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Aula 02 - Direito Reais - Posse
A posse como estado de aparência – A posse é uma relação de fato entre a pessoa e a coisa, ou seja, é um estado de aparência juridicamente relevante, cujo fato é protegido pelo direito.
Com isso, há proteção não somente porque aparenta um direito, mas também afim de evitar violência e conflito. Assim a lei protege o possuidor ainda que este não tenha relação jurídica perfeita com a coisa, tanto que nos termos do art. 1.210 do CC legitima a defesa da posse através da reintegração, manutenção e interdito proibitório.
Observe-se que este estado de aparência inicialmente poderá se transformar em propriedade com o usucapião através do tempo.
O prazo da posse é que gera proteção no juízo possessório permitindo a concessão de liminar “initio litis” se a posse questionada for de menos de ano e dia conforme dispõe o art. 924 do CPC.
Posse e Propriedade
Em realidade não há distinção entre posse e propriedade já que a posse é o fato que permite e possibilita o exercício do direito de propriedade, posto que quem não tem posse não pode se utilizar da coisa. No entanto para maior clareza, o tema é dividido em “ius possidendi e ius possessionis” 
Ius possidendi (direito de possuir) – significa dizer que é o direito de posse fundado na propriedade, ou seja, o possuidor tem a posse e também é proprietário. A posse nesse caso é o objeto de um direito real pois o titular pode perder a posse e nem por isso deixa de ser proprietário.
Ius possessionis (direito a posse) - significa o direito fundado no fato da posse. O possuidor nesse caso pode não ser o proprietário, não obstante essa aparência encontra proteção jurídica. Essa é a razão do artigo 1.196 do Código Civil.
Ius possidendi esclarece Caio Mário é o direito de possuidor, é a faculdade que tem uma pessoa por já ser titular de uma situação jurídica, de exercer a posse sobre determinada coisa. O proprietário, o usufrutuário, locatário têm o ius possidendi sobre o objeto envolvido na respectiva relação jurídica.
Ius possessionis é direito originado da situação jurídica da posse, e independe da preexistência de uma relação jurídica. Aquele que encontra um objeto e o utiliza, não tem ius possidendi, não obstante tenha o ius possessionis, porque procede como possuidor, embora lhe falte um título para possuir. O que cultiva uma gleba abandonada tem jus possidendi. A lei confere ao possuidor com fundamento no ius possessionis, defesas provisórias, ainda por lhe faltar o ius possidendi.
Vale observar que não será posse e portanto não merece proteção, a relação entre o ser humano e a coisa que não apresenta utilidade social.
De um modo geral, posse e propriedade têm elementos comuns, qual seja, a submissão da coisa à vontade da pessoa. A posse na verdade é uma forma de exercer o direito de propriedade.
Conceito de posse – Teorias
O conceito de posse se desdobra em dois elementos integrantes: o Corpus e o animus 
O “corpus” é a relação material do homem com a coisa ou a exterioridade da propriedade e essa ligação material ocorre em função econômica da coisa para servir a pessoa.
Em suma, não podem ser objetos de posse os bens não passíveis de ser apropriados.
O “animus” é o elemento subjetivo ou seja, é a intenção de se apropriar da coisa como se fosse o proprietário dela.
Desse desdobramento, surgiram duas grandes teorias para explicar o conceito de posse. São elas: Teoria Subjetiva de Savigny e Teoria Objetiva de Ihering .
Pela teoria subjetiva, para que se caracterize posse, o titular dela precisa ter intenção de adquirir a sua propriedade e essa intenção é o elemento subjetivo. Com isso, para essa teoria, o locador, depositário e comodatário que apenas tenham o poder físico são meros detentores e portanto não gozam de proteção jurídica se forem turbados no uso e gozo da coisa que estiver em seu poder e para tanto deverá se dirigir a pessoa que lhe conferiu a detenção para invocar a proteção possessória.
Essa teoria sustenta que é inadmissível a posse por outrem já que se não houver vontade de ter a coisa como própria, haverá apenas detenção e não posse propriamente dito.
Em conclusão, a Teria de Savigny sustenta que posse é um fato que converte em direito porque a lei a protege, de modo que em linhas gerais:
a posse somente se configura pela união de corpus e animus
posse é o poder imediato de dispor fisicamente do bem, defendendo contra agressões de terceiros
a mera detenção não possibilita invocar os interditos possessórios devido a ausência do ânimo de domínio.
Por outro lado pela teoria objetivista de Ihering, para que se constitua posse, basta o corpus, sustentando que o “animus” está implícito no poder de fato exercido sobre a coisa.
Segundo essa teoria, diga-se de passagem, adotada pela legislação brasileira, o “corpus” é o único elemento suscetível de comprovação e o objetivismo dessa teoria que dispensa a intenção de ser proprietário, resta por permitir considerar como possuidor igualmente o locatário, o comodatário, o depositário e outros idênticos.
Assim para Ihering, a posse é a exteriorização da propriedade e portanto:
a posse é condição de fato da utilização econômica da propriedade
o direito de possuir faz parte do conteúdo do direito de propriedade
a posse é meio de proteção do domínio
a posse é uma rota que conduz a propriedade
Por fim, para o direito civil brasileiro, a posse não requer nem a intenção de dono e nem o poder físico sobre o bem, apresentando-se como uma relação entre a pessoa e a coisa em vista da função socioeconômica desta, concluindo que para que haja posse, além dos elementos constitutivos de Ihering, deve conter como ato jurídico que é
sujeito capaz
objeto (coisa corpórea ou incorpórea)
uma relação de dominação entre o sujeito e o objeto

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