Buscar

A DIDÁTICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: 
A DESCONTRUÇÃO DO MITO DO “LIVRO DE RECEITAS” 
 
Ingrid Louback de Castro Moura. 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
 
Resumo 
 
Este trabalho tem como objetivo geral discutir as definições, a importância e 
expectativas expostas pelos alunos da disciplina Didática I, ofertada nos cursos de 
licenciatura de uma Universidade Federal, acerca da Didática na formação do professor. 
A relevância desse tema justifica-se pelo fato de esta ser uma disciplina ofertada em 
cursos de formação de professores, tanto pedagogia, quanto licenciaturas, sendo crucial 
na reflexão sobre a prática e na constituição da identidade docente. Durante nossa 
experiência como professora de Didática distribuímos, no primeiro dia de aula, um 
questionário para 66 alunos de diferentes cursos de Licenciatura e observamos que 
quando se matriculam na disciplina Didática I, muitos estudantes revelam certo 
preconceito, asseverando que as disciplinas pedagógicas são extremamente superficiais 
e distantes da realidade escolar. A expectativa dos discentes é de que a disciplina 
Didática quebre essa superficialidade e traga, finalmente, o tão esperado “livro de 
receitas” de como o professor deve se comportar em classe, transmitindo os conteúdos 
escolares e prendendo a atenção dos estudantes. Concluímos destacando a importância 
de desmistificar essa visão, asseverando a relevância de recordamos o papel da Didática 
no processo de formação do educador para que possamos refletir sobre a nossa prática 
como professores em exercício e/ou em formação. Destarte a Didática, como disciplina 
pedagógica que estuda as complexidades do processo de ensino e de aprendizagem, ao 
superar o reducionismo e a instrumentalidade atribuídos a ela, certamente contribuirá 
para a formação de um docente que não apenas transmite conteúdos de forma mecânica, 
mas que se preocupa com a formação de cidadãos críticos e conscientes. Contribuir para 
essa reflexão continua sendo um dos nossos grandes desafios. 
 
Palavras-chave: Didática. Expectativas dos estudantes. Formação Docente. 
 
 
Introdução 
 
Com papel de indescartável relevância na formação dos futuros professores, a 
disciplina Didática é ofertada aos alunos dos cursos de Pedagogia e licenciaturas, 
destinando-se a discentes com e sem prática na docência e tendo como objeto de estudo 
o processo de ensino e de aprendizagem. 
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores 
 Livro 2 - p.007193
 2 
Este trabalho tem como objetivo analisar as definições, a importância e 
expectativas expostas pelos alunos da disciplina Didática I, ofertada nos cursos de 
licenciatura de uma Universidade Federal, acerca da Didática na formação do professor. 
Além disso, visa destacar a importância de desmistificar a busca pelo “livro de receitas” 
de como ensinar. 
A escolha desse assunto justifica-se pelo nosso interesse em investigar a prática 
curricular da disciplina Didática, tema escolhido para nossa tese de doutorado, e pela 
experiência como professora substituta na área de Estágio e Didática, nas disciplinas 
Didática, ofertada aos alunos do curso de Pedagogia, e Didática I, ofertada aos 
estudantes dos cursos de licenciatura. Experiência que nos inspirou, nos proporcionado 
muitos aprendizados e curiosidades acadêmicas. 
Assim, a exposição deste trabalho será apresentada em dois tópicos. No 
primeiro faremos uma breve retrospectiva da Didática no Brasil para relembrarmos os 
sentidos atribuídos a ela nos diferentes períodos. Em seguida, trataremos dos 
significados conferidos pelos estudantes da disciplina no primeiro dia de aula. 
 
Surgimento e evolução histórica da Didática 
 
A palavra Didática vem do grego didaktiké, que significa a arte de ensinar. A 
consagração do termo vem com João Amós Comênio em seu livro Didática Magna, no 
qual a definiu como “a arte de ensinar tudo a todos” (LIBÂNEO, 1992, p. 58). 
A didática de Comênio apresentava diversos princípios. Libâneo (1992) destaca 
esses princípios, asseverando que, para Comênio, a educação deveria conduzir à 
felicidade eterna com Deus, por se tratar de uma força poderosa de regeneração da vida 
humana e por ser um direito natural de todos. Por esse motivo, o homem deveria ser 
educado de acordo com suas características de idade e capacidade para o conhecimento. 
Ademais, o autor também nos lembra que, para Comênio, a observação das coisas e dos 
fenômenos, por intermédio dos órgãos dos sentidos, tinha uma importância fundamental 
na aquisição do conhecimento, tornando o método intuitivo deveras relevante. 
No Brasil, o percurso histórico da Didática iniciou-se antes mesmo de sua 
inclusão nos cursos de formação de professores no nível universitário. Ainda no período 
jesuítico (1549 a 1759), a então chamada Metodologia de Ensino já influenciava a ação 
pedagógica que nesse período se caracterizava por sua não criticidade e pensamento 
dogmático. 
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores 
 Livro 2 - p.007194
 3 
Veiga (1992, p. 41), evoca o fato de que, nesse período, “A Metodologia de 
Ensino (Didática) é entendida como um conjunto de regras e normas prescritivas 
visando à orientação técnica do ensino e do estudo”, com a instrução pautada na Ratio 
Studiorum, cujo ideal era a formação de um homem universal, humanista e cristão. 
Somente no ano de 1934 ocorreu a inclusão da disciplina Didática em cursos de 
formação de professores. Segundo Veiga (1991, 1992), o período entre 1930 e 1945 foi 
marcado pela influência da concepção humanista tradicional (representada pelos 
católicos) e moderna (delegada pelos pioneiros da Escola Nova). 
Libâneo (1992) descreve que na Tendência Tradicional a didática é uma 
disciplina normativa, um conjunto de princípios e regras que regulam o ensino. 
Destarte, a atividade de ensinar é centrada no professor que expõe e interpreta a matéria, 
podendo utilizar alguns meios como a apresentação de objetos, ilustrações, exemplos 
com a finalidade de ilustrar a exposição oral. 
De acordo com essa tendência, segundo Saviani (2005), acredita-se que 
repetindo exercícios passados pelo professor os alunos gravam a matéria para depois 
reproduzi-la. O papel do aluno neste período era de receptor, pois recebia e memorizava 
os conteúdos para reproduzi-los em provas e arguições realizadas pelo professor, 
caracterizando o que Paulo Freire denominou de educação bancária. 
Na década de 1930 foi criado no governo de Vargas o Ministério da Educação e 
da Saúde Pública e em 1932 lançado o Manifesto dos Pioneiros da educação, 
preconizando a reconstrução social da escola na sociedade urbana e industrial, dois 
marcos para a educação nacional. 
Neste período, assevera Saviani (2005), inicia-se uma nova fase com o advento 
dos institutos de educação, concebidos como espaços de cultivo da educação, encarada 
não apenas como um objeto de ensino, mas também de pesquisa. Estes institutos de 
educação funcionaram sob o ideário da Escola Nova. 
A origem da didática como disciplina dos cursos de formação de professores a 
nível superior está vinculada à criação da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da 
universidade de São Paulo. Acreditava-se que a qualidade do magistério era ponto 
central para a renovação do ensino (VEIGA, 1991). 
De acordo com Saviani (2005), a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de 
São Paulo, era o antigo Instituto de Educação quem foi elevado a nível universitário. O 
mesmo aconteceu com o Instituto de Educação do Distrito Federal. 
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores 
 Livro 2 - p.007195
 4 
A formação de professores nesseperíodo acontecia sob o esquema 3 + 1, onde 
dedicava-se três anos para o estudo das disciplinas específicas e um ano para a formação 
didática, segundo Saviani (2005), perdendo o caráter científico das escolas 
experimentais e o curso de Didática, de acordo com Veiga (1991) era considerado um 
curso independente, realizado após o término do bacharelado. 
A influência do movimento escolanovista repercutiu diretamente na Didática, 
que passou a “acentuar o caráter prático-técnico do processo de ensino-aprendizagem, 
onde teoria e prática são justapostas. O enfoque do papel da Didática está condicionado 
ao caráter de neutralidade, privilegiando a sua dimensão instrumental, ignorando o 
contexto político-social”. (VEIGA, 1992, p. 51). 
A característica mais marcante do escolanovismo é a valorização da criança. 
Esta tendência, de acordo com Veiga (1991), preconiza a solução dos problemas 
educacionais em uma perspectiva interna da escola, sem considerar a realidade 
brasileira nos seus aspectos políticos, econômicos e sociais. A ênfase recai no ensinar 
bem, mesmo que a uma minoria. 
Neste momento de influencia da Pedagogia Nova, a Didática passa a ter um 
caráter prático e técnico do processo de ensino e aprendizagem, onde teoria e prática são 
justapostas. 
É a Didática Renovada, que, de acordo com Candau (2002), difunde métodos 
como o do estudo dirigido, projetos, fichas didáticas, contrato de ensino, entre outros. 
Nessa fase, segundo Veiga (1991), a Didática é compreendida como um 
conjunto de ideias e métodos, privilegiando a dimensão técnica do processo de ensino e 
fundamentada nos pressupostos psicológicos, psicopedagógicos e experimentais, 
ignorando o contexto sócio-político-econômico, passando, assim, a formar um novo tipo 
de professor: o técnico. 
Após esse período, já sob vigência da 1ª LDB, lei 4024/61, a Didática perdeu seu 
caráter 3+1 e foi introduzida a prática de ensino sob a forma de estágio supervisionado. 
Com a mudança do modelo econômico no país, a educação, consequentemente, 
também sofreu modificações, voltando-se, dessa maneira, para a formação de recursos 
humanos para o crescimento econômico. 
O tecnicismo também influenciou diretamente a Didática, fato observado por 
Veiga (1992, p. 60) 
 
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores 
 Livro 2 - p.007196
 5 
O enfoque do papel da Didática a partir dos pressupostos da Pedagogia 
Tecnicista procurou desenvolver uma alternativa não-psicológica, situando-
se no âmbito geral da Tecnologia Educacional, tendo como preocupação 
básica a eficiência e a eficácia do processo de ensino. Essa Didática tem, 
como pano de fundo, uma perspectiva realmente ingênua de neutralidade 
cientifica. 
 
Inspirada na teoria behavorista da aprendizagem, essa tendência transpôs os 
princípios fabris (taylorismo e fordismo) para o chão da escola. Nesta tendência a ação 
docente é baseada na atividade de administrar condições de transmissão de matéria, 
conforme um sistema instrucional previsto. Ele é um elo de ligação entre a verdade 
cientifica e o aluno, cabendo-lhe empregar o sistema instrucional previsto. 
Saviani (2005) nos lembra que na Tendência Pedagógica Tecnicista o professor 
é um administrador e executor do planejamento que deve garantir a eficácia da 
transmissão do conhecimento. Debates, discussões e questionamentos são considerados 
desnecessários, assim como, também pouco importa a relação afetiva e pessoal entre os 
sujeitos envolvidos no processo de ensino e de aprendizagem. São reforçados nessa fase 
o uso da tecnologia educacional, os audiovisuais e os livros didáticos. 
Segundo Farias (2008) o papel reservado ao professor nessa tendência é 
secundário em relação aos fins, reduzindo seu fazer a execução de ensino concebido e 
controlado por especialistas. Sua prática é marcada pelo emprego da sequência 
skinneriana estímulo-resposta-reforço, caracterizando o ensino como um arranjo e 
planejamento de contingência de reforço. Tem como tarefa treinar, moldar, condicionar, 
prever e controlar resultados com o intuito de instalar nos indivíduos as respostas 
previstas pelo sistema social capitalista. 
Para Libâneo (1992, 1993, 1996), esta orientação acabou sendo imposta às 
escolas pelos organismos oficiais por ser compatível com a orientação econômica, 
política e ideológica do regime militar. A Didática na Tendência Pedagógica Tecnicista 
é instrumental. 
A Didática instrumental está interessada na racionalização do ensino, no uso de 
meios e técnicas mais eficazes. O professor é um administrador e executor do 
planejamento, o meio de previsão das ações a serem executadas e dos meios necessários 
para atingir objetivos. 
 Na década de 1980, começou outro período para a Didática. Na perspectiva de 
Candau (2002), a consciência de que a educação tinha um papel significativo no 
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores 
 Livro 2 - p.007197
 6 
processo sociopolítico e cultural de afirmação da democracia fez com que houvesse um 
movimento para que a Pedagogia e a Didática comungassem com essa perspectiva. 
 Num panorama de globalização e neoliberalismo, a década de 1990 também 
influenciou a Didática. Para Candau (2002), a crítica pós-moderna traz elementos 
importantes para repensar a Didática, incentivando a incorporação de outras questões 
como diferença, estabelecimento da identidade, relação saber-poder, sexualidade, 
gênero, entre outras. 
O momento atual também traz novas questões para a Didática. Candau (2002) 
está convicta de que o desafio atual é, tendo presente a especificidade da Didática, 
trabalhar a articulação com diferentes áreas do conhecimento, ou seja, numa perspectiva 
interdisciplinar. 
Autores como Fazenda (2006), Lenoir (2006), Libâneo (2003), Moraes (2008), 
Moran (2000), entre outros, advogam uma prática interdisciplinar, fato também 
observado por Martins e Romanowski (2010, p. 64), que destacam a importância da 
“busca de construção do espaço interdisciplinar por meio de atividades e conhecimento 
articulados”. 
Nesse mesmo movimento, Veiga (2010, p. 53) lembra a importância de, nas 
propostas didáticas, “reestruturar o conteúdo de Didática como síntese dos fundamentos 
da prática pedagógica, fornecendo orientações necessárias para tornar o processo 
didático uma ação reflexiva, questionadora e interdisciplinar”. 
Ao defender a interdisciplinaridade e a transversalidade, Moraes (2008, p. 272) 
nos lembra que não é necessário abandonar a disciplinaridade, “saber especializado 
responsável por muitos avanços da civilização”, mas sim, superar a fragmentação que 
“mutila e aliena o ser humano privando-o de uma noção do todo”. 
Além da interdisciplinaridade, Candau (2002) defende que a didática revisite 
seus temas clássicos, como avaliação, planejamento, disciplina e violência “como 
componentes especialmente críticos nos processos educativos”. 
 
Voltamos a nossa preocupação do início. Toda reflexão pedagógica exige um 
horizonte utópico. Na construção da nossa agenda de trabalho é necessário 
reconhecer o cenário em que hoje estamos imersos. Articular a perspectiva 
crítica com as contribuições da visão pós-moderna. Romper fronteiras 
epistemológicas e articular saberes. Favorecer ecossistemas educativos. 
Reinventar a didática escolar. Afirmar a multidimensionalidade do processo 
educativo. Apostar na diversidade. Revisitar os temas “clássicos” da didática. 
Certamente esta é uma agenda que suscita muitas perguntas, debates e 
enriquecimentos e admite muitos desdobramentos, tanto na ótica do ensino 
como da pesquisa (CANDAU, 2002, p. 6). 
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin EditoresLivro 2 - p.007198
 7 
A busca pelo “livro de receitas” 
 
 Em nossa experiência como professora de Didática, não foi difícil observar a 
herança das tendências pedagógicas, em especial a tradicional e a tecnicista, na visão 
dos alunos dos cursos de licenciatura. Tanto os estudantes que ainda não tiveram 
contato com a atividade docente como aqueles que já trabalham como professores 
manifestam uma visão bastante similar da Didática e sua utilidade na prática do 
professor. 
Logo no primeiro dia de aula da disciplina, distribuímos um questionário que foi 
respondido por 66 alunos dos cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas, Ciências 
Sociais, Geografia, Letras e Química. Nesse questionário solicitamos aos estudantes que 
definissem Didática de acordo com a concepção dos mesmos, opinassem a respeito da 
importância da disciplina para a formação do professor e citassem os temas que 
gostariam de abordar durante o semestre. 
Realizamos essa atividade objetivando conhecer os alunos, suas expectativas 
para disciplina e também para partir do conhecimento atribuído pelos mesmos para a 
construção de um significado de Didática que supere o reducionismo e o mito do “livro 
de receitas”. 
 É interessante observar que, nas mais variadas turmas, quando se matriculam na 
disciplina Didática, alguns estudantes chegam carregados de expectativas haja vista que 
acreditam que aprenderão, passo a passo, a receita de como se deve ensinar, como se 
comportar em sala de aula e como agradar seus alunos. Fato observado em muitas 
respostas como as que seguem 
 
“Didática é transmitir um determinado conhecimento de forma que o público-alvo compreenda”. 
(Estudante do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas). 
 
“É o complexo de conhecimentos que abordam a metodologia da prática de ensino se especificando na 
dinâmica de ministrar aulas”. (Estudante do curso de Licenciatura em Ciências Sociais). 
 
“É a Ciência que se preocupa com as diversas estratégias de se transmitir determinado conteúdo visando, 
sobretudo, o entendimento do aluno sobre o conteúdo. A Didática ajuda o educador em sua criatividade, 
pois com ela se pode realizar diversas atividades e formas de se passar o conhecimento”. (Estudante do 
curso de Letras). 
 
 Os depoimentos acima comprovam que muitos discentes esperam um “livro de 
receitas”, com ingredientes e modo de preparo de uma aula que sempre dará certo. Além 
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores 
 Livro 2 - p.007199
 8 
disso, a preocupação apenas com a transmissão de conteúdos é evidente em muitos 
relatos revelando uma concepção reducionista do processo de ensino. 
 Outra visão bastante recorrente nas declarações dos alunos é a de que a Didática 
ensina a se comportar em sala de aula, quase como um “manual de boas maneiras” do 
professor. 
 
“Eu acho que a Didática ensina a se comportar em sala de aula. Ela ensina o professor a usar a voz e a 
apagar o quadro antes de sair da sala”. (Estudante do curso de Letras). 
 
“Didática são métodos que você aprende para ensinar melhor, aprendendo a melhor forma de chamar a 
atenção dos alunos e facilitar o aprendizado”. (Estudante do curso de Licenciatura em Química). 
 
 Quando questionados a respeito da relevância da Didática na formação do 
professor os alunos novamente ressaltaram que a disciplina é importante para aprender a 
transmitir o conteúdo e se comportar em sala, além de facilitar a relação entre o 
professor e o aluno. 
 
“Didática é um conjunto de métodos de comportamentos e pensamentos que servem para ajudar na 
convivência entre aluno e professor”. (Aluno do curso de Licenciatura em Geografia). 
 
 Apesar da visão reducionista da Didática, apenas dois estudantes afirmaram que 
a disciplina não é importante para a formação do professor. Justificando que 
 
“Penso que tenho outras disciplinas que podem substituí- la, tornando-a dispensável”. (Estudante do curso 
de Licenciatura em Geografia). 
 
“Porque cada um tem seu método e maneira de transmitir o conteúdo”. (Estudante do curso de 
Licenciatura em Química). 
 
 As justificativas explicitadas pelos discentes que não consideram a Didática 
importante na formação do docente revelam novamente uma visão reducionista e 
equivocada. Fato também observado em algumas respostas sobre as temáticas que os 
alunos esperam estudar. 
 Entre os assuntos que os discentes revelaram esperar trabalhar na disciplina 
técnicas de ensino foi o mais citado, seguido de temáticas relacionadas a como tratar os 
alunos e “prender” a atenção dos mesmos. 
 Temas como planejamento e avaliação do processo de ensino e de aprendizagem 
também foram lembrados. Isso mostra que apesar de em alguns momentos 
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores 
 Livro 2 - p.007200
 9 
demonstrarem não saber o que é Didática os estudantes compreendem, mesmo em seus 
depoimentos mais reducionistas, que ela trata do processo de ensino e de aprendizagem. 
Ampliar essa visão é certamente um dos grandes desafios do professor de Didática. 
 
Considerações Finais 
 
 Quando se matriculam na disciplina Didática muitos alunos dos cursos de 
licenciatura revelam certo preconceito, asseverando que as disciplinas pedagógicas são 
extremamente superficiais e distantes da realidade. A expectativa de muitos estudantes é 
de que a Didática quebre essa superficialidade e traga, finalmente, o tão esperado “livro 
de receitas” de como se comportar em classe, transmitindo os conteúdos e prendendo a 
atenção dos estudantes. 
 
Essa Didática instrumental impregna fortemente os cursos de licenciatura e 
passa mesmo a ser desejada pelos licenciandos, ansiosos por encontrar uma 
saída única – um método, uma técnica – capaz de ensinar a toda e qualquer 
turma de estudantes, independentemente de suas condições objetivas e 
subjetivas de vida. (Pimenta, 2002, p.47). 
 
 É essencial que os futuros docentes compreendam que a sala de aula é cheia de 
especificidades e que não existe uma “porção mágica” que transforma o ensino em uma 
atividade sem erros, mecânica e descontextualizada . 
 
Por isso também é que ensinar não pode ser um puro processo, como tanto 
tenho dito, de transferência de conhecimento da ensinante ao aprendiz. 
Transferência mecânica de que resulte a memorização maquinal que já 
critiquei. Ao estudo crítico corres-ponde um ensino igualmente crítico que 
demanda necessariamente uma forma crítica de compreender e de realizar a 
leitura da palavra e a leitura do mundo, leitura do texto e leitura do contexto. 
(FREIRE, 1993, p. 23). 
 
Concluímos asseverando a importância de recordamos o papel da Didática no 
processo de formação do educador para que possamos refletir sobre a nossa prática 
como professores em exercício e/ou em formação. Destarte a Didática, como disciplina 
pedagógica que estuda as complexidades do processo de ensino e de aprendizagem, ao 
superar o reducionismo e a instrumentalidade atribuídos a ela, certamente contribuirá 
para a formação de um docente que não apenas transmite conteúdos mas que também se 
preocupa com a formação de cidadãos críticos e conscientes. Contribuir para essa 
reflexão continua sendo um dos grandes desafios de nós, professores de Didática. 
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores 
 Livro 2 - p.007201
 10 
 
Referências Bibliográficas 
 
CANDAU, Vera Maria. A Didática hoje: uma agenda de trabalho. In: CANDAU, Vera 
Maria. Didática, currículo e saberes escolares. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. 
 
FARIAS, Isabel Maria Sabino de. Didática e docência: aprendendo a profissão. 
Fortaleza, CE: Liber Livro,2008. 
 
FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. A aquisição de uma formação interdisciplinar de 
professores. In: FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Didática e interdisciplinaridade. 
11.ed. Campinas: Papirus, 2006. 
 
FREIRE, Paulo. Professora Sim Tia Não. São Paulo: Olho d'Água, 1993. 
 
LENOIR, Yves. Didática e interdisciplinaridade: uma complementaridade necessária e 
incontrolável. In: FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Didática e 
interdisciplinaridade. 11.ed. Campinas: Papirus, 2006. 
 
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1992. 
 
__________ Tendências pedagógicas na prática escolar. In: LUCKESI, Cipriano. 
Filosofia da educação. São Paulo: Cortez, 1993. 
 
__________ Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos 
conteúdos . 14.ed. São Paulo: Loyola, 1996. 
 
__________ Adeus professor, adeus professora?: novas exigências educacionais e 
profissão docente . 7.ed. São Paulo, SP: Cortez, 2003. 
 
MARTINS, P. L. O.; ROMANOWSKI, J. P. A Didática na formação pedagógica de 
professores nas novas propostas para os cursos de licenciatura. In: DALBEN, A.; 
DINIZ, J.; LEAL, L.; SANTOS, L. (org), Convergências e tensões no campo da 
formação e do trabalho docente. Belo Horizonte, Autêntica, 2010. 
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores 
 Livro 2 - p.007202
 11 
 
MORAES, Silvia Elizabeth. Interdisciplinaridade e transversalidade em escolas 
públicas de Fortaleza. In: MORAES, Silvia Elizabeth (Org.). Currículo e formação 
docente: um diálogo interdisciplinar. Campinas: Mercado de Letras, 2008. 
 
PIMENTA, Selma Garrido. Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez, 
2002. 
 
SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, 
onze teses sobre educação e política . 37. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2005. 
 
VEIGA, Ilma P. A. Didática: uma Retrospectiva Histórica. In: VEIGA, Ilma P. A. 
Repensando a Didática. Campinas, SP: Papirus, 1991. 
 
________. A prática pedagógica do professor de didática. 2. ed. Campinas: Papirus, 
1992. 
 
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores 
 Livro 2 - p.007203

Outros materiais