploratório do corpo e é uma pre- paração para a atividade sexual do adulto. b) Perda dos pais na infância: nesta fase, o ajuste mais importante é a passa- gem de dependência da criança para in- dependência do adulto. O crescimento, maturação e responsabilidade desejados, tanto pelos filhos como pelos pais são vivi- dos pelos adolescentes com agressividade e culpa com avanços e recuos. Os pais que foram idealizados na infância podem ser alvos de muitas críticas e surge a necessi- dade de identificação com figuras fora do âmbito familiar. c) Perda da identidade e do papel in- fantil: para desenhar sua própria identida- de, o adolescente passa por uma confusão de papéis, vivendo diferentes identidades, transitórias, ocasionais ou circunstanciais. Este não é mais criança, mas também não é adulto. 2.3 Exame ginecológico Numa abordagem promocional, a con- sulta a adolescentes deve levar em conta 6 7 os vários processos de vulnerabilidade, necessidades e agravos a que estes estão sujeitos: processos infecciosos, alterações nutricionais, distúrbios da autoimagem, DST, AIDS, uso de drogas psicoativas, gra- videz precoce e/ou indesejada, entre ou- tros (MANDÚ; PAIVA, 2001 apud CARVA- LHO; MERIGHI, 2004). A maioria dos adolescentes é basica- mente sadia. Eles procuram menos os pro- fissionais de saúde do que outros grupos etários. Mas pode haver anomalias do de- senvolvimento e desajuste emocional nes- ta faixa etária. Geralmente, as adolescentes precisam de tratamento para pequenas queixas e orientação em relação à saúde geral e edu- cação sexual incluindo orientação anticon- cepcional. Não há necessidade de se procurar as- sistência médica apenas porque a menina tornou-se adolescente. O exame ginecoló- gico só está indicado quando houver uma queixa específica ou quando: completar 18 anos; for sexualmente ativa; na presença de uma leucorreia; houver suspeita de DST; houver suspeita de gravidez; houver sangramento anormal; houver puberdade anormal; houver abuso sexual; houver dor abdominal ou pélvica. São queixas ginecológicas mais co- muns: distúrbios menstruais; corrimento vaginal; dismenorreia; algia pélvica; queixas relacionadas ao desenvol- vimento mamário (CARVALHO; MERIGHI, 2004). 2.4 Consulta de enferma- gem Médicos e enfermeiros devem aprovei- tar a consulta ginecológica ou outra opor- tunidade profissional para se realizar a educação para a saúde, discutindo com os adolescentes assuntos como: anticoncep- ção/atividade sexual/gravidez/desenvol- vimento físico. A verdade é que os adolescentes ge- ralmente conhecem, pelo menos superfi- cialmente os métodos anticoncepcionais. Entretanto, usam-nos de maneira incor- reta e/ou descontinuada, talvez por falta de orientação ou pelo caráter esporádico das suas relações sexuais. Os métodos an- ticoncepcionais mais indicados para essa faixa etária são: os métodos de barreira como a cami- sinha masculina e feminina e o diafragma; anticoncepcionais hormonais com- binados, desde que seja prescrita após 2 anos de ciclos regulares e respeitadas as suas contraindicações; os métodos naturais também pode- riam ser indicados respeitando as contrain- dicações e após completa compreensão do uso do método e sob supervisão profissio- nal; o DIU poderá ser utilizado por adoles- centes que já tiveram um filho. Em relação à atividade sexual, esta tem o início médio em torno dos 16 anos e cer- 8 9 ca de 1/5 das meninas e 1/3 dos meninos já tiveram pelo menos um coito até os 15 anos. O primeiro coito é denominado, coi- tarca. Geralmente as relações sexuais são esporádicas e imprevisíveis. A gravidez na adolescência é ainda um grave problema, embora de 5 a 10% delas fiquem grávidas, frequentemente os ado- lescentes não vinculam a prática sexual com a possibilidade de gravidez. Deve-se reforçar aos adolescentes a necessidade de proteção contra uma gravidez indeseja- da ou uma doença sexualmente transmis- sível. Quanto ao desenvolvimento físico, ge- ralmente os adolescentes são desinfor- mados a respeito do seu próprio corpo e da anatomia dos aparelhos reprodutores, ne- cessitando de informações quanto ao de- senvolvimento físico para evitar ansiedade e conflitos. Os interesses e preocupações mais comuns são relacionados com: o crescimento dos pelos; o desenvolvimento mamário; a menstruação; o tamanho do pênis; a polução noturna; a masturbação e suas consequências; a gravidez; a DST (a frequência de DST é bem maior nos adolescentes e pessoas jovens); as drogas; a higiene corporal; a atividade esportiva; outras. Padrão alimentar também deverá ser in- vestigado buscando-se relacionar hábitos e características familiares e pessoais de alimentação com obesidade, anorexia, bu- limia, entre outras. Outros fatores que devem ser conside- rados para que se preste uma assistência de qualidade aos adolescentes, principal- mente para aqueles que se predispõem a ter relações sexuais precoces, seriam: menarca precoce; fracasso escolar; conflito ou separação dos pais; doença prolongada ou morte na famí- lia; relação tensa com os pais (CARVALHO; MERIGHI, 2004). Guarde... A abordagem do adolescente deve ser clara, franca, adequada, evitando indu- ções, juízos de valor, reprovações, imposi- ções, práticas discriminatórias, que gerem desigualdades ou tratamento de forma infantilizada. Deve ser permeada pelo res- peito e confiança, favorecendo um diálogo aberto e fundamentado sobre questões de saúde. Cabe aos enfermeiros, independente da razão pela qual o adolescente procure o serviço, oportunizar um momento para a detecção, reflexão e auxílio às suas neces- sidades. Portanto, a privacidade e o aco- lhimento desse jovem são essenciais para que ele se sinta confiante, valorizado e à vontade. Ao realizar a consulta de enferma- gem, os enfermeiros devem contemplar os processos socioculturais, familiares e comportamentais que possam gerar vul- nerabilidades ou que sejam promotores de potenciais para o enfrentamento de 8 9 problemas visando promoção da saúde, prevenção de agravos, monitoramento e reabilitação. A Consulta de Enfermagem é um ins- trumento relevante para o enfermeiro, pois poderá potencializar a formação de autonomia, além de contribuir para uma assistência sistematizada com mais qua- lidadea partir de processos de interação, investigação, diagnóstico, intervenção, medidas educativas e de articulação para apoios necessários. A Consulta de Enfermagem consti- tui-se num momento de expressão/ cap- tação de necessidades e de resolução de problemas, contemplando a participação ativa dos sujeitos. Essas ações requerem do profissional além da competência téc- nica, sensibilidade para compreender o ser humano e o seu modo de vida e habilidade de comunicação, baseada na escuta e na ação. É também, momento de integração e articulação com outros saberes, conside- rando outros profissionais, setores e equi- pamentos de apoio (MARTINS; ALBUQUER- QUE; CUBAS, 2012). 10 11 UNIDADE 3 - Aconselhamento Genético Falar em Aconselhamento Genético (AG) nos faz lembrar quase que de imedia- to do Projeto Genoma Humano, uma ini- ciativa audaciosa criada na pesquisa bio- médica, em 1990, a nível mundial, tendo como objetivo mapear e sequenciar todo o material genético de humanos e de al- guns outros organismos geneticamente importantes. A iniciativa partiu do National Institu- tes of Health (NIH) dos Estados Unidos e centenas de laboratórios de todo o mun- do se uniram à tarefa de sequenciar, um a um, os genes que codificam as proteínas do corpo humano e também aquelas se- quências de DNA que não são genes. La- boratórios de países em desenvolvimento também participaram do empreendimen- to com o objetivo de formar mão de obra qualificada em genômica. Isso queria dizer determinar a sequ- ência completa dos 3 bilhões de pares de nucleotídeos no DNA do genoma humano e encontrar todos os genes dentro dela. Uma tarefa assustadora! Comparável a decifrar cada letra individual de 1 mm de largura ao longo de uma faixa de texto de 3.000 km de comprimento. Como mais de 90% do DNA não fazem parte dos genes, são realizadas outras abordagens dirigi- das aos genes expressos (ativos). Pois bem, em 14 de abril de 2003, um comunicado de imprensa conjunto1 anun- ciou que o projeto fora concluído com su- cesso, com a sequenciação ou sequencia- mento de 99% do genoma humano com uma precisão de 99,99%. O Projeto Genoma Humano possibilitou a transmissão de informação e tecnologia genética em escala mundial numa propor- ção até a pouco tempo sequer imaginada. As doenças genéticas, historicamente consideradas raras, passaram a ganhar importância com o desenvolvimento bio- tecnológico dessa área, tornando-se evi- dente a necessidade de um contínuo e crescente conhecimento sobre as contri- buições da genética para a saúde e na gê- nese das doenças. E desde então, a genética passou a as- sumir lugar de destaque no cotidiano das pessoas, com um grau de envolvimen- to sem precedentes quando compara- do a outras áreas científicas (ABRAHÃO, 2009). Esses importantes avanços em diag- nóstico, prevenção e tratamento das en- fermidades genéticas permitem, portan- to, aliviar apreciavelmente o sofrimento e as mortes produzidas por esses estados patológicos. Paralelamente ao desenvolvimento da genética, devemos ressaltar que, com a redução das enfermidades infecciosas e nutricionais nos países desenvolvidos, as anomalias congênitas (sejam de origem genética ou não) vêm se situando entre as primeiras causas de morbidade e mortali- dade infantis, e essa tendência se obser- va em diversos países da América Latina e no Caribe. Consequentemente, as anoma- lias congênitas (AC) estão adquirindo um papel cada vez mais relevante entre os 1- http://www.genoscope.cns.fr/externe/English/Actualites/ Presse/HGP/HGP_press_release-140403.pdf 10 10 11 problemas de saúde, o que pode ser cons- tatado no relatório da Organização Pan-A- mericana da Saúde (OPAS), já em 1984. Sob o ponto de vista etiológico, as AC representam um grupo muito heterogê- neo de alterações do desenvolvimento embriofetal onde, cerca de 60% das ve- zes, o fator causal ainda não está definido (RABELLO-GAY; RODRIGUES; MONTELEO- NE-NETO, 1991). Sob análise global, os defeitos congê- nitos afetam cerca de 5% dos nascidos vivos, sendo responsáveis por 20% da mortalidade neonatal e 30 a 50% da mor- talidade perinatal nos países desenvolvi- dos. Na América Latina, as informações sobre defeitos congênitos são ainda frag- mentadas por deficiência na qualidade do diagnóstico e nas estatísticas de saúde, no entanto, dados provenientes de nume- rosos estudos epidemiológicos locais e do Estudo Colaborativo Latino-Americano de Malformações Congênitas (ECLAMC) con- firmam que os defeitos congênitos ocor- rem na América Latina com frequências similares às observadas em outras regi- ões do mundo (CASTRO et al., 2006). No Brasil, apesar da dificuldade na ob- tenção de dados epidemiológicos confi- áveis em relação a doenças genéticas, é óbvia a melhora dos indicadores de saú- de nas últimas décadas onde, no período de 1980 a 1997, as anomalias congênitas passaram de 6% para 12% como causa de mortalidade infantil, segundo o Banco de Dados do Sistema Único de Saúde (DATA- SUS) (ABRAHÃO, 2009). Outro dado relevante é que o impac- to das doenças genéticas e dos defeitos congênitos na saúde não pode ser esti- mado somente em termos de cifras de frequência e contribuição quantitativa da morbidade e mortalidade. A realidade é muito mais complexa; uma vez que essas doenças são de natureza crônica, podem afetar muitos órgãos e sistemas e os mé- todos terapêuticos disponíveis são caros e pouco acessíveis. Além disso, as crian- ças afetadas são mais suscetíveis aos agressores ambientais, como infecção e desnutrição, que as não-afetadas. Por outro lado, o caráter hereditário das doenças genéticas predispõe uma fa- mília em particular a possuir mais de um filho afetado. As particularidades mencionadas de- monstram o grande impacto dos defeitos congênitos na família e na sociedade, so- bretudo nas regiões com poucos recursos. Os problemas médicos, psicológicos e/ou econômicos, entre outros, que essa famí- lia deve enfrentar são enormes. É imprescindível, portanto, que todo programa de saúde inclua estratégias de prevenção primária, secundária e terciária voltadas para os defeitos congênitos. A detecção de fatores de risco repro- dutivos, genéticos ou não, deve fazer par- te da atenção primária de saúde, sendo seguida de assessoramento genético ao indivíduo e/ou à gestante sem, contudo, pretender interferir na autonomia repro- dutiva do casal. O aconselhamento gené- tico tem por objetivo fazer com que as de- cisões reprodutivas estejam baseadas em informações claras e precisas e não em ideias errôneas (PENCHASZADEH, 1993 apud ABRAHÃO, 2009). A possibilidade do diagnóstico pré-na- tal por meio da obtenção de amostras de 11 12 13 material fetal, como as vilosidades coriô- nicas, líquido amniótico, sangue ou pele, ampliou muito o estabelecimento de diag- nóstico de aberrações cromossômicas, bem como de doenças gênicas pela tec- nologia da citogenética e biologia mole- cular, respectivamente. Assim também o desenvolvimento das técnicas de ultras- sonografia, ecocardiografia, dopplerflu- xometria, entre outras, permitiu o diag- nóstico acurado de malformações fetais em fases precoces da gestação. Por conseguinte, o diagnóstico pré-na- tal veio possibilitar que a gestante de ris- co elevado desenvolvesse uma gestação sem o temor do nascimento de outro filho afetado ou, ainda, o diagnóstico precoce de tal anomalia, sendo que algumas ano- malias, atualmente passíveis de trata- mento, com diagnóstico ainda na fase in- trauterina. O aconselhamento genético e o diag- nóstico pré-natal são recursos que se ofe- recem às gestantes consideradas de risco para gerarem prole portadora de AC, que decidem voluntariamente aceitá-los ou não e está presente no Brasil há 20 anos,por meio do serviço público (PENCHASZA- DEH, 1993 apud ABRAHÃO, 2009). 3.1 Aconselhamento Gené- tico em Obstetrícia Com o desenvolvimento do diagnóstico pré-natal, as atividades de AG foram apri- moradas, deixando de ser fundamenta- das somente em riscos de probabilidade estatística de ocorrência ou recorrência de determinada anomalia, passando a prever com exatidão a presença ou não da anomalia congênita em questão (HIRS- CHHORN, 1982 apud ABRAHÃO, 2009). Durante a gravidez, a mulher passa por intensas mudanças, físicas, sociais e psi- cológicas e é diante desta fragilidade que lhe é fornecido o anúncio de resultados de testes pré-natais, os quais muitas vezes vão fornecer segurança e tranquilidade; no entanto, em algumas situações trarão dúvidas, incertezas e temores resultantes da suspeita ou do diagnóstico de anomalia fetal. Essas são situações que exigem da mulher tomada de decisões para as quais nem sempre se sentem capacitadas sem o auxílio de aconselhamento genético (QUAYLE, 1997). Assim sendo, o AG deve ser um proces- so contínuo em um serviço de medicina fetal, tendo início na recepção do casal e estendendo-se por todas as etapas do seu atendimento pré e pós-natal, sen- do considerado de extrema importância, uma vez que, para cada etapa do aten- dimento da gestante, seja a escolha de exames para o diagnóstico pré-natal, a comunicação de resultados e de possibi- lidades de tratamento intrauterino ou as limitações desses métodos, exige a parti- cipação ativa e consciente do casal, o que não é facilmente obtido, por estarem em jogo não só aspectos racionais, mas tam- bém sentimentais, éticos, religiosos e legais. Essa importância e complexidade foram evidenciadas por vários estudos e é devido a este grau de complexidade que as atividades de aconselhamento gené- tico devem ocorrer de forma integrada à equipe multiprofissional que presta assis- tência a esta grávida e/ou a este casal, as- pecto este fundamental para o estabele- cimento da sua eficiência (EPSTEIN, 1975; KESLLER, 1989 apud ABRAHÃO, 2009). O conselheiro deve expor de forma cla- 12 13 ra e precisa todos os fatos detectados, a fim de que o casal possa tomá-los como base para sua própria decisão. O sucesso desse aconselhamento depende muito do grau de compreensão do consulente e da adequação das orientações para, assim, permitir uma decisão reprodutiva cons- ciente do casal. Segundo Abrahão (2009), a eficácia do aconselhamento genético consiste, acima de tudo, em um relacionamento de em- patia entre o conselheiro e o consulente, portanto, antes de iniciar qualquer pro- cesso formal de coleta de dados, torna- -se necessário a realização de um correto acolhimento do casal, deixando-o à von- tade e não demonstrando pressa. É muito importante, principalmente em um serviço público, explicar para o consu- lente por que ele está sendo atendido e no que consiste a consulta de aconselha- mento genético, independentemente da especialidade a que se destina tal atendi- mento, seja em medicina fetal, pediatria, oncologia, entre outras. Para o consulente, é muito importante o estabelecimento de um vínculo de con- fiança no serviço em que ele será atendido por um período, muitas vezes, prolongado e, acima de tudo, envolvendo informações que irão influenciar muito seus aspectos emocionais, sociais, econômicos, entre outros. O conselheiro deverá se esforçar para ser esse vínculo do qual o paciente necessita, pois, assim, ele garantirá que todos os seus questionamentos serão respondidos. Uma segunda etapa é a coleta de da- dos do paciente, de seus antecedentes pessoais e familiares. Com relação aos antecedentes pessoais, serão pesquisa- dos todos os dados referentes a doenças clínicas, hábitos, vícios, exposição ocupa- cional a agressores ambientais. Com rela- ção aos antecedentes familiares, damos maior enfoque na ocorrência de anomalias congênitas na família, casamentos con- sanguíneos e usamos esses dados para a construção do heredograma da família. Concluída a coleta de dados, passamos a analisá-los para estabelecer os fatores de risco encontrados. A quarta etapa consiste em explicar to- dos os fatores encontrados. Nessa etapa, é extremamente importante que as expli- cações sejam realizadas de forma que o consulente possa entender. Termos téc- nicos devem ser evitados quando o grau de instrução do consulente não permite sua compreensão, no entanto, não de- vemos utilizar terminologia simbólica e simplificada quando o consulente possui condições de entender termos técnicos. Não estar atento a uma dessas situações poderá comprometer todo o processo do aconselhamento. A etapa seguinte consiste na apresen- tação dos exames necessários para o es- tabelecimento de um diagnóstico, seus riscos e limitações. Nessa ocasião, deve- mos mostrar todas as opções diagnós- ticas disponíveis, no entanto, mais uma vez ressaltamos que caberá aos consu- lentes aceitá-los ou não, por esse motivo é necessário que nos certifiquemos do real entendimento das informações for- necidas. Essa situação é particularmente frequente no atendimento à gestante de risco, pois os exames que necessitam de coleta de material fetal demandam riscos que, por menores que sejam, trazem an- 14 15 siedade e fortes dúvidas em aceitá-los ou não. O conselheiro deve ser sensível e per- ceber quando os consulentes não têm certeza de sua decisão; nesses casos não pode haver pressa, é melhor dar-lhes tem- po para sedimentarem as informações e tirarem suas dúvidas, agendando uma nova consulta. Toda vez que um paciente ou casal opta por se submeter à coleta de exames para estudos genéticos, deverão assinar um termo de consentimento informado, no qual deve constar toda a orientação for- necida sobre riscos e limitações deste. Por ocasião do recebimento dos re- sultados dos exames solicitados, os con- sulentes devem retomar ao AG para que possamos explicar-lhes os diagnósticos e tirar-lhes qualquer dúvida que possa sur- gir. Cabe ao conselheiro estar sempre dis- ponível em qualquer etapa do atendimen- to clínico para que, a qualquer momen- to, o consulente sinta-se à vontade para procurá-lo com o intuito de sanar dúvidas que possam surgir. O acompanhamento pós-natal é fundamental para a manuten- ção do vínculo estabelecido entre o con- selheiro e o consulente durante todo o período pré-natal, sendo também um mo- mento importante de complementação de orientações e, em alguns casos, confir- mação diagnóstica com orientações pre- concepcionais e de planejamento familiar (ABRAHÃO, 2009). 3.2 O papel do enfermeiro no aconselhamento genéti- co O aconselhamento genético constitui- -se atualmente em um processo bastante complexo, exigindo que o conselheiro seja um profissional dotado de profundos co- nhecimentos dos princípios de genética, das doenças de origem genética e dismor- fologia, além de muito tato, bom senso e disponibilidade para ensinar. Sua atuação deve ser interligada a uma equipe multi- profissional para que a assistência seja completa. Em relação ao enfermeiro, apesar da preocupação com os conteúdos de ge- nética em sua formação datar de 1962, ainda hoje, nos Estados Unidos, reconhe- ce-se que tais conteúdos desenvolvidos durante a graduação ainda são insufi- cientes, contudo, já se pode observar o surgimento de uma nova especialização que vem englobando diversos programas educacionais em genética, desenvolvidos por profissionais de diferentes áreas de atuação devido à sua abrangência de apli- cação, entre eles, os enfermeiros. Além disso, é notório o trabalho executado por enfermeiros em diversos países, entre os quais podemos incluir o Brasil, como edu- cadores em saúde, atividade muito pre- sente durante toda a sua formaçãopro- fissional (ABRAHÃO, 2009). Assim sendo, seguindo o modelo ame- ricano, Abrahão salienta que estamos acompanhando o desenvolvimento desta área com o enfermeiro educador em ge- nética, atuando em diferentes especiali- dades como já afirmado anteriormente, não lhe cabendo o estabelecimento de diagnóstico clínico, mas sim toda a ativi- dade de aconselhamento genético, que se constitui em um processo basicamente 14 15 psicoeducativo. No que diz respeito às bases legais para a atuação do enfermeiro como con- selheiro genético, o Conselho Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo, posicionou-se favoravelmente em 03 de outubro de 2001, com o parecer de que o enfermeiro, desde que tenha treina- mento específico na área, pode atuar na função de conselheiro genético (EVERS- -KIEBOAMS; VAN DENBERGHE, 1979 apud ABRAHÃO, 2009). Seguindo o que está determinado pela lei do exercício profissional, observa-se que o enfermeiro é um profissional mui- to adequado para atuar como conselheiro devido a sua formação acadêmica, uma vez que esta tem enfoque tanto em ciên- cias humanas quanto em biológicas, que lhe dão embasamento teórico-prático su- ficiente para ministrar atenção holística e assistência integral aplicadas à genéti- ca (EVERS-KIEBOAMS; VAN DENBERGHE, 1979 apud ABRAHÃO, 2009). 16 1716 UNIDADE 4 - Planejamento Familiar e Contracepção No ano de 1984, quando o Ministério da Saúde elaborou o Programa de Assistên- cia Integral à Saúde da Mulher (PAlSM), ele inclui o planejamento familiar entre suas ações, tornando-se um direito legal do cidadão com a aprovação da Constituição Federal de 1988 que, em seu artigo 226, § 7º, afirma: Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacio- nais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coerci- tiva por parte de instituições oficiais ou privadas. Em 12 de janeiro de 1996, foi sanciona- da a Lei 9.263, que regulamenta o Plane- jamento Familiar no Brasil (LEAL; ARAÚJO, 2010). Na série: “Direitos Sexuais e Reprodu- tivos”, elaborada pelo Ministério da Saúde em 2005, está claro que o governo bra- sileiro pauta-se pelo respeito e garantia aos direitos humanos, entre os quais se incluem os direitos sexuais e os direitos reprodutivos, para formulação e imple- mentação de políticas relativas ao pla- nejamento familiar e a toda e qualquer questão referente à população e ao de- senvolvimento, ampliando medidas em planejamento familiar e redução da mor- talidade materna. Existem estratégias para a população brasileira em relação a acesso, esclareci- mentos e estímulos ao planejamento fa- miliar, incluindo a distribuição nos centros comunitários e nas Unidades de Saúde da Família de material educativo com infor- mações sobre as diversas maneiras de se evitar uma gravidez não planejada (BRA- SIL, 2006). O histórico do planejamento familiar tem como base os direitos sexuais e os direitos reprodutivos, que são ancorados na liberdade de todo casal decidir livre e responsavelmente sobre o número, os es- paçamento de tempo e a escolha do mo- mento para ter filhos, para o que se faz necessário ter informação e meios ade- quados. Prevê também o direito de gozar do mais elevado padrão de saúde sexual e reprodutiva, incluindo o direito de tomar decisões sobre reprodução livre de dis- criminação, coerção ou violência, além da garantia da liberdade de orientação sexu- al e da dupla proteção contra as infecções sexualmente transmissíveis (lST)/AIDS e a gestação não planejada (BRASIL, 2006). 4.1 Planejamento familiar Mediante esse enfoque geral, pode- mos definir o planejamento familiar como um conjunto de ações de regulação da fecundidade que garanta direito à limita- ção ou ao aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal. Desse modo, o planejamento familiar dá ao casal a opor- tunidade de obter recursos para a escolha do momento da concepção ou da anticon- cepção, por meio de diferentes métodos. Esses métodos oferecem segurança e efi- cácia comprovada, não acarretando risco à saúde e garantindo a liberdade de esco- lha assegurada na Constituição Federal e 16 1717 pela Lei nº 9.263/96. Historicamente, as atividades do Pla- nejamento Familiar tomaram forma com a Conferência Internacional sobre Popu- lação e Desenvolvimento (CIPD), realizada em 1994, no Cairo e a Conferência da Mu- lher, realizada em Pequim, em 1995. Nessas conferências, vários países, entre eles o Brasil, assumiram o compro- misso de integrar os direitos sexuais e re- produtivos nas políticas e nos programas nacionais, voltados à população e desen- volvimento, envolvendo o planejamento familiar. A Política Nacional de Planejamento Fa- miliar surgiu no ano de 2007, com a amplia- ção das ações acerca do oferecimento de métodos contraceptivos gratuitamente para homens e mulheres em idade repro- dutiva, por meio dos serviços de saúde. Quanto à assistência em anticoncep- ção, esta pressupõe a oferta de todas as alternativas possíveis de métodos anti- concepcionais, bem como o conhecimen- to de suas indicações, contraindicações e implicações de uso, garantindo à mulher, ao homem ou ao casal, os elementos ne- cessários para a opção do método que a eles melhor se adaptem (BRASIL, 2002). 4.2 Evolução dos métodos anticoncepcionais Segundo Camiá e Barbieri (2009), a preocupação com o controle da repro- dução é antiga, quase coincidindo com o aparecimento da cultura humana. Desde os tempos mais remotos, o ser humano sempre procurou exercer o controle sobre a natalidade, incrementando-a ou evitan- do-a por meios voluntários e conscientes. A Bíblia, no Antigo Testamento, narra o coito interrompido no capítulo 38, versí- culos 7-10, do livro de Genesis, como um meio de contracepção. Na antiguidade, as práticas anticon- ceptivas eram pouco difundidas, se base- avam em superstições e, como a gravidez, relacionava-se ao ciclo menstrual; a mu- lher era considerada a única responsável por esse acontecimento. Na ocorrência de gravidez indesejada, os povos primitivos tentavam interrompê-la com o uso de er- vas abortivas, amuletos, orações, poções mágicas e tabus sexuais, que, às vezes, ajudavam a proporcionar maior intervalo entre as gestações (KAUFMAN; RONDI- NELLI, 1989). A inserção de substâncias na vagina era uma das práticas mais simples de preven- ção à gravidez. Em 1850 a.C., no papiro de Petri, já se encontrava uma receita, que consistia na mistura de dejetos de croco- dilo ou mel e carbonato de sódio nativo ou goma arábica. No papiro de Ebers, de 1550 a.C., encontrou-se indicação de brotos de acácia que continham goma arábica que, devido à sua reação, produzia ácido lático, considerado espermicida. Aristóteles, em 400 a.C., relatava que o óleo de cedro e o unguento eram esper- micidas e, em 138 d.C., Soranos, o maior ginecologista da antiguidade, orientava o uso de supositórios de lã associados a substâncias oleosas. Em 600 d.C., Aetios de Amida recomendava, para uso vaginal, vinagre e salmoura, e no século IX, as mu- lheres moldavam o ópio em forma de con- cha, inserindo-o na vagina. Posteriormen- te, apareceram os primeiros espermicidas comercializados, tendo como ingredien- tes o sulfato de quinino e a manteiga de 18 19 cacau. A participação do homem no processo da anticoncepção foi descrita pela pri- meira vez em 1564, com o uso de pre- servativos confeccionados com linho; em seguida, surgiram aqueles confecciona- dos à base de intestino de animais, con- tudo, eram utilizados apenas pela nobre- za da época e, na maioria das vezes, para a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis.Na metade do século XIX, a fabricação dos preservativos foi ampla- mente difundida, principalmente devido ao início da indústria da borracha, quan- do foram produzidos em escala indus- trial, com custo inferior ao da membrana animal. No início do século XX, houve o advento do látex, razão pela qual se ob- teve material de melhor qualidade. Atual- mente, é um dos métodos mais utilizados, devido à disseminação das doenças sexu- almente transmissíveis, inclusive o HIV, visto que oferece proteção eficaz quando utilizado de forma correta (CAMIÁ; BAR- BIERI, 2009). No final do século XIX, surgiram tam- bém os diafragmas (1882), os dispositivos intrauterinos e o capuz cervical. O méto- do do calendário, também denominado de Tabela, foi estudado por Ogino, do Japão, e Knaus, da Áustria, na década de 1930, no qual demonstraram a relação da ovulação com o ciclo menstrual. A partir desse tra- balho, descobriram fórmulas para deter- minar o período fértil, originando o Méto- do Ogino-Knaus. A esterilização cirúrgica feminina foi citada em 1834 por James Blundell, que recomendava a seção tubária bilateral, mas foi Lundgren o primeiro a realizá-la em um parto cesárea. No ano de 1941, foi utilizada a laparoscopia, definida como a introdução de um instrumento óptico na cavidade abdominal e, com o decorrer do tempo, novas técnicas foram descober- tas. Em 1960 surgiu a pílula anticoncepcio- nal, à base de progestogênio e estrogê- nio, sendo utilizada em larga escala pela população feminina, mas devido a diver- sos efeitos colaterais relacionados às al- tas doses do componente estrogênico, pesquisadores se dedicaram à investi- gação de novas formulações com doses mais baixas e com boa eficácia (ALDRIGHI; SAUERBRONN; PETTA, 2005). Os anticoncepcionais hormonais injetá- veis combinados mensais também foram descobertos logo após os orais, aumen- tando a cada dia o número de usuárias desse método. Embora a vasectomia tenha sido desco- berta há vários anos, ela alcançou maior popularidade somente a partir de 1960, acompanhando a liberação sexual e apre- sentando-se como método alternativo para aqueles que desejavam a contracep- ção definitivas. Logo após esse período, surgem mo- vimentos culturais que relacionam a im- portância de conviver com a natureza e a aquisição de hábitos saudáveis, propor- cionando um estímulo para a anticoncep- ção natural. Nesse sentido, embora o Mé- todo Ogino-Knaus tenha sido definido em 1930, sua prática torna-se mais comum nessa época, bem como o Método da Ovu- lação de Billings, recomendado pela pri- meira vez em 1964, pelo casal de médicos australianos John e Evelin Billings. Esse método baseia-se na observação das va- 18 19 riações do muco cervical, durante as dife- rentes fases do ciclo menstrual. O anticoncepcional hormonal injetável trimestral foi aprovado para uso em 1992 e nos últimos anos tem sido utilizado por 14 milhões de mulheres em todo o mundo. Em 1993, foi aprovado o preservativo feminino para uso nos Estados Unidos, estando disponível na Inglaterra desde 1990. No Brasil, seu uso encontra-se ain- da restrito, em razão do elevado custo e de barreiras culturais. Após este período, outros métodos an- ticoncepcionais surgiram e encontram-se disponíveis no mercado brasileiro, tais como o adesivo transdérmico, o anel va- ginal, o implante contraceptivo com uma única cápsula de silicone e o sistema in- trauterino liberador de levonogestrel (DIU hormonal). Apesar dos diversos contraceptivos existentes, observa-se o uso predomi- nante de dois métodos: a laqueadura tubária e a pílula, 40% e 21% respecti- vamente, por mulheres brasileiras no con- trole de sua fertilidade. Talvez esse fato ocorra pelo acesso limitado das mulheres à informação sobre as múltiplas opções de contraceptivos para regular sua fecundi- dade (CAMIÁ; BARBIERI, 2009). 4.3 Os métodos contracep- tivos atuais Nos últimos anos, o principal indicador de qualidade de programas de planeja- mento familiar é a satisfação das usuá- rias, que depende principalmente do tipo de atendimento oferecido. A qualidade no atendimento é de difícil definição, mas existe consenso entre pes- quisadores da área de que a orientação é de fundamental importância. O objetivo da ação educativa em pla- nejamento familiar é oferecer às pessoas informações atualizadas sobre todos os métodos anticoncepcionais, de maneira que elas possam tomar uma decisão apro- priada e informada sobre o método que irão escolher para uso. É fundamental que os profissionais responsáveis pela atenção em anticon- cepção tenham competência técnica que inclui mais do que ter conhecimentos so- bre os métodos anticoncepcionais. Eles devem estar atualizados quanto aos pro- cedimentos e as técnicas, devem possuir habilidades de comunicação interpessoal para poder comunicar-se com as usuárias dos serviços de saúde, falar de maneira adequada, utilizar apoio visual, escutar e verificar a compreensão. Significa ter ain- da uma postura aberta e de respeito aos direitos das pessoas (DIÁZ, 2005). Infelizmente, não existe um método anticoncepcional perfeito, denominado ideal, isto é, que possa ser utilizado por qualquer mulher que seja totalmente inó- cuo e eficaz, que seja facilmente aces- sível, não tenha efeitos colaterais, não interfira no ato sexual e seja aceito sem restrições de ordem moral, psicossocial e religiosa. O melhor método é aquele que mais se adequa às necessidades e às con- dições de saúde do indivíduo, aquele que oferece maior número de benefícios com o mínimo de risco, diferenciando-se cada caso em particular, sendo decisão conjun- ta do casal ou da usuária, sob orientação de um profissional de saúde. 20 21 Para facilitar o acesso à contracepção efetiva para as mulheres que a desejam realizar, bem como para aquelas em situ- ações especiais, o Departamento de Saú- de Reprodutiva da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, em 1996, seus critérios médicos de elegibilidade, com o objetivo de garantir que, além da escolha livre e informada, ela seja adequada para as condições de saúde das usuárias, de modo a não oferecer riscos. Trata-se de diretrizes globais que devem ser utiliza- das como referência e adaptadas à reali- dade de cada país que têm por base evi- dências científicas, foram revisadas em 2000 e em 2004, estando, atualmente, em sua terceira edição (WHO, 2004 apud CAMIÁ; BARBIERI, 2009). Os critérios de elegibilidade devem ga- rantir que os métodos não sejam utiliza- dos por pessoas cujas condições clínicas de saúde possam ser agravadas pelo seu uso ou interferir na sua eficácia ou mesmo hábitos que, somados ao método, possam se tornar fatores de risco para a saúde. Neste sentido, ressalta-se que todos os que trabalham com Planejamento Familiar devem conhecer os critérios de elegibili- dade, especialmente os profissionais res- ponsáveis pela orientação das usuárias, além dos médicos. Após vasta revisão científica, eles foram classificados em quatro cate- gorias para uso, a saber: categoria 1 – o método pode ser usado sem restrição; categoria 2 – o método pode ser usado com restrição. São situações nas quais os benefícios do uso do método, ge- ralmente, superam os riscos; categoria 3 – o método não deve ser usado. Os riscos possíveis e comprovados superam os benefícios de utilizar o méto- do; categoria 4 – o método não deve ser usado, pois representa um risco de saúde inaceitável. No que se refere à mensuração da efe- tividade de um anticoncepcional, poderá ser realizada de duas formas: pelo índice de Pearl (ou índice de Falha), que calcula o número de gestações por 100 mulheres que utilizam o método no período de um ano ou pelo índice de efetividade, que cal- cula o númerode gestações prevenidas por cada relação sexual. Vejamos alguns métodos contra- ceptivos reversíveis e definitivos. a) Coito Interrompido Este método exige autocontrole do ho- mem, visto que ele deverá retirar o pênis da vagina quando estiver na iminência da ejaculação, depositando o sêmen longe dos genitais femininos. Essa prática deve ser desestimulada, pois as evidências mostram sua baixa eficácia, já que a se- creção lubrificante que precede a ejacu- lação pode conter espermatozoides. Não protege contra IST. Além disso, é comum a insatisfação sexual de um ou de ambos os parceiros, e ocasiona a ejaculação precoce em alguns homens (LEAL; ARAÚJO, 2010). b) Preservativo masculino Também conhecido como camisinha ou condom, método de barreira feito de lá- tex, poliuretano ou de membrana natural, pode ser encontrado em diferentes co- res, texturas, tamanhos, formas, espes- suras e sabores (BRASIL, 2006). O uso do 20 21 preservativo deve ser altamente incen- tivado, orientando-se a população sobre a técnica correta de utilização (cuidados na abertura da embalagem; colocação com pênis ereto, retirando o ar da bolsa na extremidade, para que possa receber o sêmen ejaculado; proceder à retirada do pênis logo após a ejaculação, prender o preservativo na parte de cima para que o sêmen não extravase e descartar o pre- servativo após sua utilização). Estimular o uso dos preservativos associados a ou- tros métodos anticonceptivos mais efi- cazes, como os hormonais, por exemplo, visando à dupla proteção contra gravidez (BRASIL, 2006). É um método seguro, barato, de fácil acesso e protege contra as IST, inclusive HIV. Não pode ser reutilizado, e geralmen- te suas falhas estão associadas a erros na hora de colocar e/ou retirar a camisinha, causando vazamentos de sêmen ou rup- turas. Tem como principal desvantagem a diminuição da sensibilidade para o ho- mem. Método bastante estimulado nas campanhas em virtude da sua alta eficá- cia contra as IST e para o planejamento fa- miliar (LEAL; ARAÚJO, 2010). c) Diafragma Pequeno dispositivo circular de borra- cha ou silicone, em forma de cúpula, con- tém um anel flexível que é colocado na vagina, cobrindo completamente o colo uterino e a parte superior da vagina. Dis- ponível em diversos tamanhos, deve ser avaliado para cada paciente usando-se os anéis medidores. Esta medida deve ser reavaliada a cada parto, ganho ou perda de peso. O diafragma combinado com gel ou pomada espermicida pode ser inseri- do até 4 horas antes da relação sexual, porém só deve ser retirado, no mínimo, 6 horas após a relação. O diafragma é reu- tilizável, devendo, após o uso, ser lavado com água fria e sabão neutro. Com os devidos cuidados, poderá ser utilizado por até 2 anos. Esse método não previne contra IST (LEAL; ARAÚJO, 2010). Os métodos definitivos também são denominados de contracepções cirúrgi- cas, e devem ser escolhidos após conhe- cimentos de todos os outros métodos re- versíveis. Com os avanços da tecnologia e avaliação criteriosa do ginecologista com relação à saúde e situação do casal, o mé- dico pode tentar reverter, com auxílio de outra cirurgia, esse método. d) Laqueadura A ligadura das trompas, também co- nhecida como esterilização, consiste em seccionar, ligar ou ocluir as trompas de Falópio para impedir que o óvulo atinja o útero e, desse modo, seja fecundado e im- plantado. De acordo com a Portaria 48/99 do Ministério da Saúde, parágrafo único: é vedada a esterilização cirúrgica em mu- lher durante períodos de parto, aborto ou até o 42º dia do pós-parto ou aborto, ex- ceto nos casos de comprovada necessida- de, por cesarianas sucessivas anteriores, ou quando a mulher for portadora de do- ença de base e a exposição a segundo ato cirúrgico ou anestésico representar maior risco para sua saúde. Neste caso, a indica- ção deverá ser testemunhada em relató- rio escrito e assinado por dois médicos. Segundo a Lei do Planejamento Familiar (Lei nº 9.263, de 12 de janeiro de 1996), a laqueadura só poderá ser realizada em homens e mulheres com 25 anos de idade ou mais ou que tenham dois filhos vivos e 22 23 que manifestarem a vontade e de realizar de fato o ato cirúrgico em 60 dias, após decidido o ato, período este em que de- verão participar de palestras sobre o mé- todo escolhido para que não haja decisão precipitada ou errônea. Existem indicações para esterilização por método definitivo em razão de pato- logias de base que levem a risco de mor- te para a mulher, como doenças cardíacas e renais, entre outras. Deve-se sempre contar com o termo de consentimento in- formado de procedimento, levando-se em conta que é um método de difícil reversão e, portanto, escolhido com bastante cau- tela. Não previne contra IST (LEAL; ARAÚ- JO, 2010; CAMIÁ; BARBIERI, 2009). e) Vasectomia A esterilização masculina é realizada por um procedimento cirúrgico em que se utiliza anestesia local, podendo o homem, na maioria das vezes, retomar suas ativi- dades normais em 1 a 2 dias. Um pequeno corte é feito na bolsa escrotal para cortar os canais deferentes, por onde passam os espermatozoides. É importante lem- brar que o homem continua ejaculando e produzindo hormônio masculino, líquido seminal e secreção prostática, mas sem a presença de espermatozoides. As contraindicações para a vasectomia são infecções cutâneas localizadas, doen- ças que podem tornar difícil a operação, como varicocele, hidrocele volumosa, hér- nia inguinal, filariose, distúrbios de coa- gulação e presença de tecido cicatricial resultante de cirurgia anterior. Este método é bastante eficaz, com baixo risco de falha, algo em torno de 0,15 gravidez para cada 100 homens, após o primeiro ano do procedimento. Não previ- ne contra IST (CAMIÁ; BARBIERI, 2009). 4.4 A consulta de Enferma- gem Segundo Leal e Araújo (2010), para atuar de maneira adequada de acordo com o Programa de Planejamento Fami- liar, o profissional da saúde deve estar capacitado para lidar com as diferentes situações socioculturais e econômicas de sua comunidade, promovendo, assim, ha- bilidades e competências para atuar junto à população de modo a fornecer orienta- ções sobre os métodos contraceptivos. Camiá e Barbieri (2009, p. 33) também corroboram com a posição dos autores acima afirmando que o enfermeiro que trabalha na área de planejamento familiar deve compreender as preocupações rela- cionadas com a fertilidade e a associação com a investigação de suas necessidades, identificar os problemas de enfermagem e implementar as intervenções necessá- rias. Por isso, é importante que utilize o processo de enfermagem, pois é a meto- dologia mais efetiva para exercer e docu- mentar o cuidado. O enfermeiro encontra-se em posição importante para auxiliar os casais a com- preenderem as opções de métodos con- traceptivos disponíveis. Na prática clínica em planejamento familiar, é importante a utilização do processo de enfermagem, concretizado por meio da consulta de en- fermagem, um recurso utilizado pelo en- fermeiro para atuar de maneira autônoma e direta junto ao cliente, orientando ações de acordo com o Ministério da Saúde sem- pre atualizadas e específicas, fundamen- tadas em protocolos/pautas institucio- 22 23 nais ou de serviços. A consulta em planejamento familiar deve abordar os antecedentes pessoais, desde a menarca até a coitarca, o núme- ro de parceiros, o número de gestações, os métodos contraceptivos utilizados, o sucesso e/ou fracasso desses métodos, além da motivação, da conveniência, dos efeitos colaterais, dos planos para futuras gestações, da proteção contra IST, da con- cordância com o parceiro sobre o método escolhido e do comprometimento com o próprio. O planejamento familiarestá direta- mente relacionado à clara e objetiva orien- tação sobre cada método contraceptivo e escolha e regularização do planejamento da família e da prole. Deve ser ressaltado o esclarecimentos de cada método e sua relação com a prevenção das IST, refor- çando a necessidade da dupla proteção (BRASIL, 2002). O respaldo legal para o enfermeiro rea- lizar a assistência em planejamento fami- liar na consulta de enfermagem se dá por meio da Lei do Exercício Profissional nº 7.498, de 25 de junho de 1986 e seu De- creto Regulamentador 94.406/87. Segundo o manual do Ministério da Saúde, na primeira consulta de enfer- magem em planejamento familiar, é necessário: a) História clínica e reprodutiva. b) Exame físico geral e ginecológico, in- clusive ensinar o autoexame das mamas. c) Indagar sobre queixas atuais. d) Investigar metas reprodutivas. e) Reforçar a importância do planeja- mento familiar. f) Avaliar o conhecimento prévio sobre os métodos anticoncepcionais e seu nível de compreensão. g) Ajudar na escolha do método, dis- cutindo suas características, mas sempre respeitando os desejos e interesses da cliente. h) Verificar condições clínicas que po- deriam fazer o método não recomendável (critérios de elegibilidade da Organização Mundial de Saúde). Caso seja necessário, auxiliá-la na escolha de outro método. i) Oferecer informações precisas sobre o método escolhido, inclusive a respeito de seu uso e, se possível, utilizar material educativo para facilitar a aprendizagem. j) Confirmar se a usuária entendeu as instruções e esclareceu suas dúvidas. k) Discutir a vulnerabilidade para doen- ças sexualmente transmissíveis/HIV e sua prevenção. l) Encaminhar para consulta médica, se necessário. m) Realizar a coleta de material para colpocitologia oncótica, se necessário. n) Fornecer o método anticoncepcional de acordo com a rotina do serviço. o) Aprazar o retorno. p) Registrar todas as informações e re- alizar estatísticas (BRASIL, 2002). Nas consultas subsequentes: a) Indagar sobre a satisfação da usuária com o método anticoncepcional em uso. 24 2524 b) Verificar o modo de uso e reorientar se necessário. c) Perguntar sobre possíveis efeitos colaterais e orientar conduta. d) Avaliar a aparição de possíveis con- dições que façam o método não ser reco- mendável. e) Reafirmar a possibilidade de mudan- ça do método, especialmente se a usuária não estiver satisfeita. f) Aferir a pressão arterial e o peso. g) Indagar sobre outras queixas clíni- cas. h) Realizar exame ginecológico, se ne- cessário. i) Colher material para colpocitologia oncótica, se necessário. j) Fornecer o método anticoncepcional, de acordo com a rotina do serviço. k) Encaminhar para o médico e outros profissionais quando necessário. l) Aprazar o retorno. m) Registrar todas as informações e re- alizar estatísticas (BRASIL, 2002). Vale ressaltar que a responsabilidade do cuidar exige que as decisões sobre as intervenções propostas sejam implemen- tadas na avaliação do estado de saúde de quem estamos assistindo. É quase impossível que a avaliação da cliente seja completa sem que nenhum aspecto de interesse seja abordado, se não nos basearmos em um modelo assis- tencial de enfermagem. 24 2525 UNIDADE 5 - Infertilidade e Fertilização Clinicamente, a infertilidade é definida como a incapacidade de conceber após um ano de relações sexuais regulares sem uso de qualquer método contracep- tivo (EVERS, 2002; SCHIMIDT et al., 2005 apud BARROS; GRANER; FARIA, 2009). A infertilidade é classificada como pri- mária quando tanto o homem quanto a mulher não têm história de concepção prévia, mesmo mantendo-se sexualmen- te ativa e sem utilização de métodos con- traceptivos. É secundária, quando o ho- mem ou a mulher, ou ambos, conceberam anteriormente, porém, não conseguem fazê-lo novamente, mesmo mantendo- -se sexualmente ativos e sem utilização de métodos contraceptivos (MAMEDE; BARROS, 1997). Sempre houve uma grande preocupa- ção entre os povos de conseguir meios para resolver os problemas de infertili- dade conjugal, por vários motivos, den- tre eles, conceber filhos era, assim como viver e comer, necessidades elementares do homem. Para alguns povos como os judeus, a esterilidade era considerada um castigo de Deus. Os indígenas atribuíam a esteri- lidade aos espíritos oclusores (OKAZAKI, 2004). Ao longo dos séculos, muitos ritos e crendices foram surgindo nos diferentes povos e sociedades até surgir o conhe- cimento científico, mas mesmo nos dias atuais, ainda perduram muitas crenças, ritos e fantasias ligadas à fertilidade. 5.1 Causas da infertilidade feminina e masculina De maneira ampla e geral, a inferti- lidade atinge 20% dos casais na idade fértil. Os fatores femininos e masculinos contribuem igualmente com uma taxa de 35% cada, 20% se referem ao conjunto de fatores masculinos e femininos e 10% são por causas inexplicáveis (MOREIRA; MAIA; TOMAZ, 2002). Embora a infertilidade esteja relacio- nada em alguns casos a fatores femini- nos ou masculinos, ela é um problema do casal (JORDAN; REVENSON, 1999 apud BARROS; GRANER; FARIA, 2009). A infertilidade feminina tem como causas principais: endometriose, doença tubária e adesão pélvica (30 a 40% dos casos); disfunção ovulatória (10%); fato- res cervicais (15%) e, em 5% dos casos, hipotiroidismo, fatores imunológicos e alterações na fase lútea (SILVERBERG, 2000 apud BARROS; GRANER; FARIA, 2009). Nos homens, a infertilidade pode ocor- rer por alterações genéticas, deficiência de gonadotrofinas, defeitos anatômicos, infecções, reações imunológicas e cau- sas idiopáticas (WBITMAN-ELIA; BAXLEY; 2001; SKULL, 2004; BRITON et al., 2005 apud BARROS; GRANER; FARIA, 2009). No quadro abaixo temos causas da in- fertilidade feminina e masculina: 26 27 Causas da Infertilidade Feminina Masculina hormonal; tubárias; malformação uterina; genéticas. azoospermia – ausência de espermato- zoides; oligospermia – pouca quantidade de espermatozoides; astenospermia – baixa motilidade dos espermatozoides; teratospermia – forma alterada dos espermatozoides. Fonte: Okazaki (2004, p. 182). 5.2 Classificação dos fatores de infertilidade Os fatores de infertilidade podem ser classificados em: fator ovulatório; fator tubário; fator uterino corporal; fator uterino cervical; fator vaginal; fator masculino; fator peritoneal; fator imunológico; fator psicológico. Segundo Okazaki (2004), no nosso meio, há predominância do fator tubário (45%), ovulatório (40%) e masculino (35%). A mulher pode engravidar em qualquer épo- ca de sua vida reprodutiva, mais ou menos entre 12 e 49 anos. Como já dito, as causas de infertilidade podem atingir ambos os sexos, não sendo causa exclusiva da mulher, mas no caso destas, podemos ter como causas: a) Nutricional: hipovitaminose, defici- ência de proteínas, anemia por deficiência de ferro. b) Endócrina: b.1) Hipofisária – a ovulação e gestação dependem da produção normal da tirotro- fina, adrenocorticotrofina e gonadotrofi- nas (FSH, LH, LTH). A insuficiência ovariana pode ser por hipopituitarismo ou hiperpi- tuitarismo. b.2) Tireoide – o hipotireoidismo produz anovulação, infertilidade e aborto de repe- tição. O hipertireoidismo quando suficien- temente grave pode produzir amenorreia. b.3) Suprarrenal – a hiperatividade adre- nocortical (Síndrome de Cushing) reduz a ocorrência de ovulação. A insuficiência su- prarrenal (Doença de Addison) causa atro- fia gonodal. c) Vaginal: malformações congênitas da vagina podem levar à infertilidade: au- sência de vagina, ginatresia, hímen imper- furado ou cubiforme, estenose de vagina e vagina septada que impedema cópula e a 26 27 inseminação. A capacidade reprodutora masculina inicia por volta dos 16 anos. Aproximada- mente após os 45 anos, a fertilidade dimi- nui, embora se sabe que muitos homens tenham gerado filhos aos 80 anos ou mais. A infertilidade masculina pode ser decor- rente das seguintes causas: a) Coital: a penetração vaginal incom- pleta causada por ereção dolorosa, epispá- dias, hipospádias ou obesidade extrema. b) Anormalidades espermáticas: vo- lume do líquido espermático; pH; viscosi- dade, motilidade, contagem, morfologia alterados. b) Testicular: deficiência de desenvol- vimento — agenesia dos testículos (nua), pequenos testículos, ausência dos testícu- los por causa de criptorquidia. c) Endócrina: hipopituitarismo, doença de Cushing. A atrofia dos testículos ocorre na doença de Addison. Síndrome de Kline- felter (não desenvolvimento dos túbulos seminíferos). d) Infecções: a fertilidade fica reduzi- da durante e após a febre alta. A caxumba complicada nos meninos por orquite, sen- do bilateral, geralmente, produz esterilida- de. e) Lesão física: irradiação, traumatis- mo nos testículos, circulação reduzida após herniorrafia complicada, varicocele. f) Pênis e uretra: malformações con- gênitas, estenose de uretra. g) Próstata e vesículas seminais: in- fecções da próstata e vesículas seminais. h) Epidídimo e canais deferentes: obstrução mecânica (congênita, inflama- tória e traumática). i) Varicocele e a hidrocele: a varicoce- le e a hidrocele podem aumentar a tempe- ratura escrutal e alterar a maturação dos espermatozoides (OKAZAKI, 2004). 5.3 Métodos e Técnicas de fertilização e reprodução Em reprodução assistida, temos os seguintes métodos: a) Inseminação artificial: ocorre a de- posição de gametas masculinos no trato reprodutor feminino. A inseminação artifi- cial tinha a finalidade de substituir o coito, que por algumas razões não era realizado. Iniciou-se primeiramente depositando o sêmen no ambiente vaginal (século XVII). Em 1886, Sims realizou inseminações arti- ficiais intracervicais. Com o passar do tempo surgiram inúme- ras mudanças, desde a escolha do local do procedimento, uso de indutores de ovula- ção, preparo laboratorial do sêmen para se obter uma amostra enriquecida e isenta de impurezas e bactérias. A inseminação artificial pode ser homó- loga (AIR) ou heteróloga, ou seja, por doa- dor (AID). Índice de sucesso: de 10 a 25% por ciclo. Deve-se tentar de três a quatro ciclos de inseminação artificial; caso não aconteça a gravidez, recomenda-se a Fertilização in vitro (FIV) ou a Transferência intratubária de gametas (GIFT) (CARVALHO, 2004). b) Fertilização in vitro - FIV A fertilização in vitro, seguida da trans- ferência de embrião, representa um grande 28 29 avanço no campo de esterilidade conjugal, possibilitando o tratamento e gestações nos casos que antes eram considerados in- solúveis. O termo mais conhecido popular- mente é “bebê de proveta”. Em 1978, nasceu o primeiro bebê, Loui- se Brown, por fertilização in vitro na Ingla- terra, feito pelo Mr. Steptoe. Em 1984, nas- ceu Anna Paula, no Brasil, pela equipe do Prof. Dr. Milton S. Nakamura. Desde então, em todo o mundo nasceram muitos bebês por esse procedimento, e a cada ano novas técnicas surgem aumentando as chances de gestação. Na FIV, coleta-se vários óvulos do ová- rio por punção do folículo, fertiliza-os em laboratório com o esperma do parceiro e, após um determinado período, transfere- -se o embrião para o útero materno. A expectativa de gravidez após um ciclo de tratamento varia entre 25% a 30%, po- dendo chegar até 40%, quando se trans- fere até quatro embriões em estágio mais avançado (mórula/blastocisto), com até cinco dias de cultivo para transferência embrionária (CARVALHO, 2004). c) FIV - Gravidez em blastocisto Transferência em estágio de blastocis- to, presença de sais, substratos energéti- cos, proteínas, aminoácidos e vitaminas. Tem como vantagens: favorece a sincronização do embrião com o endométrio; aumenta a taxa de implantação; reduz o número de embriões a serem transferidos; evita altas taxas de gestações múlti- plas; estágio mais avançado - 5º ou 6º dia após a coleta de oócito. Na técnica do processo há indução da ovulação por meio de tratamento medica- mentoso para estimular vários óvulos até o amadurecimento, monitorando a indução para medir o crescimento dos folículos, in- dividualizar a dosagem dos medicamentos e prevenir efeitos colaterais sérios. Utili- za-se ultrassonografia transvaginal (três a quatro vezes num ciclo de tratamento) e dosagens sanguíneas hormonais. A Coleta de óvulos acontece em geral por anestesia local e sedação leve entre 10 a 20 minutos. A aspiração é orientada pela ultrassonografia transvaginal coletando- -se os óvulos via vaginal (32 a 36 horas após a última injeção de hormônio). A amostra de esperma é colhida no mo- mento da coleta dos óvulos. Na fertilização na incubadora, óvulos e espermatozoides preparados são manti- dos juntos em cultura durante alguns dias e os embriões fertilizados são examinados no microscópio diariamente. Transfere-se os embriões (em geral de três a cinco dias após a fertilização) para a cavidade uterina por um delgado cateter. Os embriões exce- dentes em geral são congelados. Temos ainda a Transferência intratu- bária de gametas (GIFT), que consiste na coleta de óvulos pela aspiração do folículo do ovário e que são transferidos imedia- tamente à tuba junto com o esperma. A fertilização no método GIFT ocorre em seu ambiente natural, ou seja, na tuba uteri- na. As indicações para este método são as mesmas da FIV, porém, necessita-se que a 28 29 mulher tenha as tubas completamente sa- dias. A chance de gravidez após um ciclo de tratamento é de 25% a 35%. Outra técnica é a micromanipulação de gametas, ou ICSI - Intra Citoplasmatic Sperm Injection. Um tratamento indicado nos casos de infertilidade masculina (ho- mens com baixa contagem de espermato- zoides ou azoospermias, vasectomias após 5 anos). Atualmente, é também utilizada para os óvulos com a zona pelúcida enri- jecida (mulheres acima de 40 anos). Utili- za-se microscópios e micromanipuladores para introduzir o sêmen dentro do óvulo (CARVALHO, 2004). Já a punção de epidídimo ou Percuta- neous Epididymal Sperm Aspiration (PESA), é indicado nos casos de ozoospermias obstrutivas (pós-vasectomia, obstrução traumática, congênitas e infecciosas), au- sência de ejaculação por comprometimen- to medular (paraplégicos, tetraplégicos, neuropatia medular, impotência sexual). A técnica não requer sedação. Consiste na fi- xação manual do epidídimo e aspiração dos espermatozoides com agulha de insulina, sob anestesia local. Posteriormente, sub- mete-se à fertilização por ICSI. O sucesso dessa técnica é de 25% a 30%. A Micro-Epididymal Sperm Aspiration (MESA) é indicada nos mesmos casos da PESA, porém, a técnica de aspiração é um pouco mais invasiva, por necessitar de uma pequena incisão sobre a pele, segui- da de uma microdissecção, expondo os microtúbulos epididimários, aspirando-se os espermatozoides dos túbulos sob visão direta. Por fim, a biópsia testicular ou Testicular Sperm Extraction (TESA) é indicada para os casos em que não se encontrou esper- matozoides na punção epididimária (PESA/ MESA). Desta forma, procura-se espermá- tides (células jovens, precursoras do esper- matozoide) no macerado testicular, pela biópsia testicular por aspiração (TESA) com agulha de insulina ou por extração (TESE) de espermátides por incisão cirúrgica. Os resultados nesta técnica ainda são baixos (CARVALHO, 2004). 5.4 A conduta da enferma- gem O processo de nascimento tem sido con- siderado comoum problema de escolha. Muitos casais, em determinado momento do seu relacionamento, decidem que é hora de ter filhos e então interrompem o méto- do contraceptivo que vinham utilizando e, após cinco ou seis meses de relações sexu- ais não protegidas, 60% deles concebem, e 90% em um ano. Entretanto, em cerca de 10% deles, a gravidez pode não ocorrer. Estima-se que aproximadamente 5% da população mundial optam, voluntariamen- te, por não ter filhos, contudo, é sabido que isto pode mudar ao longo dos tempos de acordo com os mitos, necessidades e di- ferentes desejos, tanto individuais como sociais. A presença dos filhos no meio familiar nem sempre ocorre de maneira simples, pois existem eventos inesperados e inde- sejados que levam os casais a reformula- rem suas expectativas quanto ao projeto parental e um destes eventos é a infertili- dade. O número de casais inférteis tem au- mentado nos últimos anos, atingindo cerca de 30% daqueles em idade fértil. Muitos 30 31 fatores têm sido implicados nesse aumen- to, entre eles, a decisão de desenvolver uma carreira profissional antes de aumen- tar a família. Retardar a decisão de ter filhos pode ser um componente indireto da infertilidade, devido ao fato de que algumas doenças, como a endometriose, podem se agravar com o passar do tempo. Outro fator é o aumento da incidência de doenças sexu- almente transmissíveis, o que colocaria as mulheres em risco para problemas nas tu- bas de Falópio e inflamações pélvicas. Em todo esse contexto, vamos encon- trar a assistência de enfermagem em re- produção humana focada no suporte psi- cossocial dos pacientes em adaptação ao problema da infertilidade, no trabalho em colaboração com outros membros da equi- pe de saúde e na educação à saúde do casal infértil (BARROS; GRANER; FARIA, 2009). É importante ressaltar que a maternida- de é tida como o papel mais importante da vida das mulheres e elas são valorizadas e honradas, em inúmeras sociedades, pela capacidade de gerar filhos. Já as represen- tações da paternidade estão ligadas ao papel social de pai, visualizadas na busca do filho do “próprio sangue”, descendên- cia. Assim, culturalmente, ser pai significa mostrar a masculinidade e garantir a des- cendência, enquanto ser mãe é necessário para que as mulheres sintam-se inteiras/ completas. Atualmente, mesmo a mulher tendo passado por um processo de emancipação social caracterizado pelo controle da sua reprodutividade (surgimento dos métodos contraceptivos) e inserção no mercado de trabalho, havendo, consequentemente, um retardo da paternidade/maternidade, os filhos ainda são considerados primor- diais para o futuro da família, além de re- presentarem a imagem sonhada e proje- tada do amor e da luta contra o tempo e a morte (COSTA, 2004). A infertilidade pode levar a uma crise de vida, pois o processo de nascimento é visto como básico para a sobrevivência dos seres humanos, por isso a não-con- cepção pode levar a sentimento de falha, isolamento, culpa e não-realização do de- sejo de ter filhos. O conhecimento desses sentimentos ajuda o casal em sua busca de soluções para a aceitação dos procedimen- tos de investigação e, pelo fornecimento de informações claras aos casais, ajustar as expectativas à realidade e ao real prog- nóstico. Geralmente, quando um casal infértil decide investigar seu problema, se apre- senta amedrontado, envergonhado e an- sioso durante a primeira entrevista. Eles acreditam que a inabilidade de conceber faz com que não sejam considerados nor- mais, que seu relacionamento sexual será amplamente discutido no serviço de repro- dução humana, assim como a anatomia de seus órgãos genitais será exaustivamente examinada. Por isso, a entrevista inicial é muito importante para obtermos a coo- peração e motivação dos casais inférteis. Criando uma atmosfera cordial, empática e sem pré-julgamentos, a enfermeira pode assistir o casal e adequá-lo ao processo de avaliação. O conhecimento sobre sua frus- tração, medo e ansiedade ajuda o casal a aceitar sua situação e a oferta de assistên- cia (BARROS; GRANER; FARIA, 2009). Para a assistência de enfermagem, de- vemos considerar que esses casais cos- 30 31 tumam vivenciar uma instabilidade que é renovada mensalmente, antes e durante o processo de diagnóstico e tratamento. Da mesma forma que na doença crônica, precisamos colaborar com os necessários ajustes no estilo de vida para acomodar os procedimentos diagnósticos e de tra- tamento que se assemelham, de alguma forma, com a aceitação da morte de ente querido, mas difere ou não, da experiência de uma concepção anterior. A prática da enfermagem na reprodução humana inclui os aspectos biológico, psico- lógico e social do casal infértil. O tratamen- to da infertilidade pode ser prolongado e, algumas vezes, agrava a expectativa ou a frustração. O plano de cuidados de enfermagem é individualizado, no entanto, podem ser feitos grupos para que os casais inférteis possam trocar experiências, sejam elas positivas ou negativas. Os indivíduos in- férteis, principalmente os homens, têm dificuldades de se expressarem e a realiza- ção destes grupos de apoio ajudam a mini- mizar o sofrimento, pois os casais inférteis podem sentir-se confortados por percebe- rem que outras pessoas têm as mesmas di- ficuldades. Desta forma, consegue-se não somente transmitir as informações, mas também favorecer a incorporação destas. É importante que o profissional da en- fermagem amplie seus conhecimentos nesta área, para que possa ser apto a re- alizar orientações, solicitar exames que fazem parte do protocolo da instituição, orientar e auxiliar na administração das medicações, inteirar-se das questões éti- cas que envolvem não só a reprodução humana, como também os serviços pres- tados. A infertilidade é um campo novo para a enfermagem e esses profissionais podem fornecer evidências e respostas iniciais para muitas questões relacionadas não só às tecnologias reprodutivas e às alterna- tivas para formação familiar, mas também sobre a qualidade da assistência. Ainda há muitas dúvidas sobre o impacto das tecno- logias reprodutivas sobre a estrutura fami- liar; o resultado das intervenções de enfer- magem, sobre as opções de tratamento e diagnóstico do casal infértil e sobre o im- pacto dessas tecnologias no futuro desen- volvimento da criança ((BARROS; GRANER; FARIA, 2009). Como afirmam os autores acima, o tra- balho da enfermeira em reprodução hu- mana possibilita a aquisição de maiores conhecimentos e relacionamentos com pa- cientes e outros profissionais. É um papel relacionado com a época em que vivemos e o futuro da enfermagem é agora e nes- se sentido e área de atuação, o enfermeiro atua desde a chegada do casal no serviço de reprodução, podendo entrevistá-los, preencher o histórico e fornecer as orien- tações iniciais referentes ao tratamento. Posteriormente irá acompanhar todo o tratamento e procedimento de fertiliza- ção, fazendo todas as anotações dos exa- mes e dosagens hormonais, anotando em gráficos e estabelecendo contato quase que diário com a cliente para todo o proce- dimento com orientação e pedidos de exa- mes que se fazem necessários. A sua participação durante a coleta ou inseminação artificial é de extrema im- portância junto à equipe desde o posicio- namento da cliente, bem como apoio para tranquilizá-la durante o procedimento. Nos dias subsequentes à coleta e a 32 3332 transferência, o contato com o enfermei- ro diariamente é quase que obrigatório, continuando até as primeiras semanas de gestação. A partir de então, inicia a atuação da obstetriz e/ou enfermeiro obstetra, com acompanhamento durante todo o pré-na- tal em consulta individualizada, a fim de le-
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