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Comunicação impressa e a Bíblia de Gutenberg Geraldo Jantzen O acúmulo de conhecimentos foi uma das formas que nós, humanos, encontra- mos para melhorar nossa qualidade e condição de vida. A principal ferramenta desen- volvida para o registro desses conhecimentos foi a fala, que gerou os idiomas, códigos de sons que combinados entre si, geraram os signos sonoros, cujos significados são compreensíveis para todos nós. Uma nova ordem social instaurou-se, então; o código padronizado passou a ser comum a todos e a forma de acumular conhecimentos era através da memória, dando início à era da tradição oral, onde os acontecimentos, inovações tecnológicas e outras informações da cultura eram transmitidas de uma geração para outra pela repetição oral. Alguns exemplos desse período são a Ilíada, de Homero, e o Velho Testamento da Bí- blia. Com o passar do tempo, os conhecimentos acumulados eram muitos, e se tornou complicado e inseguro confiar apenas na memória dos indivíduos para garantir a sua preservação e transmissão. Por isso, houve a necessidade da criação de uma forma que garantisse maior longevidade e integridade para as informações a serem guardadas. A escrita foi a ferra- menta inventada para suprir essa necessidade. A escrita é um conjunto de símbolos gráficos que representam os sons da fala e, por meio deles, as ideias e conceitos que, uma vez grafados em uma ordem estabelecida e sobre um suporte duradouro, passaram a garantir uma transmissão bem mais segura do conhecimento que os grupamentos humanos foram acumulando. Os egípcios foram um dos primeiros povos a possuírem uma forma de escrita, eles desenvolveram a escrita hieroglífica. Eram desenhos complexos, com significados próprios e de difícil compreensão, ou seja, uma escrita pictórica. O desenho dos símbolos foi sendo simplificado na medida em que houve a ne- cessidade de escrever mais rápido, dando origem à escrita demótica. Dessa forma; os símbolos da escrita egípcia se tornaram um pouco mais abstratos; porém, ainda eram complexos pelo seu grande número. Atualmente algumas sociedades têm escritas com características semelhantes, como por exemplo, as escritas chinesa e japonesa. Esse tipo de escrita é classificada como ideográfica e não pictórica (como a antiga egípcia). Na linha do tempo, outros povos desenvolveram tipos de escritas para represen- tar os sons da fala; os fenícios foram os primeiros a desenvolver um alfabeto desse tipo, criando a escrita fonética. Em seguida outros povos, como os gregos, desenvolveram um alfabeto do mesmo tipo. Os mais diversos tipos de alfabetos foram desenhados ao longo do tempo. Atu- almente o mais usado no ocidente é o Alfabeto Latino, onde as letras maiúsculas são herança do Império Romano; as minúsculas foram criadas depois por Carlos Magno e os algarismos são oriundos da escrita árabe. Os manuscritos foram utilizados durante muitos séculos para armazenar o co- nhecimento humano. Para a escrita foram usados os mais diversos tipos de suporte, co- mo por exemplo argila, madeira, pedra, papiro. No ocidente, durante a Idade Média, o suporte mais utilizado foi pergaminho feito de couro de ovelhas ou cabras, raspado e especialmente preparado para receber textos e desenhos feitos com tintas, pincéis e pe- nas. Mas só no século XII que já havia sido inventado na China, foi introduzido na Eu- ropa pelos árabes, através da Península Ibérica, e logo se espalhou por todo o continen- te. Por ser mais fácil e mais barato de produzir que o pergaminho, o papel propiciou o desenvolvimento da produção de textos e da gravura artística. As primeiras técnicas de impressão desenvolvidas nessa época na Europa eram a xilogravura (matrizes de madeira) e a calcografia (matrizes metálicas). Na xilogravura, a matriz é de madeira, onde as áreas de contragrafismo (áreas que não serão impressas) são cavadas e as áreas de grafismo (áreas que serão impressas) em alto-relevo. A matriz é entintada e sobre ela é pressionado o suporte de impressão, que pode ser papel ou per- gaminho. No caso da calcografia ocorre o inverso: as áreas de grafismo é que são cava- das com o auxilio de ferramentas especiais, o gravador faz sulcos na matriz de metal correspondentes às imagens. Depois que a matriz está pronta, a tinta é espalhada sobre ela, e se aloja dentro dos sulcos feitos na matriz, deixando assim a superfície metálica limpa. Depois o papel é umedecido e pressionado sobre a matriz com a ajuda de uma prensa, assim realizando a impressão. Em 1450, o xilogravador e ourives alemão Johanes Gensfleisch von Guttenberg, gravando uma matriz de xilografia cometeu um erro, trocou uma letra por outra. Para consertar o erro, ele removeu a letra errada fazendo um buraco e encaixou em seu lugar um pedaço de madeira com a letra certa. Assim ele percebeu que seria mais fácil e rápido separar cada letra em um pe- queno bloco de madeira (tipos móveis) para juntá-las em seqüência e assim formar as palavras. Mais tarde os tipos móveis passaram a ser fundidos em metal, o que aumentou a sua durabilidade e a qualidade da sua impressão. Esse procedimento foi utilizado por Guttenberg na confecção do primeiro im- presso da história gráfica: a Bíblia de 42 Linhas, com uma tiragem superior a 100 exemplares, algo inimaginável para a época, cuja impressão foi feita em outro invento de Guttenberg: a prensa manual, a primeira "máquina" gráfica. Hoje sabemos que exis- tem registros históricos anteriores de matrizes semelhantes às de Guttenberg, mas do sistema conjugado de tipos móveis e impressão mecanizada que ele desenvolveu não há registro, por isso ele é conhecido nos dias de hoje como o "Pai da Imprensa". A invenção de Guttenberg foi de extrema importância para o desenvolvimento da humanidade. Com a produção “industrial” de livros, a propagação do conhecimento possibilitou o desenvolvimento de novas tecnologias em ritmo acelerado. A tipografia, durante 300 anos aproximadamente foi o único processo industrializado de impressão; a litografia só apareceu no século XVIII. A litografia usa matrizes planas de pedra calcá- ria onde as imagens são desenhadas. Era essa a técnica escolhida para os trabalhos que necessitavam de maior qualidade visual. Muitos foram os inventos no século XIX. Fotografia, papéis de qualidade, novos tipos de acabamentos para os impressos, mecanização das técnicas da gravura, aumen- tos da qualidade e da velocidade de impressão possibilitando tiragens cada vez maiores. A evolução dessas novas técnicas chegou ao seu ápice na segunda metade do século XX, e em seguida iniciou-se a revolução nas artes gráficas com a chegada da informáti- ca. Os avanços da indústria gráfica com o advento da informática, por exemplo, grá- ficas rápidas, birôs de serviços, impressões feitas instantaneamente sem o uso de matri- zes são apenas o começo do que está por vir. Muitos setores da economia contribuíram para o desenvolvimento do conheci- mento, mas a indústria gráfica indubitavelmente foi e é ainda vital na difusão do conhe- cimento.
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