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Possibilidades de pesquisa Aula 10

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Possibilidades de pesquisa 
 
Considerando o relato acima, vejamos algumas propostas de pesquisa que 
poderíamos desenvolver diante de tal situação e alguns modos pelos quais 
poderíamos utilizar as ferramentas, métodos e técnicas de que estivemos falando nas 
últimas aulas. Considero que toda a situação relatada concerne ao campo de atuação 
do assistente social, embora especificamente este projeto tenha sido conduzido por 
psicólogos e estudantes de psicologia. Possivelmente a presença, a melhor 
articulação dessa proposta com o trabalho de assistentes sociais (o que poderia 
incluir o CREAS de Nova Friburgo) teria dado a esta iniciativa pelo menos a chance de 
um maior sucesso. O fato da proposta não ter resultado em sucesso, pelo menos no 
que tange ao objetivo último que seria o de recolocar pelo menos algumas das 
pessoas participantes em postos de trabalho (empregos), não quer absolutamente 
dizer que possamos desistir de intervir. Ao contrário, nos desafia a buscar 
transformar as situações penosas dos diversos grupos sociais de modo mais eficaz. 
Por outro lado, cumpre dizer que, a despeito de quantitativamente o projeto ter tido 
resultado nulo, qualitativamente é impossível afirmar que tal aconteceu. Não é 
mensurável o quanto o contato entre população, estagiários e responsáveis pelo 
projeto pode ter transformado o estado de espírito das pessoas envolvidas, ou a 
qualidade das marcas deixadas pelo trabalho nas comunidades abordadas; na 
verdade, até mesmo o quanto não pode ter contribuído para aproximar as pessoas 
participantes de um retorno ao mercado de trabalho. Faço assim, e desde já, com 
que notem, através do exemplo, a diferença entre as perspectivas quantitativa e 
qualitativa. Há o que pode ser mensurado, mas há o que está para além de qualquer 
mensuração e, quanto a isso, não se deve recuar em nome de um método científico 
supostamente universalizável para todo tipo de estudo. 
O exercício que proponho tem obviamente um caráter didático e parcial, de vez que 
não poderíamos esgotar todas as possibilidades de pesquisa abertas por tal situação. 
Nos limitaremos a procurar imaginar algumas nas quais seria possível utilizar os 
recursos sobre os quais viemos conversando até agora. 
a) Pesquisa-ação - Em primeiro lugar chamei a ação do projeto de “pesquisa 
ação”. Por que? Porque desde seu início ele envolveu trabalho de campo, 
coleta de dados e produção de conhecimento, ao mesmo tempo em que se 
propunha a produzir uma transformação, por sua própria ação, na comunidade 
estudada. Não foi o caso de que tenha sido feito um estudo que depois poderá 
ser utilizado para trazer uma transformação em um grupo social. Ou 
tampouco se poderia dizer que, como aconteceria em qualquer outra 
intervenção, por mais passiva que seja (como, por exemplo, no caso de um 
antropólogo observando o comportamento de indígenas), sempre há uma 
interferência que não deixa de transformar de alguma maneira a população 
estudada. A intervenção foi uma ação feita para transformar, mas ao mesmo 
tempo envolveu algum grau de estudo e produção de conhecimento. A 
intenção primordial foi transformar, sendo que para isso, um estudo foi feito 
e dados foram colhidos e poderão ser posteriormente utilizados para outros 
estudos. 
O objetivo do projeto não foi em nenhum momento ‘meramente’ conhecer a 
população vítima da tragédia, embora no esforço para transformar o estado 
em que se encontrava parte dessa população, mais conhecimento tenha sido 
produzido. Finalmente pode-se ainda arguir que o projeto não foi, estrito 
senso, uma pesquisa. Porém tal afirmativa estaria considerando o conceito de 
pesquisa de um modo muito estrito. Se alargarmos nossa compreensão do que 
seja uma pesquisa, podemos perfeitamente enquadrar a ação do projeto 
como pesquisa, que teve inclusive como efeito um relatório com dados que 
poderão ser posteriormente utilizados em novos estudos e projetos. 
 
b) Estudo de caso – É possível tomar este caso - o relatório que ele proporcionou 
com os dados colhidos, conclusões etc. – para realizar o que chamamos 
“estudo de caso”. Para o exercício que proponho, você pode imaginar 
também ter participado dessa iniciativa. Pense como se você tivesse estado 
lá, como um dos estagiários. 
Conforme conversamos, no estudo de caso há um mergulho vertical nas 
especificidades do caso. Enquanto tal, o estudo de caso evita a generalização 
típica da atividade científica. Ele investiga a fundo a particularidade do que 
está sendo estudado. Neste sentido, conforme nosso exercício, seria o caso de 
abstrairmos, durante a pesquisa, das comparações deste caso com outros, que 
visa encontrar os elementos comuns entre eles. 
Por outro lado, no estudo de caso, trata-se do trabalho sobre uma situação já 
ocorrida e não na fabricação de uma nova situação. Caso estivéssemos 
fabricando uma nova situação e ao mesmo tempo considerando essa situação 
na perspectiva de um estudo de caso, teríamos uma situação combinada 
envolvendo pesquisa-ação e estudo de caso. 
Quanto ao “como” estudar este caso, como desenvolver este específico 
estudo de caso, isso já envolveria optar entre muitas técnicas e ferramentas 
de pesquisa. Pessoas da população alvo e da equipe de trabalho poderiam 
responder a questionários ou entrevistas. Os resultados dos questionários 
poderiam ser quantificados. Alguns dos termos recorrentemente utilizados 
pelos respondentes, tanto das entrevistas quanto dos questionários poderiam 
ser estudados à luz da teoria das representações sociais, em uma perspectiva 
genealógica ou não. Considerando hipoteticamente que o caso escolhido teria 
sido um do qual você participou, isso geraria ainda a facilidade do contato 
com as pessoas que já seriam suas conhecidas o que facilitaria o acesso e 
tornaria mais fácil a obtenção de colaboração. 
Algumas categorias prévias poderiam ser determinadas de antemão para 
direcionar a análise dos dados colhidos por entrevistas e questionários. Você 
poderia por exemplo, utilizar a categoria de “cidadania”, ou de “trabalho”, 
ou de “políticas públicas”. Ouvir as pessoas sobre isso e depois analisar as 
respostas. Se forem respostas obtidas em questionários, seriam facilmente 
quantificáveis; caso não, exigiriam uma análise mais trabalhosa, qualitativa, 
em que você pesquisador poderia expor ao leitor trechos das respostas obtidas 
em entrevistas ou por observação ativa – convívio com pessoas da comunidade 
em reuniões de associação etc. – procurar aspectos recorrentes e comentá-los 
para o leitor. Neste caso seus comentários não teriam precisão matemática, 
porém desde que postos à disposição para debate dentro da comunidade 
científica à qual sua pesquisa se dirige e rigorosamente encadeados segundo 
um número significativo de dados obtidos nas respostas, teria validade, pelo 
menos como estudo exploratório. 
Finalmente, ainda nesta perspectiva de estudo de caso, os próprios 
estagiários e coordenadores do projeto poderiam ser chamados a responder 
questionários e / ou entrevistas, que sofreriam um tipo de análise semelhante 
ao que dissemos acima. No que diz respeito tanto aos membros da população 
foco quanto aos membros da equipe, poderia ser proposta como categoria de 
análise o próprio conceito de “serviço social” ou “assistente social”, de vez 
que neste exemplo específico a equipe foi composta predominantemente por 
psicólogos e estagiários de psicologia. Com isso seu estudo poderia detectar 
questões relacionadas à interdisciplinaridade, ao modo como um grupo 
pertencente a outra disciplina científica entende a interação com o assistente 
social. 
Lembre-se de que quando faz um estudo dessa forma, nesta perspectiva 
qualitativa, você seaproxima do tema das representações sociais, quer dizer, 
representações que atravessam um grupo de pessoas, causando ações que 
acabam se cronificando em função da compreensão que o grupo tem de certos 
conceitos e que pode ser interessante desconstruir. Falamos na aula sete 
sobre as genealogias que mostram como um conceito e seu significado podem 
surgir como efeitos do poder, ou seja, efeito de lutas e dominações e não de 
uma compreensão cada vez mais aperfeiçoada de uma suposta realidade. Um 
estudo qualitativo sempre permitirá que você interprete o sentido das 
questões que investiga à luz dessa perspectiva. 
Disse que categorias poderiam ser previamente construídas, mas veja que no 
próprio decorrer do trabalho de campo algumas categorias podem ir se 
destacando para você a partir das respostas / dados colhidos durante seu 
trabalho de campo. 
 
c) Pesquisa participante – Ao decidirem chamar pessoas “chave” da comunidade 
para serem parte integrante do projeto, por sua experiência com a 
comunidade, a equipe que coordenou o projeto deu um exemplo de pesquisa 
participante. A rigor, quando se toma uma atitude como essa, se reconhece 
que um leigo tem uma contribuição a dar para a construção do conhecimento 
e para o alcance dos objetivos do projeto. Quebra-se, mesmo que 
pontualmente, com a crença nos poderes superiores dos especialistas. 
Pratica-se assim algo muito recomendado, porém não tão simples de fazer, 
que seria a quebra da hierarquia segundo a qual o conhecimento dos poucos 
que ficam no topo da pirâmide do conhecimento flui para os muitos que ficam 
em sua base. Introduz-se como agente ativo da produção do conhecimento 
aquele que em uma perspectiva mais “fechada” de ciência ou pesquisa 
deveria estar ali como “objeto” e não como “sujeito”. 
 
d) Pesquisa sem o trabalho de campo – Novamente, peço que imagine que 
participou deste projeto e experimentou ao longo de sua execução uma série 
de dúvidas que levaram você a construir uma questão de pesquisa. 
Você estaria partindo desse fragmento de sua experiência para fazer uma 
pesquisa que relacionasse essa experiência ao trabalho de um ou mais (mas 
não muitos) teóricos que você considere relevantes na área do serviço social. 
Poderia trabalhar com um ou mais conceitos desses teóricos, mostrando como 
eles são eficazes para pensar pelo menos alguns aspectos do que se passou. 
Para o estágio a que corresponde o trabalho monográfico de final de 
graduação, seria suficiente e já bastante importante que você mostrasse 
simplesmente que pode localizar na teoria elementos conceituais que lhe 
permitiram organizar a reflexão sobre o que foi a sua prática. Você estaria 
mostrando uma capacidade fundamental para todo aquele que deseja 
ingressar no universo acadêmico, preparando-se para o mestrado, doutorado e 
produção de artigos científicos. 
Você poderia, por exemplo, pensar os conceitos de multi, inter e 
transdisciplinaridade no campo do serviço social, utilizando este caso de sua 
experiência para ilustrar a discussão que faria a partir da conceituação destes 
termos por autores que te parecessem relevantes, dentro e fora do campo do 
serviço social (afinal essa discussão não é feita apenas neste campo). 
Em uma estruturação hipotética de seu projeto de pesquisa, você poderia: 
 Introdução – Uma introdução estará bem feita se vc conseguir mostrar 
ao seu leitor o que quer fazer, por que e como deseja fazê-lo. 
Apresente o tema escolhido mostrando que essa questão surgiu a partir 
de sua experiência com este caso. Como deseja fazer uma articulação 
entre teoria e prática, apresente os autores que pretende trabalhar e 
por que resolveu trabalhar com eles. Apresente a ordem pela qual irá 
falar destes autores. Ainda na introdução, você poderá fazer uma 
breve revisão de literatura, mostrando que percorreu o trabalho de 
alguns autores principais para o tema que você escolheu e seu estudo. 
Fará também algumas referências ao projeto de que participou e de 
que maneira pensa que as questões que levantou relacionadas a ele 
podem ser articuladas a conceitos dos autores que escolheu trabalhar. 
Você poderá deixar para falar da metodologia optada em uma seção 
separada chamada metodologia. Entretanto, neste tipo de pesquisa 
sem o trabalho de campo, você pode já na introdução mostrar como a 
sua monografia está estruturada, anunciando os capítulos ou partes 
que a compõe. 
 Desenvolvimento – poderá estar dividido em capítulos ou partes / 
seções. Voltando a imaginar uma possibilidade para o caso que 
tomamos como exemplo, digamos que no primeiro capítulo você 
poderia optar por fazer um histórico do serviço social e uma 
introdução de discussões sobre as interfaces desta disciplina com 
outras disciplinas científicas. No segundo capítulo trabalhará mais 
extensivamente as posições de dois autores relevantes, com posições 
diferenciadas sobre o problema. Note que o primeiro e segundo 
capítulos poderiam ser substituídos por uma grande seção chamada 
“desenvolvimento”, conforme um dos formatos clássicos de trabalho 
monográfico estudado em disciplinas anteriores a esta. 
 Considerações finais - Finalmente entrará com suas considerações 
finais. Note que você, em uma monografia, não está obrigado a falar 
propriamente em conclusões. A expressão “considerações finais” é 
mais flexível e justamente contempla que você teça algumas 
considerações que anunciem alguns dos pontos que lhe pareceram 
mais relevantes em seu trabalho e sua intenção de pesquisar mais o 
tema. Como anexo, seguiria sua exposição do trabalho feito no 
projeto. 
 
Em um trabalho estruturado dessa maneira, você estaria fazendo uma 
articulação entre teoria e prática, sem recorrer ao trabalho de campo. Esse 
tipo de trabalho tem relevância não apenas para trazer conhecimento ao 
campo, mas também para exercitar no aluno que finaliza a graduação neste 
importante movimento da prática científica, qual seja, a articulação entre 
teoria e prática.

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