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03/04/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2171012&classId=899831&topicId=2191500&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f034&enableForum= Sociologia Jurídica e Judiciária Aula 1: Sociologia Jurídica e Judiciária como Ciência Social INTRODUÇÃO O Direito é considerado um mecanismo de dominação e reprodução ou um instrumento de construção de legitimidade e paci�cação social. Por isso, sempre recebeu um olhar privilegiado entre os grandes temas objeto de análise da Sociologia. 03/04/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2171012&classId=899831&topicId=2191500&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f034&enableForum= No entanto, a autonomia da disciplina Sociologia Jurídica – que, hoje, é reconhecida como ciência, com objeto próprio (o Direito como fato social), métodos e leis – já foi questionada. Alguns autores a enquadravam como parte especial da Sociologia, enquanto outros a confundiam como a própria Ciência do Direito. Todas essas questões serão alvo de nossa atenção ao longo desta aula. OBJETIVOS De�nir o campo da Sociologia Jurídica e Judiciária e a concepção sociológica do Direito como fato social; Reconhecer os aspectos sociais do fenômeno jurídico de acordo com a teoria tridimensional do Direito; Identi�car a importância da disciplina no rol das Ciências Sociais e para o aprimoramento do Direito. 03/04/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2171012&classId=899831&topicId=2191500&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f034&enableForum= ATIVIDADE PROPOSTA Vamos começar nosso estudo com o seguinte caso... O professor Eduardo Ambrósio foi ao quadro e escreveu a seguinte frase de Lyra Filho (1999, p. 52): “[...] a Sociologia, ao encontrar o Direito no processo histórico, diz o Direito em sua essência. Aplicando-se ao Direito uma abordagem sociológica, será, então, possível esquematizar os pontos de integração do fenômeno jurídico na vida social, bem como perceber sua peculiaridade distintiva, sua ‘essência’ verdadeira”. A seguir, o docente se dirigiu a seus alunos e a�rmou: “A partir do entendimento das palavras de Lyra Filho (1999), é possível considerar que o Direito não é determinado por si próprio, ou a partir de normas ou princípios superiores abstratos, mas por sua referência à sociedade como fenômeno social que o produz”. Você concorda ou discorda dessa a�rmação? Justi�que sua resposta a partir de um exemplo. Resposta Correta Ao longo desta aula, você terá acesso a informações e a conhecimentos que o possibilitará entender melhor a questão. CONCEITO SOCIOLÓGICO DO DIREITO Fonte da Imagem: corgarashu / Shutterstock Vamos considerar que: O Direito tem sua origem nos fatos sociais (glossário) , que são mutáveis; O Direito é um fenômeno cultural – só existe nas sociedades humanas; A ideia de Direito relaciona-se às noções de conduta e de organização. De acordo com Cavalieri Filho (2007, p. 8): “A sociedade humana é, portanto, o meio em que o Direito surge e se desenvolve, pois a ideia do Direito liga-se à ideia de conduta e de organização, provindo da consciência das relações entre os indivíduos”. CONCEITO SOCIOLÓGICO DO DIREITO Ao identi�carmos a presença do Direito na sociedade, veri�camos as seguintes características: Sociedades humanas 03/04/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2171012&classId=899831&topicId=2191500&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f034&enableForum= Organização sociocultural; Raciocínio; Criação cultural; Evolução social. Sociedades de animais Natureza biológica; Instintos. Nas sociedades humanas, há, ainda, atividades de: Cooperação – convergência de interesses; Concorrência – paralelismo de interesses. FUNÇÃO SOCIAL DO DIREITO Se, por um lado, o Direito está relacionado à ideia de conduta do indivíduo, por outro, também se relaciona com a organização social. Do ponto de vista sociológico, são funções do Direito: PREVENIR CONFLITOS “O Direito previne con�itos através de um conveniente disciplinamento social, estabelecendo regras de conduta na sociedade [...]” (CAVALIERI FILHO, 2007, p. 15). COMPOR CONFLITOS O Direito resolve con�itos de interesses, promovendo a justiça nos casos concretos. MANTER O CONTROLE SOCIAL O Direito assegura a conformidade de comportamento dos indivíduos a um conjunto de regras e princípios prescritos e sancionados. SUSTENTAR A REGULAÇÃO SOCIAL O Direito mantém um conjunto de pressões diretas ou indiretas exercidas sobre os membros individuais ou coletivos de um grupo ou de uma sociedade. O objetivo é corrigir seus desvios de comportamento, de expressão ou de atitude em relação a regras e normas adotadas pelo grupo social ou pela sociedade em questão. ORIGEM DA SOCIOLOGIA JURÍDICA Fonte da Imagem: Studio_G / Shutterstock 03/04/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2171012&classId=899831&topicId=2191500&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f034&enableForum= A Sociologia Jurídica nasceu como disciplina especí�ca no início do século XX. Os trabalhos na área partem da tese de que o Direito é um fato social ou uma função da sociedade. Os sociólogos do Direito, por sua vez, consideram que o Direito possui uma única fonte: a vontade do grupo social. A Sociologia Jurídica deve pesquisar, portanto, o fato do Direito, cuja manifestação não depende da lei escrita, mas sim da sociedade, que produz esse fato e cria relações jurídicas. Partindo dessa premissa, conforme indica Sabadell (2002), foram desenvolvidas duas abordagens da Sociologia Jurídica. São elas: ABORDAGEM POSITIVISTA = SOCIOLOGIA DO DIREITO De acordo com a abordagem positivista, a Sociologia Jurídica não pode ter uma participação ativa dentro do Direito. Se o Direito corresponde “à lei e às relações entre as leis”, tudo o que não representar a legislação �ca fora da ciência jurídica. A Sociologia Jurídica pode, sim, estudar e criticar o Direito, mas não pode ser parte integrante dessa ciência. Seu papel é de observador neutro do sistema jurídico. Adeptos dessa abordagem: - Niklas Luhmann (1927-1998), na Alemanha; - Renato Treves (1907-1992), na Itália. COMPOR CONFLITOS De acordo com a abordagem pós-positivista, a Sociologia NO Direito adota uma perspectiva interna com relação ao sistema jurídico. Seus adeptos contestam a exclusividade de um método jurídico tradicional, a�rmando que a Sociologia Jurídica deve interferir ativamente na elaboração, no estudo dogmático e, inclusive, na aplicação do Direito. Não há uma ciência jurídica autônoma, porque, além dos métodos tradicionais, o Direito também emprega – ou deve empregar – métodos próprios das Ciências Sociais. Essa perspectiva rompe com a ideia do estudioso Hans Kelsen de que o Direito “é uma norma e as relações entre as normas”, bem como com a ideia de imparcialidade ou neutralidade do jurista. OUTRAS CONCEPÇÕES DA SOCIOLOGIA JURÍDICA Fonte da Imagem: Sentavio / Shutterstock Para Sabadell (2002): “Nas últimas décadas, [foram desenvolvidas] tentativas de uni�car a perspectiva interna da Sociologia Jurídica com aquela externa (Sociologia no ou do Direito) [...], [permitindo] ao pesquisador observar aquilo que os juristas consideram como Direito. [De acordo com] essa opinião, o sociólogo do Direito realiza uma análise externa [do que seria] o Direito pelo ponto de vista da dogmática jurídica. Outros autores insistem no fato de que a Sociologia Jurídica tem, necessariamente, dois aspectos – o interno e o externo –, [e] o pesquisador não pode ignorar nenhum [deles, mas sim] trabalhar, ao mesmo tempo, como jurista e sociólogo”. De acordo com a autora, surge, então, o seguinte dilema: A Sociologia Jurídica constitui um ramo do Direito ou da Sociologia, ou existem duas formas diferentes de trabalhar na Sociologia do Direito – a perspectivado sociólogo e a do jurista? Vejamos... Fonte da Imagem: Macrovector / Shutterstock 03/04/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2171012&classId=899831&topicId=2191500&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f034&enableForum= Na visão de Sabadell (2002), a Sociologia DO Direito é o ramo da Sociologia que tem como objeto de estudo o Direito – seguido, preferencialmente, por sociólogos. Já os juristas, que estudam as dimensões sociológicas das normas legislativas, realizam uma Sociologia Jurídica, permanecendo dentro do sistema jurídico e contribuindo para sua melhoria. Nada impede que as duas abordagens se desenvolvam em paralelo. A forma de analisar os fatos e os resultados da pesquisa são diferentes em cada caso. A Sociologia Jurídica examina, então, a in�uência dos fatores sociais sobre o Direito e suas incidências na sociedade – elementos de interdependência entre o social e o jurídico –, realizando uma leitura externa do sistema jurídico. Fonte da Imagem: {"__cnt":0} Em outras palavras, a Sociologia Jurídica analisa as causas (sociais) e os efeitos (sociais) das normas jurídicas. Logo, seu objeto de análise é a realidade jurídica, que tenta responder três questões fundamentais: Por que se cria uma norma ou um inteiro sistema jurídico? Quais são as consequências do Direito na vida social? Quais são as causas sociais da decadência do Direito, que se manifesta por meio do desuso e da abolição de certas normas ou mesmo mediante a extinção de determinado sistema jurídico? Vamos tentar responder essas perguntas a seguir... Fonte da Imagem: Sentavio / Shutterstock O Direito é produto da própria sociedade! Somente a vida humana pode necessitar de normas que a antecipem e que a pretendam regular, buscando a prevenção da conduta antissocial por meio de sanção que a norma pressupõe. Para ilustrar, podemos citar qualquer norma que tenha sido produto de uma demanda social, como, por exemplo: A Lei dos Crimes Hediondos – Lei nº 8.072/1990 (glossário); A Lei da União Estável – Lei nº 9.278/1996 (glossário); A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) – Decreto-Lei nº 5.452/1943 (glossário); O Estatuto do Idoso – Lei nº 10.741/2003 (glossário); O Código de Proteção e Defesa do Consumidor (CDC) – Lei nº 8.078/1990 (glossário) etc. ASPECTOS SOCIAIS DO FENÔMENO JURÍDICO: TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO Fonte da Imagem: Sentavio / Shutterstock Vamos aprofundar, agora, nosso estudo com relação à concepção do Direito como fato social – objeto de estudo da Sociologia Jurídica e Judiciária. Essa ciência não tem o objetivo de estudar a justi�cação do Direito. O exame de seus fundamentos – razão, ideia de justiça, moral, vontade da classe dominante – é objeto da Filoso�a do Direito. 03/04/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2171012&classId=899831&topicId=2191500&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f034&enableForum= Além disso, a Sociologia Jurídica não faz avaliações normativas, isto é, não se ocupa do problema da validade e da interpretação do Direito. A validade é objeto de análise dos teóricos do Direito positivo – Ciência do Direito –, que elaboram os critérios da norma válida. Esses teóricos investigam, ainda, o tema da interpretação jurídica, que interessa, particularmente, aos chamados operadores do Direito – conhecidos, também, como atores jurídicos ou agentes do Direito. O fenômeno jurídico possui três dimensões, o que signi�ca que pode ser estudado sob três pontos de vista: o da justiça, o da validade e o da e�cácia. Trata-se da teoria tridimensional do Direito, desenvolvida pelo jurista Reale (2003) e, depois, por muitos outros estudiosos. O esquema a seguir representa essa teoria: Vamos analisar, aqui, os princípios da teoria tridimensional do sistema jurídico: JUSTIÇA A questão da justiça é objeto do estudo dos �lósofos do Direito, que examinam a chamada idealidade do Direito, cujas bases são: - A justi�cação do sistema jurídico atual; - A busca dos melhores princípios de organização social; - As relações entre Direito e moral; - As relações entre normas positivas e ideais de justiça; - As relações entre o Direito e a verdade. VALIDADE A análise das normas formalmente válidas – ou seja, o estudo interno do Direito positivo – interessa ao dogmático ou intérprete do Direito, que busca: - Identi�car as normas legais; - Encontrar o sentido de cada elemento do ordenamento jurídico; - Solucionar os problemas de con�ito entre normas; - Adaptar as normas aos problemas concretos. Nesse caso, o objeto do conhecimento é a normatividade do Direito. EFICÁCIA Esta terceira dimensão está relacionada à e�cácia das normas jurídicas e corresponde ao campo de análise da Sociologia Jurídica. Trata-se do objeto de estudo dos sociólogos do Direito, cuja função é analisar a realidade social do Direito. Seu referencial é o conhecimento da vida jurídica. Por isso, examina-se, aqui, a facticidade do Direito, isto é, o Direito como realidade social. Nesse caso, a Sociologia Jurídica prepara uma teoria sociológica dos fenômenos jurídicos, sem interessar-se pelas questões técnicas da interpretação do Direito nem pelos ideais jurídicos, que são foco de atenção, respectivamente, da Filoso�a e da Ciência do Direito – dogmática. Não se esqueça de que as três dimensões do fenômeno jurídico apresentadas anteriormente estão relacionadas entre si. Por exemplo, se a sociedade avalia que uma lei é injusta, esta tende a ser revogada ou, na pior hipótese, tende a não produzir efeitos práticos, o que a tornará ine�caz. Por isso, o intérprete do Direito não pode ignorar que a falta de legitimação de uma lei em vigor é um elemento importante do fenômeno jurídico, na medida em que é capaz de levar a sua revogação ou ine�cácia. Um exemplo concreto disso aconteceu em 2005, com a abolição do delito de adultério no Código Penal – Lei nº 2.848/1940 (glossário). Do mesmo modo, o sociólogo e o �lósofo do Direito não podem ser indiferentes ao tema da interpretação normativa do Direito positivo, já que precisam conhecer o conteúdo das normas em vigor para poder analisar a realidade e a idealidade do Direito. Sendo assim, o sociólogo do Direito não trabalha desconhecendo as análises dos �lósofos e dos intérpretes do Direito. Há, portanto, uma complementaridade das três dimensões do conhecimento do fenômeno jurídico. 03/04/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2171012&classId=899831&topicId=2191500&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f034&enableForum= Glossário FATOS SOCIAIS Acontecimentos da vida em sociedade. PÓS-POSITIVISTA Corrente �losó�ca que tenta restabelecer uma relação entre Direito e ética, materializando o vínculo entre valores, princípios, regras e a teoria dos direitos fundamentais. Para isso, essa doutrina valoriza os princípios e sua inserção nos diversos textos constitucionais, de modo que sua normatividade seja reconhecida pela ordem jurídica.
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