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O documentário e a prática jornalística
Por Marcia Carvalho* http://www.eca.usp.br/pjbr/arquivos/ensaios7_d.htm
O que é um documentário jornalístico? O documentário é o formato de produção audiovisual que lida com a verdade, mostra fatos reais ou não imaginários, o que normalmente chamamos de "não-ficção". Aborda um tema ou assunto em profundidade a partir da seleção de alguns aspectos e representações auditivas e visuais. Para eleger um tema é preciso pensar sobre a sua importância história, social, política, cultural, científica ou econômica. Além disso, não devemos esquecer que o documentário pode reconstituir ou analisar assuntos contem-porâneos de nosso mundo histórico vistos por uma perspectiva crítica. 
Reprodução
O que possibilita desenvolver temas mais corriqueiros ou cotidianos, geralmente tratados por reportagens diárias ou semanais pelas mídias impressa, radiofônica e televisiva. 
Nesse sentido, o documentário pode apresentar diferentes histórias ou argumentos, evocações ou descrições abrindo um espaço de reflexão sobre os principais acontecimentos do Brasil e do mundo, investigando as relações sociais e a realidade de diferentes países e culturas.
A maioria dos temas que consideramos comuns na produção de documentários para o cinema ou para a televisão são as histórias das guerras; biografias (principalmente de personalidades da cultura e da política); reflexões sobre novos comportamentos, sobre a violência ou a sexualidade; ou ainda, a exploração do mundo animal; dos avanços científicos e das crises ambientais.
O documentário tem raízes históricas no cinema, e pode apresentar diferentes "modos" de produção conforme os diferentes momentos históricos na evolução de uma forma, tal como foi exposto por Bill Nichols (2005) a partir da premissa de que o documentário não é uma "reprodução", mas sim uma "representação" de algum aspecto do mundo histórico e social do qual compartilhamos. Esta representação é criada na forma de um argumento sobre o mundo, o que pressupõe uma perspectiva, um ponto de vista, ou seja, uma maneira de organizar o material que irá compor o filme ou vídeo. 
Assim, podemos constatar que o rótulo do documentário é usado para classificar uma grande diversidade de filmes e vídeos, representantes de uma variedade de métodos, tendências, estilos e técnicas. 
O documentário, portanto, coloca em questão o problema do universo de referência e as diferentes modalidades discursivas, podendo utilizar as mais diversas técnicas, tais como o filme ou vídeo de montagem, o cinema direto, reportagem, atualidades, uma produção didático-educativa ou até um filme caseiro feito com uma câmera de celular. 
Dessa maneira, a evolução da história das formas, técnicas e tecnologia empregada para a produção de documentários deve sempre ser analisada em relação ao seu contexto histórico (sua época) e as suas articulações com outras produções audiovisuais contemporâneas ou não, de mesma nacionalidade ou não. 
Também vale lembrar que desde a sua invenção, o cinema esteve associado ao jornalismo, divulgando atualidades com os "cines-jornais" (prática comum anterior a invenção do videoteipe). Ou mesmo, que nos EUA jornalistas interessados em agilizar os métodos de trabalho da reportagem desenvolveram técnicas do Cinema Direto (expressão que surgiu no início dos anos 60, definidora da técnica de filmagem que se tornou opção estética). 
Nada obstante, o jornal e o cinema brasileiros sempre foram influenciados pelo modelo narrativo do jornal e do cinema americano, no cinema com o padrão narrativo de Hollywood e, no jornalismo com o modelo americano dominante de apresentação da notícia. 
De fato, o jornalismo não é somente tema e personagem para o cinema, pois as mediações jornalísticas resistem até hoje com a produção de alguns documentários. Entretanto, existe um discurso contra a produção jornalística deste formato calcado na crítica de uma série de produções voltadas para a televisão que abusam de um discurso frio que se anuncia informativo e de temáticas recorrentes sem o risco de um "tratamento criativo", da poesia, do engajamento político e uma expressão pessoal. 
São produções padronizadas, que seguem a formatação consagrada da reportagem em que se expõe um assunto ou fato alternando sonoras e imagens ilustrativas bem amarradas por uma voz narradora. 
Mas quem disse que para produzir um documentário jornalístico é preciso ser sisudo e abolir um tratamento criativo para se construir um diálogo com o público? Como não levar em conta a possibilidade de um trabalho poético com o som e com as imagens no jornalismo televisivo ou audiovisual? Por que associar a idéia de expressão pessoal ou de engajamento político com a perda da informação, da ética e da credibilidade?
Sabemos, que o principal objetivo de todo documentário jornalístico é buscar o máximo de informações sobre um determinado tema através de entrevistas, uma narração informativa em off, captação de imagens ilustrativas, montagens de material de arquivo, e de uma edição formadora do discurso ou da abordagem sobre um assunto em profundidade, cercando todos os seus ângulos. 
No entanto, o documentário pode apresentar muitos outros formatos dentro dele com o objetivo de não torná-lo cansativo e apresentar de forma variada as informações colhidas de várias fontes. São exemplos o uso de clipes, debates, narrações opinativas e interpretativas, encenações, gráficos e tabelas, edição de outras reportagens da televisão, etc.
Diferente da produção voltada para o cinema, para as produtoras internacionais e brasileiras, o documentário realizado para a televisão possui em média trinta minutos. Na televisão, o documentário está associado à idéia de uma "programação de qualidade" e, talvez por isso, tenha espaço garantido na grade de programação da TV a cabo, com canais específicos que apostam neste formato tais como Discovery e History, além de séries consagradas tais como a Biography ou a produção da BBC. 
No sinal aberto brasileiro, destaca-se a parceria da TV Cultura com a BBC, e o espaço que esta emissora educativa abre para as produções brasileiras de documentários realizados para cinema e vídeo. Na TV Globo, pode-se lembrar o Globo Repórter, que estreou em 1971 com o nome de "Globo Shell Especial", e que nos anos 70, contou com a colaboração de vários cineastas brasileiros, como Eduardo Coutinho, Maurice Capovilla, Walter Lima Júnior, Vladimir Carvalho, entre outros. 
Os documentários produzidos por eles focalizaram muitos aspectos da sociedade brasileira, e hoje são considerados clássicos do gênero documental no Brasil. Entretanto, atualmente, o Globo Repórter tem um formato diferente, com assuntos menos polêmicos. 
Novas práticas jornalísticas 
Nos dias de hoje podemos perceber uma revitalização na produção de documentários para cinema e para televisão. No entanto, há uma diversidade muito grande de tendências e estilos que nos fazem, muitas vezes, questionar sobre quais destes documentários vistos no cinema e na televisão são efetivamente documentários jornalísticos.
Um exemplo instigante é o trabalho do documentarista Michael Moore, que aos vinte e dois anos fundou "A voz de Flint", em sua cidade natal, um dos mais respeitados jornais alternativos dos EUA durante dez anos. Ele já trabalhou na TV, e ganhou reconhecimento com seus documentários para o cinema. O seu trabalho apresenta um tratamento criativo calcado em mediações jornalísticas, com base na investigação, na realização de entrevistas, na pesquisa de várias fontes e materiais de arquivo.
Muitas vezes acreditamos que os problemas de redução de pessoal nas grandes empresas, das linhas de produção globalizadas e do fechamento de industrias são problemas banalizados e redundantes da atual conjuntura política e econômica presente de maneira insistente na cobertura jornalística do cotidiano. 
Mas o filme Roger e eu (1989) de Michael Moore oferece-nos um novo ponto de vista sobre este tema. Também com a imposição de umponto de vista, declaradamente "anti-Bush", o cineasta investiga a violência particular de dois jovens que resolveram se armar até os dentes e tramar um massacre em sua escola em Tiros em Columbine (2002), e sobre a tragédia estopim para "Guerra contra o terrorismo" em Fahrenheit 11/9 (2003).
Estes filmes citados evidenciam o estilo participativo do documentarista. Michael Moore utiliza encenações (desenho sobre a História dos EUA como uma História do Medo), montagens de materiais de arquivo com reportagens da cobertura sobre o tema na televisão (tanto sobre a tragédia em Columbine como na destruição das torres gêmeas), vídeos promocionais/ institucionais, etc. Usa novas técnicas de edição com uma dinâmica e humor bastante particulares, com uma relação direta entre cineasta e tema. 
Também mostra fotos, gráficos e gravuras, e tem a ousadia de selecionar uma trilha musical que comenta a sua edição de imagens a partir do contraste entre o que está sendo dito na canção e o que está sendo mostrado nas imagens, tal como na seqüência em que ouvimos "What wonderful World" e vemos algumas imagens de massacre, violência e morte praticados por vários países ao longo da história mundial em Tiros em Columbine. 
Trata-se de um cineasta engajado que não constrói um discurso ou uma abordagem fria sobre o tema que elege para investigar em profundidade. Por isso, tece comentários, assume a narração impondo a sua voz, confronta e persegue entrevistados em frente da câmera, buscando sempre investigar os fatos através da máxima de "ouvir os dois lados", desafiando o seu próprio tema. Ele explicita os seus métodos e as suas hipóteses, narra as suas impressões e a conquista de novos dados, novas fontes. 
Não se intimida em entrevistar os estudantes da escola de Columbine, Marlyn Manson, ou os deputados que são a favor da guerra, mas não enviam os seus próprios filhos para lá. Com isso, Moore defende o seu ponto de vista ao apresentar argumentos e pesquisa com entrevistas, depoimentos, materiais de arquivo (vídeo, reportagens de TV) e captação de imagens com a sua presença indiscreta constante. 
O resultado de seu trabalho inquieta o espectador principalmente devido ao seu estilo de narração e edição permeada por um humor afiado. Muitas vezes, podemos dizer que Michael Moore parece um repórter investigativo que extrapola o seu envolvimento pessoal com o tema. Visto que os seus documentários apresentam um perfil auto-reflexivo e participativo, mas que não deixa de expor os fatos e investigar os temas com uma lógica argumentativa, assumindo de maneira forte e direta a sua função de narrador que conta uma história. 
Outro exemplo, com estilo próximo ao de Michael Moore, e que também conta com a sua participação como depoente, é o filme A corporação (2004) dos cineastas canadenses Mark Achbar e Jennifer Abbott, com roteiro do autor do livro homônimo Joel Bakan. Este documentário investiga as práticas éticas e sociais que visam o lucro indiscriminado de grandes empresas, com uma narração e edição dinâmica bem arquitetada com a tecnologia digital, além de apresentar um humor apurado e também bastante crítico. 
A voz do documentário parece defender uma causa, construindo argumentos lógicos a partir de um ponto de vista. Este discurso ou abordagem é elaborado com a confecção de várias entrevistas com acadêmicos, executivos, jornalistas, e uma pesquisa sobre a cobertura jornalística destas práticas das corporações com reportagens de TV, além de vídeos institucionais (das próprias empresas investigadas) que nos são apresentados por uma rara voz narradora feminina, que tece comentário, mas também é expositiva e informativa. 
Tanto Michael Moore como estes diretores canadenses conseguem mostrar um importante engajamento político em tempos de apatia, com expressão e humor pessoais, sem perder a credibilidade e a Ética. Trata-se de uma prática da provocação e do debate por meio de uma abordagem de perspectiva crítica e informativa, bastante diferenciada da pasmaceira reiterada da prática do documentário jornalístico televisual. 
Estes filmes prometem informação e conhecimento, descoberta e consciência, questionando o nosso engajamento político diante do mundo histórico representado. O que ganha expressão é o ponto de vista pessoal do cineasta através da entrevista que se torna o ponto de encontro entre cineasta e tema.
O que faz disso um documentário jornalístico é que esta visão particular continua ligada às representações sobre o mundo social e histórico dirigido aos espectadores, tal como na perspectiva do "novo jornalismo" (tendência que narra fatos verídicos com recursos da ficção). Há um confronto reflexivo sobre o tema abordado, os temas não são exatos ou conclusivos, e sim imprecisos e questionáveis. Ou seja, em sintonia com a realidade que desbravamos em nosso dia-a-dia.
Mas afinal, será que estes filmes são exemplos de uma nova prática do jornalismo no cinema? O que é preciso para se fazer um bom e respeitável documentário jornalístico? 
Antes de procurar as respostas para estas questões, desconfie de fórmulas prontas, padrões e formatos consagrados. Hoje percebemos que falta ao jornalista ativar a sua percepção estética e sua consciência social, sem negociação e consentimento com as instituições e com o público, em busca de uma perspectiva informativa sobre o mundo em que vivemos. 
Parece que o segredo para uma nova prática do jornalismo audiovisual está em saber ouvir, desenvolver uma análise crítica sobre os fatos e resgatar o espírito investigativo, que permita contar uma história, que mereça ser contada, confrontando o tema, as fontes e o próprio jornalista. E com isso, quem sabe, despertar paixões, ódios e debates, tais como os diálogos e a importante função de narrar uma história com vigor presentes nos documentários de Michael Moore. 
Afinal, um jornalismo que não é provocativo está fadado ao esquecimento. 
Referências bibliográficas 
AMADO, Ana. "Michael Moore e uma narrativa do mal". In: MOURÃO, Maria Dora e LABAKI, Amir. O cinema do real. São Paulo: Cosac Naify, 2005, pp. 216-233.
DA-RIN, Silvio. Espelho partido: tradição e transformação do documentário. Rio de Janeiro: Azougue, 2004.
KOTSCHO, Ricardo. A prática da reportagem. São Paulo: Ática, 1995.
LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2001. 
____________. A estrutura da notícia. São Paulo: Ática, 2004.
NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas: Papirus, 2005.
RAMOS, Fernão. "O que é documentário?". In: Estudos Socine de cinema. Porto Alegre: Sulina, 2001, pp. 192-206. 
______________.(org.) Teoria Contemporânea de Cinema: Documentário e narratividade ficcional. Vol. II. São Paulo: Senac, 2005.
SENRA, Stella. "Cinema e jornalismo". In: XAVIER, Ismail. O cinema 
no século. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
WINSTON, Brian. "A maldição do 'jornalístico' na era digital". In: MOURÃO, Maria Dora e LABAKI, Amir. O cinema do real. São Paulo: Cosac Naify, 2005, pp. 14-25.
WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Lisboa: Presença, 2002.
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*Marcia Carvalho é Radialista formada pela UNESP, Mestre em Comunicação e Estéticas Audiovisuais pela ECA-USP, e doutoranda em Multimeios na UNICAMP. É professora do curso de Comunicação Social, habilitações em Jornalismo e Radialismo, na Universidade Cruzeiro do Sul.

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