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MECÂNICA CLÁSSICA I ‐ EaD 1 CAPA 2 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI CONTRACAPA 3 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI Este texto é destinado aos estudantes que participam do programa de Educação à Distância da Universidade Aberta do Piauí (UAPI) vinculada ao consórcio formado pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET – PI), com apoio do Governo do Estado do Piauí, através da Secretaria de Educação. O texto é composto de quatro unidades, contendo itens e subitens, que discorrem sobre: Vetores e análise vetorial, Mecânica Newtoniana de uma partícula, Oscilações lineares, forças centrais, Dinâmica de um sistema de partículas e Movimento em um sistema de referencia não inercial. Enfatizamos que a abordagem destes tópicos, diferente do que foi visto nos cursos de física básica, faz uso de formalismos matemáticos mais poderosos, direcionando o estudante para fazer uso de raciocínios mais abstratos na resolução de problemas. Na Unidade 1 faremos uma revisão dos conceitos de vetores e os teoremas decorrentes da análise vetorial. Também trataremos com a leis de Newton do movimento. Na Unidade 2 trataremos das oscilações lineares, discutindo os vários de tipos de oscilações, bem como fenômenos associados, como é o caso da freqüência de ressonância. Na Unidade 3 discutiremos o movimento de uma partícula sob a ação de uma força central. Este tipo de interação é encontrada nos sistemas planetários, eletromagnéticos e nucleares. Constitui assim um tema de grande importância para a física. Na Unidade 4 estudaremos a dinâmica de um sistema de partícula e as equações de movimento em referenciais não inerciais. No primeiro item desta unidade estamos preocupados com a validade dos teoremas de conservação quando tratamos com sistemas formados por mais de uma partícula. No segundo momento nos interessa ver as conseqüências da aplicação das leis de Newton quando utilizamos um referencial não inercial, caso quando estudamos algum sistema físico considerando um referencial preso a superfície da Terra. A bibliografia para leitura complementar é indicada ao final de cada unidade, bem como exercícios resolvidos e exercícios visando avaliar o entendimento do leitor serão apresentados ao longo do texto de cada unidade. Apresentação 4 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI Sumário UNIDADE I 1 Revisão: Vetores e Cálculo Vetorial 1.1. Introdução 1.2. Ângulos de direção e cossenos diretores 1.3. Álgebra vetorial 1.4. Mudança do sistema de coordenadas 1.5. Diferenciação de um vetor com relação a um escalar 1.6. Operador gradiente 1.7. Problemas 2 Mecânica Newtoniana de Uma Partícula 2.1. Introdução 2.2. Leis de Newton 2.3. Sistemas de referências 2.4. Equação de movimento para uma partícula 2.5. Teoremas de conservação 2.6. Energia 2.7. Problemas UNIDADE II 3 Oscilações Lineares 3.1. Introdução 3.2. O Oscilador Harmônico Simples 3.3. Oscilações Amortecidas 3.4. Oscilações Amortecidas Forçadas 3.5. Princípio da Superposição 3.6. Considerações Finais 3.7. Problemas UNIDADE III 4 Movimento de Uma Partícula Sob a Ação de Uma Força Central 4.1. Introdução 4.2. Problema de dois corpos 4.3. Equações de movimento 4.4. Órbitas em um campo de força central 4.5. Potenciais efetivos 4.6. Forças inversamente proporcionais ao quadrado da distancia 4.7. Movimento planetário – Leis de Kepler 5 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI 4.8. Problemas UNIDADE IV 5 Dinâmica de Um Sistema de Partículas 5.1. Introdução 5.2. Centro de massa. Conservação do momento linear 5.3. Conservação do momento angular 5.4. Conservação da energia 5.5. Problemas sobre colisões 5.6. Acoplamento de dois osciladores harmonicos 5.7. Problemas 6 Movimento em um sistema de referencia não inercial 6.1. Introdução 6.2. Sistemas de coordenadas com aceleração translacional 6.3. Sistemas de coordenadas girantes 6.4. Forças centrífugas e forças de Coriolis 6.5. Movimento relativo próximo a superfície da Terra 6.6. Problemas 6 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI UNIDADE I Vetores e Leis Newton RESUMO Nesta unidade apresentaremos, no capítulo 1, conceitos de vetores e técnicas de cálculo vetorial necessários para a abordagem dos conteúdos de mecânica em um nível mais abstrato. No segundo capítulo apresentamos conceitos e princípios que viabilizam a solução de problemas de física usando diretamente as leis de Newton.. Os conceitos, são os de deslocamento, tempo e massa e os princípios são os de conservação do momento, do momento angular e de energia, todos consequências das leis de Newton. 7 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI UNIDADE I 1 Revisão: Vetores e Cálculo Vetorial 1.1. Introdução 1.2. Ângulos de direção e cossenos diretores 1.3. Álgebra vetorial 1.4. Mudança do sistema de coordenadas 1.5. Diferenciação de um vetor com relação a um escalar 1.6. Operador gradiente 1.7. Problemas 2 Mecânica Newtoniana de Uma Partícula 2.1. Introdução 2.2. Leis de Newton 2.3. Sistemas de referências 2.4. Equação de movimento para uma partícula 2.5. Teoremas de conservação 2.6. Energia 2.7. Problemas SUMÁRIO DE UNIDADE 8 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI Capítulo 1. Revisão – Vetores e Análise Vetorial 1.1 Introdução Métodos vetoriais tornaram‐se ferramentas padrões para os físicos, uma vez que compõem uma linguagem e a linguagem é um ingrediente essencial do pensamento abstrato. Por apresentar símbolos e palavras apropriadas torna fácil e claro nosso pensamento sobre conceitos sofisticados e abstratos na física. Quantidades físicas que são completamente especificadas, em unidades apropriadas por um único número (chamado a sua magnitude), tais como o volume, a massa, e a temperatura são chamadas de quantidades escalares. Tais quantidades escalares são tratadas como números reais ordinários. Elas obedecem todas as regras regulares de adição, subtração, multiplicação e divisão algébricas, e assim por diante. Existem também quantidades físicas que exigem uma magnitude e uma direção para sua completa especificação. Estas são chamadas grandezas vetoriais se sua combinação umas outras é comutativa (isto é, a ordem de adição pode ser alterada sem afetar o resultado). Assim nem todas as quantidades possuindo magnitude e direção são vetores. Deslocamento angular, por exemplo, pode ser caracterizado por magnitude e direção, mas não é um vetor, pois a adição de dois ou mais deslocamentos angulares não é, em geral, comutativa. Em impressos, denotamos vetores por letras em negrito (tal como ۯ) e usamos letras itálicas comuns (tal como ܣ) para as magnitudes; em manuscritos, vetores são usualmente representados por uma letra com uma seta acima dela tal como ܣԦ. Adotaremos aqui a segunda convenção. Um dado vetor ܣԦ pode ser escrito como ܣԦ ൌ ܣܣመ, ሺ1.1ሻ onde ܣ é a magnitude do vetor ܣԦ e assim possui unidade e dimensão, e ܣመ é um vetor unitárioadimensional com uma magnitude unitária tendo a direção de ܣԦ. Assim ܣመ ൌ ܣԦ ܣ . ሺ1.2ሻ Uma quantidade vetorial pode ser representada graficamente (representação geométrica) por um segmento de reta orientado. O comprimento da seta representa a magnitude do vetor, e a direção da seta é aquela do vetor, como mostrado na Figura 1.1. 9 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI Figura 1.1. Representação gráfica (geométrica) do vetor ܣԦ. Figura 1.2. O vetor ܣԦ em coordenadas cartesianas. Alternativamente, um vetor pode ser especificado por suas componentes (projeções ao longo de eixos coordenados) e os vetores unitários ao longo dos eixos coordenados (veja Figura 1.2): ܣԦ ൌ ܣଵ݁̂ଵ ܣଶ݁̂ଶ ܣଷ݁̂ଷ ൌ ∑ ܣ݁̂ ଷ ୀଵ ሺ1.3ሻ onde ݁̂ ሺ݅ ൌ 1, 2, 3ሻ são os vetores unitários ao longo dos eixos retangulares ݔ ሺݔଵ ൌ ݔ, ݔଶ ൌ ݕ, ݔଷ ൌ ݖሻ. Eles são normalmente escritos como ଓ̂, ଔ̂ e ݇ nos livros textos de física geral. O trio de componentes (ܣଵ, ܣଶ, ܣଷ) é também usado como uma representação alternativa (representação algébrica) para o vetor ܣԦ: ܣԦ ൌ ሺܣଵ, ܣଶ, ܣଷሻ ሺ1.4ሻ Esta notação algébrica de um vetor pode ser estendida (ou generalizada) para espaços de dimensões maiores que três, onde uma ݊‐upla de números reais, ሺܣଵ, ܣଶ,ڮ , ܣሻ, representa um vetor. Mesmo que não possamos construir vetores físicos para ݊ 3, podemos reter a linguagem geométrica para estas generalizações ݊‐dimensionais. 10 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI Figura 1.3. Ângulos de direção do vetor ܣԦ 1.2 Ângulos de direção e cossenos diretores Podemos expressar o vetor unitário ܣመ em termos dos vetores coordenados unitários ݁̂. Da Equação (1.3), ܣԦ ൌ ܣ ൬ ܣଵ ܣ ݁̂ଵ ܣଶ ܣ ݁̂ଶ ܣଷ ܣ ݁̂ଷ൰ ൌ ܣܣመ ሺ1.5ሻ Agora ܣଵ/ܣ ൌ cos ߙ, ܣଶ/ܣ ൌ cos ߚ e ܣଷ/ܣ ൌ cos ߛ são os cossenos diretores do vetor ܣԦ e ߙ, ߚ, e ߛ são os ângulos de direção (veja Figura 1.3). Assim podemos escrever ܣԦ ൌ ܣሺcos ߙ ݁̂ଵ cos ߚ ݁̂ଶ cos ߛ ݁̂ଷሻ ൌ ܣܣመ ሺ1.6ሻ de onde segue que ܣመ ൌ ሺcos ߙ ݁̂ଵ cos ߚ ݁̂ଶ cos ߛ ݁̂ଷሻ ൌ ሺcos ߙ , cos ߚ , cos ߛሻ ሺ1.7ሻ 1.3. Álgebra Vetorial Igualdade de vetores Dois vetores, digamos ܣԦ e ܤሬԦ são iguais se, e somente se, suas respectivas componentes são iguais: ܣԦ ൌ ܤሬԦ ou ሺܣଵ, ܣଶ, ܣଷሻ ൌ ሺܤଵ, ܤଶ, ܤଷሻ ሺ1.8ሻ é equivalente a três equações ܣଵ ൌ ܤଵ, ܣଶ ൌ ܤଶ, ܣଷ ൌ ܤଷ ሺ1.9ሻ 11 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI Figura 1.4. Adição de dois vetores. Geometricamente, vetores iguais são paralelos e possuem o mesmo comprimento, mas não tem necessariamente a mesma posição. Adição de vetores A adição de dois vetores é definida pela equação ܣԦ ܤሬԦ ൌ ሺܣଵ, ܣଶ, ܣଷሻ ሺܤଵ, ܤଶ, ܤଷሻ ൌ ሺܣଵ ܤଵ, ܣଶ ܤଶ, ܣଷ ܤଷሻ ሺ1.10ሻ Isto é, a soma de dois vetores é um vetor cujas componentes são as somas das componentes dos dois vetores dados. Podemos adicionar dois vetores não paralelos pelo método gráfico mostrado na Figura 1.4. Para adicionar o vetor ܤሬԦ ao vetor ܣԦ, deslocamos ܤሬԦ paralelo a ele próprio até que sua extremidade inferior (cauda) esteja na extremidade posterior (cabeça) de ܣԦ. O vetor soma ܣԦ ܤሬԦ é o vetor ܥԦ desenhado da cauda de ܣԦ para a cabeça de ܤሬԦ. A ordem na qual os vetores são adicionados não afeta o resultado. Multiplicação por um escalar Se ܿ é um escalar ܿܣԦ ൌ ሺܿܣଵ, ܿܣଶ, ܿܣଷሻ ሺ1.11ሻ Geometricamente, o vetor ܿܣԦ é paralelo a ܣԦ e é ܿ vezes o comprimento de ܣԦ. Quando ܿ ൌ െ1, o vetor െܣԦ é aquele cujo direção é o reverso daquela de ܣԦ, mas ambas tem o mesmo comprimento. Assim, a subtração do vetor ܤሬԦ de ܣԦ é equivalente a adicionar –ܤሬԦ a ܣԦ: 12 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI Figura 1.5. O produto escalar de dois vetores ܣԦ െ ܤሬԦ ൌ ܣԦ ൫െܤሬԦ൯ ሺ1.12ሻ Vemos que a adição vetorial tem as seguintes propriedades: (a) ܣԦ ܤሬԦ ൌ ܤሬԦ ܣԦ (comutatividade) (b) ሺܣԦ ܤሬԦሻ ܥԦ ൌ ܣԦ ሺܤሬԦ ܥԦሻ (associatividade) (c) ܣԦ 0ሬԦ ൌ 0ሬԦ ܣԦ ൌ ܣԦ (d) ܣԦ ሺെܣԦሻ ൌ 0ሬԦ Vamos agora considerar a multiplicação de vetores. Observe que divisão por um vetor não está definido. Por exemplo, expressões como ݇/ܣԦ ou ܤሬԦ/ܣԦ são sem significado. Existem varias modos de multiplicar dois vetores, cada um com um significado especial. O produto escalar O produto escalar (ponto ou interno) de dois vetores ܣԦ ou ܤሬԦ é um numero real definido como o produto das suas magnitudes e o cosseno do ângulo (o menor) entre eles (veja a Figura 1.5): ܣԦ · ܤሬԦ ؠ ܣܤ ܿݏ ߠ ሺ0 ߠ ߨሻ. ሺ1.13ሻ Está claro da definição (1.13) que o produto escalar é comutativa, isto é, ܣԦ · ܤሬԦ ൌ ܤሬԦ · ܣԦ, ሺ1.14ሻ 13 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI e o produto de um vetor por ele mesmo fornece o quadrado do produto interno do vetor, isto é, ܣԦ · ܣԦ ൌ ܣଶ ሺ1.15ሻ Se ܣԦ · ܤሬԦ ൌ 0 e nenhum dos vetores, ܣԦ ou ܤሬԦ, é um vetor nulo (zero), então ܣԦ é perpendicular a ܤሬԦ. Da Figura 1.5 podemos conseguir a interpretação geométrica do produto, observando que ሺܤ ܿݏ ߠሻܣ é a projeção de ܤሬԦ sobre ܣԦ multiplicado pelo modulo de ܣԦ ou que ሺܣ ܿݏ ߠሻܤ é a projeção de ܣԦ na direção de ܤሬԦ multiplicado pelo modulo de ܤሬԦ. Se apenas as componentes de ܣԦ e ܤሬԦ são conhecidas, então não seria pratico calcular ܣԦ · ܤሬԦ da definição (1.13). Mas neste caso, podemos calcular ܣԦ · ܤሬԦ em termos das componentes, da seguinte forma ܣԦ · ܤሬԦ ൌ ሺܣଵ݁̂ଵ ܣଶ݁̂ଶ ܣଷ݁̂ଷሻ · ሺܤଵ݁̂ଵ ܤଶ݁̂ଶ ܤଷ݁̂ଷሻ ൌ ܣଵܤଵ݁̂ଵ · ݁̂ଵ ܣଵܤଶ݁̂ଵ · ݁̂ଶ ܣଵܤଷ݁̂ଵ · ݁̂ଷ ܣଶܤଵ݁̂ଶ · ݁̂ଵ ܣଶܤଶ݁̂ଶ · ݁̂ଶ ܣଶܤଷ݁̂ଶ · ݁̂ଷ ܣଷܤଵ݁̂ଷ · ݁̂ଵ ܣଷܤଶ݁̂ଷ · ݁̂ଶ ܣଷܤଷ݁̂ଷ · ݁̂ଷ ሺ1.16ሻ onde obtemos nove termos, todos envolvendo o produto interno entre vetores unitários da forma݁̂ · ݁̂. Os vetores unitários ݁̂ଵ, ݁̂ଶ e ݁̂ଷ formam um conjunto de vetores ortogonais entre si, de forma que o produto interno entre vetores com índices diferentes é nulo enquanto entre vetores de mesmo índice é igual a unidade, isto é, ݁̂ · ݁̂ ൌ ߜ ݅, ݆ ൌ 1, 2, 3 ሺ1.17ሻ onde ߜ ൌ ൝ 0, ݏ݁ ݅ ് ݆ 1, ݏ݁ ݅ ൌ ݆ ሺ1.18ሻ Assim, usando (1.17), a expressão em (1.16) torna‐se apenas ܣԦ · ܤሬԦ ൌ ܣଵܤଵ ܣଶܤଶ ܣଷܤଷ ሺ1.19ሻ 14 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI Figura 1.6 Lei dos cossenos Uma aplicação que usa a definição de produto interno ou produto escalar é a lei dos cossenos para triângulos planos. Considere o vetor ܥԦ resultante da soma dos vetores ܣԦ e ܤሬԦ, que são os lados do triangulo, ܥԦ ൌ ܣԦ ܤሬԦ ሺ1.20ሻ Tomando o produto de ܥԦ por ele mesmo obtemos ܥଶ ൌ ܥԦ · ܥԦ ൌ ൫ܣԦ ܤሬԦ൯ · ൫ܣԦ ܤሬԦ൯ ൌ ܣଶ ܤଶ 2ܣԦ · ܤሬԦ ൌ ܣଶ ܤଶ 2ܣܤ ܿݏ ߠ . ሺ1.21ሻ A relação (1.21) é alei dos cossenos. O produto vetorial (ou produto cruz ou externo) O produto vetorial de dois vetores ܣԦ e ܤሬԦ é um vetor ܥԦ, escrito como ܥԦ ൌ ܣԦ ൈ ܤሬԦ,ሺ1.22ሻ perpendicular ao plano definido pelos vetores ܣԦ e ܤሬԦ e direção escolhida ao longo do polegar da mão direita quando os dedos giram de ܣԦ para ܤሬԦ (ângulos de rotação menor que 180). Veja a Figura 1.7 para entender a geometria do problema. O módulo de ܥԦ é dado pela área do paralelogramo formado pelos vetores ܣԦ e ܤሬԦ. Assim podemos escrever ܥԦ ൌ ܣԦ ൈ ܤሬԦ ൌ ܣܤ ݏ݅݊ ߠ ݁̂ ሺ0 ߠ ߨሻ ሺ1.23ሻ 15 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI Figura 1.7. Produto vetorial entre os vetores ܣԦ e ܤሬԦ e a regra da mão direita. Da definição do produto vetorial e da regra da mão direita segue imediatamente que ܣԦ ൈ ܤሬԦ ൌ െܤሬԦ ൈ ܣԦ, ሺ1.24ሻ ou seja, o produto vetorial não é comutativo. Se ܣԦ e ܤሬԦ são paralelos, então segue de (1.23) que ܣԦ ൈ ܤሬԦ ൌ 0. ሺ1.25ሻ Em termos de componentes, temos ܣԦ ൈ ܤሬԦ ൌ ሺܣଵ݁̂ଵ ܣଶ݁̂ଶ ܣଷ݁̂ଷሻ ൈ ሺܤଵ݁̂ଵ ܤଶ݁̂ଶ ܤଷ݁̂ଷሻ ൌ ܣଵܤଵሺ݁̂ଵ ൈ ݁̂ଵሻ ܣଵܤଶሺ݁̂ଵ ൈ ݁̂ଶሻ ܣଵܤଷሺ݁̂ଵ ൈ ݁̂ଷሻ ܣଶܤଵሺ݁̂ଶ ൈ ݁̂ଵሻ ܣଶܤଶሺ݁̂ଶ ൈ ݁̂ଶሻ ܣଶܤଷሺ݁̂ଶ ൈ ݁̂ଷሻ ܣଷܤଵሺ݁̂ଷ ൈ ݁̂ଵሻ ܣଷܤଶሺ݁̂ଷ ൈ ݁̂ଶሻ ܣଷܤଷሺ݁̂ଷ ൈ ݁̂ଷሻ ሺ1.26ሻ Considerando as definições (1.22), (1.23) e (1.24) e o fato dos vetores unitários formarem um conjunto de vetores mutuamente ortogonais, segue que ݁̂ଵ ൈ ݁̂ଶ ൌ ݁̂ଷ, ݁̂ଶ ൈ ݁̂ଵ ൌ െ݁̂ଷ ሺ1.27ሻ ݁̂ଵ ൈ ݁̂ଷ ൌ െ݁̂ଶ, ݁̂ଷ ൈ ݁̂ଵ ൌ ݁̂ଶ ሺ1.28ሻ ݁̂ଶ ൈ ݁̂ଷ ൌ ݁̂ଵ, ݁̂ଷ ൈ ݁̂ଶ ൌ െ݁̂ଵ ሺ1.29ሻ ݁̂ଵ ൈ ݁̂ଵ ൌ ݁̂ଶ ൈ ݁̂ଶ ൌ ݁̂ଷ ൈ ݁̂ଷ ൌ 0 ሺ1.30ሻ 16 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI De (1.27) – (1.30) segue que ܣԦ ൈ ܤሬԦ ൌ ܣଵܤଵሺ0ሻ ܣଵܤଶሺ݁̂ଷሻ ܣଵܤଷሺെ݁̂ଶሻ ܣଶܤଵሺെ݁̂ଷሻ ܣଶܤଶሺ0ሻ ܣଶܤଷሺ݁̂ଵሻ ܣଷܤଵሺ݁̂ଶሻ ܣଷܤଶሺെ݁̂ଵሻ ܣଷܤଷሺ0ሻ ሺ1.31ሻ ou ainda ܣԦ ൈ ܤሬԦ ൌ ሺܣଶܤଷ െ ܣଷܤଶሻ݁̂ଵ ሺܣଷܤଵ െ ܣଵܤଷሻ݁̂ଶ ሺܣଵܤଶ െ ܣଶܤଵሻ݁̂ଷ ሺ1.32ሻ O resultado (1.32) pode ser colocado na forma de determinante, para ser lembrado mais facilmente: ܣԦ ൈ ܤሬԦ ൌ อ ݁̂ଵ ݁̂ଶ ݁̂ଷ ܣଵ ܣଶ ܣଷ ܤଵ ܤଶ ܤଷ อ ሺ1.33ሻ As Equações (1.27) – (1.30) podem ser escrita de forma compacta em termos do símbolo de permutação ߝ: ݁̂ ൈ ݁̂ ൌ ߝ݁̂ ଷ ୀଵ ሺ1.34ሻ ondeߝ é definido por ߝ ൌ ቐ 1 ݏ݁ ሺ݅, ݆, ݇ሻé ݑ݉ ݁ݎ݉ݑݐܽçã ܽݎ ݀݁ ሺ1,2,3ሻ െ1 ݏ݁ ሺ݅, ݆, ݇ሻé ݑ݉ ݁ݎ݉ݑݐܽçã í݉ܽݎ ݀݁ ሺ1,2,3ሻ 0 ݏ݁ ݀݅ݏ ݑ ݉ܽ݅ݏ í݊݀݅ܿ݁ݏ ݏã ݅݃ݑܽ݅ݏ ሺ1.35ሻ Usando o resultado (1.34) e a definição (1.35) seguem imediatamente os resultados (1‐ 27) – (1.30). Assim, com o uso do símbolo de permutações podemos escrever o produto vetorial como ܣԦ ൈ ܤሬԦ ൌ ൭ܣ݁̂ ଷ ୀଵ ൱ ൈ ቌܤ݁̂ ଷ ୀଵ ቍ ൌ ܣܤ൫݁̂ ൈ ݁̂൯ ଷ ,ୀଵ ൌ ൫ܣܤߝ൯݁̂ ൈ ݁̂ ଷ ,,ୀଵ ሺ1.36ሻ 17 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI Figura 1.8 O produto escalar triplo de três vetores ܣԦ, ܤሬԦ, ܥԦ. De (1.36) segue que a ݇‐ésima componente de ܣԦ ൈ ܤሬԦ é ൫ܣԦ ൈ ܤሬԦ൯ ൌ ߝܣܤ ଷ ,ୀଵ ሺ1.37ሻ Se ݇ ൌ 1, obtemos ൫ܣԦ ൈ ܤሬԦ൯ ଵ ൌ ߝଵܣܤ ଷ ,ୀଵ ൌ ߝଵଶଷܣଶܤଷ ߝଵଷଶܣଷܤଶ ൌ ܣଶܤଷ െ ܣଷܤଶ. ሺ1.38ሻ O produto escalar triplo ܣԦ · ൫ܤሬԦ ൈ ܥԦ൯ O produto escalar triplo representa o volume do paralelepípedo formado pelos lados coincidentes ܣԦ, ܤሬԦ e ܥԦ, uma vez que ܣԦ · ൫ܤሬԦ ൈ ܥԦ൯ ൌ ܣܤܥ ݏ݅݊ ߠ ܿݏ ߙ ൌ ݄ܵ ൌ ݒ݈ݑ݉݁ ሺ1.39ሻ Conforme mostra a Figura 1.8, ܵ é área do paralelogramo de lados ܤሬԦ e ܥԦ, e ݄ a altura do paralelepípedo. Usando (1.33) podemos escrever (1.39) como ܣԦ · ൫ܤሬԦ ൈ ܥԦ൯ ൌ ሺܣଵ݁̂ଵ ܣଶ݁̂ଶ ܣଷ݁̂ଷሻ · อ ݁̂ଵ ݁̂ଶ ݁̂ଷ ܤଵ ܤଶ ܤଷ ܥଵ ܥଶ ܥଷ อ ሺ1.40ሻ Desenvolvendo o determinante, (1.40) toma a forma 18 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI ܣԦ · ൫ܤሬԦ ൈ ܥԦ൯ ൌ อ ܣଵ ܣଶ ܣଷ ܤଵ ܤଶ ܤଷ ܥଵ ܥଶ ܥଷ อ ሺ1.41ሻ Do resultado (1.41) fica fácil mostrar que um número par de permutações entre os vetores não altera o resultado, enquanto um número impar de permutações introduz um sinal menos no resultado. Isto segue das propriedades de determinantes que diz que a troca de quaisquer duas colunas ou duas linhas entre si troca o sinal do determinante. No nosso caso a troca de linha no determinante leva a uma troca na ordem em que os vetores aparecem no produto escalar triplo. Assim temos ܣԦ · ൫ܤሬԦ ൈ ܥԦ൯ ൌ െܥԦ · ൫ܤሬԦ ൈ ܣԦ൯ ൌ ܥԦ · ൫ܣԦ ൈ ܤሬԦ൯ ሺ1.42ሻ Não temos mudança de sinal quando efetuamos a troca do ponto com a cruz ܣԦ · ൫ܤሬԦ ൈ ܥԦ൯ ൌ ൫ܣԦ ൈ ܤሬԦ൯ · ܥԦ ሺ1.43ሻ O resultado (1.43) é idêntico ao resultado da ultima igualdade em (1.42). Também a permuta dos vetores de forma que apareçam em ordem cíclica, ܣԦ ՜ ܤሬԦ ՜ ܥԦ ՜ ܣԦ não altera o sinal do produto escalar triplo. O produto vetorial triplo O produto vetorial triplo ܣԦ ൈ ൫ܤሬԦ ൈ ܥԦ൯ é um vetor porque é o produto vetorial dos vetores ܣԦ e ܤሬԦ ൈ ܥԦ. Este vetor é perpendicular a ܤሬԦ ൈ ܥԦ e assim está no plano que contem os vetores ܤሬԦ e ܥԦ. Se ܤሬԦ não é paralelo a ܥԦ, podemos escrevê‐lo como uma combinação linear entre ܤሬԦ e ܥԦ, isto é, ܣԦ ൈ ൫ܤሬԦ ൈ ܥԦ൯ ൌ ݔܤሬԦ ݕܥԦ ሺ1.44ሻ Como ܣԦ ൈ ൫ܤሬԦ ൈ ܥԦ൯ · ܣԦ ൌ 0, segue ݔܤሬԦ · ܣԦ ݕܥԦ · ܣԦ ൌ 0 ሺ1.45ሻ ou 19 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI ݔ ܥԦ · ܣԦ ൌ െ ݕ ܤሬԦ · ܣԦ ؠ ߛ ሺ1.45ሻ comߛ sendo um escalar. Assim podemos escrever (1.44) como ܣԦ ൈ ൫ܤሬԦ ൈ ܥԦ൯ ൌ ߛൣܤሬԦ൫ܣԦ · ܥԦ൯ ܥԦ൫ܣԦ · ܤሬԦ൯൧ ሺ1.44ሻ Exercício proposto Mostre que em (1.14), ߛ ൌ 1. ሺ1.45ሻ Assim, usando ሺ1.45ሻ em ሺ1.44ሻ ficamos com ܣԦ ൈ ൫ܤሬԦ ൈ ܥԦ൯ ൌ ܤሬԦ൫ܣԦ · ܥԦ൯ ܥԦ൫ܣԦ · ܤሬԦ൯ ሺ1.44ሻ que é uma identidade muito usada em várias situações de resolução de problemas em Física. Exercício proposto Demonstre as seguintes identidades vetoriais (a) ܣԦ · ൫ܤሬԦ ൈ ܥԦ൯ ൌ ܤሬԦ · ൫ܥԦ ൈ ܣԦ൯ ൌ ܥԦ · ൫ܣԦ ൈ ܤሬԦ൯ ൌ ܣԦܤሬԦܥԦ (b) ܣԦ ൈ ൫ܤሬԦ ൈ ܥԦ൯ ൌ ൫ܣԦ · ܥԦ൯ܤሬԦ െ ൫ܣԦ · ܤሬԦ൯ܥԦ (c) ൫ܣԦ ൈ ܤሬԦ൯ · ൫ܥԦ ൈ ܦሬሬԦ൯ ൌ ܣ · ሾܤ ൈ ሺܥ ൈ ܦሻሿ ൌ ܣ · ൣ൫ܤሬԦ · ܦሬሬԦ൯ܥԦ െ ൫ܤሬԦ · ܥԦ൯ܦሬሬԦ൧ ൌ ൫ܣԦ · ܥԦ൯൫ܤሬԦ · ܦሬሬԦ൯ െ ൫ܤሬԦ · ܥԦ൯൫ܣԦ · ܦሬሬԦ൯ (d) ൫ܣԦ ൈ ܤሬԦ൯ ൈ ൫ܥԦ ൈ ܦሬሬԦ൯ ൌ ൣ൫ܣԦ ൈ ܤሬԦ൯ · ܦሬሬԦ൧ܥԦ െ ൣ൫ܣԦ ൈ ܤሬԦ൯ · ܥԦ൧ܦሬሬԦ ൌ ൫ܣԦܤሬԦܦሬሬԦ൯ܥԦ െ ൫ܣԦܤሬԦܥԦ൯ܦሬሬԦ ൌ ൫ܣԦܥԦܦሬሬԦ൯ܦሬሬԦ െ ൫ܤሬԦܥԦܦሬሬԦ൯ܣԦ 1.4. Mudança do sistema de coordenadas Equações vetoriais são independentes do sistema de coordenadas que escolhido, mas as componentes de uma quantidade vetorial são diferentes em sistemas de coordenadas 20 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI diferentes. Considere dois sistemas de coordenadas ݔଵ ᇱݔଶ ᇱ ݔଶ ᇱ (vetores unitários ݁ଵ ᇱ , ݁ଶ ᇱ , ݁ଷ ᇱ )eݔଵݔଶݔଷ (vetores unitários ݁ଵ, ݁ଶ, ݁ଷ) com as origenscoincidentes e o primeiro girado em relação ao segundo de um ângulo ߛ em torno de um eixo qualquer que passe pela origem. O vetor ܣԦ terá as seguintes representações em termos de coordenadas nos dois sistemas de coordenadas: ܣԦ ൌ ܣଵ݁̂ଵ ܣଶ݁̂ଶ ܣଷ݁̂ଷ ൌܣ݁̂ ଷ ୀଵ ሺ1.45ሻ e ܣԦ ൌ ܣଵ ᇱ ݁̂ଵ ᇱ ܣଶ ᇱ ݁̂ଶ ᇱ ܣଷ ᇱ ݁̂ଷ ᇱ ൌ ܣ ᇱ݁ ᇱ ଷ ୀଵ ሺ1.46ሻ Como as coordenadas do sistema girado ݔଵ ᇱݔଶ ᇱ ݔଶ ᇱ estão relacionadas com as do sistema original ݔଵݔଶݔଷ? Observando que o produto interno ܣԦ · ݁̂ ᇱ é igual a ܣ ᇱ, a projeção de ܣԦ com a direção de ݁̂ ᇱ. Assim podemos escrever ܣଵ ᇱ ൌ ሺ݁̂ଵ · ݁̂ଵ ᇱሻܣଵ ሺ݁̂ଶ · ݁̂ଵ ᇱሻܣଶ ሺ݁̂ଷ · ݁̂ଵ ᇱሻܣଷ ሺ1.47ሻ ܣଶ ᇱ ൌ ሺ݁̂ଵ · ݁̂ଶ ᇱ ሻܣଵ ሺ݁̂ଶ · ݁̂ଶ ᇱ ሻܣଶ ሺ݁̂ଷ · ݁̂ଶ ᇱ ሻܣଷ ሺ1.48ሻ ܣଷ ᇱ ൌ ሺ݁̂ଵ · ݁̂ଷ ᇱ ሻܣଵ ሺ݁̂ଶ · ݁̂ଷ ᇱ ሻܣଶ ሺ݁̂ଷ · ݁̂ଷ ᇱ ሻܣଷ ሺ1.49ሻ Os produtos internos em (1.47) – (1.49) são os cossenos diretores dos eixos do novo sistema de coordenadas relativo ao sistema antigo: ߣ ൌ ݁ ᇱ · ݁ ൌ ܿݏ൫ݔ ᇱ, ݔ൯ ሺ1.50ሻ As Equações (1.47) – (1.49) podem ser colocadas na forma matricial e com a definição (1.50) podem ser escritas como ቌ ܣଵ ᇱ ܣଶ ᇱ ܣଷ ᇱ ቍ ൌ ൭ ߣଵଵ ߣଵଶ ߣଵଶ ߣଶଵ ߣଶଶ ߣଶଷ ߣଷଵ ߣଷଶ ߣଷଷ ൱൭ ܣଵ ܣଶ ܣଷ ൱ ሺ1.51ሻ A matriz dos coeficientes ߣ é a matriz que efetua a rotação do sistema de coordenadas. É uma matriz ortogonal: seu determinante é igual a േ1. Os seus elementos satisfazem a seguinte relação 21 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI ߣߣ ଷ ൌ ߜ ሺ݆, ݇ ൌ 1, 2, 3ሻ ሺ1.52ሻ Assim as coordenadas da quantidade vetorial ܣԦ no sistema girado estão relacionadas com as coordenadas da mesma quantidade no sistema antigo através da relação ܣ ᇱ ൌߣܣ ଷ ୀଵ ሺ1.53ሻ Qualquer quantidade que se transforme de acordo com a Equação (1.53) é dita ser uma quantidade vetorial. Quantidades tensoriais ሺܣሻque representam quantidades físicas tais como o tensor de inercia, em problemas de rotação de corpos rígidos, ou o tensor das tensões, no estudo de deformações de sólidos, ou o tensor permissividade elétrica ou o tensor dielétrico, em cristais dielétricos, são quantidades que se transformam como ܣ ᇱ ൌ ߣߣܣ ଷ ,ୀଵ ሺ1.54ሻ frente a transformação das coordenadas do sistema por uma rotação. 1.5. Diferenciação de um vetor com relação a um escalar Um vetor pode ser função de um ou mais escalares e vetores. O conceito de campo é usado em física para representar uma quantidade física que é função da posição em uma dada região. A temperatura é um campo escalar, porque seu valor depende da localização: a cada ponto ሺݔ, ݕ, ݖሻ está associada uma temperatura ܶሺݔ, ݕ, ݖሻ. A função ܶሺݔ, ݕ, ݖሻ é um campo esclar, cujo valor é um numero real dependendo apenas do ponto no espaço mas não da escolha particular do sistema de coordenadas. Um campo vetorial, por outro lado, associa a cada ponto um vetor, tal como a velocidade do vento ou a intensidade do campo elétrico ou magnético. Quando descrito em um sistema girado, por exemplo, as três componentes do vetor associado com o ponto mudarão numericamente. Conceitos importantes fisicamente e geometricamente relacionados com campos escalares e vetoriais são o gradiente, a divergência, o rotacional, e os correspondentes teoremas integrais. 22 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI Os conceitos de cálculo tais como a continuidade e diferenciabilidade, podem ser naturalmente generalizados para o cálculo vetorial. Considere um vetor ܣԦ cujas componentes são funções de uma única variável ݑ. Se o vetor ܣԦ representa a posição ou velocidade, por exemplo, então o parâmetro ݑ é usualmente o tempo ݐ, mas pode ser qualquer quantidade que determine as componentes de ܣԦ. Em um sistema de coordenadas cartesianas a função vetorial ܣԦሺݑሻ pode ser escrita como ܣԦሺݑሻ ൌ ܣଵሺݑሻ݁̂ଵ ܣଶሺݑሻ݁̂ଶ ܣଷሺݑሻ݁̂ଷ. ሺ1.55ሻ A função vetorialܣԦሺݑሻ é dita contínua se em ݑ ൌ ݑ se ela está definida em alguma vizinhança de ݑ e ݈݅݉ ௨՜௨బ ܣԦ ሺݑሻ ൌ ܣԦሺݑሻ ሺ1.56ሻ A função vetorial ܣԦሺݑሻ é dita diferenciável em um ponto ݑ se o limite ݀ܣԦሺݑሻ ݀ݑ ൌ ݈݅݉ ∆௨՜ ܣԦሺݑ ∆ݑሻ െ ܣԦሺݑሻ ∆ݑ ሺ1.57ሻ existe. O vetor ܣԦᇱሺݑሻ ൌ ݀ܣԦሺݑሻ ݀ݑ ൌ ܣଵ ᇱ ሺݑሻ݁̂ଵ ܣଶ ᇱ ሺݑሻ݁̂ଶ ܣଷ ᇱ ሺݑሻ݁̂ଷ. ሺ1.58ሻ é chamado a derivada de ܣԦሺݑሻ. Estamos supondo que os vetores são fixos no espaço. Derivadas de ordens mais altas para ܣԦሺݑሻ podem ser definidas de forma semelhante. Se um vetor ܣԦ é função de mais de uma variável, por exemplo, das variáveis ݑ e ݒ, isto é, ܣԦ ൌ ܣԦሺݑ, ݒሻ, então ݀ܣԦ ൌ ߲ܣԦ ߲ݑ ݀ݑ ߲ܣԦ ߲ݒ ݀ݒ ሺ1.59ሻ é o diferencial de ܣԦ e ߲ܣԦ ߲ݑ ൌ ݈݅݉ ∆௨՜ ܣԦሺݑ ∆ݑ, ݒሻ െ ܣԦሺݑ, ݒሻ ∆ݑ ሺ1.60ሻ e de forma semelhante para ߲ܣԦ/߲ݒ. 23 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI Figura 1.9. Vetor posição ݎԦ e ݎԦ ∆ݎԦ em dois instantes de tempo diferentes, diferindo um do outro por uma quantidade finita ∆ݐ. Derivadas de produtos obedecem a regras semelhantes aquelas para as funções escalares. Contudo, quando produto vetorial está envolvido a ordem dos fatores deve ser considerada. Como uma aplicação de diferenciação vetorial podemos considerar a variação no tempo do vetor posição ݎԦሺݑሻ do ponto ܲሺݔଵ, ݔଶ, ݔଷሻ como mostrado na Figura (1.9), então ݎԦሺݑሻ ൌ ݔଵሺݑሻ݁̂ଵ ݔଶሺݑሻ݁̂ଶ ݔଷሺݑሻ݁̂ଷ. ሺ1.61ሻ Quando o parâmetro ݑ muda, o ponto P da extremidade de ݎԦ descreve uma curva ܥ no espaço. A Equação (1.55) é uma representação paramétrica da curva, e ݑ é o parâmetro desta representação. Então ∆ݎԦ ∆ݑ ൌ ݎԦሺݑ ∆ݑሻ െ ݎԦሺݑሻ ∆ݑ ሺ1.62ሻ é um vetor na direção de ∆ݎԦ e que no limite de ∆ݑ ՜ 0 (se existir o limite) ݀ݎԦ/݀ݑ é um vetor na direção da tangente à curva em ሺݔଵ, ݔଶ, ݔଷሻ. Se em mecânica, o parâmetro ݑ é o tempo ݐ então, ݀ݎԦ/݀ݐ ൌ ݒԦ é a velovidade da partícula que é tangente a curva no ponto especificado. Similarmente, Ԧܽ ൌ ݀ݒԦ/݀ݐ é a aceleração da partícula. ݒ ؠ ݀ݎԦ ݀ݐ ൌ ݎԦሶ ሺ1.63ሻ Ԧܽ ؠ ݀ݒԦ ݀ݐ ൌ ݀ଶݎԦ ݀ݐଶ ൌ ݎԦሷ ሺ1.64ሻ 24 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI Em coordenadas retangulares, as expressões para ݎԦ, ݒԦ, e Ԧܽsão ݎԦ ൌ ݔଵ݁̂ଵ ݔଶ݁̂ଶ ݔଷ݁̂ଷ ൌݔ݁̂ Posição ݒԦ ൌ ݎԦሶ ൌ ݔሶ݁̂ ൌ ݀ݔ ݀ݐ ݁̂ Velocidade Ԧܽ ൌ ݒԦሶ ൌ ݎԦሷ ൌ ݔሷ݁̂ ൌ ݀ଶݔ ݀ݐଶ ݁̂ Aceleração ۙ ۖ ۖ ۖ ۘ ۖ ۖ ۖ ۗ ሺ1.65ሻ Calcular estas quantidades em coordenadas retangulares é direto uma vez que os vetores unitários ݁̂ são constantes no tempo. Em sistemas de coordenadas não retangulares, contudo, os vetores unitários no vetor posição da partícula quando ela se move no espaço não são constantes no tempo, e as componentes das derivadas temporais de ݎԦ não são mais relações simples. Por exemplo, em coordenadas polares planas (ݎ, ߠ) o vetorposição é dado por ݎԦ ൌ ݎ݁̂ ሺ1.66ሻ onde ݁̂ ൌ ݁̂ሺߠሻ é o vetor unitário na direção de crescimento de ݎ. ݁̂ఏ é o vetor unitário na direção de crescimento de ߠ com ݁̂ఏ ൌ ݁̂ఏሺߠሻ. A velocidade é a primeira derivada de ݎԦ em relação ao tempo, isto é, ݒԦ ൌ ݀ݎԦ ݀ݐ ൌ ݀ ݀ݐ ሺݎ݁̂ሻ ൌ ݎሶ݁̂ ݎߠሶ ݁̂ఏ ሺ1.67ሻ Uma segunda diferenciação de ݎԦ produz a aceleração: Ԧܽ ൌ ൫ݎሷ െ ݎߠሶ ଶ൯݁̂ ൫ݎߠሷ 2ݎሶߠሶ൯݁̂ఏ ሺ1.68ሻ Exercício proposto Deduza as expressões (1.67) e (1.68) Exercício resolvido 1.1 Determine as componentes do vetor aceleração Ԧܽ em coordenadas cilíndricas. 25 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI FIGURA 1‐10 O sistema de coordenadas cilíndricas ሺݎ, ߶, ݖሻ são mostradas com respeito ao sistema de coordenadas Cartesianas ሺݔ, ݕ, ݖሻ. Solução. O vetor posição em coordenadas cilíndricas é dado por ݎԦ ൌ ߩߩොሺߠሻ ݖ݁̂ଷ. A velocidade é dada por ݒԦ ൌ ݀ݎԦ ݀ݐ ൌ ߩሶߩො ߩ ݀ߩො ݀ݐ ݖሶ݁̂ଷ A aceleração é determinada tomando a derivada temporal de ݒԦ. Ԧܽ ൌ ݀ ݀ݐ ݒԦ ൌ ݀ ݀ݐ ൫ݎሶ݁̂ ݎ߶ሶ ݁̂థ ݖሶ݁̂௭൯ ൌ ݎሷ݁̂ ݎሶ݁̂ሶ ݎሶ߶ሶ ݁̂థ ݖሷ݁̂௭ ݖሶ݁̂ሶ௭ Precisamos determinar a derivada temporal dos vetores unitário ݁̂, ݁̂థ, e ݁̂௭. O sistema de coordenadas cilíndricas é mostrado na Figura 1‐10, e em termos das componentes ሺݔ, ݕ, ݖሻ os vetores unitários ݁̂, ݁̂థ, e ݁̂௭são ݁̂ ൌ ሺcos߶ , sen߶ , 0ሻ ݁̂థ ൌ ሺെsen߶ , cos ߶ , 0ሻ ݁̂௭ ൌ ሺ0, 0, 1ሻ 26 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI As derivadas temporais dos vetores unitários são determinadas tomando as derivadas das componentes. ݁̂ሶ ൌ ൫െ߶ሶ sen߶ , ߶ሶ cos߶ , 0൯ ൌ െ߶ሶ ݁̂థ ݁̂ሶథ ൌ ൫െ߶ሶ cos߶ ,െ߶ሶ sin߶ , 0൯ ൌ െ߶ሶ ݁̂ ݁̂ሶ௭ ൌ 0 Substituímos as derivadas temporais do vetor unitário na expressão acima para Ԧܽ, obtendo Ԧܽ ൌ ݎሷ݁̂ ݎሶ߶ሶ ݁̂థ ݎሶ߶ሶ ݁̂థ ݎ߶ሷ ݁̂థ െ ݎ߶ሶ ଶ݁̂ ݖሷ݁̂௭ ൌ ൫ݎሷ െ ݎ߶ሶ ଶ൯݁̂ ൫ݎ߶ሷ 2ݎሶ߶ሶ ൯݁̂థ ݖሷ݁̂௭ 1.6. Operador Gradiente Agora voltamos ao membro mais importante de uma classe chamada de operadores vetoriais diferenciais – o operador gradiente. Considere um escalar ߶ que é uma função explicita das coordenadas ݔ e, além disso, é uma função contínua, unívoca destas coordenadas através de uma dada região do espaço. Sob a transformação de coordenadas que leva os ݔ, nos ݔ ᇱ, ߶ᇱሺݔଵ ᇱ , ݔଶ ᇱ , ݔଷ ᇱ ሻ= ߶ሺݔଵ, ݔଶ, ݔଷሻ, e pela regra da cadeia da diferenciação, podemos escrever. ߲߶ᇱ ߲ݔଵ ᇱ ൌ ߲߶ ߲ݔ ߲ݔ ߲ݔଵ ᇱ ሺ1.69ሻ O caso é similar para ߲߶ᇱ/ ߲ݔଶ ᇱ e ߲߶ᇱ/ ߲ݔଷ ᇱ , assim em geral temos ߲߶ᇱ ߲ݔ ᇱ ൌ ߲߶ ߲ݔ ߲ݔ ߲ݔ ᇱ ሺ1.70ሻ A transformação de coordenada inversa é ݔ ൌߣݔ ᇱ ሺ1.71ሻ Diferenciando, 27 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI ߲ݔ ߲ݔ ᇱ ൌ ߲ ߲ݔ ᇱ ൭ߣݔ ᇱ ൱ ൌߣ ቆ ߲ݔ ᇱ ߲ݔ ᇱቇ ሺ1.72ሻ Mas o termo no ultimo parêntese é justamente ߜ, assim ߲ݔ ߲ݔ ᇱ ൌ ߣߜ ൌ ߣ ሺ1.73ሻ Substituindo a Equação 1.73 na Equação 1.70, obtemos ߲߶ᇱ ߲ݔ ᇱ ൌ ߣ ߲߶ ߲ݔ ሺ1.74ሻ Como isto segue corretamente a equação de transformação de um vetor (Equação 1.44), a função ߲߶/߲ݔ é a ݆ െ éݏ݅݉ܽ componente de um vetor chamado o gradiente da função ߶. Observe que mesmo ߶ sendo um escalar, o gradiente de ߶ é um vetor. O gradiente de ߶ é escrito ou como ݃ݎܽ݀ ߶ ou como ሬሬԦ߶ (“Del” ߶). Como a função ߶ é uma função escalar arbitrária, é conveniente definir o operador diferencial descrito anteriormente em termos do operador gradiente: ൫gradሬሬሬሬሬሬሬሬԦ൯ ൌ ሬሬԦ୧ൌ ∂ ∂ݔ ሺ1.75ሻ Podemos expressar o operador vetor gradiente completo como ݃ݎܽ݀ሬሬሬሬሬሬሬሬሬሬԦ ൌ ሬሬԦൌ݁̂ ߲ ߲ݔ Gradiente ሺ1.76ሻ O operador gradiente pode (a) operar diretamente sobre uma função escalar, como em ሬሬԦ߶; (b) ser usado em um produto escalar com uma função vetorial, como em ሬሬԦ · ܣԦ (a divergência (div) de ܣԦ); ou (c) ser usado em produto vetorial com uma função vetorial, como em ሬሬԦ ൈ ܣԦ (o rotacional de ܣԦ). Apresentamos o grad, divergência, e rotacional: ݃ݎܽ݀ሬሬሬሬሬሬሬሬሬሬԦ ߶ ൌ ሬሬԦ߶ ൌ݁̂ ߲߶ ߲ݔ ሺ1.77aሻ ݀݅ݒ ܣԦ ൌ ሬሬԦ · ܣԦ ൌ ∂ܣ ∂ݔ ሺ1.77bሻ 28 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI ݎݐ ܣԦ ൌ ሬሬԦ ൈ ܣԦ ൌ ߝ ∂ܣ ∂ݔ,, ݁̂ ሺ1.77bሻ Para ver a interpretação física do gradiente de uma função escalar, considere o mapa tridimensional e o mapa topográfico da Figura 1‐11. As curvas fechadas da parte b representam linhas de altura constante. Denotemos por ߶ a altura em algum ponto ߶ ൌ ߶ሺݔଵ, ݔଶ, ݔଷሻ. Então ݀߶ ൌ ߲߶ ߲ݔ ݀ݔ ൌ ൫ሬሬԦ߶൯ ݀ݔ As componentes do vetor deslocamento ݀ݏԦ são os incrementos nos deslocamentos na direção dos três eixos ortogonais: ݀ݏԦ ൌ ሺ݀ݔଵ, ݀ݔଶ, ݀ݔଷሻ ሺ1.78ሻ Portanto ݀߶ ൌ ൫ሬሬԦ߶൯ · ݀ݏԦ ሺ1.79ሻ Seja ݀ݏԦ tangencialmente direcionado ao longo das linhas de isolatitude (isto é, ao longo da linha para a qual ߶ ൌ ܿ݊ݏݐܽ݊ݐ݁), como indicado na Figura 1‐11. Como ߶ ൌ ܿ݊ݏݐܽ݊ݐ݁ é uma constante para este caso, ݀߶ ൌ 0. Mas, como nem ሬሬԦ߶ nem ݀ݏԦ, em geral, não são nulos, eles devem, portanto ser mutuamente perpendiculares entre si. Assim ሬሬԦ߶ é normal à linha (ou em três dimensões, à superfície) para a qual ߶ ൌ ܿ݊ݏݐܽ݊ݐ݁. O valor máximo de ݀߶ resulta quando ሬሬԦ߶ e ݀ݏԦ estão na mesma direção; então, ሺ݀߶ሻ௫ ൌ หሬሬԦ߶ห݀ݏ, ܽݎܽ ሬሬԦ߶ צ ݀ݏԦ ou หሬሬԦ߶ห ൌ ൬ ݀߶ ݀ݏ ൰ ௫ ሺ1.80ሻ Portanto, ሬሬԦ߶ está na direção da maior variação em ߶. Podemos resumir estes resultados como segue: 29 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI FIGURA 1‐11 (a) O mapa do contorno tridimensional pode ser representado por (b) um mapa topográfico de linha ߶ representando a altura constante. O gradiente ሬሬԦ߶ representa a direção perpendicular as linhas ߶ constantes. 1. O vetor ሬሬԦ߶ e, em qualquer ponto, normal às linhas ou superfícies para as quais ߶ ൌ ܿ݊ݏݐܽ݊ݐ݁. 2. O vetor ሬሬԦ߶ aponta na direção da máxima variação em ߶. 30 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI 3. Como qualquer direção no espaço pode ser especificada em termos do vetor unitário ො݊ naquela direção, a taxa de mudança de ߶ na direção de ො݊ (a derivada direcional de ߶) pode ser determinada de ො݊ · ሬሬԦ߶ ؠ ߲߶/߲݊. A sucessiva operação do operador gradiente produz ሬሬԦ · ሬሬԦൌ ∂ ∂ݔ ∂ ∂ݔ୧୧ ൌ ∂ଶ ∂ݔ ଶ ୧ ሺ1.81ሻ Este importante produto de operadores, chamado o Laplaciano, é também escrito como ሬሬԦଶൌ ∂ଶ ∂ݔ ଶ ሺ1.82ሻ Quando o Laplaciano opera sobre um escalar, temos, por exemplo. ሬሬԦଶψ ൌ ∂ଶψ ∂ݔ ଶ ሺ1.83ሻ 1.7 Integração de Vetores O vetor resultante da integração de volume de uma função vetorialܣԦ ൌ ܣԦሺݔሻ através do volume ܸ é dado por න ܣԦ݀ݒ ൌ ቆන ܣଵ݀ݒ ,න ܣଶ݀ݒ ,න ܣଷ݀ݒ ቇ ሺ1.84ሻ Assim, integramos o vetor ܣԦ através de ܸ simplesmente executando três integrações ordinárias, separadas. A integral sobre a superfície ܵ da projeção da função ܣԦ ൌ ܣԦሺݔሻ sobre a normal à superfície é definida como න ܣԦ · ݀ Ԧܽ ௌ onde ݀ Ԧܽ é um elemento de área da superfície (Figura 1‐12). Escrevemos ݀ Ԧܽcomo uma quantidade vetorial porque podemos atribuir a ela não apenas um módulo ݀ܽ, mas também uma direção correspondente a normal a superfície no ponto em questão. Se o vetor unitário normal é ො݊, então ݀ Ԧܽ ൌ ො݊݀ܽ ሺ1.85ሻ 31 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI FIGURA 1‐12 O diferencial ݀ Ԧܽ é um elemento de área da superfície. Sua direção é normal à superfície. Assim, as componentes de ݀ Ԧܽ são as projeções do elemento de área sobre três planos mutuamente perpendiculares definidos pelos três eixos retangulares: ݀ܽଵ ൌ ݀ݔଶ݀ݔଷ, etc. ሺ1.86ሻ Portanto, teremos න ܣԦ · ݀ Ԧܽ ௌ ൌ න ܣԦ · ො݊݀ܽ ௌ ሺ1.87ሻ ou න ܣԦ · ݀ Ԧܽ ௌ ൌ න ܣ݀ܽ ௌ ሺ1.88ሻ A Equação 1.87 afirma que a integral de ܣԦ sobre a superfície ܵ é a integral da componente normal de ܣ sobre a superfície. A normal a superfície pode ser considerada como estando em qualquer de duas direções possíveis (“para cima” ou “para baixo”); assim o sinal de ො݊ é ambíguo. Se a superfície é fechada, nós adotamos a convenção que a normal para fora é positiva. A integral de linha de uma função vetorial ܣԦ ൌ ܣԦሺݔሻ ao longo de um dado caminho estendendo‐se do ponto ܤ ao ponto ܥ é dado pela integral da componente de ܣԦ ao longo do caminho 32 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI FIGURA 1‐13 O elemento ݀ݏԦ é um elemento de comprimento ao longo do caminho dado de ܤ para ܥ. Sua direção está ao longo do caminho em um dado ponto. ܣԦ · ݀ݏԦ ൌ ∑ ܣ݀ݔ ሺ1.89ሻ A quantidade ݀ݏԦ é um elemento de comprimento ao longo do caminho dado (Figura 1‐13). A direção de ݀ݏԦ é tomada como positiva ao longo da direção em que o caminho é percorrido. Na Figura 1‐13 no ponto ܲ, o ângulo entre ݀ݏԦ e ܣԦ é menor que ߨ/2, de forma que ܣԦ · ݀ݏԦ é positiva neste ponto. No ponto Q, o ângulo é maior que ߨ/2, e a contribuição para a integral neste ponto é negativa. Frequentemente é útil relacionar certas integrais de superfície ou com integrais de volume (teorema de Gauss) ou com integrais de linha (teorema de Stokes). Considere a Figura 1‐14, que mostra um volume fechado ܸ englobado pela superfície ܵ. Seja o vetor ܣԦ e suas primeiras derivadas contínuas através de todo o volume. O teorema de Gauss afirma que a integral de superfície de ܣԦ sobre a superfície fechada ܵ é igual a integral de volume da divergência de ܣ (ሬሬԦ · ܣԦ) através do volume ܸ englobado pela superfície ܵ. Escrevemos isto matematicamente como න ܣԦ ௌ · ݀ Ԧܽ ൌ න ሬሬԦ · ܣԦ݀ݒ ሺ1.90ሻ O teorema de Gauss é algumas vezes também chamado de teorema da divergência. O teorema é particularmente útil para tratar com a mecânica de meios contínuos. 33 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI FIGURA 1‐14 O diferencial ݀ Ԧܽ é um elemento de área sobre a superfície ܵ que rodeia o volume fechado ܸ. FIGURA 1‐15 Um contorno ܥ define uma superfície aberta ܵ. A integral de linha em torno do caminho ܥ e a integral de superfície sobre a superfície ܵ são exigidas para o teorema de Stokes. Veja a Figura 1‐15 para a descrição física necessária para o teorema de Stokes, que se aplica a uma superfície aberta ܵ e ao contorno de caminho ܥ que define a superfície. O rotacional do vetor ܣԦ (ሬሬԦ ൈ AሬሬԦ) deve existir e ser integrável sobre a superfície inteira de ܵ. O teorema de Stokes afirma que a integral de linha do vetor ܣԦ em torno do contorno do caminho ܥ é igual à integral de superfície do rotacional de ܣԦ sobre a superfície definida por ܥ. Escrevemo‐lo matematicamente como න ܣԦ · ݀ݏԦ ൌ න ൫ሬሬԦ ൈ ܣԦ൯݀ Ԧܽ ௌ ሺ1.91ሻ onde a integral de linha é em torno do contorno do caminho fechado ܥ. O teorema de Stokes 34 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI é particularmente útil para reduzir certas integrais de superfície (bidimensionais) a uma integral de linha mais simples, espera‐se! Ambos, os teoremas de Gauss e de Stokes possuem ampla aplicação em calculo vetorial. Além da mecânica, eles são também úteis em aplicações eletromagnéticas e em teoria do potencial. 1.8. Problemas 1.1. Dado o vetor ܣԦ ൌ ሺ2, 2, െ1ሻ e ܤሬԦ ൌ ሺ6,െ3, 2ሻ. Determine (a) 6ܣԦ െ 3ܤሬԦ, (b) ܣଶ ܤଶ, (c) ܣԦ · ܤሬԦ, (d) O ângulo entre ܣԦ e ܤሬԦ, (e) Os cossenos diretores de ܣԦ, (f) A componente de ܤሬԦ na direção de A. 1.2.Determine um vetor unitário perpendicular ao plano de ܣԦ ൌ ሺെ2,െ6,െ3ሻ e ܤሬԦ ൌ ሺ4, 3, െ1ሻ. 1.3. Dado dois vetores ܣԦ ൌ ሺ2, 1, െ1ሻ e ܤሬԦ ൌ ሺ1,െ1, 2ሻ. Determine (a) ܣԦ ൈ ܤሬԦ, e (b) um vetor unitário perpendicular ao plano contendo os vetores ܣԦ e ܤሬԦ. 1.4. (a) Prove que uma condição necessária e suficiente para os vetores ܣԦ, ܤሬԦ e ܥԦ serem co‐ planares é que ܣԦ · ൫ܤሬԦ ൈ ܥԦ൯ ൌ 0 (b) Determine a equação para o plano determinado pelos três pontos ଵܲሺ2, െ1, 1ሻ, ଶܲሺ3, 2, െ1ሻ e ଷܲሺെ1, 3, 2ሻ. 1.5.(a) Determine a matriz de transformação para uma rotação de um novo sistema de coordenadas através de um ângulo ߶ em torno do eixo ݔଷ (ݖ). (b) Expresse o vetor ܣԦ ൌ 3݁̂ଵ 2݁̂ଶ ݁̂ଷ em termos da tríade ݁̂ଵ ᇱ ݁̂ଶ ᇱ ݁̂ଷ ᇱ onde os eixos ݔଵ ᇱݔଶ ᇱ estão girados de 45ை em torno do eixo ݔଷ (os eixos ݔଷ e ݔଷ ᇱ são coincidentes). 1.6. Considere a transformação linear ܣ ᇱ ൌ݁̂ ᇱ · ݁̂ܣ ଷ ୀଵ ൌߣܣ ଷ ୀଵ . Mostre, usando o fato que o modulo do vetor é o mesmo em ambos os sistemas, que ߣߣ ଷ ୀଵ ൌ ߜ ሺ݆, ݇ ൌ 1,2,3ሻ. 35 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI 1.7. Considere um cubo unitário com um canto na origem e três lados adjacentes estando ao longo dos três eixos de um sistema de coordenadas retangulares. Determine os vetores descrevendo as diagonais do cubo. Qual é o ângulo entre qualquer par de diagonais? 1.8. Uma partícula move‐se em uma orbita elíptica plana descrita pelo vetor posição ݎԦ ൌ 2ܾ sen߱ݐ ଓ̂ ܾ cos߱ݐ ଔ̂ (a) Determine ݒԦ, Ԧܽ e o módulo da velocidade. (b) Qual é o ângulo entre ݒԦ e Ԧܽ no tempo ݐ ൌ ߨ/2߱? 1.9. Deduza as seguintes expressões usando álgebra vetorial: (a) cosሺߙ െ ߚሻ ൌ cos ߙ cos ߚ senߙ senߚ (b) sinሺߙ െ ߚሻ ൌ senߙ cos ߚ െ cos ߙ senߚ 1.10. Seja ܣԦ um vetor arbitrário, e seja ݁̂ um vetor unitário em alguma direção fixa. Mostre que ܣԦ ൌ ݁̂൫ܣԦ · ݁̂൯ ݁̂ ൈ ൫ܣԦ ൈ ݁̂൯ Qual é o significado geométrico de cada dos dois termos da expansão? 1.11. Determine as componentes do vetor aceleração Ԧܽ em coordenadas esféricas. 1.12. Uma partícula move‐se com ݒԦ ൌ constante ao longo da curva ݎ ൌ ݇ሺ1 cos ߠሻ (uma cardióide). Determine ݎԦሷ · ݁̂ ൌ Ԧܽ · ݁̂, | Ԧܽ|, e ߠሶ . 1.13. Se ݎԦ e ݎԦሶ ൌ ݒԦ são ambas funções explícitas do tempo, mostre que ݀ ݀ݐ ሾݎԦ ൈ ሺݒԦ ൈ ݎԦሻሿ ൌ ݎଶ Ԧܽ ሺݎԦ · ݒԦሻݒԦ െ ሺݒଶ ݎԦ · ԦܽሻݎԦ 1.14. Calcule a integral නܣԦ ൈ ܣԦሷ݀ݐ 1.15. A altura de uma colina em metros é dada por ݖ ൌ 2ݔݕ െ 3ݔଶ െ 4ݕଶ െ 18ݔ 28ݕ 12, onde ݔ é a distância leste e ݕ é a distância norte da origem. (a) Onde está o topo da colina e quão alto ele é? (b) Quão íngreme é a colina em ݔ ൌ ݕ ൌ 1, isto é, qual é o ângulo entre um vetor perpendicular à colina e o eixo ݖ? (c) Em que direção da bussola está a inclinação x=y=1 mais íngrime? 36 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI 1.16. Para que valores de ܽ são os vetores ܣԦ ൌ 2ܽଓ̂ െ 2ଔ̂ ܽ ݇e ܤሬԦ ൌ ܽଓ̂ 2ܽଔ̂ 2 ݇ perpendiculares. 37 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI CAPÍTULO 2 – MECÂNICA NEWTONIANA DE UMA PARTÍCULA 2.1. Introdução As leis físicas devem ser baseadas sobre fatos experimentais. Não podemos esperar a priori que a atração gravitacional entre dois corpos deve variar exatamente como o inverso do quadrado da distancia entre eles. Mas experimentos indicam que isto é assim. Uma vez que um conjunto de dados experimentais tenha sido correlacionado e um postulado tenha sido formulado considerando o fenômeno para o qual os dados se referem, então várias implicações podem ser trabalhadas. Se estas implicações são todas verificadas pelo experimento, podemos acreditar que o postulado é geralmente verdadeiro. O postulado então assume o status de uma lei física. Se alguns experimentos discordam das previsões da lei, a teoria deve ser modificada para tornar‐se consistente com os fatos. Isto foi o que aconteceu com as teorias clássicas (mecânica newtoniana e eletromagnetismo de Maxwell) na virada do século dezenove, surgindo novas teorias como a teoria da relatividade e a teoria quântica. Newton nos proporcionou as leis fundamentais da mecânica. Anunciaremos aqui estas leis em termos modernos, discutiremos seus significados, e então deduziremos as implicações das leis em várias situações. 2.2. Leis de Newton Iniciamos simplesmente afirmando de forma convencional as leis de Newton da Mecanica: I. Um corpo permanece em repouso ou em movimento uniforme a menos que esteja sob a ação de uma força. II. Um corpo sob a ação de uma força move‐se de tal maneira que a taxa de variação temporal do momento é igual a esta força. III. Se dois corpos exercem forças um sobre o outro; estas forças são iguais em módulo e opostas em direção. Observe que a primeira Lei é sem significado sem o conceito de “força”. De fato, sozinha, a Primeira Lei transmite significado preciso apenas para força nula; isto é, um corpo permanece em repouso ou em movimento uniforme (isto é, não acelerado, retilíneo) se não 38 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI está sujeito as forças nenhuma de forma. Um corpo movendo‐se desta maneira é chamado um corpo livre (ou partícula livre). A Segunda Lei fornece uma declaração explicita: Força está relacionada à taxa de mudança do momento com o tempo. Newton adequadamente definiu momento (embora ele tenha usado o termo quantidade de movimento) como o produto de massa e velocidade, tal que Ԧ ؠ ݉ݒԦ ሺ2.1ሻ Portanto, a Segunda Lei de Newton pode ser expressa como ܨԦ ൌ ݀Ԧ ݀ݐ ൌ ݀ ݀ݐ ሺ݉ݒԦሻ ሺ2.2ሻ A definição de força torna‐se completa e precisa apenas quando “massa” é definida. Assim a Primeira Lei e a Segunda Lei não são “leis” no sentido usual; em vez disso, elas podem ser consideradas definições. Como comprimento, tempo, e massa são conceitos normalmente já entendidos, usamos a Primeira Lei e a Segunda Lei de Newton como a definição operacional de força. A Terceira Lei de Newton, contudo, é de fato uma lei. É uma afirmativa referente ao mundo físico real e contém toda a física presente nas leis de movimento de Newton. A Terceira Lei não é uma lei geral da natureza. A lei se aplica quando a força exercida por um objeto (ponto) sobre outro objeto (ponto) está dirigida ao longo da linha conectando os objetos. Tais forças são chamadas forças centrais. Aplica‐se a Terceira Lei se a força central é atrativa ou repulsiva. Força gravitacional e força eletrostática são forças centrais, de modo que as leis de Newton podem ser usadas em problemas envolvendo estes tipos de forças. Dois objetos pontuais conectados por uma mola elástica estão sujeitos a forças que obedecem a Terceira Lei de Newton. Qualquer força que depende das velocidades dos corpos interagindo é não central, e a Terceira Lei não se aplica. Forças dependentes da velocidade são características de interações que se propagam com velocidade finita. Assim a força entre cargas elétricas em movimento não obedecem a Terceira Lei de Newton, porque a força propaga‐se com a velocidade da luz. Mesmo a força gravitacional entre corpos em movimento é dependente da velocidade, mas o efeito é pequeno e difícil de detectar. Para demonstrar o significado da Terceira Lei de Newton, vamos parafraseá‐lo do seguinte modo, incorporando a definição apropriada de massa: 39 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI III’: Se dois corpos constituem um sistema ideal, isolado, então as acelerações destes corpos estão sempre em direções opostas, e a razão dos módulos das acelerações é constante. Esta razão constante é o inverso da razão entre as massas dos corpos. Com esta afirmativa, podemos dar uma definição pratica de massa e, portanto fornecemos um significado preciso às equações resumindo a dinâmica Newtoniana. Para dois corpos isolados, 1 e 2, a Terceira Lei afirma que ܨԦଵ ൌ െܨԦଶ ሺ2.3ሻ Usando a definição de força como dada pela Segunda Lei de Newton, temos ݀Ԧଵ ݀ݐ ൌ െ ݀Ԧଶ ݀ݐ ሺ2.4ܽሻ ou, com massas constantes, ݉ଵ ݀ݒԦଵ ݀ݐ ൌ െ݉ଶ ݀ݒԦଶ ݀ݐ ሺ2.4ܾሻ e, porque a aceleração é a derivada temporal da velocidade, ݉ଵሺ Ԧܽଵሻ ൌ ݉ଶሺെ Ԧܽଶሻ ሺ2.4ܿሻ Daí, ݉ଶ ݉ଵ ൌ െ ܽଵ ܽଶ ሺ2.5ሻ onde o sinal negativo indica apenas que os dois vetores aceleração são direcionados opostamente. Massa é considerada uma quantidade positiva. Podemos sempre selecionar, digamos ݉ଵ como a massa unitária. Então, comparando a razão entre as acelerações quando ݉ଵ é permitido interagir com qualquer outro corpo, podemos determinara massa do outro corpo. Para medir as acelerações, devemos ter relógios e bastões de medidas apropriados; também, devemos escolher sistemas de coordenadas ou referenciais adequados. A questão de um “sistema de referencia adequado” será discutida na próxima seção. Um dos métodos mais comuns para determinar a massa de um objeto é através da pesagem – por exemplo, comparando seu peso aquele de um padrão por meio de uma balança de braços. Este procedimento faz uso do fato que em um campo gravitacional o peso de um 40 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI corpo é justamente a força gravitacional agindo sobre o corpo; isto é, a equação de Newton ܨԦ ൌ ݉ Ԧܽ torna‐se ܹ ൌ ݉ Ԧ݃, onde Ԧ݃ é a aceleração devido a gravidade. A validade de uso deste procedimento apóia‐se sobre a suposição fundamental: que a massa ݉ que aparece na equação de Newton e definida de acordo com a definição III’ é igual à massa ݉ que aparece na equação da força gravitacional. Estas duas massas são chamadas massa inercial e massa gravitacional,respectivamente. Massa Inercial é aquela massa determinando a aceleração de um corpo sob a ação de uma dada força e Massa Gravitacional é aquela massa determinando as forças gravitacionais entre um corpo e outros corpos. Galileu foi o primeiro a testar a equivalência da massa inercial e massa gravitacional em seu experimento (talvez apócrifo) com pesos caindo da Torre de Pisa. Newton também considerou o problema e mediu os períodos de pêndulos de comprimentos iguais, mas com peso de pendulo de materiais diferentes. Nem Newton nem Galileu encontraram qualquer diferença, mas os métodos eram completamente grosseiros. Em 1890 Eötvös desenvolveu um método engenhoso para testar a equivalência de massa inercial e massa gravitacional. Experimentos mais recentes melhoraram a precisão, e sabemos agora que massa inercial e massa gravitacional são idênticas dentro de algumas partes em 10ଵଶ. Este resultado é consideravelmente importante na teoria da relatividade. A asserção da igualdade exata de massa inercial e massa gravitacional é chamada o princípio de equivalência. A Terceira Lei de Newton é afirmada em termos de dois corpos que constituem um sistema isolado. É impossível atingir tal condição ideal, todo corpo no universo interage com algum outro corpo, embora a força de interação seja tão fraca para ser de alguma importância prática quando grandes distancias estão envolvidas. Outra interpretação da Terceira Lei de Newton é baseada no conceito de momento. Rearranjando a Equação 2.4a obtém‐se ݀ ݀ݐ ሺԦଵ Ԧଶሻ ൌ 0 ou Ԧଵ Ԧଶ ൌ ܿ݊ݏݐܽ݊ݐ݁ ሺ2.6ሻ A afirmativa que momento é conservado na interação isolada de duas partículas é um caso especial daquele mais geral, a conservação do momento linear. Físicos tratam com carinho leis gerais, e a conservação do momento linear é acreditada sempre ser obedecida. 41 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI 2.3. Sistemas de Referência Newton observou que, apara as leis de movimento ter significado, o movimento dos corpos deveriam ser medidos relativos a algum sistema de referencia. Um sistema de referencia é chamado um referencial inercial se as leis de Newton são de fato válidas naquele sistema; isto é, se um corpo sujeito a nenhuma força externa move‐se em linha reta com velocidade constante (ou permanece em repouso), então o sistema de coordenadas que confirma este fato é um sistema de referência inercial. Esta é uma definição operacional nítida e que também segue da teoria geral da relatividade. Se as leis de Newton são válidas em um sistema de referencia, então elas são válidas também em qualquer sistema de referencia em movimento uniforme (isto é, não acelerado) com respeito ao primeiro sistema. Este é um resultado decorrente do fato que a equação ܨԦ ൌ ݉ݎԦሷ envolve a segunda derivada temporal de ݎԦ: Uma mudança de coordenadas envolvendo uma velocidade constante não influencia a equação. Este resultado é chamado de invariância Galileana ou o princípio da relatividade de Newton. A teoria da relatividade tem nos mostrado que os conceitos de repouso absoluto e sistema de referencia inercial absoluto são sem significado. Portanto, mesmo que convencionalmente adotemos um sistema de referência descrito com respeito às estrelas “fixas” –e, de fato, em tal referencial as equações newtonianas são válidas com alto grau de precisão – tais referenciais não são, de fato, um referencial inercial absoluto. Podemos, contudo, considerar as “estrelas fixas” para definir um sistema de referência que se aproxima do referencial inercial “absoluto” em um grau completamente suficiente para nossos propósitos presentes. Embora o sistema de referência das estrelas fixas seja um sistema convenientemente definível e adequável para muitos propósitos, devemos enfatizar que a definição fundamental de um referencial inercial não faz menção às estrelas, fixas ou outras. Se um corpo sujeito a nenhuma força move‐se com velocidade constante em um sistema de coordenadas, aquele sistema é, por definição, um referencial inercial. Porque precisamente descrevendo o movimento de um objeto físico real no mundo físico real é normalmente difícil, usualmente recorremos a idealizações e aproximações de graus variáveis; isto é, ordinariamente desprezamos as forças menores sobre um corpo se estas forças não afetam significativamente o movimento do corpo. 42 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI FIGURA 2‐1 Nós escolhemos descrever o caminho de uma partícula livre movendo‐se ao longo do caminho AC em um sistema de coordenadas retangulares cuja origem sem move em um círculo. Tal sistema não é um sistema de referência inercial. Se desejarmos descrever o movimento de, digamos uma partícula livre e se escolhermos para este propósito algum sistema de coordenadas em um referencial inercial, então exigiremos que a equação de movimento (vetorial) da partícula será independente da posição da origem do sistema de coordenadas e independente de sua orientação no espaço. Exigimos, além disso, que o tempo seja homogêneo; isto é, uma partícula livre movendo‐se com uma dada velocidade constante no sistema de coordenadas durante um dado intervalo de tempo não deve, duranteum intervalo de tempo posterior, ser encontrado em movimento com uma velocidade diferente. Podemos ilustrar a importância destas propriedades seguindo exemplos. Considere, como na Figura 2‐1, uma partícula livre movendo‐se ao longo de um dado caminho ܣܥ. Para descrever o movimento da partícula escolhemos um sistema de coordenadas retangular cuja origem move‐se em um círculo, como mostra a Figura 2‐1. Por simplicidade, seja a orientação dos eixos fixa no espaço. A partícula move‐se com velocidade ݒԦ relativo a um sistema de referencia inercial. Se o sistema de coordenadas move‐se com velocidade linear ݒԦ quando no ponto B, e se ݒԦ ൌ ݒԦ, então para um observador no sistema de coordenadas em movimento a partícula (em ܣ) parecerá está em repouso. Em algum tempo depois, contudo, quando a 43 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI partícula está em ܥ e o sistema de coordenadas está em ܦ, a partícula parecerá acelerar com respeito ao observador. Devemos, portanto, concluir que o sistema de coordenadas girante não se qualifica como um sistema de referencia inercial. Estas observações não são suficientes para decidir se o tempo é homogêneo. Para chegar a tal conclusão, repetidas medidas devem ser feitas em situações idênticas em vários tempos; resultados idênticos indicariam a homogeneidade do tempo. As equações de Newton não descrevem o movimento de corpos em sistemas não inerciais. Podemos imaginar um método para descrever o movimento de uma partícula por um sistema de coordenadas girante, mas, as equações resultantes contêm vários termos que não aparecem na equação de movimento simples ܨԦ ൌ ݉ Ԧܽ. Para o momento, então, restringiremos nossa atenção a sistema de referencia inercial para descrever a dinâmica das partículas. 2.4. Equação de Movimento para uma Partícula A equação de Newton ܨԦ ൌ ݀Ԧ/݀ݐ pode ser expressa alternativamente como ܨԦ ൌ ݀ ݀ݐ ሺ݉ݒԦሻ ൌ ݉ ݀ݒԦ ݀ݐ ൌ ݉ݎԦሷ ሺ2.7ሻ se fizermos a suposição que a massa ݉ não varia com o tempo. Esta é uma equação diferencial de segunda ordem que pode ser integrada para determinar ݎԦൌ ݎԦሺݐሻ se a função ܨԦ é conhecida. Especificando os valores iniciais de ݎԦ e ݎԦሶ ൌ ݒԦ então nos permite calcular as duas constantes arbitrárias de integração. Então determinamos o movimento de uma partícula em função da força ܨԦ e dos valores iniciais da posição ݎԦ e velocidade ݒԦ. A força ܨԦ pode ser uma função de qualquer combinação de posição, velocidade, e tempo e é geralmente denotada como ܨԦሺݎԦ, ݒԦ, ݐሻ. Para um dado sistema dinâmico, normalmente desejamos conhecer ݎԦ e ݒԦ como função do tempo. Resolver a Equação 2.7 ajuda‐nos a fazer isto resolvendo para ݎԦሷ. A aplicação da Equação 2.7 a situações físicas é uma parte importante da mecânica. Neste capítulo, examinaremos vários exemplos importantes nos quais a função força é conhecida. Iniciamos olhando em funções forças simples (ou constante ou dependente apenas de ݎԦ, ݒԦ, e t) apenas em uma dimensão espacial como uma revisão de cursos de física anteriores. É importante para formar bons hábitos em resolver problemas. Aqui estão algumas técnicas úteis para resolver problemas. 44 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI 1. Faça um esboço do problema, indicando forças, velocidades, e assim por diante. 2. Escreva abaixo as quantidades dadas. 3. Escreva abaixo as equações úteis e o que deve ser determinado. 4. Que estratégias e princípios de física devem ser usados para manipular as equações para determinar as quantidades procuradas. Manipulações algébricas bem como a diferenciações ou integrações são usualmente exigidas. Algumas vezes cálculos numéricos usando um computador são os métodos de solução mais fáceis, se não o único. 5. Finalmente, coloque nos valores reais para os nomes de variáveis assumidas para determinar a quantidade procurada. Primeiro consideremos o problema de um bloco deslizando sobre um plano inclinado. O ângulo do plano inclinado é ߠ e a massa do bloco é 10 ݃. O esboço do problema é mostrado na Figura 2‐2a. Exercício resolvido 2.1. Se um bloco desliza sem atrito para baixo de um plano inclinado fixo, fazendo 30 com a horizontal, que é a aceleração do bloco? Solução. As duas forças sobre o bloco (veja Figura 2‐2a): a força gravitacional ܨԦ e a força normal ao plano ሬܰሬԦ empurrando o bloco para cima (sem atrito neste exemplo). O bloco está vinculado a permanecer sobre o plano, e a única direção que o bloco pode se mover é na direção ݔ, para 45 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI cima e para baixo no plano. Tomaremos a direção ݔ apontando para baixo no plano. A força total ܨԦ௧௧ é constante; a Equação 2.7 torna‐se ܨԦ௧௧ ൌ ܨԦ ሬܰሬԦ e porque ܨԦ௧௧ é a força resultante agindo sobre o bloco, ܨԦ௧௧ ൌ ݉ݎԦሷ ou ܨԦ ሬܰሬԦ ൌ ݉ݎԦሷ ሺ2.8ሻ Este vetor deve ser aplicado em duas direções: ݔ e ݕ (perpendicular a ݔ). A componente de força na direção ݕ é zero, porque nenhuma aceleração ocorre nesta direção. A força ܨԦ está dividida vetorialmente em suas componentes ݔ e ݕ (linhas tracejadas na Figura 2‐ 2a). A Equação 2‐8 torna‐se direçãoݕ െܨ cos ߠ ܰ ൌ 0 ሺ2.9ሻ direçãoݔ ܨ sen ߠ ൌ ݉ݔሷ ሺ2.10ሻ com o resultado exigido ݔሷ ൌ ܨ ݉ sen ߠ ൌ ݉݃ sen ߠ ݉ ൌ ݃ sen ߠ ݔሷ ൌ ݃ sen 30 ൌ ݃ 2 ൌ 4,9 ݉ݏଶ ሺ2.11ሻ Portanto a aceleração do bloco é uma constante. Podemos determinar a velocidade do bloco após ele mover‐se do repouso por uma distancia ݔ para baixo do plano multiplicando a Equação 2.11 por 2ݔሶ e integrando 2ݔሶݔሷ ൌ 2ݔሶ݃ sen ߠ ݀ ݀ݔ ሺݔሶ ଶሻ ൌ 2݃ sen ߠ ݀ݔ ݀ݐ 46 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI න ݀ሺݔሶ ଶሻ ௩బ మ ൌ 2݃ sen ߠන ݀ݔ ௫బ Em ݐ ൌ 0, ambos ݔ ൌ ݔሶ ൌ 0, e, em ݐ ൌ ݐ, ݔ ൌ ݔ, e a velocidade ݔሶ ൌ ݒ. ݒ ଶ ൌ 2݃ sen ߠ ݔ ݒ ൌ ඥ2݃ sen ߠ ݔ Exercício Resolvido 2.2. Se o coeficiente de atrito estático entre o bloco e o plano no exemplo anterior é ߤ௦ ൌ 0,4, a partir de que ângulo ߠ o bloco começa a deslizar se ele inicialmente encontra‐se em repouso? Solução. Necessitamos de um novo esboço para indicar a força de atrito adicional݂ (veja a Figura 2‐2b). A força de atrito estático possui o valor máximo aproximado ݂௫ ൌ ߤ௦ܰ ሺ2.12ሻ e a Equação 2‐7 torna‐se, em forma de componentes, direçãoݕ െܨ cos ߠ ܰ ൌ 0 ሺ2.13ሻ direçãoݔ ௦݂ െ ܨ sen ߠ ൌ ݉ݔሷ ሺ2.14ሻ A força de atrito estático ௦݂ será algum valor ௦݂ ݂௫ exigido para manter ݔሷ ൌ 0 – isto é, para manter o bloco em repouso. Contudo, quando o ângulo ߠ do plano aumenta, eventualmente a força de atrito estático será incapaz de manter o bloco em repouso. Quando atinge este ângulo ߠᇱ, ௦݂, torna‐se ௦݂ሺߠ ൌ ߠԢሻ ൌ ݂௫ ൌ ߤ௦ܰ ൌ ߤ௦ܨ cos ߠ e 47 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI ݉ݔሷ ൌ ܨ sen ߠ െ ݂௫ ݉ݔሷ ൌ ܨ sen ߠ െ ߤ௦ܨ cos ߠ ݔሷ ൌ ݃ሺsen ߠ െ ߤ௦ cos ߠሻ ሺ2.15ሻ Exatamente antes que o bloco comece a deslizar a aceleração ݔሷ ൌ 0, forma que sen ߠ െ ߤ௦ cos ߠ ൌ 0 tan ߠ ൌ ߤ௦ ൌ 0,4 ฺ ߠ ൌ tanିଵሺ0,4ሻ ൌ 22 Exercício Resolvido 2.3. Após o bloco, do exemplo anterior, começar a deslizar, o coeficiente de atrito cinético (deslizamento) torna‐se ߤ ൌ 0,3. Determine a aceleração para o ângulo ߠ ൌ 30. Solução. Similarmente ao Exemplo 2.2, o atrito cinético torna‐se (aproximadamente) ݂ ൌ ߤܰ ൌ ߤܨ cos ߠ ሺ2.16ሻ e ݉ݔሷ ൌ ܨ sen ߠ െ ݂ ൌ ݉݃ሺsen ߠ െ ߤ cos ߠሻ ሺ2.17ሻ ݔሷ ൌ ݃ሺsen ߠ െ ߤ cos ߠሻ ൌ 0,24݃ ሺ2.18ሻ Geralmente, a força de atrito estático ( ݂௫ ൌ ߤ௦ܰ) é maior que aquela de atrito cinético ( ݂ ൌ ߤܰ). Isto pode ser observado em um experimento simples. Se abaixarmos o ângulo ߠ além de 16,7, determinamos que ݔሷ ൏ 0, e o bloco eventualmente para. Se levantarmos o bloco de volta até acima de 16,7, observaremos que o bloco não começa a deslizar novamente até que ߠ 22 (Exercício resolvido 2.2). O atrito estático determina quando ele inicia novamente o movimento. Não existe uma aceleração descontinua quando o bloco começa a se movimentar, devido a diferença entre ߤ௦ e ߤ. Para baixas velocidades, o coeficiente de atrito muda mais ou menos rapidamente de ߤ௦ para ߤ. O tema referente a atrito é ainda uma área de pesquisa interessante e importante. Existem ainda surpresas. Por exemplo, mesmo que se calcule o valor absoluto da força de atrito como ݂ ൌ ߤܰ, pesquisas têm mostrado que a força de atrito é diretamente 48 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI proporcional, não a carga, mas à área microscópica de contato entre os dois objetos (como oposto a área de contato aparente). Usaremos ߤܰ como uma aproximação porque, quando ܰ aumenta, assim faz a área de contato real em nível microscópico. Por centenas de anos antes de 1940, foi aceito que a carga – e não a área – era diretamente responsável. Também se acreditava que a força de atrito estático é maior que aquela de atrito cinético porque a ligação entre os átomos dos dois objetos não possuem o mesmo tempo para desenvolver‐se no movimento cinético. Efeito de Forçasde Resistência Devemos enfatizar que a força ܨԦ na Equação 2.7 não é necessariamente uma constante, e de fato, ela pode consistir de varias partes distintas, como visto nos exemplos anteriores. Por exemplo, se a partícula cai em um campo gravitacional constante, a força gravitacional é ܨԦ ൌ ݉ Ԧ݃, onde Ԧ݃ é a aceleração da gravidade. Se, além disso, uma força de resistênciaܨԦ existe e é alguma função da velocidade instantânea, então a força total é ܨԦ ൌ ܨԦ ܨԦ ൌ ݉ Ԧ݃ ܨԦሺݒሻ ሺ2.19ሻ Com frequência é suficiente considerar que ܨԦሺݒሻ é simplesmente proporcional a alguma potência do módulo da velocidade. Em geral, forças de arraste reais são mais complicadas, mas a aproximação de lei de potência é útil em muitos exemplos em que o módulo da velocidade não varia muito. Para enfatizar ainda mais este ponto, se ܨ ן ݒ, então a equação de movimento pode usualmente ser integrada diretamente, enquanto, se a dependência verdadeira com a velocidade fosse usada, provavelmente seria necessária integração numérica. Com a aproximação de lei de potência, podemos então escrever ܨԦ ൌ ݉ Ԧ݃ െ ݉݇ݒ ݒԦ ݒ ሺ2.20ሻ onde݇ é uma constante positiva que especifica a intensidade da força de arraste e onde ݒԦ/ݒ é um vetor unitário na direção de ݒԦ. Experimentalmente, determinamos que, para um objeto relativamente pequeno movendo‐se no ar, ݊ ؆ 1 para velocidades menores que aproximadamente 24 ݉/ݏ (~80 ݂ݐ/ݏ). Para velocidades mais altas, porém abaixo da velocidade do som (~300 ݉/ݏ ou 1.100 ݂ݐ/ݏ), a força de arraste é aproximadamente proporcional ao quadrado da velocidade. Por simplicidade, a dependência ݒଶ é usualmente tomada para velocidades até a velocidade do som. 49 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI FIGURA 2‐3 (a) Forças aerodinâmicas atuando sobre projétil. ሬܹሬሬԦ é o arraste (força de resistência do ar) e é oposto a velocidade do projétil ݒԦ. Observe que ݒԦ pode fazer um ângulo ߙ com o eixo de simetria do projétil. A componente de força agindo perpendicular ao arraste é chamada a força de sustentação ܮሬԦ. O ponto ܦ é o centro de pressão. Finalmente, a força gravitacional ܨԦ age para baixo. Se o centro de pressão não está no centro de massa do projétil, existe também um torque em torno do centro de massa. (b) O coeficiente de arraste ܿௐ, da lei de resistência de Rheinmetall (Rh82), é representado em gráfico versus o número March ܯ. Observe a grande variação próxima à velocidade do som, onde ܯ ൌ 1. (c) A força de resistência do ar ܹ (arraste) é mostrada como função da velocidade para um projétil de diâmetro igual a 10 ܿ݉. Observe à inflexão próxima a velocidade do som. (d) O mesmo que em (c) para velocidades mais altas. O efeito da resistência do ar é importante para uma bola de ping‐pong golpeada violentamente para um oponente, uma bola de beisebol voando alto quando golpeada fortemente para fora do campo, o arremesso da bola de golfe, granadas de morteiro lançadas contra o inimigo. Tabulações extensivas foram feitas para balísticas militares de projeteis, de vários tipos, para a velocidade como função do tempo de voo. Existem várias forças sobre um projétil real em voo. A força de resistência do ar é chamada o arraste ሬܹሬሬԦ e é oposta a velocidade do projétil como mostrado na Figura 2‐3a. A velocidade ݒԦ normalmente não está ao longo do eixo de simetria da casca do projétil. A componente de força agindo perpendicular ao 50 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI arraste é chamada a força de sustentação ܮሬԦ. Pode existir também várias outras forças devido à rotação e oscilação do projétil, e o calculo da trajetória balística do projétil é muito complexo. A expressão de Prandtl para a resistência do ar é ܹ ൌ 1 2 ܿௐߩܣݒଶ ሺ2.21ሻ ondeܿௐ é o coeficiente de arraste adimensional, ߩ é a densidade do ar, ݒ é a velocidade, e ܣ é a área da secção reta do objeto (projétil) medida perpendicular à velocidade. Na Figura 2‐3b, traçamos o gráfico de ܿௐ para alguns valores típicos da velocidade, e nas Figuras 2‐3c e d são apresentados os gráficos da resistência do ar ܹ, calculada usando a Equação 2.21 para um projétil de diâmetro igual a 10 ܿ݉ e usando os valores de ܿௐ mostrados. A resistência do ar aumenta dramaticamente próxima a velocidade do som (numero Mach ܯ ൌ ݒ݈݁ܿ݅݀ܽ݀݁/ ݒ݈݁ܿ݅݀ܽ݀݁ ݀ ݏ݉). Para velocidades menores que 400 ݉/ݏestá evidente que é necessário uma equação, no mínimo, do segundo grau para descrever a força de resistência do ar. Para velocidades mais altas, a força de resistência varia aproximadamente de forma linear com a velocidade. A seguir vamos discutir alguns exemplos envolvendo a presença de forças de resistência . Em algumas situações há a necessidade do desenvolvimento de cálculos numéricos. Exercício Resolvido 2.4. Como o exemplo mais simples do movimento de uma partícula com resistência, encontramos o deslocamento e velocidade do movimento horizontal em um meio no qual a força de oposição ao movimento é proporcional ao modulo da velocidade. Solução. Um esboço do problema é mostrado na Figura 2‐4. A equação Newtoniana ܨ ൌ ݉ܽ nos dá a equação de movimento: direção x ݉ܽ ൌ ݉ ݀ݒ ݀ݐ ൌ െ݇݉ݒ ሺ2.22ሻ onde݇݉ݒ é o modulo da força de resistência (݇ ൌ ܿ݊ݏݐܽ݊ݐ݁). Não estamos inferindo por esta forma que a forças de resistência depende da massa ݉; esta forma simplesmente torna a matemática mais fácil. Então 51 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI FIGURA 2‐4 Exercício resolvido 2.4 න ݀ݒ ݒ ൌ െ݇න݀ݐ ln ݒ ൌ െ݇ݐ ܥଵ ሺ2.23ሻ A constante de integração na Equação 2.23 pode ser calculada se atribuímos a condição inicial ݒሺݐ ൌ 0ሻ ؠ ݒ. Segue que ܥଵ ൌ ln ݒ, e ݒ ൌ ݒ݁ି௧ ሺ2.24ሻ Podemos integrar esta equação para obter o deslocamento ݔ como função do tempo: ݒ ൌ ݀ݔ ݀ݐ ൌ ݒ݁ି௧ ݔ ൌ ݒ න݁ି௧݀ݐ ൌ െ ݒ ݇ ݁ି௧ ܥଶ ሺ2.25ܽሻ A condição inicial ݔሺݐ ൌ 0ሻ ؠ 0 implica que ܥଶ ൌ ݒ/݇. Portanto ݔ ൌ ݒ ݇ ൫1 െ ݁ି௧൯ ሺ2.25ܾሻ Este resultado mostra que ݔ aproxima‐se assintoticamente do valor ݒ/݇ quando ݐ ՜ ∞. Podemos também obter a velocidade como função de deslocamento escrevendo ݀ݒ ݀ݔ ൌ ݀ݒ ݀ݐ ݀ݐ ݀ݔ ൌ ݀ݒ ݐ · 1 ݒ de forma que ݒ ݀ݒ ݀ݔ ൌ ݀ݒ ݀ݐ ൌ െ݇ݒ ou 52 Mecânica Clássica – EaD ‐ UAPI FIGURA 2‐5 Exemplo 2‐5 ݀ݒ ݀ݔ ൌ െ݇ de onde determinamos, usando as mesmas condições iniciais, ݒ ൌ ݒ െ ݇ݔ ሺ2.26ሻ Portanto, a velocidade diminui linearmente com o deslocamento. Exercício resolvido 2.5. Determine o deslocamento e velocidade de uma partícula sofrendo movimento vertical em um meio tendo forças de resistência proporcional à velocidade. Solução. Consideremos que a partícula está caindo apontando para baixo com uma velocidade inicial ݒ de uma altura ݄ em um campo gravitacional constante (Figura 2‐5). A equação de movimento é direção z ܨ ൌ ݉ ݀ݒ ݀ݐ ൌ െ݉݃ െ ݇݉ݒ ሺ2.27ሻ onde – ݇݉ݒ representa uma força positiva apontando para cima desde que tomamos
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