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Tópicos em Libras: Surdez e Inclusão

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Tópicos em Libras: surdez e inclusão / Aula 1 - Diferença, inclusão e identidade na sociedade contemporânea
IQue tal começarmos esta disciplina já com uma parte prática? Muitas vezes os ouvintes acreditam que as palavras em LIBRAS são construídas letra a letra, mas isso não é bem verdade. Entretanto, para muitas palavras, especialmente nomes de pessoas e lugares, as letras do alfabeto compõem uma palavra da mesma maneira como ocorre em qualquer língua.
Datilologia (alfanumérico)
Fonte: https://youtu.be/r9FUy3qPnkk
No vídeo ao lado, você assiste a um surdo sinalizando as letras do alfabeto manual da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Ao final, ele também irá sinalizar os números de 0 a 9.
Aproveite para rever quantas vezes quiser, pois esse é o seu primeiro contato com a LIBRAS como ouvinte, para aprender o "bê-á-bá" da comunidade surda.
LIBRAS em prática - Primeiro passo
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=CRZ2XUUBUxg
Neste vídeo, você verá uma série de sinais (nome, sinal, idade, casa/morar, onde) aplicados fora de contexto, somente para você conhecer as palavras usadas na apresentação pessoal.
Informação Cultural (IC): Nas comunidades sinalizantes é hábito apresentar-se não somente informando o nome, mas também com um SINAL. Esse SINAL pode ser entendido como uma espécie de “batismo” dentro dessas comunidades. Cada pessoa tem um SINAL próprio que faz referência a alguma característica particular dela (somente referência física; física com a primeira letra do nome; um evento marcante etc.).
LIBRAS em prática - Segundo passo
Fonte: https://youtu.be/ZHEz_23utwc
Neste vídeo, você viu os sinais aplicados dentro de frases, em contextos de uso efetivo da língua. No primeiro vídeo, as palavras estavam isoladas; neste, elas são empregadas em situações práticas de comunicação em LIBRAS.
Informação Linguística (IL): as frases em Libras, muitas vezes, omitem algumas palavras que são usadas; em outras palavras, são construções sintéticas, econômicas. Lembre-se: Libras não é a tradução de língua portuguesa. Quer um exemplo? Em português, dizemos “qual é o seu nome?”. Em LIBRAS basta usar as palavras “seu” + “nome” e a interrogação é marcada pela expressão facial gramatical.
Entendendo o cenário
Faremos, nesta primeira aula, algumas considerações sobre inclusão, identidade e diferença, principalmente no âmbito dos estudos sobre surdez e língua de sinais.
Ao verificarmos a história da educação de surdos e também de como a sociedade os tratou, verificaremos uma série de equívocos que vão desde considerar a pessoa surda um “deficiente mental”, em sentido mesmo pejorativo, até obriga-los a métodos educativos que visavam apagar as diferenças entre surdos e ouvintes, impondo aos surdos a língua e a cultura oral.
Para saber mais sobre essas estratégias para a inclusão, leia Lei de Libras e o decreto que a regulamenta.
VOCÊ SABIA?
As pessoas surdas não são mudas. O termo “surdo-mudo” é fruto de um equívoco do passado. Os surdos têm, salvo exceção, o aparelho fonador preservado. Se aparentemente não falam, isso se deve a dificuldades impostas pela memória auditiva e não percepção do som que emitem. Por isso, não se deve falar “surdo-mudo”.
Vamos começar, então, refletindo um pouco sobre a sociedade contemporânea e suas “novas” formas de relacionamento, construção de identidade e preservação da cultura; em especial, as influenciadas pela chamada globalização. Para tal, é necessário que se investiguem as relações entre língua, cultura e sociedade.
A sociedade contemporânea reivindica uma revisão das próprias formas de se pensar a língua, o papel e lugar da(s) ciência(s) política(s) que a tomam como objeto. Nesse sentido, a sociedade é convocada a enfrentar as constantes incompletudes, provocadas por um mundo globalizado, onde o global e o local se interpenetram e as diferenças não se encaixam na “completude” (Bauman, 2005).
Mundo moderno, comunicação e identidade
Fonte: https://youtu.be/QYCqHUq0Hpk
As novas formas de relacionamento (através da internet, chat etc.) e o intercâmbio cultural são significativamente mais velozes e dinâmicos do que no passado. Além da internet, o celular é hoje um aparelho quase que indispensável à sobrevivência na sociedade urbana. Este aspecto atinge inclusive as pessoas surdas, cujo uso do celular é bastante frequente, tornando-se um excelente meio de comunicação para esse grupo social.
Além disso, a própria disciplina que você está fazendo neste exato momento faz parte da evolução tecnológica que permite a comunicação a qualquer hora e em qualquer lugar, como você pôde observar no vídeo acima.
Através dessas novas relações, o local e o global passaram a se interpenetrar constantemente, dificultando sua identificação e tornando incoerente um conceito de identidade (linguística e cultural) que não seja o mesmo para qualquer indivíduo; em outras palavras, uma identidade fluida, comum a todos.
Mas será que somos iguais?
Língua e identidade para os surdos
Esse fenômeno da crise de identidade pode ser observado em vários setores da sociedade. Em relação aos surdos e às comunidades sinalizantes não é diferente. Após vários anos de total exclusão e subjugamento a padrões culturais inerentes a uma vida tipicamente ouvinte, os surdos – conduzidos pelas pesquisas na área da linguística, da educação e outras – puderam reconhecer-se como seres dotados de uma língua. Suas comunidades linguísticas apresentam peculiaridades culturais a elas inerentes.
Os surdos passam então a afirmar suas identidades com base, principalmente, em características linguísticas e culturais. Devido aos longos anos de uma experiência não favorável ao seu reconhecimento, foi necessária a criação de associações diversas, a produção de discurso de defesa e luta, entre outros, que garantissem esse espaço na sociedade.
Desfazendo mitos e preconceitos
Assim, fazer da “identidade” uma tarefa e um objetivo do trabalho de toda uma vida pode ser considerado um ato de libertação: libertação da inércia dos costumes tradicionais, das autoridades imutáveis, das rotinas pré-estabelecidas e das verdades inquestionáveis. A exacerbação disso levou, por um lado, a conquistas imprescindíveis, mas, por outro, a equívocos prejudiciais. Por isso, propomos agora um esquema para que você possa rever algumas informações consideradas “verdadeiras”:
Preconceito X Preconceito
Ouvinte X Surdo
Surdez e a Língua Portuguesa
O Surdo e a Relação Familiar
Preconceito X Preconceito
Muito surdos passaram a negar veementemente a possibilidade de aprendizado da língua portuguesa, uma vez que, para muitos, isso significaria uma perda de sua “identidade surda”.
Atividade
Para finalizar esta aula, propomos a você um desafio. Abaixo você dispõe de alguns termos importantes utilizados nessa aula e a descrição deles. Leia atentamente a descrição e tente encaixar ao termo correto.
GABARITO
Inclusão: Conjunto de ações que visam incluir pessoas portadores de necessidades (educativas) especiais na sociedade como um todo, mas que para tal promove modificações/adaptações também da parte da sociedade para receber e incluir essas pessoas.
Integração: Conjunto de ações que visam integrar pessoas portadoras de necessidades (educativas) especiais à sociedade sem, contudo, exigir mudanças da sociedade.
Sinal: Neste curso, refere-se ao elemento linguístico que corresponde aos itens lexicais formadores do léxico da língua de sinais.
Sinalizante: Refere-se a toda pessoa que domina a língua de sinais e é dela usuário no seu cotidiano.
LIBRAS: Sigla referente a Língua Brasileira de Sinais. Trata-se da língua de sinais utilizada por grande parte dos surdos brasileiros que a têm como primeira língua. A língua brasileira de sinais foi reconhecida como meio legal de comunicação entre pessoas das comunidades de surdos brasileiros através da Lei 10436 de 24 de abril de 2002.
INES: Instituto Nacional de Educação de Surdos, fundado em 1857 pelo Imperador D. Pedro II sob orientação do professor francês Ernest Huet.Resumo do conteúdo
Acredita-se ser de grande relevância tomar a atitude política de referir-se aos surdos, pelos menos àqueles que declaram ter a LIBRAS como L1, com maior frequência, como “sujeitos sinalizantes”. Este termo não precisaria ser restrito a pessoa surda em si, mas aqueles que por sua história de vida percebem sua identidade construída em um contexto de uso de língua de sinais. Se for um surdo sinalizante, esse sujeito não precisará ter medo de usar a sua própria língua, nem se sentirá incapaz de dominar a língua de outros grupos, mesmo que sejam essas de outra modalidade e que, por isso mesmo, apresentem desafios aparentemente instransponíveis. Esse sujeito não é um surdo deficiente; é um sujeito dotado de capacidade linguística.

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