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Disciplina: Metalurgia Extrativa Graduação em Processos Metalúrgicos Refino secundário dos aços Professor: Fábio de Oliveira Braga Engenheiro Metalúrgico Doutor em Ciências (Ciência dos Materiais) Tema da aula: Rio de Janeiro, Maio de 2018 1. Introdução 1. Introdução Os conversores LD/BOF e os fornos elétricos a arco (FEA) são hoje responsáveis pela quase totalidade do aço produzido no Brasil; Entretanto, nestes equipamentos, há sérias limitações quanto à remoção de O, S, P, N e H. Para produzir aços de alta qualidade (high-grade steel), com baixíssimos teores dos elementos citados (da ordem de ppm), foi necessário o desenvolvimento de processos mais eficientes na remoção destas impurezas; Para melhora da eficiência operacional, estes processos se passam fora do equipamento de reversão do gusa (LD ou FEA). Estes são os processos de refino secundário dos aços. 1. Introdução Os processos de refino secundário são bastante diversificados, mas em geral envolvem: Uso de vácuo; Adição de ligas e agentes de refino; Utilização de escória sintética; Agitação do banho metálico. 1. Introdução Os processos de refino secundário são executados e uma Panela ou no Forno Panela (FP), e por isso também são conhecidos por “Metalurgia de Panela”. Os seguintes processos são executados: Desoxidação; Dessulfuração; Desgaseificação (remoção de H2 e N2); Acerto de composição química do aço; Descarburação; Eliminação parcial de inclusões; Alteração da morfologia das inclusões remanescentes; Homogeneização intensiva de composição e temperatura. 1. Introdução Atualmente, é relativamente fácil de produzir aços com baixíssimos teores de impurezas por meio do refino secundário (C30ppm, S30ppm, P40ppm, H2ppm, O10ppm e N30ppm). 1. Introdução 2. O Forno Panela Após o vazamento do aço a partir do conversor (ou FEA), as perdas de temperatura da Panela devem ser compensadas, para que o aço seja entregue à próxima fase de processamento dentro da faixa de temperatura desejadas. Neste caso, a maneira mais usual de incorporação de calor é o arco elétrico, que é obtido por meio de eletrodos de grafite sobre o banho metálico. O conjunto Panela + Transformador + Circuito Elétrico + Eletrodos é chamado de Forno Panela. 2. O Forno Panela 1. Introdução https://www.youtube.com/watch?v=nJue9KJH9EI https://www.youtube.com/watch?v=fycAEtZrEbU Forno Panela 1. Corpo da panela; 2. Eletrodos; 3. Aço tratado; 4. Escória; 5. Dutos para gases inertes; 6. Tijolo poroso (para passagem dos gases); 7. Injeção de arames; 8. Calha para adição de materiais. 1. Introdução Forno Panela da VAIBH (India) O Forno Panela é o equipamento siderúrgico cuja aplicação experimentou a evolução mais rápida. A primeira unidade já estava operando em 1965 (Europa). 22 anos mais tarde já havia 200 instalações em funcionamento no mundo. No Brasil, iniciou-se em 1969, com a Unidade da Villares, de 24t. No início, os Fornos Panela apareceram especialmente nas Aciarias elétricas, produzindo aços de alta qualidade. O motivo era evitar os longos períodos de refino que diminuem a produtividade. Esta razão ficou mais evidente com a evolução de técnica de FEA´s de ultra-alta potência. 2. O Forno Panela 2. O Forno Panela Fornos Panela no Brasil Causas do desenvolvimento dos processos de refino fora dos fornos de fusão: Necessidade de aumento da produtividade; Redução de custos de fabricação de aços; Exigências de qualidade cada vez mais severas. Assim, em um FEA, os períodos de refino podem ser eliminados, através de emprego de um Forno Panela, com aumento da produtividade de até 20%. No FEA, o período de refino não só toma um tempo precioso, mas há uma sub-utilização da potência disponível. Para uma Aciaria LD há também ganho de produtividade. 2. O Forno Panela Refratário da Panela A Panela é fabricada de aço, com revestimento interno de material refratário, o que permite conter o aço líquido entre 1550 e 1650 °C. Composto de tijolos ou concreto de óxidos estáveis: alumina (Al2O3), magnésia (MgO), magnésia impregnada com carbono (MgO-C) ou dolomita (MgO+CaO). Devem apresentar um baixo teor de óxidos não-estáveis tais como a sílica (SiO2), o óxido de ferro (FeO), o óxido de manganês (MnO) e o óxido de cromo (Cr2O3), que dificultam o refino pela contaminação do aço com oxigênio. A linha da escória recebe normalmente refratários mais resistentes (básicos). A linha do aço é comumente revestida com refratários aluminosos, podendo, em casos especiais, serem utilizados refratários básicos. Um fator importante é a distância da borda da panela e o banho metálico, chamada de borda livre. Para minimizar riscos de trasbordamento e o sobreaquecimento da abóbada, operam-se, normalmente, com borda livre na faixa até 100 cm. 2. O Forno Panela 2. O Forno Panela Imagem do interior da Panela, mostrando o refratário Detalhe da borda livre em uma Panela de aço líquido Abóbada da Panela A abóbada é uma tampa que se posiciona sobre a panela, minimizando as perdas térmicas e a oxidação do banho metálico. Normalmente uma abóbada possui 5 furos na sua parte superior, sendo três para passagem dos eletrodos, um para adições de ligas e fundentes e o 5º furo, opcional, para coleta de amostras e medição automática de temperatura. Abóbadas podem ser refrigeradas ou não. Esta refrigeração prolonga a vida do refratário, mas as perdas térmicas são 4x maiores. 2. O Forno Panela Saída de aço da Panela A saída de aço da Panela para o equipamento seguinte (normalmente uma Máquina de Lingotamento Contínuo) se dá por uma abertura, chamada de Válvula Gaveta, situada em sua parte inferior, normalmente fechado por placas deslizantes. Agitação de aço da Panela Para homogeneização da temperatura, da composição química e distribuição das inclusões. Pode ser feito por borbulhamento de gases inertes e por campo magnético. 2. O Forno Panela 2. O Forno Panela Formas de agitação do banho metálico Na agitação por gás inerte, se usa o argônio (Ar) ou, em casos mais raros, o nitrogênio (N2). O gás entra por um tijolo poroso (um plug poroso) instalado no fundo da Panela. A subida das bolhas de gás cria um movimento no aço líquido que permite obter uma massa homogênea. Além disso, na superfície dessas bolhas, ocorre a união dos átomos do carbono e de oxigênio no aço dissolvidos, na forma de gases CO e CO2. Na agitação por campo magnético (CM), este é induzido por bobinas localizadas fora da Panela. O CM faz o aço líquido se movimentar dentro da Panela, trazendo resultados similares à agitação por gás inerte. A carcaça externa da Panela deve ser construída em aço não magnético. A utilização do argônio encarece bastante o processo. 2. O Forno Panela Aquecimento do aço na Panela Métodos de incorporação de calor no aço: Por eletrodos submersos na escória e no aço; Por lança de plasma; Por indução; Por oxidação de alguns elementos de liga (via injeção de oxigênio gasoso); No caso de oxidação de elementos, estão compreendidos o C, Si ou Al. Entretanto, a oxidação como fonte de calor deve ser evitada no refino secundário, devido ao aumento do teor de oxigênio dissolvido no aço líquido. A exceção é o uso de oxigênio para diminuir a quantidade de carbono, após a adição de ferro-ligas de alto carbono ao aço, na obtenção de aços inoxidáveis. 2. O Forno PanelaEletrodos e arco elétrico no Forno Panela No circuito elétrico do FP, os eletrodos têm importância fundamental, pois transferem a energia para o aço líquido; São feitos de grafite, devido à sua grande estabilidade em altas temperaturas, mantendo-se a sua condutividade elétrica; Contrariamente ao FEA, o FP possui diâmetro interno relativamente pequeno e o arco elétrico fica muito próximo da parede da panela. Para minimizar o desgaste do refratário, o diâmetro dos eletrodos é menor possível; Neste caso deve-se observar o limite máximo de corrente por seção transversal do eletrodo e utilizar eletrodos mais nobres para evitar um desgaste excessivo, principalmente por oxidação das paredes laterais devido ao superaquecimento. 2. O Forno Panela 3. Reações de equilíbrio metal-escória Escória do refino secundário A escória do processo de fusão não é desejável no refino secundário. Ela deve ser removida da Panela após o vazamento ou dispositivos devem ser instalados no equipamento de fusão para evitar sua passagem para a Panela. Com o aço na Panela, porém, sem escória, inicia-se imediatamente a oxidação do ferro e elementos de liga do aço pelo oxigênio do ar. Para evitar esta oxidação, é formada uma nova escória pelo carregamento de CaO ou Al2O3 e muitas vezes MgO na Panela. Não é desejável obter uma escória de óxidos não estáveis (SiO2, FeO, MnO, Cr2O3). 3. Reações de equilíbrio metal-escória 3. Reações de equilíbrio metal-escória O diagrama de Elingham ao lado mostra que os óxidos CaO, Al2O3 e MgO são os mais estáveis, e por isso são denominados estáveis. Por outro lado, óxidos como o SiO2, MnO e FeO possuem menor estabilidade. Por isso são denominados como não estáveis. Equilíbrio químico escória-aço líquido Nos processos de refino secundário, os elementos químicos presentes no aço líquido estão em permanente equilíbrio com os compostos presentes na escória ou nas inclusões; A principal reação de equilíbrio químico é entre o oxigênio (O) dissolvido no aço líquido e o Fe presente no aço líquido e o FeO presente na escória ou nas inclusões dentro do aço; O equilíbrio pode ser deslocado para a esquerda, isso é, para a dissolução de oxigênio no aço, se houver grande quantidade de FeO na escória; Por outro lado, a ausência de FeO na escória desloca o equilíbrio para a direita, o que na prática significa que a escória passa a absorver o oxigênio dissolvido no aço na forma de FeO. 3. Reações de equilíbrio metal-escória Equilíbrio químico escória-aço líquido Para relembrar a noção de equilíbrio químico, calcule a constante de equilíbrio (K) da reação Fe(l) + 1/2O2 ↔ FeO, na temperatura do refino secundário (T=1600°C). Dados: ΔG = -RTlnK; ΔG = -55620 + 10,83T (cal/mol); O que você pode concluir do valor encontrado? O que fazer se eu quiser evitar a formação do FeO? E do contrário, se eu quiser formá-lo ao máximo? Sabendo-se que para a reação Mn(l) + 1/2O2 ↔ MnO, ΔG = -84700 + 14,5T (cal/mol), calcule a constante de equilíbrio da reação global (FeO + Mn ↔ Fe + MnO). O que ocorre ao FeO, portanto, se um material com maior afinidade pelo oxigênio é adicionado à mistura reacional? No caso do Mn, por que a constante de equilíbrio é tão mais próxima à unidade? 3. Reações de equilíbrio metal-escória Equilíbrio químico escória-aço líquido A quantidade óxidos não-estáveis deve ser mínima na escória, pois suas reações de equilíbrio estão deslocados para a liberação de oxigênio no aço; No caso dos chamados óxidos estáveis, o equilíbrio está sempre deslocado para a formação do óxido; Se há no banho elementos formadores de óxidos estáveis, o oxigênio dissolvido no aço líquido, a formação do óxido é preferencial, removendo-se o oxigênio dissolvido no aço. 3. Reações de equilíbrio metal-escória Funções da escória sintética no refino secundário A escória sintética, adicionada no processo de refino secundário, deve cumprir um ou mais dos seguintes objetivos: Proteger o aço líquido da oxidação pelo oxigênio presente no ar, absorver os gases H, N e O (prevenção da re-oxidação); Minimizar as perdas térmicas, tornando controlável a queda de temperatura a que o aço está sujeito; Captar inclusões não-metálicas; Participar da incorporação de elementos indesejáveis a certos tipos de aços, especialmente o S e, em algumas situações, o F; Impedir a exposição do arco elétrico. 3. Reações de equilíbrio metal-escória 3. Reações de equilíbrio metal-escória Aluminato de cálcio para formação de escória sintética (empresa Refractory Plants). Composição da escória sintética no refino secundário Em geral, as escórias sintéticas podem ser à base de Al2O3-CaO-SiO2, com predominância de silicatos ou aluminatos de cálcio, ou ainda CaO- CaF2. A escória à base de Al2O3-CaO-SiO2 de maior uso é: As escórias à base de CaO-CaF2 podem ser utilizadas na maioria dos aços para a desoxidação, mas têm um custo normalmente mais elevado. Um exemplo de escória destas é: 3. Reações de equilíbrio metal-escória 3. Reações de equilíbrio metal-escória 3. Reações de equilíbrio metal-escória 3. Reações de equilíbrio metal-escória 4. Ferro-ligas e acerto de composição química A adição de elementos químicos no aço líquido é feita principalmente por ferroligas, por questões de manuseio ou economia. O Forno Panela, por permitir o aquecimento de forma controlada, possibilita a adição de grandes quantidades de ligas, sem necessidade de sobreaquecimento excessivo do aço; A perda para a escória é um dos principais fatores que reduzem o rendimento de ligas adicionadas. Com a finalidade de elevar este rendimento aumenta-se a intensidade da agitação, afastando-se à escória e expondo o aço líquido, antes de adicionar o material; As ligas podem ser adicionadas sob a forma sólida, em tamanhos que variam de 2 a 100 mm, ou através de pós encapsulados em envoltório de aço, conhecidos como arames recheados (cored-wire). 4. Ferro-ligas e acerto de composição química As ferro-ligas podem ser classificadas quanto à sua dissolução no aço líquido em duas classes: Classe 1: ligas cuja temperatura de fusão (Tf) está abaixo do ponto de solidificação do aço líquido (T<1500ºC). A absorção se dá através do fenômeno de fusão. A adição da liga fria (sólida) ao banho promove a solidificação, ao redor, de uma camada de aço, que permanece enquanto a liga se funde. Freqüentemente, a liga se funde totalmente, antes da camada de aço refundir e liberá-la ao banho. 4. Ferro-ligas e acerto de composição química Classe 2: ligas cujo ponto de fusão está acima do ponto de solidificação do aço. Nesta rota, a adição da liga também provoca a solidificação de uma camada de aço, porém, esta se refunde para expor a liga sólida, cuja temperatura de fusão está acima da temperatura do banho. Desta forma, ocorre um processo de dissolução sólido-líquido. A dissolução dessas ligas é afetada pela solubilidade e difusividade no aço, e pela agitação existente. 4. Ferro-ligas e acerto de composição química Quando a adição de ferro-ligas deve ser feita com grande precisão, ou quando tiver alta reatividade (Ex: CaSi) o meio de adição deve ser o de arames recheados (Cored Wire). A adição de ligas pulverizadas ao aço líquido por Cored Wire, constitui uma das mais importantes evoluções da Metalurgia Secundária. Esta modalidade permitiu eliminar os onerosos equipamentos de injeção de pós, substituindo-os por simples máquinas injetoras de arame; Estas são constituídasde motores e roletes de reduzidas dimensões e contadores de comprimento. A adição das ligas nessa forma tem provado ser mais eficiente devido ao controle mais eficaz de processo, resultando no aumento do rendimento da liga injetada e na melhoria das propriedades do aço. 4. Ferro-ligas e acerto de composição química 4. Ferro-ligas e acerto de composição química 4. Ferro-ligas e acerto de composição química Arame recheado – desoxidante Máquina de injeção de arame recheado na Panela 4. Ferro-ligas e acerto de composição química Devido a liberação e dissolução no interior do banho, evitando perdas para a escória, além da tendência de ligas a boiar sob a forma granulada (densidade inferior à do aço), o rendimento dos arames recheados é significativamente maior. O acerto da composição é feito com maior precisão na Panela quando comparado aos processos de refino primário, pois a grande oxidação e exposição do aço líquido à atmosfera torna o rendimento das ferroligas baixo. 4. Ferro-ligas e acerto de composição química Desoxidação 4. Ferro-ligas e acerto de composição química Desoxidação Equações: Iguais às do exemplo de equilíbrio químico entre aço líquido e escória. Na prática: Desoxidação é feita com Al, Si e Mn, sempre com escória com baixos teores dos óxidos destes metais. Uso combinado do Si e Mn é vantajoso: Formação do composto silicato de Mn, que é líquido na temperatura do processo, não formando inclusões nem sendo absorvido pela escória. A contínua remoção deste composto, pela dissolução no aço líquido, leva o equilíbrio constantemente para a direita → maior eficiência da desoxidação. Formadores de óxidos estáveis, como Ca e Mg, são de alto custo e difícil manuseio, não sendo utilizados nestes processos industriais. Por isso Si, Al e Mn são desoxidantes mais usuais. 4. Ferro-ligas e acerto de composição química A desoxidação também pode ser feita por: C + O ↔ CO(g) Neste caso, o equilíbrio é entre aço e atmosfera. Reação desloca para direita (com a desoxidação do aço) com o aumento do teor de carbono dissolvido no aço ou com a redução do teor de CO na atmosfera. Redução da %CO na atmosfera pode ser feita por diluição, adicionando-se gases inertes, como o argônio, ou pela remoção do CO, por vácuo. 4. Ferro-ligas e acerto de composição química Descarburação Mesma equação de equilíbrio da desoxidação por C: C + O ↔ CO(g) Diluição ou remoção do CO por vácuo, atuam também no sentido da descarburação. O mesmo ocorre se entra oxigênio no aço líquido. Por ser feita injeção de O2 ou entrada de FeO na escória: Fe + O → FeO. A descarburação é necessária para fabricação de aços inoxidáveis pois o Cr é adicionado como FeCr AC (7,5%C). A fabricação de aços comuns com %C muito baixa (<0,05%C) também exige descarburação. 4. Ferro-ligas e acerto de composição química Desfosforação Segue a equação: 2P + 5FeO ↔ P2O5 + 5Fe A escória deve ter 35-40%CaO para fixação do P2O5. O contato aço- escória deve ser o mais intenso possível. A agitação por O2 pode ser benéfica, pois aumenta FeO (chegando a 30- 40%) na escória, deslocamento reação para direita (desfosforação). É fácil obter escória rica em FeO nos processos de refino primário. A desfosforação na Panela deve ser feita só em casos excepcionais, pois a escória remanescente do processo de fusão deve ser removida (contém muito P, e qualquer redução de %FeO, reverte o P para o aço). 4. Ferro-ligas e acerto de composição química Dessulfuração Reação: 3CaO + 2Al + 3S ↔ 3CaS + Al2O3. Como o S ficará fixado na escória, como CaS, o contato entre aço líquido e escória é essencial. Neste caso a agitação não pode ser feita por oxigênio, que levaria à formação de Al2O3, deslocando o equilíbrio para a esquerda. A dessulfuração é feita, portanto, adicionando Al metálico e CaO na escória. Uma variante da dessulfuração: 3CaO + 2C + 3S ↔ 3CaS + CO. Isto explica a dessulfuração de aços com alto carbono, e a ocorrida sob vácuo, mesmo sem a presença de Al. 4. Ferro-ligas e acerto de composição química Desgaseificação Reações: 2H ↔ H2(g) e 2N ↔ N2(g) Equilíbrio se dá entre o aço e a atmosfera. Se desloca para a direita com a redução da % dos gases na atmosfera. Importante: a remoção de N2 é mais difícil que a do H2. Enquanto 70% do H2 podem ser removidos por tratamento normal sob vácuo, apenas 25% do N2 podem. Então o N2 deve ter absorção limitada na etapa anterior (fusão e vazamento). A absorção se dá com nitrogênio do ar. Método eficiente: Insuflação de O2 durante fusão e vazamento do aço, bloqueando sítios de absorção. 4. Ferro-ligas e acerto de composição química Controle de morfologia das inclusões Nem todas as inclusões podem ser absorvidas pela escória. Algumas até são formadas durante a solidificação do aço, quando movimento de massa já é restrito. Então, para que sejam neutralizadas, é necessário modificar sua morfologia. Uma das mais comuns: Inclusões duras e angulosas de Al2O3, substituída por inclusões de cantos arredondados de aluminato de cálcio (12CaO.7Al2O3), de melhor conformabilidade. As inclusões de Al2O3, aparecem com a introdução de Al no aço. Após laminação, ficam na forma de aglomerados de pequenas inclusões que são prejudiciais às fases de estampagem do produto, por fragilizar as regiões onde ocorrem. São também indesejáveis quando na trefilação para diâmetros finos (provocam rupturas). 4. Ferro-ligas e acerto de composição química Controle de morfologia das inclusões O 12CaO.7Al2O3 também é importante para neutralizar o efeito negativo das inclusões de MnS grande alongamento na laminação, criando linhas de fragilidade. O tratamento do aço desoxidado por Ca forma este composto, que atua como base para precipitar MnS e CaS, eliminando estas linhas de fragilidade. Adições insuficientes de cálcio nos aços acalmados ao Al podem promover a formação de inclusões de CaO.2Al2O3 que são maiores as de alumina, prejudicando as propriedades do aço. 4. Ferro-ligas e acerto de composição química 5. Instalações para refino secundário 5. Instalações para refino secundário Forno Panela É a mais popular instalação de refino secundário. É de baixo investimento, o que o torna bastante popular. 5. Instalações para refino secundário Tanque de vácuo A Panela é posicionada dentro de um tanque, que tem sua pressão reduzida. 5. Instalações para refino secundário ASEA-SKF Nome do antigo fabricante. ABB é sucessora. Possui duas estações, uma de aquecimento (similar a um Forno Panela comum) e outra de vácuo. Não utiliza uma câmara onde a Panela é posicionada, mas apenas uma campânula (abóbada) sobre ela. 5. Instalações para refino secundário ASEA-SKF 5. Instalações para refino secundário VAD (Vacuum Arc Degassing) A instalação VAD, ou também conhecida como Finkl-Mohr traz em uma única posição as instalações de aquecimento e vácuo. Não se trata de uma instalação muito popular devido à complexidade associada com o uso de eletrodos de grafite dentro de um tanque de vácuo. Em síntese, é um Forno Panela onde se pode fazer o vácuo, somando as vantagens de ambos. 5. Instalações para refino secundário 5. Instalações para refino secundário VAD (Vacuum Arc Degassing) 5. Instalações para refino secundário VOD (Vacuum Oxygen Decarburization) Trata-se de um tanque de vácuo com lança supersônica de O2. Normalmente utilizado em conjunto com um Forno Panela. Utilizado principalmentepara a fabricação de aços inoxidáveis. Entrada de Cr por meio de Fe-Cr de alto teor de carbono é mais econômica e traz a necessidade de uma descarburação sob vácuo para se evitar a perda do cromo adicionado por oxidação. Indicado na produção de aços inoxidáveis especialmente de extra-baixo carbono (304L, 316L), o que não pode ser atingido em fornos elétricos, a temperaturas altas (>1900º C) sob pressão normal. A reação de descarburação é favorecida pela injeção de oxigênio sobre a superfície do aço na panela. Em condições oxidantes e sob vácuo, a reação do carbono com o oxigênio C + O = CO (gás) é deslocada para a direita e tem preferência sobre a oxidação de cromo. 5. Instalações para refino secundário 5. Instalações para refino secundário VOD (Vacuum Oxygen Decarburization) 5. Instalações para refino secundário AOD (Argon Oxygen Decarburization) Como o VOD, é utilizado na fabricação de aços inoxidáveis. A necessidade de remoção de carbono após a entrada de FeCr AC faz com que o equilíbrio da reação C + O ↔ CO deva ser deslocado a direita. O refino é realizado na instalação AOD, que é um reator especial, onde os gases Ar ou N2 juntamente com o O2, são soprados em ventaneiras laterais. Aqui, o abaixamento da pressão parcial do CO do refino é feito pela diluição dos gases gerados em gás inerte (argônio) e não por vácuo. O resultado final é o mesmo do VOD, mas o processo AOD é consideravelmente mais produtivo. Os processos AOD e VOD foram desenvolvidos nos meados do século XX e revolucionaram a tecnologia de aço. O AOD já era responsável por 68,7% da produção de aço inoxidável na Europa em 1996. 5. Instalações para refino secundário 5. Instalações para refino secundário AOD (Argon Oxygen Decarburization) 5. Instalações para refino secundário DH (Dortmund-Horder-Huetten) Permite submeter porções do aço à ação do vácuo por meio de um vaso posicionado sobre a panela, este apresentando movimento oscilante. A troca de aço entre o vaso sob vácuo e a panela é feita por um canal de comunicação. O DH e o RH (a ser apresentado) são recomendados quando a panela possui grande capacidade, sendo custosa instalação de tanque de vácuo. 5. Instalações para refino secundário DH (Dortmund-Horder-Huetten) 5. Instalações para refino secundário DH (Dortmund-Horder-Huetten) 5. Instalações para refino secundário RH (Ruhrstahl-Heraeus) Similar ao DH, porém, o contato entre o vaso e o aço da panela é por meio de dois canais de comunicação. O borbulhamento de argônio por um dos canais promove movimento contínuo de aço para dentro do vaso, o que permite um tratamento mais homogêneo. Em algumas configurações, é utilizada a oxidação do alumínio para manutenção/controle da temperatura. 5. Instalações para refino secundário RH (Ruhrstahl-Heraeus) 5. Instalações para refino secundário RH (Ruhrstahl-Heraeus) FIM Exercícios 1. Quais o objetivo de se realizar o refino secundário dos aços? 2. Explique por que os processos de refino secundário passaram a ser realizados fora dos reatores de fusão-redução, como o conversor LD/BOF e FEA. 3. Explique como pode ser feita a homogeneização química e térmica do aço no Forno Panela. Qual a importância destes processos de homogeneização? 4. Quais são as funções da escória sintética no refino secundário? 5. Suponha uma escória com 65% de CaO, 40% de Al2O3 e 3% de SiO2. Dê duas razões para se manter um baixo teor de SiO2 na escória. 6. Com base no diagrama de Ellingham, explique porque os óxidos CaO, Al2O3 e MgO são denominados estáveis. Diga por que eles são preferíveis na composição dos refratários da Panela. 7. Para deslocar as reações de refino no sentido desejado, diferentes variáveis podem ser modificadas durantes os processos no Forno Panela (pressão, temperatura, composição da escória, composição do aço líquido). Cite ao menos 4 formas de se atuar no processo de Refino secundário a fim de deslocar o equilíbrio das reações. Cite um exemplo de reação para cada. Exercícios 8. Cite duas formas de injeção de ferro-ligas no Forno Panela. Qual delas é mais eficiente? 9. A utilização dos arame recheados para adição de ferro-ligas no Forno Panela foi uma grande inovação em relação à sua injeção pulverizada. Em questões econômicas, qual a vantagem da técnica de arames recheados? 10. As ferro-ligas são classificadas em classes. Com base nisso, diga como ocorre a dissolução dos elementos de liga no banho de aço líquido em cada classe. 11. Em relação ao equilíbrio químico escória-metal líquido, cite o motivo pelo qual deve- se evitar uma alta concentração de óxidos não-estáveis na escória. Explique. 12. O que pode ser feito para neutralizar inclusões duras de alumina no aço? Explique o método e os mecanismos. 13. Dê o nome e explique dois processos de fabricação de aços inoxidáveis. Referências: MATLAKHOVA, Lioudmila Aleksandrovna. Siderurgia: Refino secundário dos aços. Apostila. Campos dos Goytacazes, 2007. MOURÃO, M.B. Introdução à siderurgia. São Paulo: ABM, 2007.
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