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Marina Middendorf, R.A. 21060314; Rebeca Ivasco, R.A. 21027914; Trajetórias Internacionais do Continente Africano, Prof. Acácio A. Santos . Resenha sobre o filme “Le Mandat”. LE MANDAT (Ousmane Sembène, 1968) Nascido no Senegal, Ousmane Sembène é um diretor reconhecido pela importância de seu material para os registros etnográficos, apesar de não trabalhar oficialmente com etnografia. Seus principais temas de trabalho são o colonialismo, o tradicionalismo, o capitalismo, o patriarcado e religião. Seu foco é a identidade africana, em relação ao seu próprio descobrimento e não em contrapartida ao ocidente. Le Mandat retrata o cotidiano de Dakar, capital senegalesa, com vislumbres do dia a dia nas ruas da cidade, mulheres em seus caminhos para levar comida para casa, crianças a brincar, homens ao cortar o cabelo e vendedores ambulantes com mercadorias que vão de galões d’água a sutiãs. Das estruturas religiosas, destacam-se as mesquitas islâmicas em contrapartida das religiões tradicionais, que geram confusões durante o filme ao misturar diversas culturas em um só lugar. O personagem principal é nomeado Ibrahima, uma clara influência da religião islâmica, fazendo referência ao nome Abraão. Pai de família bígama e homem religioso, o personagem se encontra em situação de vulnerabilidade por estar desempregado há quatro anos, sendo estas últimas uma questão controversa, pois o mesmo não sai em busca de trabalho. A estrutura familiar é constituída por um casamento bígamo, onde há, no caso do personagem principal, a presença de duas esposas e cada qual com sua própria residência. Neste filme em particular, as mulheres são colocadas em posição submissa tal como as crianças, quase que para emoldurar as cenas, mas esse fato não necessariamente representa a visão do autor da obra, é sim uma escolha de contextualização. As crianças nesse contexto de “emolduração” representam a influência da cultura ocidental a partir de uma cena onde uma menina negra brinca com uma boneca branca. O sobrinho de Ibrahima, Abdou, faz o início da trama do filme ao ir trabalhar em Paris e enviar para o tio uma quantia em dinheiro a ser retirada no correio e, representa uma amostra da sociedade africana que convive com a pobreza e a falta de emprego e emigra em busca de melhores condições. Sem documentos no entanto, o tio Ibrahima não consegue retirar a ajuda do sobrinho no correio e em busca da documentação fará dívidas e esbarrará com trapaceiros, representando uma outra perspectiva do povo de Dakar que é a falta de acesso ao auxílio público e conhecimento. Ao final deste filme, fica claro a questão do orgulho do povo africano quando o personagem se recusa a admitir aos demais e a si próprio a falta de dinheiro, ao assumir que, a escolha de Sembène em ressaltar essa característica. não se dá de forma aleatória e faz questionar a influência também deste comportamento no desenvolvimento africano. Uma conclusão importante deste filme e sua importância etnográfica é dada ao final com a fala do carteiro que afirma ao lamentoso Ibrahima “você, suas esposas, seus filhos e todos nós mudaremos o país”, fazendo uma referência nostálgica de valores antigos gerando uma auto reflexão do personagem através de cenas retrógradas escolhidas pelo diretor para representar sua nova percepção e vontade de avançar frente a um futuro mais próspero.
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