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Filosofia e Ética - AD4

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Curso: Administração Pública
Disciplina: Filosofia e Ética
1. Segundo Platão, pode-se ensinar a virtude? Explique.
	Platão, discípulo de Sócrates, recebe de seu mestre ensinamentos que foram um marco daquela época, onde, pela primeira vez, o homem tornou-se o tema central da reflexão filosófica. O que Sócrates fazia em seus discursos nas ruas, praças, mercados e assembleias de Atenas era tentar restaurar a imagem do homem, levando-o a conhecer a si mesmo, repensando suas ideias, valores, práticas e comportamento. “Sabemos que os poderosos têm medo do pensamento, pois o poder é mais forte se ninguém pensar” (CHAUÍ, p. 45). Sócrates entendia que o homem precisava recuperar sua dignidade moral e seu valor na sociedade, pois, para ele, essa era a base - um cidadão justo em uma polis justa. Essa é a ética que Platão recebe de Sócrates. Atenas era uma cidade tomada por grupos políticos discordantes dessa ideia de Sócrates, que geravam dificuldades extremas para qualquer pessoa que quisesse, através da sabedoria, pensar e agir livremente, razão pelas quais Sócrates foi condenado à morte, acusado de desrespeitar os deuses, corromper os valores e violar as leis. Platão então aprimora as ideias de seu mestre e as coloca em um patamar bem mais alto, envolvendo a sociedade política, os homens e o os deuses, pregando uma filosofia de que a educação dos cidadãos deveria ser um processo para a justiça e um estado bem ordenado, sendo, inclusive, tese central de sua obra mais importante, chamada de A República.
	Para Platão, na formação de cada um desses cidadãos estavam implícitas questões morais, éticas e de valores. Para ele, essas virtudes, que constituem o valor do homem e do cidadão, não são ensináveis como se ensina matemática, por exemplo, mas são possíveis de serem transmitidas através da capacidade que pessoas de bem possuem para influenciar as outras pessoas a distinguirem o que é bom o suficiente para fundamentar as nossas condutas. “Não peço que me mostres o exemplo de um ato justo, mas peço que me faças ver a essência por força da qual todas as condutas justas são justas” (PEGORARO, p. 23).
2. Qual a relação que faz Platão entre as divisões da alma e as divisões da polis (cidade)? Por que ele usa essa analogia? Explique cada uma das divisões da alma e da cidade, relacionando-as.
	Platão dirá que a Ideia é o princípio que irá regular todos os comportamentos do homem e que, através da Ideia, se construirá a Ciência dos Valores, que será utilizada na educação moral do homem que desejar viver na justiça. Em A República, Platão chega à ciência do bem através do conhecimento da justiça e, para chegar a esse conhecimento, inicia a sua análise através da sociedade, pois nela torna-se mais fácil observar o que é justo ou injusto.
Na polis, “A origem da justiça é a divisão do trabalho. A justiça está em que cada um cumpra sua função, seu dever na polis; e injustiça é o contrário [...] A justiça harmoniza as funções dos membros da comunidade: os trabalhadores, os guerreiros e os magistrados; a justiça é a harmonia das muitas funções que gerenciam a polis” (PEGORARO, p. 23).
	Por comparação, Platão descreve o que seria justiça no indivíduo, na pessoa, através das divisões da alma, que são: o apetite, a paixão e a razão. Segundo ele, quando essas 3 partes trabalham em harmonia, mas sob a regência da razão, encontra-se equilíbrio. Vejamos cada uma delas:
- O apetite nos leva a alcançar os objetivos para suprirmos as necessidades para a conservação do nosso corpo. É a parte da alma responsável pela saciação das necessidades fisiológicas do nosso organismo.
- A paixão tem função de defesa do nosso organismo, sejam elas físicas e/ou emocionais. A paixão age contra tudo o que pode ameaçar a nossa segurança.
- A razão é a responsável pelo conhecimento e, através desse conhecimento, controlar os esforços das partes irracionais da alma, na busca pela conservação do nosso corpo e na defesa do nosso organismo. A ela estão subordinadas as outras duas partes, o apetite e a paixão.
	Segundo Platão, a sociedade surge do homem, de sua condição natural. Sem a sociedade o homem não conseguiria uma vida feliz, pois, para ele, um homem precisa dos outros, precisa das instituições públicas. Ele defende que o trabalho é a característica mais natural do ser humano, pois o trabalho faz parte de sua natureza e, sem ela, ele definharia por não conseguir suprir suas necessidades mais elementares, como comer, vestir, calçar, habitar, etc. Para suprir essas necessidades o ser humano desenvolveu diferentes atividades e funções, pois entendeu que precisaria produzir aquilo que lhe é necessário para sobreviver. Nessas atividades existentes na polis, Platão descreve 3 classes com funções distintas, que são: a classe trabalhadora, a classe dos guerreiros e a classe governante. Vejamos cada uma delas:
- A classe trabalhadora é a classe responsável por produzir todos os bens e serviços necessários à vida da população.
- A classe dos guerreiros é a responsável em defender a polis de todos os perigos, sejam eles internos ou externos.
- A classe governante é a responsável por moderar as ações de cada cidadão, através de normas e leis.
	Para Platão, o ideal de vida em sociedade se dá quando o indivíduo entende que seus interesses pessoais precisam estar subordinados aos da sociedade como um todo, e não o contrário. Na verdade, a sociedade é um grande organismo vivo, com funções bem distintas de defesa, produção e governabilidade. Com isso, Platão estabelece uma relação entre as divisões da alma e da polis (traçando um paralelo entre as partes do corpo humano e as partes do corpo social), tendo cada uma delas uma virtude que a diferencia da outra, mas não as torna menos importante umas das outras. Vejamos:
- O apetite, da alma, se relaciona com a classe trabalhadora, da polis – sua função específica é produzir bens de consumo necessários para a população e sua virtude é ser moderada na saciação dos instintos e necessidades do homem.
- a paixão, da alma, se relaciona com a classe dos guerreiros, da polis – sua função é cuidar da segurança da sociedade e sua virtude é ter a coragem para realizar tal função.
- a razão, da alma, se relaciona com a classe governante, da polis – sua função é fazer leis que sejam justas para governar as outras duas classes em conformidade com a justiça e sua virtude é a sabedoria.
“[...] A justiça é a virtude que harmoniza e disciplina a variedade das qualidades humanas e as inúmeras diferenças no organismo social [...] O que enaltece e enobrece a política de Platão é que ela, no fundo, quer uma só coisa: uma sociedade e um cidadão justos, ou seja, a harmonia social alcançada pela perfeição moral dos cidadãos! (PEGORARO, p. 33,35)
REFERÊNCIAS
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000.
PEGORARO, Olinto A. Ética dos Maiores Mestres Através da História. Ed. Vozes, 2006.

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