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Lilian Furtado Técnicas de redação para concursos

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Alex de Araujo

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L il ia n F u r ta d o 
V in íc iu s Ca r v a l h o P ereira
TÉCNICAS DE 
REDAÇÃO PARA 
CONCURSOS
m * /~v jTeoria e Questões
Como vencer as provas discursivas 
aplicadas em concursos públicos
■S Dicas práticas para organizar a redação
Exercícios para treinar a estruturação 
de parágrafos
■s Temas cobrados em provas oficiais
* * *
n r *E D I T O R A
METODO
SAO PAULO
\n r \
Vicente
Marcelo
© ED ITO RA M ÉTODO
Uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional
Rua Dona Brígida, 701, Vila Mariana ~ 04111-081 - São Paulo - SP 
Tel.: (11) 5080-0770 / {21) 3543-0770— Fax: (11) 5080-0714
Visite nosso site: www.editorametodo.com.br
metodo@grupogen. com. br
Capa: Rafael Moiotievschí 
Coordenação Editorial: Luís Gustavo Bezerra de Menezes
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
Furtado, Lilian
Técnicas de redação para concursos : teoria e questões / Lilian Furtado, Vinícius 
Carvalho Pereira. -1 . ed. [Reimpr.] - Rio de Janeiro : Forense ; São Paulo : MÉTODO, 2010.
Inclui bibliografia 
ISBN 978-85-309-3243-5
1. Língua portuguesa - Composição e exercícios. 2. Língua portuguesa - Problemas, 
questões, exercícios. 3. Serviço - Brasil - Concursos. I. Pereira, Vinícius Carvalho. II. TííuiO- 
III. Série.
10-2576. CDD: 469.8
CDU: 811.134.3'27
1.® ed., 1 * tir.: jun./2010; 2.3 f/r.: set./2010.
A Editora Método se responsabiliza pelos vícios do produto no que concerne 
à sua edição (impressão e apresentação a ftm de possibilitar ao consumidor 
bem manuseá-lo e lê-lo). Os vícios relacionados à atualização da obra, aos 
conceitos doutrinários, às concepções ideológicas e referências indevidas são 
de responsabilidade do autor e/ou atualizador.
Todos os direitos reservados. Nos termos da Lei que resguarda os direitos autorais, 
é proibida a reprodução total ou parcial de qualquer forma ou por qualquer meio, 
eietrónico ou mecânico, inclusive através de processos xerográficos, fotocópia e 
gravação, sem permissão por escrito do autor e do editor.
Impresso no Brasil 
Prínted in Brazil 
2010
,W5
A minha mãe e à minha irmã, minhas inseparáveis e melhores amigas,
sem vocês nada faria sentido.
Ao meu pa i (m memoriamj, que me ensinou o valor mais nobre
da sociedade: a palavra do homem.
A você, Fabiano, que me ensinou e me ensina a não ser 
tão exigente comigo e com a vida.
Aos meus queridos amigos, Rodrigo Purceti, 
Flávia Gonçalves e Juliana Machado.
Aos meus eternos alunos, que sempre me motivaram a fazer o livro,
eis o resultado de nossas aulas.
A Deus, que, com todo o seu amor, sempre sarou todas as minhas feridas.
Lilian Furtado
A minha querida mãe, amiga de todos os momentos, com quem aprendi a 
ler e a me inscrever no mundo da linguagem, que hoje habito com tanto gosto.
Ao meu avô (In memoriam) e à minha avó, os quais sempre me apoiaram 
na busca dos sonhos, acreditando neles junto comigo.
Ao Cristiano, que me ensina, a cada dia, a ver o mundo com olhos de
surpresa alegre e curiosidade inquieta.
Aos meus familiares e amigos, que vibram comigo a cada conquista e 
sempre perguntam: “Qual será a próxima? ”
Aos meus tão queridos alunos e ex-alunos, que sempre me acrescentam 
mais a cada encontro e me motivam a crescer como profissional.
A Deus, que todos os dias me dá forças para levantar e viver 
intensamente a aventura da existência.
Vinícius Carvalho Pereira
“A p a la v ra fa la d a é um fenôm eno natural; 
a p a la v ra escrita é um fenôm eno cu ltu ra l”.
F er n a n d o P esso a
AGRADECIMENTOS
Ao meu grande mestre, Marcelo Rosenthal, que, com o passar dos 
anos, tomou-se um grande amigo. Mestre, obrigada por um dia ter me 
dito: “Menina, vai fazer Letras!” Hoje eu sou essa pessoa extremamente 
feliz e realizada na prática de ensino de Língua Portuguesa.
Aos meus amigos, professores de concurso público, Alexandre Araújo, 
Alexander Ruas, Leandro Antunes, Luís Gustavo e Rodrigo Câmara.
Lilian Furtado
Aos meus professores, da pré-escola ao Doutorado ora em curso, os 
quais compartilharam e compartilham comigo um bem tão precioso quanto 
o conhecimento. Merece meu agradecimento cada um desses indivíduos 
que um dia lecionaram em uma aula na qual estive presente, contribuindo 
para minha formação como homem, cidadão e professor.
Aos amigos de profissão, com quem sempre compartilhei cafés, con­
versas nos corredores das instituições e muito aprendizado: Alexander 
Ruas, Luís Gustavo, Marcelo Rosenthal, Márcio Hilário, Manoel Afonso, 
Cristiane Brasileiro e Sebastião Votre.
Vinícius Carvalho Pereira
PREFÁCIO
O novo assusta, assusta por ser o novo, o desconhecido. O novo gera 
preconceito e medo. Mas os velhos se esquecem de que um dia foram 
novos e, consequentemente, geraram medo e preconceito nos velhos de 
outrora. Nós nos estabelecemos e agora vem uma nova geração que também 
está se estabelecendo. Vinícius e Lilian são dois ícones da nova geração, 
dois professores brilhantes, que hoje já têm mais para nos ensinar do que 
para aprender.
Lilian foi minha. parceira na produção dos meus livros e conheço 
bem a sua capacidade. Inteligentíssima, estudiosa e talentosa, é capaz de 
simplificar o estudo de Língua Portuguesa, transformando-a em algo fácil 
e agradável. Nunca vi uma aula de redação igual à dela. Trabalho efetivo 
de construção de texto, de organização de pensamento, de estruturação do 
desenvolvimento, de emprego de recursos argumentativos etc.
Já o Vinícius chamou a minha atenção nos momentos de conversas 
informais nas salas de professores. Jamais conheci uma pessoa com a idade 
dele com tanto conhecimento. E quantas vezes fiquei a ouvir embevecido 
os seus ensinamentos. E, posso dizer, ouvi com muita atenção, pois também 
ainda tenho muito a aprender.
Estou de fato impressionado com a obra deles. Nesses anos todos, 
praticamente só vi livros de redação que passavam ao largo do assunto. 
Eram Gramáticas disfarçadas de livros de redação. Passavam quase o tempo 
todo ensinando pontuação, emprego de acento grave, regência... Somente 
em uma pequena parte do livro falavam sobre tipologia textual, coesão e 
coerência, e mesmo assim com pouquíssimo aprofundamento. Aqui não, 
o candidato - a obra é objetivamente voltada para os concurseiros - terá 
efetivamente informações de como organizar a sua redação, como estruturar 
o parágrafo introdutório, que possibilidades ele tem para desenvolver a 
argumentação e quais tipos de fechamento são mais apropriados. A gra­
mática, sim, está aqui apenas como apoio, e não como base. A gramática 
só é visitada para que o candidato não cometa os erros mais corriqueiros.
I Q j TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
O livro é de redação, de construção textual, e não de ensinamentos gra­
maticais. Perfeito para o que se propõe, e verdadeiro.
Enfim, é livro obrigatório na estante de quem pretende ingressar na 
carreira pública, sobretudo para aqueles que prestarão concursos com 
redação.
Marcelo Rosenthal
NOTA DOS AUTORES
Cada vez mais, os concursos públicos têm cobrado, além das tra­
dicionais questões de múltipla escolha, provas discursivas ou redações, 
que avaliam o conhecimento do candidato sobre determinado assunto e 
também sua capacidade de expressão e organização do pensamento. Tal 
fato deveria ser recebido com bons olhos pela população, pois garante que 
os futuros servidores sejam mais preparados para a comunicação escrita, 
tarefa rotineira na esfera profissional.
No entanto, muitos candidatos temem esse tipo de prova e, às vezes, 
até desistem do concurso por causa da redação. Veja, porém, que apren­
der a escrever um texto para uma prova discursiva ou uma dissertação 
de prova não é difícil Você é plenamente capaz de fazê-lo, precisando 
apenas se dedicar, estudar e praticar.Nesse sentido, este livro foi escrito 
para ajudá-lo na empreitada.
Assim, em primeiro lugar é importante saber que, para se sair bem 
em qualquer prova de redação, é essencial que o candidato tenha co­
nhecimento de mundo. Portanto, a leitura diária e geral é fundamental 
para a elaboração de um texto. Além disso, é necessário ler assuntos 
relacionados ao concurso para o qual se deseja fazer a prova, visto que 
muitas bancas aplicam propostas de redação cujo tema diz respeito à área 
de atuação do órgão para o qual os candidatos estão sendo selecionados. 
Isso quer dizer que, em concursos para tribunais, por exemplo, grandes 
são as chances de o tema da redação girar em torno da lei, da justiça 
ou da Constituição brasileira.
No entanto, lembre-se: dominar o conteúdo não é garantia de uma 
redação nota dez, pois é preciso também conhecer a estrutura de elabo­
ração do texto, fazer um bom planejamento, saber organizar as ideias e 
respeitar a norma culta. No que diz respeito às regras gramaticais, erros 
de acentuação, pontuação, concordância ou ortografia demonstram falta 
de conhecimento ou de cuidado com o texto, acarretando penalização 
na nota final.
£ Q | V - . TÉCNICAS DE. REDAÇÃO PARA CONCURSOS r lil ia n Fu/iado ç Vinícius Çarvalhp Peréim ]
Embora haja diversos tipos de texto, geralmente cobra-se em concursos 
o texto dissertativo, que se constitui como exposição ou defesa de ideias 
e possui uma estrutura a ser seguida: introdução, desenvolvimento e con­
clusão. Esse esquema geral ajuda o candidato a não se perder ao longo da 
tarefa, pois facilita sua organização e o próprio trabalho do corretor, que 
passa a ver aquela redação de forma mais “simpática”.
Toda redação é corrigida sob orientação de um “espelho” (uma espécie 
de roteiro) que traz os critérios cobrados pela banca examinadora, os quais 
justificarão a nota obtida. Isso garante que diferentes corretores, avaliando 
tantas redações em tão pouco tempo, sejam justos na correção, que se toma 
equânime graças aos critérios objetivos definidos no espelho.
Esta é apenas uma breve apresentação de tudo aquilo que detalharemos 
e aprofundaremos ao longo do livro, com vistas a capacitá-lo para escrever 
uma redação de sucesso. Esta obra, pois, tem o objetivo de proporcionar 
um melhor entendimento no que diz respeito à elaboração do texto dis­
sertativo, além de contemplar a elaboração de questões discursivas para 
concursos públicos.
Nota da Editora: Esta obra foi redigida e. revisada segundo o novo Acordo 
v Ortográfico. . ■ •
SUMÁRIO
CAPÍTULO I
NOÇÕES GERAIS DE TIPOLOGIA TEXTUAL........................ 21
1. A definição de tipo textual .................................................... 21
1.1. Texto narrativo................................................................. 21
1.2. Texto descritivo................................................................ 22
1.3. Texto injuntivo................................................................. 23
1.4. Texto dialogai .................................................................. 24
1.5. Texto dissertativo............................................................. 25
2. Elaborando um texto dissertativo .......................................... 28
2.1. Detalhando a estrutura do texto dissertativo.................... 29
2.1.1. introdução........................................................... 30
2.1.2. Desenvolvimento ................................................ 31
2.1.3. Conclusão ........................................................... 31
3. Conhecendo a folha de redação ............................................ 32
- 4. Exercícios ................................................................................ 34
CAPÍTULO II
O PARÁGRAFO ............................................................................. 43
1. A divisão das idéias em parágrafos ...................................... 43
2. A estrutura do parágrafo ........................................................ 46
2.1. O tópico frasal.................................................................. 46
2.2. O desenvolvimento do tópico frasal ................................ 48
2.2.1. Apresentando uma adição ao que foi exposto
no tópico frasal................................................... 49
2.2.2. Apresentando uma causa do que foi exposto no
tópico frasal ........................................................ 49
TÉCNiCAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho.-Pereira
2.2.3. Apresentando uma conseqüência do que foi
exposto no tópico frasal..................................... 50
2.2.4. Apresentando um exemplo do que foi exposto
no tópico frasal................................................... 51
2.2.5., Apresentando uma oposição ao que foi exposto
no tópico frasal................................................... 51
3. Exercícios ................................................................................ 52
4. Atividade de produção textual ............................................... 63
CAPÍTULO III
O PARÁGRAFO DE INTRODUÇÃO........................................... 67
1. A estrutura geral do parágrafo de introdução ...................... 67
2. Técnicas para redigir um parágrafo de introdução ............... 70
2.1. Abordagem padrão........................................................... 70
2.2. Definição ...:...................................................................... 70
2.3. Questionamento(s)........................................................... 71
2.4. Citação ............................................................................. 72
2.5. Seqüência de frases nominais .......................................... 72
2.6. Exposição do ponto de vista oposto................................. 73
2.7. Analogia............. .............................................................. 73
2.8. Alusão histórica ............................................................... 74
3. A afirmação da tese e a impessoalização do discurso .......... 74
4. Exercícios ................................................................................ 77
5. Atividade de produção textual ............................................... 87
CAPÍTULO IV
O PARÁGRAFO DE DESENVOLVIMENTO.............................. 91
1. A estrutura geral do parágrafo de desenvolvimento ............ 91
1.1. Parágrafos expositivos ..................................................... 91
1.2. Parágrafos argumentativos............................................... 92
2. Tipos de argumento ................................................................ 95
2.1. Argumentação por causa/consequência ........................... 95
2.2. Argumentação por exemplificação................................... 97
2.3. Argumentação por dados estatísticos............................... 98
2.4. Argumentação por testemunho de autoridade.................. 99
11 .v.V^ ;í "I : V -:; v:'V í'.--:'-/-^ -í.' v:;V S
2.5. Argumentação por contra-argumentação......................... 100
3. Exercícios ................................................................................ 102
4. Atividade de produção textual ............................................... 108
CAPÍTULO V
O PARÁGRAFO DE CONCLUSÃO............................. .■...... ....... 113
1. Considerações gerais sobre o parágrafo de conclusão ........ 113
2. Métodos de raciocínio .............................................i............. 114
2.1. Método dedutivo .............................................................. 114
2.2. Método indutivo............................................................... 116
2.3. Método dialético .............................................................. 117
3. Estrutura geral do parágrafo de conclusão ......................... 119
4. Exercícios ............................................................................... 120
5. Atividade de produção textual ............................................... 128
CAPÍTULO VI
COESÃO TEXTUAL ...................................................................... 131
1. A definição de coesão textual ............................................... 131
2. Coesão referencial .... ............................................................ 131
2.1. Coesão referencial pronominal........................................ 132
2.1.1. Referência exofórica ........... .............................. 133
2.1.2. Referência.endofórica ....................................... 136
2.2. Coesão referencial por elipse........................................... 139
2.3. Coesão referencial lexical................................................ 140
3. Coesão seqüencial .................................................... .............. 144
3.1. Classificação das conjunções segundo aNGB ................ 145
3.2. As conjunções e as relações semânticas e contextuais ..... 145
3.2.1. Relações de causa e conseqüência .................... 145
3.2.2. Relações de oposição ....................................... 147
3.2.3. Relação de condição ......................................... 150
3.2.4. Relação de finalidade ........................................ 152
3.2.5. Relação de adição ............................................. 152
3.2.6. Relação de conclusão .......... ............................. 153
4. Problemas gerais da construção do período ........................ 154
5. Exercícios ..................... .......................................................... 156
TÉCNICAS- DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Liiiaii Furtado e Vinícius, Carvalho Pereira
CAPÍTULO VII
COERÊNCIA TEXTUAL............................................................... 165
1. Introdução ................................................................................ 165
2. A identificação de informações implícitas ............................ 166
2.1. Pressuposição................................................................... 167
2.2. Inferência......................................................................... 168
3. Regras da coerência textual ............................................. ..... 169
3.1. Regra da repetição ........................................................... 169
3.2. Regra da progressão......................................................... 170
3.3. Regra da não contradição................................................. 171
3.4. Regra da relação .............................................................. 172
4. Exercícios ................................................................................ 173
CAPÍTULO VIII
REGRAS DA NORMA PADRÃO.................................................. 181
1. Introdução ................................................................................ 181
2. Ortografia ................................................................................. 181
2.1. Palavras que costumam gerar dúvidas............................. 181
2.1.1. acerca de/a cerca de/cerca de/há cerca de ........ 181
2.1.2. a fim/afim............................................................ 182
2.1.3. a princípio/em princípio ..................................... 182
2.1.4. ao encontro de/de encontro a ............................ 182
2.1.5. ao invés de/em vez de ....................................... 183
2.1.6. h á /a ...................................................................... 183
2.1.7. onde/aonde .......................... ................................ 183
2.1.8. se não/senão ........................................................ 184
2.1.9. tampouco/tão pouco ........................................... 184
2.1.10. porque/por que/por quê/porquê........................ 184
2.2. Reforma ortográfica......................................................... 186
2.2.1. Novo alfabeto ..................................................... 186
2.2.2. Mudanças nas regras de acentuação gráfica ..... 187
2.2.3. Mudanças nas regras do h ífen........................... 188
3. Concordância verbal ............................................................... 191
3.1. Sujeito composto anteposto ao verbo .............................. 191
: ; 7 : •• VSÜMÁRIO :
3.2. Sujeito composto posposto ao verbo ....... ....................... 191
3.3. Verbo ser ........................................................... .............. 191
3.4. Um e outro......... :............................................................ 192
3.5. Um dos q u e ................... ,................................................. 193
3.6. Quem..................................................................... .......... 193
3.7. Q ue............ ............................................................. ......... 193
3.8. Pronome de tratamento...................................... .............. 193
3.9. Nomes próprios no plural ............................................... 193
3.10. Expressões partitívas (um terço de, trinta por cento de, a 
metade de, a maior parte de, a menor parte de, uma parte
de, a maioria de, a minoria de etc.) ................................. 194
3.11. Sujeito oracional .... ....................................................... 194
3.12. Verbo haver .................................................................... 194
3.13. Verbo fazer..................................................................... 195
3.14 Verbos que indicam fenômenos da natureza.............. .... 195
3.15. Verbo + se ...................................................................... 195
4. Concordância nominal ................................... ........................ 196
4.1. Adjetivo junto ao verbo ser.............................................. 196
4.2. Bastante......... .................................................................. 196
4.3. M eio................................................................................. 197
4.4. S ó ........................ ............................................................ 197
4.5. Anexo, incluso, apenso...................... ............................. 197
4.6. Mesmo ............................................................................. 198
4.7. Possível............................................................................ 198
4.8. Haja vista ......................................................................... 198
4.9. Um adjetivo funcionando como adjunto adnominal de dois
ou mais substantivos ........................................................ 199
5. Regência ............... .................................................................. 199
5.1. Agradar ............................................................................ 199
5.2. Aspirar.............................................................................. 200
5.3. Assistir ..........*................................................................. 200
5.4. Avisar/alertar/informar etc................................................ 201
5.5. Chegar.............................................................................. 201
5.6. Custar............................................................................... 201
5.7. Implicar............................................................................ 201
■ .TÉCNICAS DÉ REDAÇÃO PARA CONÇÚRSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
5.8. Lembrar e esquecer.......................................................... 202
5.9. Obedecer e desobedecer .................................................. 202
5.10. Preferir........................................................................... 202
5.11. Visar............................................................................... 203
6. Crase ..... ...................................................................................203
6.1. Quando não utilizar acento grave .................................... 204
6.2. Casos especiais ................................................................ 206
7. Colocação pronominal ............................................................ 210
7.1. Não se inicia oração com pronome oblíquo átono............ 210
7.2. As conjunções subordinativas, os advérbios, os pronomes
interrogativos, os pronomes relativos e os pronomes inde­
finidos atraem o pronome oblíquo átono ......................... 210
7.3. No futuro do pretérito e no futuro do presente, ocorrerá a
mesóclise.......................................................................... 211
7.4. Há regras específicas para a colocação pronominal em
locuções verbais............................................ ................... 211
8. Pontuação ............... .................................................................. 213
8.1. Vírgula ............................................................................. 213
8.1.1. Quando não utilizar a vírgula............................ 213
8.1.2. Quando utilizar a vírgula ................................... 214
8.2. Ponto e vírgula................................................................. 216
8.3. Ponto-íinal........................................................................ 217
8.4. Dois-pontos...................................................................... 218
8.5. Parênteses ........................................................................ 218
8.6. Aspas................................................................................ 218
8.7. Travessão ......................................................................... 219
8.8. Ponto de interrogação ...................................................... 220
8.9. Ponto de exclamação ....................................................... 220
8.10. Reticências..................................................................... 220
9. Exercícios ................................................................................ 221
9.1. Ortografia......................................................................... 221
9.2. Concordância verbal .............. .......................................... 223
9.3. Concordância nominal.............................................. ....... 226
9.4. Regência .......................................................................... 228
9.5. Crase ................................................. ............................... 230
9.6. Colocação pronominal..................................................... 233
9.7. Pontuação......................................................................... 235
CAPÍTULO IX
TEMAS DE REDAÇÃO............ ........... ,........................................ 239
1. Temas CESPE/UnB ......................... ....................................... 239
2. Temas Fundação Carlos Chagas (FCC) ................................ 249
3. Temas Cesgranrio ....................................................... ............ 254
4. Temas Fundação Getúlio Vargas (FGV) ............................... 255
5. Temas Núcleo de Computação Eletrônica (NCE/UFRJ) .... 255
6. Temas FUNRIO ...................................................................... 258
CAPÍTULO X
QUESTÕES DISCURSIVAS .................................................. 261
1. Temas CESPE/UnB ................................................................. 261
2. Temas Fundação Carlos Chagas (FCC) ................................ 265
3. Temas Cesgranrio .................................................................... 266
4. Temas Fundação Getúlio Vargas (FGV) ............................... 271
5. Temas Núcleo de Computação Eletrônica (NCE/UFRJ) .... 275
6. Temas FUNRIO ...................................................................... 279
7. Temas Escola Superior de Administração Fazendaria
(ESAF) ....... r........................................................................... 279
CONCLUSÃO.................................................... ............................. 281
BIBLIOGRAFIA.............................................................................. 283
1 SUMÁRIO
NOÇÕES GERAIS 
DE TIPOLOGIA TEXTUAL
1. A DEFINIÇÃO DE TIPO TEXTUAL
Um tipo. textual (também chamado de modo textual) se caracteri­
za pela forma como o texto é organizado, ou seja, como é composto 
em relação aos aspectos lexicais, aos aspectos sintáticos, aos tempos 
verbais etc. Além desse critério mais estrutural, no entanto, a classifi­
cação txpológica dos textos também leva em consideração o caráter da 
informação a ser apresentada, o que quer dizer que uma narração diz 
coisas diferentes de uma descrição, empregando estruturas lingüísticas 
também distintas.
Os tipos textuais apresentados pela tradição lingüística teórica são três: 
o narrativo, o descritivo e o dissertativo (argumentativo ou expositivo). 
Porém, atualmente, novos estudiosos consideram também a existência de 
mais dois tipos de texto: o injuntivo e o dialogai. Nas próximas seções, 
analisaremos detidamente cada um desses tipos, acrescentando exemplos 
ilustrativos.
1.1. Texto narrativo
Levando em consideração que o teor da informação apresentada ajuda 
a caracterizar o tipo textual, pode-se dizer que uma narração pode ser 
definida como uma seqüência de ações (enredo), ordenadas ao longo do 
tempo. Isso quer dizer que, nesse tipo de texto, a progressão temporal 
é o que mantém a seqüência lógica do discurso.
Como conseqüência da importância dos fatos e acontecimentos para 
o texto narrativo, os verbos de ação são predominantes nesse tipo textual, 
designando o que fazem ou sofrem as personagens em determinado espaço 
e determinado tempo. Em outras palavras, a narração é uma forma de 
relato de um fato real ou imaginário, contado por um narrador.
Alex de Araujo
Realce
Alex de Araujo
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Alex de Araujo
Realce
Alex de Araujo
Realce
TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - UHan Furtado q Vinícius Carvalho Pereira ■
Vale lembrar também que, nesse tipo de texto, predominam verbos no 
presente ou no pretérito perfeito, utilizados maj oritariamente para indicar 
ações que ocorreram pontualmente, isto é, percebidas como um evento 
passado encerrado.
Exemplo:
Como um filho querido
Tendo agradado ao marido nas primeiras semanas de casado, nunca 
mais quis ela se separar da receita daquele bolo. Assim, durante 40 
anos, a sobremesa louvada compôs sobre a mesa o almoço de domingo, 
e celebrou toda a data em que o júbilo se fizesse necessário.
Por fim, achando ser chegada a hora, convocou ela o marido para o 
conciliábulo apartado no quarto. E tendo decidido ambos, comovidos, 
pelo ato solene, foi a esposa mais uma vez à cozinha assar a massa 
açucarada, confeitar a superfície.
Pronto o bolo, saíram juntos para levá-lo ao tabelião, a fim de que 
se lavrasse ato de adoção, tomando-se ele legalmente incorporado à 
família, com direito ao prestigioso sobrenome Silva, e nome Hermó- 
genes, que havia sido do avô.
(Extraído da obra Contos de amor rasgados, de Marina Colasanti.)
1.2. Texto descritivo
O texto descritivo pode ser considerado uma seqüência de caracte­
rísticas. Assim, na descrição, há construção de um conhecimento que irá
detalhar um objeto, um indivíduo, um fato etc. Observa-se a predominân­
cia de verbos de situação, de adjetivos, de enumerações e de expressões 
qualificativas. O autor, na descrição, chama a atenção para o pormenor, 
tendo como objetivo a construção da imagem por meio da apresentação 
de características do ser. Além disso, nesse tipo textual costumam abundar 
verbos no presente e no pretérito imperfeito do indicativo.
Exemplo:
A casa materna
Há, desde a entrada, um sentimento de tempo na casa materna.
As grades do portão têm uma velha ferrugem e o trinco seoculta
num lugar que só a mão filial conhece. O jardim pequeno parece
mais verde e úmido' que os demais, com suas plantas, tinhorões e 
samambaias que a mão filial, fiel a um gesto de infância, desfoiha 
ao longo da haste.
E sempre quieta a casa materna, mesmo aos domingos, quando as 
mãos filiais se pousam sobre a mesa farta de almoço, repetindo uma 
antiga imagem. Há um tradicional silêncio em suas salas e um dorido 
repouso em suas poltronas. O assoalho encerado, sobre o qual ainda
. Cap I N O Ç Ò E S .GKRAÍS DE TIPOLOGIA TEXTUAL' :
escorrega o fantasma da cachorrinha preta, guarda as mesmas manchas 
e o mesmo taco solto de outras primaveras. As coisas vivem como era 
prece, nos mesmos lugares onde as situaram as mãos maternas quando 
eram moças e lisas. Rostos irmãos se olham dos porta-retratos, a se 
amarem e compreenderem mudamente. O piano fechado, com uma 
longa tira de flanela sobre as teclas, repete ainda passadas valsas, de 
quando as mãos maternas careciam sonhar.
A casa materna é o espelho de outras, em pequenas coisas que 
o olhar filiai admirava ao tempo em que tudo era belo: o licoreiro 
magro, a bandeja triste, o absurdo bibelô. E tem um corredor à escuta 
de cujo teto à noite pende uma luz morta, com negras aberturas para 
quartos cheios de sombras. Na estante, junto à escada, há um' tesouro 
da juventude com o dorso puído de tato e de tempo. Foi ali que o 
olhar filial primeiro viu a forma gráfica de algo que passaria a ser 
para ele a forma suprema de beleza: o verso.
Na escada há o degrau que esíala e anuncia aos ouvidos matemos 
a presença dos passos filiais. Pois a casa materna se divide em dois 
mundos: o térreo, onde se processa a vida presente, e o de cima, onde 
vive a memória. Embaixo há sempre coisas fabulosas na geladeira e no 
armário da copa: roquefort amassado, ovos frescos, mangas espadas, 
untuosas compotas, bolos de chocolate, biscoito de araruta - pois 
não há lugar mais propício do que a casa materna para uma boa 
ceia noturna. E porque é uma casa velha, há sempre uma barata que 
aparece e é morta com uma repugnância que vem de longe. Em cima 
ficaram guardados antigos, os livros que lembram a ínfancía, o pequeno 
oratório em frente ao qual ninguém, a não ser a figura materna, sabe 
por que queima, às vezes, uma vela votiva. E a cama onde a figura 
paterna repousava de sua agitação diurna. Hoje, vazia.
A imagem patema persiste no interior da casa materna. Seu violão 
dorme encostado junto à vitrola. Seu corpo como se marca ainda na 
velha poltrona da sala e como se pode ouvir ainda o brando ronco 
de sua sesta dominical. Ausente para sempre da casa, a figura patema 
parece mergulhá-la docemente na eternidade, enquanto as mãos ma­
ternas se faziam mais lentas e mãos filiais mais unidas em tomo da 
grande mesa, onde já vibram também vozes infantis.
(Vínicius de Moraes)
A respeito desse texto, é importante fazer uma observação: embora 
se trate predominantemente de uma descrição, é possível reconhecer nele 
características narrativas, mesmo que em um plano secundário. É muito 
freqüente que mais de um tipo textual apareça associado, ainda que se 
possa identificar aquele que se sobressai em cada caso.
1.3. Texto injuntivo
O texto injuntivo é aquele em que o autor tem como objetivo fazer 
com que o leitor (ou ouvinte) tome determinadas atitudes ou pratique
TÉÇNjCÂS DÉ. RE.DÀÇÃÓ PARÁ ÇO|\1ÇURSOS ~ Lilidrí Fyriadó&VjrifduyCàirvalhôíptàiró.:•
certos atos, sendo marcado por uma seqüência de comandos. É possível 
observar, portanto, a predominância de verbos no imperativo e a ordenação 
seriada das informações, especialmente sob a forma de orações coordena­
das, justapostas ou absolutas.
Exemplo:
Limpe bem o peixe, corte-o em postas e deixe-o em uma vasilha 
cora suco de um limão. Conserve por uma hora. Coloque, em uma 
panela de barro, duas colheres de óleo, uma de azeite, cebola, coentro, 
tomate, pimenta e alho. Arrume as postas de peixe e repita a camada 
de temperos. Não adicione água ou sal. Cozinhe em fogo brando.
Quando abrir fervura, coloque gotas de limão, o leite de coco e um 
pouco de azeite de dendê. Tampe. Espere dez minutos. A moqueca 
está pronta!
(Receita de moqueca baiana)
1.4. Texto dialogai
Nesse tipo de texto, observa-se predominantemente uma seqüência de 
falas alternadas, formando um diálogo. E produzido por no mínimo dois 
locutores, cuja conversa pode ser composta por perguntas e respostas. 
Geralmente, esse tipo textual caracteriza o texto teatral e as entrevistas. 
Vale ressaltar, portanto, que, diferente da narrativa, o texto dialogai não 
apresenta narrador.
Exemplo:
Folha - Como é o seu processo de trabalho?
João Cabral - Eu demoro muito a escrever. Tem poemas meus 
que eu levei dez anos para escrever. Faço um esboço, trabalho sobre 
ele, depois deixo, depois retomo.
Não sou desses escritores de “suspiros poéticos e saudades”, título 
do livro daquele poeta romântico [Gonçalves de Magalhães], Para um 
sujeito desses, não ter a vista não é nenhum problema. Basta a ele 
cantar seus poemas (risos).
Folha - Saiu recentemente uma biografia do Carlos Drummond,
Os sapatos de Orfeu, de José Maria Cançado, que fala do afastamento 
entre ele e o sr. a partir de uma certa época...
João Cabral - Não houve afastamento nenhum. O que o pessoal 
ignora é que desde 47 eu vivi no estrangeiro. Eu era diplomata de 
carreira. De 47 a 87 eu vivi fora do Brasil. Não houve afastamento 
nenhum. Eu não sou de escrever carta, compreende, mas eu continuei 
amigo do Carlos até ele morrer. Aliás, eu estava no Porto quando ele 
morreu. De minha parte não houve afastamento. Se houve da dele,
não sei. Carlos Drummond nunca foi muito homem de receber visita. 
Em geral ele era encontrável na cidade. Minhas passagens pelo Rio 
eram rápidas, quando eu mudava de uni posto para outro, de forma 
que eu nem ia no centro da cidade.
(Trecho da entrevista da Folha Online, <http://wwwl.folha.uol.com.br/ 
folha/publifolha/ult!0037u35211 l.shtml>)
'' Cap..t - NOÇÕES GERAIS :DE TIPOLOGIA TEXTUAL . ^
1.5. Texto dissertativo
A dissertação consiste na elaboração de um textò em que se apresen­
tam fatos ou opiniões sobre determinado assunto. Há um encadeamento de 
hipóteses e conceitos que são direcionados para a apresentação de ideias 
ou para a defesa de uma tese/opinião. A depender de seu objetivo maior, 
o texto dissertativo pode ser expositivo (informativo) ou argumentativo. 
O primeiro não tem o propósito de convencer o leitor, havendo apenas 
uma apresentação, uma explicação, acerca de determinado assunto. No 
segundo, o autor tenta convencer o leitor a concordar com alguma ideia 
defendida e, para isso, emprega um raciocínio coerente baseado na evi- 
^dência de provas.
Para entender melhor essa diferença, observe os exemplos a seguir.
Exemplo de texto dissertativo expositivo:
O cérebro da nutrigenômica
O estudo das relações entre nutrientes e os genes levará à criação 
de dietas personalizadas.
A maioria dos problemas de saúde faz parte de uma complexa 
interação entre o que fazemos (alimentos preferidos, quantidade de 
atividade física) e os códigos genéticos que esses hábitos ativam ou 
suprimem. A nutrigenômica promete elucidar muitas dessas relações.
Quando comemos, damos às células toda a energia de que elas pre­
cisam para funcionar corretamente.
Mas nossos genes respondem aos nutrientes que consumimos.
Mutações podem afetar a orquestração entre os genes e o ambiente 
(alimentos). Se o equilíbrio é quebrado, surge a doença.
Não há programa perfeito para todo o mundo porque cada um de 
nós é geneticamente único. Mas, por enquanto, é inviável oferecer 
bilhões de programas nutricionais diferentes. Então é preciso agrupar 
as pessoas para simplificar o problema. Funciona como escolha de 
sapatos. Os pés de cada um têm suas particularidades, mas a maioria 
das pessoasnão manda fazer sapatos sob medida. Elas escolhem pelo 
número e muitas vezes isso é suficiente para que se sintam confortá­
veis. Com as dietas ocorre o mesmo.
(Entrevista de José M. Ordovas, Época n.° 351, 07.02.2005,
com adaptações.)
Observe que o autor desse texto não tem por objetivo convencer o 
leitor acerca de algo, apenas informá-lo sobre o conceito de nutrigenômica 
e suas aplicações na vida humana. A abordagem do tema é imparcial e o 
autor não revela de forma explícita qualquer posicionamento pessoal em 
relação ao que apresenta em seu texto.
Veja agora um exemplo de texto dissertativo diferente.
Exemplo de texto dissertativo argumentativo:
Reciclando ideias
Muitas pessoas, especialmente nos domínios dos negócios e da 
ciência, dedicam-se à inovação. Pensam, lecionam e escrevem sobre as 
maneiras pelas quais se pode estimular, medir e gerir a inovação. Como 
e por que a inovação acontece? - perguntam. Por que existem lugares 
e momentos históricos mais favoráveis que outros à inovação?
Fiorença, durante o Renascimento, serve como exemplo; ou 
a Inglaterra nos estágios iniciais da Revolução Industrial, quando 
surgiram as máquinas têxteis e a locomotiva a vapor; ou o Vale do 
Silício (Califórnia, EUA), na década de 70, plataforma de tantos 
avanços na eletrônica e na informática... Algumas pessoas acreditam 
que a inovação possa ser encorajada por meio da criação de centros 
de pesquisa; outras, por meio da meditação, sessão de discussão ou 
até mesmo softwares que facilitariam a geração de idéias... Mas o 
que, exatamente, é inovação?
Suspeito que a visão da era do romantismo continue a prevalecer 
até hoje. De acordo com ela, a inovação é o trabalho de um gênio 
solitário, muitas vezes um professor distraído, que carrega uma ideia 
brilhante na cabeça - aquilo que meu tio, um físico que trabalhava 
no setor industrial, costumava chamar de “onda cerebral”. Caso de 
Isaac Newton, por exemplo, que supostamente descobriu a gravidade 
quando uma maçã caiu em sua cabeça. No entanto, existe uma visão 
alternativa da inovação, da qual compartilho. De acordo com essa 
visão, a inovação é gradual, em lugar de súbita, e coletiva, em vez 
de individual. Não existe uma oposição acentuada entre tradição e 
inovação. É possível até mesmo identificar tradições de inovação, 
sustentadas ao longo de décadas, como no caso do Vale do Silício, 
ou de séculos, como nos campos da pintura e da escultura durante a 
Renascença ftorentina. Por isso, em vez da metáfora da “onda cerebral”, 
talvez fosse mais esclarecedor usar como metáfora a reciclagem, o 
reaproveitamento ou o uso improvisado de materiais.
O caso da tecnologia serve como exemplo. Na metade do século 
XV, Gutenberg inventou a máquina de impressão. No entanto, prensas 
estavam em uso na produção de vinho havia muito tempo. A brilhante 
ideia de Gutenberg representou uma adaptação da prensa de vinho a 
uma nova função.
(Peter Burke, Folha de S. Paulo> 24.05.2009.
Tradução de Paulo Miglíacci, com adaptações.)
TÉCNICAS DE REDAÇÃO PÁRA CONCURSOS r Liiian Fúrtàdo e Vinícius Carvalho Pereira ■
Cap. I >-■ NOÇÕES GERAIS. DE TIPOLOGIA TEXTUAL
Este é um texto dissertativo nitidamente argumentativo, pois seu 
autor se posiciona de forma muito clara diante do tema “inovação”, 
querendo convencer o leitor sobre seu ponto de vista. Assim, sua tese 
fica nitidamente expressa em trechos como “Suspeito que a visão da era 
do romantismo continue a prevalecer até hoje” e “No entanto, existe 
uma visão alternativa da inovação, da qual compartilho. De acordo com 
essa visão, a inovação é gradual, em lugar de súbita, -e' coletiva, em 
vez de individual”. Para sustentar esse posicionamento, o autor lançou 
mão de uma série de argumentos, que envolvem exemplos célebres e 
convincentes.
Note, porém, que, como este é um artigo jornalístico de opinião, e 
não uma dissertação argumentativa para concursos, há aqui a presença da
l.a pessoa do singular, recurso discursivo que você deve evitar na hora da 
prova, a fim de garantir impessoalidade ao seu texto.
Importante!
Na grande maioria das provas de redação para concursos públicos, exige-se 
do candidato um texto dissertativo. Algumas bancas determinam com clareza, 
indusíve, se esperam um texto expositivo ou argumentativo, porém nem sempre 
isso acontece. Como tal informação é essencial para que o candidato possa escrever 
de acordo com as expectativas do corretor, é importante conhecer algumas dicas 
para identificar que tipo de dissertação a banca está pedindo, ainda que isso não 
esteja expiícíto no enunciado da prova.
Veja a proposta de redação a seguir, do concurso para Analista de Controle 
Externo do TCU (2006), elaborada pela ESAF:
Dissertar, sobre o âmbito de incidência do regime jurídico único, esta­
belecido na Lei n. 8.7 72/90, e quanto às normas constitucionais relativas 
aos servidores públicas, regidos por aquele diploma legal, suas garantias 
fundamentais e fiscalização específica estabelecida na Constituição expres­
samente para aferir a legalidade de determinados atos administrativos, 
concernentes a suas relações jurídico-funcionais.
Como você pode perceber, não há espaço nessa proposta para a opi­
nião do candidato. Ele deve apenas expor seus conhecimentos sobre o tema 
apresentado na prova, amparado pelo que aprendeu ao estudar as outras 
disciplinas. A banca não quer saber o ponto de vista particular do candidato 
sobre o regime jurídico único, mas sim seus conhecimentos objetivos acerca 
desse ponto do editai.
Por outro lado, observe outra proposta de redação, elaborada pelo CESPE, 
para o concurso para Analista Administrativo da ANATEL (2008):
TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
O levantamento Mapa da Violência: os Jovens da América Latina
indicou que o Brasil ocupa o quinto lugar entre os países do continente 
com maior número de homicídios de jovens. A pesquisa indicou ainda 
que o Brasil também ostenta um dos mais altos índices de vitimizaçõo 
juvenil do mundo, o que significa que a taxa de homicídios entre os jovens 
é bem maior do que entre os não jovens. Nesse quesito, o país aparece 
em terceiro lugar no ranque, atrás apenas de Porto Rico e Venezuela. 
Traduzindo em números: entre 1994 e 2005, a taxa de homicídio total no 
Brasil passou de 20,2 para 25,2 mortes para cada 100 mil habitantes. No 
mesmo período, esse índice, apenas entre os jovens, subiu de 34,9 para 
51,6 homicídios.
(,Famíiia Cristã, fev. 2009, p. 19, com adaptações.)
Considerando que o texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um 
texto dissertativo acerca do seguinte tema.
A TRAGÉDIA DA VIOLÊNCIA E OS JOVENS
Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:
a) violência como característica do mundo contemporâneo;
b) drogas ilícitas, álcool, trânsito e violência;
c) oportunidades educacionais, culturais e profissionais: caminho para reduzir a 
violência juvenil.
Embora a banca não tenha usado o termo "argumentação" em toda a pro­
posta, esse é um tema sobre o qual cabe opinar, uma vez que não diz respeito à 
mera reprodução de um conteúdo específico do edital. Nesse caso, o candidato 
deveria apresentar sua tese a respeito do tema, apresentando argumentos que a 
sustentassem.
2. ELABORANDO UM TEXTO DISSERTATIVO
Em um concurso público, não basta que o candidato escreva qualquer 
coisa sobre o tema proposto pela banca. Muitas vezes, pessoas desacostu­
madas à tarefa da escrita simplesmente leem o tema proposto e põem-se 
a escrever desordenadamente sobre ele, na ordem em que as ideias vêm à 
mente. Mesmo aqueles que julgam “escrever bem” caem nessa armadilha, 
acreditando que lançar as palavras à folha de resposta logo após a leitura 
do tema é uma forma de ganhar tempo.
Tal engano conduz muitas pessoas a se perderem ao longo do texto, 
desviando-sedo foco central e enveredando por minúcias pouco relevantes. 
Há também aqueles que, por não se organizarem bem, dizem a mesma 
coisa várias vezes, repetindo-se à exaustão em paráfrases vazias.
: Cap. I - NOÇÕES ÇERÁiS DE TIPOLOGIA TEXTUAL' 29
Dessa forma, é importante ter em mente que todo texto dissertativo 
precisa apresentar na introdução uma tese sobre determinado assunto. Tal 
tese será discutida no desenvolvimento por meio de argumentos e encerrada 
na conclusão. Para isso, o texto precisará ser dividido em parágrafos, nos 
quais ocorrerá a apresentação de ideias básicas.
Veja, a seguir, um esquema básico da organização do texto dissertativo.
2*1. Detalhando a estrutura do texto dissertativo
Para a elaboração de uma redação, o ideal é que o candidato se habitue 
a montar um planejamento (roteiro) sobre suas ideias a respeito do tema. De 
forma geral, uma boa redação deverá ser dividida em introdução, desenvol­
vimento e conclusão. Ou seja, é importante a montagem do planejamento, 
um esboço que abarque as ideias a serem discutidas no texto. Isso pode ser 
feito por meio de um “esqueleto redacional”, como vemos a seguir:
Na prova, o tema é sugerido pela banca examinadora. Dessa forma, ainda 
no planejamento, o candidato deverá traçar com poucas palavras os tópicos 
que julga mais importantes tratar, defender e discutir no decorrer de toda a 
redação. É interessante selecionar três tópicos, ou pelo menos dois, a fim de 
que haja uma abertura maior para a discussão. Cada ideia destacada ainda no
, TÍCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS H Lilian. Furtado; e Vinícius Carvalho Pçreira
planejamento deverá ser apresentada e fundamentada em seu próprio parágrafo 
de desenvolvimento. Em outras palavras, se partirmos de duas ideias, teremos 
um desenvolvimento com dois parágrafos; se partirmos de três ideias, teremos 
um desenvolvimento com três parágrafos; e assim por diante.
Na maioria das vezes, as provas de concursos limitam a redação en­
tre 25 e 30 linhas, o que faz com que seja melhor a elaboração de uma 
redação com no máximo três ideias principais, além da introdução e da 
conclusão. Entretanto, se a prova solicitar mais linhas para a elaboração 
da redação, o candidato poderá traçar mais tópicos ou fundamentar mais 
detalhadamente os já apresentados.
Assim, de forma resumida pode-se dizer que a redação deve conter cinco 
parágrafos e cada um deles terá cerca de cinco linhas, para corresponder 
ao que foi solicitado pela banca examinadora. É importante lembrar que 
isso é apenas uma média, pois os parágrafos podem ter mais ou menos 
linhas, embora seja interessante manter certa simetria entre eles.
A seguir, veja as principais características de cada uma das seções 
do texto dissertativo. Note, porém, que todas elas serão estudadas mais 
aprofundadamente nos próximos capítulos.
2.7.7. Introdução
Este parágrafo deve apresentar a ideia principal a ser desenvolvida 
e defendida no texto. Lembre-se: o leitor precisa saber de forma clara 
sobre o assunto central do texto, o que exige que o candidato apresente 
logo no primeiro parágrafo o recorte que julgou mais apropriado em 
relação ao tema. Quando nos referimos a recorte, queremos dizer que, 
de uma proposta muito ampla apresentada pela banca, o candidato deve 
delimitar um núcleo de informações sobre as quais vai escrever, deixando 
isso claro bem no início do texto. Além disso, na introdução também 
deve ser expressamente definida a tese do autor, caso se trate de um 
texto argumentativo.
Observe o esquema a seguir:
2.1.2. Desenvolvimento
O desenvolvimento é a parte mais extensa do texto, era que o candidato 
deverá discutir o tema proposto por meio de argumentos, caso se trate de uma 
argumentação, ou apresentar imparcialmente os tópicos mais importantes de 
um dado tema, caso se trate de um texto expositivo. É nesse momento que 
o candidato apresenta seu conhecimento sobre o assunto e persuade <y leitor 
sobre a ideia defendida. Geralmente, o desenvolvimento é organizado em 
três parágrafos e cada um deles deve sustentar a ideia central apresentada 
na introdução de forma coesa e coerente com a totalidade do texto.
Observe o esquema a seguir.
>V Cap. I " NOÇÕES GERAIS DE TIPOLOGIA TEXTUAL ^ £ j | £ |
2.13. Condusõo
A conclusão é a parte final do texto, em que há o fechamento das 
ideías discutidas, com a retomada do assunto principal ou da tese de 
forma finalizadora. É importante não esmorecer nesse último parágrafo, 
evitando conclusões simplistas ou utópicas. Caso queira, você pode ainda 
apresentar propostas de solução a problemas mencionados ao longo do 
texto, ou mesmo sintetizar os argumentos que foram trabalhados nos 
parágrafos anteriores.
Observe o esquema a seguir:
| Q | : ■ • TÉÇNÍÇAS-.DE REDAÇÃO PARA CONÇURSÇS V Liliprí Furtado è Vinícius: Çarvqíhó Pereira ■.
3. CONHECENDO A FOLHA DE REDAÇÃO
O candidato receberá duas folhas parecidas com o desenho a seguir. Em 
primeiro lugar, é fundamental que se respeitem as margens da esquerda e 
da direita da folha de redação. A primeira linha de cada parágrafo deverá 
começar com um distanciamento de um centímetro da margem esquerda 
da folha. Em relação à margem direita, as palavras deverão chegar até o 
fim da linha.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
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23
24
25
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27
28
29
30
Cap. I - NOÇÓES GERAIS DE TIPOLOGIA TEXTUAL
Por fira, se a última palavra de uma linha não couber inteiramente 
nela, deve-se separar o vocábulo por um traço translineador e o restante 
da palavra deverá continuar na linha seguinte, rente à margem esquerda 
(veja, no exemplo a seguir, as palavras “ciência” e “inovação”).
Exemplo:
01 Muitas pessoas, especialmente nos domínios dos negócios e da ciên­
02 cia, dedicam-se à inovação. Pensam, iecionam e escrevem sobre as maneiras
03 pelas quais se pode estimular e mensurar a inovação. "Como epor-que a inova­
04 ção acontece?" perguntam. Por que existem iugares e momentos históricos mais
05 favoráveis que outros à inovação?
O candidato também não deverá pular linha de um parágrafo para 
outro, nem mesmo do título (caso exista) para o início da redação. A esse 
respeito, cabe destacar a grande polêmica que existe quanto à colocação 
ou não de título. Se a prova for explícita quanto à sua obrigatoriedade, o 
candidato deve obviamente adicioná-lo em seu texto; caso contrário, não 
haverá necessidade de acrescentá-lo à redação. Por fim, caso haja uma 
linha centralizada e sem número no início da folha, está subentendido que 
ali se deve escrever o título.
Vale lembrar também que, caso a banca peça que se dê um título ao 
texto, deve-se buscar aquilo que melhor resume a ideia centrai discutida 
na redação. Note ainda que alguns teóricos mais tradicionais recomendam 
que não se coloque verbo no título do texto.
Observe os exemplos abaixo:
- Exemplo:
Elabore um texto dissertativo argumentativo e adicione um título.
01 Reciclando ideias
02 Muitas pessoas, especialmente nos domínios dos negócios e da ciên­
03 cia, dedicam-se à inovação. Pensam, lecionam e escrevem sobre as maneiras
Exemplo:
Elabore um texto dissertativo argumentativo.
01 Muitas pessoas, especialmente nos domínios dos negócios e da ciên­
02 cia, dedicam-se à inovação. Pensam, lecionam e escrevem sobre as maneiras
;;;TÉGNIÇÀS '0E;REPÁÇÀD ^RA ÇÓNCÜRSQS - ÜÍ/ia/r;^^
Veja que, como o comando não solicitou título, o texto deverá iniciar 
já na linha um, embora não seja proibida a colocação do título.
Exemplo:
Elabore um texto dissertativo argumentativo e adicione um título.
Reciclando ideias
01 Muitas pessoas, especialmente nos domínios dos negócios e da ciên­
02 cia, dedicam-se à inovação. Pensam, lecionam e escrevem sobre as maneiras
Observe que, no último exemplo, há uma linha centralizada e sem 
número para a inserção do título;no segundo exemplo, como isso não 
acontece, o candidato deverá redigi-lo na primeira linha numerada.
4. EXERCÍCIOS
1. Relacione as colunas de acordo com a tipologia textual:
(1) Descrição (2) Narração (3) Dissertação
a) ( } Maria é baíxa e magra, como convém a alguém que sempre comeu muito 
pouco, e sua pele tem a coloração típica dos que tomam sol, chuva, mormaço, ou 
qualquer coisa que não se possa escolher ou evitar.
b) ( ) Há opiniões divergentes quando as autoridades discutem a eliminação das 
favelas existentes em vários pontos das grandes metrópoles.
c) ( ) Nas proximidades da Cidade de Campo Limpo, existe um pequeno sítio. Em sua 
parte mais baixa, há um milhara! que se estende até a casa de paredes brancas e 
janelas enormes.
d) { ) Carla matriculou-se em um famoso cursinho, desses que preparam os alunos 
para os exames vestibulares. Logo no primeiro dia de aula, depois de subir os seis 
lances de escadas que conduziam à sua classe, de duzentos e quarenta alunos, 
entrou na sala espantada com a quantidade de colegas.
e) { ) Chegando ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver graves 
problemas que preocupam a todos, pois existem populações imersas em completa 
miséria, a paz é interrompida frequentemente por conflitos internacionais e, além do 
mais, o meio ambiente encontra-se ameaçado por sério desequilíbrio ecológico.
f) ( ) O rapaz, depois de estacionar seu automóvel em um pequeno posto de gasolina 
daquela rodovia, perguntou a um funcionário onde ficava a cidade mais próxima. 
Ele respondeu que era um vilarejo a dez quilômetros dali.
g} ( ) O céu, uniforme e pacífico, estende-se por sobre as numerosas ruas, avenidas. 
Espraia-se, entre os edifícios, a área sombreada.
h) ( ) É indiscutível o espantoso avanço conseguido pelos meios de comunicação ao 
longo dos tempo. O desenvolvimento tecnológico deste século garantiu a eficiência 
e a rapidez na comunicação, quer entre indivíduos, quer por meio dos meios ele-
Cap. I - NOÇÕES GERAIS DE TIPOLOGIA TEXTUAL
trônicos, que fazem a informação chegar aos povos de qualquer parte do planeta 
em questão de segundos.
í) ( ) Em uma noite chuvosa do mês de agosto, Paulo e o irmão caminhavam pela 
rua mal iluminada que conduzia à sua residência. Subitamente foram abordados 
por um homem estranho. Pararam, atemorizados, e tentaram saber o que o homem 
queria, receosos de que se tratasse de um assaltante. Era, entretanto, somente um 
bêbado que tentava encontrar, com dificuldade, o caminho de sua casa.
j) ( ) Tem havido muitos debates sobre a eficiência do sistema educacional brasi­
leiro. Argumentam alguns que eie deve ter por objetivo despertar no estudante a 
capacidade de absorver informações dos mais diferentes tipos e relacioná-las com 
a realidade circundante. Um sistema de ensino voltado para a compreensão dos 
problemas socioeconômicos e que despertasse no alunó a curiosidade científica 
seria por demais desejávei.
k) ( } Sua estatura era alta e seu corpo, esbelto. A pele morena refletia o sol dos tró­
picos. Os olhos negros e amendoados espelhavam a luz interior de sua alegria de 
viver e jovialidade. Os traços bem desenhados compunham uma fisionomia caima, 
que mais parecia uma pintura.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 2.
Brasil e África do Sul assinam acordo de cooperação
O Ministério da Educação do Brasil e o da África do Sul assinaram no 
início de julho um acordo de cooperação internacional na área da educação 
superior. Além de apoiar o ensino universitário e prever a promoção conjunta 
de eventos científicos e técnicos, o acordo contempla o intercâmbio de 
materiais educacionais e de pesquisa e o incentivo à mobilidade acadêmica 
e estudantil entre instituições de ensino superior, institutos de pesquisa e 
escolas técnicas. Para incentivar a mobilidade, além de projetos conjuntos 
de pesquisa, os dois países devem promover a implantação de programas 
de intercâmbio acadêmico, com a concessão de bolsas, tanto a brasileiros 
na África do Sul quanto a sul-africanos no Brasil, para professores e alunos 
de doutorado e pós-doutorado. Ainda nessa área, a cooperação também 
prevê a criação de um programa de fomento a publicações científicas 
associadas entre representantes dos dois países.
Segundo o ministro da Educação brasileiro, Fernando Haddad, as equipes 
de ambos os ministérios da Educação trabalham há tempos na construção 
de um acordo para incrementar a cooperação entre os dois países. "Brasil e 
África do Su! têm uma grande simwilaridade de pensamento, oportunidades 
e desafios. Esperávamos há tempos a formatação de um acordo sólido".
(<poftai.mec.gov.br>, com adaptações.)
Julgue o item a seguir quanto à compreensão do texto e à tipologia textuaí.
(CESPE) Quanto à tipologia, o texto caracteriza-se como informativo. 
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 3.
Podem ser fios demais caídos no travesseiro. Ou fios de menos percebi­
dos na cabeça ao se olhar no espelho. No fim das contas, o resultado é o
. TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA.CONCURSOS - Lilian Furtado sVinícius Carvalho Pereira
mesmo: você está perdendo cabelo. E não está sozinho. "A calvície atinge 
50% da população masculina", diz o dermatologista Ademir Carvaiho Leite 
Jr. Se tanta companhia não vaie como consolo, a vantagem de ter muita 
gente sofrendo com o problema é que isso estimula as pesquisas cientí­
ficas. "Há equipes estudando o uso de céluias-tronco para tratamento da 
calvície" conta Leite Jr. Também já foi descoberto que são oito os pares 
de genes envolvidos no crescimento dos cabelos, segundo ele, o que abre 
possibilidades à pesquisa genética.
"Entre as perspectivas, está o desenvolvimento de testes genéticos 
para diagnóstico da aíopecia androgenética, ou seja, a ausência de ca­
belos provocada pela interação entre os genes herdados e os hormônios 
masculinos. O teste pode determinar o risco e os graus de calvície antes 
de sua manifestação, permitindo o tratamento precoce" diz Arthur Tyko- 
cinski, dermatologista da Santa Casa de São Paulo, que aponta ainda, 
entre as novidades na área, os estudos para uso de robôs no processo de 
transplante de cabelos.
(Iara Biderman, Folha de S.Pauio, 29.08.2008, com adaptações.)
Com relação às ideias, à organização e à tipologia do texto, juígue o item que se 
segue.
(CESPE) A linguagem empregada no texto permite caracterizá-lo como predo­
minantemente informativo.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 4.
Uma pesquisa realizada em 16 países mostrou que os jovens brasilei­
ros são os que colecionam o maior número de amigos virtuais. A média 
brasileira de contatos é mais do que o dobro da mundial, que tem como 
base países como Estados Unidos da América (EUA) e China. O levanta­
mento avaliou a participação da tecnologia na vida de 18 mil jovens de 
8 a 24 anos, com acesso fácil à Internet, telefones celulares e pelo menos 
dois outros aparelhos eletrônicos. Os brasileiros com idade entre 14 e 24 
anos têm em média 46 amigos virtuais, enquanto a média giobal é de 20.
No mundo, os jovens costumam ter cerca de 94 contatos guardados no 
celular, 78 na lista de programas de mensagem instantânea e 86 em sítios 
de relacionamento como o Orkut.
(Jornal do Brasil, 27.07.2007, p, A24, com adaptações.)
Tendo o texto acima como referência iniciai, julgue os itens que se seguem, 
tanto acerca de estruturas lingüísticas desse texto quanto do impacto do 
desenvolvimento científico-tecnoiógico nos mais diversos setores da vida con­
temporânea.
(CESPE) O texto entrelaça características de dissertação; de narração e de 
descrição.
Çap. I - NOÇÕES GERAIS DE TIPOLOGIA TEXTUAL r a
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 5.
Dentro de um mês tinha comigo vinte, aranhas; no mês seguinte cin­
qüenta e cinco; em março de 1877 contava quatrocentas e noventa.Duas 
forças serviram principaimente à empresa de as congregar: o emprego 
da língua delas, desde que pude discerni-la um pouco, e o sentimento de 
terror que ihes infundi. A minha estatura, as vestes talares, o uso do mesmo 
idioma fizeram-lhes crer que eu era o deus das aranhas, e desde então 
adoraram-me. E vede o benefício desta ilusão. Como as acompanhasse com 
muita atenção e miudeza, lançando em um livro as observações que fazia, 
cuidaram que o livro era o registro dos seus pecados, e fortaleceram-se 
ainda mais nas práticas das virtudes. (...)
Não bastava associá-las; era preciso dar-lhes um governo idôneo. He­
sitei na escolha; muitos dos atuais pareciam-me bons, alguns excelentes, 
mas todos tinham contra sí o existirem. Explico-me. Uma forma vigente 
de governo ficava exposta a comparações que poderiam amesquinhá-la. 
Era-me preciso ou achar uma forma nova ou restaurar alguma outra aban­
donada. Naturalmente adotei o segundo alvitre, e nada me pareceu mais 
acertado do que uma república, à maneira de Veneza, o mesmo molde, e 
até o mesmo epíteto. Obsoleto, sem nenhuma analogia, em suas feições 
gerais, com qualquer outro governo vivo, cabia-lhe ainda a vantagem de 
um mecanismo complicado, o que era meter à prova as aptidões políticas 
da jovem sociedade.
A proposta foi aceita. Sereníssima República pareceu-lhes um título 
magnífico, roçagante, expansivo, próprio a engrandecer a obra popular.
Não direi, senhores, que a obra chegou à perfeição, nem que lá chegue 
tão cedo. Os meus pupilos não são os solários de Campanela ou os utopistas 
de Morus; formam um povo recente, que não pode trepar de um salto ao 
cume das nações seculares. Nem o tempo é operário que ceda a outro a 
lima ou o alvíão; ele fará mais e melhor do que as teorias do papel, válidas 
no papel e mancas na prática.
(Machado de Assis. A Sereníssima República [conferência do cônego Var­
gas]. In Obra completa, vol. ii. Contos. Papéis avulsos. Rio de Janeiro:
José Aguilar, 1959, p. 337-8.)
No que se refere aos sentidos, à organização das ideias do texto e à tipologia 
textual, julgue os itens a seguir.
(CESPE) O autor do texto, por meio de narrativa alegórica, uma parábola, ex­
põe seu ponto de vista acerca do comportamento humano e da organização 
política e soctal.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 6.
Por intermédio da Bolsa de Mercadorias e Futuros, a Prefeitura de São 
Paulo colocou à venda 808.450 Reduções Certificadas de Emissões (RCEs), 
que correspondem a 1,64 milhão de toneladas de gás metano, produzidas 
pelo Aterro Sanitário Bandeirantes, em Perus, que deixaram de ser lançadas 
na atmosfera.
TÉCNSCAS DE REDAÇÃO PARÁ CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius. Carvalho Pereira
O matéria! orgânico presente no fixo se decompõe ientamente, forman­
do biogás rico em metano, um dos mais nocivos ao meio ambiente por 
contribuir intensamente para a formação do efeito estufa. No Aterro Ban­
deirantes, foi instalada, no ano passado, a Usina Termelétrica Bandeirantes, 
uma parceria entre a prefeitura e a Biogás Energia Ambientai. Lá, 80% do 
biogás é usado como combustível para gerar 22 megawatts, energia elétrica 
suficiente para atender às necessidades de 300 mil famílias.
Em reiação às ideias e a aspectos morfossintáticos do texto acima, julgue os itens 
a seguir.
6. (CESPE) Trata-se de um texto dissertativo composto a partir de segmentos 
narrativos e descritivos.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 7. 
Tempo iivre
A questão do tempo livre - o que as pessoas fazem com ele, que chances 
eventualmente oferece o seu desenvolvimento - não pode ser formulada 
em generalidade abstrata. A expressão, de origem recente - aliás, antes 
se dizia ócio, e este era um privilégio de uma vida folgada e, portanto, 
algo qualitativamente distinto e muito mais grato -, opõe-se a outra: à 
de tempo não livre, aquele que é preenchido pelo trabalho e, poderíamos 
acrescentar, na verdade, determinado de fora.
O tempo livre é acorrentado ao seu oposto. Essa oposição, a relação em 
que ela se apresenta, imprime-lhe traços essenciais. Além do mais, muito 
mais fundamentalmente, o tempo livre dependerá da situação geral da 
sociedade. Mas esta, agora como antes, mantém as pessoas sob um fascí­
nio. Decerto, não se pode traçar uma divisão tão simpies entre as pessoas 
em si e seus papéis sociais. (...) Em uma época de integração sociaí sem 
precedentes, fica difícil estabelecer, deforma geral, o que resta nas pessoas, 
além do determinado pelas funções, isso pesa muito sobre a questão do 
tempo livre. Mesmo onde o encantamento se atenua e as pessoas estão 
ao menos subjetivamente convictas de que agem por vontade própria, isso 
ainda significa que essa vontade é modelada por aquilo de que desejam 
estar livres fora do horário de-trabalho.
A indagação adequada ao fenômeno do tempo livre seria, hoje, esta: 
"Com o aumento da produtividade no trabalho, mas persistindo as condi­
ções de não liberdade, isto é, sob relações de produção èm que as pessoas 
nascem inseridas e qMe, hoje como antes, ihes prescrevem as regras de 
sua existência, o que ocorre com o tempo livre?" (...) Se se cuidasse de 
responder à questão sem asserções ideológicas, tornar-se-ia imperiosa a 
suspeita de que o tempo livre tende em direção contrária à de seu próprio 
conceito, tornando-se paródia deste. Nele se prolonga a não liberdade, tão 
desconhecida da maioria das pessoas não livres como a sua não liberdade 
em si mesma.
Podemos esclarecer isso de maneira simples por meio da ideologia 
do hobby. Na naturalidade da pergunta sobre qual hobby se tem, está 
subentendido que se deve ter um, provavelmente também já escolhido 
de acordo com a oferta do negócio do tempo livre. Liberdade organizada 
é coercitiva: "Ai de ti se não tens um hobby, se não tens ocupação para o 
tempo livre! Então tu és um pretensioso ou antiquado, um bicho raro, e 
cais em ridículo perante a sociedade, a qual te impinge o que deve ser o 
teu tempo livre." Tal coação não é, de nenhum modo, somente exterior.
Ela se Siga às necessidades das pessoas sob um sistema funcional. No 
camping ~ ho antigo movimento juvenil, gostava-se de acampar - havia 
protesto contra o tédio e o convencionalismo burgueses. O que os jovens 
queriam era sair, no duplo sentido da palavra. Passar-a-noite-a-céu-aberto 
eqüivalia a escapar da casa, da família. Essa necessidade, depois da morte 
do movimento juvenii, foi aproveitada e institucionalizada pela indústria 
do camping. Ela não poderia obrigar as pessoas a comprar barracas e 
motor homés, além de inúmeros utensílios auxiliares, se algo nas pessoas 
não ansiasse por isso; mas a própria necessidade de liberdade é funcio- 
nafizada e reproduzida pelo comércio; o que elas querem ihes é, mais 
uma vez, imposto. Por isso, a integração do tempo livre é alcançada sem 
maiores dificuldades; as pessoas não percebem o quanto não são livres lá 
onde mais livres se sentem, porque a regra de tal ausência de liberdade 
lhes foi abstraída.
(T. W. Adorno. Palavras e sinais, modelos críticos 2. Tradução de Maria 
Helena Ruschel. Petrópolis: Vozes, 1995, p. 70-82, com adaptações.}
De acordo com a tipologia textual o texto classifica-se como descritivo-nar- 
rativo, visto que descreve como as pessoas se comportam na sociedade em 
relação ao tempo livre e narra como os jovens, no antigo movimento juvenil, 
protestavam contra o tédio e o convencionalismo burgueses.
.. Cap. í - I^OÇÓES 'GERAIS DE TIPOLOGIA TEXTUAL
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 8.
Secretária
O teste definitivo para você saber se você está ou não integrado no 
mundo moderno é a secretária eletrônica. O que você faz quando liga para 
alguém e quem atende é uma máquina.
Tem gente que ném pensa nisso. Falam com a secretária eletrônica com 
a maior naturalidade, qual é o problema? É apenasum gravador estranho 
com uma função a mais. Mas aí é que está. Não é uma máquina como 
qualquer outra. É uma máquina de atender telefone. O telefone (que eu não 
sei como funciona, ainda estou tentando entender o estilingue) pressupõe 
um contato com alguém e não com alguma coisa.
A secretária eletrônica abre um buraco nesta expectativa estabelecida. 
É desconcertante. Atendem - e é alguém dizendo que não está lá! Seguem 
instruções para esperar o bip e gravar a mensagem.
É aí que começa o teste. Como falar com ninguém no telefone? Um 
telefonema é como aqueies livros que a gente gosta de ier, que só tem
diálogos. É travessão você faia, travessão fala o outro. E de repente você 
está falando sozinho. Não é nem monólogo. Ê diálogo só de um.
- Ahn, sim, bom, mmm... olha, eu teiefono depois. Tchau. O "tchau" é 
para a máquina. Porque temos este absurdo medo de magoá-la. Medo de 
que a máquina nos telefone de volta e nos xingue, ou peio menos nos 
bipe com reprovação.
Sei de gente que muda a voz para falar com secretária eletrônica. Fica 
formal, cuida a construção da frase. Às vezes precisa resistir à tentação 
de ligar de novo para regravar a mensagem porque errou a colocação do 
pronome.
Outros não resistem. Ao saber que estão sendo gravados, limpam a 
garganta, esperam o bip e anunciam:
- De Augustín Lara...
E gravam um bolero.
Talvez seja a única atitude sensata.
8. (NCE) Considerando o texto como um todo, podemos classificá-lo predomi­
nantemente como:
TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARÁ CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
a} narrativo;
b) descritivo;
c) expositivo;
d) argumentativo;
e) conversacional.
Leia o texto a seguir para responder às questões de números 9 e 10. 
Por que o Budismo encanta o Ocidente?
O budismo faz tanto sucesso no Ocidente porque possui características 
que correspondem às tendências da pós-modernsdade neoliberal. Num 
mundo em que muitas reiigiões se sustentam em estruturas autoritárias e 
apresentam desvios fundamenta listas, o budismo apresenta-se como uma 
não religião, uma filosofia devida que não possui hierarquias, estruturas nem 
códigos canônicos. No budismo não há a ideia de Deus, nem de pecado. 
Centrado no indivíduo e baseado na prática da yoga e da meditação, o 
budismo não exige compromissos sociais de seus adeptos, nem submissão 
a uma comunidade ou crença em verdades reveladas, Há, contudo, muitos 
budistas engajados em iutas sociais e políticas.
Nessa cultura do elixir da eterna juventude, em que o envelhecimento e 
morte são encarados, não como destinos, mas como fatalidades, o budismo 
oferece a crença na reencarnação.
Acreditar que será possível viver outras vidas além dessa é sempre 
consolo e esperança para quem se deixa seduzir pela ideia da imortalidade 
e não se sente plenamente realizado nessa existência.
Outro aspecto do budismo que o torna tão paiatávei no Ocidente é 
a sua adequação a qualquer tendência religiosa. Pode-se ser católico ou
Cap. I - NOÇÕES GERAIS DE TIPOLOGIA TEXTUAL
protestante e abraçar o budismo como disciplina mental e espiritual, sem 
conflitos. Mesclar diferentes tradições religiosas é uma tendência crescente 
para quem respira a ideologia pós-moderna do individualismo exacerbado, 
segundo a qual cada um de nós pode ser seu próprio papa ou pastor, sem 
necessidade de referências objetivas.
Como método espiritual, o budismo é de grande riqueza, pois nos ensina 
a lidar, sem angústia, com o sofrimento; a iimpar a mente de inquietações; 
a adotar atitudes éticas; a esvaziar o coração de vaidades e ambições des­
medidas; a ir ao encontro do mais íntimo de nós mesmos, iá onde habita 
aquele Outro que funda a nossa verdadeira identidade.
A felicidade, que em si resultaria de um projeto temporal, reduz-se 
hoje ao mero prazer instantâneo derivado, de preferência, da dilatação do 
ego (poder, riqueza, projeção pessoal etc.) e dos "toques" sensitivos (ótico, 
epidérmico, gustativo etc.). A utopia é privatizada. Resume-se ao êxito 
pessoal. A vida já não se move por ideais nem se justifica pela nobreza 
das causas abraçadas. Basta ter acesso ao consumo que propicia excelente 
conforto: o apartamento de luxo, a casa na praia ou na montanha, o carro 
novo, o kft eletrônico de comunicações (telefone celular, computador etc.), 
as viagens de lazer. Uma ilha de prosperidade e paz imune às tributações 
circundantes de um mundo movido a violência. O Céu na Terra - prome­
tem a publicidade, o turismo, o novo equipamento eletrônico, o banco, o 
cartão de crédito etc.
(Frei Betto)
9. (NCE) Assinale a opção que está de acordo com a direção argumentativa do
texto.
a} O prazer instantâneo derivado da dilatação do ego é decorrente de um projeto 
temporal.
b} A felicidade para o mundo contemporâneo prescinde dos toques sensitivos.
c} Substitui-se, hoje, um projeto temporal, que envolveria causas e ideais nobres, pelo 
prazer instantâneo.
d) O êxito pessoa! resulta de uma utopia privatizada que é conseqüência de um projeto 
temporal.
e} Os ideais e a nobreza das causas levam ao consumo, à prosperidade e à paz, o que 
torna o ser humano imune à violência.
10. (NCE) Pela estrutura e conteúdo, a melhor definição para esse tipo de texto
é:
a) narrativo didático, pois ensina e mostra diferentes aspectos em ordem cronológi­
ca;
b) expositivo preditivo, pois antecipa situações futuras das relações entre as crenças;
c) argumentativo polêmico, pois apresenta ideias que defendem uma posição contra 
outras possíveis;
d) descritivo informativo, pois informa características novas sobre o budismo, que são 
de interesse geral;
e) dissertativo normativo, pois visa dar normas de conduta aos leitores.
TÉCNICAS pÉ. REDAÇÃO PARA'CONCURSOS - Lifián Furtado:è Vinícius Carvalho Pereira:
GABARITO
1 - a) 1 2 - C
b) 3 3 - C
C)1 4 - C
d) 2 5 ~ C
e) 3
f ) 2 
9)T
h) 3
i) 2
6 - C
7 - E
8 - D
9 ~ C
j>3 1 0 - C
k p
Capítulo ■ I
O PARÁGRAFO
1. A DIVISÃO DAS IDEIAS EM PARÁGRAFOS
No capítulo anterior, você estudou os diferentes tipos e gêneros tex­
tuais, aprofundando-se no texto dissertativo, uma vez que esse é o mais 
cobrado em provas de Redação de concursos públicos. No entanto, não 
basta apenas conhecer a macroestrutura desse tipo textual, isto é, sua or­
ganização em introdução, desenvolvimento e conclusão. É necessário que 
você saiba como agrupar em blocos lógicos as ideias de seu texto, a fim 
de garantir sua legibilidade, coesão e coerência. Para tanto, este capítulo 
se destina ao estudo do parágrafo, uma microestrutura textual cujo domínio 
é necessário para escrever bem.
A primeira coisa que tem de ficar clara para o candidato do concurso 
é a importância de dividir o texto em parágrafos. Escrever um longo bloco 
ininterrupto de frases toma o texto confuso e compromete sua apresenta­
ção, lio que diz respeito a aspectos de limpeza e legibilidade. As bancas 
descontam pontos referentes a esse critério quando o candidato faz rasuras 
demais, desrespeita as margens, tem caligrafia pouco legível ou não res­
peita a paragrafação. Lembre-se, pois, de que esses pontos podem ser 
cruciais para a sua aprovação.
Além disso, um único parágrafo excessivamente longo dificulta a 
apreensão das ideias do texto. Como veremos neste capítulo, cada pa­
rágrafo tende a apresentar uma única informação central, a respeito da 
qual se aprofunda. Se você escrever um bloco muito extenso de frases, 
acrescentando-lhe dados muito diversos, o leitor terá dificuldades de per­
ceber quais são as ideias centrais abordadas por você.
Assim, para não cometer esse erro, é preciso que você delimite 
claramente cada uma das ideias que julga mais relevante no seu texto, 
separando-as em parágrafos diferentes. Isso demonstra, inclusive, que você 
reconhece a hierarquia lógica das informações, agrupando as periféricas 
sempre emtomo de uma principal.
TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
Nesse sentido, vale ressaltar que algumas bancas, como o CESPE/ 
TJnB, até costumam dizer, na prova, que pontos temáticos devem ser co­
bertos pelo autor da redação. Esses tópicos serão atentamente buscados 
pelo corretor quando este ler sua redação, sendo necessário delimitá-los 
de forma bem evidente no seu texto.
Para ficar mais claro como isso funciona, veja o exemplo a seguir 
de uma proposta de redação elaborada pelo CESPE/UnB para o cargo de 
Analista Judiciário do TRE-MA em 2009:
Prova discursiva
• Nesta prova, faça o que se pede, usando o espaço para rascunho indicado no 
presente caderno. Em seguida, transcreva o texto para a folha de texto definitivo 
da prova discursiva, no local apropriado, pois não serão avaliados fragmentos 
de texto escritos em locais indevidos.
• Qualquer fragmento de texto além do limite máximo de linhas disponibilizado 
será desconsiderado.
• Na folha de texto, definitivo, identifique-se apenas no cabeçalho da primeira 
página, pois não será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca 
identificadora fora do local apropriado.
"Torna-se essencial dotar o Estado de condições para que seus 
governos enfrentem com êxito as falhas do mercado. Para isso, é 
necessário dotar o Estado de mais governabilidade e governança; é 
preciso, além de garantir condições cada vez mais democráticas de 
governá-lo, torná-lo mais eficiente, de forma a atender as demandas 
dos cidadãos com melhor qualidade e a um custo menor".
(Bresser Pereira, 1998.)
Considerando que o texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um 
texto dissertativo a respeito do seguinte tema.
EM BUSCA DA GOVERNANÇA DO ESTADO BRASILEIRO COMO ALICERCE PARA A 
CONSOLIDAÇÃO DA CIDADANIA.
Em seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes tópicos:
• construção da definição de governança;
• tecnologias de gestão aplicadas à busca da governança;
• desafios a serem transpostos para a consolidação da governança e da cidada­
nia.
Como você pôde observar, a banca definiu claramente três tópicos 
que devem integrar a redação do candidato. Para o desenvolvimento de
Cap. II - O PARÁGRAFO 1 9
cada um deles, o corretor pode atribuir uma determinada pontuação, 
definida no espelho de correção. No entanto, para que alguém possa re­
ceber integralmente essa pontuação, sem penalizações diversas, é muito 
importante estruturar o texto de forma organizada, direcionando o leitor 
para a identificação dos tópicos mencionados na proposta de redação 
feita pela banca.
Para tanto, o ideal é colocar cada um desses tópicos em um parágra­
fo distinto, além dos parágrafos de introdução e conclusão. Acrescentar 
mais de um desses itens em um mesmo parágrafo pode fazer com que o 
corretor julgue seu texto mal estruturado ou mesmo pouco aprofundado, 
no que diz respeito ao desenvolvimento de cada um dos pontos exigidos 
pela banca.
Assim, o ideal seria organizar o texto desta forma:
* 1.° parágrafo - introdução (apresentação do tema e do ponto de 
vista defendido);
* 2.° parágrafo - desenvolvimento (argumentação sobre construção 
da definição de governança);
* 3.° parágrafo — desenvolvimento (argumentação sobre tecnologias 
de gestão aplicadas à busca da governança);
* 4.° parágrafo - desenvolvimento (argumentação sobre desafios a 
serem transpostos para a consolidação da governança e da cida­
dania);
* 5.° parágrafo - conclusão (reafirmação do ponto de vista defen­
dido).
Nos próximos capítulos, estudaremos em detalhes cada uma das três 
principais seções do texto dissertativo - introdução, desenvolvimento e
conclusão — atentando para suas especificidades. Por ora, nosso foco recai 
sobre a estrutura geral do parágrafo, como veremos a seguir.
TÉCNiCAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
Importante!
Vale ainda lembrar um erro muito freqüente de candidatos inexperientes: o 
hábito de escrever no computador desacostumou muitas pessoas à redação feita 
à mão. Como os programas editores de texto ajudam o usuário na formatação 
de seus documentos, diversas pessoas esquecem, na hora da prova, um detalhe 
importante: a necessidade de deixar um espaço em branco no início da primeira 
linha de cada parágrafo. Na escola, as professoras do ensino fundamental costumam 
até dizer para o aluno que deixe "um dedinho" depois da margem, antes de iniciar 
o parágrafo. Sabemos que isso parece um pormenor pouco relevante, mas a falta 
desses espaços no início de cada parágrafo faz com que o candidato perca pontos 
no critério de limpeza e legibilidade, já mencionado neste capítulo.
2. A ESTRUTURA DO PARÁGRAFO
2.1.0 tópico frasal
Antes de expormos a teoria acerca da estruturação do parágrafo, vamos 
ler um texto dissertativo que servirá como modelo para nossas análises:
Solução oh entrave?
Promulgada em setembro de 2008, a nova Lei do Estágio ainda 
provoca dúvidas entre empresários e estudantes. Fruto de um íongo 
debate, seu maior objetivo, segundo o ministro do trabalho, Carlos 
Lupi, era: “Proporcionar a milhões de jovens estudantes brasileiros 
os instrumentos que facilitem sua passagem do ambiente escolar para 
o mundo do trabalho”. A lei reconhece o estágio como um “vínculo 
educativo-profissionalizante, supervisionado e desenvolvido como 
parte do projeto pedagógico e do itinerário formativo do educando”. 
Isso quer dizer, com todas as letras, que estágio não é emprego. E o 
ponto de partida para qualquer discussão sobre o tema.
O Brasil não dispunha de uma lei que regulamentasse claramente 
os direitos e deveres das empresas, das escolas e dos estagiários. O 
presidente do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) explica 
que, até o ano passado, ais regras eram balizadas por decretos, normas 
e portarias, que começaram a entrar em vigor há 45 anos. Foi quando 
nasceu o CIEE, responsável por realizar “a ponte entre o mundo do 
trabalho e o mundo do saber”.
Mantido por contribuições das empresas associadas, o CIEE lançou 
o Guia prático para entender a Nova Lei do Estágio, com respostas a 
mais de 30 perguntas acerca das mudanças e normas mais importantes. 
Entre elas, destacam-se a limitação da jornada diária para seis horas, 
a obrigatoriedade de pagamento do auxílio-transporte, a concessão
•Gap; 11 - O PARÁGRAFO
do recesso obrigatório de 30 dias após um ano de estágio e o limite 
máximo de dois anos de permanência em uma mesma empresa.
A nova lei não recebeu mais questionamentos quando foi apre­
sentada em setembro de 2008. Algumas poucas vozes se levantaram 
à época, temendo que mais encargos às empresas inibissem a oferta 
de vagas. Mas, em geral, foi saudada, principalmente pelos estudan­
tes, cansados de passar o dia em atividades banais pouco instrutivas 
ou de trabalharem mais de oito horas diárias, sem décimo terceiro,
INSS, FGTS, férias.
(Celso Marcondes. Solução ou entrave? CartaCapUal,
29.04.2009, p. 8-9, cora adaptações.)
Quando lemos um texto, podemos identificar em cada um dos pará­
grafos uma ideia principal, que geralmente se articula diretamente com 
o assunto central do texto. No caso do artigo dissertativo-argumentativo 
que você acabou de ler, o tema é a criação da Lei do Estágio, em 2008, 
como se percebe logo nas primeiras linhas.
Se você analisar atentamente o primeiro parágrafo do artigo, vai per­
ceber que sua primeira frase dialoga diretamente com o tema do texto e 
resume bem a ideia desse parágrafo. A essa frase principal, que apresenta 
a informação central do parágrafo, chamamos de tópico frasal. Geralmen­
te, tal período é mais curto que os outros, apresentando uma informação 
genérica, que as demais frases do parágrafo desenvolvem e aprofundam.
Não é obrigatório que a primeira frase do parágrafo seja o tópico 
frasal: há casosem que o tópico é um período do meio do parágrafo, ou 
mesmo do final. No entanto, na hora de escrever uma redação em um 
concurso, vale lembrar que costuma ser mais rápido escrever parágrafos 
iniciados pelo tópico frasal, apresentando brevemente a informação central 
daquele bloco. Isso também evita que o autor do texto se perca e facilita 
o trabalho do conretor, o qual identifica rapidamente a que se refere cada 
parágrafo do texto, logo na primeira leitura.
Voltando ao texto “Solução ou entrave?”, vamos analisar detidamente 
a estrutura de cada um dos seus parágrafos:
• 1.° parágrafo - O tópico frasal que o abre apresenta imediatamente 
a ideia em torno da qual as demais frases se articulam: a Lei do 
Estágio. Os demais períodos caracterizam os objetivos da Lei do 
Estágio e resumem suas contribuições para a sociedade.
• 2.° parágrafo - O tópico frasal que o abre apresenta a informação 
central do parágrafo: a situação do Brasil anterior à promulgação 
da lei. As outras frases do parágrafo aprofundam essa visão pa­
norâmica inicial, trazendo um testemunho de autoridade acerca
do assunto e contexíualizando a criação do CIEE, intimamente 
relacionado à implementação da Lei do Estágio.
3.° parágrafo - O tópico frasal que o inicia introduz na discussão 
a redação do Guia prático para entender a Nova Lei do Estágio. 
A frase, subsequente acrescenta algumas das informações principais 
desse guia, que visa a elucidar dúvidas quanto à lei de que trata 
o texto.
4.° parágrafo ~ O tópico frasal que o inicia traz à baila a aceitação 
quase geral da Lei do Estágio. Os demais períodos apresentam 
os motivos pelos quais essa lei foi tão bem-aceita, a despeito de 
alguns poucos opositores a ela.
' ■ TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira. .
Como você pôde ver, é muito importante que o tópico frasal carre­
gue uma informação de cunho geral, a fim de que seja desenvolvido nos 
próximos períodos. Isso facilita a leitura e evita que você escreva frases 
excessivamente longas, as quais tomam o texto confuso. Apresentar as 
ideias no parágrafo de forma ordenada vai fazer com que você escreva 
mais rápido e com mais qualidade, uma vez que não correrá o risco de se 
perder no meio do percurso. Basta lembrar que as frases que se sucedem 
ao tópico frasal devem se remeter a ele, aprofundando algum aspecto 
nele contido.
Outra coisa que você pode concluir a partir desta exposição é que, 
em uma prova de redação para concursos públicos, devemos evitar pará­
grafos com uma só frase. Um parágrafo formado por um único período 
invariavelmente incorrerá em um dos seguintes problemas: comprimento 
excessivo, prejudicando a leitura, ou superficialidade na abordagem, dada 
a exiguidade de informações apresentadas. Assim, sempre que você vir 
que escreveu apenas uma frase de sentido genérico (o tópico frasal), 
esforce-se para acrescentar ao fim dela outro período, aprofundando o 
que foi dito no tópico.
2 .2 . 0 desenvolvimento do tópico frasal
Como você acabou de perceber, não basta redigir um tópico frasal, na 
hora de escrever seu párágrafo.. É preciso também acrescentar frases que 
expandam esse tópico, introduzindo informações complementares.
Não há exatamente regras que definam como se deve desenvolver 
um tópico frasal, mas apresentamos a seguir algumas sugestões de téc­
nicas que você pode empregar na hora da prova. Estar consciente dessas 
técnicas vai ajudá-lo na hora de elaborar sua redação, caso você se sinta
Cap. II - O PARÁGRAFO
“sem criatividade” ou sem “ideias do que escrever”. Trata-se de algumas 
orientações gerais que você deve adaptar às exigências específicas do tema 
proposto pela banca. Lembre-se de que o que vamos ver agora não deve 
limitar sua escrita, mas sim servir como possibilidade de ajuda. Você pode 
combinar diferentes técnicas em um mesmo parágrafo ou mesmo usar 
técnicas distintas das que aqui apresentaremos. O importante é escrever 
cada vez melhor e ser aprovado no concurso!
Veja, então, algumas sugestões a respeito do desenvolvimento do 
tópico frasal, com as respectivas explicações e exemplos:
2.2. h Apresentando uma adição ao que foi exposto no
tópico frasal
Essa é a forma mais simples de desenvolver um tópico frasal. Basta 
incluir períodos que adicionem informações acerca de determinado item no 
tópico frasal, tomando o cuidado de acrescentar apenas dados relevantes 
para seu texto. Note que é importante fazê-lo de forma coesa, empregando 
palavras que liguem as frases, estabelecendo relações entre elas. Veja o 
exemplo a seguir:
O Ministério da Saúde anunciou, nesta quinta-feira (25), a inclusão 
dos adultos que têm entre 30 e 39 anos entre os grupos que receberão 
a vacina contra a gripe A (H1N1). A campanha de imunização, que 
começa no dia 8 de março, já incluía profissionais da saúde, povos 
indígenas, crianças pequenas, pessoas com problemas crônicos e jovens 
entre 20 e 29 anos de idade.
(.Adultos de 30 a 39 anos também serão vacinados contra nova gripe.
Dísponívei em: <http://gl.globo.com/ciencia-e-saude/>.
Acesso em: 25 fev. 2010.).
Nesse caso, a segunda frase do parágrafo expande a informação 
apresentada na primeira, a respeito dos grupos a serem vacinados. Note 
que a expressão a campanha de imunização e o advérbio já remetem 
diretamente ao primeiro período, garantindo ao trecho boa coesão.
2.2.2. Apresentando uma causa do que foi exposto no 
tópico frasal
Como um texto argumentativo está geralmente repleto de relações 
causa-consequência, especialmente nos parágrafos de desenvolvimento, não 
é difícil desenvolver um tópico frasal de parágrafo argumentativo usando 
uma dessas técnicas. Veja o exemplo a seguir:
: .. TÉCNICAS'DE REDAÇÃO PÀRÁ CONCURSOS>vU/ían
A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hiilary Clinton,
deverá pressionar o Brasil a adotar uma posição mais dura contra
o Irã, quando fizer sua visita ao país na próxima semana. Õ Brasil 
atualmente ocupa uma vaga rotativa no Conselho de Segurança da 
ONU e é contra sanções à nação do Oriente Médio. Os Estados Uni­
dos buscara o apoio do governo brasileiro por se tratar de úma voz
influente no cenário mundial. !
(Hiilary deve pressionar Brasil em relação ao Irã (adaptado).
Disponível em: <http://opiniaoenoticia. com. br/intemqcional>.
Acesso em: 24 fev. 2010.)
Nesse caso, a pressão dos EUA sobre o Brasil constituí a informação 
principal contida no tópico frasal. Tal dado é aprofundado pelas frases 
subsequentes na medida em que apresentam causas para essa pressão, como 
a atual posição do Brasil em relação ao Ira e sua influência no cenário 
mundial. Note ainda que, caso o autor quisesse, poderia ter explicitado 
essa relação causai, utilizando palavras/expressões como porque, uma vez 
que, Isso se deve a, porquanto etc.
2.2.3. Apresentando uma conseqüência do que foi exposto no 
tópico frasal
Como acabamos de dizer, relações de causa-consequência são muito 
freqüentes no texto argumentativo, servindo como uma boa estratégia de 
desenvolvimento de tópico frasal.
Leia o exemplo a seguir:
O aquecimento global tomou-se um assunto central na mídia, 
com longas reportagens e anúncios que visam à conscientização das 
pessoas. Tal espaço nos veículos de comunicação, ainda que não possa 
ser dissociado de interesses econômicos, já trouxe grandes avanços 
às discussões sobre esse tema, como a realização de encontros entre 
dirigentes de países e a implantação da educação ambiental como 
componente curricular em algumas escolas.
Nesse caso, optou-se por desenvolver a ideia central do tópico fra­
sal expondo-lhe uma conseqüência. Assim, logo depois de apresentar a 
questão do interesse midiático pelo aquecimento global, o texto introduziu 
desdobramentos desse íato, nos âmbitos político e educacional. Perceba 
que essas frases poderiam ter seu caráter consecutivo reafirmado porpalavras/expressões como consequentemente, por conseguinte, dessa 
forma etc.
2.2.4. Apresentando um exemplo do que foi exposto no 
tópico frasal
Como o tópico frasal geralmente é composto por uma frase de sentido 
mais genérico e amplo, é comum utilizar exemplos para desenvolvê-lo. 
Veja:
A chuva que atingiu a cidade de São Paulo na madrugada e manhã 
desta quinta-feira (25) ainda provocava onze pontos de alagamento 
na cidade por volta das 12h30. Destes, três eram intransitáveis. Um 
deles íicava na Avenida das Nações Unidas, altura da Praça Fuad Elias 
Nauphal (...). O outro era no cruzamento das avenidas Santo Amaro e 
Roque Petroni Júnior (...). O terceiro ponto está localizado na região 
central na Rua Barra do Tibaji, altura da Rua Irradiação, em ambos 
os sentidos. Outros dez pontos de alagamento foram registrados nesta 
quinta, mas já estavam inativos às 12h30.
{Chuva causa pontos àe alagamento e deixa trânsito acima da média 
em SP. Disponível em: <http://gl.globo.com/ciencia-e-saude>.
Acesso em: 25 fev. 2010.)
Nesse parágrafo, o tópico frasal composto pelo primeiro período intro­
duz uma informação acerca dos danos causados pela chuva em São Paulo. 
Contudo, como esse dado é muito genérico, o autor da notícia optou por 
aprofundá-lo com exemplos de locais onde houve alagamento, situando-os 
de forma mais específica.
2.2.5. Apresentando uma oposição ao que foi expôsto no 
tópico frasal
Não é raro encontrar parágrafos em que o autor primeiro lança uma 
ideia geral, no tópico frasal, porém logo depois a contrapõe a outra infor­
mação, presente nas frases seguintes. Veja o exemplo abaixo:
Muitas pessoas acreditam que a segurança em uma sociedade 
só pode ser garantida por um policiamento ostensivo nas ruas. No 
entanto, pesquisas revelam que países que adotaram essa estratégia 
tiveram resultados muito menos significativos do que outros que 
investiram em educação. Tal fato revela serem lápis, papel e giz 
mais eficientes que fuzis, algemas e patrulhas no sentido de asse­
gurar a ordem social.
Nesse caso, ao tópico frasal sobre a pretensa relação entre policiamen­
to ostensivo e segurança, o autor acrescenta outras frases que conduzem 
a argumentação para uma direção oposta. Assim, em vez de uma paz
52 TÉCNICAS DE REDÁÇÃÓ PARA CONCURSOS Liliàn Furtado e Vinícius Carvalho:Pereira
armada, os períodos que expandem o tópico frasal defendem a educação 
como forma de garantir a ordem social. Note-se também o papel do co- 
nectivo no entanto, que explicita a relação de oposição entre as ideias 
apresentadas.
3. EXERCÍCIOS
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 1. 
Memória - Potencial para o futuro
Treinar a memória eqüivale a treinar os músculos do corpo ~ é preciso 
usá-la ou ela atrofia. Há duas boas maneiras para fazer isso: a primeira é 
a leitura, porque, no instante em que se lê algo, ativam-se as memórias 
visual, auditiva, verbal e lingüística. "A qualidade do que se lê importa mais 
que a quantidade, porque gostar do assunto gera interesse" diz o médico 
e pesquisador Iván Izquierdo, diretor do Centro de Memória da Pontifícia 
Universidade Católica do Rio Grande do SuL A memória sofre influência 
do humor e da atenção, despertada quando existe interesse em determí- 
nado assunto ou trabalho - o desinteresse, ao contrário, é uma espécie 
de "sedativo" que faz a pessoa memorizar mal. A outra forma de deixar a 
memória viva é o convívio com familiares e amigos, com quem se podem 
trocar ideias e experiências. "Palavras cruzadas são inferiores à leitura, mas 
também ajudam. Da mesma forma que ouvir uma música e tentar lembrar 
a letra ou visitar uma cidade para onde já se viajou e relembrar os pontos 
mais importantes" afirma Izquierdo.
É preciso corrigir o estilo de vida para manter a memória funcionando 
bem. "Uma pessoa de 40 anos só sofre de esquecimento se viver estressada 
e tiver um suprimento de informações acima do que é capaz de processar. 
Não dá para esperar o mesmo nível de retenção de informação quando 
se lê um e-mail enquanto se conversa ao telefone e é interrompido pela 
secretária. É preciso dar tempo para o cérebro" explica o psiquiatra Orestes 
Forlenza, da USP.
Segundo Barry Gordon, professor da Johns Hopkins Medicai Institution, 
a memória "comum" focaliza coisas específicas, requer grande quantidade 
de energia mental e tem capacidade limitada, deteriorando-se com a 
idade. Já a "inteligente" é um processo que conecta pedaços de memória 
e conhecimentos a fim de gerar novas ideias. É a que ajuda a tomar deci­
sões diárias, aqueia "luz" que se acende quando se encontra a solução de 
um problema. Por exemplo: a comum esquece o aniversário da mulher; 
a inteligente lembra o que poderia ser um presente especial para e!a. A 
comum esquece o nome de um conhecido encontrado na rua; a inteligente 
lembra o nome da mulher dele e onde ele trabalha, pistas que acabam 
levando ao nome da pessoa.
(Ana Tereza Clemente e Aida Veiga. Receitas para a inteligência.
Época, 31.10.2005, p.77-78.)
Cap. fi ~ O PARÁGRAFO 53
1. (Cesgranrio) No segundo parágrafo, a opinião do psiquiatra Orestes Forlenza
em relação ao tópico frasal (afirmação inicial):
a) esclarece, através de dados estatísticos, pontos obscuros da introdução.
b) exemplifica o que foi dito anteriormente.
c) explica a finalidade da afirmação feita.
d) conclui a ideia anterior.
e} fundamenta a afirmação anterior.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 2.
Juiz de Fora, 09/03/1945.
Querido Carios,
Afetuoso abraço.
Leio nos jornais que você pediu demissão. Sem dúvida é uma pena 
para o Brasil, mas você estã correto. E outros dias virão.
Pessoalmente, não posso deixar de lhe agradecertantas finezas que você 
me prestou, sempre tão solicitamente, quando no exercício do cargo.
Confirmo meu telegrama de hoje, pedindo-lhe o favor de me represen­
tar no almoço de sábado próximo, e de transmitir minha solidariedade à 
declaração de princípios do 1 Congresso de Escritores.
Abandonei a colaboração n'A Manhã, sê bem que estivesse gostando, 
pois me dava um certo treino de escrever prosa, e além disso os 800 
cruzeiros me eram necessários, nas circunstâncias atuais de minha vida.
Mas o governo excedeu-se, perdeu todo o controle, divorciou-se por 
completo das aspirações populares e esgotou o seu já fraco conteúdo.
De qualquer forma, continuar os artigos seria uma espécie de colabo- 
racionismo.
Como você sabe, continuo em regime de saúde, por isso não posso 
tomar parte pessoalmente na campanha que se desenrola. Entretanto, 
estou bastante atento à mesma; por isso - caso você julgue oportuno - 
poderá divuigar que estou solidarizado com a campanha democrática, e 
absolutamente contra os métodos do governo. Se acharem interessante, 
poderei escrever, mesmo sobre assunto político, pequenas crônicas e notas
- desde que minha saúde o permita.
Que coisa a morte do Mário, hein? Fiquei muito sentido, e, sabendo que 
vocês eram muito amigos, é o caso de se apresentar pêsames a você.
Em que pé está o nosso livro? E o seu?
Então, querido Carlos, lembranças a Dolores e Maria Julieta.
O abraço amigo do
Murilo
P.S. Lembranças também ao João Cabral.
{Folha de S. Paulo, 11.05.1991.)
TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Liliarí Furtado e Vinícius Carvalho Pereira.
(Unidoeste) O parágrafo pode ser considerado um microtexto; dessa forma, 
deve conter introdução {tópico frasal), desenvolvimento e conclusão. Com base 
nessa afirmativa, releia o 4.° parágrafo e identifique a alternativa correta em 
relação à sua estrutura:
a) 0 tópico frasal inicia em "Abandonei" e se estende até "gostando".
b) O tópico frasal contém uma atitude concessiva justificada no desenvolvimento.
c) Na conclusão, fica explicitado seu desejo de não colaborar com as atitudes do 
governo, seja de forma direta ou indireta.
d) Todas estãocorretas.
e) n.d.a.
teia o texto a seguir para responder à questão de número 3.
Homenagem ao dia do revisor e ao dia do diagramador, 
transcorrido em 28 de março
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Senadores,
O dia 28 dé março é duplamente significativo para os profissionais 
que exercem atividades ligadas à indústria cultural. É que nessa data se 
comemoram o Dia do Revisor e o Dia do Diagramador, duas categorias 
profissionais da maior importância no mundo contemporâneo, no qual a 
informação não é mero deleite, mas um produto imprescindível a toda e 
qualquer sociedade.
Nos primórdios da História, Sr. Presidente, nossos antepassados prescin­
diam de um sistema eficaz de comunicação, em especial da comunicação 
de massa, já que essa ação se dava basicamente no plano interpessoal e 
por meio de um sistema de signos rudimentar. Nas sociedades contempo­
râneas, a vida cotidiana seria absolutamente impensável sem um sistema 
de comunicação ubíquo e permanente.
O diagramador tem um ampio campo de atuação, seja na atividade jor­
nalística, seja no ramo da editoração. Sua função consiste em programar o 
ieiaute das capas e das páginas de uma publicação, de forma a dar-ihe aspecto 
agradável e a facilitar a ieitura. Distribuindo os textos, as fotos e ilustrações, e 
utilizando os recursos gráficos ou visuais disponíveis, ele procura facilitara co­
municação com o leitor, em conformidade com a hierarquia das matérias.
(...) Por sua vez, a função do revisor consiste em procurar no texto a ser 
publicado, ou mesmo difundido por meio eietrônico, incorreções gramaticais 
e erros de ortografia, pontuação e digitação. É o revisor quem dá segurança 
aos profissionais que elaboram o texto, os quais, por mais competentes 
que sejam, estão sujeitos a erros. Alguns erros, por vezes, de tão sutis ou 
imponderáveis, passam até mesmo pelo chamado "oiho clínico” do revisor, 
o que dá a noção das dificuldades dessa tarefa.
Em seu livro Jornal história e técnica, Juarez Bahia, decano do jornalismo 
brasileiro e autor de vários livros sobre essa nobre atividade, pontificava:
"Uma peça da redação, o trabalho da revisão está tão intimamente ligado 
ao jornal e é tão indispensável quanto qualquer outro setor fundamental. 
Todavia, pode-se dizer que é a função mais simples e mais rotineira na
Cap. li - O PARÁGRAFO EDI
produção jornalística". Ao qualificar a revisão de função "simples", Bahia 
não pretendeu desmerecer a tarefa, mas apenas delimitar seu espaço na 
complexidade da produção jornalística. Tanto é assim, Sr. Presidente, que 
mais adiante ele mesmo acrescenta: "A revisão está identificada com a 
composição. A correção do estilo, a obediência à ortografia, o originai de 
leitura agradável, o formato comum, a clareza do texto aproveitam tanto 
ao revisor quanto ao operador. Um não é menos responsável que o outro, 
na soma de atribuições que detêm".
Há que se íevar em conta, ainda, que o trabalho de um revisor não se 
limita à redação de um periódico, como lembra Renato Barraca, revisor, 
copidesque e tradutor: "O revisor - afirma - é um profissional que lê de 
tudo, o tempo todo, goste ou não da leitura a que é obrigado em razão do 
seu ofício. Assim, um dia ele enfrenta um livro de medicina, no outro um 
de engenharia, depois uma obra sobre política internacional ou a epidemia 
de dengue no Rio de Janeiro, isso tudo de olho na gramática, no estilo, na 
concordância e na uniformização da obra; além disso, tem de reservar um 
tempo para estudar um pouco, dar uma reciclada no inglês, se atualizar 
com os jornais, as notícias, enfim, manter-se vivo e alerta".
(...) Grandes jornalistas brasileiros se revelaram após passar pela"cozinha" 
do jornal, como era chamada a revisão antigamente. O mesmo ocorreu 
com grandes escritores, entre os quais sobressai o nome de Machado de 
Assis. Autodidata, Machado de Assis se formou trabalhando como revisor 
e percorrendo as estantes do Real Gabinete Português de Leitura, até se 
transformar num dos expoentes máximos da literatura brasileira.
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, a homenagem que se presta 
todo dia 28 de março aos revisores e diagramadores é uma forma de 
homenagear, igualmente, o jornalismo, a arte e a cultura brasileira, tão 
importantes são as atividades desempenhadas por essas categorias.
Nesse momento, quero me associar àqueles que homenageiam os re­
visores e diagramadores, fazendo votos para que sua contribuição ao 
nosso entretenimento, à nossa informação e à nossa cultura seja sempre 
reconhecida por todos.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.
Muito obrigado!
{Dísponíve! em: <www.vaimiramarai.com.br/disc-dia-revisor-diagramador.html>).
(ÜFRN - adaptada) O trecho entre "Grandes jornalistas brasileiros" e "máximos
da literatura brasileira" estrutura-se do seguinte modo:
a) o primeiro período apresenta um tópico frasal; o segundo introduz um outro tópico; 
no terceiro, há uma conclusão, que une os dois tópicos tematizados, desenvolvendo 
uma exempiificação.
b) o primeiro período contém o tópico frasal; no segundo, consta o desenvolvimento 
por exempiificação; o terceiro apresenta a conclusão.
c) o primeiro período inicia um tópico frasal; o segundo dá continuidade a esse tópico, 
estabelece uma comparação e a exemplifica; o terceiro concluí, desenvolvendo a 
exempiificação.
d) o primeiro período traz um tópico frasal que não é desenvolvido; o segundo introduz 
um outro tópico; o terceiro contém a conclusão.
'■ TÉCNIÇÀS DE RÉDÂÇÃQ PARA-CONCURSOS -, Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 4.
Quem trabalha no magistério, sentindo as agruras e os percalços do dia 
a dia, ieva sempre consigo uma esperança. Quem trabalha no magistério, 
olhando sensivelmente para o semblante e para as necessidades dos edu- 
candos, leva sempre consigo a confiança. Quem trabalha no magistério, 
vivendo um rol imenso de dificuldades, leva sempre consigo a ideia de 
luta e de conquista.
Esperahça, confiança e conquista são noções que devem ser aqui entre­
laçadas. Os homens fazem a história quando se movimentam no horizonte 
da esperança. Os homens superam as circunstâncias vividas no presente 
quando, juntos, em uma mesma motivação, compartilham a confiança. Os 
homens estabelecem novas formas de convivência e de ação sociaí quando 
se situam no horizonte das conquistas.
A esperança, essa característica exclusivamente humana, nos dirige para 
dias melhores que os atuais, fazendo nascer a ideia de um Brasil onde não 
mais existam injustiça, discriminação e marginalização social. A confiança, 
desenvolvida e amadurecida nos processos de convivência e de diálogo, nos 
diz que existem outras pessoas - coparticipantes desses processos - que 
percebem a necessidade de união e mobilização para a transformação da 
sociedade. A conquista, somada à esperança e à confiança entre homens 
colados em um'mesmo propósito, dirige a ação coletiva para o enfrenta- 
mento e a superação de determinadas contradições da realidade.
Enganam-se os radicais do determinismo! Os professores praticam em 
suas vidas a esperança e a confiança; por isso mesmo, em que pese a de­
magogia discursiva dos políticos incompetentes, os professores não foram 
totalmente massacrados pelas manobras ideológicas. Com a conquista da 
redemocratização do país pelo povo brasileiro, os professores reforçam e 
consolidam os seus movimentos no sentido de reivindicar melhores con­
dições para si e, nestes termos, poder trabalhar com mais dignidade. Ao 
se colocarem como uma classe, os professores instauram e disseminam 
denúncias, reivindicações e decidem so.bre diferentes objetos de conquista 
através da luta unida. "Coragem", "conflito" “desobediência" etc deixam de 
ser meras palavras de ordem e passam a ser instrumentos concretamente 
vivenciados em práticas associativas de cunho político.No bojo das condi­
ções de trabalho e de ensino deveriam entrar, também, as condições para 
o acesso aos livros e para a realização de leituras diversas.
(Ezequtel T. da Sílva. Elementos de pedagogia da leitura. São Pauio: Martins 
Fontes, 1998, p. 13-15, com adaptações.)
(CESPE) A partir das ideias do texto, assinale a opção correta.
a) No primeiro parágrafo, há a ideia de que, para trabalhar no magistério, todos os 
indivíduos devem ser esperançosos, confiantes e lutadores.
b) O segundo parágrafo desenvolve em forma de justificativa as três palavras do tópico 
frasal respectivamente: esperança, confiança e conquista.
c) • No terceiro parágrafo, apresentam-se paráfrases das ideias do segundo parágrafo
em que se descrevem as noções de esperança, confiança e conquista.
d) No último parágrafo, faz-se uma crítica aos radicais do determinismo ao mesmo 
tempo em que se conclamam esses radicais a confiarem e apoiarem as atividades 
dos professores.
Cáp. í| - 0 PARÁGRAFO
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 5. 
Baiada de um medroso - Parte da história do país se 
concentra num pedaço do Rio
O centro do Rio de Janeira é o único pedaço do Brasii onde a histó­
ria se acumula num mesmo espaço. Ali é possível sair de um prédio de 
escritório no mais moderno estilo Dallas, atravessar a rua, passar ao iado 
do prédio art dêco onde funcionou o primeiro grande estúdio de rádio do 
país, contornar esse prédio para cair diretamente numa ladeira.colonial {e 
com uma perspectiva mais acolhedora que as ruas de Parati ou o casario 
de Salvador), bater num palácio do sécuio 17 e cair direto numa favela 
que tem a cara dos anos 80 - .e que, até mesmo esta, tem história: foi a 
primeira faveia com esse nome do país.
A trajetória descrita acima pode ser percorrida em dez minutos a pé, 
partindo-se da Avenida Rio Branco {ela mesma, a primeira avenida moderna 
do país, inspirada em Hausmann) e indo até a Saúde peía simpática Rua 
do Jogo da Bola. Para os mais curiosos, é possível seguir um pouco em 
frente até encontrar, perdida em meio aos armazéns do cais, uma antiga 
ilhota, com seu cordão de pedras na base, agora nostálgico de mariscos, 
ostras e marés.
Descrevo esse iado do centro carioca porque o percorri ainda outro dia. 
Passear pelo centro da cidade de São Sebastião vem sendo, há muitos anos, 
uma de minhas distrações entre encontros de negócios ou dias de trabalho. 
Com o tempo e a vontade de estudar história, fui aos poucos descobrindo 
que a maior parte dos episódios importantes da vida brasileira se desenrolou 
num pequeno espaço, uma espécie de quadrado com pouco mais de dois 
quilômetros de iado. Aprendi, assim, a ver uma outra cidade.
ASi a imaginação treinada permitiu o prazer de remontar fatos passados 
in situ: ataques piratas, desembarque e embarque de reis, casa de perso­
nagens históricos, as passeatas que derrubaram dom Pedro I, as festas 
da Abolição, Proclamação da República, vitória da Revolução de 30, o 
nascimento do samba, da arquitetura moderna etc. isso numa região que 
hoje segue o padrão do centro das grandes metrópoles brasileiras: algum 
movimento financeiro, comércio em decadência, calçadas tomadas por 
marreteiros, pequenos negócios.
É, portanto, região ainda cheia de gente. Quando comecei meus passeios, 
duas décadas atrás, cada nova incursão era descoberta que alimentava 
um interesse maior pelo passado. Ali comecei a tentar formar os mapas 
mentais da vida do Brasil. Mas, de uns tempos para cá, mais familiarizado 
com o lugar, voitei a vê-lo com outros oihos.
Descobri que os mapas imaginários que me serviram para ajudar a 
entender o país estão expostos a todos ~ mas são desconhecidos dos 
cidadãos que por ali passam. E que falta muito pouco para transformar o 
trajeto de cada dia em uma ligação mais cidadã com o lugar.
Dezenas de milhares de pessoas saltam todos os dias das barcas, cruzam 
uma estranha pirâmide plantada no meio do asfaito da Praça 15, atravessam 
a dita praça sem oihar o Paço e se distribuem pelas mas, tomando sua 
direção. Mesmo sem parar, poderiam ler três ou quatro pequenas placas 
do tipo: "Na escadaria que ficava ao pé deste chafariz (a tal pirâmide), em-
TECNiCAS DE REDAÇÃO PARA ÇONCURSÒS— üVMn Furtado é Viníciüs Corvalho Pereira
barcou Dom João VI para Lisboa em 1821." E metros adiante: "Nesta praça 
se comemorou a Abolição da Escravidão." Um em cada dez cidadãos que 
lessem essas placas teria um belo curso de história do país e da cidade
- como, aliás, é padrão em muitas cidades deste imenso planeta. Assim, 
possivelmente, me sentiria melhor. Do modo como a coisa está, passear 
pelo Rio de Janeiro tem me feito sentir muito sozinho - e não há solidão 
maior que aquela vivida em meio à multidão. Sinto-me como um ET, com 
vontade de parar as pessoas na rua para dar as informações necessárias 
para elas imaginarem o resto, o que só me faz sentir ainda mais estranho.
Os velhos prédios cheios de história me parecem a flor de Drummond: 
brotando do asfaito sem cor e sem forma, uma rosa que só eu vejo.
Conto tudo isso porque um dia imaginei o contrário: interessar-me pela 
história era me ligar ao fundo comum de todos, uma forma também de che­
gar perto dos brasileiros. Mas depois desse esforço, noto com certa tristeza 
que me tornei mais "diferente" ainda. Não me conformo, contudo. Divago 
sobre a natureza do que me parece um mistério: é necessário muito mais 
esforço para apagar algo da memória do que para avivá-la - sem falar que 
os resultados de tal tentativa de recalque costumam ser frustrações ainda 
maiores. No entanto, assim é. Passantes atravessam as flores de seu passado 
cegos e ignorantes para elas, completando o circuito de cumplicidade com os 
que sabem, mas não querem que se saiba. Assim me identifico com a elite 
brasileira. Para me livrar do mai, ando pensando em eu mesmo comprar um 
pincel para pichar as informações. Mas como sou do tipo cheio de fantasia, 
paralisa-me a ideia de fazer companhia ao povo brasileiro na cadeia - ainda, 
a muitos olhos vigilantes, o lugar adequado para essas ideias.
(Jorge Caldeira. Revista BRAVO!. São Paulo, ano 1, n. 5,
p. 18-19, fev. 1998.)
(CEFET-Química) Em relação ao modo de organização do primeiro parágrafo
do texto, é possível afirmar que o tópico frasal
a) está implícito ou diluído no parágrafo.
b) e apresenta sob a forma de uma alusão histórica.
c) se apresenta sob a forma de uma declaração iniciai.
d) se apresenta sob a forma de uma divisão ou discriminação de ideias a serem de­
senvolvidas.
Leia o texto a seguir, para responder à questão de número 6. 
Desafios do crescimento econômico
A crise do sistema financeiro internacional, que ameaça lançar o mun­
do numa profunda recessão, revela a importância do papel do governo 
no funcionamento da economia em diferentes dimensões, sobretudo na 
promoção de uma meíhor operação dos mercados, da estabilidade e do 
crescimento econômico.
Entretanto, após algumas décadas de excessivo crescimento dos gastos 
governamentais e da crise financeira que se abateu sobre inúmeros go­
vernos, particularmente em países da América Latina, a eficiência da ação 
pública começou a ser questionada.
Cap.. II - O PARÁGRAFO,
Novamente vigoravam ideias de que as economias deveriam ser libe­
ralizadas da ação governamentai, de que, quanto menos governo, meihor 
e de que o setor privado por si só resolveria todos os problemas.
Na realidade, o que se notou foi uma grande confusão. Em vez de 
defendermos um governo eficiente, comprometido com o crescimento 
econômico, acabamos por tentar excluir o governo -das funções econômi­
cas, esquecendo seu importante papel. Era muito comum a ideia de que 
a privatização e a liberalização dos mercados seriam condições eficientes 
para que os países entrassem numa rota de crescimento econômico.
Entretanto, a realidade mostrou que essabandeira não tem sustentação. 
A crise financeira que estamos atravessando - e não sabemos ainda suas 
reais conseqüências sobre a economia mundial - realça um fato incontes- 
te: faltou a presença do governo, mediante uma regulação mais ativa do 
mercado financeiro.
Recente estudo promovido pela Comissão para o Crescimento Econômico, 
cujo objetivo primordial é entender o fenômeno do desenvolvimento com 
base na experiência mais exitosa dos países durante as décadas de 1950 a 
1980, transmite informações relevantes para o entendimento do momento 
que vivemos, ainda que seu objetivo seja totalmente distinto.
Em primeiro lugar, não estão em xeque as inegáveis e insubstituíveis 
virtudes que os mercados possuem quando funcionam de maneira mais 
üvre, sem interferências externas, na alocação dos recursos.
Entretanto, não podemos esquecer que as ações tomadas pelos diversos 
agentes econômicos se baseiam em perspectivas de retornos privados e, 
portanto, na ânsia de obtertais retornos, mercados como o financeiro podem 
gerar instabíiidades. O papel da regulação, tarefa que deve ser executada 
por autoridades governamentais, não pode ser esquecido.
Por outro lado, apesar da virtude dos mercados, não se pode esquecer 
que eles não são garantia para a promoção de desenvolvimento econômico 
ou a meihor distribuição de renda.
O relatório da comissão enfatiza o papel do governo no processo de 
desenvolvimento econômico, mostrando inicialmente que o processo de 
desenvolvimento é um fenômeno complexo e difícil de ser entendido. "Não 
damos aos formuladores de políticas públicas uma receita ou uma estratégia 
de crescimento. Isso porque não existe uma única receita a seguir."
Mais adiante, afirma: "Não conhecemos as condições suficientes para o 
crescimento. Podemos caracterizar as economias bem-sucedidas do pós- 
guerra, mas não podemos apontar com segurança os fatores que selaram 
seu êxito nem os fatores sem os quais eias poderiam ter sido exitosas."
Certamente essas frases devem nos deixar algo perplexos, especialmente 
quando ouvimos as certezas que dominam a maioria dos analistas eco­
nômicos espalhados pelo mundo, em especial quando tratam de fornecer 
fórmulas prontas para o crescimento dos países.
A comissão reconhece que a dificuldade do entendimento sobre o 
fenômeno do crescimento dificulta a ação governamentai na definição 
das estratégias a serem seguidas. A recomendação dada é a de que o 
governo "não deve ficar inerte, por temor de malograr; os governos devem 
testar diversos programas e devem ser rápidos em aprender quando dão 
errado. Se dão um passo errado, devem tentar um plano diferente, e não 
submergir na inação ou recuar".
Outra recomendação dada pela comissão se relaciona com a tentativa 
de adoção de receitas prontas de outros países: "Os planos de ação ruins 
de hoje em gerai são os bons pianos de ontem, mas aplicados por tempo 
demasiado".
Em suma, a comissão defende um governo crivei, comprometido com o 
crescimento e eficiente. Um governo forte, capaz de realizar investimentos 
na área de educação, saúde e infraestrutura a fim de elevar a rentabilidade 
dos investimentos privados.
É com uma ação eficiente do governo e do setor privado que certamente 
poderemos promover o desenvolvimento dos países.
(Carlos Luque. Folha de S. Paulo, 30.09.2008.)
6. (FGV) A respeito do texto, analise as afirmativas a seguir:
I. O primeiro parágrafo se constrói com um tópico frasal de declaração inicial.
il. A expressão "Em primeiro lugar" (L.37) se articula textualmente com a expressão 
"Por outro lado" (L.48).
III. A conclusão do texto simplesmente reafirma sua introdução.
Assinale:
a) se somente as afirmativas I e ili estiverem corretas.
b) se todas as afirmativas estiverem corretas.
c) se somente as afirmativas II e ill estiverem corretas.
d) se nenhuma afirmativa estiver correta.
e) se somente as afirmativas i e il estiverem corretas.
V TÉCNICAS DE REDAÇÃO PÁRA CONCURSOS - Lilian .Furtado e Vinícius Carvalho Pereira .
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 7.
Os cinco sentidos
Os sentidos são dispositivos para a interação com o mundo externo 
que têm por função receber informação necessária à sobrevivência. 
É necessário ver o que há em volta para poder evitar perigos. O tato 
ajuda a obter conhecimentos sobre como são os objetos. O olfato e o 
paladar ajudam a catalogar eiementos que podem servir ou não como 
alimento. O movimento dos objetos gera ondas na atmosfera que são 
sentidas como sons.
As informações, baseadas em diferentes fenômenos físicos e químicos, 
apresentam-se na natureza de formas muito diversas. Os sentidos são 
sensores cujo desígnio é perceber, de modo preciso, cada tipo distinto de 
informação. A luz é parte da radiação magnética de que estamos rodeados. 
Essa radiação é percebida através dos olhos. O tato e o ouvido baseiam- 
se em fenômenos que dependem de deformações mecânicas. O ouvido 
registra ondas sonoras que se formam por variações na densidade do ar, 
variações que podem ser captadas pelas deformações que produzem em 
certas membranas. Ouvido e tato são sentidos mecânicos. Outro tipo de 
informação nos chega por meio de moléculas químicas distintas que se 
desprendem das substâncias. Eias são captadas por meio dos sentidos
. .Cap., II - 0 PARÁGRAFO ' m
químicos, o paladar e o olfato. Esses se constituem nos tradicionais cinco 
sentidos que foram estabelecidos já por Aristóteles.
(Lucia Santaella. Matrizes da Linguagem e Pensamento.
São Paulo: Iluminuras, 2001.)
7. (PUC-SP) A leitura atenta do texto permite afirmar que
a) a classificação dos sentidos estabelecida por Aristóteles é rejeitada pela autora, que 
propõe novas categorias.
b) o tópico frasal do 1.° parágrafo apresenta uma definição de sentidos, enquanto 
o desenvolvimento do parágrafo retoma e amplia três deles: o tato, o olfato e o 
paladar.
c) os sentidos são sensores que têm a função específica de perceber cada tipo distinto 
de informação, seja ela baseada em fenômeno físico ou químico.
d) tanto o ouvido quanto o oifato podem captar as informações trazidas pelas moléculas 
químicas.
e) o paladar e o olfato são sensores que percebem informações baseadas em fenômenos 
físicos e químicos.
teia o texto a seguir para responder à questão de número 8. 
A fábula da cidade
Uma casa é muito pouco para um homem; sua verdadeira casa é a 
cidade. E os homens não amam as cidades que os humilham e sufocam, 
mas aquelas que parecem amoldadas às suas necessidades e desejos, hu­
manizadas e oferecidas - uma cidade deve ter a medida do homem.
É possível que, pouco a pouco, os lugares cordiais da cidade estejam 
desaparecendo, desfigurados peio progresso e pela técnica, tornados 
monstruosos peta conspiração dos elementos que .obrigam as criaturas a 
viver como se estivessem lutando, jungidas a um certo número de rituais 
que as impedem de parar no meio de uma calçada para ver uma criança 
ou as levam a atravessar uma rua como se estivessem fugindo da morte.
Em cidades assim, a criatura humana pouco ou nada vale, porque não 
existe entre ela e a paisagem a harmonia necessária, que torna a vida' 
uma coisa digna. E o habitante, escravizado pelo monstro, vai-se repetin­
do diariamente, correndo para as fiías dos*alimentos, dos transportes, do 
trabalho e das diversões, proibido de fazer algo que lhe dê a certeza da 
própria existência.
Não será excessivo dizer que o Rio está correndo o perigo de incluir-se 
no número das cidades desumanizadas, devoradas pela noção da pressa 
e do combate, sem rostos que se iluminem em sorrisos e lugares que 
convidem à permanência.
Mal os seus habitantes podem tomar cafezinho e conversar sentados; já 
não se pode passear nem sorrir nem sonhar, e as pessoas andam como se 
isso fosse um castigo, uma escravidão que as leva a imaginar o refúgio das 
casas ondeas tardes de sábado e os domingos as insulam, num temor de 
visitas que escamoteiam o descanso e a intimidade familiar. E há mesmo 
gente que transfere os sonhos para a velhice, quando a aposentadoria.
TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
triunfante da morte, facultar dias inteiros numa casa de subúrbio, criando 
canários, decifrando paiavras cruzadas, sonhando para jogar no bicho, 
num mister que justifique a existência. E outras pessoas há que esperam 
o dia em que poderão fugir da cidade de arranha-céus inamistosos, de 
atmosferas sufocantes, de censuras e exigências, humilhações e ameaças, 
para regressar aos iugares de onde vieram, iludidas por esse mito mundial 
das grandes cidades. E ainda existem as que, durante anos e anos, com­
pram terrenos a prestações ou juntam dinheiro à espera do dia em que 
se plantarão para sempre num lugar imaginário, sem base física, naquele 
sítio onde cada criatura é um Robinson atento às brisas e delícias de sua 
ilha, ou o síndico ciumento de um paraíso perdido.
Para que se ame uma cidade, é preciso que ela se amolde à imagem e 
semelhança dos seus munícipes, possua a dimensão das criaturashumanas.
Isso não quer dizer que as cidades devam ser pequenas; significa apenas 
que, nas mudanças e transfigurações, elas crescerão pensando naqueles 
que as habitam e completam, e as tornam vivas. Pois o homem é para a 
cidade como o sangue para o corpo ~ fora disso, dessa harmoniosa circu­
lação, há apenas cadáveres e ruínas.
O habitante deve sentir-se livre e solidário, e não um guerreiro sozinho, 
um terrorista em silêncio. Deve encontrar na paisagem os motivos que o 
entranham à vjda e ao tempo. E ele não quer a paisagem dos turistas, 
onde se consegue a beleza ínfensa dos postais monumentalizados; reclama 
somente os lugares que lhe estimulem a fome de viver, sonegando-o aos 
cansaços e desencantos. Em termos de subúrbio, ele aspira ao bar debaixo 
de árvores, com cervejinha gelada e tira-gosto, à praça com "piayground" 
para crianças, à retreta coroada de valsas.
Suprimidas as relações entre o habitante e seu panorama, tornada 
incomunicável a paisagem, indiferente a cidade à fome de simpatia que 
faz alguém preferir uma rua à outra, um bonde a um ônibus, nada há 
mais que fazer senão alimentar-se a criatura de nostalgia e guardar no 
fundo do coração a imagem da cidade comunicante, o reino da comunhão 
humana onde se poderia dizer "bom dia" com a convicção de quem sabe 
o que isso significa.
E esse risco está correndo o Rio, cidade viva e cordial. Um carioca dos 
velhos tempos ia andando pela avenida, esbarrou num cidadão que vinha 
em sentido contrário e pediu desculpas. O outro, que estava transbordante 
de pressa, indignou-se:
O senhor não tem o que fazer? Esbarra na gente e ainda se vira para 
pedir desculpas?
Era a fábula da cidade correndo para a desumanização.
(Ledo Ivo. in Herbert Sale (org.) Crônicas - Antologias Escolares Edijovem.
Rio de janeiro: Tecnoprint, s/d.)
(UNIRIO) Analisando-se a estrutura textuai, a identificação incoerente ocorre em
a) "... o Rio está correndo o perigo de incluir-se no núm ero das cidades desumanizadas, 
..." (§ 4.°) = hipótese
b) "Uma casa é m uito pouco para um hom em , sua verdadeira casa é a cidade." {§ 1.°) 
= tóp ico frasai
Cap. II - O PARÁGRAFO
c) "uma cidade deve ter a medida do homem." {§ 1.°) = tese
d) "O senhor não tem o que fazer? Esbarra na gente e ainda se vira para pedir descul­
pas?" (§ 10.°) = conclusão
e) "Deve encontrar na paisagem os motivos que o entranham à vida e ao tempo. E 
ele não quer a paisagem dos turistas,..." (§ 7.°) ~ argumento
9. Leia o texto a seguir e destaque o tópico frasal de cada um dos seus pará­
grafos. 
Pobre vira classe média
Para contentar o governo, os pobres brasileiros foram galgados à condição 
de classe média. De acordo com a Fundação Getúlio Vargas e empresas de 
pesquisa, descobriu-se que quem ganha entre R$ 1.064,00 e R$ 4.591,00
- o que passa a representar quase; 52% da população atua! - pertence à 
ciasse média. Existe, sim, uma meihora no padrão de vida do pobre brasi­
leiro, mas elevá-lo a tal categoria é um pouco de pretensão. Segundo um 
jornal carioca, a notícia provocou reação em Viia Kennedy - bairro de 200 
mi! habitantes, na zona oeste do Rio, onde a maioria dos moradores se 
revoitou, pois tem consciência de que pertence à classe pobre.
Não é preciso rser economista para perceber este engodo. Basta uma 
conta rápida, envolvendo custos de moradia (aluguel ou prestação de casa 
própria), água, íuz, telefone, escola, transporte, remédios, vestuário, impostos, 
para que qualquer responsável por uma família possa perceber a mentira 
desta conclusão. O próprio responsável pela pesquisa, o economista Marcelo 
Nery, declarou: "O limite que define as faixas de cada classe concordo que 
é arbitrário, é uma simplificação. Porém o tamanho desta ciasse ou a forma 
como ela é definida é o menos importante, o mais importante é que está 
havendo um crescimento dela".
Pergunto eu, como advogada: Se os limites são arbitrários e, portanto, 
não reveiam a realidade, por que foram estipulados valores para a divi­
são das classes sociais e, mais, divulgados? Será que quem definiu estas 
novas hierarquias nunca levantou os custos dos itens citados acima neste 
artigo? Tenho certeza de que não, pois qualquer dona de casa das mais 
simples, como as da Vila Kennedy, sabe que ciasse média nunca será com 
R$ i.064,00 por mês. O único muito feiiz com este dado mascarado é o 
governo, pois agora terá um forte argumento para se apoiar nas suas 
eternas pretensões eíeitorelras, aliás, a única competência verdadeira 
que ele tem.
(Sylvia Romano. A Gazeta, 13.08.2008, com adaptações.)
4. ATIVIDADE DE PRODUÇÃO TEXTUAL
Neste capítulo, você aprendeu a estruturar as informações em pará­
grafos, de forma clara, lógica e hierarquizada. Tal organização das ideias 
em um texto permitirá uma escrita mais rápida, segura e eficiente, com 
vistas à aprovação em um concurso.
£ £ £ £ ; í íTÉCNIÇAS DE REDAÇÃO PÀRÀ ÇÒNÇURSOS - Ulián Furtado è Vinícius Ç a rv d fà
Para pôr em prática o que você viu aqui, observe a frase a seguir, 
em destaque:
A violência nas grandes capitais cresce a cada dia e a população 
não sabe mais como conviver com esse drama.
Tomando esse período como tópico frasal, redija diferentes parágra­
fos que poderiam se iniciar por ele, empregando as seguintes técnicas de 
expansão do tópico para desenvolvê-lo nas frases subsequentes:
a) Desenvolvimento apresentando uma adição ao que foi exposto no 
tópico;
b) Desenvolvimento apresentando uma causa do que foi exposto no 
tópico frasal;
c) Desenvolvimento apresentando uma conseqüência do que foi exposto 
no tópico frasal;
d) Desenvolvimento apresentando um exemplo do que foi exposto no 
tópico frasal;
e) Desenvolvimento apresentando uma oposição ao que foi exposto 
no tópico frasal.
Lembre-se: não estamos solicitando que você redija um texto dissertativo 
completo, mas apenas parágrafos argumentativos que poderiam figurar em 
uma redação. Não se esqueça também de iniciar todos eles pelo mesmo 
tópico frasal, a fim de treinar as diferentes técnicas de desenvolvimento 
do tópico.
GABARITO
1 - E 2 - C
B -C 4 - B
5 - C 6 - A
7 —C 8 - D
9 - 1 parágrafo: "Para contentar o governo, os pobres brasileiros foram gal­
gados à condição de ciasse média".
2.° parágrafo: "Não é preciso ser economista para perceber este engodo".
3.° parágrafo:"O único muito feliz com este dado mascarado é o governo, 
pois agora terá um forte argumento para se apoiar nas suas eternas pre­
tensões eleitoreiras, aliás, a única competência verdadeira que ele tem".
Cap. !1 - O PARÁGRAFO m
Sugestão de resposta à atividade de produção textuai
a) Desenvolvimento apresentando uma adição ao que foiexposto no tópico;
A violência nas grandes capitais cresce 3 cada dia e a população não sabe mais 
como conviver com esse drama. Aiém disso, a questão da saúde e da educação 
abandonadas peio governo completam um quadro de caos social a que os brasileiros 
foram abandonados, sem previsão de solução a curto prazo.
b) Desenvolvimento apresentando uma causa do que foi exposto no tópico frasal;
A violência nas grandes capitais cresce a cada dia e a população não sabe mais 
como conviver com esse drama. Essa situação insustentável tem como causa primeira 
a falta de investimentos em educação, o que acarreta problemas crônicos na rede 
pública de ensino, não assegurando uma formação de qualidade a todos os jovens. 
Assim, muitos dos que não são preparados para competir de forma equânime no 
mercado de trabalho recorrem a estratégias ilícitas para sobreviverem, aumentando 
os índices de criminalidade em âmbito nacional.
c) Desenvolvimento apresentando uma conseqüência do que foi exposto no tópico 
frasal;
A violência nas grandes capitais cresce a cada dia e a população não sabe mais 
como conviver com esse drama. Por conseguinte, as pessoas tendem a se isolar cada 
vez mais em seus carros blindados, apartamentos gradeados e condomínios murados, 
tentando afastar o outro a todo custo. Em certa medida, pode-se perceber, pois, a 
íntima relação entre violência e solidão, sendo a depressão - uma das conseqüências 
do isolamento - uma relevante causa de mortalidade atualmente.
d) Desenvolvimento apresentando um exemplo do que foi exposto no tópico fra­
sal;
A violência nas grandes capitais cresce a cada dia e a população não sabe mais 
como conviver com esse drama. Exemplo notório disso, que estampou jornais em todo 
o mundo, foi a derrubada de um helicóptero da polícia no Rio de Janeiro. Se uma 
organização responsável peia segurança pública tem seu veículo abatido como um 
passarinho atingido pelo estilingue de uma criança cruel, não se pode sequer imaginar 
a que estão expostos os civis quando dirigem seus carros pelas ruas.
e) Desenvolvimento apresentando uma oposição ao que foi exposto no tópico 
frasal.
A violência nas grandes capitais cresce a cada dia e a popuiação não sabe mais 
como conviver com esse drama. No entanto, o governo insiste em afirmar que os 
índices de criminalidade têm baixado, graças à administração ora no poder. Em vez 
de preocuparem-se com a segurança da população, alguns políticos empenham-se em 
adulterar dados de pesquisas, a fim de promoverem-se diante do eleitorado.
C ap ítu lo I II
O PARÁGRAFO DE INTRODUÇÃO
1. A ESTRUTURA GERAL DO PARÁGRAFO DE INTRODUÇÃO
No capítulo anterior, estudamos a organização de parágrafos em geral, 
investigando suas macro e microestruturas. Agora, vamos partir para uma 
análise mais detalhada de um parágrafo de importância crucial na sua 
prova de redação: o parágrafo de introdução.
Antes de nos aprofundarmos neste tema, porém, vale dizer que há bons 
textos, publicados em jornais, revistas ou na Internet, que apresentam mais 
de um parágrafo com características de introdução. Entretanto, o objetivo 
deste livro é ensinar-lhe como escrever um gênero textual muito específico, 
que não se confunde com artigos jornalísticos ou de opinião. Aqui, estamos 
nos preparando a fim de escrever redações para concursos.
O gênero redação para concurso tem características particulares, que 
o diferem dos demais: além de ser escrito com vistas a uma avaliação, em 
um curto prazo de tempo e sem consulta a outras fontes de informação, 
esse gênero tem uma exigência muito clara: o limite de linhas determinado 
pela banca.
Assim, não adianta você escrever dois ou três ótimos parágrafos 
introdutórios, se, na maioria das provas, só vai ter direito a redigir trinta 
linhas ao todo. E preciso planejar seu texto, conforme vimos no capítulo
I, tentando certa simetria entre os parágrafos. Não é necessário que eles 
tenham rigorosamente a mesma extensão, mas é interessante que não 
difiram drasticamente entre si.
Dessa forma, levando em consideração que geralmente se espera 
do candidato um texto dissertativo com quatro ou cinco parágrafos, um 
único parágrafo introdutório é o suficiente, no qual devem ser claramente 
definidos o tema do texto (proposto pela banca) e o posicionamento do 
autor (em caso de texto argumentativo), ou o tema do texto e o recorte 
proposto pelo autor (em caso de texto expositivo).
68 TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
A fim de ver melhor como esse parágrafo se articula com os demais, 
leia atentamente o texto a seguir:
Contribuição de um antropólogo
A maior contribuição do antropólogo Claude Lévi-Strauss (que, 
ainda jovem, trabalhou no Brasil, e morreu, centenário, em 2009) 
é de uma simplicidade fundamental, e se expressa na convicção 
de que não pode existir uma civilização absoluta mundial, porque 
a própria ideia de civilização implica a coexistência de culturas 
marcadas pela diversidade. O melhor da civilização é, justamente, 
essa “coalizão” de culturas, cada uma delas preservando a sua ori­
ginalidade. Ninguém deu um golpe mais contundente no racismo 
do que Lévi-Strauss e poucos pensadores nos ensinaram, como ele, 
a ser mais humildes.
Lévi-Strauss, em suas andanças pelo mundo, foi ura pensador 
aberto para influências de outras disciplinas, como a lingüística. Foi 
ele também quem abriu as portas da antropologia para as ciências de 
ponta, como a cibernética, que era então como se chamava a informá­
tica, conectando-a cora novas disciplinas como a teoria dos sistemas 
e a teoria da informação. Isso deu um novo perfil à antropologia, que 
propiciou uma nova abertura para as ciências exatas, e reuniu-a com 
as ciências humanas.
Em 1952, escreveu o livro Raça e história, a pedido da Unesco, 
para combater o racismo. De fato, foi um ataque feroz ao etno- 
centrisrao, materializado num texto onde se formulavam de modo 
claro e inteligível teses que excediam a mera discussão acadêmica 
e sé apoiavam era fatos. Comenta o antropólogo brasileiro Viveiros 
de Castro, do Museu Nacional: “Ele traz para diante dos olhos 
ocidentais a questão dos índios americanos, algo que nunca antes 
havia sido feito. O colonialismo não mais podia sair nas ruas como 
costumava fazer. Foi um crítico demolidor da arrogância ocidental: 
os índios deixaram de ser relíquias do passado, deixaram de ser 
alegorias, tomando-se nossos contemporâneos. Isso vale mais do 
que qualquer análise.”
Reconhecer a existência do outro, a identidade do outro, a cul­
tura do outro - eis a perspectiva generosa que Lévi-Strauss abriu e 
consolidou, para que nos víssemos a todos como variações de uma 
mesma humanidade essencial.
(Carlos Haag, Pesquisa Fapesp, dez. 2009, com adaptações.)
No parágrafo de introdução, o leitor logo pode perceber a tese defen­
dida pelo autor do texto: “Ninguém deu um golpe mais contundente no 
racismo do que Lévi-Strauss e poucos pensadores nos ensinaram, como 
ele, a ser mais humildes”. Veja, porém, que, antes de afirmar sua tese, o 
autor optou por fazer uma ambientação do tema, isto é, uma apresentação 
panorâmica do assunto de que fala o texto, mas sem expressar ainda seu 
ponto de vista.
. Cap. III - .0 PARÁGRAFO DE INTRODUÇÃO 69
Uma organização textual como essa, no parágrafo de introdução, não 
é obrigatória, mas se revela muito produtiva, especialmente quando temos 
de escrever rápido, como em um concurso. Redigir primeiro uma frase 
com uma informação geral acerca do tema e depois outra contendo o 
ponto de vista defendido na argumentação é um expediente para evitar o 
típico “branco” no início do texto, seção que costuma tomar mais tempo 
dos candidatos na hora da prova.
Além disso, ordenar as informações em cada parágrafo, da mais ge­
nérica para a mais específica, não é novidade para você. No capítulo II, 
vimoscomo essa estrutura organiza as ideias e favorece o fluxo da leitura 
e da escrita no âmbito de cada parágrafo.
A redação da introdução é uma das partes mais importantes na elabo­
ração de um texto dissertativo argumentativo, uma vez que os parágrafos 
de desenvolvimento devem remeter diretamente à tese apresentada no início 
do texto. É um erro comum dos candidatos redigir parágrafos argumenta- 
tivos que não respaldam especificamente a tese apresentada na introdução, 
limitando-se apenas a expandir o tema apresentado no primeiro parágrafo. 
Tal abordagem só é plausível em um texto dissertativo expositivo, em que 
não há tese a ser defendida, apenas tópicos a serem desenvolvidos, em 
caráter informativo.
No texto argumentativo que estamos analisando, note como todos os 
demais parágrafos remetem diretamente à tese contida na introdução:
• 1.° parágrafo do desenvolvimento ( 2 parágrafo do texto): apresenta 
o percurso intelectual trilhado por Lévi-Strauss, que influenciou 
a antropologia e deu ensejo à crítica ao racismo mencionada na 
tese;
• 2.° parágrafo do desenvolvimento (3.° parágrafo do texto): emprega 
um exemplo notório de texto de Lévi-Strauss contra o racismo e 
alude ao testemunho de uma autoridade no assunto, que corrobora 
a tese expressa na introdução;
• parágrafo de conclusão (4° parágrafo do texto): reafirma a tese, 
parafraseando-a e acrescentando uma frase de efeito acerca da 
aplicação da visão antirracista à vida em sociedade.
No entanto, é muito pouco dizer que a introdução deve conter a deli­
mitação do tema e a tese defendida pelo autor. Há diferentes técnicas para 
fazê-lo, que veremos a seguir. Optamos, neste caso, por redigir diversos 
parágrafos introdutórios sobre um mesmo tema, o papel da mulher no 
século XXI, mas usando técnicas diferentes, a fim de mostrar as diversas
TÉCNICASDEREOAÇÃÓPARACONCURSOS-üV/anFurtadoe Vinídus Carvalho Pereira
opções de que você pode se valer na hora da prova. Escolha aquela com 
que você tem mais facilidade e pratique-a!
2 .TÉCNICAS PARA REDIGIR UM PARÁGRAFO DE INTRODUÇÃO
2.1. Abordagem padrão
Neste tipo de introdução, apresenta-se ..primeiramente a tese e logo a 
seguir enumeram-se os argumentos que serão desenvolvidos ao longo do 
texto (cada um desses argumentos corresponderá, a seguir, a cada um dos 
parágrafos subsequentes)* Veja o exemplo abaixo:
O mundo moderno, apesar de já perceber em sua constituição 
uma maior igualdade entre homens e mulheres, ainda está eivado de 
situações ultrajantes para o sexo feminino. Nesse contexto, podemos 
perceber a submissão das mulheres islamitas a seus cônjuges, a pressão 
da mídia sobre a estética feminina e a resistência dos homens quanto 
a auxiliar suas esposas nas tarefas domésticas.
Nesse caso, a primeira frase, tópico frasal do parágrafo, é tam­
bém a tese do texto (ponto de vista principal defendido na redação). 
Seguem-se a ela três argumentos, que serão explorados em detalhe 
nos próximos três parágrafos de desenvolvimento. Essa técnica de in­
trodução é muito produtiva, na medida em que exige poucos minutos 
para sua elaboração.
É preciso, no entanto, tomar cuidado para não tomar seu texto re­
petitivo. Se você citou os três argumentos já na introdução, não deverá 
fazê-lo novamente na conclusão. Além disso, em uma abordagem como 
essa, é interessante que os parágrafos de desenvolvimento sejam iniciados 
por elementos coesivos que remetem à noção de enumeração, presente 
na introdução. Dessa forma, é uma boa ideia começar cada um deles 
por expressões como primeiramente, em primeiro lugar, além disso, 
ademais, some-se a isso etc. Retomar ao longo do texto a estrutura 
enumerativa presente na introdução garante à sua redação mais coesão 
e unidade.
2.2. Definição
Nesse tipo de introdução, antes de apresentar a tese, faz-se uma 
ambientação, isto é, uma afirmação inicial que situa a tese na proposta
Cap. III Ò.PARÁGRAFO DE INTRODUÇÃO O
dada pela banca. Neste caso, a ambientação pode ser a definição de um 
conceito-chave para a argumentação acerca do tema proposto. Veja:
A própria palavra “mulher” carrega em si uma ambigüidade que 
denota, de certa forma, a situação ambivalente que vivem hoje os 
membros do sexo feminino de nossa espécie. Se, por um lado, esse 
vocábulo quer dizer “ser humano do sexo feminino”, por outro pode 
ser empregado como sinônimo de “esposa”. Mas ser mulher implica, 
de fato, ser esposa? Essa breve reflexão de ordem lingüística reflete 
um pouco do imaginário popular acerca do feminino em nossa so­
ciedade e a urgência de que se reavaliem as representações sociais 
sobre esse grupo.
Como, na hora da prova, você não terá acesso a dicionários ou outras 
fontes de consulta, tente bolar sua própria definição, mas tome o cuidado 
de não ser demasiado reducionista. A partir dessa definição, introduza 
sua tese, situando-a em relação à ambientação do tema. Essa modalidade 
de introdução é extremamente produtiva em textos expositivos, em que a 
banca geralmente pede que você escreva sobre determinado item do edital, 
discorrendo informativamente sobre ele.
2.3. Questionamento(s)
A ambientação pode também ser composta por uma ou mais pergun­
tas, que convidam o leitor à reflexão acerca do tema. No entanto, tome o 
cuidado de, após essas perguntas, afirmar sua tese. Não deixe também de 
responder a todas as perguntas ao longo de seu texto.
Observe o exemplo a seguir:
É ainda cabível, na sociedade hodiema, a expressão “sexo frágiP?
A evolução da história confirma a derrocada de tal clichê, visto que, 
dia após dia, as mulheres assumem postos de trabalho e funções 
sociais até então restritas ao homem.
Vale ressaltar que esses questionamentos, chamados de perguntas retó­
ricas, são apenas falsas perguntas, servindo mais à condução do raciocínio 
do autor do que a uma efetiva demanda por determinada resposta. Dessa 
forma, evite responder a tais questionamentos simplesmente dizendo “sim” 
ou “não”. Como sua função é ajudar o encadeamento da argumentação, 
as respostas devem ser apresentadas em frases completas, que sustentem 
a tese defendida ao longo do texto.
2.4. Citação
A ambientação também pode apresentar uma citação de alguém 
famoso. Nesse caso, lembre-se de pôr entre aspas uma fala que não é 
propriamente sua, caso seja transcrita literalmente. No entanto, se você 
não tiver certeza sobre a forma exata da citação, é melhor parafraseá-la 
(escrevê-la com suas próprias palavras). Além disso, não deixe de colocar 
sua tese logo após a citação.
D TÉCNICAS DE REDAÇÃO PÁRA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinkiús. Carvalho Pereira '
“As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”. Essa 
citação do poeta brasileiro Vinícius de Moraes revela-se não só 
politicamente incorreta, mas também caduca nos dias de hoje. A 
atualidade enxerga a mulher sob uma nova perspectiva, não mais 
atrelada à sua constituição física, como um objeto, mas voltada para 
aspectos como força de trabalho, produção intelectual e igualdade 
de direitos. O sexo feminino equipara-se, assim, ao masculino e 
exige tratamentos iguais.
A citação pode servir como ponto de partida a ser ratificado ou 
criticado, mas é importante que você escolha com propriedade que 
autor e que fala irá reproduzir em seu texto. Dê preferência a pessoas 
famosas e consideradas referências no tema sobre o qual você está 
escrevendo.
2.5. Seqüência de frases nominais
Um recurso interessante para iniciar um texto é fazer uma enu­
meração de frases nominais (sem verbo), separando-as por ponto final. 
Por ser uma estratégia diferente, isso chama a atenção do leitor. Como 
sempre, a presença da tese logo após essa ambientação é fundamental. 
Veja:
Panela no fogão. Celular apoiado entre o ombro e a orelha. Filho 
choroso. Pilha de relatórios a serem lidos e assinados. Essa é a rotina 
estressante de uma série de brasileiras, que,dadas as dificuldades 
econômicas por que passa o país, não podem depender apenas do 
salário de seus maridos. Muitas sequer os têm, ou são casadas, mas 
não desejam depender de seus cônjuges. Todavia, a estrutura familiar 
ainda tem de fléxibilizar-se muito, para que os homens se envolvam 
plenamente nas tarefas até então ditas femininas.
Note também que uma boa seleção dos elementos a serem enumerados 
é crucial: estes devem manter entre si paralelismo sintático e semântico, a 
fim de garantir coesão ao texto. Isso quer dizer que esses elementos devem
ser estruturados basicamente da mesma forma (substantivo + expressão 
modificadora, no caso aqui analisado) e pertencer a um mesmo grupo 
conceituai (campo semântico).
' Cap. !ll - O PARÁGRAFO DE INTRODUÇÃO ■ •.
2.6. Exposição do ponto de vista oposto
Você pode também iniciar seu texto enunciando um ponto de vista 
contrário ao seu, na ambientação. Em seguida, use um- conectivo que 
expresse oposição de ideias (porém, no entanto, contudo, todavia etc.) 
e apresente sua própria tese, provando ser ela mais acertada do que o 
posicionamento anteriormente mencionado.
Há uma série de homens que dizem que, se as mulheres desejam 
direitos iguais, têm de abrir mão de certas regalias, como o que a 
tradição convencionou chamar de cavalheirismo. Todavia, é preciso 
destacar que a luta feminista não visa a acabar com as diferenças 
entre os gêneros, tampouco com os mecanismos de interação entre 
eles, como a corte. Seu objetivo é permitir que homens e mulheres 
tenham as mesmas chances de decidir sua posição na sociedade.
Tal recurso, chamado de contra-argumentação, será estudado em 
mais detalhes no próximo capítulo, mas pode-se adiantar desde já que se 
trata de poderoso recurso de persuasão, uma vez que desautoriza teses e 
argumentos opostos à sua linha de raciocínio ao mesmo tempo em que 
define claramente o seu ponto de vista.
2.7. Analogia
Este recurso consiste em, antes da tese, fazer uma comparação/metáfora 
com outros campos semânticos. Trata-se, no entanto, de uma estratégia 
extremamente arriscada, pois, se mal empregada, pode resultar em um 
texto pouco objetivo. Caso opte por iniciar seu texto assim, lembre-se de 
revisitar a mesma analogia na conclusão e não a mencionar repetidamen­
te nos parágrafos de desenvolvimento. Leia um exemplo de introdução 
construído dessa forma:
Comer a maçã parece ter amaldiçoado as filhas de Eva de forma 
muito mais intensa do que os descendentes de Adão. Além de perderem 
o Éden e sentirem as dores do parto, as mulheres parecem condenadas 
às tarefas do lar, ao choro dos filhos e à submissão a seus cônjuges.
Faz-se, portanto, necessário que os deserdados do Jardim das Delicias 
se unam e passem a tratar-se com igualdade, carregando seu fardo 
de forma igualitária.
TÉCNiCAS DÉ REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
Veja que o parágrafo acima se vale da imagem de Adão e Eva para 
introduzir seu ponto de vista sobre o papel da mulher no mundo contem­
porâneo. Atente também para o fato de que é imprescindível afirmar sua 
tese claramente logo após essa analogia.
2.8. Alusão histórica
Antes de apresentar sua tese, você pode lançar mão de uma ambien­
tação que a situe historicamente, expondo, brevemente, os antecedentes 
históricos que confirmam seu ponto de vista. Veja:
Perto da metade do século XX, o inundo vê-se em meio a um 
conflito de proporções colossais deflagrado entre as potências do 
globo. Nesse contexto, os homens deixam suas casas e rumam para a 
batalha, enquanto as mulheres têm de assumir seus postos de trabalho, 
para assegurar que as nações não parem. A Segunda Guerra Mundial 
revela-se, portanto, a derrocada fina! do mito de que as mulheres 
tivessem nascido para o serviço doméstico.
Para redigir esse tipo de introdução, é indispensável que o candidato 
tenha um amplo conhecimento de mundo, sendo capaz de relacionar o 
tema proposto pela banca e o contexto sócio-histórico. Caso não tenha 
certeza sobre os dados que se pretende apresentar, é melhor optar por 
outra estratégia de introdução, a fim de não incorrer em incoerências. 
Ademais, é preciso tomar cuidado para essa alusão histórica não tomar 
proporções demasiado narrativas em seu texto. Lembre-se de que ela deve 
servir apenas para ambientar a sua tese, pois o texto a ser escrito tem de 
ser dissertativo.
3. A AFIRMAÇÃO DA TESE E A IMPESSOAUZAÇÃO DO DISCURSO
Uma característica básica do texto dissertativo, seja ele argumen­
tativo ou expositivo, é a impessoalidade. Isso quer dizer que, na hora 
de uma prova de redação, o mais importante não é quem escreve ou 
quem lê, mas sim o próprio assunto do texto. Ainda que isso pareça 
óbvio, há uma série de conclusões que podem ser extraídas dessa 
afirmação, no que diz respeito à estruturação da redação e às funções 
da linguagem. A esse respeito, lembre-se de que um texto que tem o 
objetivo básico de:
* informar alguém e chamar atenção para seu conteúdo é marcado 
predominantemente pela função referencial da linguagem;
Cap. M - O PARÁGRAFO: DE INTRODUÇÃO
• expressar as emoções e opiniões do locutor (autor ou falante) é 
marcado predominantemente pela função emotiva da linguagem;
• convencer o interlocutor é marcado predominantemente pela função 
apelativa da linguagem.
Assim, a dissertação expositiva é um texto exclusivamente referencial. 
Já a dissertação argumentativa carrega um pouco de cada uma dessas três 
funções, embora deva sobressair-lhe também a referencial.
Essas considerações acerca das funções da linguagem têm conse­
qüência direta sobre a escolha de palavras e estruturas gramaticais a 
serem empregadas no texto. Como em ambos os tipos textuais deve 
predominar a função referencial da linguagem, é importante que o 
candidato não utilize marcas lingüísticas muito evidentes das outras 
funções. Isso quer dizer que referências diretas ao autor e ao leitor 
não são bem-vindas em uma redação para concursos públicos. Para 
isso ficar mais claro, observe as frases a seguir, retiradas de textos 
de alunos, e veja como as adaptamos para que atendam melhor às 
expectativas da banca corretora:
a. Percebo que a violência no Brasil cresce a cada dia, sendo a 
crise da educação pública um dos fatores que mais contribuem para esse 
incremento.
Nesse caso, o candidato, ao expor sua tese, reforçou excessivamente 
que tal opinião é sua. Como o objetivo do texto argumentativo é conven­
cer o leitor acerca de algo, é mais contundente uma argumentação que 
se baseia em opiniões partilhadas por todos, não só pelo autor do texto. 
Por isso, recomendamos que se evite o uso de verbos e pronomes na 1 .a 
pessoa, dando-se preferência a estruturas mais impessoais, que apresentam 
a tese ou os argumentos como algo aceito pela sociedade. Sugerimos, pois, 
que você opte por uma dessas estruturas:
• Verbo + se
Exemplos:
Percebe-se que a violência no Brasil cresce a cada dia, sendo a 
crise da educação pública um dos fatores que mais contribuem para esse 
incremento.
Sabe-se que a violência no Brasil cresce a cada dia, sendo a crise 
da educação pública um dos fatores que mais contribuem para esse in­
cremento.
Nota-se que a violência no Brasil cresce a cada dia, sendo a crise
da educação pública um dos fatores que mais contribuem para esse in­
cremento.
• Ser + adjetivo
Exemplos:
É evidente que a violência no Brasil cresce a cada dia, sendo a 
crise da educação pública um dos fatores que mais contribuem para esse 
incremento.
É notório que a violência no Brasil cresce a cada dia, sendo a crise
da educação pública um dos fatores que mais contribuem para esse in­
cremento.
b. A violência é uma chaga horrenda e monstruosa em nossa socieda­
de, que dizima, como um cataclismo, a vida de pobres pessoas inocentes, 
que mereciam ser felizes e plenas em suas existências.
Nessafrase, um candidato um pouco mais “empolgado” enveredou 
por um estilo argumentativo acalorado, repleto de exageros e juízos de 
valores não respaldados no texto. Como a impessoalidade é um princípio a 
ser respeitado na redação para concursos públicos, é mais prudente adotar 
um estilo sóbrio, com adjetivação menos carregada e mais objetiva. Essa 
frase ficaria melhor, pois, escrita da seguinte forma: “A violência é um 
problema grave nas sociedades humanas em geral, interrompendo de forma 
antinatural a vida de muitos inocentes”.
c. E preciso que todos façam a sua parte para resolver o problema 
da violência. Cobre dos seus governantes mais investimento em educação, 
vá às escolas próximas a sua casa e fiscalize a aplicação do dinheiro 
público. A solução desse problema também depende de você!
Nesse parágrafo de conclusão, o candidato tentou convencer a ban­
ca quanto à sua tese, mas foi infeliz nos recursos usados para tal fim. 
Devem-se evitar referências diretas ao leitor, como o uso do imperativo 
e de pronomes de tratamento, uma vez que comprometem a impessoali­
dade do texto. Além disso, o ponto de exclamação é um sinal gráfico não 
recomendável para uma redação em prova de concurso público, visto que 
denota subjetividade e emoções em excesso.
Tal parágrafo de conclusão ficaria mais adequado assim:
. “É preciso que todos façam a sua parte para resolver o problema 
da violência. Deve-se, pois, cobrar dos governantes mais investimento
jjlQ lllj TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS ~ ülion Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
Çap. III - O PARÁGRAFO DE, INTRODUÇÃO 77
em educação, ir às escolas próximas de casa e fiscalizar a aplicação 
do dinheiro público. A solução desse problema depende de toda a 
sociedade, agindo em prol da educação”.
4. EXERCÍCIOS
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 1.
Brasileiro se realiza em arte menor. Com raras exceções aqui e aii na 
literatura, no teatro ou na música erudita, pouco temos a oferecer ao resto 
do mundo em matéria de grandes manifestações artísticas. Em compensa­
ção, a caricatura ou a canção popular, por exemplo, têm sido superlativas 
aqui, alcançando uma densidade raramente obtida por nossos melhores 
artistas plásticos ou compositores sinfônicos. Outras artes, ditas "menores", 
desempenham um papei fundamentai na cultura brasileira. É o caso da 
crônica e da telenovela. Gêneros inequivocamente menores e que, no 
entanto, alcançam níveis de superação artística nem sempre observada 
em seus congêneres de outros quadrantes do planeta.
Mas são menores diante do quê? É óbvio que o critério de valoração 
continua sendo a norma europeia: a epopeia, o romance, a sinfonia, as 
"belas artes" em gerai. O movimento é dialético e não pressupõe ma- 
niqueísmo. Pois se aqui não se geraram obras como as de Cervantes, 
Wagner ou Picasso, "lá" também - onde quer que seja esse lugar - nunca 
floresceu uma canção popular como a nossa que, sem favor, pode compor 
um elenco com o que de melhor já foi feito em matéria de poesia e de 
melodia no Brasil.
Machado de Assis, como de costume, intuiu admiravelmente tudo. 
No conto "Um homem célebre", ele nos mostra Pestana, compositor que 
deseja tornar-se um Mozart mas, desafortunadamente, consegue apenas 
criar polcas e maxixes de imenso apelo popular. Mòrre consagrado - mas 
como autor pop. Aliás, não foi à toa que Caetano Veloso colocou uma 
frase desse conto na contracapa de Circulado (1991). Um de nossos 
grandes artistas "menores" por excelência, Caetano sempre soube refletir 
a partir das limitações de seu meio, conseguindo às vezes transcendê-lo 
em verso e prosa. (...)
O curioso é que o conceito de arte acabou se alastrando para outros 
campos (e gramados) da sociedade brasileira. É o caso da consagração 
do futeboí como esporte nacional, a partir da década de 30, quando 
o bate-bola foi adotado pela imprensa carioca, recebendo status de 
futebol-arte.
Ainda no terreno das manifestações populares, o ibope de alguns car­
navalescos é bastante sintomático: eles são os encenadores da mais vista 
de todas as nossas óperas, o Carnaval. Quem acompanha a cobertura do 
evento costuma ouvir o testemunho deliciado de estrangeiros a respeito 
das imensas "qualidades artísticas" dos desfiies nacionais...
Seguindo a fórmula clássica de Antônio Cândido em Formação da 
literatura brasileira ("Comparada às grandes, a nossa literatura é pobre 
e fraca. Mas é ela, e não outra, que nos exprime."), pode-se arriscar que 
muito da produção artística brasileira é tímida se comparada com o
TÈCNiCAS DE REDAÇÃO PÁRA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
que é feito em outras paragens. Não temos Shakespeare nem Mozart?
Mas temos Nelson Rodrigues, Tom Jobim, Nássara, Cartola - produtores 
de "miudezas" da mais alta estatura. Afinal são eles, e não outros, que 
expressam o que somos.
(Leandro Sarmatz. ideias que desafiam o senso comum. Superínteressante,
nov. 2000, p.106, com adaptações.)
(FCC) Segundo o texto, está correto o que se afirma em:
a) 0 1.° parágrafo aponta a tese que será desenvolvida em todo o texto, até seu final, 
de modo plenamente coerente.
b} Entende-se o 2° parágrafo como a rea! proposição do texto, na defesa das mani­
festações da arte brasileira.
c) Machado de Assis e Caetano Veloso são citados, no 3.° parágrafo, como exempios 
de expressões, respectivamente, do maior e do menor em nossa literatura.
d) Embora seja habitual, tanto entre brasileiros quanto entre estrangeiros, considerar- 
-se o carnaval como "arte" (5.° parágrafo), suas manifestações não devem ser vistas 
como "artísticas".
e) O autor concorda com Antonio Cândido, ao considerar, no último parágrafo, a po­
breza da produção artística brasileira, em qualquer de seus aspectos.
Leia o texto a seguir para responder às questões de números 2 e 3. 
Caiplradas
A gente que vive na cidade procurou sempre adotar modos de ser, 
pensar e agir que lhe pareciam os mais civilizados, os que permitem 
ver iogo que uma pessoa está acostumada com o que é prescrito de 
maneira tirânica pelas modas - moda na roupa, na etiqueta, na escolha 
dos objetos, na comida, na dança, nos espetáculos, na gíria. A moda logo 
passa; por isso, a gente da cidade deve e pode mudar, trocar de objetos 
e costumes, estar em dia. Como conseqüência, se entra em contato com 
um grupo ou uma pessoa que não mudaram tanto assim; que usam 
roupa como a de dez anos atrás e respondem a um cumprimento com 
certa fórmula desusada; que não sabem qual é o cantor da moda nem 
o novo jeito de namorar; quando entra em contato com gente assim, o 
citadino diz que ela é caipira, querendo dizer que é atrasada e portanto 
meio ridícula.
Diz, ou dizia; porque hoje a mudança é tão rápida que o termo está 
saindo das expressões de todo dia e serve mais para designar certas 
sobrevivências teimosas ou alteradas do passado: músicas caipiras, festas 
caipiras, danças caipiras, por exemplo. Que, aliás, na maioria das vezes, 
conhecemos não praticadas por caipiras, mas por gente que finge de 
caipira e usa a realidade do seu mundo como um produto comerciai 
pitoresco.
Nem podia ser de outro modo, porque o mundo em geral está mu­
dando depressa demais, e nada pode ficar parado. Hoje, creio que não se 
pode falar mais de criatividade cultural no universo do caipira, porque ele 
quase acabou. O que há é impulso adquirido, resto, repetição - ou paródia
e imitação deformada, mais ou menos parecida. Há, registre-se, iniciativas 
culturais com o fito de fixar o que sobra de autêntico no mundo caipira. É 
o caso do disco Caipira: Raízes e frutos, do seio Eldorado, gravado em 1980, 
que será altamente apreciado por quantos se interessem por essa cultura 
tão especial, e já quase extinta.
(Antonio Cândido, Recortes, com adaptações.)
(FCC) No primeiro parágrafo, estabelece-se uma contraposição entreas ex­
pressões
a) mais civilizados e fórmula desusada, identificando pontos de vista adotados pelos 
citadinos.
b) logo passa e estar em dia, destacando parâmetros adotados peios caipiras.
c} de maneira tirânica e está acostumada, enfatizando as críticas dos citadinos aos 
modos caipiras.
d) deve e pode mudar, sublinhando os impulsos a que os caipiras têm que se render.
e) é atrasada e meio ridícula, acentuando a variabilidade que ocorre com as modas.
(FCC) Atente para as seguintes afirmações sobre o primeiro parágrafo:
S. Com a expressão o que é prescrito de maneira tirânica, o autor está qua­
lificando modos de ser, pensar e agir, com cuja imposição os citadinos estão 
acostumados.
il. A submissão dos citadinos aos valores da moda é a causa de uma alternância de 
valores que reflete uma clara hesitação entre o que é velho e o que é novo.
III. No último e longo período, a seqüência de pontos e vírgulas destaca uma enu­
meração de traços que identificam um caipira aos olhos do citadino.
Em relação ao texto, está correto o que se afirma em:
a) I e III, apenas.
b) II e III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) 1 ,11 e ilí.
e} III, apenas.
teia o texto a seguir para responder à questão de número 4.
Acerca de Montaigne
Montaigne, o influente filósofo francês do século XVi, foi um conser­
vador; mas nada teve de rígido ou estreito, muito menos de dogmático.
Por temperamento, foi bem o contrário de um revolucionário; certamente 
faltaram-lhe a fé e a energia de um homem de ação, o idealismo ardente 
e a vontade. Seu conservadorismo aproxima-se, sob certos aspectos, do 
que no século XIX viria a ser chamado de liberalismo.
Na concepção política de Montaigne, o indivíduo deve ser deixado 
livre dentro do quadro das leis, e a autoridade do Estado deve ser a
.Cap. III r 0 PARÁGRAFO DE INTROOUÇÁO ... .
• ÍÉÇNICAS OÉ; 'REdÁÇÃQ'’ PARA:.C!ONCÜéSQ§;VlV/ton Furtado è Vinícius Carvalho Pèreirà i
mais leve possível. Para o filósofo, o melhor governo será o que menos 
se fizer sentir; assegurará a ordem púbiica sem invadir a vida privada e 
sem pretender orientar os espíritos. Montaigne não escolheu as institui­
ções sob as quais viveu, mas resolveu respeitá-las, a elas obedecendo 
fielmente, como achava correto num bom cidadão e súdito leal. Que 
não lhe pedissem mais do que o exigido pelo equilíbrio da razão e pela 
clareza da consciência.
(Montaigne. Ensaios, Tradução de Sergio Míllíet. São Paulo: Abril, 1972,
Coleção Os Pensadores.)
4. (FCC) Há no primeiro, parágrafo afirmações que induzem o leitor a identificar:
I. um conservador típico como alguém rígido, íimitado e dogmático.
II. um revolucionário como aiguém ativo, idealista, dotado de fé, energia e von­
tade.
III. um conservador do século XVI com um liberai do século XIX.
Completa corretamente o enunciado desta questão o que está em
a) I, II e III.
b) I e II, apenas. •
c) II e III, apenas.
d) 1 e III, apenas.
e) 11, apenas.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 5. 
Brasil e África do Sul assinam acordo de cooperação
O Ministério da Educação do Brasil e o da África do Su! assinaram no 
início de juiho um acordo de cooperação internacional na área da educa­
ção superior. Além de apoiar o ensino universitário e prever a promoção 
conjunta de eventos científicos e técnicos, o acordo contempla o intercâm­
bio de materiais educacionais e de pesquisa e o incentivo à mobilidade 
acadêmica e estudantil entre instituições de ensino superior, institutos de 
pesquisa e escoias técnicas.
Para incentivara mobilidade, além de projetos conjuntos de pesquisa, os 
dois países devem promover a implantação de programas de intercâmbio 
acadêmico, com a concessão de boísas, tanto a brasileiros na África do Sul 
quanto a sul-africanos no Brasil, para professores e alunos de doutorado e 
pós-doutorado. Ainda nessa área, a cooperação também prevê a criação 
de um programa de fomento a publicações científicas associadas entre 
representantes dos dois países.
Segundo o ministrada Educação brasileiro, Fernando Haddad, as equipes 
de ambos os ministérios da Educação trabalham há tempos na construção 
de um acordo para incrementar a cooperação entre os dois países. "Brasil e 
África do Sul têm uma grande similaridade de pensamento, oportunidades 
e desafios. Esperávamos há tempos a formatação de um acordo sólido".
(<portai.mec.gov.br>, com adaptações.)
Cap. II!.- O PARAGRAKO DE INTRODUÇÃO- O
(CESPE) Julgue os itens a seguir quanto à compreensão do texto e à tipologia 
textual.
A ideia central do texto está resumida no primeiro período do primeiro pará­
grafo.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 6.
Sociedade da informação e da educação
Costuma-se definir nossa era como a era do conhecimento. Se for pela 
importância dada hoje ao conhecimento, em todos os setores, pode-se 
dizer que se vive mesmo na era do conhecimento, na sociedade do co­
nhecimento, sobretudo em conseqüência da informatização e do processo 
de globalização das telecomunicações a ela associado. Pode ser que, de 
fato, já se tenha ingressado na era do conhecimento, mesmo admitindo 
que grandes massas da população estejam excluídas dele. Todavia, o que 
se constata é a predominância da difusão de dados e informações e não 
de conhecimentos. Isso está sendo possível graças às novas tecnologias 
que estocam o conhecimento, de forma prática e acessível, em gigan­
tescos volumes de informações, que são armazenadas inteligentemente, 
permitindo a pesquisa e o acesso de maneira muito simples, amigável e 
flexível. É o que já acontece com a Internet: para ser "usuário", basta dispor 
de uma iinha telefônica e um computador. "Usuário" não significa aqui 
apenas receptor de informações, mas também emissor de informações. Peia 
Internet, a partir de qualquer sala de aula do planeta, podem-se acessar 
inúmeras bibliotecas em muitas partes do mundo. As novas tecnologias 
permitem acessar conhecimentos transmitidos não apenas por palavras, 
mas também por imagens, sons, fotos, vídeos (hipermídia) etc. Nos últimos 
anos, a informação deixou de ser uma área ou especialidade para se tornar 
uma dimensão de tudo, transformando profundamente a forma como a 
sociedade se organiza. Pode-se dizer que está em andamento uma Revo­
lução da Informação, como ocorreram no passado a Revolução Agrícola e 
a Revolução Industriai. (...)
As novas tecnologias criaram novos espaços do conhecimento. Ago­
ra, aiém da escola, também a empresa, o espaço domiciliar e o espaço 
soda! tornaram-se educativos. (...) Esses espaços de formação têm tudo 
para permitir maior democratização da informação e do conhecimento, 
portanto, menos distorção e menos manipulação, menos controle e mais 
liberdade. (...)
O conhecimento é o grande capital da humanidade. Não é apenas 
o capital da transnacional que precisa deie para a inovação tecnoló­
gica. Ele é básico para a sobrevivência de todos e, por isso, não deve 
ser vendido ou comprado, mas sim disponibilizado a todos. Esta é a 
função de instituições que se dedicam ao conhecimento apoiado nos 
avanços tecnológicos. Espera-se que a educação do futuro seja mais 
democrática, menos excludente. Essa é ao mesmo tempo nossa causa 
e nosso desafio. Infelizmente, diante da falta de políticas públicas no 
setor, acabaram surgindo "indústrias do conhecimento", prejudicando
TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
uma possível vísao humanista, tornando-o instrumento de lucro e de 
poder econômico. (...)
Neste contexto de impregnação do conhecimento, cabe à escola: 
amar o conhecimento como espaço de realização humana, de alegria e 
de contentamento cultural; selecionar e rever criticamente a informação; 
formular hipóteses; ser criativa e inventiva (inovar); ser provocadora 
de mensagens e não pura receptora; produzir, construir e reconstruirconhecimento elaborado. E mais: numa perspectiva emancipadora da 
educação, a escola tem que fazer tudo isso em favor dos excluídos, 
não discriminando o pobre. Ela não pode distribuir poder, mas pode 
construir e reconstruir conhecimentos, saber, que é poder. Numa pers­
pectiva emancipadora da educação, a tecnologia contribui muito pouco 
para a emancipação dos excluídos se não for associada ao exercício da 
cidadania. (...)
Em geral, temos a tendência de desvalorizar o que fazemos na escola 
e de buscar receitas fora dela quando é eia mesma que deveria governar- 
se. É dever dela ser cidadã e desenvolver na sociedade a capacidade de 
governar e controlar o desenvolvimento econômico e o mercado. A cida­
dania precisa controlar o Estado e o mercado, verdadeira alternativa ao 
capitalismo neoliberal e ao socialismo burocrático e autoritário. A escola 
precisa dar o exemplo, ousar construir o futuro. Inovar é mais importante 
do que reproduzir com qualidade o que existe. A matéria-prima da escola 
é sua visão do futuro. (...)
(Moacir Gadotti. Disponível em <http://www.sdeio.br/scieio.php?>.
Acesso em: abr. 2008.)
(CESGRANRIO) Assinale a opção que exprime corretamente as ideias do pri­
meiro parágrafo:
a) 0 fato de todos os setores valorizarem o conhecimento nos dá a certeza de que 
estamos na. era do conhecimento.
b) As novas tecnologias permitem que na sociedade predomine a difusão de informa­
ções e de conhecimento.
c) A existência de grande parte da população excluída justifica estarmos na sociedade 
do conhecimento.
d) A suposição de que nossa era é a do conhecimento se deve, principalmente, à ação 
da informática e ao processo de globalização das telecomunicações.
e) As mudanças radicais na sociedade, provocadas peia informação asseguram as re­
voluções no campo e na indústria.
teia o texto a seguir para responder à questão de número 7.
Podem ser fios, demais caídos no travesseiro. Ou fios de menos perce­
bidos na cabeça ao se oihar no espelho. No fim das contas, o resultado é 
o mesmo: você está perdendo cabelo.
E não está sozinho. "A calvície atinge 50% da população masculina" diz 
o dermatoiogista Ademir Carvalho Leite Jr;
Se tanta companhia não vale como consolo, a vantagem de ter muita 
gente sofrendo com o problema é que isso estimula as pesquisas cientí-
Cap. II! - O PARÁGRAFO DE INTRODUÇÃO
ficas. "Há equipes estudando o uso de céluias-tronco para tratamento da 
calvície", conta Leite Jr. Também já foi descoberto que são oito os pares 
de genes envolvidos no crescimento dos cabelos, segundo ele, o que abre 
possibilidades à pesquisa genética.
"Entre as perspectivas, está o desenvolvimento de testes genéticos para 
diagnóstico da aiopecía androgenética, ou seja, a ausência de cabelos provo­
cada pela interação entre os genes herdados e os hormônios masculinos. O 
teste pode determinar o risco e os graus de calvície antes de sua manifestação, 
permitindo o tratamento precoce" diz Arthur Tykocinski, dermatologista da 
Santa Casa de São Paulo, que aponta ainda, entre as novidades, na área, os 
estudos para uso de robôs no processo de transplante de cabelos.
(iara Eiderman. Folha de S.. Paulo, 29.08.2008, com adaptações.)
Com relação às ideias, à organização e à tipologia do texto, julgue 
os itens que se seguem.
7. (CESPE) Para apresentar o tema do texto, a autora recorre, no primeiro pará­
grafo, a imagens que indiciam o início da calvície.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 8.
O tribunal do mundo
(...)
A partir da instalação da Corte no próximo ano em Haia (Holanda), os 
delitos cometidos contra os direitos humanos em situações de conflito não 
serão mais protegidos pelas barreiras da impunidade. A jurisdição julgadora 
está garantida peios 65 países que a ratificaram entre os 139 subscritores 
do pacto da capital italiana.
Um órgão acima das estruturas nacionais com competência penal não 
serve apenas para punir os crimes de guerra, de genocídio, de lesa-huma- 
nidade, de agressão. Sua presença no topo da ordem jurídica mundial, com 
autoridade avalizada pela maioria das nações, se presta, sobretudo, para 
inibir tais tipos de violação. Constitui, pois, instrumento preventivo para 
assegurar os direitos essenciais de grupos humanos em nome da paz.
(Visâo do Correio, Correio Braziliense, 12.04.2002, com adaptações.)
8. (ESAF) Assinale a opção que, ao preencher o espaço (...), constitui uma intro­
dução coerente e gramaticalmente correta para o texto.
a) Com a assinatura do Estatuto do Tribuna! Penal internacional (TPi), aprovado em 
Haia em ju lh o de 1998, e novas perspectivas para a paz m undial, em bora o primeiro 
passo seja ainda convencer os italianos de sua necessidade.
b) Nova perspectiva para a paz m undial se abre com a entrada em vigor do Estatuto 
do Tribunal Penal Internacional (TPI), aprovado em Roma em ju lho de 1998.
c) Finalm ente aprovado em ju lh o de 1998, entra em vigor em Roma o Estatuto do 
Tribunal Penal Internacional (TPi), com o objetivo restritivam ente preventivo para a 
paz m undial.
84 : TÉCNiCÀS DE REDAÇÃO.PARÁ CONCURSOS - Lilian Furtado.e Vinfçius Carvalho Pereira .
d) Parece qu e na China e na Rússia, as barreiras de im punidade para os dirigentes que 
usam de meios degenerados para elim inar adversários vão ao encontro do novo 
Estatuto do Tribunal Pena! Internacional (TPI).
e) Assim, ao ser assinado, em Paris, o Estatuto do Tribunal Penal Internacional (TPI), 
em ju lh o de 1998, crimes verificados em diversas partes do planeta, que constituem 
abusos aos direitos humanos.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 9.
Com seus 5 milhões de quilômetros quadrados, a Amazônia representa 
3,6% da superfície seca do planeta, área equivalente a nove vezes o territó­
rio da França. O rio Amazonas, o maior do mundo em extensão e volume, 
despeja no mar, em um único dia, a mesma quantidade de água que o 
Tâmisa, que atravessa Londres, leva um ano para lançar. O vapor de água 
que a Amazônia produz por meio de evaporação responde por 60% das 
chuvas que caem nas regiões Norte, Centro-Oeste, Sudeste e Sui do Brasil. 
Mesmo agora, com o reconhecimento de sua grandeza, a floresta amazônica 
permanece um domínio da natureza em que o homem não é bem-vindo.
No entanto, vivem lá 25 milhões de brasileiros, pessoas que enfrentaram o 
desafio do ambiente hostil e fincaram raízes na porção norte do Brasil.
(Edição Especial, Veja, set. 2009, p. 22, com adaptações.)
Julgue os próximos itens com relação às ideias desenvolvidas no texto acima e à 
sua organização lingüística.
9. (CESPE) A ideia central do texto acima, apresentada no primeiro período, é 
explicitada nos demais, como argumentação secundária.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 10. 
O homem moral e o moralizador
Depois de um bom século de psicologia e psiquiatria dinâmicas, esta­
mos certos disto: o moralizador e o homem moral são figuras diferentes, 
se não opostas. O homem morai se impõe padrões de conduta e tenta 
respeitá-ios; o moralizador quer impor ferozmente aos outros os padrões 
que ele não consegue respeitar.
A distinção entre ambos tem alguns corolários relevantes. Primeiro, o 
moralizador é um homem moral falido: se soubesse respeitar o padrão 
moral que ele impõe, ele não precisaria punir suas imperfeições nos outros. 
Segundo, é possível e compreensível que um homem morai tenha um 
espírito missionário: ele pode agir para levar os outros a adotar um padrão 
parecido com o seu. Mas a imposição forçada de um padrão moral não 
é nunca o ato de um homem moral, é sempre o ato de um moralizador.
Em geral, as sociedades em que as normas morais ganham força de lei 
(os Estados confessionais, por exempio) não são regradas por uma morai 
comum, nem pelas aspirações de poucos e escolhidos homens exemplares, 
mas por moraiizadoresque tentam remir suas próprias faihas morais pela 
brutalidade do controle que eies exercem sobre os outros. A pior barbá-
Cap. lil - O PARÁÓRAFO DE INTRODUÇÃO.' 85
rie do mundo é isto: um mundo em que todos pagam pelos pecados de 
hipócritas que não se aguentam.
(Contardo Calligaris. Folha de 5. Paulo, 20.03.2008.)
10. (FCC) No contexto do primeiro parágrafo, a afirmação de que já decorreu um
bom século de psicologia e psiquiatria dinâmicas indica um fator determinante
para que
a) concluamos que o homem moderno já não dispõe de rigorosos padrões morais 
para avaliar sua conduta.
b) consideremos cada vez mais difícil a discriminação entre o homem moral e o homem 
moralizador.
c) reconheçamos como bastante remota a possibilidade de se caracterizar um homem
moralizador.
d) identifiquemos divergências profundas entre o comportamento de um homem moral 
e o de um moralizador.
e) divisemos as contradições internas que costumam ocorrer nas atitudes tomadas 
pelo homem moral.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 11.
Religião mestiça
Insulado deste modo no país, que o não conhece, em luta aberta com o 
meio, que lhe parece haver estampado na organização e no temperamento a 
sua rudeza extraordinária, nômade ou mal fixo à terra, o sertanejo não tem, por 
bem dizer, ainda capacidade orgânica para se afeiçoar a situação mais alta.
O círculo estreito da atividade remorou-lhe o aperfeiçoamento psíquico.
Está na fase religiosa de um monoteísmo incompreendido, eivado de misti­
cismo extravagante, em que se rebate o fetichismo do índio e do africano.
É o homem primitivo, audacioso e forte, mas ao mesmo tempo crédulo, 
deixando-se facilmente arrebatar pelas superstições mais absurdas. Uma 
análise destas revelaria a fusão de estádios emocionais distintos.
(Eudídes da Cunha. O homem/Os sertões. In Obra completa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995, p. 197.)
Com relação ao texto, julgue {C ou E) os itens seguintes.
11. (CESPE) No primeiro parágrafo, a antecipação das causas e das explicações é
um recurso de ênfase que reforça a afirmação final do autor.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 12.
E se... não tivéssemos medo?
Quem diria: aquele frio na espinha na hora de pular do trampolim é 
essencial para a nossa vida. O medo acaba com a gente quando estamos
vendo um filme de terror ou tentando pular na piscina, mas, sem eie, não 
seriamos nada, coisa nenhuma. Na ausência do medo, não teríamos nenhuma 
reação em situações de perigo, como a aproximação de um mastodonte na 
idade do gelo ou quando o carro vai dar de cara no poste. Essa proteção 
acontece involuntariamente: a sensação de temor chega antes às partes 
do cérebro que regem nossas ações involuntárias que ao córtex, a casca 
cerebral onde está o raciocínio.
Além desse medo primordial, existe o medo criado pela mente. Afina!, 
não corremos risco iminente de não perpetuar a espécie quando gague­
jamos diante de uma possível paquera, ao tentar pedir aumento para o 
chefe ou quando construímos muralhas e bombas atômicas.
Pelo contrário. "O medo de ser ridicularizado ou menos amado pelo 
outro é a fonte de neuroses e fobias sociais, mas está presente em todas 
as pessoas" diz a psicóloga Maria Tereza Gíordan Góes, autora do livro 
Vivendo Sem medo de Ter Medo. E o que aconteceria se seguíssemos com 
o medo involuntário, mas deixássemos de ter o medo imaginário? Pois é, 
também não seriamos muita coisa.
O medo é um conceito fundamental para Freud, o pai da psicanálise. 
Segundo ele, é o medo da castração, de ser ridicularizado ou menos amado, 
que faz os homens lutarem por objetivos e se submeterem a provas sexuais 
e sociais. Sem medo, poderíamos ficar sem motivação de competir, inovar, 
ser melhor que o vizinho.
Pior: viveríamos num caos danado, já que o medo de ser culpado e 
castigado é raiz para instituições e religiões. "Nunca uma civilização con­
cedeu tanto peso à culpa e ao arrependimento quanto o cristianismo" 
afirma o historiador francês Jean Delumeau, autor do livro História do 
medo no Ocidente.
"0 medo se reproduz na forma da autoridade física e espiritual'' afir­
ma a psicanalista Cleide Monteiro. "Ele está na base de instituições que 
podem ser opressoras, mas fazem a sociedade andar para a frente longe 
de barbáries." Para a psicanálise, funciona assim: quando eu reconheço em 
mim a possibilidade de fazer ma! a alguém, a enxergo também em você, 
então passo a temê-lo.
Para podermos conviver numa boa, criamos coisas superiores para 
temer, como a polícia e a religião. Sem o medo, não teríamos nada disso. 
Sairíamos direto na faca.
(Leandro Narlock. Superinteressante, com adaptações.)
(CESGRANRIO) No primeiro período do texto, o que está sendo focalizado
especificamente é (são):
a) a dificuldade de escolha quanto a que rumo tomar.
b) o sentimento que norteia as ações humanas.
c) o sofrimento advindo de uma derrota.
d) as necessidades de lançar-se à vida.
e) os momentos decisivos na vida de cada um.
TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
5. ATIVIDADE DE PRODUÇÃO TEXTUAL
A banca da ESAF por vezes omite o primeiro parágrafo de um texto, 
na prova objetiva, exigindo que o candidato identifique, entre as opções 
disponíveis, aquela que poderia figurar como introdução do texto cujo início 
foi suprimido. Nesta atividade, faremos algo semelhante, pois omitiremos 
a introdução de um texto dissertativo, deixando a seu cargo redigir esse 
parágrafo inicial. Como o objetivo aqui é praticar, pedimos que você es­
creva pelo menos quatro versões diferentes para esse parágrafo, utilizando 
distintas técnicas aprendidas neste capítulo. Não deixe, porém, de deixar 
claros o tema e a tese em todas as versões que você elaborar.
Texto adaptado para essa questão: O Haiti é aqui 
(Pauio Gurgel Valente, <http://opmiaoenoticia.com.br/brasiiyo-haiti-e-aqui/>.
Acesso em: 25 fev. 2010).
(...)
No caso recente do Rio de Janeiro de abril de 2010, a contagem 
de, pelo menos, 100 perdas humanas, é devida à má administração 
de recursos financeiros da Prefeitura e do Estado, aí incluídos casos 
não publicáveis. Atribuir à meteorologia a quantificação do índice 
piuviométrico, conhecendo-se a cidade e a região metropolitana desde 
a sua fundação, há praticamente 500 anos, e as características águas 
de março, extensivas agora a abril, é uma desculpa inaceitável.
A autoridade municipal tem todos os poderes para impedir construções 
nas encostas, desapropriar edificações ilegais e promover a relocali- 
zação e, se não o fez, foi por ineficiência, conjugada pelo populismo 
herdado do “socialismo moreno”, cuja filosofia era a permissividade 
e, por que não, o objetivo eleitoreiro. Se, ao longo das últimas déca­
das, essa função tivesse sido cumprida com rigor, a probabilidade de 
acidentes resultantes de chuvas seria muito diminuída.
Por outro lado, os investimentos em sistemas de proteção para 
prevenir enchentes, limpeza de bueiros e valas teria sido uma 
opção mais útil do que, por exemplo, a Cidade da Música, cujo 
orçamento, noticiava o Globo em fevereiro de 2008, estava em R$
460 milhões, cinco vezes o valor inicialmente projetado. E melhor 
nem saber a quanto monta este investimento em 2010, ainda não 
utilizado e sem previsão.
Na falta de direcionamento adequado da Prefeitura para os in­
vestimentos relevantes, a orientação que o cidadão recebe em casos 
de calamidade é “ficar em casa”, paralisar as atividades pessoais, o 
comércio, a indústria e os serviços. Aos que moram era encostas, 
resta apenas procurar abrigo em “equipamentos públicos” ou buscar 
favores de caridade.
Na füria de arrecadação, tanto a Prefeitura quanto o Estado, mal 
se inicia o ano, enviam para os contribuintes as guias do IPTU e do 
IPVA, desnorteando os orçamentos familiares, sem falar dos demais 
impostoscomo ISS e ICMS, que cercam o povo o ano inteiro.
/ ;V . : . Cap: tli - O.PARÁGRÁFO. DEiNTROpUÇÃO • . ’ ' ' '
88 TÉCNICAS DE REDAÇÃO PÁRA CONCURSOS - Üttan Furtado é Vinícius Carvalho Pereira
Não seria o caso de devolução destes impostos neste momento, 
tal como prevê o Código de Defesa do Consumidor em produtos 
defeituosos?
A questão de a carga tributária do país ser recorde e crescente, 
comparativamente ao PIB e a outros países, é que aqui não se ob­
tém o retomo dos impostos, haja vista o índice de Desenvolvimento 
Humano (IDH), criado pelo Programa das Nações Unidas para o 
Desenvolvimento, que em 2009 coloca o Brasil na vergonhosa 75.a 
colocação mundial. Esta certamente não é uma informação útil para 
ser aproveitada na próxima campanha eleitoral.
Espera-se que o planejamento profissional substitua as praticas 
eleitoreiras e que os incidentes, desconfortos e as tragédias como 
a atual tenham algum efeito sobre os eleitores. Devem-se buscar 
políticos com soluções para os problemas cotidianos, em lugar 
de demagogos e inauguradores de placas de obras que nunca são 
entregues.
GABARITO
1 - B 2 - A 3 - A
4 - B 5 - C 6 - D
7 - C 8 - B 9 - E
1 0 - D 11 - C 12 - B
Sugestão de respostas à atividade de produção textual
1. Introdução por alusão histórica
No Brasil, os políticos têm por hábito não assumir a responsabilidade por pro­
blemas decorrentes da má administração, voltada apenas para políticas eleitoreiras. 
Na época do apagão, o problema foi ter chovido pouco. Quando das enchentes no 
Rio de Janeiro e em Niterói, no início de 2010, o problema foi ter chovido muito. 
Enquanto os governos não se voltarem para as reais necessidades da população, 
tomando medidas em prol do povo, e não do voto, calamidades como essas vol­
tarão a acontecer.
2. Introdução por seqüência de frases nominais
Ruas alagadas. Morros convertidos em cachoeiras.’ Famílias desapropriadas. Engar­
rafamentos quilométricos. Basta chover um pouco mais forte no Rio de Janeiro para 
que a cidade se transforme em um pandemônio e as autoridades se apressem às 
ruas para a fim de parecerem solidarizar-se com a dor alheia, angariando mais votos. 
No entanto, o povo não precisa de um falso sorriso terno ou de uma vazia palavra 
de consolo dos governantes, mas sim da devida aplicação dos impostos em medidas 
preventivas contra as conseqüências da chuva.
3. introdução por citação (indireta, neste caso)
Segundo dados preliminares do Centro de Pesquisas de Epidemiologia dos Desastres 
(Cred, na sigla em ingiês), a enchente que arrasou o Rio de Janeiro no início de 2010 
foi a quinta mais destruidora do mundo nos últimos doze meses, perdendo apenas 
para duas na índia, uma na Arábia Saudita e outra em Serra Leoa. No entanto, sabe-se 
que em outros países do mundo, dadas suas condições climáticas, chove muito mais, 
embora não haja registros de dilúvios tão catastróficos. Tal diferença se dá certamente 
devido à falta de medidas preventivas adequadas nos países arrasados pelas chuvas, 
possivelmente associada ao descaso dos governantes.
4. Introdução por exposição do ponto de vista oposto
Basta ligar a televisão para ver diversos políticos lamentando o infortúnio das chu­
vas fortes no Rio, que teriam surpreendido as autoridades. No entanto, tais afirmações 
não condizem com os avanços da meteorologia e o conhecimento sobre o dima e 
a geografia do estado. Mais do que surpresa, o lamentável evento das enchentes 
revela, pois, descaso das autoridades em relação às necessidades mais prementes da 
população, como moradia digna e segurança.
. ■'';-^p.MI|.r]Q.\PABÁGRAFÕ/OE/jjíTRp"D!JÇÃÕ>-;>;^ :-'';í',-:-‘.V
Capítulo
O PARAG RAF O DE 
DESENVOLVIMENTO
1. A ESTRUTURA GERAL DO PARÁGRAFO DE DESENVOLVIMENTO
Neste capítulo, estudaremos a parte mais importante e significativa de 
uma redação para concursos públicos: o desenvolvimento. É nessa seção que 
o candidato vai apresentar e aprofundar seus conhecimentos acerca do tema 
proposto pela banca, o que exige bastante cautela na seleção dos itens a serem 
discutidos ou expostos, bem como uma organização racional dos mesmos.
A relevância do desenvolvimento é tanta que essa seção é bem mais 
extensa do que as demais. Enquanto introdução e conclusão são compostas 
por apenas um parágrafo cada uma, o desenvolvimento costuma ter cerca 
de três parágrafos, podendo essa quantidade ser aumentada, no caso de 
a banca exigir redações de 40 a 60 linhas, o que demanda uma estrutura 
um pouco diferente do tradicional padrão de 30 linhas. Nesse sentido, 
lembre-se de que a banca da ESAF é conhecida por exigir redações um 
pouco mais longas de seus candidatos.
Vale ainda ressaltar que, se for preciso, é melhor aumentar a quan­
tidade de parágrafos de desenvolvimento do que simplesmente redigir 
parágrafos muito longos, pois um dos primeiros critérios avaliados por 
um corretor é a relativa simetria entre os parágrafos, como vimos no 
capítulo II deste livro.
No que diz respeito ao conteúdo dos parágrafos de desenvolvimento, 
é preciso fazer duas distinções, em função do tipo textual exigido pela 
banca:
1.1. Parágrafos expositivos
Esses parágrafos têm função meramente informativa, primando pela 
exposição de dados concernentes ao tema proposto pela banca, caso se tenha 
exigido do candidato uma apresentação imparcial de determinadas informações.
m ' TÉCNICAS DE REDÀÇÂÓ PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
Geralmente é mais fácil redigir parágrafos dessa natureza, afinal a variação 
de respostas esperada é bem menor, já que, quando a banca propõe um tema 
como esse, tende a escolher uma temática bem técnica, relacionada à área, 
ao órgão ou ao cargo para o qual se destina o concurso.
Um erro freqüente dos candidatos nesse tipo de redação é descuidar 
completamente dos aspectos textuais, acreditando que a banca levará em 
consideração apenas critérios relacionados à adequação e à correção da 
resposta diante da temática proposta. Tal ilusão ocorre principalmente em 
concursos cuja proposta de redação exija uma exposição de determinado 
tópico pertinente a outra disciplina constante do edital, como Direito Ad­
ministrativo, Direito Constitucional etc. Contudo, não basta saber o que 
escrever na resposta, se você não atentar para como escrever!
Além disso, há aqueles que esquecem que a redação é dissertativa, 
fazendo nos parágrafos expositivos meras enumerações de itens aparente­
mente desconexos. Se a banca pede, por exemplo, que você fale sobre os 
atos administrativos, não basta escrever úm longo parágrafo enumerando 
seus requisitos e atributos. Caso você opte por apresentar esses dados, 
deve desenvolver e aprofundar cada um deles, pois seu texto não pode 
parecer com uma lista, e sim com uma exposição sintética e imparcial 
sobre o assunto.
Para garantir também que os diferentes parágrafos expositivos não 
pareçam blocos isolados e independentes, mas sim partes integrantes de 
um texto coeso, é importante ressaltar, com mecanismos lingüísticos, as 
conexões entre eles. Embora nem sempre seja indispensável fazê-lo, expli­
citar os nexos coesivos (com os recursos estudados no capítulo VI deste 
livro) reforça para o corretor que você correlacionou com clareza as ideias 
do texto. Nesse sentido, como as informações em um texto expositivo 
tendem a se complementar de forma meramente aditiva, é interessante 
ligar seus parágrafos de desenvolvimento por estruturas como além disso, 
ademais, vale também ressaltar que, outro ponto a considerar é, cabe 
ainda dizer que etc.
1.2. Parágrafos argumentativos
Embora as mesmas dicas vistas anteriormente sirvam para quem vai 
redigir um texto argumentativo, há problemas mais particulares dessa 
modalidade que serão tratados nesta seção.
Um primeiro problema bastante sério, que compromete a organização 
textual, é o fato de muitos candidatosficarem “empolgados” enquanto 
escrevem o texto argumentativo, dado seu caráter mais aberto à visão do 
autor. Tal efeito emocional, longe de ajudar, atrapalha na hora de redação,
pois o texto pode perder a impessoalidade e ganhar um tom inflamado, 
repleto de frases feitas, figuras de linguagem e recursos expressivos de­
masiados, como pontos de exclamação e interjeições.
Esse tipo de problema é especialmente comum quando o candidato 
não redige um planejamento antes de começar a redação, deixando-se 
guiar por seus instintos e pelas primeiras ideias que lhe vêm à mente no 
ato da escrita. Além disso, conforme já vimos no capítulo II, um texto 
sem planejamento geralmente se toma confuso, pois as pessoas costumam 
misturar mais de um argumento em um mesmo parágrafo. Lembre-se: em 
vez de tentar falar sobre tudo o que sabe, é melhor selecionar um número 
de argumentos equivalente ao número de parágrafos de desenvolvimento 
que você pretende escrever (condicionado pelo número de linhas do texto), 
aprofundando cada argumento em seu próprio parágrafo.
Por fim, uma dúvida muito séria que muitas pessoas enfrentam na 
hora de escrever é: “mas isto que eu selecionei é um argumento?” Para 
responder a essa pergunta, é preciso ter em mente que argumento é aquilo 
que defende uma tese (ponto de vista), a qual deve estar claramente ex­
pressa nos parágrafos de introdução e conclusão. Um argumento é, pois, 
o porquê da tese ou uma prova de sua validade.
No entanto, alguns candidatos apresentam, no desenvolvimento-de 
seus textos argumentativos, parágrafos que não sustentam a tese, apenas 
relacionando~se ao tema de forma expositiva. Para isso ficar mais claro, 
veja a proposta de redação abaixo, retirada da prova aplicada pelo CESPE, 
em 2003, para o cargo de 3.° secretário do CNPq:
Cap. tv. ~ O PARÁGRAFO DE DESENVOLVIMENTO.
Leia os textos a seguir:
Quando o cidadão descobre que ele é o princípio do que existe 
e pode existir com sua participação, começa a surgir a democracia. 
Cidadania e democracia andam de mãos dadas e não existem separadas. 
Cidadania não é individualismo, mas afirmação de cada um em sua 
relação de solidariedade com os outros. Cidadania e democracia estão 
baseadas em princípios éticos e têm o infinito como limite. Não existe 
limite para a solidariedade, a liberdade, a igualdade, a participação e 
a diversidade. A democracia é uma obra inesgotável.
(Herbert de Souza. Democracia e cidadania. In: Caria Rodrigues 
(Org.). Democracia: cinco princípios e um fim. São Paulo: Moderna, 1996,
p. 65, com adaptações.)
Não tem como você estereotipar alguém como negro só por causa 
da cor. No fundo, todo brasileiro é meio negro.
(Flávio Martins, 19 anos, aluno de Letras, UnB.
Correio Braziiiense, 10.06.2003.)
2 H ' ■ : TÉCNICAS:DE REDAÇAP. PARÀ CONCURSOS - iiliari Furtado e Vinícius CarvaiHo Pereirà
A rigor, mesmo as vozes contrárias à política de cotas admitem que 
a situação é injusta e precisa ser revertida, mas não à custa do direito 
dos outros ou do princípio da igualdade e da isonomia dos brasileiros, 
independentemente de credo político, religioso ou raça.
{Revista do Livro Universitário, mar./abr. 2003, com adaptações.)
Considerando que as ideías apresentadas nos textos acima têm caráter 
unicamente motivador, redija um texto dissertativo, posicionando-se acerca do 
seguinte tema:
IDENTIDADE ÉTNICA E CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA.
Como a banca exigiu que o candidato se posicionasse acerca do 
tema, fica evidente que se espera dele um texto argumentativo. Vamos 
imaginar, então, que alguém tivesse escrito uma redação que começasse 
assim:
V efin ír a lguém ; como- branco-, negro- o w am arelo- 
não- provow umco m ed id a / hAAmxzvú&tU/ ao- longo- âxn- 
tewcpo*, u m w v e y clajftflfícaçõefr de$ífa ncxture^^ covv- 
dwyiroum/ co wuMâsacrefr, regivne* e^crcwocrata^ & gu erra* 
har^guináríx^y. XlmxfrbreHe/análí^ da/hisfjóría/prcAta/que/ 
é/preciso-e^ ítar a/ iegregaçãxy- de/ pejáoay de/ acordo- com/ 
a/ cor de ^yua/ pele/, o sotaque/ de/ íuos fa la / ow qu a lqu er 
traço- cu lturaL
'Dífy-ye/ que/ o zer h u m a n o - surgiu^ no- co Y \ tín e n t& afrO- 
cano-, te n d o , a/ p a r tir d a i, m igrado- pa ra / ou tro* contú- 
ne-nte#, como- a> Áyía' & cu Europeu A p a r t ir deé*a e^paru- 
bão- geográfica/, acredCtzxs-$e/ te r h aJv ído- diferen cíaçõe* 
anatôm ica^' e/ culturai*.
fcd a c ío io * a rg u m en to * biológico,* & relig ioso? foram / 
ubadofrpowa/jiAtfáficar p rá tic a s }iedioncla* de/ e^ermímo- 
ou/ dí& w ím inação; AOÍr pretexto- de/ v e rd a d e s c ie n tif ica s 
ou/ divina*. A p a r t ir da / d é c a d a / de/ 60, porém/, têm / cre*- 
c ld o o* mxyvimento* d e 'va lo r iza çã o -d a * d iferen ça* como- 
en riqu eoedora* d a / v ida / em/ *>cíedade/. Aliá*, a /própria / 
íd e ia / de/ zem elhança/ entre/ algun*, que/ pret&n&amente/ 
re^aX daria ' ou etccLutão- de/ outro*, é> faha/, um a/ ve^ que/ 
há/ y r d ife re n ç a i entre/ qu a isqu er $ere* huma^no* a in d a / 
que/ U len cia d a * pela/ ideo log ia / mxv&iifícante'.
(...)
Observe que o parágrafo de introdução é adequado à exigência da 
banca, uma vez que apresenta claramente a tese do autor, contrário à 
segregação. No entanto, ainda que os parágrafos de desenvolvimento 
pareçam bem redigidos, apenas o último se adéqua à tipologia argu- 
mentatíva, pois respalda o ponto de vista mencionado na introdução. 
O primeiro parágrafo de desenvolvimento (segundo parágrafo do texto) 
não cumpre seu papel argumentativo, uma vez que não dá sustentação 
à visão defendida pelo candidato. O conteúdo desse parágrafo dialoga 
com o tema do texto apenas de forma expositiva, não apresentando uma 
justificativa para a tese.
Como esse é um eixo muito comum, optamos por detalhar a seguir 
os principais tipos de argumentos de que yocê pode se valer na hora de 
redigir seu texto. Vale ressaltar, todavia, que o que propomos aqui não 
deve servir para limitá-lo, mas sim para orientar o planejamento e a exe­
cução de sua redação.
.. Cap. !V 0 PARÁGRAFO DE DESENVOLVIMENTO : >. £ 9
2 .TIPOS DE ARGUMENTO
2.1. Argumentação por causa/consequência
Uma maneira eficaz de defender um ponto de vista é explicar os 
motivos que levaram você a posicionar-se daquela forma. Esse é um dos 
tipos de argumentos mais freqüentes, visto que argumentar é, justamente, 
dizer os porquês que sustentam sua tese. Veja o trecho abaixo, retirado 
do artigo “Paulo Coelho na Loucademia”, de Félix Maier.
(...) PC já vendeu 41 milhões de livros em todo o mundo, e não 
é possível que tanta gente esteja enganada. Algum valor ele deve 
ter. No momento, ele é o 5.° escritor que mais vende no planeta - 
o que dá mais ou menos um terço de um fenômeno como o Hairy 
Potter atual ou a metade de um Karl May do século passado, que 
vendeu mais de 100 milhões de livros, incluindo a saga de “Win- 
neíou”, herói indígena da América do Norte. Ou, se você quiser 
outra comparação, isso dá quase a metade dos AK-47 Kalashnikov 
vendidos no mundo todo até hoje — um “best-selíer” macabro dos 
mercadores da morte.
Assim, nada mais justo que PC assumir sua cadeira na ABL.
Afinal, o critério para ingresso na casa dos simpáticos velhinhos é 
bastante elástico, a exemplo do que ocorre na França: aqui, o can­
didato não precisa necessária mente ser um homem de letras. Basta 
que tenha escrito um livro. Por isso, nos chazinhos da ABL podem 
ser vistas personalidades como o cirurgião plástico Ivo Pitanguy. O 
próprio Roberto Marinho, ao que parece, não tem um livro sequer 
publicado. Jornalista que foi, escreveu um monte de artigos em seu
96 TÉGNÍCÁS :DE REDAÇÃÒ PARÁ ÇOÍ>!CURS05 " Li/íari' A/rfado e'Vinícius Carvalho Pereira
próprio jomal, O Globo, que certamente daria para formar pelo menos 
um livro, explicam os entendidos no assunto.
(Disponível em: <http://www.digestivoculturai.coni/colunistas/coluna.asp?codígo=663>. Acesso em: 20 fev 2010.)
No trecho acima, pode-se observar a seguinte tese defendida pelo 
autor: “Assim, nada mais justo que PC assuma sua cadeira na ABL”. Veja 
que, para apresentar essa ideia, foi utilizado o vocábulo “assim”, conectivo 
de valor conclusivo. Tal conclusão se deriva de dois argumentos causais, 
que justificam como o autor do texto chegou a essa tese: “PC já vendeu 
41 milhões de livros em todo o mundo, e não é possível que tanta gente 
esteja enganada”; e “Afinal, o critério para ingresso na casa dos simpáticos 
velhinhos é bastante elástico (...). Basta que tenha escrito um livro”.
O raciocínio que o autor propõe é este: se Paulo Coelho já escreveu 
vários livros e ter escrito ao menos um é o requisito para se tornar membro 
da ABL, então Paulo Coelho merece esse título. Veja que, a partir dos 
argumentos causais, formulou-se uma tese conclusiva/consecutiva.
No entanto, na hora de produzir seu próprio texto, tome cuidado para 
não expressar uma falsa relação de causa/consequência entre fatos que 
são apenas próximos, mas não desencadeadores um do outro. Esse é um 
erro muito freqüente, relacionado a unia incorreta concatenação lógica das 
ideias, também chamada de sofisma.
Veja um exemplo dessa falha de raciocínio e de construção textual 
na questão a seguir, retirada de um concurso elaborado pela Universidade 
Estadual do Rio de Janeiro:
A televisão não transmite regularmente cenas de violência, nos 
telejomais, nos filmes e aíé nos desenhos animados? Pois então: a 
nossa sociedade é muito violenta! Como fica demonstrado, a causa 
da violência é a televisão. Logo, deve-se simplesmente censurar as 
cenas de violência de todos os programas de televisão.
(UESRJ) O argumento apresentado no trecho acima é um sofisma.
Podemos caracterizar este sofisma como:
a) círculo vicioso
b) desvio de assunto
c) silogismo não válido
d) confusão entre causas e efeitos
Nesse breve texto, o autor inverte a causa e a conseqüência que sus­
tentam sua argumentação. Na verdade, a televisão só veicula notícias de 
violência porque primeiro a violência se manifesta nas relações sociais. 
Um eixo como esse, além de comprometer pontos no quesito coerência, 
pode conduzir o candidato a uma estruturação completamente equivocada 
do seu texto, o que certamente implicaria sua reprovação.
C a p .lV - O PARÁGRAFO DE DESENVOLVÍMENTO'.' El
2.2. Argumentação por exempiificação
Um exemplo sempre traz força à argumentação, pois mostra casos 
reais em que a tese se prova verdadeira. Nesse sentido, é muito importante 
selecionar exemplos fortes, preferencialmente de conhecimento geral ou 
surpreendentes. Um exemplo mal escolhido, por ser pouco representativo, 
pode suscitar no leitor desconfiança e uma forte contra-argumentação.
Veja a seguir, em um trecho do editorial “Maioridade penal”, como 
a exempiificação foi empregada para defender determinado ponto de 
vista.
O jornal O Globo> do Rio de Janeiro, publicou recentemente 
ura editorial intitulado “Distorções Legais”, comentando o recente 
julgamento em São Paulo dos estupradores e assassinos de Liana 
Friedenbach e Felipe Caffé.
Os três criminosos que já eram maiores de idade na época foram 
condenados respectivamente a 124, 47 e 7 anos de prisão. O editorial 
não explica a diferença entre essas penas, mas informa que a pena 
máxima no Brasil é de 30 anos. E que o criminoso pode ser solto, por 
bom comportamento, após cumprir um sexto da pena. Esses jovens 
que praticaram um crime selvagem podem voltar às ruas em cinco 
anos. Provavelmente estuprarão e matarão novamente.
Mas o pior é o caso do quarto criminoso, R. C., conhecido pela 
alcunha de “Bolinha”. Embora já seja maior de idade agora, não o 
era na época do crime, em 2003. Ele deve ser solto da Febem em 
novembro próximo.
Essa proteção exagerada ao chamado “menor de idade” precisa ser 
discutida. Qual a razão para menores de 18 anos poderem cometer 
crimes praticamente na impunidade? Existe uma' lei sagrada sobre 
isso? Será a vontade de Deus? Será a moral cristã? (...)
(<http://opiniaoenoticia.com.br/iníenia.php?mat=4748> com adaptações.)
O autor revela claramente seu ponto de vista na frase “Essa proteção 
exagerada ao chamado ‘menor de idade’ precisa ser discutida”, seguida de 
interrogações que reforçam seu conteúdo de indignação e revolta. Porém, 
para que a argumentação não se pautasse apenas em critérios passionais, 
recorreu à força de um forte exemplo, de modo a ratificar racionalmente 
sua tese.
Antecedido por outros exemplos, o trecho a seguir é, no entanto, 
o mais forte de todos, devido à ênfase dada pelo autor à desproporção 
entre a pena recebida pelo criminoso e a gravidade do delito: “Mas o 
pior é o caso do quarto criminoso, Roberto Cardoso, conhecido pela 
alcunha de ‘Bolinha’. Embora já seja maior de idade agora, não o 
era na época do crime, em 2003. Ele deve ser solto da Febem em 
novembro próximo”.
98 TÉÇNÍCAS OE REDAÇÃO PÍ\RhÇOHCURSOS~UlianFurtadoeVinidus Carvalho Pereira
2 3 . Argumentação por dados estatísticos
Para provar o que se diz, dados estatísticos são comumente utiliza­
dos, visto que são fruto de pesquisas feitas por órgãos de reconhecimento 
público. É preciso tomar cuidado, no entanto, ao selecionar quais dados 
serão usados, citando a fonte de que foram retirados.
Veja a seguir um exemplo desse recurso argumentativo:
Beleza pode ajudar a ganhar eleição, mostra estudo
A boa aparência pode ajudar a ganhar eleições, especialmente para 
mulheres, sugeriu uma pesquisa feita por economistas nórdicos. A 
beleza pode influenciar se uma disputa estiver muito apertada, disse 
Panu Poutvaara, da Universidade de Helsinque.
Ele e dois economistas suecos organizaram uma entrevista pela 
Internet com 2.772 pessoas, na Alemanha, na França, na Suécia, na 
Dinamarca e nos Estados Unidos, para testar o quanto o sexo e a 
aparência física afetam a política.
O resultado básico? “A beleza não é determinante para o resultado, 
mas ajuda nas margens”, disse Poutvaara. Sozinha, a beleza respondeu 
por apenas alguns pontos percentuais, mas ela pesou mais que outras 
características percebidas pelas fotos.
Os números mostraram que a tese se aplica bem mais ao caso 
das mulheres. Os dados também sugeriram que as mulheres jovens 
têm uma desvantagem natural nas pesquisas, seja contra homens mais 
velhos como contra mulheres mais velhas, observação que ainda está 
sendo analisada pelos economistas, afirmou o pesquisador.
Poutvaara e seus colegas pediram às pessoas que dessem notas para 
os rostos que apareciam em fotos de campanha de 1.929 políticos que 
concorreram às eleições na Finlândia em 2003 e 2004, sendo 52% 
dos candidatos homens e 48% mulheres.
(<http://noticias.tena.com:br/mundo/mtema/0„OI 1275200-EI310,00.htm!>)
A tese do fragmento acima está presente logo em sua primeira frase, 
quando o autor afirma que “a boa aparência pode ajudar a ganhar eleições, 
especialmente para mulheres”. Caso não utilizasse dados estatísticos para 
justificar tal afirmação polêmica, o autor do texto seria certamente acusado 
de machista e preconceituoso. Para evitar tais reações e defender sua tese, 
citou os resultados da “pesquisa feita por economistas nórdicos”. Como 
exemplo do uso de tal estratégia argumentativa, pode-se citar o seguinte 
trecho: “Os números mostraram que a tese se aplica bem mais ao caso das 
mulheres. Os dados também sugeriram que as mulheres jovens têm uma 
desvantagem natural nas pesquisas, seja contra homens mais velhos como 
contra mulheres mais velhas, observação que ainda está sendo analisada 
pelos economistas, afirmou o pesquisador”.
Cap. IV - O PARÁGRAFO DE DESENVOLVIMENTO m
No que diz respeito a essa estratégia de argumentação, é preciso, 
porém, fazer uma ressalva. Alguns candidatos acham que inventar dados 
estatísticos é uma boa ideia, mas não levamem consideração que incor­
reções dessa natureza podem acarretar penalizações graves nos quesitos 
coerência e/ou argumentação. Se você não tem certeza dos dados, dê 
preferência a expressões quantitativas menos precisas, como a maioria 
de, mais da metade de, uma parcela ínfima etc.
2.4. Argumentação por testemunho de autoridade
Outra forma de sustentar sua argumentação é mostrar opiniões de 
pessoas consideradas autoridades no tema em questão, as quais tenham 
um posicionamento semelhante ao seu. Se em um debate seu interlocutor 
discorda de você e decide contrapor-se a seus argumentos, é muito mais 
difícil lançar por terra à opinião de alguém reconhecidamente famoso por 
sua visão sensata e especializada acerca de determinada questão.
Veja como essa estratégia argumentativa foi empregada no texto 
“Indústria da soja não vai comprar de quem desmatou a Amazônia”, cuja 
passagem que nos interessa analisar é apresentada a seguir:
Indústria da soja não vai comprar 
de quem desmatou a Amazônia
(...)
As principais empresas comercializadoras de soja ligadas à 
Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove) e à 
Associação Nacional das Empresas Exportadoras de Cereais (Anec) 
anunciaram hoje que não vão comprar soja da safra 2008-2009 que 
tenha provocado desmatamento na Amazônia. E mais: não haverá 
crédito para os fazendeiros que desafiaram a moratória, em vigor 
desde julho de 2006. A reação da indústria é uma resposta clara aos 
resultados do segundo monitoramento do Grupo de Trabalho da Soja 
(GTS), que detectou fazendas que plantaram o grão em áreas recém- 
desmatadas na Amazônia.
O anúncio das empresas foi feito durante evento no Ministério 
do Meio Ambiente (MMA), em Brasília, e contou com a presença 
do ministro Carlos Mine, do presidente da Abiove, Cario Lovatelíi, 
de representantes da indústria da soja - como Bunge, Cargill, ADM 
e Amaggi do presidente da Anec, Felício Aguiar, e também das 
organizações não governamentais que compõem o Grupo de Trabalho 
da Soja.
“Quem achou que a moratória não era para valer vai perder dinheiro 
e mercado. A indústria da soja está dando um exemplo de respeito à 
floresta e aos consumidores, que não querem ser coautores da destruição 
da Amazônia”, disse Paulo Adário, diretor da campanha da Amazônia
do Greenpeace. “A medida é ainda uma grande notícia para o governo, 
que assumiu meias para reduzir drasticamente o desmatamento, e para 
o mundo, assustado com as mudanças ciimáticas”.
(<http://www.greenpeace.org/brasil/amazonia/noticias/ind-stria-da-soja-
confirma-que>)
Apesar de se tratar de uma notícia, esse texto tem teor argumentativo, 
uma vez que a escolha de palavras apresentada pelo autor, especialmente 
no primeiro parágrafo, induz o leitor a posicionar-se também contra os 
fazendeiros que desafiaram a moratória e plantaram soja em áreas recém- 
-desmatadas.
A fim de ressaltar a ilegalidade de tais ações, o autor citou uma fala de 
Paulo Adário, que explicita a relevância e a necessidade de tomar medidas 
como essa para proteger o meio ambiente. No que diz respeito à pontuação, 
você não pode esquecer que, sempre que for citar a fala de outra pessoa, é 
melhor fazê-lo entre aspas. Contudo, como na hora da prova você não vai 
ter acesso ao texto literal de outrem, é melhor fazer citações indiretas, caso 
você se lembre de uma frase famosa de alguma personalidade histórica. 
Com a citação indireta (sem aspas), você pode parafrasear a outra pessoa, 
precisando apenas se preocupar com a manutenção do sentido original, e 
não com a reprodução exata de cada palavra.
Por fim, gostaríamos de destacar duas estratégias empregadas nesse 
texto, com vistas a tornar ainda mais convincente seu argumento de 
autoridade. Em primeiro lugar, em vez de simplesmente nomear quem 
disse a frase citada - Paulo Adário o autor fez questão de dizer que 
cargo essa pessoa desempenha em relação ao meio ambiente, o que 
toma sua opinião ainda mais convincente. Lembre-se de que, nesse 
caso, não é apenas o nome em si que confere autoridade à visão de 
tal indivíduo, mas sim a responsabilidade e a importância de sua atua­
ção diante do tema discutido. Ademais, note a função que o segundo 
parágrafo desempenha: ele ressalta que a frase não só foi pronunciada 
por uma autoridade no tema, mas para outras autoridades, igualmente 
significativas e respeitáveis.
TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Ulian Furtado e Vinkius Carvalho'Pereira:
2.5. Argumentação por contra-argumentação
Muitas vezes, ao redigir um texto argumentativo, você já imagina 
quais serão os possíveis posicionamentos contrários de alguns leito­
res. Para fortalecer sua argumentação, você pode citar essas visões 
diferentes da sua e contrapor-se a elas, utilizando o que chamamos 
de contra-argumentação, antecipando (e descartando) eventuais opo- 
sições que outras pessoas poderiam apresentar diante de sua tese. E
Cap; IV - O PARÁGRAFO DÊ DESENVOLVIMENTO
preciso tomar cuidado, no entanto, para refutar com consistência esses 
contra-argumentos, ou seu posicionamento pode perder credibilidade 
diante deles.
Observe o trecho abaixo, retirado da crônica “Os homens desejam as 
mulheres que não existem”, que circula na Internet e é atribuída ao autor 
Arnaldo Jabor.
Atente para o uso que se fez da contra-argumentação para respaldar 
a tese defendida.
Silicone, pelos dourados, bumbuns malhados, tudo para agradar aos 
consumidores do mercado sexual. Olho as revistas povoadas de mulheres 
lindas... e sinto uma leve depressão, me sinto mais só, diante de tanta 
oferta impossível. Vejo que no Brasil o feminismo se vulgarizou numa 
liberdade de “objetos”, produziu mulheres livres como coisas, livres 
como produtos perfeitos para o prazer. A concorrência é grande para 
um mercado com poucos consumidores, pois há muito mais mulher 
que homens na praça (e-mails indignados virão...). Talvez este artigo 
seja moralista, talvez as uvas da inveja estejam verdes, mas eu olho 
as revistas de mulher nua e só vejo paisagens; não vejo pessoas com 
defeitos, medos. Só vejo meninas oferecendo a doçura total, todas 
competindo no mercado, em contorções eróticas desesperadas porque 
não têm mais o que mostrar.
(Disponível em: <http://www.pensador.info/frase/MzQ0NTc2/>. Acesso
em: 26 fev. 2010.)
A tese central defendida pelo autor no trecho analisado é que “no 
Brasil o feminismo se vulgarizou numa liberdade de ‘objetos’, produziu 
mulheres livres como coisas, livres como produtos perfeitos para o prazer”. 
No entanto, ao longo do texto, o autor antecipa possíveis retaliações a 
seu posicionamento, como se percebe na passagem: “Talvez este artigo 
seja moralista, talvez as uvas da inveja estejam verdes”. Veja que essas 
ideias contrárias à tese foram introduzidas pela palavra “talvez”, a qual 
reforça o quão duvidosas seriam essas críticas, com as quais o autor não 
concorda.
E importante perceber que a oposição entre essas ideias e a tese 
defendida pelo autor não toma o texto contraditório. Na verdade, para 
fortalecer sua argumentação, o autor cita possíveis pontos de vista opostos, 
para logo rechaçá-los, no excerto: “mas eu olho as revistas de mulher nua 
e só vejo paisagens; não vejo pessoas com defeitos, medos”. A palavra 
“mas”, conectivo de adversidade/contraste, introduz uma oposição a es­
ses possíveis pontos de vista contrários, dando suporte à tese defendida 
pelo autor. Por fim, a última frase, a mais impactante do texto, rebate os 
contra-argumentos que poderiam ser levantados pelo leitor e que foram já 
antecipados (e negados) por Jabor.
; / TÉCNICAS DE. REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado & Vinícius Cárvalho Pereira
3. EXERCÍCIOS
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 1:
Repórter - As empresas já se convenceram de que ser ético e social­
mente responsável é lucrativo?
Ricardo Young - Quemnão enxerga a importância da sustentabiiidade 
corre um sério risco de obsolescência intelectual e analfabetismo em relação 
ao seu tempo. E não se trata de ser ou não ser lucrativo, A responsabilidade 
social tem a ver com a capacidade de permanecer ou não no mercado. Em 
uma empresa socialmente responsável, pode-se catalisar a inteligência ins­
talada e lhe dar uma direção e um sentido. Isso fortalece a empresa, torna-a 
mais competitiva, aumenta a autoestima e a dedicação dos funcionários, 
amplia o sentimento de pertencimento - a vida das pessoas, em vez de ser 
ameaçada peio trabalho, é fortalecida por ele. Essas empresas têm melhores 
condições de desempenho e, portanto, de prolongar sua vida.
(Ricardo Young. Revista Planeta, p. 10, out. 2009, com adaptações.}
A partir da organização das estruturas lingüísticas e das ideias do texto, julgue os 
itens a seguir:;
1. (CESPE) Subentende-se da argumentação do texto que, hoje/ a capacidade 
de uma empresa "permanecer ou não no mercado" independe do conceito 
tradicional de lucro.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 2. 
Choque de gestão na Justiça Brasileira
Falar sobre justiça é uma questão bastante ampla. Ainda mais quando 
se pretende discutir o futuro da Justiça - o que se espera deia para os 
anos que se seguem. Começaria relatando um fato hipotético, que pode 
ser real. Numa estrada deserta, há um cidadão caminhando. Então, um 
caminhoneiro questiona: Aonde o senhor vai? A resposta é rápida: Não 
sei! Pode me deixar em qualquer iugar. E é isso que acontece quando não 
se sabe o que se quer, quando qualquer caminho está correto. Portanto, 
é preciso que se tenha um plano estratégico. Para se lograr sucesso no 
atingimento dos objetivos, seja na economia, no plano internacional, na 
educação, faz-se necessário saber aonde vamos.
Atualmente, não se tem um plano de gestão. Assim, indaga-se: o que 
fazer para chegar lá? Como fazê-lo? O problema da Justiça não pode ser 
resolvido no plano macro. Ademais, não se pode politizar a Justiça. Algu­
mas decisões recentes têm trazido absurda insegurança para a população. 
As decisões políticas se constituem em probiema sério para o Brasil. Essa 
tendência atual de levar a política para dentro dos tribunais não é positiva 
para o País. É um erro grave.
Conforme dito anteriormente, não se pode resolver o problema da 
Justiça por atacado - desde a constituição de 88 tenta-se solucionar os
Gap. IV - O PARÁGRAFO DE DESENVOLVIMENTO
entraves do judiciário por meio de reformas amplas, que funcionam mais 
como paliativos do que como soluções. Eu, particularmente, ouço sobre 
essa tal de reforma e nada acontece. Nunca vem a tat da reforma. Cría-se 
um Conselho, levantam-se biografias, há a existência de Tribunais que 
operam como palanques políticos, enquanto a reforma efetiva passa longe 
da sociedade. Não se pode ficar discutindo perfumaria. É preciso discutir 
pontos nevrálgicos da Justiça para o Brasii avançar.
Entende-se que o melhor caminho para os problemas da Justiça é 
resoivê-ios no particular. A Justiça é algo como educação e saúde. Não se 
faz educação e saúde em massa, não basta quantidade, e sim qualidade.
Resolve-se hospital por hospital. Médico por médico. E no âmbito 
judiciário deve ser: processo por processo. Juiz por juiz. Vara por vara. A 
Reforma não se faz com conversa fiada, isso se faz com plano de gestão 
e planejamento permanente.
O Brasii tem uma excelente estrutura no Judiciário - uma das melhores do 
mundo. Não deve nada aos melhores. Possui também um corpo importante 
de recursos humanos. Então, o País não precisa de fórmulas mirabolantes.
Basta haver um choque de gestão. É preciso arregaçar as mangas e atender 
a demanda do povo. Muito mais do que falta de recursos, é uma falta de 
prioridades. Temos de ter objetivos e fazer o Brasil crescer.
(Disponível em: http://jbonline.terra.com.br/jb/papei/brastl/2006/04/09/ 
jorbra20060409004.html. Acesso em: 04 jun. 2009.)
(CONESUL) Esse texto defende que a justiça brasileira deve passar por um 
choque de gestão, como já sugere o próprio título. Para comprovar sua tese, 
seu ponto de vista, a autora baseia-se em argumentos. Alguns desses argu­
mentos encontram-se na alternativa:
a) Atualmente, não se tem um plano de gestão. (...) As decisões políticas se constituem 
em problema sério para o Brasil.
b) Eu, particularmente, ouço sobre essa tal de reforma è nada acontece. Nunca vem a 
ta! da reforma (...). Não se pode ficar discutindo perfumaria. É preciso discutir pontos 
nevrálgicos da Justiça para o Brasif avançar.
c) Entende-se que o melhor caminho para os problemas da Justiça é resolvê-los nõ 
particular. (...) Não se faz educação e saúde em massa, não basta quantidade, e sim 
qualidade.
d) O Brasil tem uma excelente estrutura no Judiciário - uma das melhores do mundo. 
Não deve nada aos melhores. (...) Então, o País não precisa de fórmulas mirabolantes. 
Basta haver um choque de gestão.
e) Todas as alternativas anteriores estão corretas.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 3.
Mistura lingüística
Muita gente, em vários países, fala um pouco de ingiês todo dia sem 
perceber. Sem contar o "informatiquês" cujos verbetes - como megabyte, 
browser, hard disk, software - são expressões do mais puro inglês, muitas 
outras paiavras do dia a dia de brasileiros, franceses, alemães e, princi-
palmente, japoneses têm origem no idioma bretão. Futebol (football), 
sanduíche (sandwich) e deletar (verbo criado a partir de to delete, suprimir) 
são exemplos conhecidos de anglicismo {uso de expressões em ingíês ou 
originadas dele) no português. Os alemães apertam o Resetknopf{resetbutton 
ou botão de reset) para iniciar o computador. E os franceses, conhecidos 
por sua ojeriza a estrangeirismos, despedem-se dos colegas de trabalho 
na sexta-feira dizendo bon weekend.
A situação do japonês é particularmente curiosa. Estima-se que cerca 
de vinte mil palavras do vocabulário moderno tenham origem no ingiês. 
Sorvete é aisukurimu, de ice creom. Ar condicionado é eacon, de aircondi- 
tioner. E banheiro deixou de ser obenjyo para se tornar toiré, de toiíet
A história dessa imposição lingüística certamente desperta animosi- 
dades. Na índia, por exemplo, onde o inglês é uma das línguas oficiais, 
ele não é muito ouvido nas ruas. Falar inglês ainda lembra um passado 
de opressão.
('Galileu, fev. 2002, p. 37, com adaptações.}
Julgue os itens a seguir, que se referem às ideias e às estruturas do texto acima.
3. (CESPE) A seleção de argumentos e do vocabulário mostra o grau de engaja­
mento do autor em face do assunto: paralelamente às funções referencial e 
metalinguística, que veiculam informações objetivas, há marcadores lingüís­
ticos que deixam entrever elementos subjetivos.
: ' TÉCNICAS DE REDAÇÃOPARÁ'CONCURSOS Uíiçin.Furtado e Vinícius'^rvalhó:Berei(à''i:
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 4.
Não é. preciso muito esforço para notar de que é feito o cotidiano de 
um indivíduo brasileiro socioeconomicamente privilegiado. Os assuntos 
da vida privada são, de longe, os que dominam qualquer outro tipo de 
preocupação. No entanto, o cuidado excessivo com o bem-estar não apenas 
realimenta a cultura do alheamento como se reduplica em irresponsabi­
lidade para consigo.
A rede de atendimento aos "famintos de felicidade" tornou-se um 
negócio rendoso, e os usuários, para mantê-la, exigem mais exploração 
dos que já são superexplorados. Quem vive permanentemente na infeli­
cidade não pode olhar o outro como aíguém com quem possa ou deva 
preocupar-se.
O sentimento íntimo de quem padece é de que o mundo lhe deve 
alguma coisa, e não de que ele deva qualquer coisa ao mundo. O "comércio 
de felicidade" é orquestrado de tal modo que o sentimento de deficiência, 
escassez ou privação pede sempre mais dinheiro emais atenção para 
consigo, como meio de evitar a presença avassaladora das frustrações 
emocionais.
{Jurartdir Freire. A ética democrática e seus inimigos - o lado privado da 
vtoiência pública. In: Ari Roitman (org). O desafio ético, 2000, p. 83-84,
com adaptações.)
Com base nas ideias e estruturas do texto acima, julgue os itens a seguir.
Cap. IV - Õ PARÁGRAFO DE DESENVOLVIMENTO
(CESPE) Depreende-se da argumentação do texto que os principais compo­
nentes do '"cotidiano de um indivíduo brasileiro socioeconomicamente privi­
legiado" são o alheamento e a busca peia felicidade.
Leia o texto a seguir para responder às questões de números 5 e 6.
Se a economia comportamental introduziu o estudo mais detalhado 
das emoções na anáiise financeira, era apenas natural que alguns pes­
quisadores dessem o passo seguinte para investigar muito literalmente 
como funciona a cabeça do investidor. A neuroeconomia combina as mais 
recentes descobertas da neurociêncla - em particular, técnicas de mapea­
mento cerebraí como a ressonância magnética funcionalaperfeiçoada nos 
anos 90 - com os conceitos da psicologia financeira e da economia. É um 
campo de estudos ainda recente - conta cerca de uma década, mas já 
acena com o entendimento fascinante da biologia do investidor. Embora 
os experimentos mostrem a importância do pensamento racionai, será um 
equívoco concluir que a mente do investidor é pura objetividade. O mais 
curioso é que a atividade do núcleo cerebral Ügado aos sentimentos é mais 
intensa antes da confirmação de um ganho financeiro no jogo. Esse é um 
dado importante da psicologia do investidor: a expectativa por um bom 
resultado acaba se revelando mais excitante que o resultado em si.
{O nascimento da neuroeconomia. Veja, 14.01.2009, p. 69,
com adaptações.)
Julgue os seguintes itens, a respeito do texto acima.
(CESPE) De acordo com a argumentação do texto, uma prova do equívoco de se 
considerar a mente do investidor como "pura objetividade" está na ativação do 
núcleo dos sentimentos no cérebro e na excitação da expectativa, verificadas 
em pesquisas de neuroeconomia.
Leia o texto a seguir para responder às questões de números 6, 7 e 8.
Ao apresentar a perspectiva locai como inferior à perspectiva global, como 
incapaz de entender, de explicar e, em úítima análise, de tirar proveito da 
complexidade do mundo contemporâneo, a concepção global atualmente 
dominante tem como objetivo fortalecer a instauração de um único código 
unificador de comportamento humano, e abre o caminho para a realização 
do sonho definitivo de economias globais de escala. Como resultado deste 
processo, o "modelo econômico" alcança sua perfeição, que não é somente 
descrever o mundo, mas efetivamente governá-lo.
E esta é a essência mesma do paradigma moderno de desenvolvimento 
e de progresso, cujo estágio supremo de perfeição a globalização represen­
ta. Fica claro que a escala não poderia ser melhor ou maior do que sendo 
giobal e é somente neste nível que a sua primazia e universalidade são 
finalmente afirmadas, junto com a certeza de que jamais poderia surgir 
alguma alternativa viável ao sistema ideologicamente dominante funda­
do no livre mercado, dada a ausência de qualquer cultura ou sistema de 
pensamento alternativo.
: TÉCNICAS.DÉ REDAÇÃO PARACONCURSOS ~ Liliàn Furtado e . Wnídus Carvalho. Pereira
Se virmos o fenômeno da globalização sob esta luz, creio que não po­
deremos escapar da conclusão de que o processo é totalmente coerente 
com as premissas da ideologia econômica que têm se afirmado como a 
forma dominante de representação do mundo ao longo dos últimos 100 
anos, aproximadamente.
A globalização não é, portanto, um acontecimento acidental ou um 
excesso extravagante, mas uma extensão simples e lógica de um "argu­
mento" Parece realmente muito difícil conceber um resultado finai que 
fizesse mais sentido e fosse mais coerente com as bases ideológicas sobre 
as quais está fundado. Em suma, a globalização representa a realização 
acabada e a perfeição do projeto de modernidade e de seu paradigma 
de progresso.
{G. Muzio. A globalização como o estágio de perfeição do paradigma mo­
derno: uma estratégia possível para sobreviver à coerência do processo. Tra­
dução de Luís Cláudio Amarante. In: Francisco de Oliveira e Maria Célia Paolí 
(Orgs.). Os sentidos da democracia - Políticas do dissenso e hegemonia globai.
2. ed. Petrópolis: Vozes; Brasília: NEDIC, 1999, p. 138-139, com adaptações.)
Com relação aos sentidos e a aspectos lingüísticos do texto, julgue os itens se­
guintes.
6. (CESPE) No texto, é apresentada, em forma dissertativa, uma análise do pro­
cesso de globalização e da hegemonia, no mundo contemporâneo, do sistema 
econômico embasado no livre mercado.
7. (CESPE) A direção argumentativa do texto evidencia a intenção do autor em 
fazer uma apologia do modelo de desenvolvimento e de progresso que a 
globalização representa.
8. (CESPE) Infere-se do texto que a globalização constitui o caminho ideaf para 
a superação do atraso econômico verificado em alguns países, cuja cultura 
local se mostra incapaz de compreender a complexidade do mundo contem­
porâneo.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 9.
A água minera! é hoje associada ao estilo de vida saudável e ao bem-estar. 
As garrafinhas de água mineral já se tornaram acessórios de esportistas e, 
em casa, muita gente nem pensa em tomar o líquido que saí da torneira
- compra água em garrafas ou galões. Nos.últimos dez anos, em todo o 
pianeta, o consumo de água minerai cresceu 145% - e passou a ocupar 
um lugar de destaque nas preocupações de muitos ambientalistas.
O foco não está exatamente na água, mas na embalagem. A fabrica­
ção das garrafas plásticas usadas pela maioria das marcas é um processo 
industrial que provoca grande quantidade de gases, agravando o efeito 
estufa. Ao serem descartadas, elas produzem montanhas de lixo que 
nem sempre é reciclado. Muitas entidades ambientalistas têm promovido 
campanhas de conscientização para esclarecer que, nas cidades em que
Cap. IV - O PARÁGRAFO DE DESENVOLVIMENTO
a água canaiizada é bem tratada, o líquido que sai das torneiras em nada 
se diferencia da água em garrafas. As campanhas têm dado resultado 
nos lugares onde há preocupação geral com o ambiente e os moradores 
confiam na água encanada.
Apenas nos Estados Unidos, os processos de fabricação e reciclagem 
das garrafas plásticas consumiram 17 milhões de barris de petróleo em 
2006. Esses processos produziram 2,5 milhões de toneladas de dióxido de 
carbono e outros gases do efeito estufa, poiuição equivalente à de 455.000 
carros rodando normalmente durante um ano. O dano é multiplicado 
por três quando se consideram as emissões provocadas por transporte e 
refrigeração das garrafas.
O problema comprovado e imediato causado pelas embalagens de água 
é o espaço que elas ocupam ao serem descartadas. Como demoram pelo 
menos cem anos para degradar, elas fazem com que o voiume de lixo no 
pia neta cresça exponendaimente. Quando não vão para aterros sanitários, 
os recipientes abandonados entopem bueiros nas cidades, sujam rios e 
acumuiam água que pode ser foco de doenças, como a dengue. A maioria 
dos ambientalistas reconhece evidentemente que, nas regiões nas quais 
não é recomendável consumir água diretamente da torneira, quem tem 
poder aquisitivo para comprar água mineral precisa fazê-lo por uma questão 
de segurança. De acordo com relatório da ONU divulgado recentemente,
170 crianças morrem por hora no planeta devido a doenças decorrentes 
do consumo de água imprópria.
{Rafael Corrêa e Vanessa Vieira. Veja, 28.11.2007, p. 104-105,
com adaptações.)
(FCC) O argumento que Justifica a preocupação com o meio ambiente, de
acordo com o texto, está na afirmativa:
a) A água mineral é hoje associada ao estilo de vida saudável e aobem-estar.
b) Nos últimos dez anos, em todo o planeta, o consumo de água minerai cresceu 145%.
c) As garrafinhas de água minerai já se tornaram acessórios de esportistas.
d) Muitas entidades ambientalistas têm promovido campanhas de conscientização.
e) As campanhas têm dado resultado nos lugares onde há preocupação geral com o 
ambiente.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 10. 
Duas linguagens
Na minha juventude, tive um grande amigo que era estudante de Direito. 
Ele questionava muito sua vocação para os estudos jurídicos, pois também 
alimentava enorme interesse por literatura, sobretudo pela poesia, e não 
achava compatíveis a linguagem de um código penal e a freqüentada 
pelos poetas. Apesar de reconhecer essa diferença, eu o animava, sem 
muita convicção, lembrando-lhe que grandes escritores tinham formação 
jurídica, e esta não lhes travava o talento literário.
Outro dia reencontrei-o, depois de muitos anos. É juiz de direito numa 
grande comarca, e parece satisfeito com a profissão. Hesitei em lhe pergun-
U J J TECNiCAS DE REDAÇÃO PARA CONCÚRSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
tar sobre o gosto pela poesia, e ele, parecendo adivinhar, confessou que 
havia publicado alguns íivros de poemas - "inteiramente despretensiosos" 
frisou. Ficou de me mandar um exemplar do último, que havia lançado 
recentemente.
Hoje mesmo recebi o livro, trazido em casa por um amigo comum.
Os poemas são muito bons; têm uma secura de estilo que favorece a 
expressão depurada de finos sentimentos. Busquei entrever naqueles ver­
sos algum traço bacharelesco, alguma coisa que lembrasse a linguagem 
processual. Nada. Não resisti e telefonei ao meu amigo, perguntando-lhe 
como conseguiu elidir tão completamente sua formação e sua vida profis­
sional, freqüentando um gênero literário que costuma impelir ao registro 
confessional. Sua resposta:
"Meu caro, a objetividade que tenho de ter para julgar os outros 
comuníca-se com a objetividade com que busco tratar minhas paixões.
Ser poeta é afinar palavra justas e precisos sentimentos. Justeza e justiça 
podem ser irmãs"
E eu que nunca tinha pensado nisso...
(Ariovaldo Cerqueira, inédito.)
10. (FCC) O argumento em favor da plena compatibilidade entre a linguagem da
poesia e a das práticas jurídicas está formulado na seguinte frase:
a) É ju iz de direito num a grande comarca, e parece satisfeito com a profissão.
b) Apesar de reconhecer essa diferença, eu o anim ava, sem m uita convicção (...)
c) (...) têm um a secura de estilo que favorece a expressão depurada de finos sentim en­
tos.
d) (...) conseguiu elidir tão com pletam ente sua form ação e sua vida profissional (...)
e) Justeza e justiça podem ser irmãs.
4. ATIVIDADE DE PRODUÇÃO TEXTUAL
Nesta etapa, vamos treinar apenas os parágrafos de desenvolvimento, 
conforme o que estudamos neste capítulo. Para tanto, observe as propostas 
de redação abaixo e redija um parágrafo argumentativo para cada um dos 
tópicos determinados pela banca. Com isso, você terá, para cada proposta, 
três parágrafos argumentativos, o ideal para uma redação de 30 linhas.
CESPE 2008 - Polícia Civil PB Agente de Investigação e Escrivão de Polícia
Em meio aos saques e à insegurança, cidades catarinenses atingidas 
pelas chuvas estão sob uma espécie de toque de recolher decretado pela 
Polícia Militar. Só poderão ficar nas ruas à noite moradores ou voluntários 
para ajudar os desalojados. Filas de distribuição de alimentos se espalham 
pelas cidades.
(O Globo, 28.11.2008, capa.)
cáp. iv - o parágrafo. de desenvolvimento 109
Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, 
redija texto dissertativo acerca do seguinte tema.
EM MEIO À TRAGÉDIA, A VIOLÊNCIA QUE GERA INSEGURANÇA
Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:
• aspectos marcantes do quadro de violência e insegurança no'Brasil atual;
• que esperar do aparelho policia! ante a explosão de violência;
• políticas públicas em áreas marcadas pela insegurança.
CESPE 2008 - MTE - Administrador 
Políticas públicas para o esporte e o lazer 
no Brasil (1996-2005)
A discussão sobre políticas públicas tem recebido contínuas contribui­
ções de pesquisadores de várias áreas do conhecimento. Muito embora 
seja dada bastante atenção ao assunto, há que se ressaltar que o grande 
debate proposto peias diferentes áreas dedica-se a temáticas relacionadas 
a trabalho e economia ou saúde e educação, sendo desconsiderados temas 
que dizem respeito a esporte e lazer.
Parece claro para o governo (e também para os pesquisadores) que o 
estabelecimento de políticas para setores como trabalho e saúde é mais 
urgente do que para esporte e lazer.
O lazer figura entre os direitos sociais definidos no art. 6.° da Constituição 
Federai de 1988, que assim estabelece: "São direitos sociais a educação, 
a saúde, o trabalho, a moradia, o tazer, a segurança, a previdência social, 
a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, 
na forma desta Constituição." Portanto, embora seja um direito social, o 
lazer é tratado, na prática, como tema periférico. Nesse sentido, cabem 
as seguintes indagações: Qual é o espaço destinado ao lazer nas políticas 
governamentais? O íazer é tratado como direito social?
Ao que tudo indica, o lazer foi efetivamente compreendido como di­
reito social cuja proteção é de iniciativa do Ministério do Esporte. Como 
uma das dimensões do esporte é a recreação, o lazer foi adotado então 
como um dos tópicos a serem considerados pelas políticas de esporte. 
Tanto é assim que o tema da i Conferência Nacional do Esporte, realizada 
em junho de 2004, em Brasília, foi Esporte, Lazer e Desenvolvimento Hu­
mano. O mesmo ocorreu na I! Conferência Nacional do Esporte, realizada 
em maio de 2006, também em Brasíiía, em que novamente a temática foi 
relacionada ao lazer (Construindo o Sistema Nacional de Esporte e Lazer). 
De ambas as conferências resultaram diretrizes para a definição da política 
nacional de esporte e lazer. Além dessas conferências, houve também a 
criação, no âmbito do Ministério do Esporte, da Secretaria Nacional de 
Desenvolvimento do Esporte e do Lazer.
Embora atualmente se perceba considerável avanço em relação ao 
início da discussão sobre lazer como tema que deve ser privilegiado por
políticas públicas, há ainda carência de programas e ações governamentais 
que sigam nessa direção.
(Dulce Maria F. De A. Suassuna. <observatoriodoesporte.org.br>,
com adaptações.)
Considerando que o texto acima tem caráter meramente motivador, elabore um 
texto dissertativo acerca do seguinte tema.
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ESPORTE E O LAZER
Ao elaborar o seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:
• relação entre esporte, lazer e cidadania;
• papel do Estado no planejamento de políticas para o esporte e para o lazer;
• possibilidade de integração entre as políticas de esporte e lazer e políticas de 
outras naturezas (como econômica, de segurança ou de saúde pública).
n a TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira .
GABARITO
í n 2 - E 3 - C
4 - E 5 - E 6 - C
! ! ^ í 1 Í m 00 f 9 - B
10 - A
Sugestão de respostas à atividade de produção textual
Observe que, nesta atividade, estamos trabalhando apenas a construção de pará­
grafos argumentativos isolados, de modo que ainda não estamos nos dedicando às 
relações coesivas entre eles, que estudaremos aprofundadamente no capítulo VI.
a) EM MEiO À TRAGÉDIA, A VIOLÊNCIA QUE GERA INSEGURANÇA
• aspectos marcantes do quadro de violência e insegurança no Brasil atua!
O alarmante aumento dos índices de criminalidade no Brasil em momentos de 
tragédia, como as enchentes que afligiram o Rio de Janeiro no início de 2010, gera 
um crescente sentimento de insegurança napopulação. Como conseqüência disso, 
se não bastassem os incidentes de violência a que o país já está acostumado, tais 
números sobem ainda mais quando a população se vê confrontada com situações 
caóticas inesperadas, como tragédias naturais.
* o que esperar do aparelho policial ante a explosão de violência
O Estado precisa intervir por meio do policiamento ostensivo nas áreas mais 
afetadas pela insegurança, especialmente quando da ocorrência de eventos de força
Cap. IV - O PARÁGRAFO DE DESENVOLVIMENTO BB
maior. No entanto, não basta uma polícia que invada as comunidades, aja de forma 
pontual e não dê continuidade aos processos de estabilização daquelas sociedades. É 
necessário que as forças armadas, civis ou militares, desenvolvam projetos contínuos 
nessas localidades, interagindo de forma permanente e amiga com os cidadãos, à 
guisa do que vem sendo implantado em vários estados do país, com o nome de 
"polícia comunitária".
• políticas públicas em áreas marcadas pela insegurança
O governo não pode se contentar com medidas da ordem policial, sendo necessários 
investimentos em educação e saúde púbiica nas áreas marcadas pela insegurança, a 
fim de promover reduções das desigualdades sociais. Medidas assistènciaüstas, como 
a oferta de aiimentos ou medicamentos gratuitos, têm uma eficácia muito reduzida, 
devendo ser empregadas por pouco tempo e logo sendo substituídas por ações 
preventivas.
fa) POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ESPORTE E O LAZER
* relação entre esporte, lazer e cidadania
O esporte e o lazer estão intimamente ligados à noção de cidadania, uma vez que 
promovem um exercício constante do respeito aos direitos e deveres. Nesse sentido, 
toda atividade iúdica - esportiva ou não - é baseada em um conjunto de regras que 
devem ser obedecidas e um grupo de direitos de que todo participante goza. Isso se 
revela um exercício constante de vida em sociedade, uma vez que a maior parte das 
práticas de esporte e lazer incentivam também a convivência harmônica com o outro, 
mesmo em situações de competição e conflito.
• papel do Estado no planejamento de políticas para o esporte e para o lazer
O Estado tem papel fundamental na garantia do acesso ao esporte e ao lazer, 
assegurado na Constituição. Para tanto, o governo deve investir em locais adequados 
e seguros para essas atividades, bem como programas que incentivem a população a 
se engajar nessas práticas. Cabe ressaltar ainda a importância de distribuir geografica­
mente essas ações de forma democrática, não concentrando esforços dessa natureza 
unicamente em determinadas áreas urbanas.
* possibilidade de integração entre as políticas de esporte e lazer e políticas de 
outras naturezas (como econômica, de segurança ou de saúde pública).
O investimento em esporte e lazer reveia-se, na prática, um mecanismo eficiente de 
incentivo aos jovens para irem à escoia, uma vez que passam a associar esse espaço 
ao da liberdade sobre seus corpos e à atividade de cunho lúdico. Ademais, somas 
vultosas investidas na saúde púbiica e nos sistemas carcerários seriam economizadas 
com investimentos na atividade desportiva, uma vez que essa previne uma série de 
doenças e pode afastar os jovens da marginalidade, convidando-os a um uso consciente 
e responsável do próprio corpo.
Capítulo
O PARÁGRAFO DE CONCLUSÃO
1. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O PARÁGRAFO DE
CONCLUSÃO
Nos dois capítulos anteriores, estudamos os parágrafos de introdução 
e desenvolvimento. Agora, vamos nos dedicar à finalização de seu texto, 
por meio do parágrafo de conclusão.
Muitos candidatos perdem pontos importantes em suas redações, porque 
chegam cansados ao final da prova e querem simplesmente “se livrar” do 
texto, redigindo de qualquer maneira o último parágrafo. Vale lembrar, no 
entanto, que o parágrafo de conclusão é o último a ser lido pela banca, 
gerando a impressão final antes de a nota ser lançada. Assim, é de suma 
importância caprichar nesse fechamento, de modo a impressionar o corretor 
no último momento antes de ele atribuir um valor a seu texto.
Entre os erros mais freqüentes com relação à conclusão, podemos des­
tacar os textos que apresentam, nesse parágrafo, apenas uma frase, porque 
não há mais linhas ou tempo para um aprofundamento das ideias. A fim 
de que esse tipo de problema não aconteça com você na hora da prova, é 
preciso praticar bastante em casa, cronometrando o tempo e contando as 
linhas, em uma folha de dimensões parecidas com a que sua banca usa. 
Além disso, um bom planejamento antes de começar a escrever garante 
que o candidato esteja mais atento à necessidade de reservar certo tempo 
e uma determinada quantidade de linhas para cada parte de seu texto.
Algumas pessoas, no entanto, não sabem o que escrever na conclusão, 
crendo não ter mais nada a dizer. Porém, esse é um parágrafo de estrutura 
bem simples, que tem por função básica reafirmar a tese que já havia sido 
apresentada na introdução. O percurso é bastante claro: apresenta-se uma 
tese no início do texto, que é justificada e respaldada nos parágrafos de 
desenvolvimento, para ser finalmente reafirmada na conclusão. Na próxima 
seção, vamos apresentar em detalhes algumas técnicas para a formulação 
de parágrafos conclusivos.
TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
2. MÉTODOS DE RACIOCÍNIO
Para auxiliar você na hora de redigir seu parágrafo de conclusão, 
apresentamos a seguir os principais métodos de raciocínio que podem ser 
usados na construção de um texto, a fim de extrair uma conclusão a partir 
dos argumentos (aqui chamados de premissas, conforme nomenclatura 
utilizada por lógicos e filósofos): a dedução, a indução e a dialética.
2.1. Método dedutivo
A dedução consiste no encadeamento lógico de ideias que partam 
de premissas (argumentos) gerais e cheguem a uma conclusão particular. 
Quando se quer provar determinada tese para um caso específico, usa-se 
normalmente esse método, pautando a argumentação em fatos considerados 
verdades universais para certa gama de fenômenos.
A estrutura básica da dedução pode ser formulada como um silogismo, 
construção famosa em aulas de filosofia e raciocínio lógico. Veja:
Todo homem é mortal. (Premissa maior, de cunho generalista)
Sócrates é horaem. (Premissa menor, de cunho particular)
Logo, Sócrates é mortal. (Conclusão de cunho particular)
A partir de uma ideia generalista, formulou-se uma conclusão parti­
cular. Isso é muito comum na estrutura de textos dissertativos, podendo 
ser aplicado sempre que o candidato julgar conveniente. No entanto, vale 
ressaltar que, na maioria das vezes, a premissa menor (também chamada 
de termo médio) não está explícita no texto, mas subentendida.
Se você optar por deixá-la implícita também, é preciso tomar cuidado, 
pois o leitor julgará o texto incoerente se não dispuser da informação in­
termediária, que liga a premissa maior à conclusão. No caso que acabamos 
de analisar, não haveria problema em não mencionar a premissa menor, 
pois esta é facilmente recuperável pelo leitor. No entanto, se o corretor da 
redação não tiver mínimos conhecimentos sobre Biologia, por exemplo, 
ele poderia considerar o trecho a seguir incoerente:
“Os frutos fazem bem à saúde, pois são ricos em vitaminas. Uma 
boa dieta deve, portanto, incluir tomates e azeitonas”.
Se o corretor não souber que o tomate é a azeitona são frutos, pode 
achar que você foi incoerente ou que não estabeleceu uma transição ade­
quada entre essas ideias tão pouco conectadas. Assim, se você julgar que
Cap. V - O PARÁGRAFO DE CONCLUSÃO na
ele talvez não seja capaz de recuperar o termo médio sozinho, é melhor 
explicitá-lo. 
Para você entender melhor como uma conclusão de texto dissertativo 
pode ser formulada dedutivamente a partir dos argumentos, leia o texto 
a seguir:
Trânsito nas cidades grandes: o preço do tempo perdidoQuem não passou pelo pesadelo de sair de casa para um compro­
misso com hora marcada e ver o cronograma estourar por causa do 
trânsito? Assim se perderam viagens, reuniões de negócios, provas na 
escola e outras oportunidades. Resultado: prejuízo na certa, seja eie 
financeiro ou mesmo moral — afinal, como fica a cara de quem chega 
atrasado ao trabalho? Mas será que existe um mecanismo que leve 
ao cálculo das perdas provocadas por estes preciosos minutos gastos 
dentro de um automóvel - ou transporte coletivo - numa avenida de 
uma grande cidade brasileira? Quanto custa um engarrafamento? As 
respostas para estas perguntas, infelizmente, ninguém sabe ao certo.
Estudo do Denatran, em parceria com o Ipea, sobre “Impactos 
sociais e econômicos dos acidentes de trânsito nas rodovias brasileiras” 
revela que - além da perda de tempo - a retenção no trânsito provoca 
ainda o aumento do custo de operação de cada veículo - combustível 
e desgaste de peças. Os congestionamentos trazem danos também para 
os governos. Cidades e estados gastam fortunas com esquemas de 
tráfego, engenheiros, equipamentos e guardas de trânsito.
Quando motivado por acidente, o engarrafamento fica ainda mais 
caro, pois envolve bombeiros, ambulâncias, médicos, hospitais, in­
ternações, medicamentos, lucros cessantes e, eventualmente, custos 
fúnebres, além das perdas familiares. Nos Estados Unidos, as auto­
ridades incluíram, no custo financeiro do engarrafamento, o estresse 
emocional provocado em suas 75 maiores cidades. Conta final: US 
70 bilhões/ano. Isso sem falar nos custos ambientais - é consenso na 
comunidade científica que a queima de combustíveis fósseis, como o 
petróleo, pelos automóveis é uma das principais causas de emissões 
de carbono, um dos causadores do aquecimento global.
A maior cidade do Brasil tem também os maiores engarrafamentos.
A frota da Grande São Paulo atingiu, em 2008, a marca de seis milhões 
de veículos. Este número só aumenta: são vendidos cerca de 600 carros 
por dia - segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos 
Automotores (Anfavea). O consultor de tráfego Horácio Figueira só vê 
uma solução: “É preciso priorizar o transporte coletivo. Caso contrário, 
as cidades vão parar”, alerta. Enquanto 60% da população do país 
utilizam o transporte público, apenas 47% dos paulistanos seguem o 
mesmo exemplo. A falta de conforto e os itinerários limitados dos 
ônibus levaram 30% dos usuários a optar pelas vans, realimentando 
os quilométricos congestionamentos da cidade.
(Cláudio Carneiro. Opinião e Notícia, 20 mar. 2008. Disponível em:
http://opmiaoenoticia.com.br/vida/transito-nas-grandes-cidades-opreco-do- 
tempo-perdido. Acesso em: 3 ago. 2009.)
Nesse artigo, o autor apresenta primeiro dados genéricos sobre o trânsito 
nas cidades grandes, falando de fenômenos que acontecem em todas elas, 
como engarrafamentos e acidentes. Encadeando esses argumentos, que in­
cluem dados estatísticos e testemunhos de autoridade, conforme estudamos 
no capítulo anterior, o autor chega a uma conclusão sobre a cidade de São 
Paulo, aplicando a um caso particular a regra geral antes apontada sobre 
as grandes cidades. Note ainda que, nesse texto, o autor omitiu o termo 
médio do silogismo (“São Paulo é uma grande cidade”), uma vez que o 
leitor muito provavelmente já dispunha dessa informação.
f i a .TÉCNICAS.DE REDAÇÃO PARÀ CONCURSOS>. Lilian Furtado.e Vinícius Carvàfho Pereira
2.2. Método indutivo
A indução consiste no encadeamento lógico de um raciocínio que 
parte de premissas mais particulares para chegar a uma conclusão gene- 
ralista. Isso quer dizer que, quando uma pessoa raciocina dessa forma, 
toma como argumentos (ou premissas) exemplos pontuais, generalizando 
determinada conclusão para os demais casos, mesmo que não tenham sido 
ainda analisados.
Se uma criança põe o dedo na tomada hoje, leva um choque. Caso 
coloque o dedo na tomada amanhã, leva outro choque. Repetindo novamente 
a experiência, o resultado será o mesmo. Indutivamente, a criança conclui 
que, toda vez que se coloca o dedo na tomada, leva-se um choque,
Essa lógica que parece tão prática e comum no dia a dia, ajudando- 
-nos a construir nosso conhecimento sobre a realidade, pode ser aplicada 
também em um texto dissertativo, de modo que a conclusão seja formulada 
indutivamente a partir dos argumentos apresentados. Para isso ficar mais 
claro, observe o exemplo a seguir:
O qu e é... decisão
No mundo corporativo, há algo vagamente conhecido como “pro­
cesso decisório”., que são aqueles insondáveis critérios adotados pela 
alta direção da empresa para chegar a decisões que o funcionário não 
consegue entender Tudo começa com a própria origem da palavra 
“decisão”, que se formou a partir do verbo latino caedere (cortar). 
Dependendo do prefixo que se utiliza, a palavra assume um significado 
diferente: “incisão” é cortar para dentro, “rescisão” é cortar de novo, 
“concisão” é o que já foi cortado, e assim por diante. E dis caedere, 
de onde veio “decisão”, significa “cortar fora”. Decidir é, portanto, 
extirpar de uma situação tudo o que está atrapalhando e ficar só com 
o que interessa.
E, por falar em cortar, todo mundo já deve ter ouvido a célebre 
história do não menos célebre rei Salomão, mas permifam~me recontá-la, 
transportando os acontecimentos para uma empresa moderna. Então,
Cap. V ~ O PARÁGRAFO DE CONCLUSÃO
está um dia o rei Salomão em seu palácio, quando duas mulheres são 
introduzidas na sala do trono. Aos berros e puxões de cabelo, as duas 
disputam a maternidade de uma criança recém-nascida. Ambas possuem 
argumentos sólidos: testemunhos da gravidez recente, depoimentos das 
parteiras, certidões de nascimento. Mas, obviamente, uma das duas está 
mentindo: havia perdido o seu bebê e, para compensar a dor, surrupiara 
o filho da outra. Como os testes de DNA só seriam inventados dali a 
milênios, nenhuma das autoridades imperiais consultadas pelas litigantes 
havia conseguido dar uma solução satisfatória ao impasse.
Então Salomão, em sua sabedoria, chama ura guarda, mandaTO cortar 
a criança ao meio e dar metade para cada uma das reclamantes. Diante 
da catástrofe iminente, a verdadeira mãe suplica: “Não! Se for assim, 
ó meu Senhor, dê a criança inteira e viva à outra!”, enquanto a falsa 
mãe faz aquela cara de “tudo bem, corta aí”. Pronto. Salomão manda 
entregar o bebê à mãe em pânico, e a história se encerra com essa 
salomônica demonstração de conhecimento da natureza humana.
Mas isso aconteceu antigamente. Se fosse hoje, com certeza as 
duas mulheres optariam pela primeira alternativa (porque ambas teriam 
feito um curso de Tomada de Decisões). Aí é que entram os processos 
decisórios dos salomões corporativos. Um gerente salomão perguntaria 
à mãe putativa A: “Se eu lhe der esse menino, ó mulher, o que dele 
esperas no futuro?” E ela diria: “Quero que ele cresça com liberdade, 
que aprenda a cantar com os pássaros e que possa viver 100 anos de 
felicidade”. E a mesma pergunta seria feita à mãe putativa B, que de 
pronto responderia: “Que o menino cresça forte e obediente e que 
possa um dia, por Vossa glória e pela glória de Vosso reino, morrer 
no campo de batalha”. Então, sem piscar, ó gerente salomão ordenaria 
que o bebe fosse entregue à mãe putativa B.
Por quê? Porque na salomônica lógica das empresas, a decisão 
dificilmente favorece o funcionário que tem o argumento mais racional, 
mais sensato, mais justo ou mais humano. A balança sempre pende 
para os putativos que trazem mais benefício para o sistema.
(Max Gehringer. Você S/Á, jan, 2002.)
Veja que, para chegar a uma conclusão a respeito da lógica das empre­
sas modernas em geral, o autor do artigo parte de exemplos particulares: 
um sobre a história bíblica de Salomão e outro hipotético, imaginando 
que a mesma cena em tomo do destino de uma criança ocorresse em 
umaempresa atualmente. Com base nesses casos, uma generalização foi 
traçada a respeito do funcionamento empresarial contemporâneo, a qual 
sustenta a conclusão do texto.
2.3. Método dialético
Embora o termo dialética tenha implicações muito maiores no âmbi­
to da filosofia, ele indica, na construção de uma redação, um método de
118 TÉCNICAS DE REDAÇÃO .PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
raciocínio que consiste na extração de uma conclusão a partir de argu­
mentos contrários. Nesse tipo de texto, o autor menciona pontos positivos 
e negativos em tomo de sua tese, em parágrafos distintos, e depois extrai 
dessa discussão uma conclusão que contemple ambas as perspectivas. No 
entanto, é necessário tomar muito cuidado para não cair em contradição 
ao longo do texto, o que acarretaria uma incoerência, tema estudado mais 
aprofimdadamente no capítulo VII deste livro.
Para entender melhor como o método dialético pode ser aplicado à 
construção de um texto argumentativo, observe o exemplo a seguir:
Preconceito e exclusão
Os preconceitos lingüísticos no discurso de quem vê nos estran- 
geirisraos uma ameaça têm aspectos comuns a todo tipo de posição 
purista, mas têm também matizes próprios. Tomando a escrita como 
essência da linguagem, e tendo diante de si o português, língua de 
cultura que dispõe hoje de uma norma escrita desenvolvida ao longo 
de vários séculos, [o purista] quer acreditar que os empréstimos de 
hoje são mais volumosos ou mais poderosos do que em outros tempos, 
em que a língua teria sido mais pura. (...)
Ao tomar-se a norma escrita, é fácil esquecer que quase tudo que 
hoje ali está foi inicialmente estrangeiro. Por outro iado, é fácil ver 
nos empréstimos novos, com escrita ainda não padronizada, algo que 
ainda não é nosso. Com um pouco menos de preconceito, é só esperar 
para que esses elementos se sedimentem na língua, caso permaneçam, 
e que sejam padronizados na escrita, como a panqueca. Afinal, nem 
tudo termina em pizza\
Na visão alarmista de que os estrangeirismos representam um 
ataque à língua, está pressuposta a noção de que existiria uma língua 
pura, nossa, isenta de contaminação estrangeira. Não há. Pressuposta 
também está a crença de que os empréstimos poderiam manter intacto 
o seu caráter estrangeiro, de modo que somente quem conhecesse a 
língua original poderia compreendê-los. Conforme esse raciocínio, o 
estrangeirismo ameaça a unidade nacional porque emperra a com­
preensão de quem não conhece a língua estrangeira. (...)
O raciocínio é o de que o cidadão que usa estrangeirismos - ao 
convidar para uma happy hour, por exemplo — estaria excluindo quem 
não entende ingiês, sendo que aqueles que não tiveram a oportunidade 
de aprender inglês, como a vastíssima maioria da população brasileira, 
estariam assim excluídos do convite. Expandindo o processo, por 
analogia, para outras tantas situações de maior conseqüência, o uso 
de estrangeirismos seria um meio lingüístico de exclusão social. A 
instituição financeira banco que oferece home banking estaria excluindo 
quem não sabe inglês, e a loja que oferece seus produtos numa sale 
com 25% off estaria fazendo o mesmo.
O equivoco desse raciocínio linguistícamente preconceituoso não 
está em dizer que esse pode ser um processo de exclusão. O equívoco 
está em não ver que usamos a linguagem, com ou sem estrangeiris­
mos, o tempo todo, para demarcarmos quem é de dentro ou de fora
Cap. V - 0 PARÁGRAFO DE CONCLUSÃO 119
do nosso círculo de interlocução, de dentro ou de fora dos grupos 
sociais aos quais queremos nos associar ou dos quais queremos nos 
diferenciar. (...)
(Pedro M. Garcez e Ana Maria S. Zilles. In FARACO,
Carlos Alberto (org.). Estrangeirismos - Guerras em tomo da língua.
São Paulo: Parábola, 2001.)
Veja que, nesse texto, o autor condena os preconceitos lingüísticos no 
discurso de quem vê nos estrangeirismos uma ameaça. Em um primeiro 
momento, para sustentar seu ponto de vista, o autor afirma que quase tudo 
o que usamos hoje na língua já foi estrangeiro, embora julguemos que se 
trate de palavras genuínas do português. Tal fato ratificaria a improcedência 
de condenar o estrangeirismo.
No entanto, depois o autor do texto acrescenta que os puristas têm 
razão ao afirmarem que o uso no Brasil de palavras originárias de outras 
línguas gera situações de exclusão, especialmente dos indivíduos que não 
tiveram a oportunidade de estudar idiomas estrangeiros.
Por fim, em sua conclusão, o autor faz uma síntese dialética da visão 
negativa e da positiva acerca do posicionamento dos puristas, reconhecendo 
que eles estão certos ao identificarem no uso do estrangeirismo um me­
canismo de segregação, mas que se equivocaram ao não perceberem que 
todo uso da linguagem, de qualquer forma, é discriminatório.
3. ESTRUTURA GERAL DO PARÁGRAFO DE CONCLUSÃO
Agora que você já sabe como extrair de seus argumentos uma con­
clusão, é preciso definir com clareza qual deve ser a estrutura desse 
parágrafo, de modo a agilizar sua elaboração e garantir que você não se 
perca na hora da prova.
Nesse sentido, a primeira coisa a ser dita é a importância de co­
nectar a conclusão ao restante do texto por meio de um mecanismo 
coesivo explícito, como as expressões pode-se, pois, perceber que, em 
suma, infere-se que, portanto, cabe concluir que etc., ou mesmo o 
uso de uma simples conjunção conclusiva, como você verá no capítulo 
VI deste livro.
Porém, algumas pessoas optam por conectores pouco indicados, espe­
cialmente os que se referem diretamente ao próprio texto, e não ao tema 
sobre o qual se escreve. É muito comum ver candidatos que, em diversos 
parágrafos, mas especialmente no de conclusão, empregam construções 
como conforme foi dito acima, como visto anteriormente, segundo 
discutido neste texto, dado o exposto etc. Tais mecanismos coesivos 
não estão gramaticalmente incorretos, mas desviam a atenção do leitor do
tema para a própria estrutura do texto, substituindo a função referencial, 
preferencialmente predominante nas dissertações, pela metalinguística.
Uma vez estabelecida a conexão com o restante do texto, é preciso 
reafirmar a tese, que havia sido apresentada inicialmente no parágrafo 
introdutório. Tome o cuidado, no entanto, de estabelecer a relação en­
tre a tese reafirmada e o restante do texto. Muitos alunos simplesmente 
parafraseiam no início da conclusão o ponto de vista que já havia sido 
mencionado, não cuidando para que a transição do último parágrafo de 
desenvolvimento para a conclusão faça sentido.
Um mecanismo interessante para evitar uma transição abrupta entre 
desenvolvimento e conclusão é fazer um resumo dos argumentos, no iní­
cio do último parágrafo, a fim de contextualizar a nova menção à tese. 
Tome, porém, cuidado para não introduzir novos argumentos na conclusão, 
uma vez que essa parte do texto dissertativo deve funcionar como urna 
síntese do que a antecede. O que você pode fazer, caso a redação seja 
argumentativa, e não expositiva, é sumariamente propor uma solução para 
determinado problema discutido ao longo do texto, com base nos argu­
mentos apresentados. Isso mostra que você se posiciona de forma crítica à 
questão discutida, mas é importante tomar cuidado para não fazer sugestões 
utópicas e vagas como “cada um deve fazer a sua parte para um mundo 
melhor”. Também vale a pena mencionar que devem ser evitados clichês, 
frases feitas e ditados populares, bem como conclusões exageradamente 
enfáticas, repletas de interrogações ou exclamações.
D J j r. TÉÇNtCÀS.DE.REDAÇÃO.PÁFtA'CONCURSOS ^ :L$dnfünàáo!kyipk^/Cãhf<^ho-Rfifèira: '-
4. EXERCÍCIOS
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 1.
Fim de feíra
Quando os feirantes já se dispõem a desarmar as barracas, começam 
a chegar os que querem pagar pouco pelo que restou nas bancadas, ou 
mesmo nada, pelo queameaça estragar. Chegam com suas sacolas cheias 
de esperança. Alguns não perdem tempo e passam a recoiher o que está 
pelo chão: um mamãozínho amolecido, umas folhas de couve amarelas, a 
metade de um abacaxi, que serviu de chamariz para os fregueses compra­
dores. Há uns que se aventuram até mesmo nas cercanias da barraca de 
pescados, onde pòde haver alguma suspeita sardinha oculta entre jornais, 
ou uma ponta de cação obviamente desprezada.
Há feirantes que facilitam o trabalho dessas pessoas: oferecem-lhes o 
que, de qualquer modo, eles triam jogar fora. Mas outros parecem ciumentos 
do teimoso aproveitamento dos refugos, e chegam a recolhê-los para não 
os verem coletados. Agem para salvaguardar não o lucro possível, mas o 
princípio mesmo do comércio. Parecem temer que a fome seja debelada
sem que alguém pague por isso. E não admitem ser acusados de egoístas: 
somos comerciantes, não assistentes sociais, alegam.
Finda a feira, esvaziada a rua, chega o caminhão da limpeza e os fun­
cionários da prefeitura varrem e lavam tudo, entre risos e gritos. O trânsito 
é liberado, os carros atravancam a rua e, não fosse o persistente cheiro de 
peixe, a ninguém ocorreria que ali houve uma feira, freqüentada por tão 
diversas espécies de seres humanos.
(Joei Rubinato, inédito.)
(FCC) Atente para as afirmações abaixo.
I. Os riscos do consumo de uma sardinha suspeita ou da ponta de um cação que 
foi desprezada justificam o emprego de se aventuram, no primeiro parágrafo.
il. O emprego de alegam, no segundo parágrafo, deixa entrever que o autor não 
compactua com a justificativa dos feirantes.
III. No último parágrafo, o autor faz ver que o fim da feira traz a superação de tudo 
o que determina a existência de diversas espécies de seres humanos.
Em relação ao texto, é correto o que se afirma APENAS em
V:T:: Çàp. V.-r O PARÁGRAFO DE CONCLUSÃO :
Em relação
a) 1.
b) 11.
c) III.
d) 1 e II.
e) II e llt.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 2. 
Viagem para fora
Há não tanto tempo assim, uma viagem de ônibus, sobretudo quando 
noturna, era a oportunidade para um passageiro ficar com o nariz na janela 
e, mesmo vendo pouco, ou nada, entreter-se com algumas iuzes, talvez a 
lua, e certamente com os próprios, pensamentos. A escuridão e o silêncio 
no interior do ônibus propiciavam um pequeno devaneio, a memória de 
alguma cena longínqua, uma reflexão qualquer.
Nos dias de hoje as pessoas não parecem dispostas a esse exercício 
mínimo de solidão. Não sei se a temem: sei que há dispositivos de toda 
espécie para não deixar um passageiro entregar-se ao curso das ideias e 
da imaginação pessoal. Há sempre um filme passando nos três ou quatro 
monitores de TV, estrategicamente dispostos no corredor. Em geral, é um 
filme ritmado pelo som de tiros, gritos, explosões. É também bastante 
possível que seu vizinho de poltrona prefira não assistir ao filme e deíxar-se 
embalar pela música altíssima de seu fone de ouvido, que você também 
ouvirá, traduzida num chiado interminável, com direito a batidas mecânicas 
de aígum sucesso pop. inevitável, também, acompanhar a variedade dos 
toques personalizados dos celulares, que vão do latido de um cachorro 
à versão eletrônica de uma abertura sinfônica de Mozart. Claro que você 
também se inteirará dos detalhes da vida doméstica de muita gente: a
122 TÉCNICAS DE REDAÇÃO PÁRA CONCURSOS - UlianFurtadoe .VihíciUsCarvalho Pereira
senhora da frente pergunta peio cardápio do jantar que a espera, enquanto 
o senhor logo atrás de você lamenta não ter incluído certos dados em seu 
último relatório. Quando o ônibus chega, enfim, ao destino, você desce 
tomado por um inexplicável cansaço.
Acho interessantes todas as conquistas da tecnologia da mídia mo­
derna, mas prefiro desfrutar de uma a cada vez, e em momentos que 
eu escolho. Mas parece que a maioria das pessoas entrega-se gozosa e 
voluptuosamente a uma sobrecarga de estímulos audiovisuais, evitando 
o rumo dos mudos pensamentos e das imagens internas, sem luz. Nin­
guém mais gosta de ficar, por um tempo mínimo que seja, metido no 
seu canto, entretido consigo mesmo? Por que se deleitam todos com 
tantas engenhocas eletrônicas, numa viagem que poderia propiciar o 
prazer de uma pequena incursão íntima? Fica a impressão de que a vida 
interior das pessoas vem-se reduzindo na mesma proporção em que se 
expandem os recursos eletrônicos.
(Thiago Solito da Cruz, inédito.)
2. (FCC) Atente para as seguintes afirmações:
I. No primeiro parágrafo, configura-se a tensão entre o desejo de recolhimento 
íntimo de um passageiro e a agitação de uma viagem noturna.
li. No segundo parágrafo, o cruzamento de mensagens, em diferentes meios de 
comunicação, é considerado invasivo por quem preferiria entregar- se ao curso 
da imaginação pessoal.
III. No terceiro parágrafo, o autor considera a possibilidade de os recursos da mídia 
eletrônica e o cultivo da vida serem usufruídos em tempos distintos.
Em relação ao texto, está correto o que se afirma em
a) I, II e III.
b) I e II, som ente.
c) il e III, som ente.
d} i e 111, somente.
e) II, som ente.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 3. 
Um antigo documentário
Num desses canais de TV a cabo - ou no de TV Educativa, não me 
lembro ao certo - pude assistir, não faz muitos dias, a um documen­
tário sobre a atuação dos irmãos Viias-Boas junto a tribos indígenas 
do Xingu. A reportagem, apesar de tecnicamente algo tosca, resultou 
muito expressiva; deve datar do início dos anos 60. No centro dela, 
repontava o delicado tema da "aproximação" que os brancos promovem 
em relação aos índios ainda isolados. Cláúdio Viias-Boas, que chefiava 
a expedição, mostrou plena consciência da tensão que envolve esses 
primeiros contatos, que acabarão provocando a desfigurações da cul­
tura indígena.
Há quem defenda, com razão, que o melhor para os índios seria que os 
deixássemos em paz, às voltas com seus valores, hábitos e ritos. Mas aca­
baria não sendo possível evitar que, mais dia, menos diã, aigum contato se 
estabelecesse - e com o risco de que brancos ambiciosos e despreparados 
mostrassem, eles sim, a "selvageria" de que somos capazes. A delicadeza 
da missão dos irmãos Vilas-Boas está em que eies procuram respeitar ao 
máximo a cultura indígena, enquanto a põem em contato com a nossa. 
Melhor que ninguém, os irmãos sabem que não aproveitaremos nada 
de tanto o que têm os índios a nos ensinar (na dedicação aos filhos, por 
exempio) e que, ao mesmo tempo, os exporemos aos nossos piores vícios.
Era visível a preocupação de Cláudio, pelos riscos desse contato: uma gripe 
trazida pelo branco pode dizimar toda uma aideia.
Hoje, décadas depois, o documentário parece assumir o valor de um 
testamento: são impressionantes as cenas em que Um chefe indígena 
recusa, com veemência, presentes dos "civilizados"; ele parece adivinhar o 
custo de tais ofertas, e busca se defender do perigo mortal que vê nelas.
O país desenvolveu-se muito nesse tempo, modernizou-se, povoou regiões 
recônditas do interior, abriu espaço para as "reservas". Mas sabemos que 
a cultura do colonizador não é, necessariamente, melhor do que a do 
colonizado. Apenas se revelou a mais bem armada, a mais forte das duas. 
Melhor seria se fosse, também, a mais justa.
{Roberto Melchior da Ponte, inédito.)
(FCC} A tese de que os índios nada ganham ao entrar em contato com o
branco
a) é contestada no primeiro parágrafo, quando.se faz referência à atuação dos irmãos 
Vilas-Boas.
b) é admitida no segundo parágrafo, embora seja vista como impossível de se defender 
na prática.
c) não é considerada como plausível ou justa, pois a força está sempre do lado do 
colonizador.
d} não é admitida em nenhum momento do texto, uma vez que não traduz a posição 
de Cláudio Vilas-Boas.
e) é levada em conta no último parágrafo,para ser descartada em razão de empecilhos 
culturais.
: Cap: V - O. PARÁGRAFO D£ CONCLUSÃO { K ? 1
teia o texto a seguir para responder à questão de número 4.
Antes de os telescópios existirem, os oíhos definiam o que existia nos 
céus. Apenas a imaginação podia criar outras realidades para além da es­
curidão. Poucos na História ousaram propor que existiam outros mundos, 
camuflados pelas sombras. Foi o caso de Giordano Bruno, que por essas 
e outras heresias acabou seus dias na fogueira.
Tudo mudou quando Gaiiieu provou, em 1610, que o telescópio per­
mitia enxergar mundos que, sem ele, permaneceriam desconhecidos para 
sempre: a realidade material não se limitava ao imediatamente visível. Era 
inegável - mesmo que alguns tenham se recusado a acreditar - que Gali- 
leu havia descoberto quatro luas girando em torno de Júpiter, que jamais 
haviam sido vistas antes. A conseqüência dessa descoberta foi profunda: os
124 TÊCMCAS DE REDAÇÃO PÀRA ÇONCURSOS - i/7/on Furtado ^ Vinícius Çqrvoiho Pereira)'
segredos ocultos nos céus podem ser desvendados com o uso de técnicas 
de observação e telescópios mais sofisticados. GaSileu iniciou uma nova 
tradição astronômica, a da caça aos mundos.
Em meados do século XX, vários outros mundos haviam sido desco­
bertos. Girando em torno do So!, os planetas Urano, Netuno e Plutão; em 
torno dos planetas, dezenas de íuas; entre Marte e Júpiter, um cinturão 
de asteroides, restos rochosos de um planeta que nunca se formou. Os 
astrônomos não tinham dúvida de que, com telescópios mais poderosos, 
novos mundos seriam descobertos. O mistério, no entanto, permanecia.
Que mundos seriam esses? E o que poderiam nos dizer sobre a formação 
do Sistema Solar e sobre o passado da Terra ~ o nosso passado?
(Marcelo Gleiser, Folha de S. Paulo, Mais!, 05.03.2006, p. 9,
com adaptações.)
4. (FCC) Uma possível resposta para o mistério colocado nas questões finais do
texto é:
a) Observar luas em torno de planetas leva à conclusão de que técnicas de observação 
mais modernas e adequadas abrem o caminho para uma realidade materiai.
b) identificar novos mundos e nomeá-los sempre foi a maneira como os primeiros 
cientistas tentaram explicar a realidade em que viviam.
c) Esclarecer os segredos ocultos nos mundos perdidos no espaço foi o objetivo dos 
astrônomos, desde o início dos tempos.
d) Estudar novos mundos nos remete às nossas origens, pois dividimos o mesmo 
passado, que se encontra na origem do Sistema Solar.
e) Imaginar outras possíveis realidades no infinito espaço cósmico foi uma atitude 
sempre apoiada na fé professada peios primeiros astrônomos.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 5. 
Conheça os nossos produtos para a sua necessidade
Nesse caso, essa informação destina-se tanto às pessoas que declaram 
IR, seja pela forma completa, seja pelo formulário simplificado, quanto às 
que são isentas de fazê-lo.
É bem provável que seu próximo chefe cheque seus antecedentes 
criminais, teste suas verdades e mentiras, investigue seu passado fi­
nanceiro, vigie suas escolhas ou até meça sua predisposição para atos 
ilícitos. E, se puder, pesquisará sem pudor o seu material genético para 
descobrir, antes mesmo de você, qual doença tem mais chances de 
torná-lo improdutivo.
A sina de detetive tem tomado o departamento de recursos humanos 
das grandes companhias sob o argumento de selecionar-se o empregado 
ideal entre tantos candidatos.
"As empresas estão buscando diminuir o risco de uma seleção 
ruim" defende um professor do instituto Avançado de Desenvolvimen­
to Intelectual. Quando o privado torna-se público, a ética dá lugar à 
segurança e a privacidade torna-se uma ferramenta de seleção. Mas, 
até onde a empresa pode chegar para recrutar o melhor candidato?
Cap. V - Ò PARÁGRAFO DE CONCLUSÃO 125
A pergunta não é das mais fáceis, se ievado em conta o conjunto de leis 
que regem os direitos do empregado. Segundo um especialista em direito 
empresarial, não existe uma lei trabalhista específica para esses casos.
Com relação às ideias do texto acima, julgue os itens a seguir.
(CESPE) Nos dois úitimos parágrafos, o autor do texto deixa claro que julga 
éticos os mencionados procedimentos de seleção de empregados.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 6. 
Facultativo
Estatuto dos Funcionários, artigo 240: O dia 28 de outubro será consa­
grado ao Servidor Público" (com maiúsculas).
Então é feriado, raciocina o escriturário que, justamente, tem um "pro­
grama" na pauta para essas emergências. Não, responde-lhe o Governo, 
que tem o programa de trabalhar; é consagrado, mas não é feriado.
É, não é, e o dia se passou na dureza, sem ponto facultativo. Saberão 
os groenlandeses o que seja ponto facultativo? (Os brasileiros sabem) É 
descanso obrigatório no duro João Brandão, o de alma virginal, não entendia 
assim, e lã um dia em que o Departamento Meteorológico anunciava: "céu 
azul, praia, ponto facultativo" não lhe apetecendo a casa nem as atividades 
lúdicas, deliberou usar de sua "faculdade" e assinar o ponto no Instituto 
Nacional da Goiaba, que, como é do domínio' público, estuda as causas da 
inexistência dessa matéria-prima na composição das goiabadas.
Encontrou cerradas as grandes portas de bronze, ouro e pórfiro (*), e 
nenhum sinal de vida nos arredores. (...) Tentou forçar as portas, mas as 
portas mantiveram-se surdas e nada facultativas. (:..) João decidiu-se a 
penetrar no edifício, galgando-lhe a fachada e utilizando a vidraça que os 
serventes sempre deixam aberta. E começava a fazê-lo com a teimosia calma 
dos Brandões quando um vigia brotou da grama e puxou-o pela perna.
- Desce daí, moço. Então não está vendo que é dia de descansar? (...)
Então não sabe o que quer dizer facultativo?
João pensava saber, mas nesse momento teve a intuição de que o verda­
deiro sentido das palavras não está no dicionário; está na vida, no uso que 
delas fazemos. Pensou na Constituição e nos milhares de leis que declaram 
obrigatórias milhares de coisas, e essas coisas, na prática, são facultativas 
ou inexistentes. Retirou-se, digno, e foi decifrar palavras cruzadas.
(*) Pórfiro = tipo de rocha; pedra cristalina.
(Carlos Drumm ond de Andrade. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguiíar,
1967, p. 758-759.)
(FCC) No último parágrafo do texto, o autor parte do caso ocorrido com João
Brandão para formular a ideia geral de que
a) as palavras, qu an do têm vários sentidos possíveis no dicionário, quase sem pre 
produzem am bigüidades.
126 TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
b) as palavras cruzadas favorecem a compreensão do preciso sentido que as palavras 
ganham com o uso prático, 
c} pode haver faita de correspondência entre o sentido próprio das palavras e o que 
ganham nas situações em que são empregadas.
d) as imprecisões da linguagem verbal têm como conseqüência a inapiicabilidade da 
maioria das ieis.
e) a diferença entre o que deve ser facultativo e o que deve ser obrigatório é uma 
questão menor, que não deve provocar discussão.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 7. 
Só falta agora proibir as canetas
O celular é uma arma. A frase tem sido repetida à exaustão. Logo, a 
solução é bloqueá-lo ou desligar as antenas transmissoras nas proximi­
dades dos presídios, mesmo que a medida isole e prejudique centenas 
de milhares de cidadãos inocentes, como já ocorre em São Pauío. Em 
breve, raciocínio idêntico deverá valer para a Internet, também usada 
por bandidos, pedófiios e fraudadores cibernéticos. Ou para automóveis, 
pois eles matam milhares de pessoas por ano no Brasil. Ou para a gaso­
lina, porque ela pode ser usada na fabricação de coquetéis moiotov. Ou, 
ainda, por absurdo, para as canetas, instrumentos usados para preencher 
cheques sem fundos.
O grande vilãonão é o celular, mas a situação do sistema peniten­
ciário e a falta de prioridade das questões de segurança púbíica no 
Brasü. Falta quase tudo nos presídios brasileiros: pessoal qualificado, 
infraestrutura adequada, recursos tecnológicos mínimos e fiscalização 
rigorosa. A justiça sequer classifica como falta grave o uso do celular 
pelos presos.
O desligamento das estações retransmissoras mais próximas é medida 
precária e vulnerável, porque qualquer delinqüente pode reorientar uma 
antena remota, até 5 quilômetros de distância, direcionando o sinal do 
celular para os presídios. Um único telefone celular GSM de alta sensi­
bilidade permitirá que, dentro do presídio, os presos captem até o mais 
tênue sinal e repassem esse aparelho de mão em mão, usando diferentes 
chips {SIM cards).
Além de pouco eficaz no combate ao crime, esse tipo de guerra contra 
o celular está prejudicando mais de 200.000 usuários que moram, trabalham 
ou transitam nos bairros próximos aos presídios até alguns quilômetros 
de distância.
{Ethevaldo Siqueira. Veja, 31.05.2006, com adaptações.)
Julgue os itens a seguir com base no texto "Só falta agora proibir as canetas".
7. (CESPE) A afirmação com que o autor do texto inicia o último parágrafo - "Além 
de pouco eficaz no combate ao crime" - está fundamentada em informações 
técnicas apresentadas, de forma mais radicai, no parágrafo anterior.
Cap. V - Ò PARÁGRAFO ÒE CONCLÜSÃO 127
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 8.
Em março de 1957 foi assinado o Tratado de Roma, que instituiu a 
Comunidade Êconômica Européia. Os seis países fundadores - Bélgica,
França, Alemanha, Itália, Luxemburgo e Países Baixos - deram início, 
naquele momento, ao processo de integração europeia.
A integração europeia representa o inédito na vida internacional. £ 
uma resposta historicamente distinta de qualquer outra no trato dos três 
conhecidos problemas inerentes à dinâmica do funcionamento do sistema 
internacional, no quaí paz e guerra se alternam. Com efeito, a Europa que 
se constituiu a partir do Tratado de Roma logrou: 1) captar e levar adiante 
o interesse comum; 2) administrar as desigualdades do poder; e3) mediar 
e dirimir pacificamente controvérsias e conflitos de valores.
O encaminhamento desses problemas se deu por processos voluntários 
entre países vizinhos esoberanosquetinham um passado de tensões e guerras.
Não foi, assim, uma integração por imposição hegemônica como a seu tempo 
na Europa cogitaram Carlos Magno, Felipe II, Napoleão e Hitler. Correspondeu 
ao conjunto de aspirações do europeísmo voltado para promover-uma Europa 
unida, respeitadora de todos os seus Estados, povos e indivíduos.
Conceberam [os fundadores] uma inovação revolucionária que ope­
rou numa moldura propícia a incessantes pequenas rupturas. Estas são o 
fruto de mecanismos de permanentes negociações intergovernamentais 
instigadoras do abandono de um destino nacional solitário em prol de 
um destino compartilhado. O que é atualmente a União Europeia resulta 
de dois processos destas incessantes rupturas - o afargamento e o apro­
fundamento - no âmbito dos quais a associação de múltiplos interesses 
econômicos e políticos vem edificando um destino comum.
Este destino comum se expressa, como diz Felix Pena, por meio de 
normas, de redes é de símbolos. Por isso vai além da fusão dos mercados 
nacionais num mercado único, cabendo lembrar que todos os cidadãos 
dos Estados membros têm, aiém da cidadania originária, a cidadania da 
União Europeia, com seus direitos no espaço comum.
É certo que atualmente a União Europeia enfrenta dilemas para levar 
adiante o seu processo e digerir o que já logrou, num mundo que é muito 
diferente do de 1957. Entretanto, o fato é que a experiência europeia na 
construção da paz e da prosperidade regida pelo Direito é, para falar com 
Kant, um sina! da possibilidade do progresso humano. Daí a sua dimensão 
exemplar de alcance gerai que transcende a região, pois a Europa Comu­
nitária tem sido, por obra de sua identidade política, também no plano 
geral, uma força em prol da paz, da diplomacia e do multilateralismo. Por 
isso pode ser classificada como um bem público internacional.
{Celso Lafer. União Europeia, 50 anos. O Estado de S. Paulo,
p. A2, 15.04.2007.)
8. (FCC) A afirmativa INCORRETA, em relação ao texto, é:
a) O 1.° parágrafo expõe, de forma ciara e objetiva, e com intenção informativa, um 
fato histórico ocorrido há cinqüenta anos.
b) O 2° parágrafo aponta a opinião do autor do texto a respeito do fato referido 
anteriormente.
c) O 3.° parágrafo, ao citar líderes reconhecidos da história europeia, contém a ideia 
principal do texto.
d) O 5.° parágrafo retoma uma expressão empregada no parágrafo anterior, desenvoi- ■ 
vendo seu sentido.
e) O ú ítim o parágrafo conclui a exposição, de form a coerente, ao reforçar a im portância 
da União Europeia, apesar d e impasses qu e precisam ser solucionados.
jj, ^TÉCNICAS DE REpAÇÃO PARÁ CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinidus Carvalho Pereira ;• H -.-.
5. ATIVIDADE DE PRODUÇÃO TEXTUAL
Leia o texto a seguir e observe que lhe retiramos o último parágrafo. 
Redija, pois, duas versões de conclusão para ele, utilizando os métodos 
de raciocínio dedutivo e indutivo.
Mundo tem mais obesos que desnutridos
Aproximadamente 170 milhões de crianças em todo o mundo têm 
peso abaixo do normal, enquanto cerca de 300 milhões de adultos 
são obesos, informou ontem a Organização Mundial da Saúde (OMS), 
na abertura da 33a sessão anual do Comitê Permanente de Nutrição, 
em Genebra. Reunido até sexta-feira, o organismo formado por re­
presentantes de várias agências da Organização das Nações Unidas 
(ONU) pretende elaborar um plano de ação que ajude as autoridades 
nacionais a enfrentar os problemas.
“Para alcançar as Metas do Milênio estabelecidas pela ONU, e 
controlar a epidemia crescente das doenças crônicas, é necessário 
lutar com urgência contra a má nutrição no mundo, tanto causada 
pelo excesso quanto pela falta”, afirmou a presidente do comitê,
Caíherme Bertini.
Das 170 milhões de crianças desnutridas, cerca de três milhões 
morrem a cada ano, de acordo com os dados fornecidos pela OMS.
No extremo oposto, calcula-se que haja no mundo cerca de 1 bilhão 
de pessoas com excesso de peso, das quais 300 milhões são obesas.
Todos eles estão mais expostos que os demais a sofrer cardiopatias, 
acidentes cardiovasculares, cânceres e diabetes, entre outras doenças 
ligadas ao excesso de peso.
(...)
{O Globo, 14.03.2006, com adaptações.)
GABARITO
1 - D ' 2 - C
3 - 8 4 - E
U\ 1 m
|
6 - B
7 - C 8 - C
Sugestão de resposta à atividade de produção textual
• Conclusão a partir do método dedutivo:
No Brasil, a situação não é muito diferente. Se há diversas campanhas lutando 
contra a fome em território nacional, não se deve negligenciar o crescente número 
de obesos, que têm se mostrado objeto de atenção das políticas de saúde pública. 
Afinal, aiém dos sabidos problemas que o excesso de peso traz ao sistema cardiovas- 
cular, alguns quilos a mais às vezes escondem a deficiência de nutrientes, uma vez 
que comer muito não é, necessariamente, comer bem.
* Conclusão a partir do método dedutivo:
Pode-se perceber, pois, que é preciso que as pessoas repensem sua relação com a 
comida, uma vez que se alimentar deve ser sempre uma fonte de nutrição, prazer e 
saúde. Desordens alimentares, mais do que a falta de alimento, indicam falta de con­
dições básicas de sobrevivência, no caso dos que amargam uma vida abaixo da linha 
da miséria; ou falta de qualidade de vida, no caso dos que comem compulsivamente 
para tentar suprir outras carências.
Cap V •- O PARÁGRAFO DE CONCLUSÃO
Gapitulo A í I
COESÃO TEXTUAL
1. A DEFINIÇÃO DE COESÃO TEXTUAL
Pode-se dizer que praticamente todos os textos são articuladospela 
interseção de dois aspectos: o primeiro realizado por fatores semânticos 
(conexão referencial) e o segundo realizado por conectores sintáticos (co­
nexão seqüencial). A essa articulação entre os dois aspectos dá-se o nome 
de coesão. Segundo a linguista Ingedore Koch, no livro A coesão textual, 
“o conceito de coesão textual diz respeito a todos os processos de sequen- 
ciaíização que asseguram (ou tomam recuperável) uma ligação lingüística 
significativa entre os elementos que ocorrem na superfície textual”.
Em outras palavras, a coesão é responsável pela concatenação das 
diferentes partes do texto, pois, para a compreensão do sentido, não 
basta que haja uma seqüência de frases bem formadas, mas sim que elas 
se relacionem e complementem de forma harmoniosa. Vale lembrar que, 
sem coesão, o texto parece formado por frases désconectadas, que não se 
relacionam umas às outras. Em uma prova de redação para um concurso 
público, esse erro pode ser fatal, uma vez que todas as bancas conferem 
a tal quesito um peso importantíssimo nos espelhos de correção.
Ao longo deste capítulo, vamos estudar detalhadamente os principais 
recursos de coesão referencial e seqüencial, chamando atenção para even­
tuais deslizes em que os candidatos costumam incorrer na hora de redigir 
seus textos.
2. COESÃO REFERENCIAL
A coesão referencial é o processo pelo qual se retoma ou antecipa um 
termo no texto, instalando uma cadeia de referenciação. Veja:
Maria tem um carro que foi comprado no ano passado. O veículo 
foi adquirido em uma concessionária, mas a moça desconfia de que 
ele já tivesse sido usado por sua vizinha.
132 TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho. Pereira
Nesse trecho, a palavra Maria é retomada por a moça e sua, evitan­
do a repetição desnecessária do mesmo vocábulo e relacionando diversas 
informações sobre uma mesma pessoa. De maneira semelhante, carro é 
retomado por que, o veículo e ele, instalando outra cadeia de referenciação 
entre os termos.
Nas provas objetivas, é muito comum que a banca exija do candidato 
o reconhecimento de determinadas cadeias como essa, indagando a qual 
outra palavra no texto um determinado vocábulo remete. Para responder 
a esse tipo de pergunta ou usar tal mecanismo em sua redação, note que 
a coesão referencial é desempenhada basicamente por duas classes gra­
maticais: os pronomes e os substantivos, sendo necessário atentar para as 
regras específicas de uso de cada um desses casos.
2.1 .Coesão referencial pronominal
Entre tantas formas de referência, pode-se destacar a referência pro­
nominal como sendo uma das que mais causam problemas nos textos 
dos candidatos, dadas as especificidades de cada tipo de pronome e o 
constante risco da ambigüidade. Para tornar nossa exposição mais clara, 
optamos por dividir os pronomes de acordo com o tipo de referência por 
eles estabelecida: exofórica, endofórica anafórica e endofóríca catafórica, 
conforme esquematizado a seguir:
2.1.1. Referência exofórica
Diz-se que um pronome tem referência exofórica (ou dêitica) quando 
ele aponta para algo “externo ao texto”, que só pode ser inteiramente 
compreendido quando se compartilha determinado conhecimento com 
o interlocutor, como algo mencionado em outra interação comunicativa, 
ou uma informação que só fica ciara no momento da enunciação. Essas 
informações que não estão necessariamente contidas no texto, mas que 
são indicadas pela exófora, referem-se basicamente a quem formulou a 
frase, quando a formulou, onde a formulou, para quem sl formulou e 
em que contexto a formulou.
Veja um exemplo, para tornar isso mais claro:
Este pais carece de medidas punitivas mais eficazes, como aquelas 
que foram tomadas no mês passado.
Observe que os pronomes este e aquelas designam um país e deter­
minadas medidas que a frase isolada não permite ao leitor conhecer, visto 
que tais palavras estão indicando elementos externos ao texto. No caso 
do pronome este, para que o leitor possa interpretá-lo completamente, é 
preciso saber onde a frase foi proferida, uma vez que tal palavra refere-se 
geralmente a algo próximo de quem fala.
Por outro lado, o vocábulo aquelas aponta para um conjunto de me­
didas que o autor pressupôs que o leitor já conhecesse, talvez por terem 
sido elas muito discutidas pela mídia, ou mesmo por já ter havido uma 
conversa anterior entre eles sobre o assunto. De qualquer maneira, essa 
construção não pode ser completamente interpretada apenas a partir do 
texto escrito, o que poderia gerar problemas de comunicação em uma prova 
para concursos, uma vez que o candidato não tem como saber de quais 
informações prévias o corretor dispõe. O melhor, portanto, é explicar no 
próprio texto todas as referências a serem empregadas.
Note ainda que a expressão no mês passado só pode ser interpretada 
adequadamente se o interlocutor souber quando o texto foi escrito, ou seja, 
o momento da enunciação. Na hora da prova, então, o melhor seria escrever 
no mês de março de 2010, em vez de no mês passado. Diminuindo a 
referência exofórica, o candidato reduz as chances de seu texto se tomar 
incoerente para um corretor com quem determinadas informações não são 
compartilhadas de antemão.
Além disso, na redação, a coesão referencial exofórica pode ser esta­
belecida por pronomes de primeira e segunda pessoa (além de verbos no 
imperativo, com sujeito oculto), cuja falta de identificação com clareza 
compromete a construção de sentidos. Assim, é indicado que o candidato
, . Cap. VI - COESÃO TEXTUAL . R H
| g | v , TÉCNICAS: DÊ. REDAÇÃO .PARA CONCURSOS - Lilian Fyrtadó.e Vinícius]'[Càn/aÍhp Pàeira':.
não arrisque na elaboração do seu texto o uso dessas estruturas gramaticais, 
sob pena de o examinador não conseguir recuperar textualmente o termo 
referido. Observe que esse assunto já foi mencionado no capítulo V deste 
livro, mas sob outra perspectiva.
No que diz respeito a esse assunto, vale lembrar que é muito polêmico 
o uso da 1 ,a pessoa do plural em textos dissertativos escritos em provas de 
redação. Se a l.a pessoa do singular é combatida por todos os professores, 
alguns também não recomendara o uso da l.a pessoa do plural, dado seu 
caráter exofórico. No entanto, há os que julguem apropriado o emprego 
dessas formas verbais e pronominais, uma vez que textos dissertativos 
jornalísticos a apresentam frequentemente.
Quanto a essa polêmica, adotamos uma posição bem pragmática: se 
há os que condenam e os que aprovam o uso de tal recurso gramatical, 
aconselhamos o candidato a evitá-lo, uma vez que nunca se sabe qual é 
a opinião de cada corretor a respeito dessa questão. Além disso, é pouco 
consistente o argumento de que a l.a pessoa do plural é comum em textos 
jornalísticos dissertativos, como editoriais ou crônicas, uma vez que se 
trata de gêneros textuais diferentes do gênero redação para concursos, 
embora o tipo textual predominante (dissertação) seja o mesmo. Se são 
diferentes os gêneros, deve haver também distinções nas construções 
gramaticais empregadas, o que invalida a ideia de que uma redação para 
concurso pode conter tudo o que se vê em textos veiculados em periódicos 
de grande circulação.
É importante, pois, ter em mente a utilização da terceira pessoa como 
marca de impessoalização, preferível na hora de uma prova. Em outras 
palavras:
Não utilizar Utilizar •' . .
Como tu sabes É sabido que
Como você percebe É perceptfvel que
Como o leitor verifica Verifica-se que
Como nós entendemos Entende-se que
Necessitamos de que Necessita-se de que
Observo que É observável que
A referência exofórica também pode ser expressa por meio dos ad­
vérbios de tempo e lugar e dos pronomes demonstrativos, com os quais 
devemos tomar cuidado para não redigir frases cuja interpretação completa 
seja impossível para o leitor. Vejamos os exemplos abaixo:a) O chefe solicita que a funcionária vá hoje ao escritório.
O termo hoje, sem uma data explícita no texto, não localiza tempo- 
ralmente o leitor.
b) Aqui não há receitas prontas para a vida.
O termo aqui, sem o lugar explícito no texto, não localiza o leitor a 
respeito do espaço em questão.
c) Nesta segunda-feira, todos foram embora mais cedo.
O pronome esta (contraído na forma nesta com uma preposição) 
aponta para um referente exofórico, isto é, uma determinada segunda- 
-feira que o leitor não pode identificar, a menos que conheça o momento 
da enunciação.
f:r Cap. V{ -. COESÃO TEXTUAL U-r ■
Ainda com relação ao mau uso da referência exofórica em provas 
de redação, costumamos encontrar logo no início dos textos de alguns 
candidatos construções como:
“Antes de mais nada, é importante dizer que o problema era 
questão se agrava a cada dia”.
“Essa situação se toma complicada à medida que a população 
não participa de forma ativa”.
“Tal caso é desrespeitado pela maior parte da sociedade”.
Candidato, observe que, nesses tipos de construção, as expressões o 
problema em questão, essa situação e tal caso não se referem diretamente 
a algo dito no texto, a menos que o problema, situação ou caso já tenha 
sido citado antes. Geralmente, o mau uso dessas construções acontece 
porque o candidato retoma de forma direta alguma informação presente no 
texto de apoio, no enunciado da questão ou mesmo no título da redação, 
sem mencionar primeiro o problema no corpo do texto.
Lembre-se, pois, de que seu texto deve ser autossuficiente, ou 
seja, apontar com pronomes apenas informações que o próprio texto 
seja capaz de fornecer, sem respaldo no título ou na proposta de reda­
ção elaborada pela banca. Em outras palavras, não utilize a referência 
exofórica na hora de sua prova: quando for escrever “o problema em 
questão”, “essa situação”, “tal caso”, ou algo parecido, certifique-se de 
já ter mencionado no corpo do texto a informação para a qual essas 
construções apontam.
136 TÉÇNICÁS'.DÉ:REpÀÇÃ0 PARÁ CONCURSOS r jlilia n Furtado ^.Vinícius Carvàlhò Pereira
2.1.2. Referência endofórica
Na referência endofórica, os mecanismos coesivos retomam outros 
termos constantes no próprio texto, o qual supre eventuais lacunas de 
informação de forma autônoma. Assim, o elemento retomado em uma en- 
dófora está sempre contido no próprio texto, sendo facilmente recuperável 
pelo leitor. Dependendo da posição em que se encontrara o referente e o 
mecanismo coesivo, essa referência pode ser classificada como anafórica 
ou catafórica.
2.1.2.1. Referência endofórica anafórica
A referência anafórica é aquela em que um vocábulo retoma outro 
termo anterior explícito no texto. Veja:
Toda a população pensa em como resolver o problema da 
corrupçãp, mas seria muito importante se as autoridades pen­
sassem nisso também.
O pronome demonstrativo isso (contraído com a preposição em) remete 
ao trecho como resolver o problema da corrupção.
A corrupção faz parte do cotidiano da população brasileira; 
uma possível solução para esse problema seria a criação de 
um projeto de lei.
O pronome demonstrativo esse refere-se ao substantivo corrupção.
Os bandidos fugiram sem deixar pistas, entretanto a polícia foi 
eficiente no processo investigativo e capturou-os rapidamente.
O pronome pessoal do caso oblíquo os retoma a expressão os ban­
didos.
A situação dos policiais é complicada, pois eles são os mais co­
brados pela sociedade.
O pronome pessoal do caso reto eles refere-se à construção os po­
liciais.
Bom seria poder contar com a classe dominante, pois ela tem 
condições de melhorar o país.
O pronome pessoal ela refere-se à expressão classe dominante.
2.1.2.2. Referência endofórica catafórica
Na catáfora, o termo referente está após o termo que o substitui.
Observe:
Diz-se que a população vive uma situação complicada e desespe- 
radora, uma vez que os que estão no controle do governo nada fazem 
para melhorar a situação; ao contrário, gastam o dinheiro público 
indevidamente.
O pronome demonstrativo os aponta para um referente posterior: as 
pessoas que gastam o dinheiro público indevidamente.
Esta foi e sempre será a crença do povo: o Brasil pode ser muito 
melhor.
O pronome demonstrativo esta se remete para um referente citado 
depois: a oração o Brasil pode ser muito melhor.
Isto espantou a população: que a justiça não tenha condenado o 
criminoso dentro dos rigores da lei.
O pronome demonstrativo isto se refere à oração que a justiça não 
tenha condenado o criminoso dentro dos rigores da lei
A população espera e pede ajuda de alguém: pode ser do govemo 
ou da polícia.
O pronome indefinido alguém se refere a pode ser do governo ou 
da polícia.
Há uma série de polêmicas em torno do uso dos pronomes esse e este 
como mecanismos de coesão endofórica, uma vez que aíguns teóricos afir­
mam serem indistintos seus empregos, enquanto outros determinam que, para 
anáforas, só se usem esse, essa e isso, enquanto, para catáforas, deveriam ser 
usados este, esta e isto. Mais uma vez, como você não sabe qual é a visão 
adotada por quem corrigirá sua prova, o melhor é não arriscar: use esse e suas 
variantes para retomar termos anteriores e este e suas variantes para apontar 
para termos posteriores.
TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSQS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
Ainda no que tange à coesão endofórica estabelecida por pronomes, 
é importante ressaltar que se deve sempre ter cautela para não construir 
frases ambíguas, em que o leitor poderia interpretar o referente do pronome 
de mais de uma forma. Veja:
A sociedade brasileira precisa pôr um fim à violência. Ela exige 
medidas drásticas para garantir à população melhores condições 
de vida.
Nessa frase, o pronome ela pode se referir às expressões socie­
dade brasileira ou violência, o que acarretaria problemas de co­
municação. Para tomar o período mais bem escrito, o melhor seria 
utilizar um substantivo como mecanismo coesivo, combinado ou não 
com um pronome, pois os substantivos têm uma significação muito 
mais restrita.
Veja como a frase poderia ser reestruturada, a fim de desfazer a 
ambigüidade:
A sociedade brasileira precisa pôr um fim à violência. O povo 
exige medidas drásticas para garantir à população melhores condições 
de vida.
OU
A sociedade brasileira precisa pôr um fim à violência. Esse pro­
blema exige medidas drásticas para garantir à população melhores 
condições de vida.
Para que isso fique mais claro, observe outro exemplo de duplo sentido 
causado pelo mau emprego do pronome:
O sistema penitenciário brasileiro é uma escola do crime, que 
cresce a cada dia.
Nesse caso, o pronome relativo que pode estar relacionado às palavras 
escola ou crime. Para sanar esse problema, uma proposta interessante seria 
usar o pronome relativo o qual, que, por meio da concordância com o 
referente, eliminaria a ambigüidade. Observe:
O sistema penitenciário brasileiro é uma escola do crime, a qual 
cresce a cada dia.
OU
O sistema penitenciário brasileiro é uma escola do crime, o qual 
cresce a cada dia.
Cap. VI. - COESÃO TEXTUAL 139
i:í: ^ ^ :v:: ' ' : ^^{iirtpõrteírifei^^Ví V;.-;"' ■
Um erro muito freqüente em redações, devido ao mau uso da coesão refe­
renciai pronominal, é o emprego do anacoiuto, figura de linguagem que consiste 
em uma inversão sintática incorreta segundo a gramática normativa. Sua inade­
quação se deve ao fato de essa figura acarretar uma interrupção do pensamento 
e a elaboração de frases em que há elementos sintaticamente desçonectados dos 
demais. Portanto, embora muito comum na fala cotidiana, o anacoiuto não pode 
ser usado em textos dissertativos para concurso.
Para entender isso melhor, vamos ver um exemplo de anacolutos empregados 
erroneamente em um texto escrito:
A bandidagem,qual será a solução para ela? Tal grave fenômeno 
da modernidade, isso é como se fosse uma "bactéria", proliferando-se 
no corpo social é dizimando vidas.
Na primeira frase dessa passagem, o pronome ela retoma a expressão a 
bandidagem, mas o período não está bem estruturado, uma vez que o primeiro 
termo ficou isolado do restante da oração, não tendo qualquer função sintática. De 
maneira semelhante, o pronome isso refere-se à expressão tal grave fenômeno 
da modernidade, porém essa frase também está truncada. Note que a expressão 
retomada pelo pronome parece não se relacionar com o restante da oração.
Para que esse trecho fosse redigido de maneira correta, ele deveria ser apre­
sentado assim:
Qual será a solução para a bandidagem? Ta! grave fenômeno 
da modernidade é como se fosse uma "bactéria", proliferando-se no 
corpo social e dizimando vidas.
Como o anacoiuto é geralmente resultante da influência da língua oral, lembre- 
-se de rever seu texto atentamente ao final da prova, a fim de identificar se você 
incorreu em algum erro dessa natureza.
2.2. Coesão referenciai por elipse
Além dos processos de anáfora e catáfora, a coesão ainda pode ser 
mantida por meio da elipse, figura de linguagem que indica a supressão de 
um termo subentendido, facilmente recuperável pelo contexto. Observe:
Os bandidos não aprendem nunca. Ficam presos por longos 
anos.
Sempre que acontece um escândalo maior de corrupção, os go­
vernantes fazem cara de desentendidos. Assim, ganham tempo e 
saem impunes.
140 TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
Com certeza, se essa situação não se reverter, os alunos não ficarão 
satisfeitos. Sairão da universidade e buscarão condições melhores.
Apesar de os sujeitos dos verbos em destaque não estarem explícitos 
diante dos verbos, é possível identificá-los de acordo com as informações 
apresentadas anteriormente. Note ainda que é o bom uso da concordância 
verbal que garante ao leitor a possibilidade de recuperar a relação coesiva 
entre as duas frases.
Outra coisa importante a que você deve prestar atenção é que, se a 
elipse estiver muito distante do termo a que remete, ela pode se tomar 
de difícil interpretação. Veja:
O número de carros no Brasil tem aumentado a cada dia, acarretando 
problemas à circulação das pessoas nas grandes cidades, como Rio de 
Janeiro e São Paulo, onde um passeio de automóvel pode se tomar 
grande dor de cabeça. Chegou à casa dos 36 milhões, quantidade que 
afeta diretamente a qualidade do ar.
Como o verbo chegou tem um sujeito oculto que está muito distante 
de seu referente, o número de carros no Brasil, o leitor pode sentir 
dificuldade na recuperação dessa informação. Nesse caso, melhor seria 
substituir a elipse por outro mecanismo coesivo mais explícito, de modo 
que o parágrafo ficasse assim:
O número de carros no Brasil tem aumentado a cada dia, acar­
retando problemas à circulação das pessoas nas grandes cidades, 
como Rio de Janeiro e São Paulo, onde um passeio de automóvel 
pode se tomar grande dor de cabeça. A frota nacional chegou à 
casa dos 36 milhões, quantidade que afeta diretamente a qualidade 
do ar.
2.3. Coesão referenciai lexical
A coesão referencial lexical é estabelecida por meio da correspon­
dência de sentido que alguns termos possuem no contexto em que estão 
inseridos, ficando evidente para o leitor que determinado substantivo está 
substituindo outro anterior, o que garante coesão ao texto e evita a repe­
tição desnecessária de palavras.
Embora reconheçamos as diferentes e intrigantes propostas de clas­
sificação para os mecanismos de coesão referencial lexical que têm sido 
sugeridas por vários teóricos, seguiremos a exposição desse tópico conforme 
estabelece a tradição gramatical, pois julgamos que essa é a abordagem 
mais relevante para um candidato a concursos públicos. Dessa forma, va-
Cap. Vi - COESÃO TEXTUAL 141
raos nos ater apenas aos sinônimos, hiperônimos e Mpônimos, explorando 
sua utilização nos textos.
Em primeiro lugar, é preciso ficar claro que a referência lexical pode 
se dar em uma relação de smonímia, quando há identidade de significa­
ções no contexto; em uma relação de hiperonímia, quando um termo de 
sentido mais genérico substitui outro mais específico; ou em uma relação 
de hiponímia, quando o termo de sentido mais específico substitui outro 
mais genérico. Vejamos os exemplos:
O tráfico de drogas no Brasil é uma questão que alarma as autoridades 
de segurança e a população, uma vez que as facções que ilegalmente 
comercializam narcóticos ganham mais poder a cada dia.
Observe que os substantivos destacados podem ser substituídos entre 
si sem provocar alteração de sentido. Pode-se dizer, pois, que se trata de 
dois sinônimos, embora seja muito raro encontrar dois termos sinônimos 
perfeitos, já que há sempre um contexto em que um deles cabe melhor 
do que o outro.
Vemos, no entanto, que os alunos às vezes perdem um tempo precioso, 
na hora de escrever seus textos, tentando encontrar uma palavra sinônima 
para algo que já foi mencionado. O que é preciso perceber, nesse caso, 
é que nem sempre utilizamos um vocábulo sinônimo para retomar deter­
minadas informações, pois podemos empregar expressões sinônimas, um 
pouco mais desenvolvidas, a que chamamos de perífrases.
Observe:
O goleiro do flamengo senta a mão nas muiheres e o presidente 
da República pisa na bola como se fosse um homem comum. Cartão 
vermelho para os dois. Hão foi uma boa semana para Bruno e Lula.
Por que não se calaram o capitão do time mais popular do país e 
o presidente mais popular da história? Foi gafe de tagarelas sem 
noção? Ou pior... Foi convicção? A mão do goleiro é grande. A mão 
do poder costuma ser mais pesada.
(Ruth de Aquíno. Por qué no te callas?, Época, 11.03.2010.)
Os vocábulos destacados, no contexto em que estão inseridos, funcio­
nam como expressões sinônimas, retomando termos anteriores e evitando a 
repetição dos mesmos, de forma que o texto fique mais claro e coeso. No 
entanto, além de uma relação de sinonímia, é possível observar que esses 
termos adicionam novas informações ao texto, como acontece na relação 
Bruno - goleiro do flamengo - capitão do time. Em qualquer época que 
se leia o texto, o leitor saberá identificar que o Bruno em questão era 
goleiro do Flamengo e que também era capitão do time.
142 TÉCNICAS DE REDAÇÃO; PARÁ CONCURSOS t Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Perçira
Em textos expositivos, que visam a informar ao leitor acerca do tema, 
as perífrases servem como um eficiente mecanismo de coesão referen­
cial, uma vez que, além de retomarem termos já mencionados, podem 
acrescentar-lhes novas informações.
Observe:
O carnaval é uma das festas populares mais democráticas no 
mundo, uma vez que pobres e ricos se misturam no tríduo momesco, 
embalados por ritmos contagiantes e muita alegria. Tal comemoração 
que antecede a Quaresma teve sua origem na Idade Média, quando 
muitas pessoas deixavam de comer came desde o dia dessa festa 
pagã até o final da Páscoa. A própria palavra “carnaval” aponta para 
uma cerimônia de adeus à came.
Nesse trecho, além de retomar o carnaval, tema central do parágra­
fo, os elementos destacados servem para acrescentar novos dados a seu 
respeito, potencializando o caráter informativo do texto.
Por outro lado, em se tratando de um texto argumentativo, o autor 
pode valer-se de perífrases para, além de estabelecer nexos coesívos, re­
afirmar sua tese. Para isso ficar mais claro, vamos analisar um exemplo 
concreto:
A eutanásia é uma questão muito discutida atualmente em congressos 
de Bioética. Porém, ela ainda não é aceita na maioria dos países.
Nessa frase, o pronome ela apenas retoma eutanásia, sem direcionar 
o leitor para uma determinada tese. Contudo, outra escolha de palavras 
poderia assumir um carátermais argumentativo, indicando o ponto de vista 
defendido pelo autor do texto. Veja:
A eutanásia é uma questão muito discutida atualmente em con­
gressos de Bioética. Porém, tal forma de findar com dignidade 
o sofrimento de um indivíduo ainda não é aceita na maioria dos 
países.
OU
A eutanásia é uma questão muito discutida atualmente em con­
gressos de Bioética. Porém, tal desrespeito ao supremo direito à 
vida ainda não é aceito na maioria dos países.
Isso mostra que a escolha do mecanismo coesivo não é só uma ques­
tão de conexão entre as partes do texto, devendo levar em consideração 
também a tipologia textual envolvida e o propósito do autor.
Outro recurso muito importante para a coesão referencial lexical é 
a relação de hiperommia/hiponimia, uma vez que é quase sempre mais 
fácil encontrar um termo genérico do que um sinônimo para determinada 
palavra.
Veja:
Os meios de transporte estão cada vez mais precários e é a 
sociedade que sofre com tal problema. Os carros de passeio em sua 
maioria não são regulados e liberam gases tóxicos, o que acarreta a 
necessidade da revisão anual dos automóveis no DETRAN; os ônibus 
sempre cheios de problemas causam risco aos pedestres e passageiros 
e, dessa forma, as empresas precisam fazer revisões preventivas em 
seus veículos; os aviões, ainda que mais seguros, quando são muito 
antigos conferem riscos à tripulação e por isso as empresas respon­
sáveis devem verificar sempre as aeronaves.
Nesse trecho, os termos carros de passeio, ônibus e aviões estabelecem 
uma relação de sinonímia parcial com a expressão meios de transporte. 
Dessa forma, é possível verificar que o termo meios de transporte an­
tecipa carros de passeio, ônibus e avião de forma mais genérica, sendo 
classificado como hiperônimo. Por outro lado, os vocábulos carros de 
passeio, ônibus e avião funcionam como hipônimos, pois substituem 
meios de transporte de forma mais específica.
Observa-se ainda que as palavras automóvel, veiculo e aeronave subs­
tituem nesse contexto carros de passeio, ônibus e avião, respectivamente. 
Assim, verifica-se que automóvel está funcionando como hiperônimo de 
carro de passeio, mas poderia também substituir ônibus, se o autor assim 
preferisse. Por outro lado, veículo é um hiperônimo de ônibus, mas poderia 
também substituir bicicleta (no caso de outro texto) ou até mesmo carro 
de passeio e avião (no próprio texto, mas em outro contexto). Por fim, 
aeronave está sendo usado como um hiperônimo de avião, mas também 
serviria para substituir a palavra helicóptero, por exemplo.
Para entender isso de forma mais esquemática, veja os diagramas a 
seguir:
:fÍxGNICAS DÊ REDAÇÃO.PARÀ‘'ÇONÇÜRSOS-V-Wíón Furtado ç-Vinícius Carvalho Pereira
3. COESÃO SEQÜENCIAL
Enquanto a coesão referencial tem por fim retomar outros termos do 
texto, a coesão seqüencial visa estabelecer relações lógicas entre as ideias, 
como as noções de causa, tempo, conseqüência, oposição, adição etc. 
Essas concatenações lógicas são basicamente veiculadas por conjunções 
(e locuções conjuntivas) e preposições (e locuções prepositivas), podendo 
ser ambas as classes chamadas genericamente de conectivos.
Esta seção do capítulo tem como objetivo mostrar ao candidato as re­
lações de sentido provocadas pelo uso das principais conjunções, sugerindo 
mecanismos coesivos mais adequados para cada situação e apontando os 
erros mais comuns em que os alunos costumam incorrer. Assim, optamos 
por não nos aprofundarmos na divisão que a tradição gramatical estabe­
leceu para o uso das conjunções, apresentando-a apenas resumidamente 
nos quadros a seguir:
3.1. Classificação das conjunções segundo a NGB
5: -V -1 ^ ; . • Cap.'VJ - COESÃO TEXTUAL • " • '• ' | Q | |
Conjunções coordenativas
Aditivas Fui à praia e tomei soi.
Adversativas Faço dieta, mas não emagreço.
Alternativas Fique calado ou vá embora!
Conclusivas Choveu, logo o chão está molhado.
Explicativas Não fume, pois faz mal à saúde
Conjunções subordinatiVas
Causais Como bebeste muito, passaste mal.
Comparativas Tu és tão forte quanto teu pai era.
Condicionais Se puder, telefone-me.
Concessivas Mesmo que mamãe autorize, não irei à festa.
Conformativas Todos agiram conforme mandava o figurino.
Consecutivas Bebeu tanto que passou mal.
Finais Trabalhamos para que você fosse feliz.
Integrantes A moça queria que todos fossem embora.
Proporcionais Quanto mais estudo, mais aprendo.
Temporais Quando Maria chegou, José saiu.
3.2. As conjunções e as relações semânticas e contextuais
Como na prova de redação você não precisará classificar as conjunções, 
mas sim empregá-las de maneira correta, detalharemos o funcionamento 
dos principais mecanismos de coesão seqüencial, agrupados segundo se­
melhanças semânticas e contextuais.
3.2.7. Relações de causa e conseqüência
Termos como porque, por, porquanto, dado que, pois, uma vez 
que, vez que, visto que, já que, por causa de, em vista de, em virtude 
de, por motivo de, devido a etc. estabelecem uma articulação de causa 
no contexto em que estão inseridos. Nesse sentido, é importante entender 
que a articulação de causa e conseqüência é cíclica, ou seja, toda vez que 
se tem a causa, tem-se também a conseqüência, e vice-versa.
TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARÁ .CONCURSOS - ÚÍiàri Furtado é Vinídus Carvàlho Pereira
CAUSA
CONSEQÜÊNCIA
Os exemplos abaixo representam essa relação. Vejamos:
(1) Alguns governantes não foram até Salvador porque os voos foram 
cancelados.
(2) Os voos foram cancelados, de modo a alguns governantes não 
irem até Salvador.
Nesses exemplos, observa-se que a ida até Salvador foi impossibilita­
da por causa (ou como conseqüência) de os voos terem sido cancelados. 
Tem-se, dessa forma, uma indissociável relação sintática e semântica de 
causa e conseqüência, em que voos cancelados é causa e não ir a Sal­
vador é conseqüência.
E importante também notar que, dependendo do conectivo empregado 
para unir as orações, há mudanças obrigatórias nos tempos verbais. Em (1), 
verifica-se que o verbo mantém seu tempo finito (conjugado em tempo, 
modo, número e pessoa) devido à presença da conjunção, o que já não 
acontece em (2), pois preposições e locuções prepositivas exigem formas 
verbais no infinitivo.
O mesmo fenômeno acontece nos exemplos abaixo. Além disso, 
observa-se ainda que as orações poderiam estar invertidas, sem que 
isso acarretasse prejuízo semântico ou mesmo problemas sintáticos. 
Observe:
(3) As crianças não assistiram à aula, uma vez que os colégios es- 
tavam em greve.
(3-a) Uma vez que os colégios estavam em greve, as crianças não 
assistiram à aula.
(4) Em virtude de os colégios estarem em greve, as crianças não 
assistiram à aula.
(4-a) As crianças não assistiram à aula, em virtude de os colégios 
estarem em greve.
Entretanto, vale ressaltar que as conjunções pois e como não funcio­
nam da mesma maneira. Observe:
(5) Como estava com fome, comeu toda a comida da geladeira.
(Frase correta)
(5-a) Comeu toda a comida da geladeira, como estava com fome.
(Frase incorreta)
Em (5), verifica-se que a construção é bem formada e a relação de 
causa é mantida, entretanto o mesmo não acontece em (5-a), caso em 
que a inversão não é apropriada. O inverso ocorre com a conjunção 
pois, que jamais deve iniciar a frase, o que acarretaria uma construção 
malformada.
(6) Comeu toda a comida da geladeira, pois estava com fome.: (Frase
correta)
(6-a) Pois estava com fome, comeu toda a comida da geiadeira.
(Frase incorreta)
3.2.2. Relações de oposição
A ideia de oposição pode ser basicamente expressa por dois grupos 
de conectivos em português, embora haja nuances sintáticas e semânticas 
que os diferem: a coordenação adversativa e a subordinação concessiva. 
Termos como mas, porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto 
estabelecem uma articulação de adversidade. Por outrolado, conectivos 
como embora, ainda que, mesmo que, apesar de, conquanto, malgrado, 
não obstante, posto que, por mais que etc. estabelecem uma articulação 
de concessão.
Embora haja uma série de diferenças entre a coordenação e a subor­
dinação, as quais não estão diretamente relacionàdas à produção textual, 
apresentaremos um fenômeno muito importante que ajuda a distinguir 
entre esses dois grupos e é de grande relevância na hora da redação. 
Observe:
(1) A moça comeu, no entanto ainda tem fome. (Frase correta)
(1-a) No entanto ainda tem fome, a moça comeu. (Frase incorreta)
(2) A moça ainda tem fome, embora tenha comido. (Frase correta)
(2-a) Embora tenha comido, a moça ainda tem fome. (Frase cor­
reta)
Na frase (1), temos uma relação de coordenação adversativa perfeita; 
na frase (2), uma relação de subordinação concessiva também sem erros. 
A principal diferença entre esses fenômenos é que orações ligadas por 
conjunções adversativas não podem ser invertidas, como vimos em (1-a), 
enquanto a concessão permite a inversão das orações (2-a).
. Cap:Vi - COESÃO TEXTUAL i: . ^
Além disso, é importante ressaltar que, dentro da oração em que se 
encontram, as conjunções coordenativas adversativas têm mais mobili­
dade. Veja:
Os alunos não estudaram o suficiente, porém foram aprovados.
Os alunos não estudaram o suficiente; foram, porém, aprovados.
Os alunos não estudaram o suficiente; foram aprovados, porém.
A mesma mobilidade ocorre com as demais conjunções adversativas, 
como entretanto, porém, todavia, contudo e no entanto, à exceção da 
palavra mas. Observe:
Os alunos não estudaram o suficiente, mas foram aprovados.
(Frase correta)
Os alunos não estudaram o suficiente, foram mas aprovados.
(Frase incorreta)
Da mesma forma, a conjunção mas deve ser evitada como um co- 
nectivo transfrásico. Nesse sentido, ela se aproxima mais das conjunções 
concessivas do que das adversativas, pois estas podem relacionar de ma­
neira opositiva informações que estão em períodos distintos. Para tomar 
isso mais claro, apresentamos a seguir alguns exemplos:
(3) A indústria fonográfica vem sofrendo cada vez mais perdas finan­
ceiras, dada a proliferação de cópias ilegais de músicas, que circulam 
especialmente na Internet. Todavia, há alguns artistas que estão criando 
novas formas de lucrar, revertendo a pirataria a seu favor.
(3-a) A indústria fonográfica vem sofrendo cada vez mais perdas finan­
ceiras, dada a proliferação de cópias ilegais de músicas, que circulam 
especialmente na Internet. Entretanto, há alguns artistas que estão 
criando novas formas de lucrar, revertendo a pirataria a seu favor.
(3-b) A indústria fonográfica vem sofrendo cada vez mais perdas finan­
ceiras, dada a proliferação de cópias ilegais de músicas, que circulam 
especialmente na Internet. Mas, há alguns artistas que estão criando 
novas formas de lucrar, revertendo a pirataria a seu favor.
(3-c) A indústria fonográfica vem sofrendo cada vez mais perdas finan­
ceiras, dada a proliferação de cópias ilegais de músicas, que circulam 
especialmente na Internet. Embora, há alguns artistas que estão criando 
novas formas de lucrar, revertendo a pirataria a seu favor.
As construções (3) e (3-a) estão corretas, pois a relação transfrásica 
(entre frases) de oposição está sendo marcada por conjunções coorde­
nativas adversativas. Note que, embora a construção (3b) seja muito 
comum, muitos gramáticos condenam o uso de mas no início da frase,
. /^:;T.iÉÇN1çXS:DÈ/BEpÁÇÂ6;PARÁ•''ÇÒNÇ^RS0iSçw:•l:rf/o^ '•'furtado•e■•Wnfc/ü? Carvalho Pereira
Cap; VI COESÃO TEXTUAL’ 149
relacionando períodos diferentes. A construção (3-c), por sua vez, é ab­
solutamente incorreta, uma vez que não se ligam diferentes frases por 
conjunções concessivas.
Ademais, é preciso notar que, além das diferenças sintáticas, há dis­
tinções semânticas entre adversativas e concessivas, que devem ser levadas 
em conta por quem está redigindo um texto: enquanto uma conjunção 
adversativa introduz uma contraposição simples, um articulador conces­
sivo tem a função de apresentar um não impedimento do fato da oração 
principal. Em outras palavras, pode-se dizer que um articuíador de adver­
sidade enfatiza o fato expresso na oração em que se encontra, enquanto 
um articulador concessivo enfatiza a informação contida na outra oração. 
Para isso ficar mais claro, observe os exemplos a seguir:
Choveu, mas Maria foi à praia.
Choveu, embora Maria tenha ido à praia.
Essas frases, ainda que muito semelhantes, não dizem exatamente 
a mesma coisa, revelando diferentes pontos de vista de seus autores. 
No primeiro caso, reforça-se que, a despeito da chuva, aqui entendida 
como um obstáculo menor, Maria foi à praia. No segundo caso, o fato 
principal é a chuva; o obstáculo superado, a praia. Para que o par de 
frases tivesse o mesmo sentido, seria necessário efetuar as seguintes 
equivalências:
Choveu, mas Maria foi à praia. - Embora tenha chovido, Maria 
foi à praia.
Maria foi à praia, mas choveu. = Embora Maria tenha ido à 
praia, choveu.
Por mais que isso pareça um pequeno detalhe, faz toda a diferença, 
especialmente em um texto argumentativo, lançar ênfase em uma oração 
ou outra. Note:
Ainda que tenham se rebelado contra a ordem, os bandidos não 
feriram os carcereiros.
Os bandidos não feriram os carcereiros, mas se rebelaram contra 
a ordem.
Na primeira frase, o autor revela-se condescendente com a postura 
dos bandidos, ressaltando que eles não feriram seus carcereiros. Por outro 
lado, na segunda frase, a ênfase recai sobre a ilegalidade da rebelião, o 
que sugere que o autor do texto acha isso mais relevante do que o fato 
de os bandidos não terem ferido os carcereiros.
150 TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho.Pereira
Vê-se, pois, que esses articuladores podem ser utilizados de maneira 
estratégica em relação à escrita, principalmente para reforçar o posiciona­
mento do autor. Os articuladores adversativos, por exemplo, podem criar 
certo suspense em relação à mensagem proferida. Observe os exemplos 
a seguir:
Os médicos veterinários tentaram de tudo para salvar o hipopó­
tamo...
Nesse momento, um suspense é criado e este só será desfeito a partir 
da continuação da mensagem, que poderá ser favorável ou desfavorável. Na 
primeira hipótese, a frase poderia terminar assim: “e conseguiram, portanto, 
levá-lo para casa”. No segundo caso, se o desfecho fosse desfavorável, a 
frase poderia ter a seguinte finalização: “mas não conseguiram mantê-lo 
vivo por mais do que algumas horas”.
Esse mesmo suspense não aconteceria se a mensagem fosse introdu­
zida por um articulador concessivo, que já indicaria que o fato expresso 
na segunda oração se oporia ao da primeira:
Embora os médicos veterinários tenham feito o possível para 
salvar seu hipopótamo,... não conseguiram mantê-lo vivo por mais 
do que algumas horas.
Por fim, vale ressaltar que é preciso atentar para as exigências de cada 
conectivo no que diz respeito aos tempos verbais. Veja:
Não obstante chover muito no Norte do país, as tempera­
turas são agradáveis nessa região.
Chove muito no Norte do país, mas as temperaturas são 
agradáveis nessa região.
Embora chova muito no Norte do país, as temperaturas são 
agradáveis nessa região.
Note que as preposições e locuções prepositivas (como não obstante) 
pedem verbos no infinitivo, enquanto conjunções exigem verbos em formas 
finitas, conforme visto anteriormente. No entanto, é importante ressaltar que 
as conjunções concessivas (como embora) pedem verbos no subjuntivo, 
enquanto as adversativas (como mas) regem verbos no indicativo.
3.2,3. Relação de condição
A ideia de condição pode ser estabelecida por uma série de co- 
nectivos, como se, caso, desde que, a menos que, na condição de
Cap; VI -COESÃO TEXTUAL 151
etc. Ao contrárioda informação expressa pelas orações concessivas, 
que não impede a realização do fato da oração principal, as orações 
condicionais (assim classificadas pela tradição gramatical) introduzem 
uma condição que pode impedir a realização do que expressa a oração 
principal. Isso quer dizer que primeiro a condição precisa ser estabe­
lecida e respondida para que depois o fato da outra oração aconteça. 
Vejamos:
Se o papai se alimentar melhor, viverá alguns anos mais.'
A pergunta é: papai viverá melhor?
Resposta: se, e somente se, alimentar-se melhor.
Em outras palavras, para “viver alguns anos mais”, na oração 1, é 
essencial que primeiro a alimentação seja melhor; caso contrário, podemos 
deduzir que papai viverá menos tempo do que o esperado.
- Importante!
O articulador se pede o verbo no futuro do subjuntivo quando o verbo da 
oração principal está no futuro do presente ou presente do indicativo:
a) Se você for à festa, ficarei feliz.
Or. sub. adv. cond. Or. principal
b) Se você for à festa, fico feliz.
Or. sub. adv. cond. Or. principal
Porém, se o verbo da oração principal estiver no futuro do pretérito, o verbo 
da oração introduzida pelo "se" deve se flexionar no pretérito imperfeito do sub­
juntivo.
c) Se você fosse à festa, ficaria feliz.
Or. sub. adv. cond. Or. principai
Os articuiadores caso, contanto que, desde que etc. pedem o verbo no 
subjuntivo:
d) Caso você vá à festa, ficarei feliz.
Or. sub. adv. cond. Or. principai
e) Contanto que você fosse à festa, ficaria feliz.
Or. sub. adv. cond. Or. principal
3.2.4. Relação de finalidade
A ideia de finalidade, na maioria das vezes, é expressa por meio da 
preposição para. Entretanto, outros conectivos, como a fim de, com a 
intenção de, com o objetivo de, com o intuito de etc. também servem 
para estabelecer a ideia de finalidade.
Todos estudaram com o objetivo de passar.
Todos estudaram para passar.
Note que, quando o sujeito da oração subordinada é o mesmo da 
principal optamos por utilizar como conectivo uma preposição (como 
para) ou uma locução prepositiva (como com o objetivo de), de modo 
a deixar no infinitivo o verbo da subordinada. No entanto, caso se trate 
de sujeitos diferentes, dá-se preferência a locuções conjuntívas, que 
exigiriam verbos conjugados no presente ou no pretérito imperfeito do 
subjuntivo.
Observe:
Todos trabalham para que os filhos tenham melhores condições 
de vida.
Todos trabalharam a fim de que os filhos tivessem melhores 
condições de vida.
Jy^J^^^v^^TÉCNICAS-DEfREOÀÇÃpiPARÁ-CONCURSOS.H 'Ufian Furtadó è. Vinícius Caryaihò Pereira ‘ .
3.2.5. Relação de adição
A forma mais comum de realizar uma adição é por meio da conjunção 
e. No entanto, também representam relações de adição os seguintes termos: 
além disso, da mesma forma, ademais, em adição a isso etc.
Observe:
No Brasil, é preciso que se façam investimentos em educação 
e saúde; além disso, urge que o policiamento das ruas seja mais 
eficiente.
No Brasil, é preciso que se façam investimentos em educação e saúde; 
ademais, urge.que o policiamento das ruas seja mais eficiente.
Vale ainda notar que muitos prescritivistas recomendam que não se 
utilize o conectivo e para estabelecer coesão transfrásica (entre frases). 
Nesse sentido, recomenda-se dar preferência às demais construções aditivas 
para ligar diferentes períodos.
3.2.6. Relação de conclusão
A ideia de conclusão é estabelecida, principalmente, pelos articuladores 
portanto, assim, por isso, em vista disso, então etc.
Os vendedores conseguiram bater a meta, portanto poderão 
comemorar.
Os vendedores conseguiram bater a meta, logo poderão come­
morar.
Os vendedores conseguiram bater a meta; em vista disso, poderão 
comemorar.
E importante, no entanto, perceber que conseqüência e conclusão não 
são exatamente a mesma coisa, de modo que a opção por uma ou outra 
tem implicações na construção de sentidos em seu texto.
Assim, podemos dizer que as orações subordinadas consecutivas intro- 
duzem uma oração que apresenta um sentido finito, ou seja, a realização 
da conseqüência é dada como certa, desencadeada obrigatoriamente pelo 
fato expresso na oração principal. Veja:
No Rio de Janeiro, chove tanto no verão que ocorrem enchen­
tes.
A segunda oração, que ocorrem acidentes, apresenta um sentido 
esperado e certo relacionado à intensidade da chuva no Rio de Janeiro, 
sendo o fato expresso na oração subordinada automaticamente desenca­
deado pelo conteúdo da oração principal. Ao empregar uma construção 
consecutiva, o autor sugere que aquela conseqüência não é uma opinião 
particular, mas algo logicamente atrelado à causa.
Em contrapartida, a conclusão apresenta uma ideia de inferência 
a partir da informação contida na oração principal, isto é, uma dedu­
ção que pode ser compartilhada ou não por um determinado grupo. 
Observe:
No Rio de Janeiro chove muito no verão, logo ocorrem enchen­
tes.
Nesse exemplo, o autor não atrela a enchente diretamente à chuva, 
como um desdobramento óbvio. O uso de um conectivo conclusivo revela 
que esse desdobramento é fruto da visão de mundo de quem escreveu a 
frase e pode ser contestado ou não pelo leitor.
154 TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - iilian .Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
Atenção ao uso do conectivo pois: esse articulador pode funcionar nas rela­
ções de causa, conciusão ou explicação. É importante ter cuidado para não errar 
no momento de redigir seu texto. Observe:
a) Os balões sobem, pois são mais leves que o ar.
b) Venha rápido, pois precisamos sair.
c) Asdronaldo está muito doente; devemos, pois, interná-io.
No item (a), observamos que a oração introduzida peío pois é a causa do 
fato da oração anterior. Por sua vez, em (b), o pois introduz uma mera explica­
ção. Para diferenciar ambas as relações semânticas, basta notar que uma causa 
justifica o conteúdo veiculado peia outra oração; já uma explicação justifica 
o que motivou o falante a produzir aquela mensagem. A causa se relaciona, 
portanto, ao enunciado; a explicação, por sua vez, está diretamente ligada à 
enunciação.
Com um uso bastante diverso, podemos observar o conectivo pois da frase 
(c), o qual foi empregado para introduzir uma ideia de conclusão, estando posposto 
ao verbo e entre vírgulas.
4. PROBLEMAS GERAIS DA CONSTRUÇÃO DO PERÍODO
Outro aspecto da construção frasal que costuma gerar problemas na 
coesão do texto é o comprimento das frases. As vezes, os candidatos, com 
medo de errar, redigem períodos excessivamente curtos, quase telegráficos, 
acreditado ser essa uma boa estratégia para não fazer mau uso das cone­
xões entre orações. No entanto, isso dá um aspecto fragmentário ao texto 
e interrompe o curso natural da leitura, acarretando severa penalização no 
aspecto de coesão. Veja:
O mundo sofreu drásticas alterações. Não se veem mais araigos 
nas ruas conversando distraidamente. Isso nos leva a refletir sobre 
o que ocorreu. Também nos convida ao questionamento acerca de 
nossa responsabilidade sobre tal fato. Seria hipócrita lamentar-se 
pela degradação das relações humanas. Afinal, são um produto de 
nossas ações.
Por outro lado, há aqueles que redigem frases extremamente longas, 
sem interrompê-las por pontos-finais quando necessário. Tal prática também 
acarreta perda de pontuação na hora da correção do texto, uma vez que
o comprimento excessivo prejudica a leitura e tomâ o período de difícil 
compreensão. Veja:
O mundo sofreu drásticas alterações e não se veem mais 
amigos nas ruas conversando distraidamente, o que nos leva a 
refletir sobre o que ocorreu e a nos questionarmos quanto à nossa 
responsabilidade sobre tal fato, visto que seria hipócrita lamentar- 
-se pela degradação das relações humanas, já que são um produto 
de nossas ações.
O ideal é ter bom-senso na hora da redação e escrever frases com um 
comprimentorazoável, estabelecendo relações coesivas entre elas e cui­
dando para não tomá-las excessivamente longas e complexas. Para tanto, 
é necessário prestar atenção ao uso do ponto-final, uma vez que, se mal 
empregado, ele pode tornar a situação ainda pior. Observe:
O mundo sofreu drásticas alterações e não se veem mais amigos 
nas ruas conversando distraidamente. O que nos leva a refletir sobre 
o que o co iT eu e a nos questionarmos quanto à nossa responsabilidade 
sobre tal fato, visto que seria hipócrita lamentar-se pela degradação 
das relações humanas, já que são um produto de nossas ações.
OU
O mundo sofreu drásticas alterações e não se veem mais 
amigos nas ruas conversando distraidamente, o que nos leva a 
refletir sobre o que ocorreu e a nos questionarmos quanto à nossa 
responsabilidade sobre tal fato. Visto que seria hipócrita lamentar- 
-se pela degradação das relações humanas, já que são um produto 
de nossas ações.
Ambos os parágrafos que acabamos de apresentar têm problemas de 
construção- Embora suas frases não estejam demasiado longas, a utilização 
do ponto-final para segmentá-las foi infeliz, porque separou orações su­
bordinadas de sua oração principal. Veja que os conectivos o que e visto 
que, respectivamente, estão subordinando a informação que introduzem a 
uma oração principal que ficou na frase anterior.
Para resolver esse problema, precisamos ficar especialmente atentos 
a algumas construções típicas da subordinação, como verbos no subjun- 
tivo ou em alguma forma nominal (infinitivo, gerúndio ou particípio); 
pronomes relativos; e locuções conjuntivas terminadas pelo conectivo 
que. Essas estruturas nunca devem ser separadas da oração principal por 
um ponto-final.
Assim, como o que é um pronome relativo (ou a soma de um pro­
nome demonstrativo com um relativo, a depender do gramático) e visto 
que é uma locução conjuntiva terminada pelo conectivo que, as orações 
que esses termos introduzem não podem ser separadas da oração principal 
por ponto-final. Desse modo, para ficar correto, o parágrafo que estamos 
analisando deveria ficar assim:
156 TÉCNICAS DÊ REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado è Vinícius Carvalho Pereira
O mundo sofreu drásticas alterações e não se veem mais amigos 
nas ruas conversando distraidamente. Isso nos leva a refletir sobre o 
que ocorreu e a nos questionarmos quanto à nossa responsabilidade 
sobre tal fato, visto que seria hipócrita lamentar-se pela degradação 
das relações humanas, já que são um produto de nossas ações.
OU
O mundo sofreu drásticas alterações e não se veem mais amigos 
nas ruas conversando distraidamente, o que nos leva a refletir sobre 
o que ocorreu e a nos questionarmos quanto à nossa responsabilidade 
sobre tal fato. Seria hipócrita lamentar-se pela degradação das relações 
humanas, já que são um produto de nossas ações.
Apagando a marca de subordinação, produzimos uma nova oração 
principal na segunda frase, o que permite sua existência autônoma e a 
separação da anterior por ponto-final.
5. EXERCÍCIOS
1. (ESAF) Os trechos abaixo constituem um texto, mas estão desordenados.
Ordene-os de forma a comporem um texto coeso e coerente e assinale a opção
correta.
( ) Cada um desses casos analisados tem suas peculiaridades próprias dentro 
de um Brasil que se configura como um continente, com realidades bastante 
distintas entre si.
( ) Antevíu o grande jurista o importante papel a ser reservado a esses tribunais, 
aliadas que estariam a seus integrantes, a competência técnica, a imparciaiidade 
profissional e a sensibilidade social, no trabalho de cunho educativo, orientado 
em seminários.
{ } Surgiram as Cortes de Contas do Brasil pela inspiração de Rui Barbosa, cujo 
sesquicentenário comemorou-se em 1999.
( ) O exame exaustivo de processos, que consome horas de leitura, análise e 
reflexão sobre o caso, é tantas vezes incomodado pela celeridade com que se 
cobra o seu pronunciamento - uma exigência que muitas vezes não se justifica, 
já que os pareceres emitidos pelas Cortes de Contas não se amoidam a mo­
delos estereótipos que obedeçam ao resultado do sempre-igual de equações 
matemáticas.
( ) Atuam eles de maneira construtiva, sem se eximirem, quando pertinente, de 
indicar as irregularidades que encontram no exercício de sua atividade de 
fiscalização.
(Itens adaptados de Ubiratan Aguiar, XX Congresso dos Tribunais de Contas do 
Brasil, Sessão Solene de Abertura, 12.10.1999. < www.tcu.gov.br>.)
a) 4 - 5 - 3 - 2 - 1
b) 5 - 2 - 1 - 4 - 3
Capl VÍ rr COESÃO JEXTUAL 157
c) 3 - 1 - 2 - 5 - 4
d) 3 - 4 - 5 - 1 - 2
e) 1 - 4 - 5 - 3 - 2
(ESAF) Marque, em cada item, o período que inicia o respectivo texto de forma
coesa e coerente. Depois, escolha a seqüência correta.
I. O abandono da tematização do capitalismo, do imperialismo, das relações centro- 
-periferia, de conceitos como expíoração, alienação, dominação, abriu caminho 
para o triunfo do liberalismo.
(X) O socialismo, em conseqüência desses fatores, desapareceu do horizonte his­
tórico, em virtude de ter ganho atualidade política com a vitória da Revolução 
Soviética de 1917.
(V) O triunfo do neoiiberalismo se consolidou quando o pensamento social passou 
a ser dominado por teses conservadoras.
SS. Compravam um passaporte para o camarote dos vencedores. Mas, como "há 
uma dignidade que o vencedor não pode alcançar", como dizia Borges, o que 
ganharam em prestígio perderam em capacidade de análise.
(X) Os que abandonaram Marx com soltura de corpo e com alívio, como se se 
desvenciShassem de um peso, na verdade não trocavam um autor por outro, 
mas uma classe por outra.
(Y) Eles substituíram a exploração de classes e de países pela temática do to­
talitarismo, aperfeiçoando suas análises políticas ao vinculá-las à dimensão 
social.
UL No mundo contemporâneo, tais modos nos permitem compreender a etapa atuai 
do capitalismo, em sua fase de hegemonia política norte-americana.
(X) Para atender a atualidade, são necessários modos de compreensão férteis, 
capazes de dar conta das relações entre a objetividade e a subjetividade, 
entre os homens como produtores e como produtos da história.
{Y) Trata-se de uma compreensão míope, que ignora componentes essenciais 
ao fenômeno do capitalismo que estamos vivendo.
!V. Quem pode entender a política militarista dos EUA e do seu complexo mílitar- 
-industrial sem a atualização da noção de imperialismo?
(X) Quem pode entender hoje a crise econômica internacional fora dos esquemas 
da superprodução, essencial ao capitalismo?
(Y) Portanto, é a unipoiaridade vigente há uma década que busca impor a di- 
cotomia livre mercado/protecionismo.
V. Nunca as relações mercantis tiveram tanta universalidade, seja dentro de cada 
país, seja nas novas fronteiras do capitalismo.
(X) O capitalismo dá mostras de enfrentar forte declínio, que leva os especialistas 
a preverem profunda fragmentação na ordem econômica interna de cada 
nação.
158 TÉCNiCAS DE REDAÇÃO PÁRA ÇONCURSOS - l///an Furfac/o e Wn/c/ys Carvalho Pereira
(Y) Assiste-se ao capitalismo em plena fase imperialista consolidada, em que as 
formas de dominação se multiplicam.
{Itens baseados em Emir Sader.)
a) X, X, Y, Y, X
b) Y, X, X, X, Y
c) Y, Y, X, X, Y
d) X, Y, Y, X, Y
e) X, Y, Y, X, X
3. (ESAF) Os fragmentos abaixo compõem um texto, mas estão desordenados.
Ordene-os para que constituam um texto coeso e coerente e indique a opção
que apresenta a seqüência correta.
A - Mas é necessário ressaltar que juizes e tribunais com essa configuração, ou 
seja, real e efetivamente independentes, somente existem nos países em que 
vigora o Estado Democrático de Direito.
B - O Judiciário tem a função de promover a paz social, restabelecendo a ordem 
e até mesmo punindo os infratores, independentemente da camada social a 
que pertençam.
C - Essas prerrogativas, issoé, as garantias da magistratura, não constituem privilégio 
pessoal do magistrado, mas direito do cidadão.
D - E é exatamente por isto que os órgãos do Judiciário, os tribunais e os magis­
trados devem gozar de prerrogativas para o exercício dessa missão, sob pena 
de somente poderem exercê-la em relação aos pobres e às pessoas que não 
tenham qualquer influência político-sociaí.
E - Evidentemente esse cidadão, que eventualmente tenha um direito violado, 
somente terá proclamada a justiça a seu favor se houver juizes e tribunais 
independentes, isentos da possibilidade de interferências e pressões indevidas 
de quem quer que seja.
a) A, C, D, E, B
b) 8, D, C, E, A
c) C, B, E, A, D
d) D, A, B, C, E
e) B, E, C, D, A
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 4.
Um governo, ou uma sociedade, nos tempos modernos, está vinculado 
a um pressuposto que se apresenta como novo em face da Idade Antiga e 
Média, a saber: a própria ideia de democracia. Para ser democrático, deve 
contar, a partir das relações de poder estendidas a todos os indivíduos, 
com um espaço político demarcado por regras e procedimentos claros, 
que, efetivamente, assegurem o atendimento às demandas públicas da 
maior parte da população, elegidas pela própria sociedade, através de suas 
formas de participação/representação.
Para que isso ocorra, contudo, impõe-se a existência e a eficácia de 
instrumentos de reflexão e o debate público das questões sociais vinculadas 
à gestão de interesses coletivos - e, muitas vezes, conflitantes, como os 
direitos liberais de liberdade, de opinião, de reunião, de associação etc. -, 
tendo como pressupostos informativos um núcleo de direitos invioláveis, 
conquistados, principalmente, desde o início da Idade Moderna, e ampliados 
peio Constitucionalismo Social do século XX até os dias de hoje. Faia-se, 
por certo, dos Direitos Humanos e Fundamentais de todas as gerações ou 
ciclos possíveis.
(Rogério Gesta lea l. Poder político, estado e sociedade. 
<www.mundojuridico.adv.br>, com adaptações.)
No que se refere a organização das idéias e a aspectos gramaticais do texto acima, 
julgue os itens subsequentes.
4. (CESPE) O pronome "isso" (1 linha do segundo parágrafo) exerce/ na orga­
nização dos argumentos do texto, a função coesiva de retomar e resumir o 
fato de que as "demandas públicas da maior parte da população" (final do 1.° 
parágrafo) são escolhidas por meio de "formas de participação/representação" 
(final do 1.° parágrafo).
5. (ESAF) Os trechos abaixo constituem um texto adaptado de Emir Sader, mas 
estão desordenados. Ordene-os de forma a comporem um texto coeso e coe­
rente. A seguir, assinale a opção correta.
( ) Ao efetuar a transformação, os homens transformam-se a si mesmos. É por meio 
do trabalho que os homens podem transformar, conscientemente, o mundo, 
humanizando.
( } No entanto, se perguntados sobre o que mais gostariam de fazer, a maioria 
esmagadora das pessoas não citaria o trabalho, mas, dormir, comer, ter rela­
ções sexuais, ou seja, diriam preferiam fazer o que temos em comum com os 
outros animais.
( ) O homem se distingue dos outros animais por várias características, mas a 
fundamental é que o homem é um ser com capacidade'para o trabalho.
( ) Deve-se considerar que a sociedade atual está regida pela alienação do trabalho. 
Entenda-se alienação com o sentido jurídico do termo: entregar a outro o que é 
nosso, o que faz que a maioria das pessoas se valha do trabalho não da forma 
criativa de transformar o mundo.
{ ) Os outros animais apenas recolhem o que encontram na natureza - e mesmo 
a abelha e a formiga, que trabalham, o fazem mecanicamente ao passo que 
os homens transformam o meio em que vivem.
a) 2, 3, 5, 1, 4
b) 3, 4, 2, 5, 1
c) 1 , 2 , 5 , 4 , 3
d) 4, 5, 2, 1, 3
e) 3, 4, 1, 5, 2
• Cap. V I.- COESÃO TEXTUAL
160 TÉCNICAS DE': REDAÇÃO PARA CONCURSOS ~ Liliàrí Furtado e VinkiUs Carvaího Pereira :
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 6.
Clima alentador
China e EUA anunciam metas para combater o aquecimento globai 
e revivem expectativa de acordo em Copenhague. Copenhague, afina!, 
pode sair menos ruim que a encomenda. Quando já se contava com 
um fiasco da conferência sobre mudança do clima, que começa daqui 
a uma semana na capital dinamarquesa, surgem sinais animadores de 
que um acordo razoável possa ser obtido. Limitado, mas melhor que 
acordo nenhum. Já se sabe que não será aprovado um tratado forte, 
com compromissos legais dos países para redução de gases do efeito 
estufa. Essa era a expectativa anterior: algo mais ambicioso que o Pro­
tocolo de Kyoto (1997), fracassado, que determinava corte médio de 
5,2% nas emissões só das nações desenvolvidas. O compromisso obtido 
em Copenhague será apenas "politicamente vincuiante". O novo acordo 
precisa ir muito além de Kyoto, se a meta for impedir que o aumento 
da temperatura média da atmosfera ultrapasse 2°C de aquecimento 
neste século, como recomenda a maioria.dos ciimatologistas. isso exige 
dos países desenvolvidos chegar a 2020 emitindo 25% a 40% menos 
poluentes que em 1990, ano-base de Kyoto. Os países menos desen­
volvidos, pof seu turno, precisam desacelerar a trajetória crescente de 
suas emissões. Estima-se que seja necessário um corte de 15% a 30%, 
aplicados no caso sobre os níveis que estariam emitindo em 2020, 
mantido o ritmo atual. A Ideia é de que a redução não prejudique seu 
esforço de desenvolvimento e redução da pobreza. Os sinais alentadores 
surgidos na semana partiram dos EUA e da China. Juntos, respondem 
por 40% das emissões mundiais.
(Folha de S. Paulo, Editorial, 29.11.2009, p. A2.)
6. (CESGRANRIO) Na frase "A ideia é de que a redução não prejudique seu esforço 
de desenvolvimento e redução da pobreza" o uso do pronome possessivo 
"seu" estabelece um vínculo coesivo no texto, porque evita a repetição da 
expressão
a) "um corte de 15% a 30%," {L 19).
b) "Os países menos desenvolvidos,” (L. 17-18).
c) "países desenvolvidos" (L 16).
d) "O novo acordo" {L 12).
e) "redução de gases do efeito estufa" (L 8-9).
Leia o texto a seguir para responder à questão de numero 7.
Ainda que os bancos continuem ganhando muito dinheiro com a 
dívida pública, os resultados espetaculares devem-se, sobretudo, ao forte 
avanço das operações de crédito no país: 27% no úitimo ano. Some-se 
a isso o faturamento com as tarifas e chega-se aos resultados do ano 
passado, com os quais as instituições financeiras do país se elevaram 
à condição de instituições mais rentáveis do planeta. Essa fase de ouro 
salta aos olhos no momento em que os maiores bancos europeus e
Cap: V| T c o e s ã o t ex tu a l 161
norte-americanos sangram com perdas milionárias, resultado de apostas 
equivocadas no mercado hipotecário. Hoje são raras as instituições norte- 
-americanas com taxas de rentabilidade similares às brasileiras. Isso quer 
dizer que os bancos brasileiros são mais competentes e eficientes que 
seus pares dos Estados Unidos da América (EUA)? Não há uma resposta 
simples a essa indagação. Os norte-americanos ainda possuem o sistema 
financeiro mais avançado e dinâmico do mundo. Mas os anos de euforia 
econômica e juros baixos os levaram a buscar investimentos exagerada- 
mente arriscados. Aqui, o crédito chegou apenas às pessoas com bom 
histórico financeiro, o que não ocorreu nos EUA. Resta agora saber se a 
economia brasileira conseguirá manter o atual ritmo de expansão em 
meio à desaceleração dos países.ricos.
(Veja, 20.02.2008, p. 88, com adaptações.)
Julgue os itens a seguir, relativos às ideias e a aspectos gramaticais do texto.
7. (CESPE) Pela função de coesão textual que o pronome "isso" (L.4) desempenha, 
seriam mantidas a coerência e a correção gramatical do texto ao se reescrever 
o início do segundo período da seguinte forma: Somem-se à essas operações 
o faturamento.8. {ESAF) Assinale a opção em que o trecho constitui continuação coesa e coerente 
para o texto retirado do Editorial do jornal Zero Hora (RS), de 28/8/2009.
Com a ajuda da tecnologia de comunicação e informação disponível, o Instituto 
Nacional do Seguro Sociai (INSS) está desfazendo a imagem antiga de um órgão 
público moroso e desorganizado, que cobra mal, fiscaliza ma! e presta mau servi­
ço na hora em que o segurado a eie recorre para qualquer benefício. Conquistas 
administrativas e gerenciais recentes ~ alicerçadas nos sistemas computadorizados 
e, certamente, em reciclagens funcionais - permitem, por exemplo, que as aposen­
tadorias sejam deferidas em alguns minutos, com dia e hora agendados, ou que o 
próprio INSS alerte os trabalhadores quando sua aposentadoria já pode ser solicitada. 
Neste sentido, o Instituto liberou nesta semana mais um lote de correspondências 
avisando mais de 1,3 mil trabalhadores urbanos de que adquiriram condições de 
pleitear esse benefício.
a) Trata-se de um avanço que engrandece o sistema de seguro social estabelecido 
no Brasil, mesmo que tal eficiência não se verifique ainda em todas as áreas, nem 
abranja toda a estrutura de um organismo que gerencia 11 distintos benefícios, que 
vão das aposentadorias às pensões por morte, do salário-família ao auxílio-acidente 
e ao auxílio-doença, entre outros.
b) Cada um deles exige uma estruturação administrativa complexa e uma fiscalização 
adequada, tanto para que os cidadãos sejam atendidos com qualidade quanto para 
evitar que aproveitadores fraudem o sistema e prejudiquem seus beneficiários.
c) Apesar disso, a eficiência mostrada nessa área da Previdência Social - e em algumas 
outras agências de serviço público - precisa ser considerada como um exemplo a 
ser seguido.
d) Contanto que a burocracia pública, que tem sido alvo histórico de ajustadas críticas 
e às vezes de generalizações indevidas, merece o destaque positivo sempre que.
162 TÉCNICAS DE REDAÇÃO.PÁRA CONCURSOS -L ilian F u rtad o e VinidusCarvalhoPereira.
como no caso das aposentadorias, consegue vencer a inércia e a ineficiência e 
produz resultados que a sociedade não pode deixar de elogiar,
e) Entretanto, no caso específico da Previdência, que engloba e gerencia aqueie que 
é o maior fator individual do déficit das contas públicas brasileiras, a qualidade do 
serviço se impõe como um dever.
9. (ESAF) Assinale a opção em que o trecho constitui continuação coesa e coe­
rente para o texto abaixo, adaptado de Luiz Carlos Mendonça de Barros, Valor 
Econômico, 31/8/2009.
Quem acompanha o dia a dia dos mercados financeiros sabe que o pensamento 
ultraiiberal em relação à regulação dos mercados financeiros foi dominante des­
de a década de 1980, mas especialmente a partir do governo Ciinton. Bush deu 
continuidade a essa visão. Os perigos associados a essa postura ficaram ainda 
maiores em função do aparecimento de uma série de inovações financeiras que 
criaram segmentos do mercado sem nenhum acompanhamento pelos órgãos 
reguladores.
a) Essa era uma grande cooperativa de funcionários, de maneira que o pagamento 
de bônus por performance a cada período não causava distorções em relação ao 
valor futuro dos lucros dos acionistas. Esse sistema funcionou de forma correta por 
décadas no mercado financeiro.
b) Nesse tipo de instituição, a maioria dos funcionários que recebe esses bônus parti­
cipa também no capital da empresa. Além disso, essas empresas não tinham ações 
colocadas no mercado junto a investidores.
c) Além desses espaços sem !ei, instrumentos legítimos de busca de eficiência das 
instituições financeiras e que funcionaram adequadamente durante muito tempo 
foram sendo desvirtuados.
d) Esse sistema de bônus é uma prática usada para estimuiar talentos, que nasceu em 
instituições financeiras organizadas sob a forma de associação de sócios.
e) Mas a partir do momento em que se aprofundou a separação entre beneficiários 
desses bônus e os detentores de ações, a racionalidade do sistema foi destruída 
e uma nova fonte de risco criada. Neste momento, os mecanismos que criavam 
estímulos positivos se tornaram instrumentos perigosos e destrutivos.
10. (ESAF) Nas opções, são apresentadas propostas de continuidade do parágrafo 
abaixo. Assinale aquela em que foram atendidos plenamente os princípios de 
coesão e coerência textuais.
Duas ameaças simétricas rondam a determinação dos termos de troca entre presente 
e futuro. A miopia temporal envolve a atribuição de um valor demasiado ao que 
está próximo de nós no tempo, em detrimento do que se encontra mais afastado. 
A hipermetropia é a atribuição de um vaior excessivo ao amanhã, em prejuízo das 
demandas e interesses correntes.
(Eduardo Giannetti. O valor do amanhã: ensaio sobre a natureza dos juros. São
Paulo: Companhia das Letras, 2005.)
a) Contudo, a miopia temporal nos leva a subestimar o futuro, e a hipermetropia a 
supervaíorizar o futuro, o que desfaz, em parte, a referida simetria.
b) Diante dessas ameaças, cabe perguntar se existe um ponto certo - um equilíbrio 
estável e exato - entre os extremos da fuga do futuro (miopia) e da fuga para o 
futuro (hipermetropia).
c) Apesar dessa simetria, não existe uma posição credora - pagar agora, viver depois
mesmo porque sempre abrimos mão de algo no presente sem a expectativa de 
recebermos algo no futuro.
d) Por serem ameaças cujo resultado é idêntico, tanto a miopia temporal quanto a 
hipermetropia tornam irrelevante o fenômeno dos juros nas situações de troca entre 
presente e futuro.
e} Essa simetria conduz, portanto, à conclusão de que vale mais a- pena subordinar 
o presente ao futuro, e não, o contrário, o que nos fará atribuir valor excessivo ao 
futuro, sem fisco de incorrermos em hipermetropia temporal.
Cap. VI - COESÃO TEXTUAL . '
GABARITO
1 ~B 2-B
3-B 4 - Errado
5-E
COIo
I m 8-A
9-C 10-B
COERÊNCIA TEXTUAL
Capítulo V ^ I ; i
T. INTRODUÇÃO
No capítulo anterior, você estudou a coesão textual, fenômeno que 
garante conexão entre as diferentes partes de um texto. No entanto, é 
preciso perceber que a coesão, sozinha, não garante a construção de um 
bom texto. Veja:
A violência no Brasil cresce a cada dia. Por isso, os cidadãos es­
tão cada vez mais seguros em suas casas. No entanto, os criminosos 
ficaram mais violentos e, assim, eles têm agredido cada vez menos 
as pessoas.
Veja que, nesse parágrafo, as frases estão conectadas por mecanismos 
de coesão referencial, como pessoas retomando cidadãos e eles referindo­
-se a bandidos, além de mecanismos de coesão, seqüencial, a exemplo 
dos conectivos por isso, no entanto, e e assim. Porém, o uso dessas 
estratégias coesivas não garantiu uma boa redação, de modo que o leitor 
tem sérias dificuldades, senão total impossibilidade, de entender o que se 
quis dizer nesse trecho.
Tal fato ocorre porque, embora coeso, o trecho acima hão apresenta 
coerência, fenômeno que pode ser caracterizado como condição de inter- 
pretabilidade de um texto. Isso quer dizer que, para um texto ser coerente, 
é preciso que ele possa ser compreendido pelo leitor.
Contudo, é bem mais difícil definir como garantir que um texto seja 
coerente, uma vez que isso depende do contexto, de quem escreve, para 
quem escreve etc., enquanto a coesão é garantida basicamente apenas por 
mecanismos gramaticais, conforme vimos no capítulo anterior. Pode-se 
dizer, pois, que a coesão depende majoritariamente de fatores internos 
ao texto, enquanto a coerência se relaciona principalmente com o que 
está fora do texto e com o trabalho conjunto de autor e leitor na cons­
trução de sentidos.
166 TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtadon Vinícius Carvalho Pereira
Para ficar mais claro como se dá essa construção da coerência de um 
texto, observe o exemplo a seguir:
Dom Quixote do asfalto ataca semáforos de vento pararesgatar 
Dulcineia do congestionamento.
(Carlos Seabra)
Esse texto é um microconto, gênero recente caracterizado pela brevi­
dade e pela presença de elementos literários, como figuras de linguagem 
e o descompromisso formal com as verdades científicas. No entanto, um 
leitor desavisado, que desconheça o gênero microconto, poderia confun­
dir esse trecho com uma manchete de jornal, por exemplo, causando-lhe 
confusão e emperrando a compreensão da mensagem. Caso se tratasse 
de parte de um texto jornalístico, a passagem que acabamos de ler seria 
julgada incoerente, pois o leitor seria incapaz de relacionar a expressão 
semáforos de vento a algo que ele conheça no mundo real. Veja, portanto, 
que o fato de a frase ser coesa e seguir as regras da norma padrão não 
lhe garante coerência em todos os contextos de interpretação.
No entanto, um leitor mais atento perceberia que esse texto, sendo 
literário, não tem compromisso direto com uma descrição fidedigna da 
realidade. Logo, não seria impertinente o uso da metáfora semáforos de 
vento, que talvez traduza a ideia de inimigos imaginários ou de semá­
foros ineficazes, especialmente se considerada a intertextualidade com o 
romance Dom Quixote.
Essa breve análise mostra que um determinado texto pode ser considerado 
coerente ou não a depender do contexto em que autor e leitor interagem 
sobre ele. Isso quer dizer que, na hora de uma prova de redação, você 
deve considerar as especificidades dessa interação e do gênero redação 
para concursos públicos a fim de garantir que o corretor da prova julgue 
seu texto coerente e lhe atribua uma boa nota. Para tanto, apresentaremos 
a seguir algumas dicas.
2. A IDENTIFICAÇÃO DE INFORMAÇÕES IMPLÍCITAS
Quando lemos um texto, não podemos nos basear apenas nas informações 
que estão claramente afirmadas nele. Afinal, sempre há ideias implícitas, 
essenciais para a compreensão dos enunciados. Mesmo as provas objetivas 
de Língua Portuguesa dos concursos públicos cada vez mais se debruçam 
sobre esse tópico, dada sua relevância para a capacidade interpretativa.
Como você não estará junto ao corretor na hora em que ele for ler 
seu texto, é preciso estruturar de forma clara sua redação, para garantir
. Cap. VII - COERÊNCIA TEXTUAL 167
que eventuais informações implícitas em seu texto sejam facilmente re­
cuperadas por ele. Caso contrário, o corretor pode julgar determinadas 
passagens em sua redação como incoerentes, uma vez que não percebeu 
a lógica implícita que as justifica.
A fim de que isso fique mais claro, optamos por explicar separada­
mente os dois principais recursos de que você pode dispor para veicular 
ideias implícitas.
2.1. Pressuposição
O pressuposto é uma ideia implícita que pode ser recuperada a partir 
de elementos gramaticais do texto, em uma leitura mais atenta. Veja o 
exemplo a seguir:
O mundo começa a mudar, ainda que muito discretamente. Após 
mais de seis anos de. negociações às vezes frustrantes, entra em vigor
o Protocolo de Kyoto, único instrumento internacional já concebido 
para lidar com o maior desafio ambiental da história: o aquecimento 
global. O consenso entre pesquisadores, ambientalistas e diplomatas é 
que Kyoto representa mais um sucesso diplomático que ambiental. O 
acordo, que pretende cortar a emissão de gases causadores do efeito 
estufa, é um triunfo do multilateralismo representado pela Organização 
das Nações Unidas (ONU). Mas deixa de fora o maior poluidor do 
planeta, os Estados Unidos da América (EUA).
(Folha de S.Paulo, 16.02.2005, p. Al 5, com adaptações.)
Nesse trecho, o autor, além de informar o leitor acerca do efeito es­
tufa, expressa sua opinião sobre o tema, por meio de diferentes estruturas 
gramaticais que permitem entrever pressupostos.
Há um exemplo de pressuposto que pode ser identificado facilmente 
logo no primeiro período, quando se apresentam as ideias da mudan­
ça do mundo e sua discrição, que não são teoricamente opostas, mas 
complementares. Veja, a esse respeito, que o autor poderia ter dito com 
neutralidade: “O mundo começa a mudar lentamente”. Porém, de acordo 
com a argumentação sustentada na notícia, a mudança é bem mais discreta 
do que se espera, quase inócua. Essa ideia pode ser entrevista no uso do 
conectivo ainda que, que expressa uma concessão, isto é, uma oposição 
entre a discrição e a mudança, como se esta pudesse ser prejudicada por 
aquela. Embora o autor não tenha dito isso explicitamente em seu texto, 
é fácil recuperar esse pressuposto a partir de uma marca lingüística. As­
sim, da neutralidade ao posicionamento direto acerca do tema, a locução 
conjuntiva ainda que desempenhou papel fundamental, veiculando por 
meio de um pressuposto a tese do autor.
168 TÉCNICAS DE REDAÇÃO PÁRkCÓNQÚRSOS.-lUliariFurtadq g.Viriiciys Carvalho Pereira.
Além disso, observe a seguinte estrutura: “o Protocolo de Kyoto, úni­
co instrumento internacional já concebido para lidar com o maior desafio 
ambiental da história”. Nesse caso, o autor deixou pistas no seu texto para 
que possamos perceber outra informação implícita: é necessário serem cria­
dos novos instrumentos internacionais para lidar com esse desafio. Mesmo 
que isso não tenha sido dito abertamente na notícia, as palavras único e 
já sugerem que outros instrumentos já deveriam ter sido criados, o que é 
reforçado pela urgência denotada pela expressão o maior da história.
É importante perceber que um pressuposto é sempre indicado pelo 
autor do texto, cabendo ao leitor apenas sua recuperação a partir de pistas 
deixadas por quem escreveu. Assim, na hora de elaborar sua redação, é 
preciso tomar cuidado: se você acionar, mesmo que acidentalmente, um 
pressuposto, não poderá entrar com um recurso, caso o corretor julgue 
essa informação implícita incoerente. Uma vez que a marca lingüística 
foi você quem deixou no texto, indicando o pressuposto, não há como 
questionar a pertinência dessa interpretação ou afirmar “mas não foi isso
o que eu quis dizer...”
2.2. Inferência
Uma inferência é recuperada não a partir de um dado lingüístico, 
mas de uma informação contextual. Assim, nada no texto indica haver 
uma ideia implícita, que só pode ser inferida se o leitor tiver determinado 
conhecimento de mundo anterior à leitura. Para entender isso melhor, veja
o parágrafo a seguir:
Uma das causas da violência crescente no estado do Rio é a de­
sigualdade de acesso das pessoas à escola de qualidade. Enquanto os 
que têm dinheiro podem pagar a mensalidade de colégios trilíngues 
caríssimos na Zona Sul, os despossuídos precisam contentar-se com 
edifícios caindo aos pedaços, greves constantes e professores sem salário 
compatível cora uma formação e atualização contínuas. Se queremos 
menos presídios, o Rio de Janeiro precisa de mais investimentos em 
educação. E o govemo gastou milhões nas obras da Cidade da Música, 
onde lindos concertos podem ser apreciados diariamente, para fruição 
dos estudantes da rede pública de ensino.
{,Jornal A Língua, 20.04.2010.)
O autor desse texto expõe claramente seu posicionamento a favor do 
investimento em educação no estado do Rio de Janeiro, mas conclui com 
uma afirmação aparentemente desconexa, acerca da Cidade da Música. Um 
leitor talvez não possa recuperar a informação implícita sugerida na última 
frase do texto, caso não tenha conhecimento prévio acerca da referida obra
. Cap. VII -. COERÊNCIA TEXTUAL
na Barra da Tijuca, objeto de constantes acusações de superfaturamento 
e desvio de verba pública, que sequer havia sido terminado quando da 
redação desse texto. No texto há uma ironia implícita, indicando que o 
dinheiro destinado para a Cidade da Música não traz até hoje benefício 
algum aos estudantes da rede pública, enquanto suas escolas estão em 
situação precária.
Como, nesse caso, a ideia implícita não é veiculada por um elemento 
lingüístico em si, como uma palavra,um sinal de pontuação ou uma ex­
pressão, dizemos tratar-se de uma inferência, cuja recuperação é de total 
responsabilidade do leitor. Embora tal recurso textual permita ao autor 
entrar com um recurso caso a banca discorde de seu posicionamento, já 
que, em princípio, ele não é diretamente formulado pelo candidato, há 
outro risco aqui presente: a banca pode simplesmente não entender a in­
ferência, caso não disponha do conhecimento prévio que sua interpretação 
exigiria. Assim, se você acha que é possível o corretor não ter determinado 
conhecimento essencial à identificação de uma informação implícita em 
seu texto, é melhor apresentá-la de forma mais direta.
3. REGRAS DA COERÊNCIA TEXTUAL
Além de possibilitar a recuperação adequada de suas informações 
implícitos, um texto coerente deve atender a certas regras, que foram 
formuladas pela primeira vez por Michel Charolles, o qual as chamou de 
metarregras da coerência. Esses princípios podem ser resumidos e aplicados 
a redações para concursos públicos como veremos a seguir.
3.1. Regra da repetição
Para que um texto seja coerente, é preciso que informações mencio­
nadas anteriormente sejam revisitadas, o que garante que a redação seja 
coesa e a progressão de uma informação para outra seja suave, sem saltos 
abruptos. Veja:
Para compreender a exclusão econômica, social e política no 
Brasil atual, é importante entender a concentração da riqueza, 
que, neste início do século XXI, pode ser percebida em toda a sua 
desproporcionalidade.
Historicamente, a sociedade brasileira estruturou-se a partir de um 
padrão extremamente concentrador da riqueza. Desde o período 
colonial, a riqueza gerada no Brasil tem sido muito mal distribuída 
entre o conjunto da população. Essa situação manteve-se sempre
170 TÉCNiCAS DERÉDAÇÀO PARACONCURSOS - Lilian. Furtado e Vinícius Cdrvólho. Pereira
inalterada até mesmo nos momentos de transformações profundas na 
base econômica nacional.
(Márcio Pochman. Ricos ficam com os dedos e os anéis. UnB Revista,
set./out./nov. 2004, com adaptações.)
Os trechos destacados em negrito nesse excerto mostram como cada nova 
frase do texto se relaciona à anterior, remetendo a algo dito antes. É muito 
importante, enquanto você escreve, observar se cada novo dado que você 
acrescenta dialoga com o que já foi mencionado. Caso contrário, seu texto 
terá mudado de tópico abruptamente, o que é claramente sentido e penalizado 
pelo corretor. A melhor forma de evitar que problemas dessa natureza ocorram 
é empregar mecanismos coesivos, uma vez que eles garantem a transição 
gradual e lógica entre as informações que compõem a redação.
3.2. Regra da progressão
Além de remeter ao que foi dito antes, cada nova frase deve acres­
centar algo novo ao texto. Caso contrário, a informativxdade da redação 
cai, pois o texto se toma repetitivo e pobre em ideias e argumentos, o 
que prejudica não só a coerência, mas a própria argumentação. Para isso 
ficar mais claro, observe novamente o trecho que acabamos de ler, mas 
agora com ênfase em outras partes:
Para compreender a exclusão econômica, social e política no 
Brasil atual, é importante entender a concentração da riqueza, que, 
neste início do século XXI, pode ser percebida em toda a sua 
desproporcionalidade.
Historicamente, a sociedade brasileira estruturou-se a partir de 
um padrão extremamente concentrador da riqueza. Desde o período 
colonial, a riqueza gerada no Brasil tem sido muito mal distribuída 
entre o conjunto da população. Essa situação manteve-se sempre 
inalterada até mesmo nos momentos de transformações profundas 
na base econômica nacional.
(Márcio Pochman. Ricos ficam com os dedos e os anéis. UnB Revista,
ser7out/nov. 2004, com adaptações.)
Observe agora que, sempre que uma informação antiga é retomada, algo 
novo sobre ela deve ser dito, de maneira a garantir que o texto progrida em 
sua exposição/argumentação. Assim, as informações velhas servem como um 
gancho para ligar as informações novas, uma vez que, após afirmada, uma 
informação nova toma-se velha, servindo de gancho para a próxima nova, e 
assim sucessivamente. A ideia geral, pois, é que se intercalem informações 
velhas e novas, de modo a que o texto tenha um equilíbrio entre a repetição 
e a progressão, chamado de progressão temática.
. Cap. VI! - COERÊNCIA TEXTUAL 171
3.3. Regra da não contradição
Além de uma equilibrada progressão temática, um texto coerente não 
pode se contradizer, devendo atender ao que se convencionou chamar de 
coerência interna, ou harmonia entre as partes. Para tanto, informações apa­
rentemente contraditórias não devem ser encadeadas sem uma mediação que 
as compatibilize. A fim de entender isso melhor, veja o exemplo a seguir:
A questão do tempo livre - o que as pessoas fazem com èle, que 
chances eventualmente oferece o seu desenvolvimento — não pode ser 
formulada em generalidade abstrata. A expressão, de origem recente - 
aliás, antes se dizia ócio, e este era um privilégio de uma vida folgada 
e, portanto, algo qualitativamente distinto e muito mais grato —, opõe-se 
a outra: à de tempo não livre, aquele que é preenchido pelo trabalho 
e, poderíamos acrescentar, na verdade, determinado de fora.
O tempo livre é acorrentado ao seu oposto. Essa oposição, a relação 
em que ela se apresenta, imprime-lhe traços essenciais. Além do mais, 
muito mais fundamentalmente, o tempo livre dependerá da situação geral 
da sociedade. Mas esta, agora como antes, mantém as pessoas sob um 
fascínio. Decerto, não se pode traçar uma divisão tão simples entre as 
pessoas em si e seus papéis sociais. (...) Em uma época de integração 
sociaí sem precedentes, fica difícil estabelecer, de forma geral, o que 
resta nas pessoas, além do determinado pelas funções. Isso pesa muito 
sobre a questão do tempo livre. Mesmo onde o encantamento se atenua 
e as pessoas estão ao menos subjetivamente convictas de que agem por 
vontade própria, isso ainda significa que essa vontade é modelada por 
aquilo de que desejam estar livres fora do horário de trabalho.
(T. W. Adorno. Palavras e sinais, modelos críticos 2. Tradução de Ma­
ria Helena Ruschel. Petrópolis: Vozes, 1995, p. 70-82, com adaptações.)
Apesar de esse texto apresentar ideias aparentemente contraditórias, 
como a de que o tempo livre se opõe ao não livre, mas é acorrentado a 
ele, o autor não cai em contradição. Isso ocorre porque a relação entre 
essas ideias aparentemente discrepantes é mediada por uma série de 
argumentos, que provam, como se vê no último parágrafo, que a proxi­
midade entre tempo livre e não livre deve-se ao fato de que ambos são 
determinados pela vida em grupo, especialmente pelo caráter fimcionalista 
da sociedade capitalista.
Caso o autor não estabelecesse uma argumentação sólida para afirmar 
que o tempo livre é oposto e acorrentado ao não livre, teria redigido um 
texto de difícil interpretação, que seria provavelmente considerado incoerente 
pela maioria dos leitores. Desse modo, é importante perceber que, na hora da 
redação, você deve estabelecer com clareza a relação entre eventuais ideias 
opostas que desejar apresentar, como em um recurso contra-argumentativo, 
por exemplo (conforme visto no capítulo sobre parágrafos de desenvolvi­
mento), a fim de que o corretor não julgue seu texto contraditório.
172 TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Liiian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
3.4. Regra da relação
Uma última regra que seu texto deve respeitar para ser considerado 
coerente pelo leitor é o respeito à coerência externa, também chamada 
de extralinguística. Na prática, obedecer a essa regra implica escrever 
um texto que tenha relação com o mundo real, apresentando em sua 
constituição apenas dados verdadeiros ou verossímeis, a depender do 
gênero textual.
O leitor de um conto de fadas não julgará incoerente que uma bru-
i xa enfeiticeuma princesa, uma vez que esse gênero textual pressupõe a
narrativa de fatos fantásticos, desde que em consonância com o restante
j, do conto. No entanto, alguém que corrige uma redação para concursos
; públicos não espera encontrar no texto que lê nada além de fatos com-
I prováveis no mundo real, dado que esta é uma característica fundamental
| . desse gênero. Assim, em um conto de fadas, o uso de elementos irreais
I não é incoerente, diferentemente de um texto díssertativo elaborado em
I *j ^ um concurso.
| Certamente, nenhum candidato cogitará a hipótese de recorrer a narra-
i tivas fantásticas em seu texto na hora da prova, porém há outras estratégias
j discursivas que podem resultar em desrespeito às regras de relação, como
í ’ a invenção de dados estatísticos fictícios, a menção a filósofos inexistentes
j ' ou a referência a exemplos que nunca aconteceram. Caso a banca perceba
i I que o candidato está escrevendo sobre algo que não existe, por falta de
j ; argumentos reais e sólidos, a penalização será extremamente alta, compre-
| ; endendo possivelmente os quesitos coerência e argumentação. Não vale
J | a pena correr o risco, não é? Será sempre mais sensato ler e informar-se
1 antes da prova, a fim de construir um repertório de argumentos verdadeiros
] j que possam ser ativados durante a realização da prova.
| Um erro muito comum dos candidatos é, em busca de uma argumentação
| mais convincente, incorrer em faisas generaiizações ou ênfases excessivas, que
j ; podem redundar na expressão de uma inverdade, o que desrespeita a regra da
í ; relação. Veja:
Se o que atravanca a evolução do Brasil é a corrupção nas esferas
1 : governamentais, a solução para os problemas nacionais não parece
1 próxima. Afinai, como todos os políticos nacionais já se envolveram
o ü se envolverão em esquemas ilícitos, fica difícil crer que haja outros
j ] que não agiriam dessa forma.
! | (Jornal A Língua, 20.04.2010.)
. Cap: VII -'.COERÊNCIA TeXTUAL
Na tentativa de se fazer convincente, o autor desse trecho incorreu em uma 
incoerência, uma vez que fez uma falsa generalização acerca do caráter dos políticos 
brasileiros. Não há como provar que "todos os políticos nacionais já se envolveram 
ou se envolverão em esquemas ilícitos", Sogo uma afirmação dessa natureza não 
deve constar em uma redação para concursos.
Para evitar esse tipo de erro, pode-se recorrer ao que chamamos de modaliza- 
ção do discurso. Tal estratégia consiste em relativizar algumas afirmativas, de modo 
que o autor expresse seu próprio ponto de vista (respaldado pela argumentação e 
coerente com a realidade extralinguística) acerca do que fala.
Assim, em vez da generalização que acabamos de desaconselhar, uma frase 
adequada para o texto, graças à modalização, poderia ser estruturada das seguintes 
formas:
Pode ser que muitos políticos nacionais já tenham se envolvido 
ou venham 3 se envolver em esquemas corruptos.
OU
Acredita-se que, possivelmente, muitos políticos nacionais já teriam 
se envolvido ou viriam a se envolver em esquemas corruptos.
Note que, para modalizar essas frases, foram empregadas expressões que in­
dicam dúvida, como pode ser que, acredita-se que e possivelmente. Além disso, 
os tempos verbais também sugerem que o autor não se compromete pessoalmente 
com o conteúdo desse enunciado, uma vez que o presente do subjuntivo (simples 
ou composto) e o futuro do pretérito do indicativo (simples ou composto) indicam 
noções de incerteza e hipótese.
4. EXERCÍCIOS
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 1.
O universo digital constitui um ciaro separador entre.gerações, ainda que 
não seja privativo de nenhuma delas. Menos conhecido é seu impacto no 
comportamento daqueles que nasceram nesta era tomada pela tecnologia.
O mais notável nesta geração é o fim da separação entre o mundo real e o 
virtual. Um diálogo por mensagem instantânea é hoje tão intenso quanto 
um encontro cara a cara e, muitas vezes, até mais íntimo. A tecnologia é 
uma realidade sem volta.
(Veja Edição Especial - Tecnologia, ago. 2007, com adaptações.)
Com relação aos sentidos e às estruturas lingüísticas do texto, julgue os itens 
seguintes.
1. (CESPE) O emprego do modo subjuntivo em "seja" (1.° período) indica que 
o argumento é considerado uma hipótese. Se esse argumento fosse tomado 
como certeza, o verbo deveria ser empregado no indicativo: é.
174 TÉCNICAS DE REDAÇÃO PARÁ CONCURSOS - Uiian Furtado e Vinícius Carvalho Perèira
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 2.
Duas pesquisas mostram que as políticas sociais e de combate à fome 
implementadas pelo governo federal começam a apresentar resultados 
concretos na melhoria das condições de vida do povo brasileiro. Um estudo 
da Fundação Getúlio Vargas-FGV, intitulado "Miséria em Queda" baseado 
em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), do 
IBGE, confirmou que a miséria no Brasil caiu em 2004, e atingiu o nível 
mais baixo desde 1992. O número de pessoas que estão abaixo da linha 
da pobreza passou de 27,26% da população, em 2003, para 25,08%, em.
2004. Em 1992, esse percentual era de 35,87%. É considerado abaixo da 
linha da pobreza quem pertence a uma família com renda inferior a R$
115 mensais, valor considerado o mínimo para garantir a alimentação de 
uma famíiia. O estudo da FGV mostrou que o índice de miséria no Brasil 
caiu 8%, de 2003 para 2004, deixando o país com a menor proporção de 
miseráveis desde 1992.
(Em Questão. Brasília, n. 379, 30.11.2005, com adaptações.)
2. (ESAF) Assinale a opção que não constitui continuação coesa e coerente para
o texto acima.
a) A cobertura destes dois programas alcança os boisões de pobreza das zonas mais 
distantes dos grandes centros, reduzindo bastante a miséria no país.
b) O coordenador do estudo da FGV atribuiu a queda da pobreza ao crescimento 
econômico do país e listou fatores como estabilidade da inflação, reajuste do saSário- 
-mínimo, recuperação do mercado de trabalho, aumento da geração de empregos 
formais e, ainda, o aumento da presença do Estado na economia, com uma maior 
transferência de renda para a sociedade.
c) O aumento da taxa de escolarização da população tem sido fundamental para a 
redução da desigualdade entre ricos e pobres.
d) Há uma nova geração de programas sociais que está fazendo a sociedade brasileira 
enxergar que é preciso dar mais a quem tem menos e entre os exemplos estão o 
programa Bolsa Famíiia e o programa de aposentadoria rural.
e) A redução da taxa de pobreza foi fortemente influenciada pela queda na distância 
entre os ricos e pobres no Brasil, registrada em três anos consecutivos. Somente em 
2004, a desigualdade caiu duas vezes mais do que no ano anterior.
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 3.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, realizada pelo IBGE, re­
velou que a renda das famílias parou de cair em 2004, interrompendo uma 
trajetória de queda que acontecia desde 1997, e que houve diminuição do 
grau de concentração da renda do trabalho. Enquanto a metade da população 
ocupada que recebe os menores rendimentos teve ganho real de 3,2%, a 
outra metade, que tem rendimentos maiores, teve perda de 0,6%.
Os resultados da PNAD revelaram, também, que o Brasil meíhorou em 
itens como número de trabalhadores ocupados, participação das mulheres 
no mercado de trabaiho, indicadores da área de educação e melhoria das 
condições de vida.
(Em Questão. Brasília, n. 379, 30.11.2005, com adaptações.)
Çap. V li- COERÉNCiA TEXTUAL
(ESAF) Assinale a opção que não constitui continuação coesa e coerente para
o texto acima.
a) Para o secretário de Avaliação e Gestão da informação do Ministério do Desenvol­
vimento Social, o resultado da pesquisa revela muito mais do que um aumento 
de renda: "A desigualdade no Brasil não se alterava desde 88. A população maispobre do Brasil estã ganhando mais se comparada à população mais rica, ou seja, 
a riqueza no Brasil está se desconcentrando. Essa é a melhor notícia. O Brasil está 
redistribuindo melhor a sua riqueza."
b) Entretanto, as ações na área de educação, saúde e transferência de dinheiro, por 
exemplo, foram responsáveis pelo resultado.
c) A expectativa é que, no próximo ano, a diminuição da miséria no País seja ainda 
maior por causa das ações voltadas para os indígenas e quilomboias.
d) O assessor especial da Presidência da República, José Graziano, avaliou que esses 
números comprovam que o País está mudando. "Esses resultados revertem uma 
máxima histórica no nosso país de que os ricos ficavam cada vez mais ricos e os 
pobres cada vez mais pobres."
e) A PNAD é a mais completa pesquisa anual sobre as condições de vida da população, 
mostra um retrato do país e, em 2004, foi estendida para as áreas rurais dos esta­
dos de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá, alcançando a cobertura 
completa do território nacional.
{ESAF} Assinale a opção que constitui continuação coesa e coerente para o 
texto abaixo:
Não há dúvida de que a grande mudança ocorreu no início da década de 60, com a 
política externa independente inaugurada pelo'governo Jânio Quadros, responsável 
pelas novas reiações do Brasil com América Latina, Ásia e África, mas também com o 
mundo socialista e com o Movimento dos Países Não Alinhados. Consolidou-se uma 
estratégia mais autônoma em relação aos Estados Unidos, mais aberta aos países 
do mundo e mais combativa no plano das negociações comerciais e financeiras do 
país, como ficou claro no apoio à criação da Alalc e na participação brasileira na 
Unctat e no Grupo dos 77, nas décadas de 60 e 70.
(José Luís Fíori. "O Brasil no mundo: o debate da política externa",
com adaptações.)
a) Essa posição foi mantida, em grandes linhas, pela política externa de quase todos 
os governos militares, a despeito do seu alinhamento ferrenho em torno da causa 
anticomunista, e, também, depois da redemocratização, com a política externa do 
governo Sarney.
b) Por causa dessa vitória americana na Guerra Fria, a nova utopia da globalização e 
mais uma onda de liquidez internacional criaram as bases materiais e ideológicas 
da nova virada liberal das elites e do Estado brasileiro.
c) Com esse ponto de vista geopolítico, o governo brasiieiro apostou num sólido ali­
nhamento com os Estados Unidos e seu projeto de globalização liberal, aceitando 
a internacionalização dos centros de decisão brasileiros e a fragilização do Estado, 
em troca de um projeto de governança global rigorosamente utópico.
d) Esse Plano Marshall para a América Latina impediu que o Brasil se transformasse 
numa experiência original de desenvolvimento acelerado e "excludente", sob a lide-
176 TÉCNICAS OE REDAÇÃO PARA CONCURSOS - Lilian Furtado e Vinícius Carvalho Pereira
rança desses investimentos estatais e desse capitai privado estrangeiro, proveniente 
de quase todos os países do núcieo central do sistema capitaiista.
e) Tais momentos importantes desta nova trajetória como as propostas da Operação 
Pan-americana, em 1958, e da Operação Brasil-Ásia, nos anos 1959-60, ao mesmo 
tempo de um a maior aproximação da Europa e da África Negra. No mesmo mo- 
mentO/ o governo brasileiro também revia suas relações econômicas internacionais, 
rompendo seu acordo com o FMI.
5. (ESAF) Assinale a opção que constitui continuação coesa e coerente para o 
texto abaixo.
Até aqui, o governo se dedicou a expor seu ponto de vista e começou a mover 
suas pedras no tabuleiro, a partir de sua opção peta prioridade sul-americana e do 
Mercosui. Estabeleceu, em seguida, uma série de pontes e alianças possíveis com 
a África e a Ásia, como aconteceu com o G21, na reunião de Cancun da OMC, e 
como está acontecendo nas negociações do G3, com a África do Sul e com a índia. 
Ou ainda, como vem ocorrendo nas novas parcerias tecnológicas com a Ucrânia, 
a Rússia, a China, ou com os projetos infraestruturais com a Venezuela, a Bolívia, 
o Peru e a Argentina.
(José Luís Fiorí, com adaptações.)
a) Não há dúvida, porquanto, de que essas principais disputas giraram em torno das 
divergências econômicas entre os Estados Unidos e o Brasil, em particular as nego­
ciações da OMC, FMi e ALCA.
b) O que se vê é a afirmação de uma nova política externa, ativa, presente, baseada 
no interesse nacional brasileiro e na afinidade histórica e territoriaí do Brasil com o 
resto da América do Sul, bem como na sua afinidade de interesses com os demais 
'■grandes países em desenvolvimento".
c) E do outro lado, naquele momento, estarão os grupos econômicos e as forças sociais, 
intelectuais e políticas que sempre lutaram por um projeto de desenvolvimento para 
o Brasil.
d) E aqui, não há como se enganar sobre as forças que esta batalha despertava, den­
tro e fora do governo: de um iado estarão, como sempre estiveram, os grupos de 
interesse que defendem uma relação subserviente com os Estados Unidos, em troca 
de um acesso mais favorecido ao mercado interno americano.
e) Orientando-se pelos interesses nacionais do povo e não apenas pelos interesses ime­
diatos e particulares do seu agrobusiness, e dos seus grupos financeiros defendidos 
e acobertados pela retórica diletante e pela política escandalosamente subserviente 
dos "diplomatas descalços".
Leia o texto a seguir para responder à questão de número 6.
Questão velha, polêmica e controvertida, que constitui obstáculo à ação 
das autoridades administrativo-tributárias, mas que sempre viva e exacer- 
badamente atual, é a do "sigilo bancário", pois frente ao crédito tributário e 
ao Fisco, aquele como um bem público relevante e indisponível e este na 
busca de cumprir os objetivos a que se destina de aferir a real capacidade 
contributiva, arrecadar tributos, promover a igualdade e a justiça fiscal,
Cap. VII - COERÊNCiA TEXTUAL 177
colocam-se a preservação e a garantia dos direitos fundamentais invioláveis 
de privacidade e intimidade inerentes às pessoas dos contribuintes.
(Mary Elbe G. Q. Maia. “A inexistência de sigilo bancário frente 
ao poder-dever de investigação das autoridades fiscais", 
Tributação em Revista, julVset. 1999.)
6. (ESAF) Assinale a opção que dá continuidade ao trecho, preservando a coe­
rência, a coesão e a progressão das ideias.
a) No seu âmago, o que exsurge é a discussão acerca dos interesses públicos frente 
aos interesses privados e qual deles deverá prevalecer.
b) No cerne da questão, desponta a dicotomia entre um sistema fortemente estatal e 
o poder fiscalizador da sociedade organizada.
c) Em suma: trata-se de questionar até que ponto a quebra do sigiio bancário vai 
contribuir para revelar elisão feca! e evasão de divisas.
d) Torna-se, assim, fundamenta! discutir sob o manto da ética a questão da inexistência 
de sigiio bancário em estados democráticos de direito.
e) A despeito disso, não basta conceder às autoridades fiscais o poder-dever de inves­
tigação, se não se ihes faculta o direito fundamentai inviolável de privacidade.
7. (ESAF) Assinale a opção que não constitui uma inferência das ideias do trecho 
abaixo.
Na tentativa de explicar a ocorrência de fome nos países subdesenvolvidos, sur­
ge, após a Segunda Guerra Mundial, a teoria demográfica neomaithusiana, logo 
perfilhada pelos países desenvolvidos e pelas elites dos países subdesenvolvidos. 
Segundo essa teoria, uma população jovem numerosa, resultante das elevadas 
taxas de natalidade verificadas em quase todos os países subdesenvolvidos, exi­
ge grandes investimentos sociais em educação e saúde. Com isso, diminuem os 
investimentos produtivos nos setores agrícola e industrial, o que impede o pleno 
desenvolvimento das atividades econômicas e, portanto, da melhoria das condições 
de vida da população. Ainda segundo os neomalthusianos, quanto maior o

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