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Metacontingencia	-	comportamento,	cultura	e
sociedade.
Book	·	January	2005
CITATIONS
15
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42
3	authors:
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Self-control	as	control	by	organism-environment	interactions.	View	project
History	of	Behavior	Analysis	in	Brazil	View	project
Joao	CLAUDIO	Todorov
University	of	Brasília
152	PUBLICATIONS			992	CITATIONS			
SEE	PROFILE
Ricardo	Correa	Martone
7	PUBLICATIONS			49	CITATIONS			
SEE	PROFILE
Marcio	Borges	Moreira
Centro	Universitário	de	Brasília
29	PUBLICATIONS			70	CITATIONS			
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Metacontingências: 
comportamento, cultura 
e sociedade
CapyfightS cfcisffl oetsáa- 
L S E le c b d lio te s A sso cia d o s. Sitnlp Ajii:< f. 20W>. 
tOdC-% l» Ctfe*túS HKofVjnxj*
Todorov: Joào Cláudio, et al
Metacontingências: comportamento, cultura o sodedade - 
Org. J.C. Todorov. R. C. Martone, M B. Moreira. 1-ed Santo André. 
SP: ESETec Editores Associados. 2005.
171 p. 14 x21 cm
l Psicologia do Comportamento e Cognição
2. Análise do Comportamento
CDD155 2 
CDU 159.9.019.4
ISBN 85 - 88303 -61 -2
ESETec Editores Associados
Solicitação de exemplares. 
comorcial@esetec com. br 
wyvw.esetec.com.br
Tel/fax: (11)4438-6866
Metacontingências: 
comportamento, cultura 
e sociedade
João Cláudio Todorov 
Ricardo Corrêa Martone 
Márcio Borges Moreira 
Organizadores
ESETec
Christian Vichi
Fundação Universidade Federal do 
Valo do São Francisco
Gisele Carneiro Campos Pereira
Universidade de Brasilia
João Cláudio Todorov
Instituto de Educação Superior de 
Brasilia
Universidade Católica de Goiás
Maisa Moreira
Universidade de Brasília
Mara Regina A. Prudéncio
Universidade de Brasília
Márcio Borges M oieira
Instituto de Educação Superior de 
Brasilia
Maria Amalia Pie Abib Andery
Pontifícia Universidade Católica do 
São Paulo
Agradecim entos
ASguAs cnpttuk» oeste livro foram originalmente pwVicudos cm outros veículos do divulgação 
cientifica. Estamos graxjs aos veiculas c fc a d o s a lx iix o o ^ g e rtil autorização para a publicação 
<io3 segut^e» o rtç r»
Capitulo 02: Glenn, S.S (15)86) M citoontingcntim in Waltfon Two Pohimtyai Angtya/s antf Soc/a( 
Action, 5 ,2-fl PiibíincJo ccen a autorcaçüo do fks'.#vk\rifís for Social Responsibility.
C apítulo. 03: Todorov J. C . {1087). A Constituição como M ot&cont.-<j*icla. Pstcofoçta: C & nc i£» 
9 Profissão, 7 9 - 13
C apitu lo 04: Todorov. J. C. e V o re ra . M . (200-1). A^Alse expdf.mentól oo comoofiamemo e 
sociedade: um novo foco c * estudo. P&cotogta: R efíexáo e Crítica. 1 7 .25-2«
C apftu lo 05: foCoroV, J. C .. Moreira. M . Prudênao M R. A. &. Pereira, G. C . C. <2CC4) O 
E*tatuto da Scianvj o do Adolescente como motacroilingôocia l r M 7. S BrsndttO, F- C. 
S Cor.ln. F. S. Brandão. Y. K. irgbM m an. V I M Silva A S. M. Oliani (fids.) Sobre 
comportamento o cognição contingências 0 m oincoringèncías. contextos sócio-VWbais 
9 0 com podamootodo terapeuta. Siinto Andié' fcSETea 
C apitu lo 00; Todorov. J C . Moreira. M 8 & M orara. M (20IMJ. M otaconl'igonoes <neilock*>: 
a id unrelated conlhtjencios In T. C. C. Gra&si (Org J. Contemporary chaUenyes m ttto 
ben auow i approach Santo A rdré . -SET&c.
C a p itu lo 09; Glonn, S .S & M alott, M . {2 0 0 4 ) Complexity and Selection lmpllcullo>i3 foi 
O rganizational Change Bvrm viut and S o d a i issues. 13. 8 5 -106 Puhllcudo corn a 
autorfcaçSo 0 0 8etiavforists- for SotíaJ ReaponslbMiy.
C apitu lo 10: P.lartone, R.C , & Todorov J.C. (2005) Sobr« ■Compltfxidmfoe ftnloçflo iaiplicaçícR 
»ara inudnnçii o rg an izac io n a l' oe G lenn e M alo l! Rttvísia BratW aira do Tntnpin 
Camfxxlanientuf t: CttgrJtivx
C a p itu lo ll: Andnry, M A . Mirh<*l«3lo, N , &S6 ro . T M (2005) A noálise do íonftmuno» sociais- 
eso nçív ido um a proposto paro a idontlficaçÃo do corn ingércín» «r.tm taçDdas e 
•netacortigénda-s Rev<ste Bras.'>era be Anáitee do Comportamento (no piolo) 
C apttulo1 2 : Ancery M A . & Séoo. T.M ( l í '9 7 ) O conceito 0 0 m otacontirrtf-rci#*. J-.tlnal a 
veina conongônciace retorçamento e Hftrtlcfente? R B arreo , (Cry i Sot«« com coitarr^ilo 
e C0 9 .11Ç&0 . Santo Andnô. ARBytea-' ESETec (pp. 108-116) |r>o prelo)
Maria E. Maltot
Mafíot & Associates
Nilza Micheletto
Pontifícia Universidade Católica de 
São Paulo
Ricardo Corrôa Martone
Instituto de F.tíucação Superior de 
Brasília
Universidade de Brasilia
Roberto Alves Banaco
Pontifícia Universidade Catótica de 
São Pauto
Sigrid S. Glenn
University of North Texas
Tereza M aria de A ze v e d o P ires 
Sério
Pontifícia Universidade Católica de 
São Pauto
II.SB - Inxiitulo dc rdurH<2u Sii|Kito> tfr lii jtiliu
Ti|Wi <lí Document»: DaU:
Livro 04AHV200?
A<| iiiklçAo rrocedéncm
'
Curto: Píívolo^ a 
l.iKalwuçio: *iul 
Preçn: RS 25.50 Sumário
Prefácio.....................................................................................................7
Capítulo 1
Os fins e os meios de uma Ciência do C om portam ento............ 9
Márcio Borges Moreira, Ricardo Corrêa Martorie, Joào Cláudio Todorov
Capitulo 2
Metacontingéncias em W alden D ois ................................................. 13
Sigrid Glenn
Capitulo 3
A Constituição como Metaconlingência.......................................... 29
João Cláudio Todorov
Capitulo 4
A n á lise E x p e rim e n ta l do C o m p o rta m e n to e S ociedade: 
um novo foco de e s tu d o ....................................................................... 37
João Cláudio Todorov, Maísa Moreira
Capitulo 5
Um estudo de Contingências e Metacontingéncias no Estatuto da 
Criança e do A dolescente..................................................................... 45
Joào Cláudio Todorov. Maisa Moreira, Mara Regina A Prudêncio. Gisele 
Carneiro Campos Pereira
Capitulo 6
Contingências Entrelaçadas e Contingências Não-Relacionadas 55
João Cláudio Todorov, Márcio Borges Moreira. Maísa Moreira
Capitulo 7
Comportamento Social: A Imprensa como agência e ferramenta 
de controle s o c ia l....................................................................................61
Ricardo Corrêa Martone, Roberto Alves Banaco
Capitulo 8
Igualdade ou Desigualdade: Manipulando um análogo experimental 
de prática cultural em laboratório.......................................................81
Christian Vichi
Capítulo 9
Complexidade e Seleção: Implicações para a mudança organizacional...101
Sigrid S. Glenn, Maria E. Mallot
Capitulo 10
Comentários sobre ‘Complexidade e seleção: implicações para mudança 
organizacional' de Glenn e Malott (2004)......................................... 121
Ricardo Corrêa Martone, João Cláudio Todorov
Capitulo 11
A a n á lis e d e fe n ô m e n o s so c ia is : e s b o ç a n d o u m a p ro p o s ta 
p ara a id e n tific a ç ã o d e c o n tin g ê n c ia s e n tre la ç a d a s e m eta- 
c o n tig ê n c ia s .............................................................................................129
Maria Amalia P. A. Andery. Nilza Michetetto, Teresa M. dc Azevedo Pires Sério
Capitulo 12
O co nce ito d e m etacon tlng ô n c ias : a fina l, a ve lha co n tin g ên c ia 
de re fo rçam ento é in s u fic ie n te ? ................................................... 149
Maria Amalia P. A. Andery, Teresa M. do Azevedo Pires Sério
Capitulo 13
Introdução ao estudo deMetacontingéncias
Márcio Borges Moreira
161
Prefácio
Já há algum tempo queríamos publicar um livro com artigos exclusi­
vamente sobre metacontingèncias e questões sociais uma vez que os as­
pectos sociais e culturais do ser humano vèm ganhando, desde a década 
de 80. um relativo espaço nas publicações em Análise do Comportamento. 
Não como un> novo foco de estudo, mas como uma retomada do projeto 
original de B.F. Skinner, explicitado na terceira parte de Ciência e Compor­
tamento Humano e em tantas outras obras de sua autoria.
No presente livro o leitor encontrará uma compilação de alguns tra­
balhos de autores brasileiros sobre o assunto, trazendo alguns trabalhos já 
publicados em outros veiculos de divulgação e outros inéditos.
Além das publicações de autores brasileiros o livro também apresen­
ta traduções de dois outros importantes artigos de autores norte-america­
nos: Metacontingèncias em Walden Dois, publicado em 1986 e do autoria de 
Sigrid Glenn. considerado o artigo seminal sobre Metacontingèncias: e Com­
plexidade e Seleção: Implicações para a Mudança Organizacional, de auto­
ria de Sigrid Glenn e Maria Mallot. O primeiro destaca-se por sua importância 
histórica e pelo mérito de retomar o interesse, de forma explicita, pelos as­
pectos sociais do comportamento humano O segundo dostaca-se pela atu­
alidade e pelas vividas discussões geradas recentemente ao ser publicado 
no periódico Behavior and Social Issu&s {2004, vol.13).
Os trabalhos apresentados neste livro versam, de forma geral, so­
bre a pertinência, relevância e definição do que tem sido discutido sob a 
alcunha de Metacontingència em Análise do Comportamento. Diversos 
aspectos do assunto são abordados com maior ou menor ênfase em cada 
texto (e.g. metodologia, definição, aplicabilidade, interpretações de acon­
tecimentos recentes, como os "atentados terroristas" de 11 de setembro, á 
luz do concoito, dentre outros).
O presente trabalho surge, também, em um momento muito oportu­
no. pois seu lançamento ocorre concomitantemente á realização de um 
evento que. certamente, constituir-se-á em um marco histórico nos estu­
dos sobro Metacontingèncias: Think Tank on M etacon lfngenc ics and 
C u ltu ra l Ana lys ls , que ocorrerá em agosto de 2005, em Campinas, e con­
tará com a participação de 16 importantes nomes da Análise do Comporta­
mento brasileira o mundial com o intuito de abordar quatro questões funda­
mentais:
1 Quais são as opções que temos para caminharmos em d i r e to a estu­
dos observacionais ou ao menos podermos empreender modestos tra­
balhos experimentais, a partir de um trabalho que tem se caracterizado 
pela interpretação?
2. Quais são os caminhos para uma ação efetiva em direção à mudança 
cultural?
3. Como o instrumental teórico da análise do comportamento pode auxiliar 
na compreensão dos fenômenos sócio-culturais?
4. Quais são os caminhos para que possamos estabelecer interface com 
outras áreas do conhecimento?
Recomendamos ao leitor que entra em contato com este assunto 
pela primeira vez, através desse livro, que comece sua leitura pelo Capitulo 
13. Este capítulo é uma introdução ao conceito de metacontingência elabo­
rado em forma de instrução programada, uma tecnologia de ensino bastan­
te utilizada em décadas passadas, sobretudo por analistas do comporta­
mento, para aumentar ou refinar o repertório verbal de seus alunos.
João Cláudio Todorov 
Ricardo Corrêa Martone 
Márcio Borges Moreira
Agosto/2005
Os fins e os meios de uma 
Ciência do Comportamento
Márcio Borges Moreira 
Ricardo Corrêa Martone 
João Cláudio Todorov
O comportamento social pode ser definido como o comportnmento 
de duas ou mais pessoas em relação a uma outra ou em conjunto em 
relação ao ambiente comum. Com frequência se argumenta que é 
diferente do comportamento individual e que há situações sociais' e 
‘forças sociais ' que não podem ser descritas na linguagem da ciência 
natural. Diz-se que requer uma disciplina especial denominada 'ciên­
cia social' por causa dessa aparente ruptura na continuidade da na­
tureza. Há, é claro, muitos fatos referentes a governos, guerras, mi­
grações. condições econômicas, procedimentos culturais, etc. - que 
nunca se prestariam a estudo se as pessoas não se juntassem e se 
comportassem em grupos, mas ainda assim continua a questão de 
se saber se os dados básicos são fundamentalmente diferentes. Aqui 
nos interessamos (>elos métodos das ciências naturais como os vi­
mos funcionando na Fistca, na Química, na Biologia, e com os ter­
mos aplicados ao campo do comportamento. Até onde nos levaráo 
no estudo do comportamento de grupos?" (Skinner. 1953/2000. p. 
325).
É desta forma que Skinner inicia a quarta seção de Ciência e Com­
portamento Humano (C&Chf), seção esta intitulada: "O Comportamento das 
pessoas em grupo". C&CH. que foi escrito em 1953 e é considerado por 
muitos a 'bíblia" da Análise do Comportamento, é, sem dúvida uma obra de 
reíorència fundamental. Esta quarta seção é composta pelos capítulos ‘ Com­
portamento social”, "Controle pessoal* e "Controle pelo grupo*. A quinta 
seçáo se intitula "Agências controladoras", fazendo referência em capítu os 
distintos a 'Governo e lei’ , "Religião", 'Psicoterapia", “Controlo econômico", 
e “Educação". Por fim, a ultima seção. Intitulada “O controle do comporta­
mento humano", versa sobre "Cultura e controle”, "Planejamento de uma 
cultura" e *0 problema do controle". Praticamente um terço de Ciência o 
Comportamento Humano é dedicado ao comportamento do indivíduo inse­
rido em um contexto sóao-cultural.
10 M a r a o B o rg o n fA ifattti, R ic u td o C a rrA c M a r u n * . J o i » O a j c J ' j T g o o io v
Ainda antes da publicação de C&CH, em 1948. Skinner publica 
Walden Two, uma obra definida, pelo próprio Skinner. desta forma:
"Minha novela utopista... publicada há quarenta anos foi uma anteci­
pação ficc io n a l daquilo que veto a se r cham ado análise 
comportamental aplicada Ela descreve uma comunidade em que 
instituições governamentais, religiosas e capitalistas sào substituí­
das por controle face a face. Os novos membros começam seguindo 
regras simples, com o auxilio de instruções e aconselhamento, e seu 
comportamento é logo posto sob o controle de contingências soci­
ais cuidadosamente planejadas .. Como todas as utopias, Walden 
Two tenta resolver os problemas da cultura, todos de uma vez e 
não um a um. Ê provável que não consigamos nos direcionar para 
esse lipo de mundo melhor, mas, penso eu, é valioso té-lo como um 
modelo.'(Skinner, 1989/1991, p. 115, grifo nosso).
Vemos claramente neste trecho a preocupação de Skinner em forjar 
uma ciência do comportamento cujo objetivo maior seria o planejamento 
cultural.Ao longo de sua produtiva carreira Skinner publicou várias obras, 
como Frvedom and the control o fm en (1955), The design ofcultures {1961), 
The design o f experimental communities (1968), 8eyond freedom anddignity 
(1971) e Reflections on behaviorism and socie ty (1978) Upon Furlher 
Refíection (1987) que expressavam sua preocupação com o planejamento 
cultural e exploravam idéias acerca de "como a ciência pode ajudar?’ .
Mesmo tendo sido o planejamento cultural, norteado por uma ciência 
do comportamento, tantas e tantas vezes ressaltado por Skinner. este aspecto 
do comportamento humano parece ter sido relegado a um segundo plano den­
tro da própria Análise Experimental do Comportamento. Como ressaltado pelo 
próprio Skinner. “é o indivíduo que se comporta. O problema apresentado pelo 
grupo maior ó explicar por que os indivíduos se comportam juntos." (Skinner. 
1953/2000, p. 340). Mesmo olhando para o grupo, o foco principal sempre será 
o indivíduo, mas será que existe algo mais a ser considerado quando o ambi­
ente do individuo é um grupo social? A resposta a esta pergunta ainda é con­
troversa.mas. graças a Sigrid Glenn (1986) esta pergunta tem. pelo menos, 
sido feita por alguns analistas do comportamento.
Sigrid Glenn (1986) trouxe o assunto à tona com o conceito do 
m etacontingênc ia , de fin ida por e la com o con tingênc ias ind iv idua is 
entrelaçadas {bterlocking em inglês, no original), em que todas elas juntas 
produzem um mesmo resultado a longo prazo. Metacontingèncias envol­
vem contingências socialmente determinadas. O elo de comportamentos 
individuais em uma metacontingência é a conseqüência a longo prazo que 
afeta toda a sociedade (ou grupo de pessoas).
É verdade que ainda há muito o que aprender sobre o comportamen­
to do individuo. ainda temos muito o que aprender sobre o comportamento 
dos nossos tão conhecidos sujeitos experimentais náo-humanos (ratos e 
pombos) e, de importância fundamental, temos que aprender ainda muito 
mais sobro comportamento verbal. No entanto, não é verdade que o conhe­
cimento produzido até o momento em Análise Experimental do Comporta­
mento não seja suficiente para que haja, entre os analistas do comportamen­
to. tentativas de a lçar vôos maiores, mesmo que inicialmente apenas
W nt»»ci«tlirí)êf*sM *: o ^ n p o ta iru M rio . c l <Ij t a « v j i in d m j« 11
especulativos - no bom sentido da palavra - no intuito de analisar e compre­
ender fenômenos culturais (o terceiro nível de seleção pelas consequências).
Questões de amplo interesse social, e que resgatam a responsabili­
dade social proposta por Skinner desde os primórdios de sua carreira, têm 
sido abordadas recentemente por vérios analistas do comportamento. Siste­
mas sócio-econômicos (Kunkel, 1991; Lama!. 1991; Rakos. 1991; Rakos. 
1989), política (Goldstein & Pennypacker, 1998; Lamal & Groenspoon, 1992: 
Todorov, 1987). educação (Greenspoon, 1991), políticas públicas (Hovell, 
Wahlgren & Russos, 1997; Mattaini & Magnabosco, 1997), sistemas peniten­
ciários {Ellis. 1991), e o controle do comportamento por intermédio da infor­
mação (Guerin. 1992; Martone, 2003; Rakos. 1993) são alguns dos temas 
estudados por alguns (ainda muito poucos!) analistas do comportamento. 
Vale ressaltar também o brilhante esforço de alguns autores que vôm desen­
volvendo teoricamente o conceito, discutindo sua pertinência, suas implica­
ções metodológicas e a necessidade de construir parâmetros para que se 
possa de lato caminhar rumo à sua aplicabilidade (Andery & Sério, 1999; 
Glenn. 1991; Todorov. Moreira & Moreira, 2004).
Desenvolver ainda mais os temas apontados acima e tantos outros 
que podem e devem ser alcançados por uma ciência do comportamento é 
de importância fundamental no mundo atual, sobretudo quando deparamo- 
nos com problemas que á primeira vista nos parece não existir qualquer 
solução a médio prazo. O recrudesci mento do terrorismo em muitas partes 
do mundo e a extrema pobreza observada em muilos paises são alguns 
dos problemas que não dependem somente de 'vontade política*. Necessi­
tamos cada vez mais de mudanças, mudanças estas que de fato produzam 
efeitos duradouros e que beneficiem o maior número de pessoas possível. 
Temos ainda um longo caminho!
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Skinner, B F (1991). Questões rocontos na análise comportamental Tradução de 
A. L. Neri. São Paulo: Papirus. (trabalho originalmente publicado em 1989)
Metacontingências em 
Walden Dois1
Sigrid Glenn
Li pela primeira vez a novela utópica Walden Dois, de B.F.Skinner, 
por voita de 1972 g estive a ponto de fazer minhas malas: seguramente 
alguem foz algo para que isso pudesse acontecer. Desde aquela época 
tenho ouvido sobre comunidades planejadas nos moldes da utopia de 
Skinner - especialmente Twin Oaks e Los Horcones. Entretanto, eu quero 
uma utopia com o re tra tada no liv ro - v inda d ire tam ente da escrita 
skinneriana. Talvez, assim como Estragon e Vladimir na peça de Samuel 
Becket. eu esteja esperando por um GorJot que trará a Terra Prometida até 
mim. Ao menos aguardo por um Frazler, o planejador fictício de Walden 
Dois, o qual saberá o que fazer e como fazer.
Provavelmente, uma solução que nos leve a um mundo melhor deve 
embasar-seno planejamento de melhores contingências em nosso ambien­
te atual para que alcancemos esse objetivo. Além disso, devemos começar 
agora e a partir do ponto em que estamos. Ir a algum lugar qualquer a espera 
de um sábio planejador cultural, provavelmente, não tomará nosso inicio mais 
fácil. Nossa tarefa implica em encontrar um caminho através da selva que se 
encontra entre nós e a Terra Prometida, planejando e construindo os veícu­
los necessários, que nos levaráo até lá. Em suma, nós devemos criar uma 
tecnologia que envolva mais do que “aplicaralguns poucos princípios gorais” 
(Skinner. 1969, p.97).
Com esse objetivo, tenho gastado algum tempo buscando compre­
ender as diferenças fundamentais entre Walden Dois e nossa própria cultu­
ra. Tentei para mim mesma clarificar algumas discriminações de Skinner e, 
quando necessário, utilizei inslghls de outros pensadores radicais perten­
centes ou não ao campo da análise do comportamento. Estou aqui para 
contar meu progresso - pelo menos acho ter sido um progresso - enquan­
to ou caminho através da selva.
Contingência e Metacontingências
Alguns anos atrás, ao tentar descrever alguns elementos que nos apro­
ximavam de Walden Dois no Center for Behavioral Sludies, trabalhei no senti­
do de distinguir entre dois tipos de contingências que pareciam estar em ope-
1 T iaduçd o d e Gfonn. S .S . (1 9 8 6 ) M olacontlrydncius I r W aldon Two. 8eh av lu ra l A ra lys i» ;»nd 
Social A c to n , 5. 2 -8 , puW kada c o t i a autorização do B^avx>rí;,ts for S o d af Rosponslbility. Este 
penôdico tm nslo im ou-sa r o Üehavior and Scx.iol Issues cujo cor*teí»do podit $<*• aces-satío em 
liCp .'''/Av'>v b fe .o rg . Tradução realizada por Ricar<ío C crrèa M ar.ono e Diogo Seoo C e rq u e Ryrw ira
14 S g r i d G lo tv i
raçâo lá: 1) relações de conbngênda entre uma dasse de respostas e uma 
conseqüência comum - contingências de reforçamento - e 2) relações de 
contingência entre uma classe de operantes e uma conseqüência cultural co­
mum. A esse segundo tipo de relações de contingência dei o nome de 
metacontingêndas. Algum tompo depois oompreendi que eu estava traduzin­
do em eventos cotidianos, ou talvez esclarecendo para mim mesma, a diferen­
ciação entre a seleção do comportamento operante em indivíduos e a seleção 
de práticas culturais em sociedades feita por Skinner. Parece-me que a dife­
rença crucial entre o nosso mundo e Walden Dois está nas metaoontíngèncias. 
Antes de prosseguir, permitam-me esclarecer a diferença entre contingêndas 
e metacontingêndas.
Um operante ê um grupo de respostas de topografias variadas que 
foram aglutinadas em uma classe funcional por terem produzido unia conse­
qüência comum A contingência de reforçamento é a unidade de análise que 
descreve as relações funcionais entre o comportamento operante e o ambi­
ente com o qual o organismo que se comporta interage. A contingência de 
reforçamento envolvo um processo de seleção no nível comportamental que 
mantém um paralelo com o processo filogenético chamado seleção natural, 
devendo sua existência a ele. Embora muitas das relações que surgem entre 
o comportamento operante e o ambiente se configuram como o resultado de 
uma história individual - a maioria das relações estabelecidas entre seres 
humanos e o ambiente assim se caracteriza - o processo õ diretamente 
mediado pela biologia do organismo.
Bater á porta, chamar, girar a maçaneta e empurrar a porta, inserir a 
chave na fechadura e girá-la, entre outros, são exemplos freqüentemente 
citados de respostas que conduziram historicamente à porta aberta, cons­
tituindo assim uma classe operante. A conseqüência re fo rça d o r ê imedia­
ta e, como Michael (1984) apontou, temos que procurar por outras explica­
ções para o fortalecimento dos comportamentos que estão amplamente 
separados no tempo de suas conseqüências.
A metacontingência é a unidade de análise que descreve a relação 
funcional entre uma classe de operantes, cada operante possuindo sua pró­
pria conseqüência imediata e única, e uma conseqüência a longo prazo co­
mum a todos os op o ra n te s que pe rtencem à m e ta co n tin g ê n c ia . 
Metacontingêndas devem ser mediadas por contingências de reforçamento 
socialmente organizadas. Tomemos como exemplo os vários comportamen­
tos envolvidos na conseqüênda a longo prazo ’ redução da poluição do ar*. 
Engenheiros devem se engajar em vários operantes necessários na elabora­
ção de catalisadores para escapamentos de automóveis: os trabalhadores 
da linha de montagem devem aprender a construi-los e encaixá-los correta­
mente; os consumidores precisam comprar esses automóveis assim como 
abastecê-los com gasolina sem chumbo; as refinarias devem desenvolver 
técnicas para retirar o chumbo da gasolina. A probabilidade de todos esses 
operantes ocorrerem sem contingências mediadas socialmente parece ser 
pequena. As contingências de mediação são planejadas e implementadas 
em virtude de sua relação com o efeito a longo prazo como. por exemplo, 
reduzir a poluição do ar.
M W K iy t t ln g f t r c t M ' r n T p c r t a T u i t t a c U tu ra • »co «> .1nOi* 15
O comportamento verbal ô uma ligação fundamental entre contingên­
cias e metacontingèncias, ao menos de dois modos. Primeiro, o comporta­
mento verbal em forma de regras preenche o vácuo existente entre o com­
portamento e a conseqüência a longo prazo. Isto é, o comportamento verbal 
possibilita que um ato único, a dedaração de uma regra, ocorra em resposta 
a eventos amplamente dispersos no tempo Como um estimulo discriminativo 
a regra deve então fazer parte da contingência de reforçamento que gera e 
mantém comportamento o qual não ocorreria na sua ausência. Por exemplo, 
a regra: "abraçar o meu filho quando ele se aproxima de mim com um sorriso 
resulta em mais sorrisos"è comportamento verbal sob controle de estimulos 
de eventos não relacionados temporalmente. Uma vez sondo bem formula­
da a regra pode ser usada para trazer outros comportamentos sob o controle 
de estímulos dessa relação. O segundo modo como o comportamento verbal 
participa das metacontingèncias é quando o reforçamento social fomeco as 
conseqüências que mantém o comportamento sob cont/ole das regras até o 
momento em que as conseqüências a longo prazo possam ser distinguidas. 
Todos aqueles que buscam ensinar clientes ou estudantes a reforçarem com­
portamento desejável de outras pessoas, sabom quo as mudanças almeja­
das no comportamento ocorrem tão vagarosamente, tão distribuídas ao lon­
go do tempo e tão cindidas do comportamento do agente de mudança para 
funcionar como reforçamento sem a mediação social'(a.gr.. gráficos de de­
sempenho, elogios etc.)
Muitas das contingências de reforçamento em Waiden Dois são simi­
lares ás de nossas próprias vidas. Quando apertamos o botão do interru|X>r 
de luz, a luz se acende; quando dizemos ‘ bom dia”, as pessoas respondem 
com uma saudação. No entanto, quando nos referimos às metacontingèncias 
as coisas são bem diferentes. Assim, o comportamento verbal que interliga 
as duas é necessariamente diferente. Desde o instante em que o que dize­
mos sobre o mundo cria nossos conceitos a respeito da realidade, as 
metacontingèncias parecem ser o rabo que balança o cachorro^
Desde que Skinner apresentou Waiden Dois como uma utopia, pode- 
se perguntar se as metacontingèncias dispostas na comunidade utópica pos­
sivelm ente são mais prováveis de prom over sobrevivência do que as 
metacontingèncias dispostas em nossa própria cultura. Como toda ficção, 
V/akien Dois nos apresenta um retrato e deixa que abstraiamos as regras. 
Mas Skinner nos dá uma pista, a qual me levou à presente análise oas 
metacontingèncias em Waiden Dois e suas relações com sou caráter utópico.
Processos Culturais Tecnológico e Cerimonial
Logo nas primeiras páginas de Waiden Dois. Skinner retere-se ao livro 
Teoriada Classe Ociosa, de Thorstein Veblen. Nesse livro Veblen distinguiu 
entre dois processos culturais opostos os quais acreditava operarem em nos­
sa sociedade assim como om outras - processo tecnológico e processo ceri­
monial. Embora Veblen deva ter considerado essas forças imutáveis, como
•' N .T : A autora utÜtea o ditado apare*’ tem erve aludindo ao fato do aer Indlscarnlvol so o nx jrd o c íií i 
nossa percepção d e realidade ou o contráno.
16 SISJIC G(«'in
Yin e Yang, bem e mal, ou como a força da vida e a força da morte, Walden 
Dois parece representar a hipótese de Skinner de que essas forças na verda­
de não são imutáveis, mas sim, emergentes do comportamento humano - 
muitas das quais são funções de contingências de reforçamento, portanto 
mutáveis. A diferença entre Walden Dois e nossa própria cultura está no fato 
de Walden Dois ter eliminado os processos culturais cerimoniais e dispor de 
metacontingéndas que sustentam procossos tecnológicos. Em um trabalho 
anterior (Gtenn, 1985) analisei as contingências comportamentais subjacentes 
a esses processos. Um resumo dessa análise auxiliará na comproensão das 
metacontingéndas dispostas em Walden Dois.
Contingências tecnológicas envolvem comportamentos que são manti­
dos por mudanças não arbitrárias no ambiente. Os reforços que participam 
das contingências tecnológicas derivam seu poder de sua utilidade, de seu 
valor, ou de sua importânda às pessoas que estão envolvidas nesses tipos de 
contingências, assim oomo de outras. Por outro lado, contingências cerimoni­
ais envolvem comportamentos mantidos por reforços sodais os quais derivam 
seu poder do status, da posição ou da autoridade do agente reforçador inde­
pendentemente de qualquer relação com as mudanças ambientais que, direta 
ou indiretamente, beneficiam as pessoas que se comportam.
O controle cerimonial pode ser exemplificado pola expressão: 'Faça 
porque estou dizendo para fazê-lo" Já o controle tecnológico pode ser 
exemplificado, primeiro, pelo comportamento que partidpa das contingên­
cias naturais de reforçamento (alavancas e roldanas são utilizadas, pois 
permitem construir mais rapidamente) e. segundo, por contingências soci­
ais planejadas que medeiam as relações entre comportamento e os efeitos 
resultantes em motacontingencias tecnológicas (T a ça isso, pois o resulta­
do será melhores condições de saneamento, por conseqüência, melhores 
condições de saúde").
As metacontingéndas envolvidas em comportamento tecnológico 
aglutinam um grande número de dasses operantes (ou um grande número 
de indivíduos), as quais apresentam uma conseqüência a longo prazo que 
be n e fic ia todos os in d iv íd uo s e nvo lv idos na m e tacon tingênc ia . 
Metacontingéndas tecnológicas requerem a abstração de boas regras, ou 
seja, regras que descrevam com acurácia as relações funcionais entre o 
comportamento e conseqüências não arbitrárias imediatas ou conseqüênci­
as a longo prazo Essas metacontingéndas envolvem também a mediação 
do comportamento verbal do especificar regras, as conseqüências dispostas 
para o seguimento das rogras e o continuo monitoramento dos resultados de 
soguir regras. Motacontingônciao tocnológicas solicitam que façdilius uuns- 
tantemente a seguinte pergunta: as conseqüências ainda são aquelas inid- 
almente previstas? A regra ainda é boa?
Metacontingências conflitantes
De acordo com Clarence Ayres (1944-1962). discípulo de Veblen, pro­
cessos tecnológicos impulsionam os culturas adiante - utilizando nosso pró­
pria terminologia, processos tecnológicos aumentam o alcance e a efetividade 
do comportamento operante nas mudanças ambientais, aumentando a so­
M e l n c o r t r v j « i c i * v c O T j w r t à m j i l o . c u l t u - a o » o p o d a t f o 17
brevivência e a satisfação do grupo e do indivíduo. Contingências cerimoni­
ais impedem a evolução do comportamento operante, em especial, daqueles 
operantes definidos oomo "práticas culturais". Os processos cerimoniais for­
çam as práticas culturais para dentro de esquemas rigidamente definidos, 
mantendo-os assim por intermédio de controle social derivado de status, 
posição ou autoridade. À medida que práticas casuais resuttam om conseqü­
ências a longo prazo benéficas aos membros da cultura, o controle cerimoni­
al não deve ser terrivelmente prejudicial. Mas o controle cerimonial não ò 
sensível às possibilidades de mudanças construtivas. Metacontingéncias ce­
rimoniais retardam e Impedem mudanças de qualquer tipo. mesmo quando 
as contingências atuais produzem sérios problemas.
Ayres sugeriu que a rápida evolução cultural ocorre em culturas no 
m om ento em que os processos cerim onia is desfalecem e processos 
tecnológicos pressionam de forma incontrolável. produzindo massivas mu­
danças em curtos espaços de tempo. Tais mudanças, claro, possibilitam a 
oportunidade para o surgimento de novo controle cerimonial, pois um novo 
grupo poderoso passa a ter o controle através da autoridade e do status 
ganhos em decorrência do seu papel no desenvolvimento de tecnologias 
avançadas. Os vários grupos cujo comportamento tecnológico produziu as 
mudanças revolucionárias, agora, adquiriram status e tendem a estacionar a 
evolução cultural e manter o controle pela autoridade Controle cerimonial 
mantém-se por si só, controle tecnológico assegura mudança
Como apontado por Skinner em Ciência e Comportamento Humano 
(1953), o desenvolvimento tecnológico ocorreu rapidamente em domínios 
sobre os quais se empregou o método científico. A discrepância entre o pro­
gresso tecnológico nas ciências física e biológica e o progresso tecnológico 
das ciências comportamental e social levou a um perigoso desequilíbrio em 
nosso poder de lidar efetivamente com o ambiente fisico e com o comporta­
mento de grupos e indivíduos na cultura. Já que nós não estamos propensos 
a virar as costas às tecnologias que melhoraram a vida dos seres humanos 
de forma significativa, Skinner sugeriu que nos movimentemos adiante para 
desenvolvermos as tecnologias comportamentais necessárias para reparar 
esse desequilíbrio
Em Além da Liberdade e Dignidade (1971) Skinner sugeriu que a 
nossa falha continua em corrigir o desequilíbrio do progresso tecnológico 
nas duas arenas é o resultado de nossa tenacidade om apegar-nos a uma 
visão da realidade produzida por progressos tecnológicos antigos. Essa 
visào esta sendo mantida por controle cehmonial e continua a impedir o 
desenvolvimento de tecnologias comportamentais necessárias para a so­
brevivência de nossa cultura
Um recente exemplo de um impedimento cerimonial a um progresso 
tecnológico em práticas culturais, pode ser encontrado na recusa generali­
zada em im plem entar ou incentivar o desenvolvim ento da poderosa 
tecnologia educacional denominada Instrução Direta. Como podemos nos 
responsabilizar pela profunda indiferença de nosso sistema educacional e 
pelo financiamento a uma tecnologia que demonstrou ser capaz de produ-
18 S ig rid G iw v i
zir competência em habilidades académicas básicas om populações previ­
amente condenadas ao fracasso? A decisão irracional do promover proje­
tos que falham em produzir tais resultados e negar verbas para aqueles 
que apresentam sucesso (Carnine, 1984) sugere que a efetividade e o re­
sultado não foram os critérios a partir dos quais a decisão foi tomada. Ao 
considerarmos a necessidade critica presente em nossa cultura, de uma 
população capacitada para participar das atividades técnicas e socialmen­
te complexas atualmente exigidas, rião seriam necessárias muitas deci­
sões para assegurar nossa própria extinção cultural. Por outro lado, Waiden 
Dois é apresentada por Skinner (1985) como tendo realizado uma comple­
ta reversão em suas práticas educacionais entre 1948 e 1984.
Processos Tecnológico e Cerimonial em Waiden Dois
Drásticas transformações nas práticas educacionaisde Waiden Dois 
foram completamente previsíveis dadas as metacontingènrias sob as quais 
a comunidade é retratada om seu funcionamento. As metacontingéncias fo­
ram especificamente planejadas a permitir tais mudanças. Waiden Dois é 
uma comunidade experimental Isso não quer dizer que a comunidade é um 
experimento, mas sim que a comunidade experimenta. Em Waiden Dois o 
valor de qualquer comportamento é explicitamente julgado em termos de 
suaS conseqüências práticas para os seus membros. Essas conseqüências 
beneficiam diretamente a comunidade e a todos os seus componentes?
Waiden Dois foi planejada de modo que as conseqüências benéficas 
tenham precedência no desenvolvimento de suas práticas culturais. Quais 
características de planejamento foram incorporadas por Frazier para asse­
gurar tais resultados? Eu acredito existirem ao menos duas características 
que se relacionam uma à outra. A primeira é a abolição de instituições mantidas 
por controle cerimonial; a segunda é a relação clara entre as contingências e 
as metacontingéncias em Waiden Dois.
Ausência de Controle Cerimonial
Vamos examinar, primeiramente, as evidências da abolição do con­
trole cerimonial em Waiden Dois e seus efeitos sobre as práticas culturais. 
Três instituições que têm exercido controle cerimonial em virtualmente to ­
das as culturas são a familia, a igreja e o estado. Desde que o controle 
cerimonial deriva seu poder da autoridade ou status independente de con­
siderações pragmáticas (resultados), processos cerimoniais freqüentemente 
contam maciçamente com controle aversivo. Entre as três instituições, a 
familia é a que provavelmente mais combine contingências cerimoniais e 
tecnológicas diretamente reforçadas. A família, tradicionalmente, tem apre­
sentado duas funções - fornecer segurança económica e interpessoal a 
seus membros e também treiná-los a aceitar o poder cerimonial arbitrário 
da autoridade.
M w la c o i* fiu é ncia * . c o it f > c f U iT « ii io . o iN is a a c o s w d iis o 19
Em WêkJen Dois, a familia como uma unidade funcional não existe. 
Suas características desejáveis, prover segurança interpessoal e econômica, 
foram assumidas pela comunidade como um todo: seu poder cerimonial desa­
pareceu uma vez que o grupo familiar não obtém o controle de quaisquer 
reforçadores que não possam ser obtidos pelos membros individuais indepen­
dentemente. Todos os reforçadores em Walden Dois estão disponíveis a todos 
os membros durante todo o tempo, contingentes somente aos comportamen­
tos requeridos para produzi-los. O critério fundamental para a abolição do con­
trole cerimonial é a igualdade econômica. Com a ausência de controle cerimo­
nial cada membro da comunidade está livre para desenvolver o que pode ser 
chamado de "relações interpessoais honestas". Reforçadores interpessoais 
são completamente ooritingentes a comportamento interpessoal.
Em W alden D ois os ind iv íduos são m ais independentes e 
interdependentes que em nossa própria cultura. Os recursos (condições que 
fazem o com portam ento possível) e os reforçadores (conseqüências 
oomportarTientais) não são contingentes à obediência cerimonial. No entanto, 
para manter suas autonomias sociais relativas, os membros devem compor- 
tar-so do manoira que beneficie o grupo. Isso não se torna tão oneroso, pois 
qualquer benefício ao grupo automaticamente beneficia o indivíduo. Se 
reforçadores sociais medeiam comportamento tecnológico, sua importância é 
igual ao resultado tecnológico. A não ser que reforçadores sociais plar.ejados 
façam a mediação entre contingências tecnológicas e metacontingéncias. os 
reforçadores interpessoais participam somente om contingências interpessoais.
Há tempos a importância de tais relações vem sendo reconhecida. 
Parafraseando a descrição de Pascal (1961) sobre a tirania - quando a 
beleza demanda crença, força demanda arnor e aprendizagem demanda 
medo: "Nós devemos diferentes obediências a diferentes qualidades; am or 
é a resposta adequada ao charme, medo ò força e crença à aprendiza­
gem". Marx (1963) colocou isso de maneira um pouco mais áspera "então, 
am or só pode ser trocado po r amor, confíança p o r confiança... se você oe- 
seja influenciar as pessoas, você deve ser uma pessoa que tenha um efe 'to 
estimulante e encorajador sobre os outros.. Se você ama sem incitar amor 
de volta, se você nào é capaz em fazer de você mesma uma pessoa ama­
da. então, seu arnor é impotente” *, Skinner afirma isso de modo mais útil á 
ação do que todos: “Em um mundo de igualdade econômica total, você 
obtém e mantém as afeições que você merece. Vocè não pode comprar 
am or com presentes ou favores, você não pode manter am or criando uma 
criança inadequada e você não pode te r segurança no am or servindo como 
uma boa empregada ou um bom p rovedo r'{ 1948, p 147).
Quanto á autoridade religiosa, ela não é necessária em Walden Dois, 
pois a relação entre contingências e metacontingéncias é claramente 
especificada. Tradicionalmente, o papel da autoridade religiosa tem sido o 
de manter contingências que promovam a sobrevivência do grupo Isso 
tem sido feito estabelecendo regras que são usualmente abstraídas de con-
' As cllaçôes a Pascal e Marx foram sugeridas a mim por Willinm A Luker, Professor d* Eooromia
20 SlarkJ G le n o
tingéncias atuais (isto é. boas regras) mantendo-as por intermédio de con­
trole cerimonial, mesmo que elas se tornem mal cspeciticadas como o re­
sultado de contingências em mudança. Um protótipo desse caso pode ser 
encontrado no Êxodo Moisés conduziu seu povo para fora do Egito onde 
viviam em circunstancias relativamente suntuosas, mas sob controlo ceri­
monial de seus senhores egípcios. Os frutos do comportamento tecnológico 
do povo de Moisés pertencem aos egípcios, beneficiando-o somente se 
seguir ás solicitações cerimoniais. Todavia, dentro de um ambiente relati­
vamente caótico. Moisés tem de conseguir levar seu povo suficientemente 
longe dos reforçadores do Egito antes que ele possa ter a chance de oferecê- 
los a escolha de prosseguir ate a Terra Prometida. Nesse momento o povo 
de Moisés entra em um pacto que o amarra conjuntamente na busca por 
um objetivo comum.
O interessante desse pacto é que ele não é travado um com o outro, 
mas sim com Deus. Para que o povo sobreviva como uma cultura algumas 
diretrizes foram necessárias para proteger a integridade do grupo. Conse­
qüentemente. Moisés desceu da montanha com os Dez Mandamentos que 
parecem ter sido derivados de uma notável e astuta análise do comporta­
mento necessária para manter a integridade do grupo, dada a natureza 
vigente de seu ambiente social e tecnológico. Muito possivelmente Moisés 
não estava em uma posição de explicar a base racional dos Dez Manda­
mentos. assim como seu valor em manter a união do grupo. Assim, os Dez 
Mandamentos adquiriram controle cerimonial Imediato quando apresenta­
dos como a contrapartida de Deus para conduzir seu povo à Terra Prome­
tida O primeiro mandamento estabeleceu a autoridade final de Deus e se­
lou o controle cerimonial. Moisés tomou-se um agente de Deus.
Como esperado, logo que Moisés fez sua parte ao levar o povo até 
a visão da Terra Prometida, ele morreu, talvez porque tal controle centrali­
zado era perigoso uma vez que o objetivo já havia sido alcançado. Em seu 
livro Êxodo e Revolução. Michael Walzer sugere que o Êxodo é o protótipo 
das revoluções sociais na civilização ocidental, e que embora a Terra Pro­
metida nunca vivesso completamente a altura da propaganda feita, a histó­
ria nos tem servido bem para conduzir o progresso social. Talvez, nós sere­
mos capazes de conseguir uma maior aproximação com a Terra Prometida 
dispensando o controle cerimonial da autoridade religiosa e olhando com 
maior cuidado para as contingências implícitas ás regras que seguram no 
lugar nossas práticas sociais. De qualquer maneira, foi assimque Frazier 
planejou Walden Dois.
A versão dos Dez Mandamentos em Walden Dois é o Código Walden. 
Embora Skinner não tenha sido muito especifico quanto ao conteúdo do 
Código, pode-se conjecturar seu conteúdo a partir do planejamento e do 
funcionamento da comunidade. Minha hipótese sobre o conteúdo do Código 
não será abordada nesse texto; o ponto importante a ser salientado é que o 
Código constitui-se em uma série de diretrizes que especificam as classes 
de operantes necessárias à sobrevivência da cultura. Para que o Código 
tenha um efeito que não envolva controle cerimonial, o comportamento es­
pec ificado deve p roduz ir conseqüências que sejam corren tem ente 
reforçadoras para a comunidade assim como aumentem sua sobrevivência
MetacGnfli»£f>cl32: c â m p fó n n rrilo , c m um <? sociA jcde 21
a longo prazo. Desse modo, o Código seria possivelmente uma série de [Vós] 
Deveis ao Invós do [Vós] Não deveis. Se o comportamento especificado no 
Código ó para ser mantido por reforçadores sociais que derivam sua força 
dos efeitos a longo prazo do comportamento sobre a comunidade, o valor 
dos itens no Código devem ser avaliados em termos de sua utilidade. 
Presumivelmente, o Código se transformará gradualmente à medida que a 
cultura Wafden evolua. Assim, as metacontingências que mantém o compor­
tam ento de acordo com o C ódigo estão em basadas em processos 
tecnológicos. A autoridade cerimonial da religião é substituída pelo pragmá­
tico. Desde que o que nós chamamos de aspectos espirituais da religião 
possam ser conceptualizados como fenômeno comportamental (Shimoff, 
1984), eles náo oferecem nenhum problema em Watden Dois,
Também o Estado é dispensado em Watden Dois. Isso é possível por­
que todos os membros da comunidade são diretamente responsáveis uns pelos 
outros, a comunidade é pequena o bastante para proporcionar a cada membro 
o contato direto com todos os outros. Como Marx enxergou há mais de um 
século, também é preciso haver igualdade económica. Walden Dois ê capaz 
de funcionar sem o Estado somente porque suas metacontingências reque­
rem que os resultados beneficiem a todos os membros. A funçáo primária do 
Estado é impingir metacontingências cerimoniais e regular a competição por 
recursos. O Estado totalitário nâo oferece contracontrole adequado ao que é 
regulado, resultando invariavelmente em extremos de controle aversivo e ceri­
monial por parte do governante. Também, utiliza-se facilmente o Estado demo- 
crático sem igualdade econômica para manter o controle cerimonial sobre os 
recursos. Mesmo desfrutando de igualdade econômica, os Estados democrá­
ticos dependem da opinião pública que pode não ostar bem informada - com­
portamento verbal sob controle de variáveis irrelevantes ou mesmo prejudicial 
á sobrevivência da cultura. Como Walden Dois pode funcionar sem o Estado 
será discutido na próxima sessão.
A ausência de controle institucional cerimonialmente mantido em 
Wafden Dois ê provavelmente a característica que assusta muitos leitores 
que persistem em enxergar o espectro do controle autoritário quando, de 
fato. não há evidência de tal controle. Visto que a maioria dos leitores terá 
experenciado controle cerimonial por pade da família, da igreja e do esta­
do. e!es parecem ter dificuldades em imaginar uma comunidade onde o 
controle cerimonial esteja ausente. Eles devem assumir que isso é tão oia- 
bolicamente obscuro o ponto de não ser visível especialmente como o 
Complexo de Édipo. sobre o qual dizem que Anna Freud não encontrou 
evidências, concluindo através disso, que a possibilidade de náo haver con­
trole cerimonial deve ter tamanha força para ser tão bem reprimido.
Contingências e Metacontingências em Walden Dois
O comportamento operante dos membros de qualquer cultura deve 
ser classificado em termos dos tipos de conseqüências que o comportamen­
to tem para os indivíduos que se comportam e para a cultura. Historicamen­
te, nós temos distinguido, com algum grau de intuição, entre: trabalhar, ativi­
dades de diversão e comportamento interpessoal. Trabalhar pode ser espe­
22 S ig n e G rtr in
cificado como um comportamento que é essencial para a sobrovivônda da 
cultura, e por essa razão, participa de metacontingências tecnológicas. Nós 
distinguimos entre trabalho e ocupação1’ pelas discrepâncias nos efeitos 
tecnológicos de cada uma. Ocupar-se não leva a nada e é cerimonialmente 
mantido. Atividades de diversão envolvem tipos de comportamentos que pro­
duzem reforçadores não arbitrários, não apresentando uma influência direta 
sobre a sobrevivência da cultura. Entretanto, a oportunidade de engajar-se 
em comportamentos que produzam esses reforçadores é uma importante 
característica de uma cultura com valor de sobrevivência. Comportamento 
interpessoal, stríctu sensus, é aquele comportamento voltado a outras pes­
soas que ê mantido pelas respostas dessas outras pessoas.
Em Walden Dois as metacontingências são planejadas de maneira 
que os reforços a esses comportamentos não sejam confundidos ou mes­
mo igualados. Reforçadores interpessoais não compram nada, oxceto o 
comportamento interpessoal de outras pessoas. As relações interpessoais 
em uma comunidade sem controle cerimonial, possivelmente, seriam exa­
tamente parecidas com a forma como Skinner as retratou - simples, since­
ras e inteiramente honestas. Não há razão para que sejam de outra forma. 
Trabalhar não produz reforçadores interpessoais diretamente, nem oportu­
nidades diferenciadas de engajar-se em diversão e os reforçadores que as 
acompanham. O trabalho que envolve comportamento cooperativo ou 
interativo deve ser intrinsecamente interessante para algumas pessoas, 
entretanto, esse trabalho como qualquer outro é mantido pelas suas conse­
qüências tecnológicas. Atividades de diversão não resultam em quaisquer 
outros reforçadores que não sejam aqueles derivados das conseqüências 
do engajar-se em diversão por si só, incluindo oportunidades de interagir 
com outras pessoas. Como Walden Dois toi planejada de forma a assegu­
rar que a tirania, como descrita por Pascal, não atrapalhe?
Primeiro, vamos olhar para o trabalho em Walden Dois. Somente as 
atividades essenciais à sobrevivência da comunidade sáo designadas como 
“trabalho", e por isso. administradas pelo sistema de Crédito de Trabalho. Exis­
tem três tipos de trabalho em Walden Dois - trabalho manual, organização e 
administração, o legislar e avaliar. Trabalho manual e administração são tipos 
de trabalho que produzem conseqüências daramente relacionadas ao com­
portamento operante. Remove-se o legislar para o mais distante possivel de 
suas conseqüências, talvez uma razão seja porque legislar não deva receber 
todos os créditos de trabalho referentes a essa atividade. Os planejadores 
devem ganhar um crédito de trabalho por dia para fazer o trabalho manual. 
Uma razão muito importante para o engajamento dos planejadores em algum 
trabalho deve ser porque isso os coloca em contato com as mesmas contin­
gências experimentadas pelos outros membros da comunidade. Ademais, essa 
estratégia evita que os planejadores façam parte de uma "classe" diferenciada, 
o que possivelmente instigaria controle cerimonial.
O trabalho de organizar e administrar, que também leva a privilégios 
cerimoniais em nossa própria cultura, não produz privilégios parecidos em 
Walden Dois. Um gigantesco segmento da população aspira a tal 'posição"
MelK»rrW;jôrc3»s: oomaortíitnnivKj, c u llu '* e uiciccaOo 23
pelo fato de tais comportamentos em nossa própria cultura freqüentemente 
assegurarem uma melhor posição econômica, assim como controle ceri­
monial Freqüentemente, essas posições são agarradas por pessoas oue 
as obtiveram por caminhos cerimoniais e não aprosentam os repertór os 
comportamentais de Interesse para executar as responsabilidades do tra­
balho de forma adequada. Em Walden Dois, não há nenhumavantagem, 
mas ató algumas desvantagens (longas horas de trabalho), ás pessoas 
que se engajam em tal trabalho. As contingências quase asseguram que 
as pessoas que tomarem parte em organizar e administrar a comunidade, 
assim o farão porque o trabalho é agradável a elas. e porque os resultacos 
de suas atividades beneficiam o grupo e a elas próprias
O trabalho manual é distribuído entre os membros da oomunidade de 
modo que ninguém necessite trabalhar mais do que quatro horas por dia. e 
aqueles que fazem um trabalho menos desejável o faz somente por duas 
horas e meia ao dia. Toma-se cuidado para que o trabalho náo seja separa­
do de suas conseqüências naturais; as pessoas têm muitas oportunidades 
para mudar de atividade quando desejarem, todo trabalho em Watden Dois 
obtém o mesmo respeito. Tal respeito existe pelo fato de todos os membros 
terem acesso igual a todos os recursos, e não obterem nenhum crédito pes­
soal para atividades bem feitas.
Ao arranjar as contingências do ambiente de trabalho como descrito 
acima, Frazier montou as seguintes metacontingências. Primeira, para qual­
quer um em Walden Dois ê vantajoso conservar os recursos, porque o nível 
de vida. demonstrado pela pouca quantidade de tempo gasto no trabalho, 
está diretamente relacionado à reduçào da quantidade do trabalho neces­
sária para garantir a sobrevivência em um ambiente confortável, se não 
luxuoso. As metacontingências dispostas em nossa cultura são completa­
mente distintas, pois os indivíduos competem pela disponibilidade de re­
cursos. fazem um uso maior dos recursos para competir efetivamente por 
intermédio da produção, reduzindo, em decorrência disso, sua quantidade 
disponível (ou o aumento do custo para utilizá-los) em nome de uma efetiva 
competição. Segunda, dão-se créditos somente para atividades importan­
tes ã sobrevivência do grupo e para seu bem estar físico, entrando todas 
elas no sistema de Crédito de Trabalho. Define-se o valor do crédito do 
uma determinada atividade pela sua preferência - o trabalho de maior pre­
ferência recebe menos cróditos. Isso é eminentemente racional, pois o tra­
balho que é mais valorizado em detrimento de outro tem um valor reforçador 
excessivamente maior. Em Walden Dois, o valor comum é explicitamente a 
sobrevivência e o bem estar do grupo. O trabalho menos reforçador possui 
valor somente em decorrência de sua contribuição á comunidade - possibi­
litando ao trabalhador uma quantidade de tempo máxima para se engajar 
em outras atividades intrinsecamente mais reforçadoras.
Vamos agora às atividades caracterizadas como divertimento em 
Walden Dois. Tradicionalmente, imaginamos as atividades de diversão como: 
arte em todas as suas formas, jogos e recreação, e ciência, ao menos en­
quanto pesquisa básica. Embora essas atividades sejam diferentes, asse­
melham-se em dois aspectos cruciais: são atividades em que as pessoas se
24 Signd G i«m
engajam pelo o que elas mesmas têm a oferecer; e não são essenciais para 
a sobrevivência ootídiana. Períodos da história conhecidos por essas ativida­
des são conhecidos como Idades Douradas. Presumivelmente são denomi­
nadas assim pelo fato de terem produzido muitos artefatos que viriam a ter 
um grande valor reforçador em épocas posteriores - literatura, história, arte. 
música e sistemas conceituais que ordenam e fornecem um sentido ao uni­
verso. Tais conseqüências exigem que muitas pessoas tenham o ócio neces­
sário para poderem se dedicar a esta peculiar busca humana.
Ao longo da história humana, pouquíssimas pessoas obtiveram tem­
po livre suficiente para essas atividades. Muitos daqueles quo as buscaram 
assim o fizeram às custas de privações cruéis. Atualmente, pouquíssimos 
indivíduos estão aptos a comprar a oportunidade de se dedicarem a tais 
comportamentos negociando seus produtos nos mais elevados preços. As 
metacontingências em Walden Dois estabelecem a oportunidade para que 
todos seus membros possam se empenhar em tais comportamentos. Os 
produtos desses comportamentos sáo disponíveis a todos os membros da 
comunidade. Frazíer (quem. enquanto protagonista, freqüentemente dá voz 
aos pensamentos de Skinner) prediz uma Idade Dourada em Walden Dois 
sem paralelo. As pessoas não estarão exaustas em decorrência do trabalho; 
estarão livres para desenvolverem seus próprios interesses; tempo e recur­
sos materiais estarão disponíveis; todos viverão desde o nascimento entre 
pessoas interessadas em tais atividades; e a ausência de contingências com­
petitivas deveria indlnar os membros a encorajar e apoiar o empenho de 
todos. As metacontingências em Waiden Dois são planejadas para fornecer 
amplas oportunidades e apoiar todos os membros a explorarem arte. literatu­
ra, música etc. O comportamento que atualmente evolui será modelado e 
mantido pelas conseqüências intrínsecas.
Talvez o efeito mais radical notado pela ausência de controle ceri­
monial em Walden Dois seja provavelmente na esfera interpessoal. O uso 
de reforçadores interpessoais que comandam o controle cerimonial prova­
velmente tem levado a muitos dos problemas que importunam a humanida­
de ao longo da história. A concentração de controle cerimonial nas mãos 
de uma minoria em uma cultura deve ter exigido que as mais fracos inclu­
am controle interpessoal em contingências que não têm relação direta com 
comportamento interpessoal. Esse padrão parece ter sido sistematicamen­
te desempenhado nas relações entre homens e mulheres nas culturas oci­
dentais. Os homens têm assegurado controle cerimonial sobre a maioria 
dos recursos naturais e culturais mesmo se produzidos pelo comportamen­
to tecnológico das mulheres. As mulheres têm, talvez em conseqüência ou 
talvez antecipadamente, ganho acesso aos reforçadores tecnológicos fa­
zendo com que reforçadores pessoais sejam contingentes ao acesso. Ho­
mens com menos contro le cerim onial tam bém têm utilizado controlo 
interpessoal para obter acosso aos reforçadores não disponíveis através 
de comportamento mais relevante.
O desequilíbrio parece ter levado a uma profunda desconfiança entre 
os indivíduos, especialmente entre os que possuem poder cerimonial, mas
MtfacomtnjAqclaK cjytiparliynerilo, cuKure » uix:<Kt(Klu 25
não apresenlarn reforçadores interpessoais: e os que possuem poder 
interpessoal, mas não têm acesso aos reforçadores cerimoniais (status. po­
sição etc.). Metacontingéncias culturais que sustentam controle cerimonial 
garantem uma guerra fria permanente entre as partes. Talvez pior ainda, até 
mesmo a possibilidade de tal troca não reciproca de reforçadores podo ter 
retraído afeto genuíno onde era possível e comportamento tecnológico ge­
nuíno onde ele poderia ter feito a diferença. Sansão e Dalila sáo bons mode­
los. Na medida em que alguns acoitam perder seus poderes ao serem sedu­
zidos por reforçadores interpessoais e alguns têm aperias reforçadores 
interpessoais para ter acesso a recursos controlados cerimonialmente, pes­
soas com controle cerimonial nunca estarão confiantes de que são amadas 
‘ pelo que sáo" e aqueles a quem foi cerimonialmente negado acesso a re­
cursos tecnológicos nunca saberão se eles tinham realmente “algo a ofere­
cer* além deles mesmos (ou, mais apropriadamente, seu comportamento 
interpessoal).
Governo em Walden Dois
Talvez, a característica mais difícil de entendermos em Walden Dois 
é seu governo. Provavelmente, a dificuldade está no fato do governo quase 
sempre se caracterizar como um agente de controle cerimonial. Em Walden 
DoiSr o governo não se caracteriza assim. Nele, as pessoas que realizam o 
trabalho chamado de 'governar' em Walden Dois estão trabalhando pela 
mesma conseqüência a longo prazo como quaisquer outras. O trabalho de 
todos faz parte das mesmas metacontingéncias. Além do mais. as ativida­
des aglutinadas no 'governar" sáo tão severamente reduzidas assim como 
as conseqüências que rnantém essasatividades.
O governo historicamente tem se caracterizado por algumas funções, 
que incluem: estabelecer políticas e fazer leis, forçar a obediência às mes­
mas. proteger a comunidade de grupos externos ou renegar membros dentro 
da comunidade, ooletar taxas e gastar o dinheiro. O governo om Walden 
Dois não tem nenhuma dessas incumbências, com exceção da primeira - 
estabelecer políticas e regras. As outras funções do governo têm sido distri­
buídas entro os outros trabalhadores em Walden Dois, muitas delas de ma­
neira igualitária por toda a comunidade. Parece haver pouquíssima necessi­
dade de leis em Walden Dois porque existe pouquíssima necessidade de se 
regular as relações entre indivíduos ou grupos. Walden Dois funciona como 
um organismo, cada componente em conjunção com os outros, todos por 
um e um por todos. Não se oxige motivação altruística uma vez que as 
metacontingéncias garantem que o que é bom para um é bom para todos.
De maneira geral, o papel do governo tem sido o de garantir a con­
centração de controle cerimonial a um pequeno número de pessoas, inclu­
indo os que participam do governo. Em oposição ao desequilíbrio, a ten­
dência tem sido geralmente distribuir esse controlo entre um maior número 
de pessoas. Em nonhum outro lugar pode-se observar mais claramente o
26 Cterri
resultado dessa tendência do que no comportamento de burocratas meno­
res. Não importa se as circunstâncias de uma determinada situação se 
igualem ás contingências que fundamentam uma regra. A regra controlará 
seu comportamento porque o burocrata garantirá que ela assim o faz - 
frequentemente pelo puro prazer de estar no comando. Aqui não há nenhu­
ma conseqüènda do trabalho de uma pessoa além da manipulação e con­
trole do comportamento de outras pessoas - para seu próprio bem.
O foco nesse processo tem sido sempre em pessoas e suas posi­
ções em consideração um com os outros. Na tentativa de reparar o 
desequilíbrio, os seres humanos primeiramente enxergariam no problema 
uma oportunidade para dispensar o líder ruim e trocá-lo por um bom. Entre­
tanto, encontrar outro líder melhor não era assim tão fácil. Primeiro, contin­
gências casuais teriam que produzir, em algum lugar, um Indivíduo que 
tivesse o repertório comportamental que o caracterizasse como um "bom 
líder". Segundo, esse indivíduo teria de sor cerimonialmente acessível - 
isto é, ter nascido dos pais corretos etc. Terceiro, o indivíduo teria que ser 
reconhecido como possuidor do negócio certo; e quarto; para instalar o 
indivíduo como um lider, a competição teria que ser aplacada ou arrasada.
A tendência, decorridas algumas centenas de anos, de distribuir poder 
cerimonial entre muitas pessoas, mesmo através de diferentes ramifica­
ções governamentais, tem sido bastante efetiva em estabelecer algum 
contracontrole praticável entre indivíduos e grupos. Mas o processo embasa- 
se em uma discriminação fundamental a qual tem demonstrado ser inade­
quada na solução do problema A discriminação tem sido entre governantes 
ruins e governantes bons, e entre pessoas ruins e pessoas boas. As mu­
danças baseadas nessa discrim inação têm envolvido uma procura por 
modos de garantir que as pessoas ruins não possam conseguir ou susten­
tar controle cerimonial.
Se o foco fosse comportamentos desejáveis e indesejáveis seriamos 
levados a contingências desejáveis e indesejáveis. O que a cultura oddental 
tem se ocupado em distribuir é controle cerimonial. Quanto maior o número 
de pessoas que apresentarem um pouco de controle cerimonial, melhor será 
o equilíbrio de poder, e melhor será a estabilidade da cultura. Existem dois 
problemas com isso. O primeiro é político. Para que o controle cerimonial 
tenha algum valor, deve haver acesso direto desproporcional a reforçadores 
e a oportunidades de comportar-se de modo a gerar reforçadores tecnológicos. 
Assim , deve haver alguóm com desproporc iona l fa lta de acesso. A 
redistribuição do poder cerimonial tem sido forçada sobre a minoria que de­
tém esse poder pela maiooa que tem força quantitativa. Mas na medida em 
que a distribuição atinja o meio do caminho, será a minoria que estará caren­
te. deixando-a sem poderes políticos om número para contrabalanoear o 
controle cerimonial dos recursos. O acesso a armas poderosas, entretanto, 
não pode ser evitado indefinidamente. Assim, a esperança que poderíamos 
ter de que o poder cerimonial ficaria tão igualitariamente distribuído que se 
anularia ó provavelmente infundada.
O segundo problema é mais prático. Ao darmos ênfase á distribui­
ção do poder cerimonial, negligenciamos a origem de todo poder real para
M o ta to n li> ]A n r.i8 h r x > T p o r la r m í o , a i f t r a *» soseJ<*do 27
mudança positiva: o comportamento oporante que produz conseqüências 
não arbitrárias. Assim, nossa tendência em focar as diferenças entre pes­
soas boas e pessoas ruins, faz com que negligenciemos as possíbilidacos 
inerentes em discriminar comportamento útil de inútil. Em Walden Dois, as 
metacontingéncias sustentam comportamento útil para a comunidade e todo 
membro que participa dela. O papel do governo é simplesmente assegurar 
que essas metacontingéncias sejam mantidas. Esse governo deve assim 
fazer sem beneficiar poder cerimonial.
A s pessoas que compõem o governo em Walden Dois são chama­
das de Planejadores. Existem somente poucos deles e seu trabalho é man­
tido somente por contingências tecnológicas, assim como o trabalho de 
qualquer outra pessoa. Reforçadores cerimoriialmente derivados não es­
tão disponíveis aos Planejadores. O trabalho deles não é considerado um 
privilégio, merecedor de reconhecimento especial, ou mais valorizado do 
que qualquer outro. Eles conseguem exatamente as mesmas coisas de 
seu trabalho como qualquer outia pessoa consegue - satisfação em reali­
zar o trabalho por si só e os resultados do trabalho para a comunidade, 
incluindo para eles próprios.
O governo em Walden Dois, como qualquer outra atividade, é visto 
como comportamento operante. Ê julgado petas suas conseqüências - Ime­
diata ou a longo prazo. O foco total da comunidade sobre as conseqüências 
do comportamento para a própria comunidade é o que toma o controlo ceri­
monial dispensável. As metaoontingências igualitárias só são possíveis devi­
do à ausência de controle cerimonial. À medida que Walden Dois permanece 
uma comunidade experimental, ela se gerenciará sozinha
Do Egito à Terra Prometida5
Para aqueles de nós que enxergam Walden Dois como a Terra P ro­
metida e onde encontramos o Egito, ó importante lembrar que um território 
vasto e ormo situa-se entre ambos. A tendência em sair e começar do zero. 
em um novo lugar, onde possamos começar uma nova sociedade nunca 
terá êxito porque levamos nosso velho comportamento conosco, e ele for­
nece as contingências para o comportamento dos outros em nosso novo 
ambiente. Então, nós poderíamos da mesma forma começar bem aqui, no 
Egito, e lidar com a menor área possível, aquela com a qual temos contato 
direto e contínuo - nosso ambiente doméstico, nosso ambiente de trabalho 
e nossas atividades de lazer.
Para nos ajudar a caminhar através desse território eu sugiro que, 
primeiro, olhemos atentamente para o nosso próprio comportamento. Pode­
mos separar os reforçadores tecnológicos dos reforçadores cerimoniais vi­
rando as costas a esses últimos? O que podemos fazer para fornecer um 
ambiente de trabalho para outras pessoas que as coloque em contato com 
reforçadores tecnológicos e diminua o efeito do contingências cerimoniais?
Agi nüoçoao professor Lukor por rtroduzw-m a a o Iwfo W atzer e por sugw ir qi*o vivam os r o E tflo .
28 _ ü < j r d õ t a n r t
Teremos coragem de dar afeto gratuitamonto sem utilizá-lo como moeda de 
troca por acesso a controle cerimonial? Existe alguma maneira que possa­
mos arranjar, mesmo em um pequeno sistema, para queo comportamento 
de todos seja igualmente valorizado? Que todos contribuam para o bom es­
tar do grupo e partilhem igualmente os produtos dos esforços grupais? Ten­
do sucesso ao fazer essas atividades, poderemos progredir através desse 
território ermo.
Os poucos de nós. felizardos, náo estarao juntos nessa jornada, 
mas em tempos e lugares separados. Mas em decorrência da moderna 
tecnologia de comunicação podemos provavelmente nos beneficiar do que 
os outros estejam aprendendo à medida que façam a jornada. Talvez, nós 
poderemos usar nosso tempo quando nossos cominhos se encontrarem 
para relembrar uns aos outros para que estamos trabalhando E nós preci­
samos começar. O tempo é curto.
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A Constituição como 
Metacontingência
João Cláudio Todorov
“Demonstrando corno os procedimentos governamentais modelam o 
comportamento dos governos, a ciônda pode nos lavar mais rapida­
mente ao planejamento de um governo, no sentido mais amplo pos­
sível, que necessariamente promova o bem estar daqueles que são 
governados. " (Skinner, 1953/2000, p 482)
As metacontingências do processo cultural tecnológico aumentam 
o âmbito de ação e a eficácia do comportamento que altera o ambiente no 
sentido de garantir a sobrevivência e a satisfação do indivíduo e da socie­
dade (são exemplos a redução da poluição ambiental e a proteção aos 
direitos humanos). Por outro lado, as metacontingências cerimoniais impe­
dem o surgimento de novos comportamentos, mantêm o controle social 
como está, e são nocivas a longo prazo quando a sobrevivência de todos 
depende da ocorrência de mudanças. Metaconbngências cerimoniais já 
existem na sociedade e as regras das quais dependem estão formuladas 
tácrta ou explicitamente no processo de socialização da criança. Quando 
há conflito ontre metacontingências tecnológicas e cerimoniais, a vanta­
gem inicial está toda com as metacontingências cerimoniais.
Vista a Constituição como a lei fundamental ou coleção de leis regen­
do a natureza e as funções do Estado, e o conjunto dos direitos e deveres do 
povo, vejamos como retomar a ela depois de passar por vários conceitos que 
pertencem ao discurso da análise do comportamento enquanto abordagem 
psicológica. Uma lei que se prezo sempre prescreve alguma conseqüência 
para algum tipo de comportamento Com maior freqüência, as leis estabele­
cem conseqüências punitivas e visam controlar o comportamento a ser puni­
do O Código Penal autoriza certos agontes a aplicar a punição, especifican­
do os parâmetros do processo. Algumas leis visam incent-var comportamen­
tos desejáveis, do ponto de vista de quem redige a lei, e prescrevem conse­
qüências positivas para tais comportamentos (geralmente dinheiro, que sai 
do bolso de todos nós). Em outros casos é a ausência do certos comporta­
mentos que é punida ou recompensada, como a omissão de socorro e a 
poupança voluntária, respectivamente. Em todos esses exemplos configura- 
se uma relaçáo que ó fundamental para o trabalho de análise do comporta­
mento: a contingência de dois termos.
30 jo tto Clflufllo Todnruv
Contingência, como usamos o termo, é uma relação condicional entre 
uma classe de respostas, ou tipo de comportamento, o conseqüências que 
advêm da ocorrência desse comportamento. Os exemplos são infinitos e 
banais, mas gostamos de começar pelas coisas aparentemente simples 
para chegar a um entendimento mais firme dos casos complexos. Que a 
simplicidade é aparente veremos logo a seguir, com um exemplo do tipo: 
“Quem tropeça pode cair'’ . A frase pode ser vista como uma contingência 
de dois termos, uma relação condicional entre um comportamento, trope­
çar, e uma conseqüência desse comportamento, cair Não é necessário 
muito pensar para concluir que cair depois de tropeçar depende também 
de diversos outros fatores: afinal, "nem tudo que balança cai". Tentando 
continuar com um exemplo simples, imaginemos uma escada com corri­
mões onde quem sobe com as mãos apoiadas, tropeçando não cai; quem 
sobe com as mãos abanando, tropeçando sempre cai Temos agora o mes­
mo exemplo em dois cenários diferentes, e isso é bastante para o que que­
remos explicar. Não há sentido na pretensão de se entender o comporta­
mento de tropeçar sem se levar em conta o cenário e a conseqüência.
Escolhemos de propósito começar com um exemplo que envolve a 
interação do homem com seu ambiente fisico. As contingências são as 
mesmas em todo o mundo conhecido, independem de regras, leis ou con­
venções sociais. Mesmo assim, a unidade básica de análise envolve uma 
relação condicional de três termos, ou contingência tríplice: situação, com­
portamento e conseqüência. Nas relações sociais, no comportamento de 
pessoas interagindo com outras pessoas, a contingôncia tríplice sorve ape­
nas como um instrumento de partida. Possibilita o estudo do que chama­
mos de controle discriminativo do comportamento, e é extremamente útil 
em áreas como alfabetização e no tratamento de deficiências graves de 
repertório social, mas a não ser para os que se preocupam com os altos 
índices de repetência no primeiro ano do primeiro grau ou para os sócios 
da APAE, estudos que imitam a análise da contingência tríplice aborrecem 
os intelectuais ocupados com os mistérios da vida e da morte.
Como dizíamos, nos assuntos humanos a complexidade é maior. 
Mas é ao analisar essa complexidade que percebemos as sutilezas do con­
trole discriminativo. A contingência tríplice pode ser colocada sob o contro­
le de diferentes cenários. Se. na presença do Sr. X (cenário 1) afirmo "O 
senhor ó um ladrão*, a conseqüência do meu comportamento vai depender 
de outras condições do ambiente. Se estamos sós. se não há testemu­
nhas, o Sr. X pode reagir Irado e mo agredir fisicamente, mesmo sendo um 
político experiente. Se, na presença do Sr. X (cenário 1), o das câmeras de 
televisão (cenário 2). faço a mesma afirmação, a conseqüência de meu 
comportamento pode ser uma resposta em termos elevados e inteligentes, 
como o Sr X tentando convencer o eleitorado de que. polo contrário, o 
ladrão ó o outro candidato.
Quando temos uma contingência triplice colocada sob o controle 
discriminativo de outros aspectos do ambiente, temos uma contingôncia de 
quatro termos, também condicional, com dois termos que se referem a situ­
Motacontíngflnci*»: nciirrourlaiiMiito t;u tu m t> SMtoíCKto 31
ações ambientais, um ao tipo de comportamento, e um às

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