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Políticas Públicas para a Educação Infantil no Brasil

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Aula 02: Políticas Públicas Nacionais para Ed. Infantil
Aqui você conhecerá de forma resumida a história das políticas públicas voltadas à infância brasileira, desde o surgimento das primeiras creches até o parecer de 2009, que obriga toda criança a partir de quatro anos a frequentar espaços de educação infantil.
Apesar de ainda ser necessário estar fortemente implicado na luta sobre o direito da criança brasileira, é preciso reconhecer que nas últimas décadas do século XX houve um grande avanço na garantia dos direitos da criança.
Apesar de ainda ser necessário estar fortemente implicado na luta sobre o direito da criança brasileira, é preciso reconhecer que nas últimas décadas do século XX houve um grande avanço na garantia dos direitos da criança.
Vamos conhecer um pouco sobre como as creches foram sendo instaladas em nosso país.
O surgimento das creches no Brasil
As primeiras creches no Brasil surgiram em meados de 1870, destinadas prioritariamente às famílias pobres. Eram designadas mulheres que precisavam trabalhar para ajudar no sustento da família.
Assim, as creches surgiram como um depósito normatizador do comportamento das crianças pobres, liberando a mão de obra feminina, como afirma Pardal.
Pardal (2005 – p. 64) ressalta que:
“para as crianças bem nascidas valia a regra de ouro: serem amamentadas e cuidadas por sua própria mãe, a quem a sociedade fechava as possibilidades de estudo e trabalho. A imprescindibilidade da função materna era um dos argumentos usados para justificar o afastamento feminino do mundo do trabalho. A questão do conflito, portanto, fruto da possibilidade de opção, inexistia. As regras estavam socialmente bem definidas: às mulheres das classes abastadas, destinava-se a maternidade; às pobres, o trabalho.”
É possível imaginar a dor e a culpa que estavam associadas às mães pobres que precisavam trabalhar e se afastar de seus filhos.
Vale ressaltar, que entre o Brasil Colônia e o Brasil República houve uma mudança na forma como a maternidade era concebida e a maneira como as crianças eram tratadas como mostra Pardal em (2005 – p. 69-70):
“No Brasil Colônia, a criança e a maternidade tinham pouca importância. A mulher branca entregava sem maiores conflitos, seus filhos às amas. A escrava incorporava o filho ao trabalho cotidiano ou colocava-o na Roda, por opção ou coação.
Em qualquer desses casos, a mortalidade infantil, apesar de numerosa, não era vivida pelas mães com muito sofrimento. Tampouco a função materna possuía destaque especial. A partir da independência, mas, sobretudo, no Segundo Império, essa situação começa a modificar-se.”
Além desse aspecto, havia o estigma associado às crianças que frequentavam as creches, que eram vistas como coitadas e dependentes da assistência de pessoas caridosas, uma vez que a manutenção desses espaços não era ainda responsabilidade exclusiva do Estado.
Você já ouviu falar no Código de 1927?
Esse código refletiu um período cinzento marcado por instituições como a Funabem, que durante muito tempo representou o confinamento e a violência como marca do tratamento destinado à infância brasileira. 
Segundo Nunes (2005, P.74), 
“É no contexto social e político da emergência do projeto industrial brasileiro, nos anos 1930, que a criança se torna um campo de intervenção social, a partir da articulação de um conjunto de práticas que tanto ofereciam assistência social quando propunham medidas de controle jurídico sobre a infância dos mais pobres. Este conjunto de práticas foi ordenado no código de menores de 1927, quando a criança pobre começa a ser identificada como menor.”
NUNES (2005, p.77) afirma:
“Na conjuntura política autoritária dos anos 1960, a questão do “menor” ficou identificada como sendo uma questão de segurança nacional e passa a ser tratada, diretamente, a partir da forte presença do Estado no enfrentamento das questões sociais. Numa tendência centralizadora, o atendimento à infância passou a ser articulado em torno da política nacional de bem estar do menor, executada pela Funabem (Fundação Nacional do Bem Estar do Menor), que coordenava as Febem (Fundações Estaduais de Bem-Estar do Menor), num novo arcabouço institucional.”
Anos 70
A partir desse período várias iniciativas surgem mudando o panorama da criança pobre no Brasil:
• 1976 – criação da Comissão Parlamentar de inquérito para um diagnóstico sobre a realidade do menor;
• 1978 – criação da Pastoral do Menor ampliando e modernizando a presença da igreja católica;
• 1979 – em São Paulo a criação do movimento em defesa do menor se concentra nas denuncias de maus tratos praticados na Febem.
infância brasileira
O atendimento oferecido principalmente às crianças pobres de nosso país começou a mudar a partir da década de 70, que ofereceu as bases para uma reformulação política. São elas:
• Constituição federal de 1988 ;
• ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) – 1990;
• Política Nacional de Educação Infantil – 1994;
• LDB - Lei de diretrizes e bases da educação nacional aprovada em 1996 ;
• Referenciais Curriculares Nacionais para Educação Infantil – 1998;
• As diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil – 1998.
Vamos saber mais sobre as bases da reformulação política do atendimento oferecido às crianças pobres de nosso país.
A constituição Federal de 1988
A CF de 1988 destaca que a educação é direito de todos e coloca a educação infantil como um dever do Estado. Sendo assim, a ela passa pela primeira vez no Brasil a ser um direito da criança e uma opção da família.
Essa Constituição representou um grande avanço na luta pelos direitos do cidadão brasileiro e, consequentemente, na luta pelo direito da criança, possibilitando avanços posteriores que vieram em outras leis.
Veja alguns artigos da Constituição Federal de 1988 a respeito desse assunto.
Art. 208 - O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a garantia de:
IV atendimento em creches e pré-escolas às crianças de 0 a 6 anos de idade.
Art. 227 - É dever da família, da sociedade, do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
O ECA é um grande divisor de águas na luta pelo direito da criança e do jovem brasileiro, pois, apesar da grande dificuldade que o conselheiro tutelar tem tido ao realizar o seu trabalho, o Estatuto representa um grande avanço, já que propõe medidas protetoras no lugar das tradicionais medidas de repressão.
Todas as instancias devem ser controladas pela sociedade civil, tanto quanto através do Conselho Municipal de Direitos da Criança e Adolescente quanto pelos Conselhos Tutelares.
Segundo Nunes (2005, p.88):
“o ECA nasce numa perspectiva de reordenamento do atendimento à criança e ao adolescente assentada em uma ampla política de garantias de direitos, fundada numa articulação entre políticas setoriais da saúde, educação, moradia e trabalho. Seus principais avanços estão no esforço da regulamentação da atividade jurídica, tanto em termos da aplicação das medidas judiciais quanto em termos de controle sobre as instituições que hoje prestam assistência e/ou atuam no âmbito da aplicação das medidas destinadas aos que estão em conflito com a lei.”
direito da criança e do jovem brasileiro
Vamos registrar o título VII, do Estatuto que se dedica aos crimes e infrações administrativas e que diz respeito mais especificamente aos educadores da infância de nosso país:
Submeter a criança sob sua autoridade a vexame ou constrangimentos (detenção de seis meses a dois anos); submeter a criança à tortura (aqui são previstos os casos de lesão corporal leve, grave ou gravíssima que podem levar à morte, com diferentes penalidades); deixar o educador ou o dirigente de ensinopré-escolar de comunicar à autoridade competente os casos que tenha conhecimento de suspeita ou confirmação de maus tratos (multa de 3 a 20 salários de referencia aplicando-se o dobro nos casos de reincidência).
medidas protetoras
O ECA propõe que o confinamento e a punição sejam substituídos pela prestação de serviço à comunidade, sendo para toda e qualquer criança e jovem, não só aquele marcado pela pobreza de nosso país. 
Em último caso, deve haver internação em instituição educacional, pois a liberdade assistida e a semiliberdade são prioritárias.
NUNES (2005, p. 91) nos diz que:
“… é preciso que recursos sociais e políticas públicas estejam disponíveis para que as famílias possam cumprir tais medidas, e nelas aparece a inclusão em programas comunitários ou oficiais de auxilio a família, à criança e ao adolescente, entre os quais podemos destacar o atendimento em creches e 
pré-escolas.”
sociedade civil
Pela primeira vez na história do Brasil as proposições desse documento não foram oferecidas exclusivamente por juristas e advogados, mas tiveram a participação importante de setores civis da sociedade. Pais e profissionais especializados na área da educação e dos direitos humanos colaboraram e brigaram ativamente pela efetivação do Estatuto.
Política Nacional de Educação Infantil
Como resultado da Constituição Federal e da elaboração do ECA, o Ministério da Educação e Desporto (MEC) propõem uma política Nacional de Educação Infantil, assumindo finalmente a importância de seu papel na garantia dos direitos das crianças a uma educação de qualidade.
O MEC institui na primeira metade da década de 1990, uma Comissão Nacional de Educação Infantil (CNEI), que participa da elaboração dessa política em todo o país.
Comissão Nacional de Educação Infantil
 Segundo FILHO (2001), a Comissão Nacional de Educação Infantil (CNEI), apresenta como diretrizes os princípios a seguir. 
1. A educação infantil é a primeira etapa da educação básica; 
2. As creches e pré-escolas dividem entre si a clientela pelo critério exclusivo da faixa etária (de 0 a 3 anos, na creche, e de 4 a 6 anos na pré-escola); 
3. A educação infantil, em complementação à ação da família, visa proporcionar condições adequadas de desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social da criança, e promover a ampliação de suas experiências e conhecimentos, estimulando seu interesse pelo processo de transformação da natureza e pela convivência em sociedade; 
4. As ações da educação infantil devem ser complementadas pela saúde e assistência, de forma articulada; 
5. O currículo da educação infantil deve levar em conta, na sua concepção e administração: o desenvolvimento da criança, a diversidade social e cultural das populações infantis e os conhecimentos que se pretende universalizar; 
6. Os profissionais de educação infantil devem ser formados em cursos de nível médio ou superior, que contemple os conteúdos específicos relativos a essa etapa da educação; 
7. As crianças com necessidades especiais, sempre que possível, devem ser atendidas na rede regular de creches e pré-escolas. 
Além desses princípios o mesmo documento estabelece três objetivos: 
1. expandir a oferta de vagas para a criança de 0 a 6 anos; 
2. fortalecer, nas instâncias competentes, a concepção de educação infantil definida neste documento; 
3. promover a melhoria da qualidade do atendimento em creches e pré-escolas.
 É importante ressaltar que segundo FILHO (2001), participaram da elaboração desse documento dirigentes e técnicos de instituições federais, estaduais e municipais que atuam no atendimento à infância, professores universitários e especialistas na área, representantes de instituições internacionais e de entidades não-governamentais.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
Em 20 de dezembro de 1996 é aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/96), a LDB, apresentando três artigos que tratam da educação infantil. Apesar de não parecer muito, ainda assim é possível considerar o avanço que ela representa, principalmente por reafirmar que a educação para as crianças com menos de 6 anos é a primeira etapa da educação básica.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
Segundo Filho (2001, p. 34):
“o que esta lei postula sobre educação infantil é resultado da mobilização da sociedade civil organizada que se articulou, desde o final dos anos de 1980, com o objetivo de assegurar para as crianças, na legislação brasileira, a partir de uma determinada concepção de criança e de educação infantil, uma educação de qualidade para a infância. As consequências deste movimento já haviam sido expressas tanto na constituição (1988) como no ECA (1990) e na Politica de Educação Infantil (1994).”
LDB - Lei de diretrizes e bases da educação nacional
Artigos que tratam da Educação Infantil 
Art. 29 - A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até os 6 anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da sociedade. 
Art. 31 - Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro de seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental. 
Obs.: este artigo elimina a reprovação nesse período do ensino, pois uma vez que as crianças precisam ter confiança em si mesmas, indicar a impossibilidade de ir para o ensino fundamental, colabora para que a criança não acredite em suas capacidades.
 Art.62 - A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em cursos de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida com formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal. 
Obs.: este artigo trata da formação do educador, aspecto também importante, pois durante muito tempo acreditou-se que o trabalho em creches e pré-escolas estava atrelado ao serviço de “maternagem” e que não era necessária a formação desse profissional. O título VI estabelece condições mínimas para a atuação do professor de educação infantil.
Referenciais Curriculares Nacionais para Educação Infantil
O RCNEI não tem valor legal, constitui-se apenas de um conjunto de sugestões para os professores de creches e pré-escolas. Este documento representou um retrocesso no processo que vinha se dando no Brasil de o governo com a participação da sociedade civil, construir uma política de educação para as crianças pequenas.
Conforme esclarece FILHO, em 1998, estranhamente sem articulação com os documentos que haviam sido produzidos pelo COEDI/MEC, nos últimos cinco anos, o MEC publica o Referencial Nacional para a Educação Infantil (RCNEI). Trata-se de três volumes que de certa forma, dão continuidade a uma política do governo brasileiro – traçar parâmetros curriculares nacionais para os diferentes níveis de ensino no Brasil.
Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil 
Em 17 de dezembro de 1998, a conselheira do Conselho Nacional de Educação (CNE – Câmara de Educação Básica), relata e aprova o parecer 022/98 sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.
As referidas diretrizes constituem-se na doutrina sobre princípios, fundamentos e procedimentos da educação básica, definidos pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, que orientará as instituições de educação infantil dos Sistemas Brasileiros de Ensino, na organização, articulação, desenvolvimento e avaliação de suas propostas pedagógicas.
Alguns pontos importantes contidos nesse documento:  
• as políticas de educação infantil ainda não estão totalmente definidas;
• as crianças são consideradas sujeitos de direitos e alvo de preferência de políticas públicas;
• é indispensável que os educadores ao elaborarem suas propostas pedagógicas para a educação infantil, se norteiem poreste documento.
Parecer CNE/CEB n20/2009
Em 11 de novembro de 2009, a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação aprova as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil. 
Duas mudanças significativas surgem em função das medidas estabelecidas nas diretrizes curriculares. A primeira é a ampliação do Ensino Fundamental com a integração do CA como primeiro ano, para nove anos e não oito como anteriormente. A segunda medida diz respeito a obrigatoriedade da família em matricular a criança de 4 anos na pré-escola.
novas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil
O artigo a seguir muda o início da obrigatoriedade da criança nas creches, veja. 
Art.5 - A educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, é oferecida em creches e pré-escolas, as quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social.
§ 2° É obrigatória a matrícula na Educação Infantil de crianças que completam 4 ou 5 anos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula.
A obrigatoriedade da matricula na pré-escola. 
Reflita sobre o pensamento de AQUINO (2010, p.45):
 “Conforme o Censo Escolar de 2006, muitas creches e pré-escolas não dispõem de serviços básicos: 2.979 estabelecimentos não têm abastecimento de água e 6.039 não têm esgoto sanitário. Há ainda fatores como, a ausência ou insuficiência de transporte escolar, que afeta sobremaneira a frequência das crianças. Muitas vezes, mesmo havendo condução, o deslocamento pode significar longos percursos, em que crianças permanecem num veículo, acompanhadas apenas pelo motorista.” 
Pense nas reais condições de estrutura das creches e pré-escolas públicas de todo o país, nos baixos salários oferecidos a esses profissionais, na falta de investimento na formação especializada e na formação permanente. Por que o governo em primeiro lugar não tenta proporcionar a melhoria dessas condições citadas acima? Precisamos de um governo que conheça e respeite as diferentes realidades regionais de nosso país.
Crianças
Vale ressaltar que a atividade principal da infância é brincar e que a criança de 4 a 6 anos precisa de tempo e liberdade para escolher fazer o que quiser, mesmo que seja não fazer nada. 
A infância não pode ser percebida como treino para o futuro. E por esse motivo a criança precisa de uma proposta curricular que atenda a suas características, potencialidades e necessidades específicas.
Este breve histórico tentou apresentar uma realidade de conquistas e lutas de crianças oprimidas por uma sociedade adultizada.
As leis principais que favorecem às crianças e jovens brasileiros foram resultados da organização de setores civis da sociedade que lutaram por um olhar mais humano e pela efetivação 
das leis.
A informação e a mobilização parecem critérios fundamentais na construção de uma educação infantil de qualidade.
A informação e a mobilização parecem critérios fundamentais na construção de uma educação infantil de qualidade.

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