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Direitos HumanosDireitos Humanos Módulo I Sumário Unidade 1 – Direitos Humanos: Origem...........................................................................5 1.1 – Panorama histórico dos direitos humanos............................................................6 1.2 – Conceitualização e objetivos dos direitos humanos...........................................12 1.3 – A dignidade do indivíduo humano.....................................................................16 1.4 – Cidadania: breve histórico..................................................................................20 1.5 – Valores de igualdade..........................................................................................25 Unidade 2 – Aspectos Legais..........................................................................................28 2.1 – A internacionalização dos direitos humanos......................................................28 2.2 – Direitos sociais...................................................................................................37 2.3 – Tratados internacionais e outros mecanismos....................................................42 2.4 – Cidadania e educação.........................................................................................47 2.5 – Direitos humanos: Constituição.........................................................................52 Conclusão do Módulo I...................................................................................................55 Introdução Olá, aluno(a)! Seja bem-vindo ao nosso curso de Direitos Humanos. Nesta pesquisa, abordaremos o panorama histórico dos direitos humanos, observando o importante papel da Carta Magna e da Revolução Francesa na constituição destes direitos. Conceitualizaremos o termo “Direitos Humanos” e analisaremos seus objetivos gerais. Veremos como a dignidade humana influencia nossas relações interpessoais. Aprenderemos um pouco mais sobre os direitos e deveres, individuais e coletivos, de um indivíduo. Ao fim, desta unidade, trataremos dos valores de igualdade que devem permear em qualquer sociedade democrática. No segundo momento, trataremos dos aspectos legais que circundam os direitos humanos. Veremos como ocorreu o processo de internacionalização dos direitos humanos. Analisaremos pormenorizadamente os direitos sociais e os tratados internacionais de direitos humanos, dando especial atenção à cidadania e à educação. Veremos como a constituição brasileira contempla os direitos humanos universais. Posteriormente, veremos as questões práticas dos direitos humanos, ou seja, tratar dos mecanismos que nos permitem por em prática estes preceitos. Aprenderemos o que é um estado democrático de direito e soberania. Refletiremos sobre a importância da preservação da integridade física e moral de um indivíduo. Trataremos do princípio de “liberdade”, analisando o termo em todas as suas configurações. Ao fim desta unidade, analisaremos o sistema carcerário brasileiro, levantando aspectos de uma relação de oposição aos Direitos Humanos. 3 Na última unidade, trataremos das ferramentas e dos dispositivos de acesso a esses direitos. Veremos a que passo anda os direitos humanos no Brasil e quais foram os avanços desde a Constituição de 1988. Apresentaremos os principais artigos de nossa Constituição, que versam sobre os direitos inalienáveis do cidadão, o que de certa forma caminha ao lado dos direitos humanos internacionalmente estabelecidos. Veremos como o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) atuou na proteção dos direitos fundamentais. Por fim, trataremos dos avanços e desafios das políticas públicas em prol dos Direitos Humanos no Brasil. Bom estudo! 4 Unidade 1 – Direitos Humanos: Origem Olá, aluno(a)! Nesta unidade, trataremos de mostrar um breve resumo acerca da história dos Direitos Humanos. Conceitualizaremos o termo e discutiremos seus objetivos mais importantes. Também analisaremos o conceito abstrato de “dignidade”, importante para o desenvolvimento individual e coletivo de uma sociedade. Posteriormente, aprenderemos um pouco mais sobre os direitos e os deveres, coletivos e individuais, de um cidadão. Por fim, teremos a difícil tarefa de definir o conceito de igualdade, contudo, ampliaremos este conceito as suas mais diversas significações. Em suma, seremos apresentados ao tema: Direitos Humanos. Bom curso! 5 1.1 – Panorama histórico dos direitos humanos Em 539 a.C., os exércitos de Ciro, O Grande, o primeiro rei da antiga Pérsia, conquistaram a cidade de Babilônia. Mas foram outras ações dele que marcaram um grande avanço para a humanidade. Esses e entre outros decretos foram gravados em um cilindro de barro cozido no idioma acadiano com escrita cuneiforme. Conhecido hoje como o Cilindro de Ciro, este antigo registro foi agora reconhecido como o primeiro foral do mundo dos direitos humanos. Está traduzido em todas as seis línguas oficiais das Nações Unidas e das suas disposições paralelas dos quatro primeiros artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Observe, na imagem abaixo, este objeto que serviu como primeiro documento dos direitos humanos de toda a historia da humanidade: 6 Fonte: jesusmaioramor.blogspot.com A propagação dos Direitos Humanos Da Babilônia, a ideia de direitos humanos se espalhou rapidamente pela Índia, Grécia e Roma. Existe o conceito de "lei natural", que surgiu na observação do fato de que as pessoas tendem a seguir certas leis não escritas no decorrer da vida, sendo que o direito romano foi baseado em ideias racionais derivados deste pensamento antigo. Documentos reivindicam os direitos individuais, como a Magna Carta (1215), a Petição de Direito (1628), a Constituição dos EUA (1787) e a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), que são alguns dos precursores escritos, os quais deram origem a muitos dos documentos atuais sobre os direitos humanos. A Magna Carta, ou "Grande Carta", foi sem dúvida a influência adiantada mais significativa sobre o extenso processo histórico que levou ao Estado de direito constitucional, do qual trataremos mais adiante. Em 1215, depois que o rei João da Inglaterra violou uma série de leis e costumes antigos pelos quais a Inglaterra tinha sido governada é que seus súditos o obrigaram a assinar a Magna Carta, que enumera o que mais tarde veio a ser pensado como os direitos humanos. Entre eles estava o direito da igreja em ser livre da interferência governamental, os direitos de todos os cidadãos livres de possuir e herdar propriedades, e serem protegidos contra os impostos excessivos. A Magna Carta ainda estabeleceu o direito das viúvas que possuíam propriedade em optarem por não se casar de novo, os princípios consagrados do devido processo legal e igualdade perante a lei. Ela também continha disposições que proibiam o suborno e a improbidade oficial. Em suma, este documento serviu de alicerce paratodos os acordos modernos acerca dos direitos humanos fundamentais. 7 Amplamente vista como um dos documentos jurídicos mais importantes no desenvolvimento da democracia moderna, a Magna Carta foi um ponto de transformação crucial na luta para estabelecer a liberdade. O próximo marco registrado no desenvolvimento dos direitos humanos foi a Petição de Direito, produzida, em 1628, pelo Parlamento Inglês e enviado para Charles I como uma afirmação das liberdades civis. A recusa do Parlamento em financiar a política externa impopular do rei causou a seu governo drásticas medidas políticas e econômicas. A Petição de Direito, iniciada por Sir Edward Coke, fora baseada em estatutos e cartas anteriores e firmou quatro princípios: 1. Nenhum imposto pode ser cobrado sem o consentimento do Parlamento; 2. Nenhum indivíduo pode ser preso sem motivo (reafirmação do direito de habeas corpus); 3. Nenhum soldado pode ficar aquartelado nas casas dos cidadãos; 4. Nenhuma lei marcial pode ser utilizada em tempo de paz. Em 4 de julho de 1776, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a Declaração de Independência. Seu autor principal, Thomas Jefferson, escreveu a Declaração como meio de estabelecer a independência da Grã-Bretanha. Filosoficamente, a Declaração de Independência Americana ressaltou dois temas: os direitos individuais e o direito de revolução. 8 Estas ideias se tornaram amplamente aceitas pelos americanos e se espalharam internacionalmente também, influenciando, em particular, a Revolução Francesa, outro importante evento na construção dos direitos humanos fundamentais. A segunda Guerra Mundial, que durou de 1939 a 1945, foi outro grande evento no resgate dos direitos humanos. Em abril de 1945, os delegados de cinquenta países se reuniram nos EUA cheios de otimismo e esperança. O objetivo da Conferência das Nações Unidas era mobilizar a comunidade internacional para promover a paz e evitar guerras futuras. Os ideais da ONU foram afirmados no preâmbulo de sua carta proposta: "Nós, os povos das Nações Unidas, estamos decididos a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que, por duas vezes, em nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade”. A Carta da nova organização das Nações Unidas entrou em vigor em 24 de Outubro de 1945, uma data que é comemorada todos os anos como o Dia das Nações Unidas. Em 1948, a nova Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas tinha conseguido atrair a atenção do mundo. Sob a presidência dinâmica de Eleanor Roosevelt, viúva do Presidente Franklin Roosevelt, um ícone dos direitos humanos, a comissão se propôs a elaborar um documento que se tornaria a Declaração Universal dos Direitos Humanos. No seu preâmbulo e no artigo 1 º, a Declaração de forma inequívoca proclama os direitos inerentes a todos os seres humanos: “o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os seres humanos gozam de liberdade de palavra, de crença e da liberdade do medo e da 9 miséria, foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum ... Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos.” Fonte: DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS Os Estados-Membros das Nações Unidas se comprometeram a trabalhar em conjunto para promover os 30 artigos da declaração dos direitos humanos que, pela primeira vez na história, foram reunidos e codificados em um único documento. Em consequência, muitos desses direitos, sob diversas formas, são hoje parte das leis constitucionais de praticamente todas as nações democráticas. Vejamos, abaixo, os principais artigos deste documento, cuja importância começa a ser analisada neste tópico: Artigo 1º. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Todos são dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. Artigo 2°. Toda pessoa tem direito a todos os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição. Artigo 3°. Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 4 º. 10 Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. Artigo 5º. Ninguém será submetido à tortura nem a penas, aos tratamento ou ao castigo cruel, desumano ou degradante. Artigo 6°. Toda pessoa tem direito ao reconhecimento em todos os lugares como uma pessoa perante a lei. Artigo 7°. Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo 8°. Toda pessoa tem direito a recurso efetivo para as jurisdições nacionais competentes contra os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei. Artigo 9°. Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo 10°. Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre os seus direitos e deveres 11 ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele. (...) Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e das liberdades aqui estabelecidos. Fonte: http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm 1.2 – Conceitualização e objetivos dos direitos humanos O objetivo central de nossos direitos humanos é motivar as pessoas a terem uma ação positiva e pacífica em prol dos direitos coletivos e individuais fundamentais. As pesquisas destacam como os abusos de direitos humanos impactam todas as esferas da sociedade. Acreditamos que o apoio aos direitos humanos é benéfico em todos os sentidos, já que se baseiam em valores específicos, visto que cada pessoa pode fazer a diferença. A única maneira pela qual os direitos humanos podem ser eficazmente protegidos é respeitando o princípio de que cada indivíduo possui certos direitos fundamentais inerentes, que não podem ser tirados, nem mesmo em nome do "bem comum". Caso contrário, nenhum de nós estaria realmente seguro. Não podemos defender princípios e ideais por ações que lhes são prejudiciais. 12 Por exemplo, um assassino vai a julgamento por seu crime, mesmo diante disso, ele tem direito a uma defesa, a um julgamentojusto e um cumprimento digno de sua pena. Cada episódio da história de nossos direitos humanos vai mostrando algumas ações que poderiam ser tomadas para apoiar um mundo mais seguro, mais humano e mais pacífico. O fato é que nas sociedades modernas, cada indivíduo é um agente para impedir a discriminação de todos os tipos, apoiando a liberdade política e de expressão. Defensores dos direitos humanos concordam que, 60 anos após a sua emissão, a Declaração Universal dos Direitos Humanos ainda é mais um sonho do que propriamente realidade. Violações existem em todas as partes do mundo. Por exemplo, em 2009, um relatório sobre a Anistia Internacional e outras fontes mostraram que há indivíduos que são: Torturados ou abusados em pelo menos 81 países; Enfrentam julgamentos injustos em pelo menos 54 países; Foram restritos de sua liberdade de expressão em pelo menos 77 países. Não só isso, mas as mulheres e as crianças, em particular, são marginalizadas de várias maneiras, a imprensa não é livre em muitos países e os dissidentes são silenciados, muitas vezes, de forma permanente. 13 Enquanto alguns ganhos foram feitos ao longo das últimas seis décadas, as violações dos direitos humanos ainda assolam o mundo de hoje. Sobretudo, em sociedades em processo de democratização ou em ditaduras neo-liberais, a exemplo da China. Para ajudá-lo(a) a se informar sobre a verdadeira situação em todo o mundo, esta seção fornece exemplos de violações dos seis artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, observe e tome nota: ARTIGO 3º – O direito de viver livre ”Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.” Estima-se que 6.500 pessoas foram mortas, em 2007, no conflito armado no Afeganistão, quase a metade das mortes composta de civis não-combatentes. Centenas de civis também foram mortos em ataques suicidas por grupos armados. No Brasil, em 2007, de acordo com dados oficiais, a polícia matou pelo menos 1.260 pessoas. Todos os incidentes foram oficialmente rotulados como "atos de resistência" e receberam pouca ou nenhuma investigação. Em Uganda, no mesmo ano, 1.500 pessoas morrem a cada semana nos campos de exilados. Segundo a Organização Mundial de Saúde, 500.000 pessoas morreram nesses campos. Como pudemos observar, depois de muito tempo passado, desde a elaboração da Declaração Mundial dos Direitos Humanos, vemos que em certas sociedades estes direitos não são respeitados. Naturalmente que estes dados estão desatualizados, os números atualmente devem ser maiores. 14 Existem direitos humanos consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos que são reconhecidos, pelo menos em princípio, pela maioria das nações e formam o coração de muitas constituições nacionais. No entanto, a situação atual do mundo é muito distante dos ideais previstos na Declaração. Para alguns, a plena realização dos direitos humanos é um objetivo remoto e inatingível. Essas leis internacionais servem como uma função de restrição, mas são insuficientes para garantir uma proteção adequada dos direitos humanos em sua totalidade, como evidenciado pela dura realidade dos abusos perpetrados diariamente. Na verdade, estamos longe do cenário ideal. A discriminação é galopante em todo o mundo. Milhares de pessoas sem julgamento justo estão na prisão. A tortura se torna instrumento para manobras políticas, muitas vezes, sem julgamento, mesmo em alguns países democráticos. 1.3 – A dignidade do indivíduo humano 15 O termo dignidade tornou-se conhecido após o advento da Revolução Francesa. No mundo ocidental a preeminência da dignidade humana pode ser vista como uma reação contra a política do passado, mas é essencialmente um reflexo do fato de que a dignidade humana é o direito humano mais importante entre os direitos fundamentais. A dignidade humana é inerente a todo ser humano, inalienável e independente do Estado. Em contraste, outros direitos humanos podem ser suspensos em estado de emergência ou limitados em tempos de guerra. A Declaração Universal das Nações Unidas sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos, refere-se, mas não define a dignidade humana. De um modo geral, podemos dizer que nada deve prevalecer sobre o respeito aos direitos humanos, às liberdades fundamentais e à dignidade humana dos indivíduos ou, quando aplicável a grupos de pessoas. A dignidade está relacionada aos direitos e aos princípios mais básicos do ser humano. Em 2006, o Bundesverfassungsgericht (Tribunal Constitucional da Alemanha) teve que pesar a proteção constitucional da dignidade humana contra uma lei que propunha o abate de qualquer aeronave não identificada que, embora levando reféns, pudesse representar uma ameaça iminente para estruturas de solo e civis. O Tribunal alemão, felizmente, derrubou a lei dizendo que o que pode comprometer a dignidade da pessoa humana é uma análise orientada a verdade, e que vidas humanas não podem ser submetidas a meros posicionamentos do Estado. A dignidade humana significa que um indivíduo ou grupo de indivíduos sinta autorrespeito e autoestima. Se assim for podemos crer que no Brasil, alguns grupos sociais não têm acesso a estes direitos. E, portanto, vivem sem dignidade, como é o caso dos moradores de rua. 16 A dignidade humana é prejudicada por um tratamento injusto dos traços pessoais ou circunstâncias que não se relacionam com as necessidades individuais, capacidades ou méritos. Ela é prejudicada, também, quando os indivíduos e grupos são marginalizados, ignorados ou desvalorizados, e é reforçada quando as leis reconhecem o lugar de todos os indivíduos e grupos dentro da sociedade. Por exemplo, no Brasil, grupos étnicos ainda sofrem desrespeito e discriminação, como é o caso de alguns povos indígenas e da comunidade afrodescendente. A dignidade humana, no alcance da garantia da igualdade, não se relaciona com o estado ou a posição de um indivíduo na sociedade, por si só, mas sim refere-se à maneira pela qual uma pessoa legitimamente sente, quando confrontada com uma lei específica. Será que a lei irá tratá-lo injustamente, tendo em conta todas as circunstâncias em relação aos indivíduos afetados e excluídos pela lei? De um modo geral, a dignidade da pessoa é uma suposição prévia necessária a partir do qual derivam direitos fundamentais. Afirmar o conceito de dignidade é afirmar muito mais fortemente a importância do indivíduo e seus direitos. Eles são tecidos em um conceito de comunidade que prevê a pessoa como uma parte sagrada do todo. Direitos são relativos e existem dentro de um contexto histórico e social, sendo inteligíveis apenas em termos de obrigações dos indivíduos para com outras pessoas. Por exemplo, o conceito de dignidade na Grécia antiga é bastante diferente de nosso conceito contemporâneo. 17 Basta nos atentar para o fato de que naquele período o comércio escravo era uma prática natural. Esta moderna maneira de pensar a dignidade nos coloca como umtodo e completo dentro de uma coletividade igualmente complexa. O problema é que em nossa sociedade onde impera o liberalismo contemporâneo é que o pobre pode ser reduzido a propósitos que tendem a favorecer alguns interesses particulares e individuais. Construir valores e ter acesso aos meios de vida e trabalho é viver com dignidade. Ter acesso à informação, à saúde, à escola, à segurança e à moradia é sinônimo de dignidade. Nossa dignidade, aquela com a qual começamos, é dada por Deus e não pode ser revogada, negada, ou diluída por governos ou qualquer outra instituição. Os direitos dessas pessoas dignas são invioláveis. Nós temos um direito e, portanto, um dever, de procurar a verdade, esse direito, que fala profundamente à busca da verdade é um dos maiores entre os direitos fundamentais. Nossas consciências não estão à venda ou distribuidas como moeda de troca em uma negociação política. Os fins para o qual tendem os direitos não podem ser avaliados na ausência de um reconhecimento de que é preciso começar a observar com um pouco de compreensão da pessoa humana. A Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que a "dignidade inerente" é de todas as pessoas. Esta dignidade não é livre flutuante, um princípio arbitrário apanhado, mas, sim, esta dignidade é apresentada no fato de que os seres humanos são criaturas únicas. 18 Devemos tornar, neste sentido, nossas vidas mais dignas, sob uma perspectriva materialista, onde analisamos as condiçoes que nos favorecem viver, e também levando em conta o aspecto coletivo, isto é, possibilitar que o outro tenha uma vida digna. Não se engane voce faz parte de uma coletividade e suas escolhas influenciam a vida daqueles que o cercam. O fato é que mesmo após essa reflexão acerca da dignidade humana, ainda não conseguimos exprimir sua essência, sua matiz originária. Podemos apenas refletir sobre essa e outras questões relevantes para uma vida harmoniosa. Ética e cidadania no Brasil A natureza da cidadania e a educação adequada para a sua realização, tradicionalmente, figurou entre as questões básicas da teoria política normativa. Sua negligência, no Brasil, durante décadas na metade do século XX, foi apenas uma consequência da marginalização da ética e da filosofia política, não só aqui, mas em todo o mundo. Em um passado recente, o Brasil sofreu com profundas agressões à cidadania, foi o golpe militar de 1964, que instituiu o regime de exceção em nosso país. Os militares suprimiram a liberdade de expressão, bem como as manifestações populares. Baseados na ideologia da proteção nacional os militares instituíram um episódio lamentável da história recente do Brasil. Percebemos aqui, o começo de um problema bastante atual, que é a inércia do povo, este não tem conhecimento nem esclarecimento acerca de suas responsabilidades e deveres enquanto cidadãos. O povo, antes reprimido, é agora instrumento de massificação, os movimentos populares estão quase extintos. 19 Em virtude da forte repressão sofrida por aquela geração de brasileiros acabou por amputar a capacidade reflexiva da coletividade. A ética e a cidadania foram abafadas naquele momento histórico. Hoje, felizmente, este cenário é diferente, contudo, vemos que a coletividade brasileira ainda ignora preceitos éticos e morais, não exercendo sua cidadania em sua totalidade. O fato é que a ética e a cidadania têm sua importância inquestionável, portanto o investimento em educação e cultura é imprescindível para um povo que almeja evoluir socialmente. Certo é que o desinteresse pela busca do conhecimento da ética parece ser marcante no comportamento daqueles que governam nosso país. 1.4 – Cidadania: breve histórico Muitos pensadores apontam para o conceito de cidadania a partir de cidades-estados iniciais da Grécia antiga, embora outros a veem como essencialmente um fenômeno moderno que remonta apenas há algumas centenas de anos, considerando que o conceito de cidadania surgiu com as primeiras leis. Polis significava tanto a assembleia política da cidade-estado, bem como toda a sociedade. A cidadania, geralmente, tem sido identificada como um fenômeno ocidental. Há uma opinião generalizada de que a cidadania nos tempos antigos, em suas várias formas, era uma relação mais simples do que no contexto moderno. 20 A relação de cidadania não tem sido uma relação fixa ou estática, mas constantemente mudada dentro de cada sociedade e de cada período, podendo ser mais ou menos estudada e praticada em momentos diversos. Pode-se argumentar que o crescimento da escravidão foi o que fez com que os gregos particularmente se conscientizassem acerca do valor da liberdade. Afinal, qualquer agricultor grego poderia cair em dívida e, portanto, poderia se tornar um escravo. Quando os gregos lutaram juntos, eles lutaram para evitar que fossem escravizados pela guerra, para não serem derrotados por aqueles que poderiam levá-los à escravidão. E eles também organizaram suas instituições políticas de modo a permanecerem homens livres. Contudo, como mencionado acima, os escravos não tinham direitos na polis, ou seja, não votavam e não participavam das questões e escolhas sociais. A primeira forma de cidadania foi baseada na maneira como as pessoas viviam nos tempos antigos, isto é, em comunidades orgânicas da polis. A cidadania não era vista como uma atividade separada da vida privada do indivíduo, no sentido de que não havia uma distinção entre a vida pública e a privada. As obrigações de cidadania foram profundamente ligadas em sua vida cotidiana na polis. Estas comunidades orgânicas de pequena escala eram geralmente vistas como um novo desenvolvimento na história do mundo, em contraste com as antigas civilizações do Egito ou da Pérsia. Do ponto de vista dos gregos antigos, a vida pública de uma pessoa não estava separada de sua vida privada e eles não faziam distinção entre os dois mundos, de acordo com a concepção ocidental moderna. Para ser verdadeiramente humano, o sujeito tinha que ser um cidadão ativo para a comunidade. 21 Esta forma de cidadania foi baseada nas obrigações dos cidadãos para com a comunidade , ao invés de direitos dados aos cidadãos da comunidade. Com o passar do tempo, o conceito de cidadania foi se reconfigurando e se adequando aos novos contextos sócio-políticos. Atualmente quando falamos em cidadania, nos remetemos à forma como vivemos em sociedade. Cidadania, na concepção moderna, é o fio comum que liga todos os indivíduos de uma sociedade. Somos uma nação ligada não pela raça ou religião, mas pelos valores comuns de liberdade e igualdade. De um modo geral, em qualquer democracia teremos responsabilidades sobre os direitos e deveres. Isso é importante para que todos possam seguir as regras e obedecer às leis dentro de uma sociedade moderna. Leis criam justiça e protegem a saúde e a segurança de todos os indivíduos. Elas protegem nossa liberdade e democracia. Devemos obedecer às leis que foram estabelecidas em prol de um bem comum. Cabe ao cidadão ser informadosobre o seu governo e sua comunidade, isso é uma responsabilidade importante. A votação nas eleições não é apenas um direito, mas sim uma responsabilidade de todos os cidadãos. Abaixo, temos um interessante texto, extraído da internet, que trata justamente das questões que circundam o ato de cidadania. O artigo apresenta uma reflexão relevante acerca de nossos direitos e deveres. Observe e tome nota: DIREITOS E DEVERES: cada cidadão tem o direito de viver, de ser livre, de ter sua casa, de ser respeitado como pessoa, de não sofrer coação, de não sofrer preconceito por causa do seu sexo, de sua cor, de sua idade, do seu trabalho, da sua origem, ou por qualquer outra causa. Todos os brasileiros têm os mesmos direitos. Esses direitos são invioláveis e não podem ser tirados de ninguém. 22 É importante lembrar que como cidadãos, nós não temos somente direitos, mas também deveres para com a nação, além da obrigação de lutar pela igualdade de direitos para todos, de defender a pátria, de preservar a natureza e de fazer cumprir as leis. Os nossos direitos e deveres estão definidos de acordo com a Constituição Brasileira e em consonância com a Declaração Universal dos Direitos do Homem. De acordo com o Art. 5º. da Constituição Brasileira, em resumo, estes sãos os nossos direitos e deveres enquanto cidadãos brasileiros: Direitos: • Ir e vir em todo território nacional em tempo de Paz; • Direito de igualdade perante a Lei; • Direito de não ser torturado e de não receber tratamento desumano ou degradante; • Direito a sua intimidade, sua vida particular, sua honra, sua imagem, à inviolabilidade de seu domicílio, de sua correspondência e de suas comunicações telegráficas, de dados e telefônicas; • Direito de liberdade de expressão de atividade artística, intelectual, científica, literária e de comunicação; • Direito de reunião e às liberdades políticas e religiosas; • Direito à informação e direito de propriedade. Deveres: • Votar para escolher nossos governantes e nossos representantes nos poderes executivos e legislativo; • Cumprir a leis; • Respeitar os direitos sociais de outras pessoas; • Prover o seu sustento com o seu trabalho; alimentar parentes próximos que sejam incapazes; • Educar e proteger nossos semelhantes; proteger a natureza; • Proteger o patrimônio comunitário; proteger o patrimônio público e social do país; 23 colaborar com as autoridades. Fonte: http://www.cidadaoalerta.org.br/conteudo.php?id=36 Tornar-se um cidadão com todas as liberdades e oportunidades que este país tem para oferecer é o sonho de muitos brasileiros e imigrantes. Com estes direitos estabelecidos internacionalmente, a cidadania também traz consigo algumas responsabilidades importantes. Contudo, traz uma ideia intrinseca ainda mais importante, quais sejam o respeito e a tolerância. Em pleno século XXI, ainda lidamos com o preconceito, a discriminação e a intolerância, tenham eles razões religiosa, política, racial ou sexual. O fato é que devemos revisitar os ideais propostos pela Declaração dos Direitos Humanos. Ainda hoje, homossexuais apanham e presos são encarcerados em condições desumanas. Também no século XXI, devemos ter aceso em nossas mentes, os conceitos, como a liberdade de pensamento, crença, opinião e expressão, incluindo a liberdade de expressão e de imprensa, e também a liberdade de reunião pacífica e de associação. Sem mencionar o direito das minorias aos meios de produção, cultura e educação, bem como os direitos das mulheres. No Brasil, homens e mulheres são iguais perante a lei . A abertura e a generosidade no Brasil não se estendem às práticas bárbaras culturais que toleram maus-tratos, "crimes de honra", casamento forçado ou outras formas de violência baseadas no gênero. Essa, aliás, vem sendo uma dicussão em todo o Oriente Médio, onde, por valores culturais, pratica-se maus tratos contra as mulheres, que sofrem violência de todos os tipos quase que diariamente. 24 Os culpados desses crimes são severamente punidos segundo as leis criminais do Brasil, contudo, a cada cinco minutos uma mulher é violentada e cerca de 30 % destas são mortas, muitas vezes, pelo cônjuge. A Lei Maria da Penha, nº. 11.340, em linhas gerais, é um mecanismo que objetiva aumentar o rigor das punições das agressões contra as mulheres quando ocorridas no âmbito doméstico ou familiar. 1.5 – Valores de igualdade A igualdade social é algo que todas as pessoas em uma determinada sociedade compartilham. Ela implica na igualdade de direitos, oportunidades, obrigações, bem como a equidade econômica. Apesar dos esforços para garantir a igualdade social, em muitos países, manteve-se um grande desafio e nenhuma sociedade foi capaz de alcançá-la. Pelo menos, não nos países em desenvolvimento. No mínimo, a igualdade social inclui direitos iguais perante a lei, como: a segurança, os direitos de voto, liberdade de expressão e de reunião, direitos de propriedade e de igualdade de acesso a bens e aos serviços sociais. No entanto, também inclui conceitos de equidade econômica, ou seja, acesso à educação, aos cuidados de saúde e a outros títulos sociais. Também inclui a igualdade de oportunidades e obrigações, sendo que isso envolve toda a sociedade. Por exemplo: sexo, gênero, raça, idade, orientação sexual, origem, classe social, renda ou propriedade, língua, religião, convicções, opiniões, não devem resultar em um 25 tratamento desigual perante a lei e não devem reduzir as oportunidades injustificadamente. A igualdade social refere-se a igualdade entre as pessoas de uma determinada sociedade, ao invés de econômica ou de renda. A “igualdade de oportunidades” é interpretada como sendo a capacidade de compra, o que é compatível com uma economia de livre mercado. Um problema é a desigualdade horizontal: a desigualdade de duas pessoas de mesma origem e habilidade. A perfeita igualdade social é uma situação ideal que não ocorre na realidade. Na economia da complexidade, verificou-se que a desigualdade horizontal resulta em sistemas complexos. Os termos "igualdade" e "diversidade" não são, definitivamente, sinônimos. A igualdade refere-se à criação de uma sociedade mais justa, onde todos possam participar e ter a oportunidade de realizar o seu potencial. Ao eliminar o preconceito e a discriminação, o Estado pode fornecer serviços justos e diversificados a uma sociedade que é mais saudável e mais feliz. Por exemplo, a segregação ocupacional, as mulheres representam quase 75% da força de trabalho, mas estão concentradas nas áreas profissionais com menor remuneração: enfermagem, profissionais de saúde, trabalhadores administrativos e trabalhadores auxiliares. Naturalmente que este cenário tem excessões. Já que cada vez mais vemos as mulheres ocupando cargos de destaque em grandes empresas, contudo, estes casos ainda são minoria. Pessoas de grupos e minorias étnicas compõem 39,1% da equipe médica do hospital, mas elas representam apenas 22,1% de todos os consultores médicos hospitalares. 26Isso porque essa camada da população não tem acesso aos meios de informação e às escolas de qualidade, o que impede sua inserção em áreas, como: arquitetura, medicina, engenharia etc. Uma sociedade com base nos preceitos de igualdade entende quem somos, independente de posições sociais, como gênero, raça, deficiência, idade, classe social, sexualidade e religião. Diversidade significa, literalmente, diferença e o Brasil é um país da diversidade e pluralidade. A igualdade e a diversidade estão se tornando mais importantes em todos os aspectos de nossa vida e de trabalho por uma série de razões. Nós vivemos em uma sociedade cada vez mais diversificada, que precisa ser capaz de responder de forma adequada e com sensibilidade a este cenário. As pessoas devem refletir cada vez mais sobre essa diversidade em torno de gênero, raça, etnia, deficiência, religião, sexualidade, classe e idade. A igualdade de oportunidades foi o credo fundador de muitas sociedades modernas, mas a igualdade entre todos se mostrou mais fácil de legislar do que se praticar. Os esforços do governo para alcançar a igualdade econômica incluem o aumento das oportunidades através das políticas públicas de inclusão, formação e a educação de qualidade, redistribuição da riqueza ou dos recursos e melhoria constante dos serviços públicos. 27 Unidade 2 – Aspectos Legais Olá, aluno(a)! Nesta unidade, abordaremos os aspectos legais dos direitos humanos. Veremos como ocorreu a internacionalização dos direitos humanos. Trataremos também dos direitos sociais. Veremos alguns dos tratados internacionais mais importantes da história recente da humanidade. Trataremos do tema cidadania, sob o viés da educação brasileira. Por fim, veremos como figuram os direitos humanos em nossa constituição. Bom curso! 2.1 – A internacionalização dos direitos humanos A promoção e a proteção dos direitos humanos tem sido uma grande preocupação para as Nações Unidas desde 1945, quando as nações fundadoras da organização resolveram que os horrores da Segunda Guerra Mundial nunca deveriam se repetir. Ao longo dos anos, toda uma rede de instrumentos e mecanismos de direitos humanos foi desenvolvida para garantir a primazia dos direitos humanos e para enfrentar as violações desses direitos onde quer que ocorram. Os órgãos intergovernamentais das Nações Unidas, que tratam de direitos humanos, estão espalhados por todo o mundo. 28 A Assembleia Geral é o principal órgão deliberativo da Organização das Nações Unidas, composto por 185 Estados-Membros, ele analisa e toma as medidas em matéria de direitos humanos. O Conselho Econômico e Social, composto por 54 Governos membros, faz recomendações à Assembleia Geral sobre questões de direitos humanos, analisa os relatórios, as resoluções da Comissão e os transmite com as alterações da Assembleia Geral. O fato é que diante dos horrores da Segunda Grande Guerra Mundial, todos os países estabeleceram uma nova ordem social, que priorizava a vida humana em detrimento de qualquer outra coisa. Para reforçar o respeito pelos direitos humanos fundamentais e avançar no sentido de sua realização em todo o mundo, as Nações Unidas adotaram uma abordagem em três vertentes: O estabelecimento de padrões internacionais; A proteção dos direitos humanos; A assistência técnica das Nações Unidas. Estabelecimento de normas internacionais Normas Internacionais de Direitos Humanos são procedimentos desenvolvidos para proteger os direitos humanos das pessoas contra violações por indivíduos, grupos 29 ou nações. As seguintes declarações adotadas pela comunidade internacional não são juridicamente vinculativas à Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), à Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento (1986) e à Declaração sobre a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados (1992). Muitos países têm incorporado as disposições destas declarações em suas leis e constituições, o Brasil é um deles, como veremos mais adiante, quando tratarmos da Constituição. Os pactos e as convenções internacionais têm força de lei para os Estados que os ratificam. O Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos são juridicamente vinculados aos acordos de direitos humanos. Ambos foram adotados em 1966 e entraram em vigor dez anos depois, tornando muitas das disposições da Declaração Universal dos Direitos Humanos efetivamente praticadas e respeitadas em diversos Estados. Entre outras convenções internacionais incluimos: A Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio (que entrou em vigor em 1951); A Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (que entrou em vigor em 1969); A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (que entrou em vigor em 1981); A Convenção sobre os Direitos da Criança (que entrou em vigor em 1990). Mecanismos convencionais e mecanismos extraconvencionais foram criados a fim de monitorar o cumprimento dos diversos instrumentos internacionais de direitos humanos e investigar alegadas violações desses direitos em qualquer lugar que seja. 30 Este monitoramento é realizado por especialistas, peritos, grupos de trabalho e representantres, todos nomeados pela ONU e com obrigações específicas. Para monitorar a implementação das obrigações dos tratados em nível internacional, os órgãos de tratados examinam relatórios dos países. A cada ano, eles se envolvem em diálogo com cerca de 100 governos e emitem observações, comentando as situações dos países e oferecendo sugestões e recomendações de melhoria. Diálogos entre Estados e organismos das Nações Unidas levaram a resultados concretos, tais como: A suspensão das execuções em alguns países que a tinham como pena máxima; A libertação dos detidos e tratamento médico aos presos, a exemplo do sistema carcerário brasileiro ou de Guantánamo em Cuba; Bem como a mudanças no sistema jurídico interno dos Estados para efetivar os instrumentos de direitos humanos, como ocorreu recentemente no Egito. O programa de serviços de consultoria das Nações Unidas começou em 1955, em uma pequena escala, para prestação de assistência à criação de instituições e outros serviços para os Estados-Membros. Em 1987, o Secretário-Geral estabeleceu o Fundo Voluntário para Serviços de Assessoria e Assistência Técnica na área de Direitos Humanos. Esta foi outra importante medida para que houvesse a plena internacionalização dos direitos humanos fundamentais, garantindo que todos os países respeitassem esses direitos. A aplicação da lei internacional de direitos humanos pode ocorrer em qualquer região de qualquer estado membro da ONU. 31 Os Estados que ratificam tratados de direitos humanos se comprometem a respeitar esses direitos e asseguram que sua legislação nacional seja compatível com a legislaçãointernacional. Quando a lei nacional não fornecer uma saída para os abusos dos direitos humanos, as partes podem ser capazes de recorrer aos mecanismos regionais ou internacionais para fazerem valer os direitos humanos. Geralmente, os direitos humanos são entendidos como reguladores da relação entre estados e indivíduos no contexto da vida comum, enquanto o direito humanitário regula as ações de um Estado. Nas sociedades primitivas, a organização era baseada no comunitarismo. O surgimento de Estados priorizou a organização e a distribuição de recursos com base na lei. Com isso veio o crescimento dos "direitos" individuais, logo resultando nos direitos humanos. O surgimento do Estado é um desenvolvimento crucial na evolução dos direitos humanos, precisamente porque tantos direitos, se não a maioria deles, estão centrados no Estado. O Estado é um portador de deveres em relação às pessoas que dependem dele para a proteção dos seus direitos e têm o direito de reclamar contra violações desses direitos. A legislação dos direitos humanos fornece as ferramentas e os mecanismos pelos quais essas proteções e reclamações podem ser realizadas. Em 2006, a Comissão das Nações Unidas sobre Direitos Humanos foi substituída pelo Conselho de Direitos Humanos para a aplicação do direito internacional e dos direitos humanos. De forma mais ampla, a Declaração dos Direitos Humanos se tornou uma referência de autoridade em direitos humanos. 32 Ela forneceu a base para instrumentos internacionais posteriores protegerem o direito internacional vinculativo aos direitos humanos. A universalização e a internacionalização de direitos humanos A importância da Declaração Universal encontra-se, nomeadamente, na sua realização da internacionalização e universalização dos direitos fundamentais. A Declaração "universaliza" os direitos humanos, promovendo uma ideologia constitucional, aceita em várias partes do mundo em um padrão institucional para todos os países. O conceito de direitos humanos individuais tornou-se aceito por todas as sociedades e governos e se reflete em constituições e leis nacionais. Um exemplo recente desse fenômeno é a Constituição pós-apartheid Sul-Africana de 1996, o que é discutido abaixo. A Declaração Universal “internacionalizava” os direitos humanos, transformando assuntos que tinham sido previamente sujeitos à jurisdição doméstica exclusiva – "soberania" – em questões de interesse internacional, colocando-os de forma permanente na agenda política internacional e fornecendo a base para um edifício forte em normas e instituições internacionais. Os direitos humanos internacionais têm consequentemente se tornado um assunto adequado para a diplomacia, as instituições internacionais e o direito internacional. Estritamente falando, "os direitos humanos internacionais", isto é, os direitos garantidos pela política internacional, devem ser distinguidos dos direitos individuais em sociedades nacionais no âmbito dos sistemas jurídicos. 33 O sistema internacional aceita os direitos humanos como direitos que, segundo os quais, o indivíduo pode desfrutar sob o sistema constitucional-legal de sua sociedade. No entanto, as proteções nacionais dos direitos humanos são, muitas vezes, deficientes. Os direitos humanos internacionais são, portanto, destinados a completar, ao invés de substituir, a proteção nacional dos direitos humanos e para induzir os Estados a sanarem essas deficiências. O direito internacional é implementado em grande parte por meio das instituições nacionais sendo satisfeito quando as leis e as instituições nacionais são suficientes para garantir a proteção desses direitos fundamentais. Exemplos da universalização dos direitos humanos pós-apartheid na África do Sul Durante a era do apartheid (um regime de segregação racial adotado de 1948 a 1994 pelos governos do Partido Nacional na África do Sul, no qual os direitos da grande maioria dos habitantes foram cerceados pelo governo formado pela minoria branca), os direitos constitucionais sul-africanos tornaram-se uma mistura de supremacia parlamentar e de majoritarismo branco, em que os direitos democráticos foram confundidos com os direitos da maioria das pessoas brancas ou da maioria dos seus representantes parlamentares. O sistema legal da África do Sul foi, assim, formado com base nos princípios da supremacia parlamentar e rigoroso positivismo jurídico. A Constituição provisória de 1993 (que entrou em vigor em 27 de Abril de 1994) e a Constituição de 1996 corrigiram esse passado, consolidando os direitos humanos para o povo negro. A Constituição de 1996 adicionava explicitamente em sua primeira seção intitulada "dignidade humana" como um dos valores fundadores da nova sociedade sul- africana. 34 A afirmação de dignidade humana como um valor fundamental da ordem constitucional colocou o ordenamento jurídico firmemente em linha com o desenvolvimento do constitucionalismo. A transição na Europa Oriental O colapso do comunismo, na sequência dos acontecimentos de 1989, desencadeou a transformação econômica, política e social em toda a Europa Central e Oriental, os novos Estados independentes começaram a transição precária de um regime totalitário para uma democracia. Ao fazer isso, os reformadores olharam para os valores do liberalismo e para a economia de mercado livre e de direitos humanos para substituir o antigo sistema imposto. Como a humanidade se aproximava do fim do milênio, as crises das economias socialistas deram espaço à democracia liberal, à doutrina da liberdade individual e da soberania popular. Duzentos anos depois do primeiro passo na elaboração dos direitos humanos fundamentais, com as Revoluções Francesa e Americana, os princípios da liberdade e da igualdade têm demonstrado não apenas que são duradouros, mas ressurgentes de tempos em tempos. Durante este período de mudança profunda e rápida, logo percebeu-se que a derrubada dos regimes comunistas impopulares não seria suficiente para garantir as condições necessárias para as transformações que ocorreriam, levando as reformas sustentáveis em ordem econômica e as garantias de proteção aos direitos humanos nesses países. Um dos motivos alegados na época para a necessidade de se criar as condições de proteção aos direitos humanos nas novas constituições da Europa Oriental, foi a fragilidade do processo de construção da democracia em países pós-comunistas. 35 O que é notável durante este processo de profunda reforma e transformação econômica, foi a evolução gradual de uma cultura de direitos humanos, constitucionalismo e do Estado de direito. Os tribunais constitucionais foram criados em muitos Estados pós-comunistas, semelhante ao Tribunal Constitucional da África do Sul, para se pronunciar sobre questões de direitos humanos e de estabelecer limites para a autoridade governamental. Aqui tem-se mais uma forte evidência da internacionalização dos direitos humanos. As ideias e as normas de direitos humanos têm lentamente se tornadomais amplamente divulgadas pelas estruturas não-governamentais da sociedade civil, permeando as escolas, as universidades, os meios de comunicação, a imprensa livre e outras esferas da sociedade. Simultaneamente a essas mudanças tem sido a prática adotada pelos novos tribunais constitucionais de incorporar os princípios internacionais e regionais de direitos humanos em sua evolução dos sistemas constitucionais e jurisprudências, em particular, a Declaração Universal e da Convenção Europeia dos Direitos Humanos. Ao mesmo tempo, as novas democracias tornaram-se membros plenos e ativos da ONU e, de certa forma, também estão sujeitas às leis, às instituições e à disciplina da União Europeia e da ONU e, portanto, a internacionalização dos direitos humanos que tem ocorrido a nível internacional ao longo dos últimos 50 anos, tem fortalecido a proteção desses direitos nesses países recém-democratizados. 36 2.2 – Direitos sociais Os direitos sociais são aqueles direitos decorrentes do contato social, em contraste com os direitos naturais, que surgem a partir da lei natural, antes do estabelecimento dos direitos legais previstos em lei. Do ponto de vista legal, várias abordagens convivem entre si, porém todas procuram garantir os direitos sociais das pessoas em uma sociedade. Isto assegura que a sociedade como um todo receba a distribuição igualitária dos interesses coletivos e privados. Abaixo, temos um interessante texto que explica como se deu o estabelecimento dos direitos sociais no Brasil. O artigo trata dos principais momentos de nossa história recente. Observe: Cidadania e direitos políticos e sociais: Origem e importância Nos países ocidentais dos continentes europeu e americano, a cidadania moderna se constituiu por etapas: depois dos direitos civis, no século XVIII, vieram os direitos políticos, no século XIX. Os direitos sociais são conquistas do século XX, assim como a quarta geração de direitos de cidadania, nascida no fim deste período. O direitos de eleger e ser eleito 37 São os direitos políticos, de voto e de acesso ao cargo político. As instituições públicas relacionadas aos direitos políticos são os órgãos legislativos representativos e executivos. Inicialmente, a atividade política era uma função de poucos, restrita à participação das elites dominantes. O surgimento dos direitos políticos foi obra dos movimentos populares dos trabalhadores. Ao se organizar e defender seus interesses eles perceberam que a política influencia a vida da sociedade. As camadas populares começaram a se conscientizar de que a participação no exercício do poder político era condição fundamental para assegurar seus direitos. Essa participação podia ser como membro de um organismo investido de autoridade política, ou como eleitor dos integrantes de tal organismo. Voto restrito Inicialmente, inúmeras restrições limitavam a participação política de todos os cidadãos. O direito de eleger e ser eleito manteve-se restrito aos homens adultos. O voto censitário impunha padrões de renda e de escolaridade. Com isso, excluía grande parte da população do direito de ser eleito e de eleger representantes políticos. Esses impedimentos perduraram por décadas. As mulheres adultas e os analfabetos conquistaram direitos políticos muito tardiamente, somente no século XX. No Brasil, fim do voto censitário por renda. No caso do Brasil, a proclamação da República provocou mudanças na participação política. Foi abolido o voto censitário pecuniário que, para ser exercido, exigia uma certa renda do cidadão. Foi estabelecida a idade mínima de 21 anos para participar do processo eleitoral. Os analfabetos e as mulheres permaneceram excluídos da participação política. As mulheres só conquistaram o direito de voto em 1934. Os analfabetos conquistaram o direito de voto em 1985, mas estão impossibilitados de se candidatar a cargos eletivos. 38 Direitos sociais Os direitos sociais demarcam uma importante mudança na evolução da cidadania moderna. Sua função é garantir certas prerrogativas relacionadas com condições mínimas de bem-estar social e econômico que possibilitem aos cidadãos usufruir plenamente do exercício dos direitos civis e políticos. O princípio norteador dos direitos sociais é o argumento de que as desigualdades de provimentos (condições sociais e econômicas) não podem se traduzir em desigualdades de prerrogativas (direitos civis e políticos). Desse modo, adquiriu-se a noção de que determinado grau de pobreza priva os cidadãos de participação cívica. Finalidade dos direitos sociais Os direitos sociais não têm por objetivo eliminar por completo as desigualdades sociais e econômicas e as diferenças de classe social. Sua finalidade é assegurar que elas não interfiram no pleno exercício da cidadania. As instituições públicas representativas dos direitos sociais são os sistemas de seguridade e previdência social e educacional. Constituição varguista No Brasil, o marco da instituição dos direitos sociais ocorreu na época do regime do Estado Novo, com Getúlio Vargas (1930-1937). A Constituição de 1934 instituiu uma minuciosa regulamentação das condições de trabalho ao estabelecer o salário mínimo, a jornada de trabalho de oito horas, o repouso semanal, as férias remuneradas, a indenização por dispensa sem justa causa, a assistência médica ao trabalhador e à gestante. 39 Foi proibido pela nova Carta o trabalho de menores. Estabeleceu-se, ainda, a submissão do direito de propriedade ao interesse social ou coletivo. A quarta geração de direitos. Desde o final do século XX surgiram inúmeros movimentos sociais que atualmente lutam para ampliar a cidadania através da defesa de novos direitos. A quarta geração de direitos de cidadania agrega demandas provenientes de novos tipos de movimento social, como o das minorias étnicas e culturais, dos homossexuais, dos movimentos ecológicos e feministas. No contexto dos novos padrões de sociabilidade e da globalização, esses movimentos sociais possuem novas práticas participativas e de mobilização coletiva. Isso reflete o caráter dinâmico da cidadania. Fonte: http://educacao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/cidadania-e-direitos-politicos-e-sociais-origem-e-importancia.htm Dentre os impactos decorrentes do fortalecimento dos direitos sociais e do sistema democrático no Brasil, destacam-se: A presença dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais na esfera pública; O reforço dos direitos e da cultura dos sujeitos coletivos; O controle e monitoramento dos fatores econômicos, sociais, culturais e ambientais na implementação desses direitos; A visibilidade de conflitos, trazendo conflitos locais para a esfera nacional; A legitimidade social; 40 Provoca novas ações do Estado; O constante debate com os ministérios e secretarias; A incidência em políticas públicas a partir das recomendações e proposições. De um modo geral, a América do Sul, terra dediversidade incrível e paisagens exuberantes, também traz consigo as cicatrizes de seu passado recente, que é marcado, em muitas de suas áreas, pela repressão política e a consequente negação dos direitos humanos. Dentro deste contexto, é preciso refletir sobre temas relacionados com o papel dos direitos humanos na integração da América do Sul, bem como o papel dos direitos sociais para o fortalecimento da qualidade das democracias na América Latina. Aqui, inclui-se o Brasil. O fato é que muito temos avançado em busca do estabelecimento dos direitos sociais. Na América do Sul, podemos observar, em alguns regimes, como no caso da Venezuela, que os direitos sociais ainda são abruptamente violados. No Brasil, apesar de estarmos longe do cenário sóciopolítico ideal, estamos caminhando com solidez. Ainda há muito o que fazer quando falamos de direito das minorias étnicas, onde inclui-se os povos indígenas, os negros etc. Também há muito a se fazer no que tange aos direitos da mulher, do idoso e das crianças. É, contudo, inegável que o Brasil vem tendo bastante avanços no que se refere aos direitos sociais 41 2.3 – Tratados internacionais e outros mecanismos Os instrumentos internacionais de direitos humanos são constituídos de tratados e outros documentos internacionais relevantes para a lei internacional dos direitos humanos e da proteção dos direitos humanos em geral. Eles podem ser classificados em duas categorias: 1. Declarações: adotadas por organismos como a Assembleia Geral das Nações Unidas, que não são juridicamente vinculativas, embora possam ser consideradas como leis; 2. Convenções: que são legalmente instrumentos vinculativos e celebrados no âmbito do direito internacional. Os tratados internacionais e até mesmo declarações podem, ao longo do tempo, obter o estatuto de direito internacional consuetudinário. Os instrumentos internacionais de direitos humanos podem ser divididos ainda em instrumentos globais, aos quais qualquer Estado do mundo pode ser sujeito, e a instrumentos regionais, que estão restritos aos Estados em uma determinada região do mundo. A maioria das convenções estabelece mecanismos para supervisionar a sua implementação. Em alguns casos, esses mecanismos têm relativamente pouca energia e são, muitas vezes, ignorados pelos Estados membros, em outros casos, estes mecanismos têm grande autoridade política e jurídica, sendo que suas decisões são quase sempre implementadas. 42 Para exemplo do primeiro caso estão os comitês de tratado da ONU, enquanto o melhor exemplo do segundo caso é o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. Isso faz parte da evolução do direito internacional, sobretudo, nas últimas décadas. Essa declaração mudou-se de um conjunto de leis que regem os Estados e começou a reconhecer a importância dos indivíduos e dos seus direitos no âmbito jurídico internacional. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais são por vezes referidos como leis internacionais. Há sete principais tratados internacionais de direitos humanos. Cada um deles tratados estabeleceu um comitê de especialistas para monitorar a implementação das disposições do tratado por seus Estados-partes. Alguns dos tratados são complementados por protocolos facultativos que lidam com questões específicas. Vejamos alguns dos mais importantes: TRATADO DATA Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial - 1965 Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos - 1966 Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais - 1966 Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres - 1979 43 Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes ou Degradantes - 1984 Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC) - 1989 Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros das suas Famílias - 1990 Outros documentos são gerados no monitoramento de cumprimento dos tratados, como, por exemplo: Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres - 1993 Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, "Declaração de Viena" - 1993 Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento - 1994 IV Conferência Mundial sobre a Mulher - 1995 Programa das Nações Unidas para a Reforma - 1997 Diretrizes Internacionais sobre HIV/SIDA e Direitos Humanos (última revisão em 2002) - 1998 44 Declaração e Objetivos do Milênio - 2000 Conferência Mundial das Nações Unidas contra o Racismo - 2001 Aplicação dos Direitos Humanos para Saúde Sexual e Reprodutiva - 2001 Embora o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais seja o tratado mais importante do ponto de vista dos direitos econômicos e sociais, encontraremos referências aos direitos econômicos e sociais em muitos dos outros tratados posteriormente estabelecidos. Cada um desses tratados internacionais de direitos humanos também tem um órgão de monitoramento dentro do sistema de direitos humanos da ONU, que monitora a implementação das disposições do tratado por seus Estados membros. Como vimos, o movimento internacional dos direitos humanos foi reforçado quando a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 10 de dezembro de 1948. Observamos que esta declaração foi elaborada com "o ideal comum a ser atingido por todos os povos e nações", a declaração pela primeira vez na história da humanidade estabelece todos os direitos básicos que todos os seres humanos devem desfrutar. Uma série de tratados internacionais de direitos humanos e outros instrumentos adotados, desde 1945, conferiram forma jurídica sobre os direitos humanos inerentes e desenvolveram o corpo de direitos humanos internacionais. Outros instrumentos foram adotados em nível regional, refletindo as preocupações específicas de direitos humanos da região que prevê mecanismos específicos de proteção. A maioria dos Estados também adotou constituições e outras leis que protegem formalmente os direitos humanos básicos. 45 Enquanto os tratados internacionais formam a espinha dorsal da Lei de Direitos Humanos, outros instrumentos internacionais, tais como declarações, diretrizes e princípios adotados a nível internacional, contribuiram para o seu entendimento, implementação e desenvolvimento. Vimos também que o respeito pelos direitos humanos requer o estabelecimento do Estado de direito em nível nacional e internacional. O direito internacional dos direitos humanos estabelece obrigações que os Estados são obrigados a respeitar. A obrigação de proteger requer que os Estados defendam os indivíduos e grupos contra possíveis abusos dos direitos humanos. De certa forma, através da ratificação de tratados internacionaisde direitos humanos, os governos comprometem-se a pôr em prática medidas internas e legislação compatível com as suas obrigações e deveres. Quando os processos jurídicos nacionais não conseguem resolver os abusos dos direitos humanos, entram em cena os mecanismos e os procedimentos de queixas individuais disponíveis em níveis regional e internacional para ajudar a garantir que as normas internacionais de direitos humanos sejam de fato respeitadas, implementadas e aplicadas em nível local. Um bom exemplo disso é a menina iraniana, Mina Ahadi, ativista que luta contra a violência contra a mulher no Oriente Médio, de um modo geral. Naturalmente, de acordo com as novas demandas sociais, novos tratados internacionais serão estabelecidos. 2.4 – Cidadania e educação Embora a maioria das Nações afirmem ser uma democracia, a utopia de um governo do povo, pelo povo e para o povo, nunca foi alcançada plenamente, exceto em 46 algumas das sociedades pré-letradas, isto é, sociedades que precederam o surgimento da escrita. O dilema da democracia é que ela é universalmente proclamada, contudo, seus ideais são universalmente rejeitados na prática. No entanto, esses ideais são fundamentados e derivam de ideias que têm uma longa tradição na civilização ocidental. A cidadania, neste sentido, é companheira da democracia. Sem cidadania não pode haver democracia e é através do desenvolvimento da cidadania que a democracia se torna possível. A cidadania é um conceito oriundo da sociedade ocidental em suas origens. Embora se possa argumentar que o conceito surgiu nas cidades-estados da antiga Grécia, também tem sido argumentado que a cidadania é uma consequência da Revolução Francesa e da modernização decorrente da Revolução Industrial. Outro ponto de vista é que houve duas noções distintas de cidadania, a primeira durante o tempo das cidades-estados gregas até a Revolução Francesa e a segunda desde então até o presente momento. Um cidadão é definido como um membro nativo ou naturalizado de um Estado ou nação, que deve obediência ao seu governo e tem direito à proteção (direito inalienável). Embora a primeira definição de cidadão seja bastante universal em todo o mundo moderno, é óbvio que a cidadania tem um significado muito diferente no Brasil e na China, por exemplo. A cidadania é um conceito que vem evoluindo tanto histórica quanto conceitualmente. Este capítulo irá avaliar este desenvolvimento ao longo de ambas as dimensões, pontuando as transformações que ocorreram durante o decorrer do tempo. 47 Neste sentido, a educação para a cidadania visa capacitar as pessoas para tomarem suas próprias decisões e assumirem a responsabilidade por suas próprias vidas e suas comunidades. A cidadania é mais do que um assunto. É uma forma de vida adaptada às necessidades locais e aos valores, que visam melhorar a vida democrática para todos, tanto nos direitos e deveres como nas responsabilidades inerentes. Não se trata de tentar encaixar todos no mesmo molde ou sobre a criação de um "modelo" de "bons" cidadãos. Não devemos confundir o papel da escola neste contexto, as escolas têm uma função social importante na construção da cidadania, que é o de inserir o indivíduo no contexto políticossocial. Por que ensinar cidadania? Há elementos de educação para a cidadania em muitos assuntos, como a história, a filosofia e a matemática. A cidadania utrapassa os limites disciplinares da escola, ela deve ser um tema transdisciplinar, ou seja, ser discutido em todas as materias. Mas educação para a cidadania é mais do que isso. As democracias precisam de cidadãos ativos, informados e responsáveis, isto é, cidadãos que estejam dispostos e capazes de assumir a responsabilidade para si e para as suas comunidades, contribuindo para o processo político de sua sociedade. As democracias dependem de cidadãos que, entre outras coisas, sejam: Conscientes dos seus direitos e responsabilidades como cidadãos; Informados sobre o mundo social e político; Preocupados com o bem-estar dos outros; 48 Capazes de articular suas opiniões e argumentos; Capazes de ter uma influência sobre o mundo; Ativos em suas comunidades; Responsáveis na forma como eles agem como cidadãos. Essas capacidades não se desenvolvem sozinhas, ou seja, de um dia para o outro. Elas têm que ser aprendidas. Embora uma certa quantidade de valores de cidadania possam ser captados através da experiência comum, em casa ou no trabalho, eles nunca serão suficientes para equipar os cidadãos para o tipo de papel ativo exigido deles na sociedade complexa e diversificada de hoje. Se os cidadãos estão dispostos a realmente se envolverem na vida pública e nos assuntos sociais, é necessária uma abordagem mais explícita e voltada à educação para a construção do valor de cidadania. Esta abordagem deve ser: Inclusiva: um direito de todos; Persuasiva: não limitada às escolas, mas uma parte integrante de toda a educação; Contínua: continuando ao longo da vida. É como a vida democrática aponta: a cidadania é o único assunto no currículo nacional que ensina sobre a maneira como a democracia, a política, a economia e o trabalho são garantidos por direito. Quais os benefícios para os jovens? 49 A cidadania ajuda os jovens a desenvolver a autoconfiança e o sucesso ao lidar com mudanças de vida significativas e desafios, tais como: assédio moral e discriminação. Dá a eles uma voz na vida de suas escolas, em suas comunidades e na sociedade em geral. Isso lhes permite fazer uma contribuição positiva ao desenvolver os conhecimentos e a experiência necessários para reivindicar seus direitos e entender suas responsabilidades, preparando-os para os desafios e para as oportunidades da vida adulta e profissional. A cidadania está se tornando um assunto fundamental em nosso sistema de ensino e com razão. É uma porta de entrada para uma sociedade mais inclusiva. A cidadania também traz benefícios para as escolas e outras organizações educacionais e para a sociedade em geral. Isso porque ajuda a produzir alunos motivados e responsáveis, que se relacionam positivamente com o outro, com os colegas de escola e com a comunidade de maneira envolvente. Para a sociedade, ajuda a criar uma cidadania ativa e responsável, disposta a participar na vida da nação e do mundo em geral, além de desempenhar o seu papel no processo democrático. A educação para a cidadania envolve uma ampla gama de diferentes elementos de aprendizagem, incluindo: Conhecimento e compreensão: sobre temas como leis e regras, o processo democrático, a mídia, os direitos humanos, a diversidade, o dinheiro e a economia, o desenvolvimento sustentável e o mundo como uma comunidade global; e sobre conceitos, como: a democracia, a justiça, a igualdade, a liberdade, a autoridade e o Estado de direito; 50 Habilidades e aptidões: pensamento crítico, análise de informações, expressando
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