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Bacharelado em Relações Internacionais Felipe Tubino, R.A. 21070314 Marina Middendorf, R.A. 21060314; Rebeca Ivasco, R.A. 21027914 Esplanade Productions versus Walt Disney Studios Pelos Direitos Autorais de “Zootopia: Essa Cidade é o Bicho!” Estudo de Caso São Bernardo do Campo 2017 Bacharelado em Relações Internacionais Felipe Tubino, R.A. 21070314 Marina Middendorf, R.A. 21060314; Rebeca Ivasco, R.A. 21027914 Esplanade Productions versus Walt Disney Studios Pelos Direitos Autorais de “Zootopia: Essa Cidade é o Bicho!” Estudo de Caso Estudo de Caso sobre o processo pelos direitos autorais do roteiro, conceito e ideia criativa do filme “Zootopia: Essa cidade é o bicho!”, de Gary Goldman contra a Walt Disney Studios, para a matéria de Negociações Internacionais, Propriedade Intelectual e Transferência Tecnológica. Prof ª Maria Carlotto São Bernardo do Campo 2017 SUMÁRIO 1 DIREITO AUTORAL 2 2.1 DEFESA DA DISNEY 7 3 CONCLUSÃO 9 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA 10 RESUMO Nos anos de 2000 e 2009 o roteirista Gary Goldman, dono da produtora Esplanade Productions e conhecido pelas roteirizações de animações como “Os Aventureiros do Bairro Proibido” e “O Vingador do Futuro”, teria enviado à produtora Walt Disney Studios um compilado de ideias e criações sobre o conceito de “Zootopia”, em um projeto denominado “Looney”. Em 2016, a Walt Disney Studios lança o filme “Zootopia: Essa Cidade é o Bicho”, liderando bilheterias ao redor do mundo e conquistando o Oscar de Melhor Filme de Animação no mesmo ano. Com o sentimento de ter suas ideias copiadas pela Disney sem sua autorização, Goldman entra então em um processo contra a empresa, em busca de seus direitos como autor, considerando-se que o direito autoral é um dos Direitos assegurados pela ONU. 1 DIREITO AUTORAL A globalização dos direitos de propriedade intelectual é um processo que tem suas raízes no fim do século XIX, com os primeiros regimes internacionais de propriedade intelectual, representados pelas Convenções de Paris e Berna, e atinge seu ápice no fim do século XX, com o Acordo Trips e diversos outros acordos bilaterais, regionais e multilaterais Trips-plus. Esse processo continua, conforme evidenciado nas negociações de acordos recentes como o Acta e Acordo Transpacífico (TPP). De todo modo, o novo regime global de propriedade intelectual tem implicações significativas para o desenvolvimento nacional em áreas tão distintas quanto o comércio internacional, os investimentos estrangeiros diretos, a produção e a disseminação de tecnologias digitais de informação e comunicação, o acesso à informação e a proteção de conhecimentos tradicionais associados. Um dos mais importantes fatores para o regime internacional fora o Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS, em inglês) é um tratado Internacional, criado com os objetivos principais de reduzir as barreiras comerciais entre seus países membros, por meio da adoção de políticas de cooperação. O qual integra um conjunto de acordos assinados em 1994, que encerrou Rodada Uruguai e que deu origem à OMC. O acordo abarca a regulação de direitos sobre invenções, marcas, modelos, informações confidenciais e outros ativos considerados intangíveis que se tornaram elementos de grande importância e estratégicos na economia globalizada. Ainda, estabelece uma união entre a proteção do conhecimento e o comércio global. Não obstante, o TRIPs acarretou importantes mudanças nas normas internacionais no que tange aos direitos de propriedade intelectual. Visava implementar um equilíbrio necessário para os direitos de propriedade intelectual, adotando medidas de proteção para tais direitos, evitando o abuso de direito por parte dos seus Estados-Membros. Todavia, devido a extensão de suas implicações, em particular para os países emergentes, tornou-se um dos componentes mais controversos do sistema da OMC, acarretando em intensas discordâncias sobre seu escopo e seu conteúdo. De acordo com Deborah Sobrinho e Bruno Oliveira (apud. Basso, 2002), três embates encabeçavam a rodada Uruguai quanto a regulamentação das TRIPs: No primeiro, os Estados Unidos ressaltavam a proteção da propriedade intelectual sob a perspectiva de relação entre o estímulo ao desenvolvimento científico e ao crescimento econômico. O Direito autoral é uma das modalidades da Propriedade Intelectual tratado pelo TRIPS, derivado dos direitos individuais, sendo um conjunto de prerrogativas conferidas por lei à pessoa física ou jurídica criadora da obra intelectual, para que essa pessoa possa então gozar dos benefícios morais e patrimoniais provindos da exploração de suas criações, fora ser um dos direitos humanos fundamentais na Declaração Universal dos Direitos Humanos. As ideias, procedimentos, métodos, fórmulas e conceitos não estão protegidos em si. O direito autoral é o mais expansivo dos direitos, pois se protege praticamente todo tipo de expressão cultural fixa em um meio físico, sem necessidade de registro prévio, por exemplo, compor uma música e publicar em uma rede social, ela está protegida por direito autoral, mesmo que não contenha registros, que é o caso da obra de Goldman. Os Direitos Autorais estão divididos entre direitos morais e patrimoniais. O direito moral usado para assegurar a autoria da criação ao autor da obra protegida, sendo intransferíveis e irrenunciáveis. Enquanto que o direito patrimonial se refere à utilização econômica da obra intelectual, sendo estes passíveis de transferência e/ou concessão a outrem, possíveis por meio de licenciamento ou cessão. Uma obra entra então em domínio público quando os direitos patrimoniais expiram, o que geralmente vem de um período decorrido após a morte do autor, tendo o prazo mínimo de 50 anos, isso previsto pela Convenção de Berna. Porém, diversos países estenderam o termo, como é o caso da legislação europeia que ampliou por 70 anos; assim como caso dos Estados Unidos que estendeu esse direito por 95 anos, um fenômeno que tem sido estudado como causado pela própria Disney, para não perder os direitos sobre seu personagem principal: Mickey Mouse. 2 ALEGAÇÃO DE GOLDMAN Segundo Gary Gans da Quinn Emanuel Urquhart & Sullivan LLP, advogado de Goldman, o roteiro de “Zootopia”, a ideia criativa dos personagens, alguns diálogos e até o termo “Zootopia ” teriam sido plagiados pela gigantesca produtora de animações Walt Disney Animation Studios. Gary alega que o projeto de filme denominado “Looney” foi enviado à Disney nos anos de 2000 e 2009 e, em ambas as ocasiões, fora recusado. “It’s a word that Disney has never used before in its 95 years;if it’s not copied, it’s a very strange coincidence.” - Gary Gans sobre o termo “Zootopia”. Goldman no entanto, apesar de atestar possuir os desenhos originais, não anexou à denúncia as provas de que os mesmos teriam sido enviados à produtora Walt Disney ou sequer os anexou no processo. O advogado de Goldman declarou à corte que, não há autoridade que exija a anexação do trabalho no ato da reclamação. O roteirista alega ter registrado a história do projeto “Looney” com os “Writers Guild of America” em agosto de 2000. O conceito de Goldman incluía um animador humano que cria um mundo de animação animal quer mostrar um reflexo de uma sociedade humana complexa. De acordo com ele, a sociedade incluiria classes e estruturas de poder baseadas nas características de diferentes espécies. Para isso, ele contratou um animador responsável por desenvolver os personagens, os quais ele alega serem extremamente semelhantes com os de “zootopia” A versão de Goldman apresenta uma esquila chamada Mimi, meiga e otimista, mas que não é levada a sério e se torna vítima de discriminação. O roteirista alega que a personagem tem uma semelhança muito grande com Judy, a coelha policial em “Zootopia”. Também fora desenvolvido um personagem hiena chamado Roscoe, apresentando uma visão crítica à sociedade, se assemelhando com Nick, a raposa de “Zootopia”. Na versão de Goldman, o mundo animado é liderado por Griz, um urso pardo dominador, acusado de ser semelhante ao Bogo, o chefe de polícia no “Zootopia” da Disney. Além da personagem Gazelle da Disney, uma versão baseada na Cha, um guepardo. O processo alega que os dois projetos tratam sobre temas semelhantes, incluindo alcançar seus sonhos e ultrapassar estereótipos. Goldman diz que “Zootopia” réplica a história de seu projeto quase que completamente. Sendo que os heróis trabalham para alcançar a carreira de seus sonhos, que seus pais desencorajam, indo então para academias nas quais eles se superam, conseguindo reconhecimento por seu trabalho e ganha a oportunidade de irem à cidade grande para seu trabalho dos sonhos. “In the big city, the heroes come up against strong, powerful, and entrenched bosses who want to maintain control over the heroes. The heroes are obsessed with their work and go to extreme lengths in pursuit of success, even taking principled stances in defiance of their bosses. The heroes have partners who help them achieve success. But success goes to the heroes’ heads and they publicly offend others and alienate their partners, exhibiting their own prejudices. This triggers a job crisis, resulting in the heroes losing their dream jobs and hard-won statuses.” - Entrevista de Goldman à Variety. Nos dois projetos, o herói volta para casa e encontra seus antigos bullies , o que acaba por ensinar uma lição importante a ele. Assim os heróis conseguem passar por seus próprios preconceitos, se reconciliam com seus parceiros e terminam seus antigos projetos. Dentro do processo também mostra que a Disney pegou um diálogo do projeto de Goldman, nele, o personagem disse: “Se você quer ser um elefante, você pode ser um elefante”. Na versão da Disney, o personagem Judy diz: “Você quer ser um elefante quando crescer? Seja um elefante. Porque em Zootopia. Você pode ser o que quiser. ” O processo também alega que “embora a companhia de Walt Disney reforce seus direitos autorais, ela desenvolveu uma cultura que não apenas aceita copiar o material original dos outros, como encoraja isso. ” Para ilustrar essa afirmação, cita diversos outros casos de projetos passados do estúdio que copiavam obras já existentes. Como seria o caso de Rei Leão, que copiou Kimba o leão branco de Osamu Tezuka; Toy Story com The Christmas Toy de Jim Henson; Monstros S.A. com Wise G’Eye de Stanley Mouse; UP e Above Then Beyond de Yannick Banchereau; Frozen com O Boneco de Neve de Kelly Wilson e por último, Divertida Mente que copiou Cortex Academy, de Fréderic Mayer e Cédric Jeanne. Fonte: http://www.lpm-blog.com.br/?tag=kimba-o-leao-branco Fonte: http://aminoapps.com/page/furry-amino-espanol/478108/zootopia-es-un-plagio-disney-enfrenta-demandas 2.1 DEFESA DA DISNEY Diferente do que se poderia imaginar em um processo como este, a defesa da Walt Disney Studios, provida pela O'Melveny & Myers LLP e representada por Daniel M. Petrocelli, se sucedeu como réplica durante todas as audiências. Os advogados da produtora alegam que Goldman estaria se aproveitando do sucesso milionário de “Zootopia: Essa Cidade é o Bicho!”, durante várias declarações fica clara a intenção de, muito mais do que se defender, desacreditar o roteirista. Segundo a gigante Walt Disney, os trechos de diálogos anexados durante o processo seriam considerados insignificantes se analisadas no contexto de “Zootopia” uma vez que este, teria mais de 20 mil palavras de diálogo. Para seus advogados, o diálogo tanto quanto uma linha de descrição dos dos personagens teriam sido pinçadas dentro de um gigantesco contexto. “This is just another example in a long history of plaintiffs coming out of the woodwork after a motion picture has achieved critical and financial success to claim credit — and proceeds — where none is due.”; “Zootopia runs nearly two hours and contains about 20,000 words of dialogue, yet plaintiff alleges just one sentence that is similar to the dialogue in Looney and one sentence that resembles a description of one Looney character in the complaint.”- (Trechos das declarações em nota da Disney). Diferente do que se poderia imaginar em um processo como este, a defesa da Walt Disney Studios, provida pela O'Melveny & Myers LLP e representada por Daniel M. Petrocelli, se sucedeu como réplica durante todas as audiências. Os advogados da produtora alegam que Goldman estaria se aproveitando do sucesso milionário de “Zootopia: Essa Cidade é o Bicho!”, durante várias declarações fica clara a intenção de, muito mais do que se defender, desacreditar o roteirista. Segundo a gigante Walt Disney, os trechos de diálogos anexados durante o processo seriam considerados insignificantes se analisadas no contexto de “Zootopia” uma vez que este, teria mais de 20 mil palavras de diálogo. Para seus advogados, o diálogo tanto quanto uma linha de descrição dos personagens teriam sido pinçadas dentro de um gigantesco contexto. “This is just another example in a long history of plaintiffs coming out of the woodwork after a motion picture has achieved critical and financial success to claim credit — and proceeds — where none is due.”; “Zootopia runs nearly two hours and contains about 20,000 words of dialogue, yet plaintiff alleges just one sentence that is similar to the dialogue in Looney and one sentence that resemblesa description of one Looney character in the complaint.”- Trechos das declarações em nota da Disney. As alegações da Disney surtiram efeito uma vez que, possuem e destacaram muito mais materiais gráficos e criativos, tal como linhas de diálogo, do que Goldman foi capaz de trazer ao julgamento. Em suas alegações públicas a empresa reafirmou que as alegações do processo seriam falsas e que a empresa defenderia sua honra vigorosamente na corte, no dia do julgamento. “Mr. Goldman’s lawsuit is riddled with patently false allegations,”“It is an unprincipled attempt to lay claim to a successful film he didn’t create, and we will vigorously defend against it in court.” - Disney ‘spokesperson’ para o site Deadline News. Mais tarde os argumentos, a quantidade de material apresentado e a influência da produtora levaram o caso a ser arquivado, por falta de evidências da parte de Goldman. Para o Juiz Michael Fitzgerald da Corte de Distrito dos Estados Unidos “as diferenças gráficas entre os personagens sobrepõem as similaridades”. A decisão do juiz em arquivar o caso tem respaldo no fato de que a Walt Disney Studios apresentou evidências substanciais quanto à principal diferença entre “Looney” e “Zootopia”, que seria o aspecto infantil e fofo em contrapartida da criação séria com perfil obscuro de Goldman. http://br.web.img2.acsta.net/c_640_320/newsv7/16/03/08/11/53/408288.jpg 3 CONCLUSÃO O estudo de caso realizado neste trabalho acadêmico traz luz as principais diferenças entre as escolas européia e americana do Direito Autoral. Das últimas décadas do Século XX até o presente momento, é possível notar mudanças no setor legal norte-americano que garantem e perpetuam a proteção do domínio de indústrias como forma de manutenção do setor econômico. A seguir este padrão de predominância dos interesses econômicos sob o interesse moral, temos como exemplo a gigante da indústria do entretenimento, Walt Disney Inc. O personagem símbolo da companhia, Mickey Mouse, que se trata de um ativo de cerca de US$ 5 bilhões com alcance e reconhecimento a nível global, foi centro de grandes discussões e conquistas no que tange a regulamentação de copyrights por parte dos norte-americanos em função de leis que renovaram seu copyright duas vezes. Deste estudo, as primeiras conclusões são que, de fato, há notável semelhança entre os trabalhos de Goldman e da Disney, mas que estas não se sobrepuseram ao fator comercial, uma vez que, ainda que a ideia ou “essência” tivesse origem no trabalho de Goldman, a criação e investimento e execução de fato, foram feitas pela Disney. No Brasil, que segue a escola européia, o direito é natural do autor a partir do momento em que de fato se é criado material partindo da ideia. Nos Estados Unidos, o copyright é muito mais comercial, sendo as indústrias do entretenimento e tecnologia as principais fontes de superávit do país e estas as principais utilizadoras das leis de direito autoral no país. A conclusão final para este caso é portanto, que, ainda que existam acordos internacionais que prevejam a proteção do direito de autor, as diferentes origens das leis que cumprem o acordo levam também as diferentes interpretações do direito e respondem às necessidades específicas de cada Estado. 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA 1. Disney Accused of Stealing ‘Zootopia’ From ‘Total Recall’ Screenwriter. Variety, 2017. Disponível em:<http://variety.com/2017/biz/news/disney-gary-goldman -zootopia-copyright-1202013303/ > Acessado em 07 de agosto de 2017; 2. 'Zootopia' Copyright Suit Squelched for Now. Law.com, 2017. Disponívem em: <http://www.law.com/sites/almstaff/2017/07/12/zootopia-copyright-suit-squelched-fo r-now> Acessado em 09 de agosto de 2017; 3. Disney Ducks 'Zootopia' Copyright Case, For Now . Law360, 2017. Disponívem em: <https://www.law360.com/articles/938389/disney-ducks-zootopia-copyright-case-for- now> Acessado em 09 de agosto de 2017; 4. Disney Wants 'Zootopia' Copyright Case Killed. Law360, 2017. Disponível em:<https://www.law360.com/articles/927375/disney-wants-zootopia-copyright-case- killed> Acessado em 11 de agosto de 2017; 5. Disney Can’t Toss ‘Zootopia’ Copyright Suit, Writer Says. Law360, 2017. Disponível em:<https://www.law360.com/articles/931981/disney-can-t-toss-zootopia- copyright-suit-writer-says> Acessado em 11 de agosto de 2017; 6. PEREIRA, Larissa Andrade Teixeira. Os direitos autorais no cenário internacional: regulamentação vigente e orientações político-econômicas. Conteudo Juridico, Brasilia, 2015. Disponivel em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.54974&seo=1>. Acesso em: 11 de agosto de 2017.
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