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Max Weber - Política como vocação

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Prévia do material em texto

Max Weber 
A POLÍTICA COMO VOCAÇÃO 
Tradução de 
Mauricio Tragtenberg 
Revisão técnica 
Oliver T olie 
:~ 
UnB 
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DE BRASluA 
Reitor 
Lauro Morhy 
Vicc-Rdtor 
Timothy Martio Mulholland 
EDITORA UNIVERSIDADE DE BRASILlA 
Diretor 
Alexandre Uma 
Con.,c/ho Edilorial 
Presidente 
Elizabeth CanceUi 
Alexandre Lima, Clarimar Almeida do 
Valle. Henryk Siewierskí 
Equíp«dilorlal 
Severino Francisco (Supef\1são 
editorial); Rejane de Meneses 
(Acompanhamento editorial); Ana 
FI.via Magalhães e Yana Palankof 
(Preparação de originais e revisão); 
Márcio Duarte (Projeto gráfico. capa e 
editoração eletrônica); Raimunda Dias 
(Emendas); Elmano Rodrigues 
Pinheiro (Supervisão gráfica) 
Copyright o 2003 by Editora Universidade 
de Brasllia. pela tradução 
Título original: Politik aIs &ruI 
Impresso no Brasil 
Direitos exclusivos para esta ediçãO: 
Editora Universidade de Brasília 
SCS Q. 02. B1ocoC. N"7B 
Ed. OK, 2" andar 
70300-500- Brasilia-DF 
Te!: (Oxxól)22ó-6B74 
Fax: (Oxx61) 225-5611 
e-mail: editora@unb.br 
Toclos 06 direiros reservados. Nenhuma 
parte desta publicação podet.í ser 
armazenada ou reproduzida por 
qualquer meio sem a autorização por 
escrito da Edirora. 
ficha cataiográfica elaborada pela 
Biblioteca Central da Universidade de Brasília 
Weber, Max 
W375 A politiea como vocação I Max Weber; tradução 
de Maurício Tragtenberg. - Bras1.lia : Editora 
Universidade de Brasilia, 2003. 
BOp. 
Tradução de: Politik aIs Beruf 
ISBN 85,230-0721-0 
1. Teoria Política. I. Tragtenberg, Sérgio. 11. Titulo. 
CDU 32.001 
MAX WEBER - Po/itik ais Beruf 
(A pol1tíca como vocação) 
in Gesammelte Politische Schriften (Escri­
tos políticos reunidos) 
~ V"- -k. ~ \4 Cvv ~ ~.JJ 1... D 0'0 \)t>1:;, 
G', ~';. Sol.... ~ '( \:;>Vi;) 
II LtCi 
:3b 19 
eil LO ( "6 r -""-) (, \L-~c>3 
\ S'~"\ \b 2..J '-ó'-{ ~c.'t 
+=Fc 1-1 
/",' '" 
., 
1_, 
/ 
É inevitável que essa conferência, para a. qual fui 
convidado pelos senhores, os decepcione em mui, 
tos sentidos. A expectativa de todos é que eu adote 
uma posição a respeito dos problemas contemporâ~ 
neos. Isso só acontecerá de um modo puramente 
formal na conclusão, quando eu abordar certos pro' 
blemas a respeito do significado da ação política no 
contexto da atividade humana global, razão pela 
qual fica eliminada qualquer indagação referente a 
que pol1tica devemos seguir ou qual conteúdo de' 
vemos conferir ao nosso agir político. Tais questões 
nada têm a ver com o que me proponho a tratar 
nesta ocasião: o que significa a política como voca, 
ção e o que isso pode significar? Passemos ao tema 
que nos interessa, 
O que compreendemos por polltica? O concei­
to é demasiadamente amplo e incorpora todos os ti­
~ MAX WEBER +­
pos de atividade de comando independente. Falamos 
da política monetária dos bancos, da pol1tica de 
descontos do Rdchsbank, da política de um sindica~ 
to durante uma greve; é também pertinente referir~ 
se à pol1tica educacional de uma comunidade rural 
ou urbana, à pólítica do presidente de uma associa~ 
ção e, finalmente, à política de uma esposa prudente 
que procura guiar seu marido. Inicialmente, devo 
esclarecer que nossas reflexões não se fundamen­
tam num conceito tão amplo de política. Desejamos 
no momento entender por pol1tica apenas a direção 
ou a influência sobre a direção de uma associação 
política, ou seja, de um Estado. 
Porém, o que é uma associação política do ponto 
de vista sociológico? O que é um Estado? Socíologi~ 
camente, não podemos definir um Estado a partir 
do contéudo do que faz. Não há nenhuma tarefa 
que 1:l'l!la associação política não tenha em algum 
momento tomado nas mãos, mas também nenhu~ 
ma de que pudéssemos dizer que foi sempre exclusi~ {; 
1va dessas associações denominadas pol1ticas e hoje 
em dia são designadas como Estados, ou que fo~ 
ram historicamente as antecessoras do Estado mo~ 
/ demo. Em' última instância, o Estado moderno 
/ ­
pode ser definido pelos meios peculiares que lhe são 
próprios, como é peculiar a toda associação polltica: 
/' o uso da força física. "ºu~9.l:1_er ~si~ª,9_º~~ta's~ na 
~ A POLÍTICA COMO VOCAÇÃO +­
força", declarou Trotsky em Brest,Litovsk. De fato, 
trata~se de uma afirmação correta. 
Se inexistissem estruturas sociais fundadas na 
violênciã, teria sido eliminado o conceito de Estado 
e emergiria uma situação que mais adequadamente 
designaríamos como anarquia, no sentido específico 
da palavra. Naturalmente, a força não se constitui no 
meio único do Estado - ninguém jamais o afirmaria -, 
porém a força cons4tui~se num elemento específiço 
do Estado. Na época atual, a relação entre violência 
e Estado é profundamente próxima. No passado, as~ . 
socíações tão diferenciadas - começando pela famí~ 
lia- utilizaram como instrumento de poder a força 
física como algo inteiramente normal. Entretanto, 
atualmente, devemos dizer que um Estado épma 
comunidade humana que se atribui (com êxito) o 
monopólio legítimo da violência física, nos limites de um 
território definido. Observem que o território cdnsti~ 
tui uma das características do Estado. No período 
contemporâneo, o direito ao emprego da coação 
ca é assumido por outras instituições à medida que 
o Estado o permita. Considera-se o Estado como 
fonte única do direito de recorrer ã força. Conse­
qüentemente, para nós, política constitui o conjunto 
de esforços tendentes a participar da divisão do po~ 
der, influenciando sua divisão, seja entre Estados, 
seja entre grupos num Estado. 
8 9J 
~ MAX WEBER + 
Tal definição corresponde ao uso quotidiano do 
conceito. Quando se afirma que um problema é polí­
tico ou que um ministro de um gabinete ou um ofi­
cial é um funcionário político, ou quando se afirma que 
uma decisão é politicamente determinada, faz-se refe­
li
rência ao fato de existirem interesses na distribuição, 11 
na manutenção ou na transferência do poder, fatores I 
decisivos na solução daquela questão, na determi­
nação da decisão ou no âmbito de atuação do funcio­
nário. Os_qu~~~~m na política aspiram ao poder 
ou como meio para atingir outros fins, abstratos ou 
individuais, ou como poder pelo poder, para desfrutar 
da sensação de status que ele proporciona. 
como as instituições politicas que o prece­
deram historicamente, o Estado é uma relação de 
homens9c~~Jominam seus i~uais,mantida pela vio­
lência legiti_maji~to é, considerada legItima). Pa@ 
que o."§~ta.c!.º.(:!fͧta, os_ººminados devem oQ.~decer 
a supos~ "~~.t.?"lidade dos p.oderes dominante4Dal 
as seguintes perguntas: quando e por que obedecem 
os homens? Ora, em que justificaçOes· Íntrlnsecas 
ou extrínsecas se baseia essa dominação? . 
Para iniciarmos, em princIpio existem três 
tificações.internas como fundamentos da legitimaçdo 
~..::'~:'.!:!;!;!~:i'U' Em primeiro lugar, a autoridade do ~ 
passado eterno, ou seja, dos costumes consagrados 
por meio de validade imemorial e da disposição de 
~ A POLÍTICA COMO VOCAçAo + 
respeitá-los. É a dominaçeto tradicional ~~ercida-pelQ 
patriarca ou pelo príncipe patrimonial de outrora. 
Há também a autoridade do~om dagraç~, em que se 
fundam os~der~~~~traordinários de ~m indivi~ 
duo (ca.rismaLEssa dominação tem como funda­
mento a de:,~ç].o e ~ "abs~iut,!~e.ntepe~-= 
soais na revelação. no heroísmo ou em outras 
qualídades de caráter-E~ssoa1. ... 
Essa é a dominação carismática, tal como é exer­
_p!i~ii<#!.t~~u - p~~campo 4ª~it~_~~.p.do_ 
chefe guerreiro deito, pelo governante empossado 
"por plebiscito, pelo grande demagogo e pelo chefe 
de um partido político. Finalmente, temos a domi­
naçãõ .iÍnposta por me,io da.Leg']).W~~ fundada na 
. crença da.validade do estatuto legal e da competência 
funcional baseada e~ normas racionalme~te'defi­
nidas. Essa é a dominação exercida pe!~m~de~1l9_ 
servi.4or do Esta~~..:.po~ t:,dos o.s detentores do.poder . 
a ele assemelhados. 
Supõe-se na realidade que a obediência dos sú­
é determinada pelo temor ou pela esperança ­
temor da vingança exercida pelos poderes mágicosou daquele que exerce o poder ou pela esperança de 
recompensa neste ou noutro mundo. Interesses dos 
mais diversificados podem condicionar a obediência. 
Posteriormente, voltaremos a esse assunto. T odavía, 
ao considerarmos os fundamentos de legitimaçeto 
10 II 
~ MAX WEBER +­
dessa obediência, sem dúvida deparamos com esses 
três tipos puros que indicamos: domínação tradicional, 
carismática e legal. 
formas d~ legitimação e sua justificação 
'. interna são profundamente significativas para a com~ 
preensão da estrutura de domínação. Na realidade, 
e~ses três tipos puros raramente.são ençontrados. 
Hoje, não é possível nos ocuparmos das variantes, 
das transições e das combinações profundamente 
complexas desses tipos puros, seu estudo pertence 
à ciência política em geral. 
.,;: O poder fundado na submissão ao carisma pura­rmente pessoal é o que nos interessa tratar no mo­
mento. é a base da idéia de uma vocaçi!o na sua V" 
expressão mais alta. 
A devoção ao profeta portador de um carisma, ao 
dirigente da guerra, ou ao demagogo que age na ec:fl~ 
sia_ou no Parlamento significa que são chamados in­
teri9.rm~nte para conduzir os homens. Os homens 
obedecem por causa da crenç~.que depositam nos 
seus dirigentes e não em razão dos costumes ou. de 
um estatuto. Se o carisma for mais do que o produ~ 
to da conjuntura, o dirigente certamente viverá pela 
causa dos subordinados e procurará realizar sua obra. 
./ É a pessoa e suas qualidades de chefia que orien­
-------- { 
tam a devoção <!le seus discípulos e adeptos. 
---~-_.,~_ .. ­
12 
.> A POLíTICA COMO VOCAçAo +­
A liderança carismática apareceu em todas as 
épocas históricas e em todos os lugares. No passa­
do, apareceu por um lado na figura do mágico e do 
profeta, por outro lado na figura do chefe guerreiro 
ou sob a forma de um grupo na qualidade de li 
condottiere. Nós estamos interessados na hegemonia 
politic~ exercida pelo demagogo livre, que emergiu na 
cidade-Estado. Porém, ele só triunfou no Ocidente. 
sobretudo nas regiões mediterrâneas. Além do 
mais, a hegemonia política na forma de chefe de par-
parlamentar nasceu nq espaço do Estado cons­
titucional, tipico do Ocidente . 
_ -D Tais políticos orientados por uma vocaçi!o não são 
de modo algum as únicas figuras determinantes na 
luta politica pelo poder. Q§. meios de que dispõem 
os políticos são o fator decisiw. C9.!!:!2.§Is forças po- ,.. 
líticas conseguem _~ sua ~i.J.:w&ãp? É uma 
pergunta c<:J.b~_!1U!nálise de qualquer tipo de 
. domínação. valendo para a domínaçao politica em 
todas as suas formas, seja ela tradicional, legal ou 
carismática. 
T odá' dominação organizada que pretenqa man- v 
ter certa CQlltiI1!!idade administrativa requer uma 
c9_ncll.1~humana direcionada à obediência àqueles 
que pretendam ser depositários do podl;;:r fegltimo. 
Por outro lado, em virtude desse tipo' de obediência, 
a dominação o~ganizada pressupõe o contrºl~ da-.., 
13 
-+ MAX WEBER +­
{
queles r~s !!l~~ necessários el!1 caso de 
utilízaSãO da Yio~ncia flsica. Portanto, a domina­
ção organizada requer \lm controle do ~ssoal bu­
rocrático e da existênçja ~ instrumentQ.s materiais 
de administração. O pessoal burocrático que repre­
senta no âmbito externo a organizaç!Q d~d.2!fiÍl"!a­
ção política, corno em qualquer outra organização, 
não se encontra vinculado a quem detém o poder 
somente por meio das concepções de legitimidade 
de que tratamos, mas obe~-Q eID Junção qc_ 
prestígio social e recomp~materiais. 
Feudos dos vassalos, m:rl>endas dos funcionários 
. patrimoniais, v_encimentos dos servidores públicos 
modernos, as honras dos cavaleiros, o priyilégjo dos 
. proprietários de terras e o 'Qrestí~io do funcionário 
público constituem seus salários. Além disso, o que 
1ig~os funcionários burocráticos aos detentores do 
poder (o medg da~ s:l~s vantagws. Isso 
também vale para a dominação carismática: numa 
guerra, há glórias e riquezas para os seguidores; os 
adeptos do demagogo recebem despojos - isto é, a 
exploração dos dominados por meio do monopólio 
do cargo -,. e existem ~s..s~mios~ vaidade 
politicamente determinados. 
Tais recompensas surgem pela dominação exer­
cida por um lider carismático. Para manter a domi­
naçãO pela força, tal corno numa organização econô­
14 
-> A POLíTICA COMO VOCAÇÃO +­
mica, são necessários certos bens materiais, razão 
pela qual todos os_Estado.s podem ser classificados ..! 
na medida em que se fundamentam na posse dos 
meios -administrativos pelos funcionários ou magi~­
trados ou no fato de seu pessoal burocrático achar::.~~_. 
separado desses J.lleios de administração. Tal distin­
ção é estabelecida quando nos referimos ao fato de 
n.~ empresas capitalist~ os empregados assalaria­
dos e o proletariado estarem, sepáradqs dos meios 
mate:rJ'-º~.sk produção. O detentor do poder precisa 
contar com a obediência dos funcionários, dos 
membros de sua equipe. Os recursos administrati­
vos podem consistir em dinheiro, edifícios, material 
de guerra, cavalos, veiculas e muit'as outras coisas. 
O problema central é saber se o detentor do pod~r . 
dirige e organiza pessoalmente a administração, de­
legando o poder executivo a funcionários de sua 
confiança, funcionários assalariados, membros de' 
sua família que não são proprietários, isto é, que 
não utilizam os meios administrativos com plenos 
direitos, ou, se pelo contrário, são dirigidos pelo che­
fe. Essas diferenciações aplicam-se a quaisquer or­
ganizações administrativas que já existiram. 
Às assoéÍações pol1ticas nas quais os meios ma­
teriais de administração são cçmtF.Q_lª~s parcial 0l!. 
totalm~m:~ pelo pessQ.<:tJ b1;lrocrático dependente 
denomin~re!!l9s de associaçõés orgª!Úzaclg§ de modo 
15 
? 	 M A X W E B E R' + 
\, 
corporativo. Exemplificamos com a sociedade feudal, 
'n] qual as despesas administrativas e de aplicação 
da justiça eram fínaI?-ciadas .pelo vassalo no fe~do 
que lhe fora confiado. Tinha ele ainda a obrigação de 
se equipar para a guerra, o mesmo sucedia com seus 
subvassalos. Isso certamente implicava algumas con~ 
seqüências para o exercício do poder do SenhQr, ba~ 
sgdo somente na fé jurada em caráter pessoal e pelo 
fato de a legitimidade da posse do feudo pelo vas§.í!lo e 
da honra social dele derivarem d~ seu Senhor sup,etip.r. 
Tomando como ponto de referência até mesmo 
as mais antigas formações politicas, em todas as 
partes o Senhor aparece tomando a administração 
nas suas próprias mãos. Procura manter~se nessa 
posição por intermédio dos que depositam pessoal~ 
·mente nele sua confiança: escravos, servos, favoritos, 
. prebendários enf~udacÍos, a quem ele destina vanta~ 
gen~ em espécie ou dinheiro. Ele faz frente ás despe­
sasadministrativas lançando mão de seus bens ou 
das rendas?e seu patrimônio, procurando ~ 
.,; exército qu~deQendade sua pe~, na medida em 
que é equipado com os frutos de suas colheitas, com i 
I o conteúdo de seus armazéns ou com os recursos de 
. I 
seus arsenais. No caso de uma associação 
\,/ 	 estruturada êm Estados, uma aristocracia indepen­
d~ constitui seu sUQorte de .e0d~e1!l troca, exi~ 
16 
? 	 A POLÍTICA COMO VoCAçAO + 
ge aI:a.E.til~~ de~~_e pode~. Há o caso em que o Se- , 
nhor que administra pessoalmente conta com o. 
apoio de dependentes ou plebeus; também lhe resta 
o apoio ae sua família. Os plebeus e os dependentes v 
que o apóiam são camadas não proprietárias, despro­
vidas de honoràbilidade estamentaf própria. Mate­
rialmente, dependem inteiramente dele, sem en­
contrar apoio em outro poder que possa 
contrapor-se ao soberano. . 
Todas as formas cÍe doIninação patriarcal e paqj~ 
moniaI -: despotismo de um sultão ou dominação 
\ 
burocrática pertencem a este último tipo.. A es­
trutura do Estado. burocrático é particularmente 
importante, e o $eú..desenvolvimemo rac~º.nal carac'" 
teriza o Estadglllodc:no. 
Em qualquer lugar, o desenvolvimento do Esí.:a~ 
do moderno inicia~se pela ªção dQ soqm.no. É ele 
quem cria as conc!ições neç~ssáriªs à expropriação v"" 
dospoderes a!HQnomQ~ }2.riYJldas que possuem o 
poder de adIninistrar os insumos financeiros, o exér­
cito, assim como bens poli~icamente úteis de qual­
quer tipo. No conjunto, observa~se um pàralellsmo 
como desenvolvimento da empresa capitalista por 
meio da exprcpriação grad1}al.dos produtores autô~ 
nomos. Finalmente, temos o Estado moderno que .,. 
exerce o controle dos recursos pollticos adminis- /
. 	 / 
trativos sob direção monocrática. Nele, nenhum , 
17 
! 
-+ MAX WEBER +­
\ funcionário detém pessoalmente os recursos finan­
cejros, nem é proprietário dos edifícios, instrumen­
tos ou apetrechos d~ guerra de que dispõe. NoJ;.mt 
do f5!!.!.!!E!!JE!!râneo - e isso é essencial para o conceito 
de Estado -, realiza-se plenall'lWe a separClçào en~l..e 
os r~s materiais e Q.§ fU1!cionários e trabalha­
dores na organização administrativa .. Surge então 
um.p!.~ Ç>riginal que acompanhamos com nos­
sos olhos, que consiste na amea~ çl~ex'prollJjil( o 
exp:I'oprt,!-,q,or ~ rn.d..cls p()Jitíco§ e, d~§.ê~ maneira, 
do ,~ pqder político. 
A medida que esses dirigentes ocuparam o lugar 
das autoridades constituídas - como se deu n<l Revo­
lução Alemã de 1918 -, eles conseguiram ªJ?Qssar-sS,.. 
por; usurpação ou eleição, do ppder ~. c.antrQJ.aQ 
quadr'p administrativo e dos bens materiais, fundilll:: 
do a legitimidade de s~.~ n;'l_YQ,~~~g~ dos go­
vernm. A possibilidade de que, com base nesse 
êxito, ao menos aparentemente, os dirigentes te­
nham a esperança de realizar a expropriação das 
empresas, econômicas capitalistas constitui um 
problema diverso. Sem minimizar as profundasI 1 
analogias existentes éntre a administração E(t.!?ll~. 
" ~ < 
e a privada, esta é regida Í2Qr leis totalmente dJvex­
-- , - ­
s~das que r~gem a l2Iímeira. 
A esse respeito, não iremos pronunciar-nos ago­
v ra. AC~I1tuo apenas o a,specto conceitual d~q~ggo: o 
18 
+ A POLÍTICA COMO VOCAçAo +-
EstruJo mpderno é uma associação que" tem comolv~ 
funç.~g. a o.rgan,ização da dominaçao. Conseguiu o 
monopólio do uso legítimo da força física como meio 
de dominação nos limites de um território. Para con­
seguir essafinalidade, centralizou nas mãos dos ad­
ministradores o poder ao mesmo tempo em que ex­
propriava todos os funcionários que,· outrora, 
dispunham por direito próprio desses meios de ad­
ministração. O Estado ocupou seu lugar e hoje em 
dia' predomina. AQ longo~e pro~o ,de. eXJlli2.:. 
 M\J.- (
priação política, que em mil!Qr ou meri.Q.!:g.rl1.u S!,: de­ MI&~V 
senvolveuem todQs os páí~.§.do'r;;.un~ s).lrgir~l1l.ê§" 
primeiras catego~ia~ dos políticos prPfi~sjQ11!Jjs. Inicial- '" 
mente a serviço do monarca, eram homens.que., con-. 
trariamente aos líderes carisfi'ático&, não desejavam, 
. ocupar o lugar de Senhores, mas estavam, sim!~ .s..~E::-
viço deum ~ªncipe.Na luta pela co~~~tração dos 
poderes em torno do monarca, aliaram-se a ele, deri­
vando disso seu ganha-pão diário e as normas éticas 
com que orientavam sua existência. 
Novamente, é~ Oçidente ~ !!Dcontramos 
o polítiéo PI'()fissional. a. serviço d~ outros .poderes v ..J 
. que..J!!Q ()_poder dºJll()~ Em épocas remotas, rV1P"" 
eles constituíram 110 re~}lr@ çle l{oder mais sig­
nificativo com/que podia contar .º-.monarca e nos 
agentes do processo de expropriação política opera­
do em seu benefício. 
19 
i 
? 	 MAX WEBER + 
Antes de estudarmos analiticamente os políticos 
pr1fiSSion.ais,.. eSda. reçamos sob todos os ângulos o 
I V I siKnificado cJ~· .s.urgiroentg. A política, ig;ual~ 
,_~",,~. ,! mente CQJ110 a ação e_conômica, pode ser uma ativi~( ~~~ \ dade transitória ou se cOllWtutr em vocação para a 
t...." pess~a. Como políti~~ possível tenta_r in­
\/" 	 fluir ~obre a distribuição .~ poder 1lQ. i:nterior~Qas 
div~rg,s formações pºlíti~as ou entre elMo Ela pode 
ser objeto de um exercído ocasional, mas é também 
possível transformã~la em profissão principal ou 
secundária, como sucede na esfera econômica:.,.;l.,2­
~~~_~~a.I:.<:~ticos de ~casiào Çl!lango vot~­
mos ou exp~~~~'l1.!1os.!'!':',~.~~_yont~<!U?()I!t~s:~_ªo pro,: 
;jiüiiêlar '~~ discurso pol1tico.l. al2rova;ndo ou 
<c ~ -,.•,,,_____, ........... - "' ..- .. __ 
des~p.:?~':.~do als..o.~ para inúmera~ps;.$§ºª'ª'-.a ç.9J].vi~ 
vência com a esfera política reduz~se a isso. Atual­
mente, praticam a poiitica como atividade secundá­
ria os chefes de partidos oul!gme1lS.de cOIÚiança, que 
~) só at.!L~ política por necessidade, para quem ela { 	 .. -••....__.­
não . .constitui suavida, nemp.o plano ~ti.ljal !l~ 
no ig~~o. Isso se aplica aos membros_de conse­
,lhos de Estado ou oqtros. órgãos delibe!~~i".2s simi­
lares, que só se manifestam quando convocados. 
O mesmo vale também para os parlamentares, 
que só atuam durante as sessões - isso era caracte~ 
rístico dos políticos do Antigo Regime, estruturado por 
Ordens. Constituíam-se em Ordens os que possuíam 
20 
I 
? 	 A POLÍTICA COMO VOCAÇÃO + 
os meios materiais deadministração, sej'àm civis ou 
militares, ou os,que usufruíam de privilégios de ca~ 
ráter pessoal. Eles, ·na sua maioria, não se consa~ 
gram totalmente à vida polítita, sendo ela objeto de 
sua dedicação a título temporário. As rendas ou as '\. 
vantagens pessoais, derivadas de suas prerrogativas, t 
eram o maior objetivo a ser atingido. No interior de 
suas Ordens, sua atividade política dav<,l-se por ordem 
. 	 . 
expressa do Senhor. Da mesma forma agiam as forças 
auxiliares a serviço do monarca, no contextô da lu~a 
que este' desenvolvia na criação de uma' orgànização 
política à sua disposição. <irande parte dos conse­
lheiros que constituíam as cúrias ou,.se 'integravam 
em outros órgãos privados a serviço do monarca as­
sim como os conselheiros privados pertenciam a essa 
categoria. 
Porém, para o monarca, essas forças auxiliares 
dedicadas ocasionalmente à ação política natural~ 
mente. não s~tisfaziam. suas necessidades. Movido 
pela necessidade, tentou o monarca criar um quadro 
de adeptos ligados totalmente a ele e a seu serviço, 
~l'!1.que.a ação 'pol1tíca constituísse a vocaç.ã,91?r!!l.9; 
paI. A estrutura daa~~ pol1tiwl dadínastia nª§.cente, 
a§.§illJ. çQ!!!Q ê.1#-. articulaç!o çQm á culturjl, dep<;:~ .... 
'em II1uito clã orig~m soçJªl do§ªWtes r(!crutados. 
Isso vale com maior força ainda para as associa~ 
çôes políticas cujos inembros, após a limitação ou 
21 
-+ MAX WEBER + 
a abolição completa do poder senhorial, se constituí~ 
v r.;ím em cQmullas li~ - não no sentido de uma li~ 
, bertação da domil1ação fundada na violência,. mas 
pela in~xistência de-.!:!!!} poJig senhorial fllpdaçl.o ('
, ,'. 
~ 
nª legit~de tradjs;.IDllal (quase sempre consa~ 
grada pela religião )'como fonte exclusiva de auto­
ridade. Essas c0IUl!.lli!s nasceram no pe~ da cívili~ 
V 	 zaçãg ocid,~llUl sob a fornm pJj!IÚtiva .de ,cí~~g._e, a 
qual vemos surgir pela primeira vez no âmQito da 
cívilíza.-'2o medí,terrânea. 
Vejamos sob que formas se apresentaramJodas 
as cat~orías anteriorl1lel).ç~_citadas que: fazem dà-", 
t...eoJ.1!i~a ;~;~~~fdQ~J?F9fjssãeilfí.!í~W'lL--=--
, ~fo;mas de fazer da política uma vocação) 
,/OU se vive ~a~a_a política. ou.se,vive .da políticafiaI 
'1'CÕÚi:;aste não se dá ~ form"",a .e,xclu;i~à:. T.áil,'to na 
prática como no discurso, um.~~~a c:o.isiJ,5~~( 
,~ ªQ me:gnQ t.emRQ; Quem vive pa!!!. a ~ol1tica a r torna o fim de sua.existência, ou porque essa atividade 
f permite obter prazer no simples exercicio do poder, 
I ou porque ~antém ~ eq~tlíbrio imerior e .§'lla 
,/.-, 
auto~e"s.J:j!pa fund.a.Q.us na consciência de qHL§!la 
eX!~~a te!Jt sentido â m.ec:lida qu~ ~ a§e:l:'VJ.ç.9 
~ JJ1!la calJB)Num sentido profundo, todo_aq~ele 
que vive p-w uma ~ v!'y"~ dela tªmbém. E o 
-
-+ A POL1TICA COMO VOCAçAo + 
ca uma fonte permanente de rendas, vive da pol1tica 
~,omovoc:açãõ;~o caso-~~t?,-Ví~~~~_~,p.~:rÊ;Eoiíti~ ,.,. 
~\Num regimeTU:ücIãdo na propriedade privada, 
sio necessárias certas precondíções que os senhores 
considerarão~banais para que um homem possa viver 
para apolític~. !~ condições normais, deveo homem 
político ser economicamente independente das ren~ 
das que a ação política lhe possa proporcionar. Isso, .."'" 
significa simplesmente que o político deve ser rico I 
•
ou contar na vida com uma fonte de rendas indepen~ 
dentemente da sua qualidade de político. 
Isso é válido para condições normais, pois da 
mesma forma que o chefe guerreiro, os adeptos do 
agitador revolucionário não se preocupaJIl com as 
condições de lJma economia normal, pois num e 
,noutro caso vivem de saques, roubos, confiscos, 
emissão de bônus sem lastro, o que no furido é a 
mesma coisa. Mas essas são situações necessaria~__ 
mente excepcionais ...N.il viÇl1!..ecq~ quotidia~'~, 
n~ s6 a posse de certa riqueza torna economica~ t 
mente independente qualquer pessoa. Porém, só isso! 
é insuficiente\ O ho..!J}W político d~ e,conomi~ V' 
-_crun.~ disponí~, a, preo~upação com sua subsistên~ /,." 
da pessoal não deve tomadhe todo o temp~.(OIni;is 
disponível no sentido que tratamos é aquele que re~ 
aspecto econômico um dos ªe~s importantes cebe rendas sem trabalho algum oriundas de títu~ 
dasondíção do, homem político. O que vê na políti~
. ,- los ou ,de fontes análogas. Isso à semelhança dos 
22 23 
i 
-+ MAX WEBER +­
grandes senhores da Antiguidade ou da Idade Mé~ 
dÍa, em que os escravos ou servos se constitulam 
em fonte de renda. Nem o operário nem o homem 
de negócios moderno têm tal disponibilidade - de~ 
dique~se ele a atividades industriais ou agrícolas, 
embora este últim~ seja beneficiado com o caráter 
sazonal da agricultura. 
Para o empresário, em geral, é muito difícil en~ 
contrar algum substituto em sua empresa, mesmo 
que temporariamente. Como o médico, quanto mais 
nome tem, mais consultado é e menos tempo dis~ 
pôe para outras atividades. Por razôes profissionais, 
as dificuldades são menores para o advogado, o que 
explica o fato de ele ter desempenhado na qualida~ 
. de de polltico profissional um papel mais signífica~ 
tivo e às vezes preponderante. É desnecessário de< 
senvolver essa casuística; mais importante é 
esclarecer algumas implicações da exposição feita. 
O fato de homens que vivem exclusivamente 
para a pqlítica e não da: política dirigirem um Esta~ 
Hr do ou um partido s~gnifica que o recrutamento des~ 
i I 
, ses dirigentes écQti~o de forma plutocrática. Issot 
I' ; 
não significa que a direção plutocrática não procure 
tirar vantagtns dessa situação procurando viver d~ 
política, explorando essa posição em função de seus 
interesses econômicos. 
. 24 
-+ A POLíTICA COMO VOCAçAo +­
Na verdade, isso ocorre quase sempre~ Nunca 
existiram camada,s dirigentes que não viveram da 
política de uma ou de outra forma. Que~sª~ v 
ace.!.'!.t:!:illr q~ polítÍCoprqfissiQWll nãQ neces~ir~, . 
ºbter!:!!!lli rem~peração di!1;.~ã pelº§ serviços qy.!:... 
prest~, enquanto ôindivíduo. pobre. deve considerá~ a..-'" 
la em primeiro plano. Não é nossa intenção insinuar 
que homens desprovidos de propriedade procurem 
exclusivamente óu predominantemente' vantagens 
econômicas pessoais por meio da ação política, 
desconsiderando a causa a que servem. Nada seria 
mais falso do que taLafirmação. Sabe~~e, pela expe~ 
riência vivida, que a pre.Q9dl'~ção Gmn. a segyranca 
econômica é um el~!11ento vi,tal na.~ d~.aluém frrf 
'l!:!..e pos§.9i f0!D!!l.a, t~.ph-ª-ele consçj~ncia di s9 oJ!.. 
não. O idealismo político acima de qualquer con­
sideraçãO ou princípio é praticado principalmente, 
quando não de maneira exclusiva, por aqueles que 
não são proprietários de bens e por isso estão afas~ 
tados das classes sociais interessadas na manutén~ 
ção de uma ordem econômica numa dada socieda­
de. Isso é válido principalmente para períOdO~ 
extraordinários, revolucionários. O que nos .inte~ ~, (,~!~~?­
ressa realçar é o seguinte: o recrutamento não ~i.cM' 
plutocrático de chefes e adeptos na áreapolftica I ~ 
pressupõe a possibilidade de a organização política I 
assegurar~lhes ganhos garantidos e regu.l~es. Sem~ 
. UFRG~5 
i".ttf)orp,r~ '}(.'I'.lílai <!e Ciências SOCIaiS e rHJ(n~!:Hrladn 
~ 	 MAX WEBER + 
v pre existem duas alternativas. Ou a atividade poli­
( 	
tic,\ ,é exercida honorificamente, ist9 é, por pessoas, . 
como se diz, independentes em função de sua fortuna 
pessoal ou rendas, ou têm acesso ã carreira política 
homens sem propriedade que devem ser pagos. 
O político profissional que vive da polítiçq pode ser 
um beneficiário ou funcionário pago. Receberá ele hono­
rários ou emoluméntos - não passando as propinas 
de uma forma desnaturada e irregular de remunera­
ção - ou será remunerado em espécie ou dinheiro, 
ou ainda ambas as cQisas simultaneamente. 
O hOJ1lem político pod.e assl!Il!.!.r a figurá' de JJID 
empresário como o é o condottiçrç, o meeiro ou o que 
ocupa um cargo arrenda~o ou comprado ou como o 
chefe norte-americano,! que vê nas suas despesas 
um investimento de ,capital transformado em fonte 
de lucrospor meio da exploração de sua influênCia 
polltic~. Também pode recebeI remug,eralião fixa,co­
mo jornalista, secretário de partido, ministro de ga­
binete ou funcionário politic~(Antigamente, os pr1n­
cipes, os conquistadores vÍtÕriosos ou os chefes de , 
. f , IIII partido pagavam seus servidores com prebendas,
'" i 
i . feudos, doação de terras, e, .com o deSenvolvi­
I 
mento da economia monetária, com gratifica.ções 
em dinheiro. Em nossa época, tais pagamentos são 
feitos mediante nomeação para cargos de todo 
tipo, seja em partidos ou em sociedades cooperati­
~6' 
~ A POLÍTICA COMO VOCAçAo + 
vas, seja em jornais ou na burocracia do Estado. Es­
ses cargos são considerados cargos de confiança pe­
los chefes de partido. , 
<1(' A finalidade da luta eh...!E. os pru:tido§ é a conse­
cução de fins objetivamente definidos, mas, acima 
de tudo, é ta~,al].l,~~pclQ poçlg de .Q.QP1ea,ção 
aos c,argo~ públicos. 
Na Alemanha, as lutas entre as tendências cen­
tralizadoras e descentralizadoras giram em torno do 
que acima enunciamos. Que poderes controlarão a 
distribuição de cargos públicos de Berlim, Muni~ 
que, Karlsruhe ou Dresde?9s par!idos sentem-se 
muito mª-i~afetados com. alimi~ªçAo a eles impQstl,l :,«" 
ao direito de nomeaçãQ aos cargos públicos do que 
com arr<lnhões em seus programas, Na França, a 
troca de prefeitos sempre foi consiâerada mais }ffi­
portante, mais em razão da política dos partidos do 
que de uma mudança no programa do governo: que 
possui significado de retórica vazia e oca. Alguns 
partidos pol1ticos nos Estados Unidos da América 
do Norte, após a superação dos antigos conflitos a 
respeito de interpretações de preceitos da Consti­
tuição, converteram-se em partidos. caça-empregos, v 
distribuindo çªJ;gQ,§ e modificando ~ogramas 
s:m função d2_s~aganhar. Na1Sp!.!!ha{nos últi­
mos anos, dois partidos revezaram-se no poder con­
, \ 
forme os princípios sk.alternã~!.a.consentida, funda- V'" 
27 
~,'Í~I 
'11, 
i I 
!! ., 
) . 
+ MAX WEBER + 
v' da em eleiçOes préJabricadas pelas akã.s ciU2l!ks. 
pe\l!litindo assim que seus adeptos se beneficias~ 
sem altet:!1adamente do exercído de cargos ..buro­
cráticos. Nas antigas colônias espanholas, tanto nas 
assim chamadas eleições quanto nas revoluções, o que 
se disputava era a dispensa do Estado com a qual 
desejavam alimentar-se os vencedores. Na Suíça, a 
divisão de cargos' era feita pacificamente, de forma 
proporcional, e alguns de nossos projetos revolucioná­
rios, por exemplo, o primeiro Projeto da ConstituÍ­
ção de Baden, pretepdiam ampliar esse sistema aos 
cargos ministeriais. Dessa forma, o EstaQIt e ºi~ 
v g.QS..burocráticos er~ considefl},PW institujç~Q!Je 
simp1e6IIl.l:Il.te p~Q2.0.rcionavªPl pr:y;;benda~. Especial­
mente, o Partido do Centro entusiasmou-se com 
tais projetos. Em Ba~en, ele estabeleceu como parte 
de sua plataforma política uma distribuiç:ão de càr­
gos proporcional às confissOes religiosas, inde­
pendentemente de qualquer consideração de mé­
rito ou filiação ao programa partidário, sem 
preocupar-se com a capacidade política dos futurosdirigentes. Tal tendência unívers#zou-~ no seio 
v dos demais pàrtidos pQlíticos em razão do·a.umento 
do nÚl1!~ d~j::argos por causa da burocratização 
geral, masotambém pela ambição cre:scente de indi­
víduos atraídos por uma ~!l!~ burocrática, que 
se transformou hoje em dia numa e.spéciede seguro V 
28 
I 
+ A pOllTICA COMO VOCAÇÃO + 
relação1!Q ~. Para seus adeptos, o$...l2artidos v 
aparecem, cada vez IJiIoflis, como l!ma e.sca,d~ que lhes 
permitirá chegar ao objetivo báSico: garantir seu fu­
turo,sua~ " 
, A iss6 se o~' desenvolvimento mo~.dí!. v 
f~o~a em nossos tempos, com sua exigên~ 
cia de um corpo de trabalhadores intelectuais espe­
cializados, altamente qualificados, fruto de uma 
preparação que, ao longo dos anos, lhes permite um 
desempenho razoável de sua tarefa profissional. Ten­ , 
do em vista sua in!..e~o, a D1,llocracia moderna \~, 
deª-~!l~ um eleV<l~o sen!ime.m.o cQ~orativo W 
estal1!~l; na falta dele, estartamos ameaçados pela /; 
mais vulgar corrupção e pelo domínio dos filisteus. 
Desse modo, o simples rendimento técnico da má­
q'!lina estatal es~aria comprometido, numa época 
em que sua importância econômica é cada vez mais 
acentuada, tendo em vista as forças que a impulsio­
nam rumo à socialização. Mesmo v 
Unidos da América do Norte, onde c:;m épocas re­
motas inexistia a figura do burocrata de carreira, 
onde o diletantismo administrativo dos' políticos 
primários permitia que o acaso de uma eleição pre­
)
sidenciallevasse à substituição de centenas de mi­
lhares de funcionários públicos, mesmo lá, repeti­
mos, essa administração de amac!pres conhe"Çeu~ Ir' 
fim co_m ~rm~~~çoCivil.) 
29' 
, I 
1 
1 I' ' 
t I 
t • 
-+ MAX WEBER «-­
I
! Es~rocesso obedece puramente .~éç~ 
I v nic'Qs-l_N'a Europa, ao longo de uma evolução 
milenar, surgiu a função pública organizada,.l!Jbe_de~ 
~o aos pIjnciRios ª,-l! fl,ivisãO do trapal~Esse 
processo iniciou~se nas formações urbanas das 
sigtlorias italianas, passando às monarquias e aos Es~ 
tados conquistadores normandos. Porém, o ~ 
decisiva nessa direção deveu~se à dª§ 
,/ 	finanC9s do soberano. Nas reformas administrativas 
do imperador Maximiliano !, pode~se ver como foi 
difícil para os funcionários, mesmo sob a pressão da;'\­
ameaça turca e da extrema necessidad~~cindir/f 
do rei na administração financeira, embora seja esse 
. um terreno no qual é impossível contar com o 
diletantismo do dominante, que na época aparecia 
, 'como cavaleircf O desenvolvimento da mil!::. 
-/ t~exigiu um."~fig~ especial!~, o aperfeiçoa~ 
menta do processo judicial exigiu o jurista compe~ 
tente. Nas áreas financeira, militar e da .justiça, 
vtriunfunun Q§. fUl1çionários ÊS. cª,rreira, especial­
mente nos Estados ocidentais desenvolvidos, de 
modo definitivel no século XVI. Simultaneamente, 
com o predomínio do absolutismo real sobre os se~ 
nhores feudais, aumentou o espaço de ação dos 
funciom\rios que haviam auxiliad6 o rei na sua luta 
contra as Ordens. A ascensão d.os funcionários~ifi-
\ éad~s deu~se apar com um processo que env?l~eu 
30 
-+ 	 A POLÍTICA COMO VOCAçAo «-­
os dirigentes políticos, embora tal evolução nã,o fos~ 
se perceptível a olho nu. De há muito, em todàs as 
partes do mundo, indiscutivelmente houve conse­
lheiros do rei que (azaram de grande autoridade. 
, A figura do grão-vizir apareceu no Oriente para sal- \li( 
vaguardar a imagem do sultão da responsabilidade J 
I pelo sucesso de seu govern<>.- Nq Ocidente, durante 
,Carlos V - época em que também viveu Maquij1veI-, 
i I sob a inflUência" d,os embaixagores yenezianos, a , 
pio macia COf!.vç~ numa conscientemente v 
.' praticada. Seus informes eram lidos apaixonadamente. 
\f	 -­
Os adeptos dessa ~~,~.,ger~~ortadores uma 
formação humanista, consideràvàrh~se especialistas, 
semelhantes aos estadi~as humanistas d«Çhinâ> 
no último período dol§~ado~'Eombaten't~s?) ," 
A necessidade de uma direção unificada da polí­
tica, inclusive da política interna, sob a égide de um 
só homem de Esfado, apareceu com clareza nos Es­
tados constitucionais. Sem dúvida, anteriormente 
apareceram fortes personalidades na qualidade de 
conselheiros ou guias do soberano. Não obstante, 
os rumos do Estado seguiram caminno diverso do 
que assinal.amos. Mesmo mais evolul~ 
dos; o que se nota em primeiro lugar é, a fo:rmação 
de um, c?rpo administrarivo'supremo 'de fórm,a 
" - , _. -.- --- .. -_...- --- ·--····7.- ' 
r co~~ia~Embora teoricamente e cada vez menos 
na prática, reuniram-se esses órgãos sob.a presi­
31 
i,·
! 
I I 
-+ MAX WEBER + 
dência pessoal do rei, o único a decidir. Tal sistema 
originou propostas, contrapropostas e votos que 
obedeciaJl1 ao princípio majoritário, além d~ 
apelar ~ homens.k c~;mijanca i~ ele pesêQalmente 
11nculados ­ o gakirlçy: -, porcuja mediação o rei 
decidia em resposta a resoluções dos Conselhos de 
Estado. O rei, cada vez mais colocado como um 
diletante, esperava dessa forma subtrair~se à influ­
ência e ao poder dos funcionários especializados, 
reservando para si a decisão em última instância. 
Essa luta liu:ente ~ os bWQc::r_g.J:l!§ especializados 
'I}( e o governo.alltocrátigl ªI?-a,receu em t.9dosQ.§ lug,a~ 
~ Ho e um dan a s~!!lentequando surgi­
( 
ram Parlamentos a,s ª~12iraçõ.es ao podeJ d~ 
chd s J!!....Q.s poll~. Embora esse fenõme~ 
no se tenha desenv~lvido conforme a especificidade 
de cada pais, não obstante conduziu a idêntico· re­
sultado. Com algumas diferenças, é certo. Onde as 
tinastias conseguiram manter um poder real - nafAlemanha precisamente -, os interesses do rei leva~ 
I ram-no a aliar-se aos, burocratas contra a ação do 
\ Parlamento e suas aspirações ao poder. Os funcio­
nários estavam interessados em que dementos de 
seu meio ocupassem posições dirigentes, isto é, 
cargos ministeriais, que se transformavam dessa 
forma em alvo final de carreira. Por sua vez, o mo­
narca tinha interesse em nomear ministros, esco~ 
32 
-+ A POLÍTICA COMO VOCAçAo + 
lhendo-os entre os burocratas a ele ligados por de­
dicação pessoal. Os bur~as e o monarca tinham !111~~ 
interesse em manter-se unidos para enf:r~ soli~ t\t.;:e. 
d'!!iê~e ~ Par~.il~, substituir o sistema. 
colegiado por um chef~e gabinete que exprimisse 
a unidade do ministério. Para manter-se acima das 
lutas partidárias, pr.~s}sava 9)J.!9narca de_uma pes­
soa que lhe proporcionasse cob~, respondesse 
v 
*­
,. aos parlamentares e negociasse éom os partidos po­
'líticos. Tais ne~essidades conduziram a uma alJtor:F 
dade uill!icada de um mini@:g burQ9:al;a. Onde o 
Parlamento prevaleceu sobre o monarca - como na 
'~i I~teg;)-, o desenvolvimento do poder parla~ 
~\illentar orÜ':.!J~ no sentido da unificação do v 
aparelho e~.tatal. Aqui, o gabinete, com a figura 
centralizadora do chefe do Parlamento no seu topo, 
o assim chamado líder, converteu-se em uma co­
missão que, apesar de ser ignorada pelas leis oficiais, 
era de fato a detentora do poder político de decisão, 
posto que era formada pelo partido que tinha no 
momento a maioria no Parlamento. Os partidos 
políticos Pªs~",ªgros órgãos do 120der p()litico 
dominante, e os organismos colegiados não pude­
ram mais per;manecer como os detentores reais do 
poder. O partido dirigente necessit,ava ~e um órg~ãO 
composto pelos seus verdadeiros dirigentes a fim d ~ 
tratar de forma reservada dos negócios, afirmar s 
33 
,. 
~ 	 MAX WEBER +­
autoridade no plano interno e orientar a política ex­
terior. Tal órgão s6 poderia ser o gabinete. O públi­
co, especialmente o parlamentar, percebiil como 
chefe unicamente o chefe do gabinete. Na Europa,' 
a<lotou~se o sistema inglês sob a forma de ministé~ 
rios parlamentares. Somente nos Estados Unidos 
da Amé.rica do Norte e nas democracias sob sua in­
fluência se adotou um sistema diferente, em'que o 
chefe do partido vitorioso eleito por voto universal 
. estava â frente dos funcionários nomeados por ele; 
apenas em matéri;:ts de legislação e orçamento de­
Ps~dia do Parlamento. 
O desenvolvimento da. política mold;s rul~ 
.' 	 pr~sariais,que reguería um aprendizado n? li.ttapelo 
pOQg: e acriacão de métodos - como de fato ocorreu 
com os partidos ~odemos -, condicionou a ~ 
V' 	dos funçionári.os públicos ~m duas çategorias. bem 
definidas: os administrativos e os "políticos". ( 
& (Os funcioná:n_QsP,Q./íti.cQs. no sentido propriamen­
te dito do conceito, identificam~se pela maneira com 
que podem ser facilmente deslocados, destituídos 
ou p~stos em disponibilidade~omo ocorre com os pre­
f~ítos na França ou com outros funcíonários em 
igual situação em outros países, em contraste com . 
a independência dos funcionários'com funções judi­
ciais. Na Inglaterra~~ funcionários políticos, confor­
me convenção estabelecida, colocam seus cargos â 
-o ~")" ~~ ,.\,.r
'J':) \; "'" '.", 1 \~'~~;.S"'\'34 . . . ,r) 
~ 
I 	 , 
. 
". 
-+ 	 A POLÍTICA COMO VOCAçAo +-­
disposição quando se produz uma mudança parla­
mentar e, conseqüentemente, uma alteraçào no gabi­
nete. Isso se dá especialmente com aqueles funcio­
nários incumbidos de velar pela administraçào interior, . 
manter a ordem no país.e;- conseqüentemente, man­
ter a relação de forças existent"e~a Prússia, confor~ 
me o decreto do ministro Puttkamer, com o intuito 
de evitar censuras, tais funcionários tinham a obri~ .", 
, \ 
gação de representar a política governamental e, da 
,mesma forma que os prefeitos franceses, foram usa~ 
~,dOS como íns.trumento bl:lrocátíco P1!Ii1 influenciar v 
Jn.Q çl~ das eleições. Porém, constitui uma 
culiaridade do si~,!1lemão - contrariamente ao 
que ocorria em outros países - o fato de o acesso às 
'funções administrativas depender de estágio y 
prob~, exames esp.ec~os e t1n.J.J.osJJ~ 
sitários. Estão isentos nà Alemanha dessas exigên­
cias somente os ministros. Sob o Antigo Regime, era 
possível ser ministro de Educação na Prússia sem 
possuir diploma de ensino superior, ao passo que 
somente quem fosse aprovado no sistema de exames 
" 
tinha acesso ao cargo de alto funcionário ministerial 
encarregado de relatórios sobre as atividades do ór­
gão em que estava lotado. 
Um chefe de uma divisão administrativa de um 
ministério ou um conselheiro especial - por exem­
35 
I , 
) i" 
I' I:', 
-+ MAX WEBER +­
pIo, na época em que Althoff era ministro da Educa­
ção da Prússia - estavam mais informados que qual­
quer chefe de departamento sobre os problemas 
técnicos a ele afetos. O ITl!,:smo ocorreu na Inglater­
r~ra._issº-explica por qu~fl,mcionário especializado 
j , l.......--"'= • 
./l" éo:~ºel'lJ informado Il°9.U~ refeIS; à r9..!inª.çlo 
trª.b.ªlhoagministrati~o.1E isso não sem motivos ra­
cionais, pois o ministro era si~pl~wte o rep~ 
(' s,en.t-ª~ dç_UU1.J!. confi!Wracão po~ no pod~:r, da 
qual fazem parte avaliar, em função de um progra­
ma, as propostas apresentadas pelos funcionários 
especializados e..illdlJJjr ~ de seus subalternos 
v' conform~ a orien ão p.9,l,ttici vigen.!iS;.llil partido. 
Numa pre§..~articular, o mesmo acontece. 
O soberano verdadeiro, ou seja, a assembléia de acio­
" nistas tem tão diJlli,.nu,l;.Jl infhJêJl~i..a ~ a dir:~çlo 
ctl.s.negQ9.g§ qu'illtQ o P2Y..o dirirug9 PQf burocr:i~as 
especializados. Os que detêm poder. de decisão a 
respeito da política _da ~mpresa, os membros do 
ç~ administrativo, sob a hegemonia dos bancos, 
traçam apenas as diretrizes econômicas, atribuindo 
cargos ádministrativos a quem tem competência 
pa.ra dirigHa tecnicamente. A estrutura do atual Es~ 
tado revolucionário não apresenta nada de novo nes­
se sentido. A direção da administráção fica entregue a 
diletantes porque são eles que dispOem de armas, 
de metralhadoras; de igual modo, eles vêem nos 
36 
" 
-+ A P o L Í T I C A C o M o V o C AÇ À o +­
funcionários especializados simples auxiliares execu­
tivos. As dificuldades enfrentadas pelo atual sistema 
não radicam nisso, mas numa outra área que não 
abordaremos nesta conferência. 
Interessa-nos o estu~dos aSl2ectos especificos V 
dos ~s profissionais, tanto dos chefes politicos 
como de seus adeptos. Esses a§]ps:ç;tos mu.dãram "* 
a~ do t~I1lP.Q e aprese~m moder~te tr-ª:, 
ç().§. d~.ad.os. . , 
Verificamos que, no passado, os políticos profissio­
nais emergiram da luta entre os reis e os senhores 
feudais, colocando-se a serviço dos primeiros. Exa­
minemos com a devida brevidade os principais tipos 
em que se apresentam tais E.Cll!tíS:9s-PJ:Q.&siouªÚ!. ',l 
Na sua luta contra os senhores feudais, o rei ~~, 
apoiou-se nas camadas politiç-ª.mente indepens!fn­ ~#-$ , 
.!g, não sujeitas à ordem feudal. Pertencia a essa ~ 
camada o clero, não só nas Índias Ocidental e Orien­
tal, na China e no J~pão budistas e na Mongólia 
lamalsta, como também nos palses cristãos na Ida­
de Média. 
Isso tudo obedecia a~stécni!Xas: o c!gQ"do- "'" 
h1ina'y"'~ a té~~da ~~~. Emtodos os lugares, a 
incorporação de,brãmanes, sacerdotê'!S'budistas, la­
mas e o emprego de bisp92. ~gre§..C9U1-.P ÇQ~ 
lheiros RQlítisr~ ocorreu sob a poss!pili~e de 
cons~.81!.ir forç_~§..ad~nis~vas dotadas dCl, poder 
37 UFR('~ 
fllbDofP.f'~ ")eTonaJ dE: C*ênCiai SoçlallJ ~ Hl.lmamaaClll 
-+ MAX 	 WEBER + 
da escrita, as quais poderiam ser apmve;iradas na 
lq!]. dos imperadores, reis e khans çontúl <\ a~!st~~~.!" 
(,:11. 
O clérigo, especialmente o celibatário, estava à' 
mkrgem das lutas político/econômicas da época, dife/ 
rentemente do vassalo, que procurava em detri/ . 
mento do seu Senhor poder político especifico. Em 
virtude de sua condição religiosa, o sacerdote es/ 
tava separado dos meios administrativos do rei e 
il 	 das intrigas que lá existiam, não havendo possibili/ 
dade de ele cair n~ tentação de amhicionar poder 
político para os de sua ordem. 
Os líteratos com formação humanista formavam 
outra categoria. Era uma época em que se aprendia 
a discursar em latim ou a cultivar poesias em grego 
como condição par~ se tornar conselheiro ou histo/ 
riógrafo do rei. Era a época do florescimento das 
escolas humanistas e da criação de cátedras de poé/ 
tica por ordem real. Apesar de ainda exercer consi/ 
deráveI influência no nosso sistema educacional, 
essa época foi de curta duração para nós e não teve 
! I m~iiores 'implicações políticas. Do Extremo Orien~i i ~ .. te, não podemos dizer a mesma coisa. O 'ma:gdarilli 
, 
" chinês na ..§lli! oPgcn.. foi rruJito semelhante i!Q.v-	 . 
humªlli.2!.a do Renasç.i.Iwal,t:o: trátava-se de um le­
trado humanista versado na interPretação de textos 
antigos. Quem ler o diário de Li Hung/Chang de­
38 
'i ~, I 
-+ A POLÍTICA COMO VOCAÇÃO + 
duzirá que sua fonte maior de orgulho residia em 
ser poeta e ótimo caligrafo. Essa camada, que con, 
servou seus costumes desde a Antiguidade, deter/ 
minou todo o destino da China. Talvez tivéssemos' 
idêntico destino se os huIt:\,íiloHistas em sua época ti~ 
vessem tido a menor oportunidade de gozar de 
igual influência. 
~ A nobreza cortesã constituiu a terceira camada. ~.
_. ",-..~-
Os~atraíram/na à sua Corte à meiliCla Rue e~ 
pr~ o ~ poder político como classe, atrihuin/. 
do-lhe funções politicas e diplomáticas. 
O patriciado, uma figura tiP~IJ;I!;pte in..J4ssa, com/ v 
põe a quarta categoria. Ele englohava a p-equenaIlo~ 
hreza e os rende~ aldeõ~ conhecidos tecnica, 
mente como a ge.n.~. Originariamente, ela era uma 
camada!disposicão d~a inglesa na sua luta 
çontra Qª harões, c.onfiandQ/lhe o sdFgovemWf.nt. V 
Porém, com o tempo, a própria realeza passou cada 
vez mais a depender dessa camada ascendente. 
O patriciado ocupou os postos de administração 
local ~~ remunerJ\>ªo, tendo ~_!Il!:r:ª-. v 
a.umentar seu própri9 Rºd~r.social. Esse fato salvOU) 
a Inglaterra da burocratizaçào, destino da totalidade 
dos países da Europa continental. 
Os jurist~ formados por universidades consti, 
tuem a @inta c~m~e são um fengmeno p~ v~ 
ao Ocidente, especialmente nos quadros do conti, 6f\/~ 
~ 
39 
-+ MAX WEBER +­
nente europeu, com influxo decisivo na sua estru­
tura política. As p~s re~rcussões do dÍl;:~Ífo 
V rQmano, nlLform.a que assumira sOQ:o Esta<!9 ro­
.( mano_decadente, aparece com indiscutívelnitidez' 
nb ~inte fato: a revolução da administração pú-
If b],ica rumo a um E.§.!lld.o ra,c.i.\lJJ.al foi em todos os 
lugares fruto de juristas pro.fis~ionais. Esse fenô­
meno é paSSível de constatação também na Inglater~ 
ra, ~ de as grandes co,rporações..Qs.. jl!~ 
,:I' comb~ a difusãQ do dÜ:eito romanQ.J1oQaís. 
Fenômeno análog? não se encontra em nenhuma 
outra parte do mundo. 
O embrião de um pensamento juridico racional 
desenvolvido pela escola_hindu de Mimansa e to­
das as aplicações posteriores do pensamento jurídi­
co antigo no Islão não desvincularam o pen~a,mento 
V· jlJrídico racional dácontaminacão teológica. Sobre­
tudo, a processualística legal não foi inteiramente 
i 
I racionalizada nos países islâmicos ou na Índia. Tal 
racionalização só aconteceu na Europa graças à ado~ 
ção, pelos juristas italianos, da antiga jurisprudência 
romàna .do proçluto de uma configuração política 
absolutamente esp~cífica. que se elevou a partir da 
cidade-Estado à dominação mundial. Qysus mop'~r.11lJs' 
, dos ju.p3tas e dos canQl1Ístas medievaij do !?Ji,esto 
./ estava profundamente influe.!lºª-çlo. ttogas.do 
... dír~natural. elaboradas pelo pensamento juridí­
40 
.. A PoLtTICA COMO VOCAçAo +­
co cristão, posteriormente secularizadas. O podestá v 
L,taliano; os juristas reais franceses (que criaram os ') 
recursos formais para abalar o domínio dos feudais 
~"."'".. ,-... ~- ' 
a favor do rei); os canonistas e os teólogos do ' 
conciliarismo de inclinação.;asnaturalista; os juris~ 
tas da Corte e os juízes letrados dos príncipes do 
continente; os teóricos do direito natural na 
Holanda e os monarcômanos; os juris~as ingleses 
da Coroa e do Parlamento de Paris e finalmente _o.§.. 
advogados .da R:~YQ!!Kão WDce§a foram. o~ ªgt;ntes V 
JR~ impQ~s de§§.e P~Q~. Os adventos do 
absolutismo real e da grande Revo~ francesa .:: 
são inconcebíveis sem esse raçjQnalismo ~o. 
A partir de uma análise cuidadosa dos registr~ 
dos Parlamentos franceses. ou dos livros dos Esta­
_dos ~do século XVI a~~J789, pode-se verificar 
que eles são per:pJlssados pelo~~~p'ír\t.o cl9.aj\lristas v ! / 
profissionais. -< :'\ I 
Se examinarmos a estrutura ocupacional dos 
rng:mbros da convencão francesa. encontraremos um ".... 
único proletário - embora escolhido pela mesma lei 
eleitoral que seus colegas -, poucos empresários 
burgueses, mas um :nº-II}gQ, eX:"pre~de..j.J.u;,i"ata ..... 
.ru:!.Q.dQ ojiJ2Q, sem os quais seria impossível com­
preender a mentalidade específica desses intelectuais 
radicais e dos projetos por eles apresentados. É a 
41 
" 
-+ MAX WEBER ~ 
/1 partir da Re::::8!ução Francesa que o advogado l110~ 
'demo e a democracia mQ"~Jl caminham juntos. 
, -
Pois somente no Ocidente encontramos a partir da 
Id;dr~;·iidi;-~~d~kFoI"QO camada_ê2.gaI m-ªe~ 
'pên~rgida por meio do intercessor d2.EE..0ces~ 
so g~rÍÍ}âl}iê:o, ,~9Ji_il_iõfl~~'-da raci;na~;ção 
de,sEe P!Q.~' 
Nada tem de acidental o surgimento dosadvo~ 
~ a,dos e sua importânC,ia na, política ociden. t,aI a pa,r­.R tir do surgimento, dos partidos. Os empreendi­~r/ mQ!!.Q.s dirigidos };1.Qf R-artidosnada Inª~ são Q.Q.. ./ . " ~ar~!,Ç!lIas:ões çk_gru~ diP!:~. Logo veremos o 
. que isso significa. O oficio de advogado consiste em 
defender com eficiência seus clientes. Nesse senti~ 
do, ele é superior a qualquer funcionário, como nos 
demonstrou a supremacia da propaganda inimiga 
(propaganda aliada, 1914/1918). Ele pode ganhar 
.. v 
'. 
"" 
tecnicamente u~S~ cuLos argumentos possuem 
urna l~ f99, e, nesse sentido, a causa é fraca. 
Porém', é o único que tem condições de ganhar uma 
causa fundada etn sólidos argumentos, portanto boa 
nesse sentido. Acontece freqüentemente 'que o nm~ . 
cionárioçomo homem político faç~ de uma bo~~ 
g, d().R2!!i2 de "Ísta d2~ argymeDtos, uma caus<1;!w 
~fug~ de eE!os t~çnicos. Temos disso alguma 
experiência, pois atualmente a política é feita pre~ 
42 
.> A POLlTICA COMO VOCAçAO ~ 
dominantemente no âmbito Público, por meio da 
laIa ou da escrita. Pesar o efeito das palavras é tarefa 
do advogado, não do funcio::"~~~~_pú~lic:2:.()-:~~~C:;._.: J> 
nata não é um ~á~e nã(? po~e sê~lo, p-õ~~ " ". 
finiçãg: Se, por infêlicidade, PiêteIide esse papel, irá 
L'umpri~lo mediocremente. 
O'y~rgadeiro bllrocrata - issQ é fundamental para 
\ .~ulgarmos noss~_Anti o Regime - ~~~dministr~ 
tudo ~~a(~arti.<:t.~.:~a e',~rn razão de sua vo~~~ ,~;10, nãodev.t:: f~zer po~tica Tarexíg;êríCíátã~§~.é 
" IfPliCáVe~_a.9~XUnciOn~riOs ditospol~~i:~~~ ~6~E1~ 
( oficialmente e na medIda em 9.ue os interesses fun.::,. 
. I dame~tais ªª ordem exjstente - da razàa de Estada.;: . 
\ 
" ;1 não e;tejam em jogo.LPeve ele desempenhar sua r" 
) t missão sem amor e sem ódio, razão pela quall}!g. 
idcvç fazer 0.iU!e con~j:jtui cargcterística básica dÇl"" Y 
-~I . 
homem p()litico: l~I!Tomar partido, lutar, apal' 
--JJ 
xonar~se por uma causa caracterizam o homem po~ 
lttico, acima de tudo o chefe político. Sua conduta 
está submetida a um princípio de responsabilidade: 
!,estr,anho e mesm~ontrário ao que nortei,a, o funcio' 
'rI<\rio burocrãtic~~.ªº.J.lJ1TOçrata bQ~i'!:S!; 
na sua habilidade E~ÇÇJJlQ]; cooscientementej§. 
-1'!Tdens que eman~. ~c:lilliau~des superi0S' 
comose fos~~'sÚ::lS ~ºQ~i~~es.( Isso permanece 
válido sfàãutoridade insiste lla~dem 
p~\reça errônea aos olhos do 
43 
~ MAX WEBER + 
seus protestos. Sem tal disciplina moral e sacrifício 
no sentido elevado do termo, toda organização cai~ 
ria por terra. A r~ponsabilidade ~l'é o element9 
cQ1\stituinte da honra ,ç1Q chefe }?ol1tíco e está .im-:: 
pllijta na sua ,ação qualquer, sem que ele possa 
réjeitá~la ou delegá~la a quem quer que seja~ Os__.::'> 
funcionários com visão altamente ética de sua fun~ 
ção são !l~_s.ª!!nos politlcos, não ~!tan:_ãssilmir 
responsabilidades no sell.tido p~tíCQ.Q,o termo e, 
~~"."~-, ._-,~' 
;(1) 	 desse ponto de vista, aparecem cO!!1() políticos ca~ 
nhestros. IllÍélizmente o~s repetidas vezes em 
posições <k.çhefia, É a isso Qll~ denQ!!Ú~s rrgime 
q~ fiwç'''nários. Não constitui todavia um atentado à 
honra de nossos burocratas revelar as falhas pol1ti~ 
cas do sistema, visto do ângulo de sua eficácia. Vol~ 
temos, porém, mais uma vez aos tipos de figuras 
políticas. . 
. O demagoi~,tem sido o tipo de chefe político do 
Ocidente desde a existência de Estados constitucio~ 
nais e, de modo consolidado, desde a existência da 
democracia. O aspecto negativo do termo não nos 
deve fa~er esquecer que o primeiro a ostentá~lo foiI ' ) I PéJ;:icle§ e não Cléon. Diferentemente do preenchf~! ! 
mento dos cargos por sorteio, característica da anti~I I 	 . 
l: ga democracia, PérieIes, como grande estrategista', 
dirigiu a ecclesia soberana do demos ate,ni,el~~..! ocu~I 
pando essa única função eletiva existente ~I 	 -= 
",,'144 
~ A POLÍTICA COMO VOCAÇÃO + 
I 
_&Q&a moderna t.é1rnbém emprega a oratória~ v , 
desme.§J!radamente, se pensarmos nos discursos I v"'" 
eleitorais que o candidato mOderno,d,,eve pronunciar!~j1'"
; porém utiliza preferentemente a paI?-~ impressa, ~ 
' que, é Ipais ,d,t!,r~,,~' P,",o,r" esse J:.l!º,liU!. o publicista V! 
pplítico - e sol~.r~ oiQ,E!!,alista - é o rel1r~..n' 
\ tan~ l1!-ais n()társl 911 demagogi~. ( 
Não nos é possível, nos límítis desta conferên~ 
, cia, sequer delinear as características gerais da socio~ v 
i1lp.&<!.J!9 jQrnalismo m~ que, sob todos os 
\ aspectos, se constitui num capitulo à parte. So~ 
mente alguns aspectos deste são pertinentes no 
\ I' 
contexto desta conferência. O jornalista partilha da 
condição de todos os demagogos e, diga~se de pas~ 
sagem, a$sim C..QlllQ o adrogado eJLartista, es,~ 
qualq~ claSSificação §ocial mais ~. Pelo me~ 
nos é o que se dá no continente europeu, em oposi~ 
ção ao que ocorre na Inglaterra e ao que de resto se 
passava na Prússia. O jornalista pertence a uma es~ v 
p~de caga de pª,tgg que a sQcieda(k ju~_apar~{
 
~, tir ç!,~se.!l§ rep!:e_s~~s mais inc!~corosos. Dai a 
razão da veiculação das idéias mais estranhas sobre 
os jornalistase seu trabalho. Entretanto, na sua 
maioria, as pessoas ignoram que um trabalho 
jornalístico de valor requer tanta inteligência como 
qualquer trabalho erudito, esquecendo~se que se 
trata de uma tarefa a ser imediatamente executada 
45 
'li': 
, , 
~j . 
+ MAX WEBER ~ 
em obediência a ordens e que exige um nível de 
V eficiência imediata em condições opostas a qualquer 
outro tipo de ~tividade intelectual. Dificíl.I!lente se 
reconhece ..que...a_!.e~onsabílidade do jornalista é 
l(1uito grande,.!:. o sentido-d~- respon§ªoiIídáde ~ 
qualquer jornalista que se preze nada fica a dever a 
qualquer outro intelectual, e não é descabido dizer ~ 
que 'é superior quando se considera o que se' obser, 
vou durante a guerra. O descrédito do jornalismo 
aos olhos do público deu,se pelo fato de este ter 
guardado na sua(memória os erros e os abusos de 
jornalistas irresponsáveis, cuja influência na maio, -
ria das vezes foi deploráveL É difícil fazer crer a 
guém que a discrição de um jornalista é em geral 
superior à de outras pessoas. As condições especí~ 
./ ficas que rodeiam o trabalho jQrnalístico, com suas 
grandes tentações, levaram o público a olhá~lo'com 
um misto de desdém e piedosa covardia. Não pode~ 
, 1 mos discutir hoje o que deve ser feito. No momen­
'5',-po, i~a-JlQ.s o qestino profissional p~o c!9 
. jQLnalista e.suas possibWdades de alcaDcar uma~­
si® com~ PQllticC;:·Até o momento, ele teve 
iartido social~dem 
mas mesmo nesse partido, os postos de redator ti-, 
''''- JI nham predominantemente a característica de car~. 
gos burocráticos, não constituindo um trampolim 
para o acesso a cargos de direção. 
46 
+ A POLÍTICA COMO VOCAçAo ~ 
Nos partídos burgueses como um todo, em 
comparação com a geração anterior, as chances de se . 
alcançar a direção do partido por meio do jornalismo 
diminuíram consideravelmente. Naturalmente~ qual­
quer ~l1ti~ de importãnci. a precisava contar cõm a 
(inflUência a imprensa e assim cult~avª-..SJ,laSJ,"~la­
Ções com omelO jornalístico. Entretanto, etª inco­
m..!!!!! chcles PQllticos s~.Qg§ eªcalões dQ jorna- v 
hsmQ~ motivo para esse fenômeno reside no fato 
de qú-éos jornalistas se tornaram cada vez mais in­
dispensáveis para o seu setor, principalmente aqueles 
que eram destituídos de posses e, por conseguinte, 
financeiramente dependentes de sua profissão. Essa 
situação foi determinada pelo cr~scimento espanto­
§2 da força da empresa jornal1stica e de sua J3!laçã~ ~­
com a.. atu,a~e. Essa dependência deve-se ao 
enorme crescimento das empresas jornal1sticas. 
A necessidade de ganhar uma remuneração escre­
vendo um artigo diário ou semanal atua como um 
obstáculo paralisaDJ;S: para aqueles jornalistas que, 
embora revelem tendência à direção pol1tica, se 
vêem bloÇllo.u~wios material e moralmente na.sua~ 
cen§A9 ao p.9der. 
As relações da imprensa com os poderes domi­
nantes na órbita do Estado e dos partidos sob o 
Antigo Regime (do kaiser) prejudicaram o nível do 
jornalismo, mas isso é um capitulo à margem do que 
47 
V 
? 	 MAX WEBER -+­
estamos falando. Tais relações tomaram forma pro­
fundamente' diferente nos pa1ses inimigos da Ale­
manha (Aliado~). 
Mesmo ali, e isso vale para todos os Estados mo­
V 	 d~os, o jornalista perde cada vez mais influência li 
medida que o magnata capitalista, do tipo çlj) "lorde" 
N_orthclíffe, aumenta seu poder. 
,I'){ Atualmente, na Alemanha, quem difun<;!e o ~-
I: \. liticismo~s~s~pos capitabistas que do­
,p: min~ Q§ jornais que~~e anúncios p-~. 
Não poderiam obt~r lucros com uma politica inde­
pendente e sobretudo não poderiam contar com a ­
vantajosa benevolência dos poderes dominantes. 
j O governo recorreu na última guerra ao s!§~.9s 
~ { a~f.lncios para exercer influência po~tJ~ sobre..$ 
\ imprensa, e é previsível que atualmente se conti­
nue nessa orientação. Os pequenos jornais, cujà si­
tuação é delicada, não podem fugir a esse sist~ma, 
mas espera-se que os grandes jornais o façani. De 
l..-- ­
/ qualquer maneira, a carreira jornalí~t!Ç.~,~tualme!1.te 
----	 ,-_.•. 
'- entre .nós não constitui o caminho ara chegar a 
"'serum çll~_e tICO a despeito dos atrativos que 
ela p'a~sa ter e' do es aço de influência, ação e res- , 
pónsabilidade pol1tica que possa abrir para .quem 
queira a'ela dedicar-se. 
É necessário aguardar para ver o que se sucede. 
Talvez o jornalismo tenha perdido essa função 
48 
? 	 A POLITICA COMO VOCAçAo -+­
ou talvez nem a tenha adquirido. É dificil dizer que o 
abandono ao princípio do anonimato defendido por 
alguns jornalistas - mas não pela sua totalidade ­
possa alterar esse quadro. Desgraçadamente, a expe­
riência da imprensa alemã durante .a guerra com re­
lação a jornais que empregaram intelectuais com 
forte personalidade, que utilizavam explicitamente 
o seu próprio nome nos cargos de redator-chefe, re­
velou em alguns casos mais conhecidos que o méto­
do não era tão bom como se acreditava, no sentido de 
criar um alto senso de responsabilidade. 
Independentemente de partidos, foram os pio­
res pasquins que abandonaram o anonimato para au-J 
mentar suas vendas - e conseguiram-no. Tanto 
seus diretores como os jornalistas sensacionalistas 
ganharam muito dinheiro, porém honra nenhuma. 
Não se-ruga porém que, em princípio, se deva rejeitar 
os artigos assinados. O problema é bem complexo, , 
IJ!..o criticamos a necesSidade,da proDlQ,ão ç1e ven­
_4~ e o fenômeno do sensa~ionalismo irresponsável 
não é universaL No entanto, até o momento, o sen­
sacionalismo não foi o caminho para a formação de 
dirigentes autênticos e o exercício responsável da 
política. Somente o futuro nos dirá algo mais a res­
peito dessa situação. 
,1 ;esar de tudo, a carreira jornalistica c~ 
sendo, sob quaisquer circunstâncias, uma das vias 
49 	 '7 
~ MAX WEBER + 
.­ de atividade pol1tica~~~ mais Si~I1~ 
C:ml,'lllS. Po!'éft'l,~caminho nãQ.(!:§.t.â...ab.ert<L'!.tO.: .. 
.. ··d~~l{êspêci~lm~nte·i~·;;e;sÍvcl para as personali .. 
I 
. dád~~ inseguras e muito mais ainda para aqueles que 
,não conseguem trabalhar sob tensão, embo~a~ida 
dQ intelect~l, m,esmQ iIlsegura, este,i9 I:!rotegj.q.a 
PQ! l:1.!!! uni~~rso d~conven!iões S9lidas: A vida do 
, jornalista é correr riscos em todos os sentidos em 
p condições que o põem à prova, sem nenhuma se~ 
lil: 
:1:: U melhança com qualquer outra profissão, embora o 
I aspecto menos p,enoso da atividade jornal1stica se .. 
jam as experiências por que passa em sua trajetória­
profissional. As exigências interiores a gue o jorna .. 
I !i v 	 lista deullome está sujeito são parj:!çu~nte 
avassaladoras e cru.éis. Por razões profissionais, esse 
jornalista é ol;>rjgâ@ a freqü,~r os ~1I1~dEl4.o!!os.J~ davida, nos quais é achIlado ~ mesmo t~mEO em 
~ é temido. Após abandonar o salão, tem plena 
consciência de que o anfitrião se desculpará ante os 
convidados pelo ,comparecimento desses lixeiros da 
imprçnsa. Além disso, não é nada fácil se manifestar 
sobre os tem!!s mais complexos da vida social com 
a rapidez que o mercado exige sem cair nª VIJlgarida.. 
v:- de O]! se.!!!. perder a p~óI:!ria dignidade; se o fize~, 
arcará tom as desastrosas conseqüências de tal ato. 
Ante tal constelação de forças, não constitui surpre; 
sa observar a degradação de alguns, o qu~ slJ.rJiieen.. 
"",o­ lJmGS 	 .~ 
- .-	 Ciêncld'~cials e Humamdadll ~lbnofP,f.3 -;e,onat <1e • 
~ A POLíTICA COMO VOCAçAo + 
é o contrário: a despeito das dificuldades anterior .. 
mente enumeradas, a corporação é constituída ainda 
por profissionais de valor indiscuttvel, em número 
maior do que os leigos possam supOJ(Relativamen .. 
te ao jornalista profissional, que, na qu~idade de 
político, tem uma história atrás de si, ~a.~~~ .. J \ 
J!!!icionário.do 12arti~~J??~l:~:O é b:J? r~<::t;~~APara 
compreender sua origem e evolução, é mister estu~ 
dar inicialmente a organização e a ação dos partidos 
POl1ticos,(Em quaisquer associações pol1ticas mais ,. 
ª-mplas,~~ transcendam a esfera dos interesses 
paroquiais e imediatos, nas quais os que exercemo 
poder são ~eitos com pqiodicidade,feI!lpresa pol1~. v 
~ica as~e a for.ma de Ul!li'! orga~ização de int~ 
I s.~ê.o.Isso significa que um número relativamente pe<:,. 
queno de homens interessados pela vida política, 
isto é, para participar do poder, escolhe adeptos, 
apresenta~se ou apresenta seus protegidos como 
candidatos a cargos eletivos, reúne os recursos finan ..) 
ceiros exigidos e põe ..se à rua à procura de votos. 
Sem. teli. a}2oio admID.i§~ é iIJ1}2oss1vel e§.ttlJ.;. 
tur~! ~m.pro~ele~qu~englohe &n!.2Qs pol1.. v 
tiÇQ,s amplQs. Na prática, isso significa a di"Í..são clQ§.. 
cidadãos cQ!!l. dia:ito ·'LYQtQ em ativo.s e pªssivos ..... 
Como o livre~arbltrio de cada um é a base'dessa 
distinção, é impossível suprimi ..la, apesar de pro.. 
postas amplas como a do voto obrigatório, repre .. 
.'~~/
')5	i' 
r 
? MAX WEBER + 
sentação profissional ou qualquer outro meio que 
se proponha a eliminar a diferença e, dessa forma, o 
poder dos políticos profissionais. Uma di~~tiva 
com ac!~s re~rutac1os livremente é a base de qual~ 
....~ quer pilIllik> político. Os militantes e, por sua w..­
diação, o eleitorado ~~o são necessários à eleição 
do.~ politico orém, st~ dos partidos'-yª~ 
ria. Exemplificámos com os gudfós e os gibelinos, par~ 
tidos das cidades medievais formados por adeptos 
I ,I ~: erp função da devoção pessoal. Vjrios aspectos des~ 
'1'11 
ses partidos medievais lembram o bolchevismo com l' _Q§. ~~9vi~ts. Consideremos o Statuto della parte­
\ Guelfa, certos itens como os referentes à confiscação de I, 
I: 	 bens dos nobili - familias de cavaleiros potencialmente 
I!'" 
proprietárias de feudos - ou a supressão do direito 
de exercer determinada função ou supressão do di~ 
I 	 : reito de voto, os cómitês de partidos inter~regioilais, 
v a rígida 0l"ianiza~ão rn.ili.t&e as vantagel!s da delação. 
I 	 }J"P;4Ç 
I' 	 Considerem o bolchevismo, com suas organizações 
militares rigorosamente controladas, sobretudo na 
Rússia, em suas organizações de informantes, a ne~ 
gação dos dir~itos politicos à burguesia, isto é, aos 
. empresários, comerciantes, clérigos, elementos liga~ , 
dós à antiga policia e à antiga dinastia. A analogia 
torna-se" tão mais surpreendente se considerannos 
que, por um lado, a organização militar do partido 
medieval era apoiada num exército de cavaleiros, no 
./ 
~,,_/ 
,I ~ I 
11::: 1 
" 
? A POLÍTICA COMO VOCAÇÃO + 
qual os nobres monopolizavam os cargos diretivos; 
considere~se o fato de o bolchevismo ter reintro~ 
duzido o empresário com alto salário, o trabalho for~ v 
çado, o sistema Taylor, a disciplina no exército e na 
fábrica, procurando ainda atrair capitais estrangei~ 
;lr-os. para. acionarem a l.JlíÍQYina econômica e estatal, "* 
/ viram~s.e obrigados a. aceitar1J.ldQ aquilo que conde~ v 
: 
{ 
Ilª!@! COlJ).g...!:illla máquina e_statal burguesa, rein~ 
II tegrando nas suas funções os agentes da velha Ochrana 
, Czarista (polícia secreta) como principal instru~ 
\ 
\. mento de seu poder estatal. 
\ A nós não interessa tratar de organizaçõesI fundadas na violência; trataremos apenas dos poli~ '. 
( ticos profissionais que lutam pelo poder mediante I) 
\ pacífi~ campanhas parti~s no mercaqo d9J!J 
\ ~oto§.eleitorais.,'! 
, Considerando os partidos políticos, na sua acep~ 
ção mais simples, encontramo~los em primeiro lu~ 
gar, como por exemplo na Inglaterra, como grupos 
dependentes da aristocracia. Se por um' motivo ou 
outro um par do reino trocava de partido, todos os 
seus dependentes seguiam~no. At:é a proclamação 
da R.eform 8.ill (de 1831), eram as grandes famílias no~ *" 
bres e não o rei que controlavam um grande núme~ ) 
rQ_ q~ burgos eleitorais. Semelhantes aos pª~t!dos 
~ºçráticos, foram os pa.:rtidos gº§ notáveis, que.se 
desenvolveram posteriormente em razão da ~~cen~ 
,~~..... I 
, -,,- ,.,.-, ..... ~.-~ ' 
, '. 
-+ MAX WEBER + 
_ são pol1tica ~ burguesia, conservando uma estru# 
tura bem próxima aos partidos da nobreza. Sob a 
:./ di~eção e~Eiritual dQ§ in~~lec!.uais, camada típica do 
Ocidente, os grupos que possuíam p~9priedade S 
.,r cultura se articularam conforme os inte..r~s d~
",r ._- . . ~.. 
cla~. interesses familiares e motivos icl~!ógicos, 
formando partidos pol1ticos e assegurando a si a 
direção. Sacerdotes, professores, advogados, inédi# 
(
..... cos, farmacêuticos, camponeses prósperos, fabrican# 
tes - na Inglaterra qualquer camada social que 
gava pertencer à classe dos gentlemen -, constituíam#se 
inicialmente em assºdações P9liticas de ocasião ou, 
na melhor das hipóteses, em (::!~.hes polític0!5 loç~.. 
'. Nessa época, pão ~~pat~Ldos poliQS.Qs 
.f&fZ ... organizados regiºl!ªlIJl~lJ.te com base em g~-J?º~ 
permanentes no il1terior do país. Em períodos de 
inquietação social, a pequena burguesia fazià#se 
ouvir, e o proletariado chegou certa vez a aparecer, 
mas os dirigentes escolhidos geralmente não provi~ 
nham da sua camada. Somente os parlam~es ga~ 
rantiam a coesão entre os vários a~pamentos políti# 
cos, apesar de p~~s~ dS .importância local 
./ in~uen~m a e§colha dos canç.Udatos. Os prom~ 
~ deitorais eram criados, em parte, ern~ das 
promess~s dos candidatos e em parte nas reu~§ 
çl..Qs n.9~ ou nas resoluções das facções par~ 
lamentares. Só em caráter secundário e a título ex~ 
..~ 
'~~~ 
-+ A POLtTICA COMO VOCAçAo + 
clusivamente honorifico é que um homem de pro# 
jeção consagra parte de seu tempo livre às atividades ) 
de direção de um clube. Na inexistência do clube 
(como na maioria dos casos), de ex~PQ~c;lt.llm 
....
mQfto inteiramente irif~l c0l!1 aqll.cies pouçQ§. v 
intereSlilados, mesmg em époc~s norll1~s. O jorna~ ~. 
lista era o único político remunerado em caráter 
profissional e, além das sessões do Parlamento, só a 
imp~constituía uma organiza~o"polltica dota~ 
da de al~ma continuidade. Porém, em se tratando 
de uma ação política que requeresse alguma conti~ 
nuidade, os parlamentares e os chefes de partido sa~ 
/bem a que lideres locais recorrer. Somente nas
-_._-= -­
grandes cidades se instalam e funcionam as ~~s§ões 
pern:!.(l~sWs partidos, com mensalidades perio~ 
dlcamente pagas por seus membros e com reuniões t 
periódicas e públicas, nas quais o deputado presta ) 
contas de seu mandato. S9~ em épocas çl~ 
ções Mvida pq~~~. 
Contudo, a necessidade de maior organização in~ 
terna dos partidos fez~se sentir prontamente. T raba~ 
lhou nessa direção o interesse dos parlamentares em 
conseguir alia!l~deitorais em diferentes circuns~ 
crições, em estªbelecer programas de nivell}acional v 
vigorosos, í!P0iados por amplas camadas da ~~ 
ç@, criando uma agítacão u!lificada e!lltqdo o p~ís. '* 
.~
,I 
II 
.. MAX WEBER ~ 
Mesmo sendo criadas se são redes de seções do 
partido em todas as cidades de média importância, 
} estendidas para todo o território nacio~l pelos 
y' homens de confiança, os quais perm~ em conta­
~-te contínuo com um membro d()~o pal1.ªmen­
tar, a estrutura dq aparelho <:1..2 j2artido continuou to­
davia a mesma. Continuou sendo.uma es.trutu.J;U 
serviço dos .1lotáyds:jAfora os empregados da sede 
central, há ainda aITência de funcionários remune­
li;: '::1 
Ilr: :111 rados. Assim, as associações políticas eramli'! 
Id l V" di~igidas p...QJ." pel?sQas estimadas IlQ seu meio, as 
n 
quais o faziam.e..m v:irtu.d.e d~pre~ttgio gue de outro 
modo já possuíam. Esses notáveís detinham eill..§1las 
mãos a atividade ~1Eparlam~, continuando a 
exercer idêntica influência à dos notáveís com assen­
to no Parlamento. As reuniões locais abertas e a im­
prensa nutriam-se 'do material fornecido pelas màni­
festações partidárias de caráter público. As 
contribuições regulares dos membros do partido 
eram indispensáveis, e uma parcela delas era desti­
nada, a cobrir os gastos do órgão central. 
í Até há bem pouco tempo, a maior parte das or­
{ 	 g~~:lÍzações partidárias alemãs encontrava-se nesse 
estágio. Na França, permaneciam as relações ipstá- . 
veis entre os parlamentares e os notáveís locais. Nesse 
pais, os programas ainda sãofeitos pelos seus can­
didatos ou por intelectuais a seu serviço, antes de 
/~. 
.. A POLITICA COMO VOCAçAo ~ 
iniciar-se a campanha eleitoral, embora as resolu­
ções parlamentares e os programas políticos tives­
sem de se adaptar em maior ou menor grau às exi-, 
gências locais. Lll,~ h! PQl!f.Q§ apo~ o número ~\v 
pessoas inteiramente dedi.fW à política er~Jm!ll,Q. \ 
pJ::queno. Na sua maior parte, o contingente de po-' \ 
líticos profissionais era formado por deputados elei- ii,
tos, funcionários de órgãos centrais partidários eJ 
jornalistas profissionais. Na França, o sistema poltl" 
tico inclUía os arrivistas que ocupavam cargospol:í!t (" 
cos ou a eles se candidatavam: A p~ 
(sé~~sâtempô:)J nÚmero de deputados 
~lcialménte mÍn1s{~riáveis era muito pequeno, 
assim como os candidatos a cargos eletivos. Isso se 
dava em virtude especialmente da sua condição de 
~n9táV~i0 ,,: 
Ent~etanto, o número daqueles que indireta­
mente se interessavam pela política, especialmente 
no que se refere ao seu aspecto material, era imenso. 
Quaisquer medidas administrativas de um minis­
tério eram t(f)madas tendo em vista suas repercus­
sões eleitorais. Por intermédio do· delegado local, 
eram encaminhadas as reivindicações pessoais. 
Agia-se de forma tal que qualquer tipo de preten­
são fosse mediada pelo deputado local; a favor ou 
contra sua vontade, o ministro tinha de prestar-lhe 
atenção, sobretudo se o deputado fazia parte da 
57 
I 
-+ MAX WEBER <Eo­
maioria parlamentar, razão pela qual o deputado 
procurava fazer parte desta. O monopólio das no~ 
meações para cargos relativos aos negócios-de sua 
ctrcunscrição estava nas mãos do deputado. Este, 
por sua vez, agia cautelosamente em se tratando de 
representante de um poder local, tendo em vista sua 
reeleiçã€>o 
_~~7A esse estadoidílico dOlp,inação @§ notáveis 
'lil <e subretudo dos parlamentares se opõem I1ldiçal~ 
II~: :!!Ii I'll.ell.t.e as formas mais moclernas çle .QIganízação 
, ',1 11 
1:1' 
; pªrtidsítía. Elas sãe} filhas @ democracia, do suf~á~ 
gio universal, da necessidade 9.~ propaganda..de' 
J'" 
"111 
11: 	
massas e da organiz~o dessas mesmas 1passas, do 
desenvolvimento da unidade mais elevada de co­
mando e da disciplina a mais rigorosa. É o fim da 
dominação dos notáveis e do comando dos parla­
mentares. §~~ ':pol1~~ prof~ssionais"_ewanhos 
ao Pªlamt'Jlto que tQL1l;!lil a aQmí:Aistl'ftção·nas
I, 
-;-i;, O1L~~~E~~de.~~e_:empreendedQI~s:.-"tal! 
como o boss norte-americano e o dection agent inglês -, 
ou na de.Iuncionários com remuneração fixa. For­
malmente, tem lugar em amplo processo de demo~ 
cratização. Não é mais a facção parlamentar que cria" 
, . 
os programas normativos, tampouco os notávei~ 
locais detêm a candidatura, mas são as assembléias 
dos membros filiados ao partido que elegem os 
candidatos e delegam membros para as assembléias 
'5$ 
-+ A POLITICA COMO VOCAÇÃO <Eo­
de ordem superior, das quais possivelmente have­
rão ainda outras até o "congresso do partido". Toda­
via, n: realidade, o po~ está naturalmente 1'l-ªs mãos 
daqueles que ex:~rcem o trab~1ho amtinuada-rrtente 110 
sei~ d_a adf!1jnistração burocrática. ou ainda daque­
les de que a administração depende, para o seu an-;/" / 
damento, de modo pecuniário ou pessoal, tal com<l< ' 
por exemplo, os mecenas ou dirigentes de podero­
sos clubes de interesse político (Tammany Hall). 
O aspecto decisivo é que todo esse aparelho pessoal 
- a "máquina", tal como é deomillada de modo ca­
racterístico nos países anglo-saxões - e ainda mais 
aqueles que O dirigem oferecem aos parlamentares 
as regras do jogo e estão de um modo bastante am- " 
pIo em condições de impor a eles as suas vontades. 
E isso tem significado especialmente na escolha da 
direçtlo do partido. Torna-se dirigente aquele que a 
máquina segue, e o mesmo vale para aquele que está 
I 
acima do comando do Parlamento. A criação de tais i1 
máquinas significa, em outras palavras, a introdução 
da democracia por plebiscito. . 
. Os militantes e sobretudo os funcionários e os J !Jl~ 
dirigentes do partido esperam que· o triunfo do 
chefe lhes traga vantagens, posição ou outras com­
pensações. Esperam obter tais graças do chefe e não 
somente dos parlamentares: este é o ponto decisivo. 
Esperam que no processo da campanha eleitoral a 
59 
-+ MAX WEBER + 
v' influência demagógica da personalidade do chefe 
lhes traga alguma compensação pessoal, assegure­
lhes votos e mandatos, garanta-lhes o acesso.ao po­
der. Uma pessoa que se dedica com devoção espera 
por remediação e não se satisfaz apenas em traba: 
lhar para a causa de um programa abstrato de um 
/1.partido medíocre. um.. a das molas propulsoras de (f, toda a liderança é o elt'mento "carismático". " 
I De forma variável, essa nova maneira de organi­
zação dos partidos impôs-se, na maioria dos países, 
concorrendo com QS homens de importância local e 
com os parlamentares que não abrem mão de sua' 
". influência. Esse novo estilo se manifestou primeiro 
nos partidos burgueses dos Estados Unidos e de­
v pois no partido ~-ºcial-democrata, particularmente 
OQalemão. 
Essa revolução é marcada por constantes regres-' 
sões, na medida em que não existe um dirigente 
aceito por consenso. Mesmo que tal chefe exista, 
são inevitáveis as concessões de todo tipo à vaidade 
e ao interesse individual das personalidades impor­
tantes do partido. Pode acontecer também que a..l!ill­
v qtlina fique ,!!!S mãos ç!Q§ funcionários.i!Q. partido. 
que são re$ponsáyeis pelo trabalhoregular. Segun-, 
do a opinião de alguns setores social-democratas, 
! v' seu pªrtido ~ pa!sando PQLum procesSQ de 
ku.n?g:atjzação. Importa lembrar sempre que os fun­
60 
-+ A POLÍTICA COMO VOCAçAO + 
cionários se submetem com relativa facilidade a um'\ 
demagogo que saiba impressionar. É explicável na I 
medida em que os interesses ideais e materiais dos 
funcionários estão fortemente vinculados ao cresci­
mento do poder do partido do qual fazem parte ei 
pelo fato de que é muito mais satisfatório subjeti-' 
vamente trabalhar para o chefe. É muito mais díf1ci~ . 
a ascensão do chefe onde os notáveis, ao lado dos fun~ i 
cionários, têm muita influência no partido, comd 
J 
ocorre no seio dos paIJidos blJrgueses. Os notáveis 
tendem a supervalorizar a posiÇãO de membro do 
grupo ou o cargo do comitê do qual participam. Tal 
atividade é fundada também no ressentimento con­
tra o demagogo como o reCém-chegado, por moti­
vos da convicção íntima de superioridade fundada 
na "experiência» de política partidária - que pode 
ter alguma importância - e também pela preocupa­
ção ideológica com o desmoronamento das antigas 
tradições do partido: tudo isso determina a conduta 
dos notáveis. E eles .~inda ~ c.ontar c9!!1 todoª. 
o§ el~~s tradicJQnalis~ dop-artidg. Sob-!~p:!ªº 
o ele!tQI do m~!9. rural mas tamb.~m o pequeno burgy~s prOCU1:!lE1~ que lh.ss ~ fl.'lmiliar. Ele~\ 
são desconfiados do póhtico desconhecido, mas \ 
apenas para que, caso tenha sucesso, possam se . 
unir a ele sem sinal de fraqueza. 
61 
l 
? MAX WEBER + 
Consideremos a partir de agora, por meio de al~ 
guns exemplos especificos, a luta entre as duas for~ 
mas estruturais - a dos notáveis e a de> panido -,
. =--­
dedicando especial atenção à ascensão da forma 
,vI,plebiscitãria, tal como é descrita por Qst:2S2rsky. 
~Vejamos a Inglaterra em primeiro lugar, onde a 
organização de partido se constituiu em mera orga~ 
nização de notáveis, pelo menos até 1868. No campo, 
," 
os conservadores Tories contavam com o apoio do 
Ilil 
IIW pastor anglicano e do diretor da escola, por exem~ 
""I, ' 
" '"li 
'di, pIo, mas sobretudo, com o apoio dos grandes lati­
fundiários do respectivo condado. Os liberais'­
V (~s) eram apoiados pelo pregador inconformista 
~" 	 (quando ele existia), pelo chefe dos correios, pelo 
ferreiro, pelo alfaiate, pelo cordoeiro, por aqueles 
artesãos que podi~ propagar sua influência política 
na medida em que se comunicavam com muita fre~ . 
qüência com a população.

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