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"BRANCA DE NEVE" .- ''Branca de Neve" é un1 dos contos de fadas n1ais co- -· nhecidos. Sua narrativa remonta a séculos, sob várias forn1as, em todos os países e línguas européias; daí se disse1ninou para os outros continentes. Freqüentemente intitula,1a-se apenas "Branca de Neve" , embora existam muitas variações. 17 "Branca de Neve e os Sete Anões·", como é mais conhecido atualmente, é um título expurgado que infelizmente enfatiza os anões que, não conseguindo desenvolver-se para uma hu- manidade amadurecida,~estão permanenten1ente presos a um nível pré-edípico (os anões não têm pais, não casam e não têm filhos) e servem apenas para enfatizar os desenvolvimen- tos importantes que oco~rem em Branca de Neve. Algumas versões de "Branca de Neve,, começam as- sim: "Um conde e uma cond~ssa passaram por três mon- tes de· neve branca, o que fez o conde dizer: "Quisera ter uma filha tão branca como· esta neve" . Pouco depois p as- saram por três b\l.racos cheios de sangue vern1elho, e o conde disse: - Quisera ter un1~ filha con1 as faces tão vermelhas como este sangue. Finaln1ente, vi r-1111 t rês cor- vos voando , quando então ele desejou u n1a fi lha '·corn os 47 - ~ ,, Continuando o cami- . cabelos tão negros como os corvos . · branca como a neve rosa- nho, encontraram uma men1 na ' ' da como o sangue, e de cabelos tã.o negros como os corvos: era Branca de Neve. O conde irnediatamente fê-la sentar- se na carruagerr1 e amou-a, mas a condessa não go5cou e pensou apenas como poderia livrar-se dela. Finalmente, deixou cair as luvas e ordenou a Branca de N eve que as procurasse; nesse meio te1npo, o cocheiro deveria partir em grande velocidade. Uma versão paralela difere apenas no detalhe do ca- sal passeando, peli' floresta ~ no pedido de que Branca de Neve descesse para colher um ramo de lindas rosas que cresçiam ali. Quando ela desce, a rainha ordena ao cocheiro ' ' que prossiga, e abandona_ Branca de Neve.18 Nesses relatos, conde e cond~ssa 9u rei e raÍnha são os pais sutilmente disfarçados, e a menina tão admirada pela figura paterna é a filha substituta .. Os desejos edípicos do pai e da filha,. bem c~mo os ciúmes que des.pertam na n1ãe fa~endo com que deseje livrar-se da filha, são afir- mados ·de forma mais clara aqui do que nas versões habi- ,, tuais. Atualmente a forma mais difundida da •história de "Branca de Neve"· deixa os eJ)volvimentos edípicos a car- go de nossa imaginação em vez de forçá-los em-nossa mente consciente.19 e 20 As dificuldades edípicas , sejam declaradas ou suge- ridas, e a forma como o indivíduo solrrciona-as são básicas 48 para O desenrolar da sua personalidade e relaç.ões huma- .nas. Ca1nuflando os predicamentos edípicos, ou intiman- do sutilmente seus envolvim c ntos, os contos de fadas permitem-nos esboçar nossas próprias conclusões no tem- po propício, para conseguirn:,os uma melhor compreensão desses problemas. Histórias de fadas ensinam pelo méto- do indireto. Nas versões que mencionamos, Branca de N eve não é filha do conde e da condessa, embora o conde dese- je-a e ame-a profundamente, e a condessa sinta ciúmes dela. Na história mais __ conh~cid~, a mulher mais velha e ciumenta não é a mãe, mas a madrasta, e não se menciona a pessoa por cujo amor as duas competem. Por isso os pro- blemas edípicos - fonte do conflito da história - ficam a cargo de nossa imaginação. Quando, psicologicamente falando, 9s pais geram um filho, a vinda da criança é o que faz os dóis se tornarem pais. Assim, é a criança que causa os problemas paternos, e, com estes, aparecem os dela mesma. Os contos de fadas normal- mente começam quando a vida da criança de certa forma chegou a um impasse. Em "João e Maria", a presença das crianças ocasiona labuta para os pais e, por isso , a vida se tot 11a problemática para os filhos . Em "Branca de N eve", não são dificuld~des externas como a pobreza, ·mas as rela- çc>es cnr,re ela e os pais que cria1n a situc'ção problernárica. Q ua11do a posição da criança dentro da btn1ília ror-· na-:c: pri>hl -roática para ela ou para os pajs, ela con1eça 0 49 r ,/ / Processo de luta para escapar da existência t tiádic C . ª· om isso, penetra no caminho des~speradamente solitário de buscar-se a si mesma - uma luta na qual os outros ser- vem principalmente de elementos que facilitam ou impe- dem esse processo. Em alguns contos de fadas , o herói te . m de procurar, viajar, e sofrer vários anos de existência soli- tária antes de estar preparado para encontrar, salvar e reu- nir-se a oútra pessoa numa relação que dá significado permanente às duas vidas. Em "'Branca de Neve", são os anos que passa co1n os anões que representam o período , de d ificuldades, de elaboração dos problemas, seu período de crescimento. Poucos contos de fadas ajudam o ouvinte a distin- guir as fases principais da infância de forma nítida como "Branca de Neve" o faz. Os primeiros anos ; de dependên- cia pté-ed(pica absoluta, são mencionados levemente, como ocorre na maioria dos contos de fadas . A história trata es- sencialmente dos conflitos _edípicos ~ntre m·ãe e filha na infância e fi nalmente na adolescência, dando maior ênfase ao que constitui uma infância feliz e o que é necessário para ctescermos a partir dela. . A h istória dos Irmãos Grimm começa assim: ''.Era uma vez, no meio do inverno, quando a neve caía como plumas do céu, uma tainha estàva sentada_ perto de uma janela cuja moldura era de ébano ne.gco. Enquanto costurava · . ~ ês olhando p ara a heve, picou o dedo com a agulha e tr 50 L gotas de sangue caíram na neve. O vermelho ficou tão lindo sobre a neve branca que ela pensou: - 'Quisera uma Filha branca como a neve, rosada como o sangue e de ca- belos negros como a mad"eira da janela'. Pouco depois teve uma filha que era branca como a neve, rosada como o sangue e de .cabelos negros como ó ébano e que por isso . passou a chamar-se Branca de Neve. Quando a criança nasceu, a rainha morreu. Passado um ano o rei casou-se . . novamente ... ,, A história começa com .a mãe de Branca d.e Neve picando os .dedos e as três gotas d~ sangue vermelho cain- do sobre a neve. Aqui a ·narrativa propõe os problemas a resolver: inocência sexual, brancura, contrastada com o de- sejo sexual, simbolizado pelo sangue v.ermel.ho .. Os contos - de fadas preparam a .criança para aceitar um .acontecimen- to que seria conturbador: o sa11;g-ramento sexual, com.o na menstruação, e posteriormente na .relação sex.ual quando o hímen é rompido. O·uvin-do as primeiras frases d·e Bran- ca de Neve, a criança aprende que uma quant idade pe- quena de sangue - três gotas (sendo o número três o mais associado no inconsciente com o s.exo). -é uma pré- condição para .a _.concepção, porque a -criança s.ó nasce de- pois desse sangramento. Aqui.,_ e.ntão, o sangramenro (sexual) .está int imamente ligado ao aconcecim-ento "fe- r ,, d ue 12 ; sem explicaçõ.e~ d,e.ralhadas a criança apren e ·q · 51 r - • ança _ nem rriesmo el2 -- poderia nasl er nenhuma cri sem sangramento. _, _ · Embora saibamos que a mãe m orreu quando eia nas- ceu, nada de ruim sucede a Branca de Neve duram os ', · primeiros anos, apesar de a mãe ser substituída por uma -madrasta. Esta só se transforma numa "típica'· m adrasta ele contos de fadas depois qi1e Branca de Neve faz sete anos , e começa a amadurecer. Então a 1nadrasra con1eç·a a senrir- ~e_ arrieaçada por Branca de Neve e passa a ter ciúmes. O narcisismo da madrasta é demonstrado pela sua busca de confirinação quanto à beleza no espelho mágico n1uiro antes de '=1 beleza de Branca de Neve eclipsar a dela. · -~ Quando a rainha consulta o espelho quanto a seu valor ·---;--1·.~ · , a bel~za - repete o tema antigo de Narciso, que so amavaa s1 mesmo, de tal forma que foi tragado l'"'elo _ - auto-amor. Os · · . · ~ . · , pais .narc1s1stas sao os que se sentem mais aµ-ieaçados pelo cresci d · · mento ª criança, pois isso significa ~star envelhecendo En . P d ,, · quanto a criança é totalmente de- en ente e como se ela foss - . ça o narcisismo ! . . e u~aparte dos pais; não amea- -. - . pa~erno. Mas qu'"' nd . e atingir cercá ind dA . (i O começa a amadurecer epen enc1a .Anr~ ,, . . uma ameaça co . ' ~- ao e v1venc1ada como O : mo sucede e1r1 "Branca de N " narc1sismc f: eve • J az parte d,,. f· criança deve aorend · - . ,.._ con iguração infantil. A f• ... · er gradual orma perigosa de a . _ · mente a transcender essa uto-env,,)lvi · . . ca de N eve adverte sob "· niento . A lustória J e Bran ·- re as rons .. A • fi . ~ ' equenc1as unesras do 52 · ·sn1 o tanto para os pais como para a criança. O narc1s1 .1·51·smo de Branca de Neve quase a destrói q uando narc ela cede duas vezes às seduções da rainha, que p ropõe torná-la mais bonita_, e a rainha é destruída pelo próprio narcisismo. Enquanto morp.va em casa, Branca de Neve não fazia nada; nada nos é dito sobre sua vida antes de ser expulsa. Nem sobre sua relação càm o .pai, embora seja razoável aceitar que é a competição por ele que coloca a madrasta (mãe)-contra a filha. O conto de fadas encara o mundo e o que sucede nele . , de forma não objetiva, mas sob a perspectiva do herói, que é sempre uma pessoa em desenyolvi~ento. Co.mo o ou- vinte se identifica com Branca de Neve, enxerga os acon- tecimentos como ela os vê, .e não como são vistos pela 1 rainha. Para a menina, o amor pelo pai é a coisa mais na- tural do mundo, e o mesmo.:yale para o amor que ele sente ~or ela. A menina não ~cha que isso seja um problema - . . . exceto pelo fato de ele não amá-la bastante, preferindo-a a todos os demais. Por mais que deseje que o pai a aine mais do que à mãe, a criança não aceita que isso produza ciú- mes dela na mãe. Mas em nível pré-consciente, a criança sabe bein o quanto sente ciúmes quando os pais prestam atenção d · · um ao outro, quando ela sente que eseJar1a essa atenção p · C · · d 1 . ara s1. orno a criança deseJa ser ama a pe os Pais - fato bem conhecido, mas que é freqüenteinente 53 .. negligenciado na discussão -da situação edípica devido , natureza d o problema - é m ui to ameaçador para ela 1· ª ma- ginar que o amor de um dos pais por ela p ossa causar ciú- m es no outro. Quando esse ciú me - como no ·caso da rai nha em "Branca de Neve" - não pode ser ignorado, então é preciso encontrar alguma outra razão que o expli- que, o que na história é atribuído à beleza da menina. No curso normal dos acontecimentos, as relações dos pais· entre si não são ameaçadas pelo .amor que um deles, ou ambos, dediqu·em à criança. A menos q ue as relações conjugais sejam ruins, ou um dos pais sej~ muito narcisis- ta, os· ciúmes pela criança a quem um dos p ais favorece é pequeno e bem controlado pelo outro p ai . O assunto é bem diferente para a criança. Em pri- meiro lugar, ela não encontra alívio para as dores do ciú- me numa relação boa como a que os pais podem ter entre eles. Em segundo lugar, todas as crianças têm ciúmes , se- não dos pais, então dos privilégios que eles g ozam como ad ultos. Quando o cuidado terno e amoroso do pai do mesmo sexo não é bastante forte p ara formar laços posici- v~ mais importantes com a criança edíp ica, naturalmente ciumenta, e com isso colocar o p rocesso de identificação t rabalhando contra esse ciúm e, 1 então este domina a vida emocional da criança. Como unia 01adrasta (n1ãe) narci- sista é u111a fig ura inadequada p ara se relacionar ou se iden- t ifi car com Branca de N eve, se esta fosse un1a criança real 54 não poderia deixar de ter intensos ciúmes da mãe e de rodas as suas vantagens e poderes. Se uma criança não pode se permitir sentir ciúmes dos pais (Isso é muito ameaçador para sua segurança), pro- jeta seus sentimentos nel~s . Então "Eu tenho ciúmes de todas as vantagens e prerrogativas de mamãe" transfor- ma-se no pensamento "mamãe tem ciúmes ~e mim". O sentimento de inferioridade é transformado defensivamente num sentimento de superioridade._ O adolescente pré-púbere- ou o filho adolescente pode dizer-se: "N·ão estou competindo com meus pais, já sou melhor d9 que eles; são eles que estão competindo comigo." Infelizmente, há também pais que tentam con- venceri<os filhos adolescentes ~e que são superiores a eles - o que os pais podem ser sob certos aspectos, mas a bem do sentimento de segurança do filho e das capaci- dades dele , deveriam guardar ~ssa idéia para si . Ainda pior, há pais que · tentam provar que são tão bons quanto . 1 o fi lho adolescente sob todos os aspectos , o pai que tenta competir com a força adolescente e as proezas sexuais do fi lho; a mãe que, pela aparência, roupas e comportame.n- to, tenta ser tão atraenteme'nce jovem como a fi lha. A história antiga de contos como "Branca de N eve" suge~e · que isso é um fenômeno muito antigo. Mas a con1pet1- <;ão entre os pais e o filho torna a vida insuportável para todos. Sob essas cond içôes, a criança deseja libertar-se e 55 ! . / · Cvrar-se do pai, que a força a competir ou a submeter-se. O desejo 'de .livrar-se dos pais suscita uma culpa g rande; . po~ justificada gue seja a situaçãc, quando encarada obje- tivamente. Por isso, numa reversão que elimina o senti- . . mento de culpa, esse desejo também é projetado nos p ais. Assim, nos contos de fadas são os pais que tentam livrar- se dos filhos, como em "Branca de Neve". Em "Branca de Neve", como em "Chapeuzinho Ver- m elho", sempre aparece um _homem que pode ser encara- do como uma representação inconsciente do p ai - o caçador que recebe ordens de matar Branca de Neve, mas_ em vez disso salva-a. Quem senão um pai substituto po- deria aparentemente aquiescer ao domínio da n1adrasta e, no entanto, pelo bem da criança, ousar contrariar a vonta- ,, de da rainha? E o que a menina edípica ou adolescente deseja acreditar sobre o pai: que; mesmo que ele fizesse o que a mãe lhe ordena, to1naria o partido da filha se fosse livre, como o fez. Por que as figuras ·masculinas são projetadas com can- ta freqüênciá n9 papel de caçadores nos contos de fadas? Embora a caça tenha sido uma ocupação tipicamente m as- cultna quando as histórias de fadas começaram a existir, essa é uma explicação muito fácil para o fato. Nessa época, ,, . . os pnnc1pes e princesas eram tão raros quanto hoje, mas aparecem com fartura nos contos. Mas quando e onde es- . . . sas· narrativas se ong1naram, a caça era um privilégio aris- 56 rocrático, o que fornece un1a boa razão para se ver o caça- dor como urna figura importante, à sen1elhança do pai. De fato, os caçadores aparecem freqüentemente nos contos porque se prestam ben1 para projeções. Toda crian- ça deseja algumas vezes ser urn príncipe ou uma princesa - e, às vezes, no incon.sciente, acredita que é, apenas es- tando ren1porariamente rebaixada pelas circunstâncias. Há tantos reis e rainhas nos contos de fadas porque a posição deles significa um poder absoluto, como o que os pais pa- recem possuir sobre o filho. Por isso a realeza nos contos de fadas representa projeções da imaginação infantil, beni. como o caçador. A pronta aceitação da figura do caçador con10 uma imagem adequada para uma figura paterna forte e prote- tora - em oposição a muitos pais inexpressivos como o de "João e Maria" - deve estar relacionada com associa- ções que se ligam a essa figura. No inconsciente o caçador ,,, . . .e visto como símbolo de proteção. Em conexão com isso devemos considerar as fobias de .animais das quais nenhu-ma criança está inteiramente livre. Nos sonhos e devaneios, a criança sente-se ameaçada e perseguida por animais fe- rozes, invenções de seu medo e culpa. Sente que só o caça- dor pode afugentar esses ani~ais ameaçaàores , n1antê-los permanentemente a distância. Por conseguinte, o caçador nos contos não é uma figura que mata bichos amisco, os~ mas que do~ina, controla e subjuga os ani1nais selvagens 57 J... Num nível mais profundo, representa aqué'le e 1erozes. que subjuga as tendências animais,_ associais e violentas no hoinem. Como procura, segue a pista e derrota o que en- caramos co1no aspectos mais baixos do homem - o lobo -- 0 caçador é uma figura eminentemente protetora que pode realmente salvar-nos dos perigos de nossas en1oções violentas e das dos outros. Em "Branca de Neve", a luta edípica da menina púbere não é reprin1ida, mas se concretiza_ ao redor da mãe corno competidora. Na história de Branca de Neve, o pai- caçador não consegue uma posição fort_e e definida. N em cumpre seu dever pa~a com a rainha nem sua obrigação moral com Branca de Neve, ou seja, de dar-lhe segurança e proteção. Não a mata imediatamente mas abandona-a . ' na florest~, esperando que sejà morta pelos animais f ero- zes. O caçador tenta satisfazer a mãe, executando aparen- temente suas ordens, e a menina, simplesmente não a matando. Raiva e ódio duradouros em relação à mãe, são as conseqüências da ambivalência patérna, que· em Branca de Neve são projetadas na rainha m,alvada, que, por isso, continua re~parecendo na sua vida. Um pai fraco pouco serve a Branca de N eve, con-10 também ocorre com· João e Maria. O apareci 111ento f re- .. d f ' 1 e d s su (Tere que n1a quente essas 1guras nos contos e e ia a O . - · d d • -· cons o ru e 111 u1na r1 os om 1nados pelas esposas nao · _ ~ . . cc 5JO ~ - ~ · pai~ nov idade ne. se n1undo. Mais exac11nen ' - -- , que criam dificuldades insuperáveis para a criança ou nao conseguem ajudar a resolvê-las. Esse é outro exen1plo das 1nensagens importantes que os contos traosmitem aos pais. Por que a n1ãe é abertamente rejei tadora nos contos, enquanto o pai freqüentemente só é ineficaz e fraco? Isso te1n a ver co1n o que a criança espera dos pais. l~o esquema nuclear típico de família , é dever do pai proteger o filho contra os perigos do mundo exterior e também contra os que se originam das tendências associais da própria crian- ça. A mãe deve prover os cuidados da criança e as satisfa- ções gerais das necessidades físicas imediatas que esta requer para sua sobrevivência. Por conseguinte, se a m~e não o consegue, a vida dos filhos fica em risco, como suce- de em "João e Maria" quando a mãe insiste em que devem se livrar das crianças. Se o pai, por natureza, não enfrenta suas obrigações, a vida da criança enquanto tal não corre um perigo direto, embora urria criança privada da prote- ção do pai precise lutar por si da melhor maneira possível. Por isso Branca de Neve tem de se defender sozinha quan- do é abandonada pelo caçador na floresta. Só os cuidados an1orosos conjugados a um compor- tament? responsável por parte dos dois pais permite à cri- ança integrar os conflitos edípicos. Se a criança é privada de u~a dessas coisas por um pai ou por ambos, ela não Poderá identifi car-se com eles. Se 0. menina não puder for- mar um . 1 ·r· ~ .· . ~ f ca presa aos ª 1oent1 1caçao pos1t1va corri a mae, 1 ' 59 - conflitos edípicos, e tambén1 estabelece-se u ma regressão, ,que sempre ocorre quando a criança não consegue atingir 0 p róximo estágio mais adiantado de desenvolvimento para o qual está cronologicamente p reparada. A rainha, que está fixada a llffi narcisismo primitivo e bloqueda pelo estágio incorporativo oral, é u m a pessoa ~ ~om quem não é possível u1n relacionamento positivo, e ninguén1 pode se identificar com ela. A rainha ordena ao caçador não só que mate Branca de Neve, como também q ue traga os pt1lmões e fígado como prova. Quando o ca- çador traz para a rainha os pulmões e ffgado de um animal para provar que executara as ordens, "o cozinheiro cozi- nhou-os no tempero, .e a mulher malvada comeu-os pen- sando que comera os pulmões e fígado de Branca de Neve"• D.e acordo com costumes e pensamentos primit ivos, ad- q u irimos os poderes e características daquilo que come- m os. A rainha, com ciúmes da beleza de Branca de Neve, dese java incorporar o encanto da mesma, simbolizado pe- los seus órgãos internos. Essa não é a primeira história de uni.a m ãe ciun1enr-1 da sexual. idade florescente da filha, nem é tão raro uin, filha acusar mentalmente a mãe de senti r ciúmes . O e.J - lho mágico parece falar cotn a voz <la fi lha e não da nuie. menina pequena acha a mãe a mulher n1ais lin la do tnun- do , e é assim que o espelho fala inicialrn ·nre co n1 ;:t ntir ha: . tt > fll . l l ' Ma.) on10 a m ·n ina mais velh, cons t le ra-se iuu ... bonita do que a mãe, isso é o que o espelho d iz mais adiante. A n1ãe pode se desencorajar quando se compara com a filha num espelho e pode pensar: - "Minha filha é mais bonita do que eu" . - Mas o espelho diz: - "Ela é mil vezes mais linda!" - uma afirmativa análoga ao exagero do adolescente que faz co1n que aumente suas vantagens e com isso· silencie as dúvidas internas. . A criança púbere é ambivalente nos desejos de ser muito melhor do que o pai do mesmo sexo porque teme que, se isso for verdade, o pai, ainda muito podero~o, se ,, vingue. E a criança que ten1e a destruição devido à sua superioridade imaginária ou real, e não o pai quem deseja destruí-Ia. O pai pode sofrer con1 ciúmes se, por seu lado, não conseguiu identificar-se com o filho de modo positi- vo, porque só então pode sentir -um prazer substitutivo , com as realizações da criança. E essencial que o pai se iden- tifique intensamenté com o filho do mesmo sexo para que a identificação deste com ele tenha êxito. Sernpre que os conflitos edípicos são revividos na puberdade, a criança acha a vida familiar insuportáY~l de- vido aos .seus sentirr.:.entos ambivalentes violentos. Para escapar do turbilhão interno sonha em ser filho dt outros ' pais n1elhores co1n quem não teria -nenhuma dessa,; ~h fi - cu l,t:.c1 tF e.:· .... , • l ' . A' . - 1 ~ e,:) ilt'1 - • · .'-':... 1._0 p~1co og1cas. Àgu1nas crranças '"ªº ·1 ei:"'-, 1 '· ' \ s18 · nd0 t na reaEdade f ugirido en1 busca desse Lu ideal. Os contos r}r. f- ' <l . . . 1· . o t" f • à ··ri·1 r-- ' ._ 1.. aaa~,, to av1-z:. , ens1narn unp 1(1 t,un .... n-- ~ L \.. · ... • 61 .,,, . . / . ça que esse lar só existe num pais 1mag1nar1~ e q~e, quan- do O encontramos, freqüentemente se revela 1nsat1sfatório. É O que acontece com Branca d e Neve e com João e 11aria. A experiência de Branca de N eve nu1na casa fora do lar é menos assustadora do que a de João e Maria, 1nas tan1bém não funciona ben1. Os anões são incapazes de p rotegê-la e a mãe continua t endo poder sobre eL.1, poder que Branca de N eve não pode impedir de reconhecer quando permite que a rainha (sob vários disfarces) entre na casa, apesar dos conselhos dos anões para que se prevenisse cont ra os tru- ques da rainha e não d~ixasse ninguém entrar. N ão podemos nos libertar do impacto dos pais e dos sentimentos que temos por eles , fugi_ndo de casa - em- bora esse pareça o caminho mais fácil. Só conseguimos _a independência elaborando nossos conflitos internos, que as crianças tentam nor1nalmente projetar nos pais. De iní- cio a c·riança gostaria de poder fugir do trabalho difícil da integração que, como mostra a história de Branca de Neve, envolve grandes perigos. _Por algum tempo parece possível escapar dessa tarefa. Branca de Neve leva uma existência pacífica durante algum tempo e, sob a orientação dos anões, t ra~sforma-sede crianç~. incapaz de lidar com as dificulda- des do mundo, nurµa garota que aprende a trabalhar be1n e ,,, gosta disso. E <? qu~ os anões solicitam dela para que viva , ' "' com eles; pode ficar e . não lhe faltará nada se "voce t o n1.ar d · , ar costu rar e C(?nta a casa, cozinhar, arrumar as camas, iav ' 62 - -- remendar e conservar rudo li1npo e organizado" . Branca de Neve torna-se un1a dona de casa,, como sucede com muitas meninas que, quando a mãe está fora, tomam conta direito do pai e da casa e até mesmo dos irmãos. Mesrt10 antes de encqntrar os anões, Branca de Neve demonstra que pode controlar os anseios orai~, ainda que estes sejam grandes. Na casa dos anões, embora fami nta, come apenas um pouquinho de cada um dos sete pratos e • bebe somente um bocadinho de cada um dos sete copos, para não tirar muito de ningué_m . (Bem diferente de João e Maria, crianças fixadas oralmente que devoram, com voracidade e sem respeito, a casa de ge_ngibre.) Depois de ·satisfazer a fome, Branca-de Neve experi- menta as sete caminhas, mas uma é comprida demais, outra muito curta, até que no final adormece na sétima cama. Ela sabe que todas as camas pertencem a outras pessoas e que seus donos desejarão dormir nelas, embora Branca de Neve esteja deitada em uma. delas. A exploração das ca- ~as sugere uma leve consciência dos riscos, e ela tenta 1nstalar-se numa cama que não envolva nenhum. E tem razão. Os anões quando chegam se enamoram da sua bele- za, e O sétimo anão, em cuja cama ela está dormindo,, não reclama e dº -"d h . , , em vez isso, orme com seus compan e1ros, urna hora d ,, na cama · e cada um, até a noite passar . B Devido ao enfoque habitual sobre a inocência de tanca d N e eve, parece ultr_ajante a noção de ela ter-se 63- : do subconscientemente a do.nnir na ca1na e arDs~ 0mum h m Mas Branca de N eve mostra, quando se d . ome, • enca rentar t rês vezes pela rainha disfarçada que) como a maio- ria dos humanos - e, acima de tudo, dos adolescentes _ _ cede facilmente à. tentação. To~davia, a incap acidade de ' . . ' ,_. . Branca de Neve em res1st1r a tentaçao torna-a mais atra- ente e humana, sem que o ouvinte tenha consciência dis- so. Por outro lado, seu comportaménto controlado ao comer e beber, e qu~ndo resiste a deitar-se numa cama que não seja exata para ela, mostra que também já aprendeu a con- trolar um pouco os impulsos do ide a submetê-los às exi- gências do superego. Vemos também que seu ego amadureceu, pois agora trabalha bastante e be1n, e com- partilha as coisas com os outros. Os anões - homens pequenos - têm conotações diferentes em vários contos de fadas~ 22 Como as próprias fadas, eles podem ser bons ou malvados; e1n "Branca de Neve", são do tipo que ajuda os outros. }1. primeira coisa que sabemos sobre eles é que voltaram para casa depois de trabalharem nas montanhas como mineiros. Como todos os ar1ões, n1esn10 os desagradáveis; -são trabalhadores e es-· pe:tos ezn seus negócios. O trabalho é a essência de sriaS : idas; não tém descanso ou recreação. Embora os anões t1 q• t rn in1edi"ta . · . • , · ª · mente 1rnpre~s1onados pela beleza de Branr e~ A ~ N,- 'J u ........ : .:vc t' crJ1'JOV1 .... C' ' l J . 1 · 1 u.., corn sua Gesg raça, e1xan1 ..:O:! r• e la:-u o U é O ') reç,n ele . · .. . .., 1 1 · · ,ive1 con1 eles e comprometer-se nnm r i - trabalho conscienc_ioso. Os sete anões sugerem os sete dias da semana - d ias cheios de trabalho. Se quiser crescer ben1 , Branca de Neve deve t ransformar o seu mundo em um mundo de trabalho; esse aspecto de sua estada-com os anões é facilmente compreensíveL Outros significados históricos dos anões podem ser- vir a uma melhor explicação. Os contos e lendas europeus freqüenten1ente eram resíduos de temas -religiosos cris- tãos não aceitos, porque a cristandade não tolerava as ten- dências pagãs sob forma àberta. De certo m.odo, a beleza perfeita de Branca de Neve parece remotamente derivada do sol; seu nome sugere a brancura e a pureza da luz forte. De acordo com os antigos, sete planetas circundam d sol , daí os-sete anões. Anões ou gnomos, no folclore teutônico 1 são tra~alhadores da terra, extraindo metais , dos quais só sete eram conhecidos nos tempos antig·os - outra razão desses mineiros serem sete. E cada um dos sete metais estava relacionado a um dos sete planetas na filosofia na- tural antiga (o ouro ao sol, a prata ã lua etc ... ) Essas conotações não estão disponíveis para a criança n:od~rna. Mas os anões evocam outras associações incons- C!entes. Não há mulheres anãs. Todas as fadas são mulhe- res, os magos são a contrapartida masculina, e há bruxos e bruxas , feiticeiros e feiticeiras. Por isso , os anões são emi- nentemente homens, m as homens que ficaram bloquea- dos no desenvolvimento. Esses "homenzinhos" de corpos 65 -- atarracados e trabalhand o na mineração - penetram ha- bilidosa1nente em cavidades escuras - sugerem conotações fálicas. De certo não são ·homens em qualquer sentido se- xual - seu n1.odo de vida e o interesse em bens materiais com exclusão do amor sugerem uma existência pré-edípica.23 À p rimeira vista pode parecer estranho identificar uma figura que simboliza uma existência fálica com uma representação também da infância antes da puberdade, um período d·ura·nte o qual todas as formas de sexualidade es- tão relativamente adormecidas. Mas os anões estã'o livres de conflitos internos e não desejam ultrapassar a existên- cia fálica para chegar a um relacionamento íntimo. Estão satisfeitos com suas atividades; a vida deles é um círculo de trabalho imutável no interior da terra., corno os plane- tas circulam interminavelmente por um caminho imutá- vel no céu. Essa falta de modificações e ausência de desejn por ela faz a existência deles ser comparável à da criança pré-púbere. Por essa razão, os anões não entendem nem sin1patizam corri as pressões internas que tornam impos- :~ível para Branca -de Neve resistir às tentações da rainha. o~ conflitos nos deixam insatisfeitos com nossa manei ra atual dt:: vida e por isso nos induzem a encontrar outras soluções; se não os tivéssemos, nu nca correría1nos os riscos · d· f · '.) 1te e que envolve1n passar para u 1T1a fo nn a de v iver 1 e ccr mais aprimorada. 66 --- 1 o período pré-adolescente pacífico que Branca de N eve vive entre os anões antes de a rainha voltar a perturbá- la dá-lhe forças para passar à adolescência. Ass.im, entra novan1ente num período de problemas - não m.ais como uma criança que sofre passiyamente o que a mãe lhe infli- ge , mas como uma pessoa que deve participar e se respon- sabi lizar pelo que acontece com sua vida. As relações entre Branca de Neve e a rainha simboli- zam algumas difict;ildades graves que ocorrem entre mãe e filha. Mas são também projeções, em figuras separadas, das tendências incompatíveis dentro de uma pessoa. Freqüentemente essas contradições internas originam-se no relacionamento da criança com os pais. Por isso, no conto de fadas, a projeção de um dos lados do conflito interno numa figura parental também representa uma verdade histórica: é onde ele se originou. Isso é sugerido quando a vida calma e sem acontecimentos que Branca de Neve leva com os anões se interrompe. Quase destruída pelos conflitos pubertais iniciais e pela competição com a madrasta, Branca de Neve tenta escapar para um período de latência livre de conflitos, guando o sexo está adormecido e o turbilhão da adoles- c&ncia pode ser visco. Mas o cernpo ou o desenvolvin1enco hun1a 1 ~ ' l " · - 1 0 nao pern1anecen1 es tát icos, e u n1a volcn ·1 :itenc ia f ª ra c·scapar dos problemas da adolescência não ct m êxirn. )uando Br·111 ~ l N l l ~ r, - ) t11c'- ., ca e e: ev · se torna un1anc o c:sc cn t, 67 p ça a experimentar desejos sexu~is que est~vam reprirnir!,,- e adormecidos durante o penod o anten or. Com is\cJ> â. inadrasta, que representa os elementos negados C<Jnscie:n- temente no confl ito interno de Branca de Neve, rtaparect no ~enário e despedaça a paz in terna da mesma. A presteza com q ue Branca de Neve cede repetida- mente à tentação da madrasta, apesar das advertências dos anões, mostram como as tentações da madrasta se aproxi- mam dos desejos internos de Branca de Neve. Os conse- lhos dos anões para que não deixe ninguém entrar en1 casa - ou, simbolicamente, dentro do interior de Branca de Neve - não adiantam nada. (Os anões podem aconselhar facilmente contra os perigos da adolescência porque, es- tando fixados no estágio fálico de desenvolvimento, não estão sujeitos a eles). Os altos e baixos dos confli_ros do adolescente são simbolizados pelas duas tentações por que passa Branca de Neve, com risco, e sendo salva por uma volta à existência prévia, a da latência. A terceira experiên- cia de tentação finalmente acaba com os esforços de Branca · de Neve de voltar à _imaturidade quando encontra dificul- dades adolescentes. Embora não saibamos quanto tempo ela viveu com os anões antes de a madrasta reaparecer em sua vida, é a atração dos cintos de fitas que faz Branca de N eve deixar a rainha, disfarçada de vendedora, entrar na residência dos anões. Isso deixa claro que ela já é un1a adolescenre ben1 68 de envolvida, e, de acordo com a moda dos tempos anti- gos, precisa e tem interesse na.s fi tas . A madrasta aperta 0 cinto com tanta força que Branca de Neve cai desmaiada, · 26 como se est ivesse morta. Ora, se o propósito· da rainha fosse matar Branca de N eve, poderia fazê-lo facilmente nesse momento. Mas se seu objetivo era impedir a filha de superá-la, bastava re- duzi-la à imobilidade. A rainha, então, r_~presenta a mãe que temporariamente consegue manter o predomínio pa- rando o desenvolvimento da filha . Em outro' nível, o sig- nificado desse episódio é sugerir os conflitos .de Branca de Neve quanto ao desejo adolesce~te de estar bem enfeitada porque isso a torna sexualmente atraente. Seu desmaio sim- boliza que foi esmagada pelo conflito entre os desejos se- xuais e a ansiedade quanto a eles . Como é a própria vaidade de Branca de Neve que faz com que deixe a rainha colo- car-lh~ o cinto, ela e a madrasta vaidosa têm muito em comum. Parece que os confJ.itos e desejos adolescentes de Branca de Neve são sua ruína. Mas o conto de fadas vai mais além e conti,:iua ensinando à criança uma liçã~ ainda mais significativa: sem ter experimentado e dominado os perigos que surgen1 com o crescimento, Branca de Neve nunca se uniria ao príncipe. N a volta do trabalho os anões enconcran1 Branca de ' N eve inconsc iente e retiram -lhe o cinto. Ela volta ª si e tc:t rai se t · 1 "' · O s a 110~ es ad- -.. emporar1an1ente para a a tenc1a. ' 69 r vertem-na novamente e d e modo mais sério ~ontr·i 0 , . .. s tru- q. ues da rainha .malvada, isto é , con tra a tcntacõe~ u~o s :, · exo. Nlas os dese jos de Branca d e Neve são m uito fortes . Quan- do a rainh a, disfarçada de velha , oferece-se para arruinar 0 penteado de B ranca de Neve <lizendo: -- "\lou penteá-la convenien temente de uma vez" - Branca d e Neve nova- mente·~ seduzida e deixa que ela entre. As intenções cons- cient es de Branca de Neve são subjugadas pelo dese jo de ter um l indo penteado e seu desejo inconsciente é ser se- xualmente atraente. Mais uma vez esse desejo é "veneno- so" para Branca de Nev~ no seu estado adolescente irnaturo, e ela cai desacordada. Novamente os anões a salvam. Da terceira vez em que cede à tentação, come a maçã fatídica que a rainha, vestida de camponesa, lhe entrega. Os anões não podem mais ajudá-la porque a regressão da adoles- - cência para a latência deixou de ser a solução para Branca d e N eve. Em muitos mitos e contqs de fadas, a maçã representa o amor e o sexo, nos seus aspectos benevolentes e perigosos. U ma m açã, dada a Afrodite, deusa do an1or, mostrando que ela era a preferida entre as deusas, levou à G uerra _de Tróia. A m açã bíblica seduziu o homem e fê-lo renunciar à inocência para conseguir conhecimento e sexualidade. Foi Eva quem foi tentada pelo m acho, represent~do P: "'d f: do sozinha cobra mas nem mes1no est a po e azer tu · ,. ,,111 ' . . . ,.., r '1 n 1 oe . ç· re li crt O S t• • preciso u da maçã, q ue na 1conog ra 1a ~ -- 7 0 -- in1boliza o peito n1aterno. No peito materno todos rive- 11105 un1a atração inicial para formar uma relação e encon- trar satisfação nisso. Em Branca de Neve, mãe e filha dividen1 a n1açã. Esta simboliza algo que têm em comum e que vai mais a fundo do que os ciú1nes mútuos - os desejos sexuais n1aduros de ambas . Para vencer as suspeitas de Branca de Neve, a rainha divide a maçã ao meio, comendo a parte branca, enquanto BraJ:?.Ca de Neve aceita a metade vermelha, "envenenada". Repetidamente falamos da natureza dupla de Branca de Neve: era branca como a neve e vermelha como o sangue - isto é, tinha tanto aspectos assexuais como eróticos. Quando come a parte vermelha (erótica) da maçã, termina sua "inocência". Os anões, companheiros de sua latência, não podem mais ressuscitá-la; Branca de Nevé fez sua es- colha, tão necessária quanto fatídica. O vermelho da maçã evoca associações sexuais, como as três gotas de sangue que precederam o nascimen_to de Branca de Neve, e tam- bém a menstruação, um acontecimento que marca o co- meço da mat_uridade sexual. Comendo a parte vermelha da maçã, a criança em Branca de Neve morre e é colocada num caixão transpa- rente feito de vidro. Ali permanece por muito tempo. Os anões, e também três pássaros, vão visitá-la: primeiro un~a coruja, depois um corvo e, por fin1 , uma po1nb~L i\ co~uJa sj mbol· • 6 l · Jp t1s Teurônico. tza asa ec ona; o corvo - con10 no <.h. - 71 _,.,,, p "º r'i·e Odin - provavelmente a consciência madura· O COf"\i - , e ,1. pomba representa tradicionalmente o amor. Esses pás- s1ros sugerem q ue o sono mortal de Branca de Neve no caixão é um período de gestação, seu período Çinal de pre- ' d d ?6 paração para a matur1 a e.- A história de Branca de Neve ensina que alcançarmos a maturidade física não significa· àbsolutamente estarmos pre- parados intelectual e emocionalmente para a idade adulta, I . representada pelo casamento. São necessários tempo e um crescimento considerável antes que se forme uma nova per- . sonalidade mais madura e os conflitos antigos sejam integra- · dos. Só então estamos preparados para um parceiro do outro sexó> e .para a relação íntima com ele, que é necessária para a realização de uma idade adulta-madura. O parceiro de Bran- ca de Neve é o príncipe, que "trànsporta-a" no caixão, o que faz com que ela, _tossindo, expulse a maçã·envenenada e volte a viver, pronta para o casamento. Sua tragédia começou com desejos orais incorporativos: o desejo da madrasta comer os orgãos internos de Branca de Neve. Qu~ndo esta expulsa o pe~aço de maçã" que a sµÍocava - o objeto mau que in~orpo- rara - marca sua liberdade definitiva da realidade primiti- va, que representa todas suas as fixações imaturas. \ . seu desen- \ Como Branca de Neve, toda criança no . 1 real ou 1ma- volvimento deve repetir a história d_o Horn.em, ,, ori ainal d . d par~1s0 o ginada. Todos somos expulsos um 1ª 0 . areciam ser d . fA . d d os deseJos P'-a 1n anc1a, quan o to os os noss 72 .,_ -- - . i-- · s~n1 esforços de nossa parte. A aprend izagen1 _.,~0 s1c1tos L• • b ben1 e o n1al - obter conhec1n1ento - parece so re o . . dividir nossa personalidade ao n1e10: o caos vennelho d e r 0- es desgovernadas , o id ; é a pureza branca de nossa emo1;- ,consciência, o superego. A medida que crescen1os vacila- mos entre o turbilhão do primeiro e a rigidez do segundo (o cinto apertado e a in1obilidade forçada pelo caixão). A idade adulta só pode ser alcançada quando essas contradi- cões internas são resolvidas e conseguimos urn novo .des- ;, pertar do ego maduro, onde o ver1nelho e o branco coexistem harmoniosamente. Mas, antes que a vida "feliz" possa começar, temos que colocar os aspectos maus e destrutivos de nossa perso- nalidade sob nosso controle. A bruxa, em João e Maria, é cast igada por seus desejos canibalistas, sendo queimada no fogão . Em "Branca de N eve", a rainha vaidosa, ciumenta e destrutiva é forçada a calçar sapatos de ferro em brasa, ~om os quais tem que dançar até morrer. O ciúme sexual incontrolável, que tenta arruinar os outros, se destrói a si mesmo -4 simbolizado não só pelos sapatos de ferro em brasa mas p 1 . b . e a morte que causam, dançando com eles. S1m-ohcamente h. ,, · d' · d d , a 1stor1a 1z que a paixão descontrola a eve ser refreada O ,, ,, d ,, . ,, d . u sera a ru1na a propr1a pessoa. So a morte a ra1 nha c i um ( l. . d d b 1"' . · enta a e 1m1nação e to a a cur u enc1a inte · rna e ext ) - 1· erna pode contr'ibtür para um mundo te 12· M:nitos l ,, · d · l dP s 1erois e contos de fadas , nu1n ponto crucia - eu desenv l . - d 0 vimento, caem nu1n sono p rofun o ou re- 73 r nascem. Cada novo despertar ou renasci n1ento simb 1. · . . O IZa a conquista de ;1m estado m a1s adiantado de maturidade t con1 preensão. E uma das for1nas do conto de fadas estimu- lar o desejo de um sentido mais elevado na vida: un1a cons- ciência mais p rofun_da , m ais autoconhecim ento e maior maturidade: O long o período d e inatividade an tes do des- pert ar faz o ouvinte perceber - sem verbalizá-lo consci- entemente - que este renascimento requer um tempo de descanso e concentração para ambos os sexos . A m udança significa a n.ecessidade de abandonarmos algo q ue até então apreciávamos, como a existência de B ranca de Neve antes tj.e ~ rainha· sentir ciúmes, ou sua boa vida con1. os anões - experiência·s difíceis e dolorosas de crescimento que não podem ser evitadas. Essas.histórias tam bérn convencem o ouvinte de que não precisa ter medo de abandonar sua posição infant il de depender dos outros, porque depois de. es_forços perigosos do período transicional, ele emerg irá num p lano 1nelhor e m ais elevado, entrando numa existência m ais rica e feli z. Os que relutam en1 ar- riscar-se nessa transformação, como os dois irmãos m ais velhos em «As Três Plufil:as", nunca obtêm o reinado. Os que ficam p resos ao estágio pré-edípico de desenvolvirnen- to , como os anões, não conhecerão nunca a felicidade do amor e do casa1nento. E os pais que, como a ra inh a, acua- lizam seus c iúrnes edípicos paternosJ quase desrroern 5 cus fi lhos "' certhr:nent e se destroem . 74 ----
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