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CULTURA POLITICA

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Camila Aparecida Braga Oliveira; Helena Miranda Mollo; Virgínia Albuquerque de 
Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de 
História da Historiografia: biografia & história intelectual. Ouro Preto: EdUFOP, 
2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7) 
 
 1 
 
 
“CULTURA POLÍTICA”: 
APROPRIAÇÕES PELA HISTORIOGRAFIA CONTEMPORÂNEA 
Lorena Lopes da Costa∗ 
 
 
 
Introdução 
Embora o conceito “cultura política” tenha nascido na ciência política, sua 
apropriação e reformulação pela historiografia têm revigorado a própria história 
política. Com Almond e Verba, em 60, o conceito foi pensado como instrumento para a 
compreensão da origem dos sistemas políticos democráticos, num caráter nacional e 
hierarquizado. Por outro lado, nos anos 80 e 90, historiadores franceses, influenciados 
mais pela antropologia, rejeitaram tanto a implicação nacional quanto as implicações 
etnocêntricas da contribuição norte-americana. Esses historiadores buscaram privilegiar, 
para melhor desvendar o fenômeno, a possibilidade de num mesmo espaço conviverem 
distintas culturas políticas e questionaram Almond e Verba quanto à legitimidade de 
pressupor que diferentes civilizações podem formular culturas políticas idênticas. O 
presente artigo busca explorar a história desse conceito e suas apropriações pela 
historiografia mais recente. 
 
O conceito “Cultura Política”: algumas abordagens 
 Embora o conceito “cultura política” tenha nascido na ciência política, na década 
de 60, foi, especialmente a partir das décadas de 80 e 90, que um grupo de franceses 
apropriou-se do conceito numa abordagem historiográfica1. Com Almond e Verba, em 
60, o conceito foi pensado como instrumento para a compreensão da origem dos 
sistemas políticos democráticos. E, mesmo considerando a possibilidade de existirem 
situações híbridas, os politólogos americanos dotaram o conceito de um caráter nacional 
e, segundo sua crítica, hierarquizado2. 
 Almond e Verba definiram uma cultura política como um conjunto de 
percepções, sentimentos e avaliações de uma sociedade capazes de expressarem, de 
 
∗ Mestranda no Departamento de História da UFMG, na Linha de História e Culturas Políticas e bolsista 
do CNPq. 
1 Nessa primeira abordagem histórica do conceito serão considerados os textos de Serge Berstein, Eliana 
Dutra e Rodrigo Patto, apontados nas referências. 
2 Aqui, a crítica se refere àquela feita especialmente por Berstein e Sirinelli. 
Camila Aparecida Braga Oliveira; Helena Miranda Mollo; Virgínia Albuquerque de 
Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de 
História da Historiografia: biografia & história intelectual. Ouro Preto: EdUFOP, 
2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7) 
 
 2 
 
alguma forma, o sistema político dessa sociedade3. Ao usarem o termo “cultura”, os 
autores remontavam à antropologia, tomando-o como espécie de orientação psicológica 
em relação aos fatos passados numa sociedade em certo momento. Nesse sentido, a 
cultura, assim entendida, permite identificar um padrão comportamental num 
determinado ambiente. A política, por outro lado, remonta a uma esfera que dota o 
indivíduo de alguma autonomia. Esse indivíduo analisa a política, avaliando-a. Na 
formulação de Almond e Verba, no entanto, o conceito serve, claramente, para 
hierarquizar as diferentes culturas políticas, enaltecendo a democrática. 
 
Cultura política, portanto, remete a uma orientação subjetiva em relação a um 
determinado sistema político. É preciso ressaltar, porém, que a utilização da 
noção por parte de seus autores está vinculada a uma preocupação quanto às 
condições de desenvolvimento dos sistemas políticos democráticos. Dessa 
forma, em sua própria gênese, o conceito de cultura política não pode ser 
dissociado da idéia de que um modelo de comportamento político nas 
democracias participativas. Diferentemente dos antropólogos, cuja noção traz 
implícita a idéia de relativização, Almond e Verba entendem que a cultura 
política democrática – ou cultura cívica, para usar a terminologia dos autores – 
é uma conquista da sociedade ocidental. (KUSCHNIR; PIQUET, 1999: 230) 
 
 Por outro lado, nos anos 80 e 90, historiadores franceses, influenciados mais pela 
antropologia que pela própria sociologia e psicologia comportamentalista, rejeitaram 
tanto a implicação nacional quanto as implicações etnocêntricas da contribuição norte-
americana. Esses historiadores buscaram privilegiar, para melhor desvendar o 
fenômeno, a possibilidade de num mesmo espaço conviverem distintas culturas 
políticas, ainda que, em determinado momento, alguma delas possa ser predominante, e 
questionaram, dentre outros pontos estabelecidos por Almond e Verba, a legitimidade 
de pressupor que diferentes civilizações podem formular culturas políticas idênticas4. 
A reformulação do conceito teria revigorado a história política. Até então presa à 
imagem de uma área interessada por eventos, nomenclaturas de homens e de 
instituições, o uso conceitual da cultura política teria promovido a oportunidade de 
renovar tanto o objeto da história política quanto o método de abordá-lo5. Segundo 
Berstein, um dos historiadores franceses responsáveis pela renovação da história 
 
3 Toma-se como referência o texto “As dimensões Subjetivas da Política: cultura política e antropologia 
da política”, de Karina Kuschnir e Leandro Piquet Carneiro. 
4 Ver DUTRA, Eliana. “História e Culturas Políticas: definições, usos, genealogias”. 
5 Ver BERSTEIN, Serge. “A cultura política”; “Culturas Políticas e Historiografia” e “Nature et fonction 
des cultures politiques”. 
Camila Aparecida Braga Oliveira; Helena Miranda Mollo; Virgínia Albuquerque de 
Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de 
História da Historiografia: biografia & história intelectual. Ouro Preto: EdUFOP, 
2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7) 
 
 3 
 
política, a cultura política teria esse força enquanto conceito pelo fato de avançar em 
relação à investigação dos comportamentos políticos no decorrer da história, oferecendo 
respostas mais satisfatórias acerca daquilo que motiva tanto um homem quanto um 
grupo a optarem por determinado comportamento político. 
 Para Berstein, ela seria, então, um conjunto coerente cujos elementos estão 
relacionados entre si, conferindo uma sorte de identidade ao indivíduo. Nesse conjunto 
de componentes diversos, estão em simbiose: uma base filosófica, uma leitura do 
passado histórico e instrumentos para se fazê-la; uma visão institucional que pode ser 
apreendida pela forma como se organiza ou dever-se-ia organizar o Estado; uma 
concepção de sociedade ideal; um vocabulário com especificidades, capaz de sustentar 
discursos codificados e, além de fórmulas repetitivas, ritos e símbolos que, tal como as 
palavras, desempenham o papel de significante. A cultura política forneceria um 
patrimônio ou, em outras palavras, um repertório, que, incluindo vocabulário, símbolos, 
gestos, canções, rituais, dentre outros, dá àqueles que aderiram a ela formas semelhantes 
de enxergar o mundo à volta, interpretando-o e atuando nele. O autor não deixa de 
ponderar que os elementos que compõem uma cultura política podem variar entre 
períodos da história e entre sociedades (um exemplo esclarecedor é a religião, entendida 
enquanto um componente de presença variável em distintas culturas políticas). 
 Ainda na avaliação de Serge Berstein, a cultura política deve ser diferenciada de 
tradição política, por se consolidar de forma evolutiva. 
 
Como e por que nasce a cultura política? A complexidade do fenômeno implica 
que o seu nascimento não poderia ser fortuitoou acidental, mas que 
corresponde às respostas dadas a uma sociedade face aos grandes problemas e 
às grandes crises da sua história, respostas com fundamento bastante para que se 
inscrevam na duração e atravessem as gerações. (BERSTEIN, 1998: 355) 
 
Assim, o nascimento de uma cultura política não se dá de forma acidental; ele 
funciona como uma resposta à sociedade aos problemas que lhe são contemporâneos e 
que, naquele momento, não têm respostas formuladas de forma suficientemente 
satisfatória. Por serem novas, contudo, essas respostas demandam tempo para que sejam 
aceitas, de modo que da proposição para se solucionar um problema à transformação 
desta em solução legítima, o prazo pode ser grande. E mesmo no decorrer desse prazo, o 
conjunto de proposições que uma cultura política abarca não se mantém de forma 
estática. Alimentando-se de outras contribuições, uma cultura política se altera para 
Camila Aparecida Braga Oliveira; Helena Miranda Mollo; Virgínia Albuquerque de 
Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de 
História da Historiografia: biografia & história intelectual. Ouro Preto: EdUFOP, 
2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7) 
 
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evitar aquilo que marcaria seu declínio: entrar em contradição com a própria realidade. 
Ela, por conseguinte, estrutura a personalidade de um indivíduo e, ao mesmo tempo, é 
um fenômeno coletivo, que por habitar a longa duração, abre portas a gerações 
diferentes, o que aponta para o fato de que não é só por causa de uma mesma vivência 
que ocorre a adesão. 
 Num mesmo momento histórico, existe uma variedade de culturas políticas, que 
fazem referências a raízes históricas e filosóficas também distintas e que, mantêm, por 
vezes, concepções antitéticas de poder e de valores considerados como essenciais. Cada 
cultura política tem como que um núcleo de identidade, cuja apreensão pode se dar por 
meio daquilo que Berstein chama de família políticas, partes integrantes da cultura 
política: jornais, livros, sociedades de pensamento, associações, dentre outras. E quando 
essas famílias políticas, bem como as culturas políticas em geral estão inscritas numa 
mesma sociedade, convivendo com uma gama de problemas comuns, elas também 
podem acabar por se influenciarem, mesmo que rejeitem, em princípio, as alternativas e 
os símbolos concorrentes. 
 Berstein, por fim, entende que a cultura política revelaria apenas um dos 
elementos da cultura de uma sociedade, qual seja aquele que permite, justamente, 
compreender as motivações dos atos dos homens num dado momento da história. 
Conhecer uma cultura política permitiria identificar as razões que levam um grupo de 
homens a se sentirem mais próximos de uma força política, mais que de qualquer outra, 
tendo, por causa disso, quase de forma espontânea, leituras semelhantes diante de 
eventos tanto do passado quanto do presente e, ainda, aspirações semelhantes, posto que 
uma cultura política busca o ideal6. 
 Eliana Dutra também reconhece a origem do termo em Verba e Almond, e 
enfatiza importância dos historiadores franceses no que tange às críticas e questões 
levantadas em relação ao modelo anterior. Inventariando as tendências, Dutra, ancora-se 
em Daniel Cefai7, para ressaltar a influência decisiva da hermenêutica de Geertz em 
Berstein, para se entender a transformação do sentido do conceito empreendida pelo 
 
6 Como se poderá ver, privilegiou-se a abordagem de Berstein, em função de elementos identificados por 
ele aparecerem nas abordagens posteriores, porque necessários e importantes para o conceito. Para evitar 
a repetição desmedida, a análise feita pelos outros autores tratados será menos extensa. 
7 Seria essa a chave do balanço conceitual empreendido por Daniel Cefai, que buscou, segundo Dutra, 
contribuições tanto das novas abordagens tanto da sociologia compreensiva quanto da historiografia 
contemporâneas. “Experience, Culture et Politique”. In: CEFAI, Daniel. Cultures Politiques. 
Camila Aparecida Braga Oliveira; Helena Miranda Mollo; Virgínia Albuquerque de 
Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de 
História da Historiografia: biografia & história intelectual. Ouro Preto: EdUFOP, 
2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7) 
 
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segundo. 
 Seria a noção de experiência a chave que teria permitido inovar as relações entre 
a cultura e a política, tal como fizeram os historiadores franceses. Cefai, segundo Dutra, 
recusa o estudo de uma cultura política somente enquanto sistema simbólico ou 
funcional. Então, aproximando-se em boa medida de Berstein, o autor destrincha o 
conceito, organizando certos pontos de referência, quais sejam: a interação e a 
pertinência das culturas políticas; os usos das culturas políticas por quem aderiu a elas; 
as ações, os símbolos e os rituais que mobilizam os atores; as sensibilidades e 
afetividade que as mensagens políticas mobilizam; as instituições-chave, como escolas, 
partidos e sindicatos, que seriam necessárias na difusão das culturas políticas (e seriam 
para Berstein, algumas das famílias políticas); as estruturas de temporalidade; as 
gramáticas de autoridade que as relações cívicas e políticas colocam em jogo; as lógicas 
de atuação e as situações dos atores e a constituição dos universos políticos. Como já 
dito, porém, Cefai inclui também nesses elementos uma dose de subjetividade e 
individualidade, dada a atenção que concede à noção de atividade. A individualidade em 
Berstein, a despeito de ser mencionada, recebe poucos argumentos, já que o autor 
parece centrar-se um pouco mais na historicidade e na pluralidade das culturas políticas. 
Ao contrário, Cefai a endossa e entende-a como ponto fundamental para seu 
alargamento. 
Para Cefai, destacando apenas alguns dos elementos, as estruturas de 
temporalidade podem apontar para os contextos em que as culturas políticas emergem e 
se transformam tal como a observações dos usos das culturas políticas permitem notar 
as orientações dessas culturas políticas nas maneiras de pensar e julgar, de justificar as 
intervenções no espaço público, de criticar ou legitimar normas e leis e de trocar 
argumentos sobre o sentido de determinados eventos. Por outro lado, ao pensar nas 
estruturas de pertinência, que são repertórios de interpretação que pesam sobre as 
escolhas do ator social, Cefai enfatiza os conflitos e compromissos que esse ator precisa 
encarar frente à demanda do contexto, afastando a idéia da imposição de consenso 
cultural. Da mesma maneira, quanto aos universos políticos, os atores participam, 
segundo ele, de forma a criar suas maneiras próprias de raciocinar, argumentar, julgar. 
Embora não pareça discordar de Berstein (Dutra ressalta que, para Berstein, a cultura 
política se configura como um patrimônio cultural a um só tempo coletivo e individual), 
Camila Aparecida Braga Oliveira; Helena Miranda Mollo; Virgínia Albuquerque de 
Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de 
História da Historiografia: biografia & história intelectual. Ouro Preto: EdUFOP, 
2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7) 
 
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Cefai parece dar um pouco mais de espaço para o indivíduo numa cultura política e, 
assim, dá vazão para que se pense que esse indivíduo, porque não simplesmente 
orientado pela cultura política, também ele próprio a transforma. 
 Dutra ainda acrescenta que, além dos canais de transmissão da cultura política, 
citados por Berstein e também por Cefai, seria preciso pensar na importância da 
memória, que além de propagá-la também a codificaria. Assim, as representações do 
passado tanto pela historiografia e quanto pela literatura e pelo cinema colocam-se nocerne da consolidação e da difusão das culturas políticas. 
 
Colocadas na encruzilhada das representações coletivas do passado, do presente 
e do futuro, as culturas políticas são também codificadas e transmitidas pela 
memória. Assim, a invenção dos lugares de memória; as políticas de 
conservação do patrimônio; as culturas do museu e suas estratégias de utilidade; 
os ritos de comemoração e de inauguração, os jubileus; os monumentos; as 
representações do passado na historiografia, na literatura e no cinema; colocam-
se, no nosso entender, no centro das problemáticas de criação, consolidação, 
difusão e cristalização das culturas políticas. E a sua aquisição e interiorização, 
tal como consideramos, se inserem também, nas motivações do político. 
(DUTRA, 2002: 27) 
 
 Como se viu, as referências a Almond e Verba e a Berstein são essenciais para 
se discutir o conceito em questão. Permitem ao estudioso dar-se conta da complexidade 
do conceito e da necessidade de esclarecê-lo para que seu uso não se torne algo que 
obscureça o objeto ao invés de lançar luz sobre ele. Almond e Verba, autores que deram 
início ao uso conceitual de cultura política, foram aqui considerados apenas de 
passagem. Buscou-se, a partir dos textos de Berstein e de Dutra, e, por meio deste 
último, das considerações de Cefai, pensar na nova abordagem do conceito, a qual, bem 
mais que a abordagem de Almond e Verba, interessa por ora. No entanto, dada como 
certa a complexidade do conceito, pode-se observar, não obstante a discussão feita até 
agora, sua proximidade com outro conceito, que é o de ideologia. E para tentar refinar o 
debate teórico faz-se uso, por fim, de outro estudioso do tema. 
 Rodrigo Patto, aproximando-se de Berstein e também, indiretamente, de Daniel 
Cefai, entende que uma definição adequada para a cultura política, certamente 
influenciada por todo o histórico do conceito, pode ser: um conjunto de valores, 
tradições, práticas e representações políticas, que é partilhado por um grupo, sendo que 
esse conjunto acaba por expressar uma identidade coletiva e por fornecer leituras 
 
Camila Aparecida Braga Oliveira; Helena Miranda Mollo; Virgínia Albuquerque de 
Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de 
História da Historiografia: biografia & história intelectual. Ouro Preto: EdUFOP, 
2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7) 
 
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comuns do passado, assim como por inspirar projetos políticos para o futuro8. Tal 
definição, como afirmado há pouco, também explica o conceito ideologia, se esta for 
apreendida na sua acepção de sistema de idéias. Para Patto, no entanto, a cultura política 
transcende a ideologia. Poder-se-ia dizer, até mesmo, que muitas das culturas políticas 
consistentes possuem uma ideologia própria. A força da cultura política, para o autor (e 
além da força, parece ser possível acrescentar, a especificidade do conceito), residiria, 
então, no fato de que parte das pessoas que compõem o grupo que adere a uma 
determinada cultura política o faz menos pela concordância com as idéias desse grupo 
ou dessa cultura política e mais por identificar-se com os valores e as tradições 
organizados e mantidos vivos pelo grupo. 
 
Pode-se dizer que muitas das culturas políticas consistentes possuem ideologia, 
entendida como um sistema de idéias que constitui o seu cerne. Mas é 
importante não resumir uma coisa à outra, e perceber que a cultura política 
transcende e vai além da ideologia, ao mobilizar sentimentos (paixões, 
esperanças, medos), valores (moral, honra, solidariedade), representações 
(mitos, heróis) e ao evocar a fidelidade a tradições (família, nação, líderes). 
Toda a força da categoria cultura política reside na percepção de que parte das 
pessoas adere menos pela concordância com as idéias e mais por identificar-se 
com os valores e as tradições representadas pelo grupo. (PATTO, 2009: 27-28) 
 
Ademais, duas outras questões que refinam o debate são levantadas pelo 
estudioso. Em primeiro lugar, não haveria razão, segundo ele, para opor a versão do 
conceito no singular, como defendem Almond e Verba9 à versão no plural, como 
defendem os historiadores franceses, representados aqui principalmente pela 
argumentação de Berstein. As duas maneiras seriam válidas e, em alguns casos, seriam 
até mesmo necessárias umas às outras, porque complementar-se-iam. Em segundo 
lugar, Patto levanta uma questão que, diferente da primeira, não aglutina o debate 
desenvolvido, mas evidencia aos seus empreendedores e a quem mais tenha interesse no 
uso do conceito, um risco, de grande escala para os historiadores, cuja preocupação 
centra-se naquilo que a abordagem de cultura política poderia, considerando o risco, 
ameaçar. Se a cultura política se dá na duração e a política é presa à tradição e arraigada 
na cultura, o conceito poderia ter sua utilidade reduzida a tratar apenas aquilo que é 
 
8 Ver PATTO, Rodrigo. “A História Política e o conceito de cultura política” e Culturas políticas na 
história: novos estudos (Cap. 1). 
9 Como já dito, os autores fazem uma ressalva, no que tange a possibilidade de culturas políticas 
conviverem em determinado momento e espaço, mas no geral, segundo a crítica, o conceito é pensado 
pelos politólogos no singular. 
Camila Aparecida Braga Oliveira; Helena Miranda Mollo; Virgínia Albuquerque de 
Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de 
História da Historiografia: biografia & história intelectual. Ouro Preto: EdUFOP, 
2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7) 
 
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imóvel na história e, portanto, é pouco caro à historiografia. 
Para finalizar, o autor enfatiza alguns pontos que devem ser observados quando 
do trabalho com tal conceito. Alguns dele, já contemplados pelos autores referidos: as 
culturas políticas não devem ser entendidas como estanques nem imunes ao contato de 
umas com as outras; deve-se observar os vetores sociais que as reproduzem (próximos 
das famílias políticas, para Berstein, e instituições, para Cefai); e também se estar atento 
para o fato de que nem toda história cultural do político implica o uso da categoria e que 
ela não pode ser confundida, pela semelhança que decorre da inversão, com política 
cultural. Outros, porém, inovam: a cultura política transcende a ideologia; o trabalho do 
conceito por meio do contraste permite melhor visualizar características, bem como 
peculiaridades das culturas políticas diversas e o estudo das culturas políticas exige do 
estudioso a atenção não só às representações, mas também às práticas (o que fica 
apontado por Berstein e Cefai, mas não explicitado). 
 
Consideração final 
 Bem mais que adequar a pesquisa ao conceito, é sempre válido para o estudioso 
e, neste caso, especificamente, para o historiador, testar seu operador, no sentido de 
exigir adequação à proposta de estudo. O conceito “cultura política” vem sendo usado à 
exaustão pela historiografia, sem que se possa deixar de suspeitar que tal excesso se 
deva, em parte, a um modismo conceitual. Espera-se, portanto, que a breve discussão 
possa, de alguma forma, contribuir para o refinamento teórico do termo e de suas 
apropriações. 
 
 
Referências Bibliográficas 
BERSTEIN, Serge. A Cultura Política. In: RIOUX, Jean-Pierre; SIRINELLI, Jean 
 François. Para uma história cultural. Lisboa: Estampa, 1998. 
BERSTEIN, Serge. Culturas Políticas e Historiografia. In: AZEVEDO, Cecília. 
 ROLLEMBERG, Denise. BICALHO, Maria Fernanda. KNAUSS, Paulo. 
 QUADRAT, Samantha Viz (Orgs.). Cultura política, memória e 
 historiografia. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009. 
BERSTEIN, Serge. Nature et fonction des culturespolitiques. In: Les Cultures 
Camila Aparecida Braga Oliveira; Helena Miranda Mollo; Virgínia Albuquerque de 
Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de 
História da Historiografia: biografia & história intelectual. Ouro Preto: EdUFOP, 
2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7) 
 
 9 
 
 Politiques en France. Paris: 1999. 
DUTRA, Eliana R. de Freitas Dutra. História e Culturas Políticas: definições, usos, 
 genealogias. Varia História, número 28, dez. 2002. 
KUSCHNIR, Karina. CARNEIRO, Leandro Piquet. As dimensões subjetivas da 
 política: cultura política e antropologia da política. Estudos históricos, Rio de 
 Janeiro, vol. 13, 1999. 
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. A História Política e o conceito de cultura política. Anais 
 do X Encontro Regional de História. Mariana: 1996. 
MOTTA, Rodrigo Patto Sá (Org.). Culturas políticas na história: novos estudos. Belo 
 Horizonte: Argvmentvm, 2009.

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