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Resenha Paz e Guerra entre as nações

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Resenha do capítulo dois do livro “Paz e Guerra entre as Nações”, de Raymond Aron.
Laura Góes Rodrigues
Universidade Federal do Amapá
Raymond Aron, autor do livro, foi um filósofo e sociólogo político. Nascido em 1905, viveu durante o período da Primeira e Segunda Guerra Mundial. Ficou conhecido pelo seu humanismo e liberalismo, criticando as tendências totalitárias dos regimes marxistas. Seus livros são marcados pelas questões de violência e conflito entre os Estados, como é perceptível no livro Paz e Guerra entre as Nações. 
Aron começa o capítulo dois, “O poder e a força ou Os meios de política externa”, definindo o conceito de poder e potencia. O poder de um indivíduo, para ele, é a capacidade de fazer, de influir sobre a conduta ou os sentimentos de outros indivíduos. Sendo assim, o poder político seria uma relação de influencia entre os homens. Há também a diferenciação entre potencia defensiva e potencia ofensiva. A primeira é a capacidade de uma unidade política de resistir á vontade de outra, e a segunda é a capacidade de impor sua vontade sobre outras. Para ele, a política internacional está organizada na forma de anarquia, onde todos os Estados são soberanos, em constante competição (apesar do estado pacífico) uns com os outros.
A política para Aron é a luta pelos indivíduos e os grupos pelo acesso aos postos de comando, partilha de bens escassos e a busca de uma ordem equitativa. Os que governam em virtude da lei possuem uma potencia maior ou menor, de acordo com sua ascendência, seu prestígio. Essa potencia, no entanto, não é definida da mesma maneira que as outras. A teoria política pode ser concebida em termos de uma “conciliação entre aspirações complementares e divergentes”.
A noção de poder, para ele, é muito subjetiva, podendo ser prejudicial ao estadista que a tome como um conceito preciso. Já o conceito de força se divide em: força potencial, todos os recursos materiais, humanos e morais que uma unidade possui teoricamente, e força real a quantidade desses recursos que no caso de guerra (ou até mesmo de paz) poderiam ser usados na prática. A relação entre poder e potencia na unidade política se torna claro, havendo a intermediação de um ou mais homens (os que “chegam ao poder”, representantes externos da unidade política). Nesses casos, os “homens de poder” são também “homens de potência”, influenciando o modo de agir de seus semelhantes. Poder e potência são muito confundidos no cenário internacional, em parte pelo papel que os já mencionados “homens de poder” exercem. A potência no cenário internacional é diferente da potência no cenário interno de cada país. 
Muitas tentativas houveram de determinar os elementos que constituem a potência e a força, mas nenhuma das enumerações se mostrou completa ou incontestável. Estudiosos e teóricos como Spykman, Morgenthau e Steinmetz fizeram listas com os possíveis elementos, e todas foram parecidas. Dados geográficos, matérias-primas, dados econômicos, técnicos e dados humanos se repetem. Esses fatores influenciam a força (potencial ou real), mas apresentam falhas.
Aron diz que os fatores considerados devem ser homogêneos, a lista deve ser completa (os elementos devem ser expressos por conceitos que cubram a diversidade concreta dos fenômenos, que variam dependendo do período histórico), e afirma que, por fim: “a classificação deve permitir compreender porque os fatores de potência variam de século para século e por que a medida de potência é essencialmente aproximativa”.
Ele define, então, três elementos fundamentais que determinam a potência, válidos para a análise da potência em todos os níveis: espaço, recursos materiais disponíveis e conhecimento, e a capacidade de ação coletiva. Nenhum desses elementos está imune ás influencias históricas. Define também duas etapas principais do estudo dos elementos que compõe a força global das unidades políticas: estabelecer quais são os fatores da força militar e a análise a respeito ás relações entre a força militar e a própria coletividade. A proporcionalidade entre os recursos da coletividade e a força militar torna-se mais rigorosa á medida que a guerra se racionaliza, e a mobilização dos civis e dos meios de produção passa a ser considerada como normal e a ser praticada regularmente. 
Aron considera uma ilusão a idéia de que medir os recursos disponíveis torna possível medir a força militar e a própria potência. “A conquista de um vasto império por um líder que chefia um pequeno grupo de aventureiros pertence ao passado. Hoje, esse grupo precisará, quando menos, começar pela conquista de seu próprio país, para lhe servir de base”. 
Durante os tempos de paz, a potência de uma unidade política pode ser medida pelos mesmos critérios anteriores, dependendo também dos meios legítimos admissíveis no sistema internacional. Deve-se, então, considerar os meios não-violentos.
A diplomacia tradicional costumava dividir as unidades políticas em potências grandes ou pequenas, com as grandes tendo certos “benefícios” sobre as outras (sendo consultada em problemas do sistema internacional, por exemplo) por sua maior força militar, território e população. No entanto, após a Segunda Guerra Mundial, essa relação foi gradualmente desaparecendo, uma vez que com o surgimento de armas atômicas os Estados (grandes ou pequenos) não mais se julgavam obrigados a obedecer as “Grandes Potências”, apesar de pressões econômicas e a coerção internacional ainda pressionarem Estados menores ou menos poderosos a tomar decisões. Como Aron diz, o simulacro da violência é suficiente para que os Estados mais fracos cedam. A diplomacia, sem meios de pressão econômica ou política, sem violência simbólica ou clandestina é pura persuasão, e não existe.
Em um sistema internacional, o status de uma unidade política é determinado pelo volume de recursos que ela pode consagrar a ação diplomática e estratégica. Uma grande potência pode dedicar uma grande quantidade de recursos, conseguindo muitos apoiadores. É dessa maneira que exercem a pressão sobre os outros Estados. No entanto, está sujeita a viver constantemente se preocupando com possíveis ameaças, uma vez que o sistema internacional é (independente de possuir grandes potências ou não), anárquico. 
Raymond Aron discorre sobre vários temas, alguns ainda aplicáveis a realidade do século XXI, outros que tornam possível compreender o caminho histórico percorrido até aqui. As definições de potência e força continuam atuais, assim como a idéia de que os Estados não mais interagem por meio da violência e sim possuem outros meios de exercerem sua influencia, uma vez que a possibilidade de uma guerra atômica seria devastadora. Todos os Estados (ou quase todos) evitam conflitos que sejam diretamente violentos, para evitar uma guerra maior. Ele usa a anarquia internacional como justificativa para que os Estados permaneçam cuidando primeiramente de si, tomando cuidado com as possíveis ameaças (apesar de que o conceito de anarquia internacional não pertence a ele, apenas faz uso nesse texto).
Ele usa de embasamento histórico, com diversos exemplos, para justificar, explicar e, em alguns casos, mostrar as exceções de suas idéias, as apresentando de maneira lógica. Não há nenhum absurdo em nenhum dos conceitos expostos, apesar de ter sido escrito no século XX. Suas idéias sobre guerra e violência permanecem boas, apesar de que algumas poucas modificações poderiam ser feitas devido ao intenso desenvolvimento científico e tecnológico que ocorreu no final do século dezenove até atualmente. Os recursos dos Estados, nesse caso, podem ter mudado, uma vez que o “período digital” teve inicio.

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