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HIST DOS POVOS INDIG E AFRO AULAS 1 A 10

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HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS E AFRO DESCENDENTES 
AULA 1 - O IMPACTO CULTURAL DO CONTATO ENTRE EUROPEUS E ÍNDIOS. O SÉCULO XVI
Quando os portugueses chegaram ao que hoje se conhece como Brasil, não encontraram o ouro e a prata tão sonhados no Velho Continente, nem reinos perdidos habitados por ciclopes e figuras que assinalavam a força que o paganismo ainda exercia na mentalidade dos povos fervorosamente cristãos da Península Ibérica. Mas assim como os espanhóis - oito anos antes - a frota comandada por Pedro Álvares Cabral encontrou um Novo Mundo. Assim como testemunhado por Pero Vaz de Caminha, esse Novo Mundo era habitando por homens e mulheres pardos, que andavam nus e que não se importavam em cobrir suas vergonhas.
A DIFERENCIAÇÃO DOS ÍNDIOS PELO PORTUGUESES
Os indígenas que habitavam a “recém descoberta portuguesa” e eram muito mais diversos do que os lusitanos haviam imaginado. Após os contatos iniciais, os colonos portugueses acabaram fazendo uma distinção da população indígena em dois grandes grupos. 
TUPI-GUARANI
O primeiro, conhecido como tupi-guarani graças às semelhanças linguísticas observadas abarcava uma série de sociedades que vivia na extensa região litorânea desde São Vicente (no sul) até o Maranhão. Tupinambás, tupiniquins, tupinaê e guaranis são exemplos de sociedades indígenas que faziam parte da família linguística tupi-guarani.
TAPUIAS
No outro grupo, estavam os tapuias (palavra tupi que significa os “fugidos da aldeia”, ou “aqueles de língua enrolada”) que ocupavam regiões mais interioranas. Ao que tudo indica, os portugueses acabaram se apropriando da diferenciação que os tupis-guaranis faziam em relação aos grupos que não faziam parte da sua matriz linguística, colocando sob a mesma nomenclatura sociedades indígenas extremamente diversas como os cariris, jês e os caraíbas.
Ao descrever os aimorés (um dos tantos povos classificados como tapuias), o português Gabriel Soares de Souza disse:
“Descendem estes aimorés de outros gentios a que chamam tapuias, dos quais nos tempos de atrás se ausentaram certos casais, e foram-se para umas serras mui ásperas, fugindo a um desbarate, em que os puseram seus contrários, onde residiram muitos anos sem verem outra gente; e os que destes descenderam, vieram a perder a linguagem e fizeram outra nova que se não entende de nenhuma outra nação do gentio de todo este Estado do Brasil.”
Gabriel Soares de Souza, Tratado descritivo do Brasil (1587, pp.78-79).
Dentre os tupis-guaranis, a sociedade tupinambá acabou tornando-se uma das mais conhecidas, graças ao intenso contato com os portugueses durante os séculos XVI e XVII. O historiador Stuart Schwartz salientou que os tupinambás viviam em aldeias que possuíam de quatrocentos a oitocentos indivíduos. Tais aldeias eram divididas em unidades familiares que viviam em até oito malocas. As unidades familiares, por sua vez, estavam estruturadas pelo parentesco familiar e obedeciam à divisão sexual do trabalho: grosso modo, aos homens cabiam às atividades de caça, pesca e de guerra, e às mulheres o cuidado com a agricultura e com a casa.
A agricultura era uma prática que diferenciava os tupinambás dos demais povos tupis-guaranis. Para preparar o solo para a semeadura, os tupinambás desenvolveram uma técnica que rapidamente foi incorporada pelos colonos portugueses: a coivara. Essa técnica consistia na abertura de clareiras em determinadas áreas florestais, que em seguida eram queimadas. As cinzas resultantes desse processo eram utilizadas como fertilizantes do solo que, em seguida, era semeado pelas mulheres da aldeia. Dentre os gêneros cultivados estavam: o feijão, milho, abóbora, algumas frutas e, principalmente, a mandioca - base da alimentação tupinambá e, mais tarde, de toda a colônia.
Outra característica marcante dos tupinambás era seu ímpeto guerreiro. A guerra tinha funções econômicas e simbólicas para esse povo, na medida em que viabilizava a obtenção de prisioneiros de guerra e a ampliação territorial, além de criar uma intricada rede de status que definia diversos aspectos da vida em sociedade, sobretudo os matrimônios.
Junto com a guerra, os tupinambás praticavam o canibalismo ritual que causou horror e curiosidade aos colonos portugueses. Baseado na cosmogonia tupinambá, o canibalismo era um ritual antropofágico, no qual o inimigo prisioneiro de guerra era (depois de uma iniciação), morto pela sociedade vitoriosa, e tinha suas partes distribuídas dentre os indivíduos do grupo vencedor. A ideia era se alimentar (simbolicamente) das características do oponente.
Antropofagia no Brasil em 1557, segundo descrição de Hans Staden.
Como sugerido há pouco, traçar padrões culturais e sociais dos tapuias é uma tarefa muito difícil, pois eles não formavam um grupo que se identificava como tal. Estudos recentes apontam que os tapuias pertenciam a diferentes troncos linguísticos, ou seja: eles eram os “não-tupis”, o que significa que eles eram muitas coisas. 
Um dos povos tapuias mais estudados é o aimoré devido à frequente resistência imposta ao aldeamento e catequese portuguesa. Pertencentes ao grupo etnográfico jê, os aimorés, também conhecidos como botocudos, habitavam o que hoje é o Estado do Espírito Santo e o Sul da Bahia. 
Eram seminômades, não praticavam a agricultura e tinham uma vida bélica muito desenvolvida; o que só se intensificou com a chegada dos portugueses. A relação entre colonos e aimorés foi tão estremecida que, além de protagonizarem uma das mais importantes rebeliões indígenas da história brasileira (a Confederação dos Tamoios), os aimorés foram os únicos que estavam excluídos da proteção contra a escravização do gentio, promulgada pela Coroa portuguesa em 1570.
 Todavia, durante muitos anos, a diversidade indígena e a própria Ilha de Vera Cruz, pareciam não ter despertado o interesse da Coroa portuguesa. Como apontou Manuela Carneiro da Cunha: “todo o interesse, todo o imaginário português se concentra, à época, nas índias, enquanto espanhóis, franceses, holandeses, ingleses estão fascinados pelo Novo Mundo” (CUNHA, 1990, p.92). Foi justamente esse encantamento que fundamentou a construção das primeiras imagens europeias sobre a nova humanidade que se apresentava. Foi justamente esse encantamento que fundamentou a construção das primeiras imagens europeias sobre a nova humanidade que se apresentava. 
A inocência e a ausência de elementos fundamentais que – na perspectiva europeia – balizavam a noção de civilização marcaram os primeiros escritos sobre os índios. A despreocupação com a nudez foi reiterada diversas vezes na Carta de Pero Vaz de Caminha, indicando que esses homens e mulheres andavam nus por lhes faltarem a ideia de vergonha. O mesmo Caminha, assim como Vespucci e, mais tarde, Gândavo e Gabriel Soares de Souza ficou surpreso com o fato dos tupis não terem em seu alfabeto as letras F, L e R.
Segundo esses homens, essa ausência era a comprovação de que os índios viviam sem Justiça e na maior desordem, pois “se não tem F, é porque não tem fé em nenhuma coisa que adorem (...). Se não tem L na sua pronunciação, é porque não tem lei alguma que guardar, nem preceitos para se governarem; e cada um faz a lei a seu modo (...). E se não tem esta letra R na sua pronunciação, é porque não tem rei que os reja, e a quem obedeçam.” (SOUSA, 1971 (1587), p.302)
A CATEQUIZAÇÃO DOS ÍNDIOS
As constatações apontadas na tela anterior serviram como norte para a atuação dos religiosos europeus. Se por um lado a Coroa portuguesa só passou a se importar efetivamente com sua colônia americana a partir de 1530, desde os primeiros anos de contato, diversos religiosos, sobretudo os jesuítas, iniciaram um intenso trabalho com os grupos indígenas, conhecido como catequese. Em um primeiro momento, os jesuítas visitavam as aldeias a fim de conhecer um pouco mais sobre cultura, hábitos e língua dos índios, aproveitando a oportunidade para fazer pregações e alguns batismos.
Feito o contato inicial, os jesuíta passaram para o segundo estágio da catequese: a conversão,propriamente dita, dos índios. Para tanto, os missionários organizaram os povos indígenas em aldeamentos. O objetivo principal era incutir nesses índios valores e práticas europeias. Desse modo, os índios aldeados eram batizados, também recebiam os primeiros ensinamentos católicos, além de aprender a ler e escrever.
Segundo os jesuítas, o aldeamento era fundamental, pois apenas essa estrutura permitia que os índios, de fato, tivessem um canto sistemático com os preceitos cristãos. O padre Manoel da Nóbrega foi um dos que defendeu abertamente os aldeamentos, pois, segundo ele, os índios eram tão instáveis que, com a mesma facilidade que eram convertidos, voltavam para “sua rudeza e bestialidade”. Para facilitar a aprendizagem, muitos jesuítas recorreram às encenações teatrais, o que deu origem a um dos primeiro gêneros literários do Brasil.
Nos aldeamentos, os índios ainda eram treinados para exercer ofícios, como tecelões, carpinteiros e ferreiros. Depois do treino, muitos iam trabalhar para os colonos sob a tutela dos jesuítas - que eram responsáveis, inclusive, pela definição do pagamento dos índios aldeados. Em muitos casos, os aldeamentos acabavam se transformando em pequenas unidades econômicas, cuja principal mão-de-obra era a indígena. Após a missa, muitos índios iam trabalhar na lavoura que garantia a subsistência de todos. Os aldeamentos também tinham como objetivo acabar com a poligamia indígena e com a liberdade sexual que existia em diferentes sociedades, incutindo o modelo cristão de família.
Como a preocupação maior era a conversão dos índios, os aldeamentos recebiam indivíduos dos mais diferentes grupos e sociedades. Dessa convivência surgiu a língua geral (baseada no tupi) que, durante muitos anos, foi a mais falada em toda a colônia. Esse convívio mais intenso também possibilitou um conhecimento mais aprofundado dos povos indígenas.
As diferenças sociais e culturais existentes entre os grupos indígenas - ilustradas com os exemplos dos tupinambás e dos aimorés - exerceram grande influência nas relações que esses grupos estabeleceram com os portugueses durante os primeiros anos de contato, e foram fundamentais na construção da tipologia indígena pelos mesmos colonos.
Essas obras, feitas pelo pintor neerlandês Albert Eckhout (1610-1666), são documentos que ajudam a analisar de forma eficiente as duas imagens de índio criadas pelos europeus durante os séculos XVI e XVII. As duas imagens retratam índios “brasileiros”, possivelmente guerreiros, já que ambos estão armados com arcos e flechas. No entanto, a composição das obras aponta que se tratavam de “tipos” distintos de índios. De um lado, está o tapuia, representado por um homem nu, com brincos e cocares que, em tese, seriam típicos desse povo. Do outro, vê-se um índio tupi, que já tem suas vergonhas escondidas e não utiliza nenhum adorno.
Observa-se então, que o tapuia representa o índio selvagem, que nu e enfeitados com plumas e penas, vive no meio da selva. Já o tupi aparece como o índio domesticado, aquele que é passível de salvação e que por isso mesmo, vive em outra “selva”; em uma floresta mais civilizada, na qual é possível (ao fundo) ver outros índios trabalhando. Como bem apontado por Manuela Carneiro da Cunha “Em 1500, Caminha viu “gente” em Vera Cruz. Falava-se então de homens e mulheres. O escambo povoou a terra de “brasis” e “brasileiros”. Os engenhos distinguiram o “gentio” insubmisso do “índio” e do “negro da terra” que trabalhavam. [...] Pelo fim do século, estão consolidadas, na realidade, duas imagens de índios que só muito tenuamente se recobrem...” (Cunha, 1990, p.109)
AULA 2 - O IMPACTO CULTURAL DO CONTATO ENTRE EUROPEUS E ÍNDIOS: O APRESAMENTO INDÍGENA
EXTRAÇÃO DE PAU-BRASIL NO SÉCULO XVI
Detalhe do mapa "Terra Brasilis" (Atlas Miller,1519). Biblioteca Nacional da França.
Como bem se sabe, Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil em 22 de abril de 1500. No entanto, durante os primeiro anos do século XVI, os portugueses estavam mais preocupados em participar do comércio feito no Oceano Índico, no qual produtos de grande valor como ouro, prata, seda e especiarias eram negociados. A Coroa portuguesa só foi se preocupar, de fato, com suas terras americanas a partir de 1530.
Dessa feita, os primeiros anos da presença portuguesa no Novo Mundo foram marcados pela atuação dos jesuítas na conversão dos grupos indígenas (por meio da catequese e do aldeamento) e de ações particulares de colonos portugueses que estavam interessados, sobretudo, na extração do pau-brasil, obtido por meio do trabalho indígena.
CAPITANIAS HEREDITÁRIAS
A partir de 1530, a concorrência do comércio do Índico trouxe inúmeros prejuízos aos portugueses, que também começavam a ter suas terras americanas invadidas por outras nações europeias. Era preciso efetivar a presença da Coroa lusitana no outro lado do Atlântico, a fim de garantir a posse de suas terras e de conseguir tirar mais proveito da recente aquisição.
A primeira medida tomada pela Coroa Portuguesa data de 1534. Nesse ano, a América Portuguesa foi dividia em dezesseis grandes faixas de terra chamadas de capitanias hereditárias.
Cada uma dessas capitanias seria doada pelo rei a um nobre português (chamado de donatário), que deveria construir vilas, arrecadar impostos e, principalmente, redistribuir a terra para quem pudesse cultivá-la. Muitos donatários não cumpriram suas obrigações, sendo que alguns chegaram a nunca colocar seus pés em terras brasileiras.
A ineficiência do sistema de capitanias fez com que o rei português tentasse outra forma de administração. Assim em 1548 foi instituído o governo-geral, uma tentativa de centralizar a administração da América portuguesa.
O PRIMEIRO GOVERNADOR GERAL
A fim de consolidar o dominio português no litoral, tomé de Souza foi nomeado como primeiro governador-geral do Brasil.
O primeiro goverandor-geral, Tomé de Souza,ficou responsavel pela construção da cidade de Salvador, na capitania da Bahia, que seria a sede do governo-geral.Além de ser um ponto relativamente ,mais próximo da metrópole, a capital colonial estava localizada em um ponto estratégico, perto das principais regiões produtoras de açucar – produto que anos mais tarde seria considerado o “ ouro branco” da colonia.Essa localiização facilitava o controle da produção e exportação do açucar, garantindo, assim , o exclusivismo da coroa portuguesa.
 
A MÃO –DE- OBRA ESCRAVA NOS ENGENHOS AÇUCAREIROS
Por questões geomorfológicas (solo fértil e água abundante) e por questões políticas, durante os séculos XVI e XVII, a produção açucareira concentrou-se nas capitanias do nordeste da colônia, principalmente na Bahia de todos os Santos e em Pernambuco. Nos primeiros anos da produção, os diferentes grupos indigenas compuseram parte significativa da mão de obra escrava dos engenhos açucareiros.Na realidade, o intervalo entre os anos de 1540 e 1570 marcou o apogeu da escravização indigena nesses engenhos.
No entanto a descorberta de uma nova humanidade criou debates filosoficos extremamnte profundos em toda a Europa.Os missionarios católicos e protestantes que haviam entrado em contato com os diferentes grupos indigenas das amércas, lideram discussões acerca da natureza desses homens e mulheres recem-descorbertos que marcaram o cenário intelectual do século XVI.
Seguindo as determinações tomadas pela própria igreja catóica, em 1570, a coroa portuguesa sancionou a lei que proibia a escravidão dos gentio – cujo fragmento vimos no inicio da aula.Com exceção feita aos aimorés – que se recusavam militarmente à conversção catolica, os indios ficavam sob a tutela da companhia de Jesus, não podendo mais servir como escravos noa engenhos de açúcar.
Os colonos que rumaram para outras capitanias, sobretudo aquelas localizadas ao sul da colônia, não respeitaram a lei de rei D. Filipe II. Se para a Coroa portuguesa e para os missionários jesuítas os índios passaram a ser vistos como gentios (ou seja, eram passíveis de salvação), para os colonos que viviam nas capitanias de SãoTomé e São Vicente os grupos autóctones rapidamente passaram a ser vistos como negros da terra. Nessas localidades, os indígenas foram escravizados sistematicamente e serviram como mão de obra fundamental na expansão territorial levada a cabo pelos colonos paulistas.
Ao analisar a relação entre índios e bandeirantes na origem de São Paulo, o historiador John Monteiro mostrou que a colonização foi um processo plural. Ainda que boa parte da América portuguesa tenha vivenciado experiências comuns advindas do encontro entre colonos e índios– encontro este que foi marcado pela desintegração de muitas sociedades indígenas e pelo processo de catequização daquelas que conseguiram sobreviver -, a partir de meados do século XVI, a relação entre ambos tomou rumos distintos.
No caso das capitanias do Sul, é possível afirmar que a Lei de Liberdade do Gentio (sancionada em 1570) foi letra morta. De acordo com Monteiro, entre os séculos XVI e XVIII era cada vez mais frequente o número de expedições que assaltavam aldeias indígenas transformando seus habitantes em braços para o “serviço obrigatório” (MONTEIRO: 1994, 57). Isso porque, diferentemente do que ocorria na região açucareira da colônia, os paulistas não se inseriram no circuito comercial Atlântico, procurando eles mesmos os braços que iriam trabalhar em suas lavouras. Ao invés de se lançarem para o mar, os paulistas se embrenharam sertão adentro.
As Expedições
O sonho do El Dorado que havia povoado a mente dos primeiros europeus que se lançaram ao mar no século XV, e que em parte havia se materializado em algumas regiões conquistadas pelos espanhóis (como Potosí), ainda acalentava o desejo de muitos colonos portugueses. Foi a procura por ouro e prata que fomentou as primeiras expedições para as regiões interioranas da colônia portuguesa. Entre os anos de 1591 e 1601, o governador-geral D. Francisco de Souza armou uma série de expedições em busca de metais preciosos.  A vertente paulista, chefiada por João Pereira Botafogo, conseguiu encontrar algumas minas próximas à cidade de São Paulo, reacendendo o sonho português. No entanto, as expedições subsequentes não corresponderam às expectativas criadas pelos colonos.
A ESCRAVIDÃO INDÍGENA
Ainda que o ouro e a prata não tenham sido encontrados em abundância, a experiência das expedições apresentou um produto extremamente interessante para os colonos: os escravos indígenas. Após terminar seu governo, D. Francisco voltou a Portugal com o intuito de colocar em prática um projeto que visava fomentar a economia das capitanias sulistas da colônia. Com inspiração no modelo da América espanhola, o objetivo era articular diferentes setores econômicos (mineração, agricultura e indústria), tendo como base o uso da mão-de-obra indígena (MONTEIRO: 1994, 59).
Uma vez mais, os colonos portugueses não lograram êxito em suas investidas. Mas a proposta do antigo governador acabou redimensionando os objetivos das expedições para o interior.  A busca por ouro deu lugar ao aprisionamento de índios. Embora os colonos utilizassem a procura por metais preciosos frente à Coroa portuguesa - que baixava inúmeras leis proibindo a escravização de indígenas – as expedições organizadas pelos colonos de São Paulo se transformaram em verdadeiras empreitadas escravizadoras.
A rentabilidade da venda dos indígenas escravizados era tamanha, que rapidamente criou-se uma intricada rede de negociações nas capitanias do sul. Praticamente toda a mão-de-obra dessa localidade da colônia era formada por índios escravizados. Os lucros eram tantos que pagavam os custos e riscos de expedições cada vez mais interioranas.
COLONOS X JESUÍTAS
Além das sociedade indigenas, os maiores opositores das expedições foram missionários e demais religiosos responsaveis pela evangelização dos indios.Apesar dos indigenas trabalherem em condições muito ruins nas missões e aldeamentos, ali não havia o discurso nem a prática efetiva da escravização.Nessas organizações,os indios recebiam instruções religiosas para que se convertessem ao cristianismo e passassem a seguir um padrão europeu de vida e de relação com o trabalho.Nenhuma dessas preocupações pautou a organizações das expedições nos sèculos XVII e XVIII.
Centenas de aldeias foram destruidas, e milhares de indios foram reduzidos ao cativeiro.segundo Monteiro, o padre Montoya afirmava que as expedições destruiram 11 missões, o que siginificava o apresamento de praticamente 50 mil índios.Ao descrever as expedições no rio de Janeiro, o padreLourenço de Mendonça apontou que 60 mil guaranis foram escravizados e levados para São Paulo(MONTEIRO:1994, 73-74).Tais índios eram utilizados, sobretudo, na reposiçaõ da força de trabalho da região sendo poucos os que seguiam para as lavouras de cana.
Graças às bandeiras que identificavam as expedições, as campanhas organizadas por colonos paulistas em busca de índios ficaram conhecidas como Movimento Bandeirante. O auge desse movimento em que bandeirantes como Antonio Raposo Tavares e Domingos Jorge Velho ganhavam reconhecimento em toda a colõnia.Jorge Velho foi, incluvise, convocado pela coroa portuguesa para sufocar a rebelião chefiada por Canindé (no Rio Grande),Além de ter sido um dos responsáveis pela desartirculação do Quilombo dos Palmares.
À medida que as bandeiras aumentavam, crescia também o movimento de oposição, chefiado pelos missionários . Amparados pela letra da lei, esses religiosos recorreram diversas vezes ao rei português a fim de denunciar os abusos cometidos pelos colonos paulistas. Outro Fator que começou a dificultar o movimento foi o aumento das distâncias.O sertão era cada vez mais distante, fato que encarecia muito a organização das expedições(que necessitavam de pólvora,chumbo,correntes e íncios escravizados).
Conforme será trabalhado nas próximas aulas, outro fator levou à dimiuição siginificativa das expedições de apresamento( que praticamente deixaram de existir a partir do século XVIII): os diferentes movimentos da resistencia dos grupos índigenas. Como veremos, revoltas individuais, migrações para regiões ainda mais distantes e até mesmo rebeliões coletivas despontaram nesse contexto.
AULA 3 - MÃO-DE-OBRA INDÍGENA E AFRICANA E A FORMAÇÃO DO SISTEMA ESCRAVISTA
Ao final desta aula, você será capaz de:
Ouro branco : foi assim que muitos colonos passaram a chamar o produto advindo do processamento do caldo da cana-de açúcar, sendo o primeiro gênero produzido em larga escala na Amércia portuguesa.
A escolha do açúcar teve duas razões principais:
Em primeiro lugar, o açúcar produzido da cana era um gênero tropical e pro isso mesmo teria grande demanda na Europa;
Em segundo lugar, os portugueses já possuíam conhecimento do fabrico de açúcar de cana graças á colonização das ilhas Canárias, Madeira, Cabo verde, todas localizadas no atlântico norte.
Ainda no século XVI, iniciaram-se as construções dos primeiros engenhos de açúcar em diferentes localidades da América portuguesa. Contudo, a região nordeste da colônia acabou se tornando a princiapl produtora de açúcar devido ás suas condições naturais.
Veja algumas delas:
grandes propriedades da terra;
Clima quente;
Chuvas constantes;
Solo fértil;
Abundância de rios ;
As arvores da mata atlântica – ideais para a construção das moendas;e
A localização das capitanias do nordeste, que estavam mais próximas ao mercado consumidor do produto a Europa.
Veja também as diferentes partes do engenho ( unidade produtiva do açúcar):
Canavial – onde a cana era cultivada;
A casa de moenda – onde era extrído o caldo de cana;
A casa de purgar – onde o caldo era transformado em melaço;
A residência do senhor – conhecida como casa grande; e
A residência dos demais trabalhadores.
Todavia, para que todo esse empreendimento desse lucro de fato sobretudo frente ao monopólio de exportação exercido pela coroa portuguesa – era necessário que a produção fosse mais barata possível.
A ESCRAVIZAÇÃO
Foi no contexto da lógica mercantilista que a escravidão apareceu como melhor opção para aprodução do açúcar.Além disso, o uso de escravos vinha coroar uma série de questões filosóficas colocadas pelos europeus desde o inicio das navegações( no século XV), quando a Europa entrou em contato com sociedades da África- subsaariana e das Américas.
A nova humanidade que se apresentava para os uropeus seria classificada e ordenada por eles.A escravidão foi uma instituição que ordenou boa parte das dinamicas da sociedade da América portuguesa.
Na obra Cultura e opulência do Brasil, o padre André Antonil(1649 – 1716) pontuou bem a importância que a escravidão tinha no funcionamento dos engenhos açucareiros.
Segundo ele:
Os escravos são as mãos os pés do senhor do engenho, porque sem eles no Brasil não é possivel fazer conservar e aumentar fazenda,nem ter engenho corrente.E do modo como se há com eles, depende tê-los bons ou maus para o serviço.Por isso, é necessário comprar cada ano algumas peças e repartí-la pelos partidos, roças, serraria e barcas.
A ESCRAVIZAÇÃO NO BRASIL
Durante muitos anos a escravidão no Brasil foi vista de forma sistêmica.De um lado estavam os índios escravizados, utilizados em sua grande maioria em pequenas e médias produções, quase todas voltadas para a subsistência da colônia.Do outro estavamos africanos escravizados e seus descendentes utilizados nas atividades envolvidas com o mercado externo, como a produção de açúcar e a mineração.
Ainda que essa sistematização esteja pautada em uma série de análises qualitativas da economia colonial, é importante que tal assertiva não se aplica a todo o período de fabrico de açúcar.
Ao analisar o inicio da produção açucareira, Stuart Schwartz chamou a atenção para um fenomêno pouco estudado: o massivo de índigenas escravizados nos engenhos.Grande parte desses índios tinha origem tupi, embora alguns povos tapuias tenham sido encontados nos registros.
A análise se Schwartz se circunscreve á província da Bahia que durante os séculos XVI e XVII, foi uma das maiores produtoras de açúcar da América portuguesa.
Baseado em registros paroquiais e inventários, o autor apontou que a lógica que regeu a escravidão índigena na produção açucareira foi muito semelhante àquela que ditaria o ritmo de trabalho de africanos escravizados anos mais tarde.
Graças a preferência senhorial, 60% dos escravos eram homens adultos e jovens. Todavia, as práticas religiosas incentivaram o casamento de muitos desses homens ,fazendo com que famílias escravas tivesse, siginficativa presença nesses engenhos.
Tendo que se adaptar áas condições de trabalho impostos pelos colonos, os índios escravizados deveriam realizar o cultivo extensivo de cana e depois processar seu caldo a fim de obter o açúcar.
A partir do ultimo quartel do século XVI, a escravidaõ passou a ser, em parte substituída pelos africanos escravizados.
Tal substituiçaõ tinha duas razóes principais:
A primeira era a relativa fragilidade dos grupos índigenas em relação ás inúmeras epidemias que assolaram os engenhos açucareiros;
A outra razão consistia na grande circulaçao de dinheiro promovida pelo tráfico transatlântico de africannos escravizados.
Além disso, em meados do século XVI, o valor do escravo africano era relativamente baixo, o que o tornava acessível para muitas pessoas. E, mais do que uma propriedade, o escravo africano representava um investimento, pois, depois de três ou quatro anos, o senhor conseguia recuperar, por meio do trabalho do escravo, o que havia pagado por ele e continuava usufruindo do seu trabalho por muito mais tempo. 
Não podemos esquecer que o fato de trabalharem em uma terra totalmente desconhecida também dificultava fugas e possíveis revoltas dos africanos escravizados.
O TRABALHO COMPULSÓRIO DOS AFRICANOS
Esses aspectos foram fundamentais na hora de escolher o trabalho compulsório de africanos em detrimento dos indígenas – embora muitos índios tenham trabalhado como escravos na América portuguesa, só que em menor escala. 
Fora isso, existiam ainda argumentos religiosos. Na época, a Igreja católica acreditava que os negros africanos não tinham alma. Por isso, o trabalho como escravo seria uma espécie de purgatório em vida para que depois da morte esses homens e mulheres pudessem subir ao reino dos céus.
O fato é que a partir de 1580, africanos de diversas localidades do continente passaram a desembarcar em peso na América portuguesa para trabalhar como escravos em diferentes atividades econômicas. 
Os africanos que vieram escravizados para o Brasil tinham origens diversas. O mapa abaixo mostra as diferentes rotas do tráfico de escravos do continente africano para terras brasileiras. Se olharmos o mapa com atenção veremos que existem quatro grandes rotas de comércio.
ROTA DO TRÁFICO NEGREIRO PARA O BRASIL
Após a longa travessia,  quando finalmente desembarcavam nos portos da América portuguesa, a situação de boa parte dos africanos era péssima. Aqueles que tinham conseguido aguentar a viagem passavam por um breve exame médico e eram rapidamente vendidos. 
Os africanos mais fragilizados, principalmente aqueles que haviam contraído escorbuto, passavam por um processo de quarentena em galpões localizados na região portuária
Nesses locais eles recebiam uma alimentação especial para recuperar suas forças o mais rápido possível. 
Assim que estivessem mais fortes, eram levados para os mercados onde seriam comprados. A partir de então, o destino desses africanos estava atrelado a de seu senhor e, em muitos casos, eles tinham que continuar a viagem, só que agora pelo interior do Brasil.
Nem todos os africanos recém-chegados resistiam ao período da quarentena. Por isso, era comum encontrar cemitérios nas proximidades do porto. Além dos maus tratos e das doenças adquiridas durante a travessia, muitos escravos boçais, isto é africanos recém-chegados, sofriam de banzo –, uma doença que parecia atacar a alma de alguns africanos que, tomados por uma tristeza profunda, se deixavam morrer.
Para muitos deles era preferível morrer a trabalhar como escravo, pois acreditavam que a morte significava o retorno à sua terra natal, junto a seus ancestrais.
No entanto, a maior parte dos africanos sobrevivia à travessia do atlântico. Dessa forma, o escravo boçal rapidamente era introduzido à sua nova sociedade.
Em seguida, ele recebia ensinamentos básicos do catolicismo, como deveriam se portar perante seu senhor, bem como algumas palavras em português. A partir de então o escravo boçal se juntava ao ladino e ao crioulo na execução das mais variadas tarefas.
A JORNADA DE TRABALHO DOS ESCRAVOS
Para conseguir cumprir a demanda da produção em larga escala, os escravos enfrentavam jornadas de trabalho que variavam de doze a dezoito horas e eram constantemente vigiados por feitores e capatazes para que otimizassem seu tempo de trabalho.
No ápice da produção do açúcar (século XVI) e do café (século XIX), e no auge do período aurífero (século XVIII), a exploração do escravo era tamanha que a média de vida ativa do cativo variava entre sete e dez anos. 
Contudo, estimativas apontam que, mesmo nesse curto tempo de vida ativa, o escravo “pagava” para seu proprietário a quantia que havia sido desembolsada no momento da sua compra e ainda gerava benesses. 
A partir do terceiro ano de trabalho, tudo o que era produzido pelo cativo representava lucro ao senhor. Este retorno financeiro relativamente rápido fez com que o escravo fosse visto como uma boa forma de investimento, o que fomentou o tráfico intercontinental de africanos por três séculos.
Essa lógica da exploração total do trabalho escravo intensificou ainda mais a violência inerente à escravidão. Além da obrigação em labutar horas a fio de baixo de sol quente, chuva forte ou em dias frios, o constante reabastecimento de africanos escravizados nos portos do Brasil fez com que muitos proprietários fossem negligentes com os cuidados despendidos aos cativos.
AS PÉSSIMAS CONDIÇÕES QUE VIVIAM OS ESCRAVOS
Apesar de cuidados com alimentação, moradia e vestimenta serem de responsabilidade senhorial, a fácil reposiçãodos escravos ajuda a explicar as péssimas condições de vida que os proprietários ofereciam a seus cativos. 
A alimentação que os escravos recebiam costumava ser composta apenas por farinha de mandioca ou de milho, uma porção de carne salgada e, por vezes, um pouco de feijão: o básico para o sustento humano. As roupas desses cativos eram feitas de panos de algodão simples e deveriam durar ao menos um ano. 
Muitos escravos que adoeciam eram deixados à própria sorte, pois, como vimos, muitas vezes era mais vantajoso comprar um novo cativo do que cuidar do enfermo.
Junto à rígida e pesada disciplina de trabalho no eito e às chibatas recebidas quando não alcançavam a quantidade estipulada de feixes de cana ou cestos de grãos de café, os escravos e escravas ainda enfrentavam outros dois grandes problemas: os acidentes e as condições insalubres de trabalho.
Os acidentes foram comuns nos engenhos de açúcar, mais especificamente:
• Na casa da moenda, onde era extraído o caldo da cana, os cativos que não tomassem cuidado podiam ter o braço inteiro triturado pelas engrenagens ao colocar os feixes de cana na moenda;
• Na casa de purgar, onde o caldo era transformado em melaço, que normalmente era o local de trabalho das escravas, havia sempre o perigo de queimaduras.
As regiões mineradoras também foram palco de acidentes de trabalho. Mesmo que muitos dos africanos escravizados, principalmente os oriundos da Costa da Mina, tivessem conhecimentos milenares sobre mineração aprendidos na África, em diversas ocasiões as minas subterrâneas, que haviam sido cavadas, desabavam, matando dezenas de cativos. 
Quando tragédias como essas não ocorriam, os escravos eram obrigados a passar o dia inteiro com parte do corpo submersa nos rios e córregos para realizar o garimpo do ouro.
AULA 4 - A RESISTÊNCIA À ESCRAVIDÃO - RELIGIOSIDADE
Ao final desta aula, você será 
capaz de:
1. Compreender o papel da Igreja Católica na implementação do projeto colonial;
2. Identificar a importância da conversão ao catolicismo como meio de inserção social;
3. Reconhecer as religiões africanas e as religiões indígenas;
4. Refletir sobre o uso da religião por ambas as etnias como forma de resistência: o sincretismo religioso
Festa de Nossa Senhora do Rosário – patrona dos negros 
A imagem ao lado é uma litogravura pintada pelo viajante alemão Johan Moritz Rugendas, que viajou pelo Brasil entre os anos de 1822e 1825.Nela o viajante registrou um evento comum na história do Brasil escravista: as festas das irmandades negras.
Tais festividades reuniam negros e mestiços, escravos e libertos, na comemoração do Santo Pdroeiro.Era um dos poucos momentos em que esses homens e mulheres podiam se reunir e festejar, pois essas festividades tinham o aval da Igraja para ocorrer.
A igreja Ctólica foi uma das mais importantes instituições da história do Brasil.È possivelç afirmar que ela foi uma das responsáveis pela chegada dos portuguese no Novo Mundo, bem como por parte das políticas coloniais adotadas pela metrópole.
Dito de outra forma, a colonização das Américas também era um movimento de conversão, de catequese dos autóctones do continente e, mais tarde, dos africanos escravizados que aqui chegavam. O fervor religioso chegou, inclusive, a colocar Igreja Católica e coroa portuguesa em posições antagônicas(como no uso de índigenas como escravos).
Dessa forma, todos os que habitassem a América portuguesa - índios, africanos, portugueses, escravos e livres – deveriam ser católicos. As intervenções da inquisição durante o período colonial apontam que a igreja levaca a sério a obrigação de cuidar de seu rebanho e de assegurar que ninguém desviaria dos propósitos divinos.
Diferentes grupos índigenas passaram ( muitas vezes, á força) pelo processo de catauqese. Já os africanos recém – chegados eram batizados e recebiam um nome que deveriam levar até a morte e , quando comprados por senhores religiosos, recebiam os primeiros ensinamentos católicos. 
No entanto, se a Igreja tinha propósitos, africanos e índigenas soberam ler nas entrelinhas o que era dito e pregado, dando outro significado às práticas religiosas como formas de resistência.
Em alguns casos ( como nas irmandades negras), tais práticas pareciam conviver com o sistema escravista, mas, em outros, a escolha religiosa transformou –se em ferramenta efetiva de luta e resistência.
RESISTÊNCIA 
A resistência foi uma constante na vida de índios e africanos escravizados. Ainda que as formas, tidas como clássicas, de resistir à escravidão passem pela luta aberta ― que muitas vezes levavam ao embate físico.
A instauração do sistema escravista na colonização da América portuguesa (e sua manutenção no Império do Brasil) acabou abrindo flanco para outras formas de resistências; formas essas que, muitas vezes, utilizavam as instituições coloniais como muleta.
Para a grande maioria, a resistência ao cativeiro se fazia dia a dia, da hora em que se levantava para trabalhar até o momento de se recolher para dormir. Onde quer que tenha existido escravidão também houve resistência escrava. E tal resistência foi experimentada em diferentes níveis durante toda a história da escravidão no Brasil.
No caso indígena, uma das formas mais frequentes de resistência foi o isolamento. Depois dos primeiros anos de contato, das mortes volumosas por epidemias vindas do Velho Continente, da catequização e da escravização, muitas sociedades indígenas decidiram rumar para regiões de difícil acesso, guiando-se pelos cursos dos rios. Contudo, conforme anunciado, muitos índios resolveram ir para a luta aberta e fizeram da religião uma importante arma.
RELIGIOSIDADE
Antes do contato com os portugueses, a maior parte dos povos indígenas tinha um homem responsável pelos cultos religiosos.
Tal homem recebia o título de pajé ou de xamã e, graças à sua relação com forças sobrenaturais, ele gozava de posição de prestígio entre os seus, o que fazia deles um dos principais inimigos do movimento de catequese. 
Ainda que os missionários tentassem acabar com os poderes (simbólicos e políticos) que os pajés tinham, eles não conseguiram desconstruir o panteão e os rituais religiosos de muitas sociedades indígenas com as quais entraram em contato.
Do sincretismo entre os dizeres e propósitos cristãos com as crenças e práticas religiosas indígenas originou-se a “Santidade” (nome dado pelos portugueses). Esse fenômeno era um culto sincrético e messiânico, no qual os índios questionavam o Deus católico e posicionavam-se contra os senhores brancos. 
Segundo Schwartz e Vainfas, esse movimento era uma combinação de crenças dos tupinambás no paraíso terrestre, com a hierarquia e os símbolos do cristianismo. Havia o culto em ídolos com poderes sagrados feitos de cabaça e pedra que, segundo os seguidores, dotariam os fiéis de força para lutar contra os brancos.
Esses “santos” teriam ainda poder de vitalizar os idosos ou fazer as enxadas trabalhares sozinhas. Para tanto, era necessário entoar cantos e realizar cerimônias que podiam durar dias seguidos (regados do alto consumo de bebidas alcóolicas e infusão de tabaco), muitas vezes levando os fieis ao estado de transe. 
O mais interessante é reconhecer as contribuições católicas deste movimento.
Além dos ídolos receberem o nome de santos, os líderes do movimento proclamavam-se como “papas”, chegando a nomear bispos e organizar os “missionários”, que tinham a incumbência de difundir o culto em outras localidades. Houve até mesmo um caso no qual os seguidores da Santidade criaram uma igreja destinada ao culto de “Maria”.
(SCHWARCTZ:1993, 54-55)
A “Santidade” foi muito comum durante o século XVI, demonstrando como os índios que entraram em contato com os portugueses souberam reler os interesses e crenças cristãos sob uma nova ótica. Visão que lhes favorecia e que questionava as bases do sistema colonial que estava sendo montado. 
Com o passar dos anos, a morte crescente por epidemias e a entrada cada vez mais volumosa de africanos escravizados, a “Santidade”foi perdendo parte de seus seguidores, dando lugar a outras formas de resistência indígena, que serão abordadas na próxima aula.
AS IRMANDADES RELIGIOSAS
Não foram apenas os índios que souberam usar preceitos do catolicismo na luta contra a escravidão e a catequese. Os africanos escravizados e seus descendentes também criaram uma série de práticas, aparentemente inofensivas ao sistema escravista, que visava resistir à escravidão por meio de releituras religiosas.
Uma alternativa que muitos escravos encontraram não só para construir suas famílias extensas, mas também para lutar pela liberdade, se deu através da filiação às Irmandades Negras criadas no Brasil.
A história das Irmandades Religiosas remonta à Idade Média ― período no qual devotos de determinados santos criaram, com o aval da Igreja Católica, organizações, cujo principal objetivo era fazer caridade e ampliar a fé cristã. 
As irmandades negras, criadas desde o período colonial, seguiam os mesmos preceitos religiosos das demais: todos os membros deveriam efetuar o pagamento da taxa anual ― dinheiro que seria revertido em festas, rituais fúnebres e missas das igrejas. 
A grande diferença dessas irmandades estava na condição de seus membros (a maioria eram escravos e/ou libertos) e o fato delas adorarem santos negros, como Nossa Senhora do Rosário, Santos Elesbão, Santa Ifigênia e São Benedito.
Muitos senhores e a própria Igreja Católica viam com bons olhos a formação das irmandades negras, pois acreditavam que essa era mais uma forma de controlar a população escrava e liberta, já que esses homens negros passariam a compartilhar a mesma religião que seus proprietários ou ex-senhores ― religião que defendia a escravização de negros crioulos ou escravos.
NEGRAS NOVAS A CAMINHO DA IGREJA PARA O BATISMO
Contudo, embora tivessem a mesma fé religiosa que seus senhores, as irmandades negras foram importantes espaços de sociabilidade para negros cativos e alforriados. 
Os membros de uma mesma irmandade criavam laços de amizade, parentesco e, sobretudo, solidariedade: muitas vezes, o padrinho de um recém-nascido era escolhido dentro da irmandade que os pais da criança faziam parte.
Casamentos entre escravos ou de cativos com libertos também ocorriam nessas organizações. As irmandades negras ainda garantiam enterro e cortejo fúnebre digno para todos os seus membros.
Além disso, em alguns casos, as irmandades negras ou irmandades de “homens pretos” eram formadas por africanos escravizados da mesma origem. Escravos e libertos angola ou congo se reuniam e formavam uma irmandade, reforçando, assim, identidades oriundas do outro lado do Atlântico.
Em determinadas situações, esses escravos também cultuavam entidades religiosas africanas ou atribuíam as mesmas características de deuses da sua terra de origem a santos católicos, como a forte relação estabelecida entre São Jorge e o orixá Ogum.
Mais do que ampliar as redes de parentesco, as irmandades negras tiveram papel importante na luta pela liberdade de muitos escravos. Diversos escravos africanos e crioulos conseguiram obter sua liberdade graças à poupança feita por seus “irmãos” de credo. Assim que comprava a alforria de um membro, a irmandade começava uma nova poupança para ajudar outra pessoa.
Anualmente, cada irmandade fazia a festa para seu santo padroeiro. Esse era o momento mais importante de cada irmandade. Tal comemoração era composta por uma longa procissão, missa solene e grande festa com muita música, dança e batuque. 
Também era nessa festa que a irmandade coroava seu rei e sua rainha. Para os escolhidos, esse era um momento de grande prestígio frente a seus companheiros.
A devoção de escravos e libertos fez com que algumas irmandades negras ganhassem muito prestígio e se transformassem em organizações com muito dinheiro. Um exemplo disto está no fato de que, no Rio de Janeiro, tanto a Igreja de Nossa Senhora do Rosário como a Igreja de São Elesbão e Santa Efigênia terem sido construídas na região central da cidade.
FAMÍLIAS
Mais do que a formação segundo o modelo acidental (ou a família nuclear composta pelo casal e seus filhos), os africanos e crioulos escravizados conseguiram desenvolver uma ideia de familia muito próxima daquela encontrada em diferentes regiões africanas: a família extensa.
Já que os laços de parentesco originais haviam sido rompidos pelo processo de escravização, muitos cativos encontraram no apadrinhamento uma forma eficaz e legitima (frente os olhos dos senhores, da igreja Católica e do Estado) de reconstruírem suas redes de parentesco.
Escravos e libertos batizavam os filhos de seus companheiros sob o juramento de se responsabilizar pela criança caso algum incidente ocorresse com seus pais. O compadrio também foi utilizado como uma das estratégias na luta pela liberdade, tendo que os padrinhos e madrinhas, principalmente os alforriados e livres, se comprometiam em empenhar-se pela obtenção da liberdade de seus afilhados.
DIFERENTES DEUSES E ENTIDADES AFRICANAS
As famílias extensas também estiveram presentes em muitas das religiões de matriz africana criadas em solo brasileiro. Africanos que vinham de regiões islamizadas da África, como o Golfo da Guiné, continuaram acreditando em Alá e, quando chegaram em solo brasileiro, fizeram o possível para encontrar outros muçulmanos e cultivar suas tradições e costumes. 
Os escravos e libertos islamizados criaram verdadeiras redes de contato e, em diversas situações eles, aqui no Brasil, sabiam de episódios importantes que estavam acontecendo em território africano ou em outras colônias e países da América.
Religiões que cultuassem diferentes deuses e entidades africanas também foram comuns ao longo da história brasileira, embora os senhores, a Igreja católica e as autoridades governamentais tentassem proibir essas práticas.
No Maranhão, africanos minas iniciaram o culto dos voduns; na Bahia, africanos jejes e nagôs reverenciavam os orixás. Tanto os voduns como os orixás eram deuses ancestraisou heróis de diferentes sociedades africanas.
Conforme ocorria na religião de diversos povos africanos, cada pessoa tinha um orixá que lhe acompanhava durante toda a vida e, para entrar em contato com seu orixá, a pessoa deveria passar por um ritual de possessão que era acompanhado de música e dança.
Durante o período em que estava em transe, a pessoa entrava em contato com a força divina e, muitas vezes, conseguia resolver os problemas que lhe afligiam. Muitos escravos e libertos faziam isso. 
Aos poucos, a crença nos orixás foi se desenvolvendo e, no século XIX, deu origem ao Candomblé. Essa religião era formada por “irmãos de fé” ― pessoas que acreditavam nos orixás e que se reuniam em torno a uma mesma casa ou terreiro. 
Nesse espaço, comandado por uma mãe de santo ou um pai de santo, além de realizar suas cerimônias religiosas, entrar em contato com seus deuses e buscar repostas por meio de jogos de adivinhação (como o jogo de búzios), muitos escravos e libertos conseguiram formar outra família, que muito se assemelhava com as grandes linhagens existentes em diversas localidades africanas.
Outros cultos e religiões com matriz africana também surgiram durante o período escravista e foram fortemente combatidas, como o caso da Umbanda. Os especialistas não sabem ao certo a origem da Umbanda (que mistura cultos religiosos de matriz africana, indígena e kardecista), mas as pesquisas levam a crer que os primeiros cultos surgiram no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX.  
Juca Rosa ― liberto e filho de uma escrava da Costa ocidental africana ― é apontado pela historiografia como um dos possíveis fundadores dos cultos que, mais tarde, daria origem à Umbanda. Tido como feiticeiro, Juca Rosa era visitado não só por escravos e libertos, mas também por muitas pessoas ilustres da Corte do Império do Brasil que recorriam às suas “feitiçarias” para curar doenças do corpo e da alma. 
Sua fama logo ganhou a cidade e Juca Rosa passou a ser perseguido pelas autoridades. Assim como Juca Rosa, outroshomens e mulheres negros fizeram da religião não só uma ferramenta de construção de identidade, mas também uma forma de lutar contra uma sociedade escravista.
AULA 5 - FORMAS DE RESISTÊNCIA AO PODER ESCRAVISTA: FUGAS, REBELIÕES, QUILOMBOS E NEGOCIAÇÃO – AS REAÇÕES VARIADAS DOS DETENTORES DO PODER
Ao final desta aula, você será capaz de:
1- Identificar a existência de diferentes formas de resistência de índios e afrodescendentes ao projeto colonial;
2- Apresentar as diversas formas de resistência que indígenas e afrodescendentes adotaram;
3- Relacionar essas múltiplas formas de resistência com os ditames do sistema colonial;
4- Compreender que, apesar de parecer contraditório, muitas vezes, negociação e tolerância foram adotadas por todos os atores históricos como forma de sobrevivência para uns e de continuidade do processo colonizador para outros
FORMAS DE RESISTÊNCIA 
Conforme visto na aula anterior, onde quer que tenha existido escravidão, houve resistência.Na história brasileira, isso não foi diferente: grupos indígenas, africanos escravizados e crioulos ( descendentes de africanos nascidos na América) criaram diferentes formas de resistir à escravidão e, em alguns momentos, ao sistema escravista que ditava o ritmo de suas vidas.
FUGAS 
A fuga foi uma das formas mais utilizadas para resistir à escravidão, sendo uma estratégia de resistência tão frequente que os senhores utilizaram diferentes formas de lutar contra ela. Nas regiões rurais era comum que os senhores contratassem os capitães do mato – homens especializados em recapturar escravos fugidos.
Já nos grandes centros urbanos, a captura de escravos ficava sob incumbência da polícia.Os jornais das vilas e cidades eram repletos de anúncios feitos pelos senhores que não só denunciavam as escapadas dos escravos, como ofereciam a descrição física do fugitivo e muitas vezes algum tipo de recompensa para quem o encontrasse.
Quando a captura do escravo fugido ocorria, os senhores costumavam aplicar castigos físicos violentos e obrigar o escravo a usar uma gargalheira que servia como símbolo de escravo fugido. No entanto, a despeito das punições, a fuga foi uma estratégia amplamente praticada por aqueles que vivam no cativeiro.
ANUNCIO DE FUGA ESCRAVA NO JORNAL
De forma geral, é possível afirmar que existiram dois tipos de fuga na história da escravidão no Brasil:
- No primeiro caso, encontram-se as fugas que tinha como objetivo a reivindicação escrava por melhores condições de vida. Escravos que estivessem trabalhando mais do qual o habitual poderiam realizar pequenas escapadas e só retornar à propriedade de seu senhor mediante algum tipo de negociação. Cativos que eram impedidos de festejar ou de visitar sua família também a esse tipo de fuga para conseguir estabelecer acordos com seus senhores;
- O segundo tipo de fuga era aquele que pretendia negar a escravidão. Nessas circunstâncias, os escravos abandonaram a propriedade senhorial e , individualmente ou em grupo, iam buscar formas alternativas de viver fora do cativeiro.Muitos cativos se embrenhavam no meio de mato e lá construíam pequenas comunidades que ficaram conhecidas como quilombos ou mocambos.
Outros preferiam tentar a vida em lugares mais distantes, principalmente nas grandes cidades, pois nesses espaços o escravo fugido poderia se passar por um negro liberto.
OS QUILOMBOS 
Em muitos casos, as fugas coletivas acabam transformando-se em outra forma de resistência à escravidão: os quilombos também conhecidos como mocambos – comunidades formadas por escravos fugidos. Nessas comunidades, os escravos refaziam suas vidas a margem do cativeiro. Lá, construíam famílias, estabeleciam laços de amizade, plantavam, criavam animais e chegavam a comercializar com povos indígenas que habitavam as redondezas ou, então, com os vilarejos próximos.
Apesar de ser uma organização que foi duramente combatida pelos senhores e pelas autoridades governamentais, os quilombos não eram comunidades isoladas. Os documentos de época mostram que muitos quilombolas faziam trocas comerciais clandestinas com os engenhos, fazendas e cidades próximas.
Em alguns casos, os quilombolas aproveitaram o cair da noite para visitar familiares e amigos que viviam sob o cativeiro. Em outras situações era o inverso que ocorria: os escravos realizavam pequenas fugas e passavam algumas horas, ou até mesmo dias, nas festas que aconteciam no mocambo.
Grande parte dos quilombos que foram identificados estavam localizados próximos das regiões com grande concentração d escravos. Palmares, o mais conhecido quilombo da história brasileira, se formou durante o século XVII nas adjac^ncias da zona da mata pernambucana, localde intensa produção de açúcar e, consequentemente, significativa concentração de cativos.
A região das minas, que possuía a maior concentração de escravos no século XVIII, também foi palco da formação de muitos quilombos. Além do controle da tributação sobre o ouro e diamante que era extraído da província, as autoridades coloniais ainda se viram obrigadas a combater a criação dessas comunidades que, na maior parte dos casos, estavam muito próximas.
Os quilombos mineiros não só expunham a fragilidade do controle de escravos na região,mas também causavam grandes transtornos para as vilas e cidades.As autoridades de Vila Rica ( que mais tarde seria a cidade de Ouro preto) recebiam constantes queixas de que quilombolas haviam roubado propriedades ou então estavam impedindo a passagem em alguma estrada que ligava o perímetro urbano às fazendas produtoras de gêneros alimentícios.
Esses mesmos quilombolas também faziam incursões ás fazendas e pequenas propriedades para resgatar familiares e amigos, e nesse vai e vem construíram redes de comércio com pequenos negociantes e produtores.
Na tentativa de destruir essas comunidades, as autoridades praticamente instituíram o capitão do mato como figura de poder, armaram milícias compostas por homens livres e libertos, e proibiram que comerciantes negociassem com os quilombolas. Em momentos de crise, chegou a ser autorizado que todo quilombola encontrado tivesse uma de suas mãos decepadas.
Relações estreitas entre quilombolas e pequenos negociantes também foram frequentes nos mocambos e quilombos que se formaram nos arredores do rio de janeiro, no período em que a cidade era capital do Império. A região que hoje é conhecida como baixada fluminense foi um dos locais de maior concentração dessas comunidades. Era para lá que muitos escravos que trabalhavam no perímetro urbano da Corte fugiam, pois, ao mesmo tempo em que a região estava afastada do grande centro, sua localidade ainda permitia um contato frequente com a cidade.
Na realidade, essa proximidade foi uma espécie de estratégia de sobrevivência para muitos desses mocambos, pois permitiu que os quilombolas conseguissem negociar alimentos e cestarias que produziam garantindo assim seu sustento. Junto à região que era banhada pelo rio Iguaçu, muitos cativos também se refugiaram nas matas da floreta da Tijuca.
 Planta baixa do quilombo São Gonçalo (1786)
Grande produtora de açúcar e tabaco, a capitania, e mais tarde província da Bahia, também tinha uma grande concentração de escravos. Por isso, nas redondezas se salvador e do Recôncavo, inúmeros quilombos foram encontrados.
REVOLTAS E CONSPIRAÇÕES 
Tal rebelião começou anos antes, quando o colono João Ramalho – amigo de Brás Cubas, na época, era governador da capitania de São Vicente – casou – se com Bartira, a filha de Tibiriçá, cacique dos Guainazes da região. Conforme os costumes dos guaianazes, o casamento de Bartira foi tomado como uma aliança do grupo com os portugueses, a ponto dos guaianazes colaborarem com os colonos no processo de aprisionamento e escravização dos tupinambás que viviam no litoral, entre os atuais Estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
Apesar de menos frequentes do que as fugas e a criação de comunidades quilombolas, as revoltas também foram estratégias de luta utilizadas pelos escravos. Na realidade, mais as conspiraçõesde possíveis revotas escravas do que as revoltas propriamente ditas inquietaram senhores e autoridades de todo Brasil, pois elas representavam a possibilidade do fim total da escravidão.
O contato e o processo de aldeamento indígena foram responsáveis por diversas revoltas no período colonial. Ocorrida ente os anos de 1554 e 1567, a Confederação dos Tamoios foi uma revolta dos tupinambás contra a tentativa de escravização levada a cabo pelos colonos portugueses. 
As investidas dos portugueses e seus aliados obrigou a resistência dos Tupinambá que liderados por Aimberê, organizaram –se e formaram a Confederação dos tamoios ( que em tupinambá, significa “mais velho”). A primeira batalha foi vencida pelso tamoios, resultando na morte de Tibiriçá.
Os conflitos foram interrompidos por um ano de paz, resultante ddas ações dos padres Manoel da Nobrega e José de Anchieta, que estavam receosos da onda de violência criada pelos confrontos. Todavia, durante esse ano de trégua, os colonos portugueses se armaram e reiniciaram o processo de escravização dos índios tupinambás.
Nesse segundo momento de confronto, os tamoios contaram com a Judá dos franceses desembarcados no rio de janeiro, em 1555, e que, comandados por Villegaignon. Tionham o intuito de fundar uma frança antártica. As batalhas duraram quase um ano e os portugueses só conseguiram vencer depois do reforço oferecido por Men de Sá, governador-geral do Brasil.
A rebelião teve fim em 20 de janeiro de 1567, quando o líder Aimberê foi morto.
 
REBELIÕES ARMADAS
AS PUNIÇÕES
CONJURAÇÃO BAIANA
REVOLTA DOS MALÊS
REVOLTA DOS MALÊS
O LEVANTE DE SÃO JOSÉ DO QUEIMADO
AULA 6 -TEORIAS RACIAIS E INTERPRETAÇÕES SOBRE O BRASIL
Ao final desta aula, você será capaz de:
1- Conhecer as teorias raciais do século XIX e início do século XX;
2- Refletir sobre o contexto histórico no qual elas foram elaboradas;
3- Examinar as interpretações feitas pelos intelectuais brasileiros da época.
A tela pintada por Vitor Meirelles, em 1866 – momento no qual havia um importante debate sobre a construção da Identidade Nacional Brasileira. À época, o império do Brasil era uma das poucas sociedades americanas que ainda dependia da mão de obra escrava (em sua maior parte de africanos e seus descendentes) para a manutenção da produção agroexportadora de café.
O uso dos braços escravos ainda se fazia sentir em diferentes aspectos da sociedade, inclusive nos primeiros pelotões que compuseram o exército brasileiro no confronto bélico que mudaria os rumos da história do Império: a Guerra do Paraguai (1864-1870). Esse também foi um período de intenso debate sobre a identidade brasileira.
Os primeiros institutos históricos e geográficos estavam sendo abertos no Império do Brasil, que precisava construir a história e escolher a memória que iria guardar, e o herói que iria representá-las
O movimento indianista foi, assim, uma das peculiaridades do Romantismo no Brasil. Na falata do cavaleiro medieval, coube ao índio (aldeado e civilizado) cumprir o papal de “bom moço” da história brasileira, mostrando ao mundo que o Brasil não só tinha um herói, como tinha um herói tipicamente brasileiro, e, por isso mesmo, autêntico.
Tal movimento trouxe para o cenário intelectual da época importantes debates sobre a questão indígena na história brasileira, embora a figura vencedora pouco se assemelhasse aos rebeldes Aimberê e Canindé. Foi ainda a fonte inspiradora para autores magistrais da literatura brasileira, com José de Alencar e Gonçalves Dias e pintores como Vitor Meirelles.
No entanto, ao consagrar o índio domesticado como símbolo do Brasil, o indianismo elegia uma determinada memória que, por sua vez, deixava de lado grande parcela da população brasileira, que passava a ser vista, biologicamente, como inferior.
Um dos grandes desafios em trabalhar com o estudo das relações raciais no Brasil é que tal temática acompanhou as primeiras tentativas de construção da identidade brasileira independente e soberana.
Até a produção das primeiras análises da década de 1930, praticamente todas as obras que se propunham examinar a sociedade ou a história brasileira esbarravam no problema da raça. Na realidade, como demonstrou cuidadosamente Lilia Schwarcz (SCHWARCZ: 1993), o conceito raça foi peça fundamental das ciências sociais no Brasil e no mundo.
O primeiro estudioso a usar o termo raça no discurso científico foi George Cuvier, no início do século XIX. Como bem lembra Lilia Schwarcz, neste momento a visão iluminista de humanidade-que pressupunha certa unidade e, consequentemente, uma possível igualdade entre os homens- aproximava a ideia de raça aos debates sobre cidadania.
Essa contradição entre a definição científica de raça e os ideais igualitários herdados da Revolução Francesa acabou reacendendo os debates sobre a origem, ou origens da humanidade. O principal embate se dava entre monogenistas e poligenistas.
Enquanto os primeiros consideravam que todo homem tinha a mesma origem e que as diferenças entre eles era resultado de uma maior ou menor proximidade do Éden (teoria difundida pela Igreja Cristã), os poligenistas, baseados em recentes estudos de cunho biológico, acreditavam na existência de diversos núcleos de produção correspondentes aos diferentes grupos humanos.
A vertente poligenista possibilitou, ainda no século XIX, o fortalecimento de disciplinas baseadas no discurso científico. 
Veja alguns exemplos desse movimento:
• Antropologia criminal - que considerava a criminalidade algo genético; 
• Frenologia e antropometria - que calculavam a capacidade humana de acordo com o estudo do tamanho do cérebro de indivíduos dos diferentes grupos humanos; 
• Craniologia – estudo do crânio.
Nomes de cientistas como Andrés Ratzius, Cesare Lombroso e Paul Broca ficaram conhecidos na época, graças à ampla divulgação de seus estudos. Entretanto, o debate tomou novo fôlego com a publicação do livro A Origem da Espécies de Charles Darwin, em 1859.
A partir de então, o termo raça sofreu duas significativas alterações. De um lado, a ideia de raça ultrapassou o campo da biologia, estendendo-se às discussões culturais e políticas. Por outro lado, o termo passou a imprimir a noção de evolução às duas correntes científico-filosóficas que discutiam a origem do homem (monogenismo e poligenismo) que, na tentativa de defender suas teses, desvirtuaram ou “adaptaram” as teorias darwinistas da maneira que lhes foi mais conveniente.
Lembrando que esse era um momento no qual grande parte dos dogmas da Igreja Católica estava sendo questionada pelo discurso científico – que se afirmava, cada vez mais, como sinônimo da verdade -, não é de estranhar que os poligenistas tenham “saído na frente” de seus rivais no que diz respeito ao uso das teorias de Darwin. A sociologia evolutiva de Spencer, a história determinista de Buckle e até mesmo o sentimento imperialista europeu eram provas disso.
Os poligenistas passaram a tratar a espécie humana como o gênero humano; a diversidade cultural passou a ser entendida como diferença entre espécies. O homem fora dividido e hierarquizado, e , quanto mais longe uma “espécie” se mantivesse da outra, melhor para todos.
Tudo estaria relativamente bem resolvido se os poligenistas não tivessem que responder as seguintes perguntas: o que fazer, então, com os grupos miscigenados? Como adequar a miscigenação à evolução das raças humanas?
A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e estadunidenses – como Broca, Gobineau e Le Bon – consideravam a miscigenação um erro, um quebra das leis naturais, uma subversão do sistema. Os inúmeros impasses causados pela publicação de Charles Darwin e a formulação de novas perguntas sobre a evolução da humanidade criaram a necessidade de novos sistemas explicativos.
A eugenia vinha de encontro aos interesses políticos da Europa e dos Estados Unidos. Os europeus acreditavam que compunham um grupo humano puro, livre de hibridização, muito mais perto da perfeiçãoe, justamente por isso, seriam responsáveis pela civilização dos demais grupos ― argumento que justificou e legitimou tanto a colonização americana como o “Imperialismo Europeu” e o sentimento do fardo do homem branco. 
Já os estadunidenses, mesmo tendo sido colonizados pela Grã-Bretanha, comprovaram seu desenvolvimento, principalmente por terem evitado a miscigenação entre o branco dominador e o negro escravizado; por isso, também estavam fadados ao progresso e à civilização.
Independentemente de certa tradição mazomba do Brasil ― que, vale ressaltar, até 1822 era uma colônia portuguesa ― foi impossível evitar as repercussões da afirmação da ciência como chave explicadora do mundo e da humanidade. 
Na realidade, a vitória do discurso científico caminhou passo e passo com a construção de uma identidade nacional brasileira. A primeira ideia de Brasil (entendido como uma unidade nacional soberana e desvinculada politicamente de Portugal) foi construída com os primeiros museus, institutos históricos e geográficos, faculdades de direito e de medicina em terra brasilis. Durante o século XIX, nacionalismo e ciência fundiam-se e confundiam-se.
Todavia, a importação desse sistema explicativo científico trazia no seu bojo ― conforme visto acima ― uma questão deveras espinhosa para a elite intelectual brasileira: o problema da mestiçagem. 
A constatação (por parte dos cientistas) da existência de hierarquia entre as raças humanas não era algo tão estranho a uma sociedade que escravizava, sem muitos conflitos morais ou religiosos, os elementos indígenas e negros da sociedade. Na realidade, a ideia da supremacia branca frente às demais raças ou “espécies” humanas parecia corroborar a realidade brasileira de então. 
Entretanto, a massa de mulatos, cafuzos, caboclos, pardos e cabras, lembravam, a todo o momento, que o Brasil era uma nação majoritariamente mestiça ― o que inviabilizava que o país galgasse o estágio supremo da civilização.
Como outras localidades da América Latina, o Brasil tornou-se uma espécie de laboratório vivo, onde cientistas procuraram comprovar na prática o que compuseram, e onde “ilustrados” brasileiros buscaram desesperadamente uma unidade, uma homogeneidade para definir o povo brasileiro.
Importantes cientistas como Thomas Buckle, Arthur de Gobineau e Louis Agassiz analisaram o fenômeno da mestiçagem brasileira, tendo inclusive visitado o país. Infelizmente, suas conclusões sobre o futuro do Brasil não eram muito esperançosas.
De tal modo, aceitar, copiar e reproduzir essas teorias iria interromper um projeto de construção nacional brasileira que mal tinha começado. Os homens de ciência do Brasil tiveram que achar uma resposta original, adaptando essas teorias, utilizando o que combinava e descartando o que era problemático para a construção de um argumento racial no país (SCHWARCZ: 1993, 37).
AULA 7 - MESTIÇAGEM COMO SAÍDA?
Ao final desta aula, você será capaz de:
1- Avaliar parte da trajetória do Modernismo Brasileiro e como ele reelaborou a mestiçagem do Brasil;
2- Reconhecer parte dos debates travados entre intelectuais culturalistas e estruturalistas, no que diz respeito à mestiçagem do Brasil;
3- Refletir sobre a construção e a desconstrução do mito da Democracia Racial Brasileira.
AULA 8 - HERANÇA INDÍGENA E A SUA INSERÇÃO EFETIVA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Ao final desta aula, você será capaz de:
1- Avaliar alguns aspectos da história do índio brasileiro;
2- Conhecer a política e a legislação indigenista brasileira, analisando a atuação de órgãos como o Serviço de Proteção aos Índios (SNI) e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI);
A questão indígena também ganhou espaço no debate, pois qualquer debate sobre meio ambiente no Brasil precisa levar em consideração as agências desses sujeitos. 
No entanto, o Brasil tem uma questão a ser resolvida em relação a essas sociedades, que é a sua definição. O critério da autoidentificação étnica vem sendo o mais amplamente aceito pelos estudiosos da temática indígena. 
Na década de 1950, o antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro baseou-se na definição elaborada pelos participantes do II Congresso Indigenista Interamericano, no Peru, em 1949, para assim definir, no texto “Culturas e línguas indígenas do Brasil”, o indígena como: 
“(...) aquela parcela da população brasileira que apresenta problemas de inadaptação à sociedade brasileira, motivados pela conservação de costumes, hábitos ou meras lealdades que a vinculam a uma tradição pré-colombiana. Ou, ainda mais amplamente: índio é todo o indivíduo reconhecido como membro por uma comunidade pré-colombiana que se identifica etnicamente diversa da nacional e é considerada indígena pela população brasileira com quem está em contato.”
Uma definição muito semelhante foi adotada pelo Estatuto do Índio (Lei nº 6.001, de 19/12/1973), que norteou as relações do Estado brasileiro com as populações indígenas até a promulgação da Constituição de 1988.
Nessa aula será analisada, então, a questão indígena na contemporaneidade brasileira.
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, encontraram um número significativo de povos autóctones a quem chamaram índios. Ainda que eles julgassem estar frente a uma raça diferente, ainda nos primeiros anos de colonização, os lusitanos conseguiram encontrar traços específicos que diferenciavam essas sociedades, apontando parte da complexidade que regeu a vida desses grupos.
O processo colonial foi extremamente violento com as sociedades indígenas. As estimativas apontam que no início do século XVI existiam entre 1 e 10 milhões de índios, no que hoje é o Brasil. Esses habitantes se dividiam em diferentes povos, com culturas, crenças e línguas diferentes.
Vimos nas primeiras aulas do curso que dezenas de milhares de índios morreram em decorrência da colonização da América portuguesa. Gripe, sarampo, tuberculose e varíola mataram sociedades indígenas inteiras, contribuindo para aquele que foi o maior genocídio da história da humanidade.
Junto com a mortandade causada pela falta de imunidade indígena, a efetivação do sistema colonial trouxe muitas mudanças nos padrões organizacionais desses povos. Resumidamente, as sociedades indígenas que habitavam o Brasil tinham sua economia organizada em modos de produção de uso, ou seja, produziam o suficiente para o consumo interno.
Ainda que pesquisas recentes apontem a presença de moeda em algumas sociedades indígenas que habitavam a bacia amazônica, grande parte das trocas realizadas entre esses grupos ocorria por meio do escambo.
A instauração do aparelho colonial, a produção do açúcar, o movimento das bandeiras e a criação de gado fizeram com que tais sociedades tivessem que se adaptar a um ritmo de trabalho extremamente pesado, o que, uma vez mais, acarretou na morte de milhares de índios e na desestruturação das sociedades que entraram em contato com os colonos europeus.
A catequese foi outro instrumento de colonização e, justamente por isso, um processo que desestruturou boa parte dos povos indígenas. Embora muitos missionários objetivassem levar a verdadeira fé aos índios, e em muitos casos tenham (na sua perspectiva) defendido os indígenas, a conversão ao catolicismo, a criação de uma língua geral e até mesmo os movimentos de resistência eram indícios de que o contato entre portugueses e índios estava criando novas formas de sociabilidade, sobretudo para os últimos, que estavam subjugados dentro do sistema colonial que se forjava.
Estudos recentes apontam que, atualmente, os únicos grupos que não tiveram suas línguas alteradas pelo contato com os portugueses foram os Fulniô (de Pernambuco), os Maxakali (de Minas Gerais) e os Xokleng (de Santa Catarina). Interessante notar que nenhuma das sociedades apontadas pertence à família Tupi, mas estão ligadas ao tronco Macro-Jê.
Durante todo o período colonial, os portugueses e colonos nascidos na América utilizaram os índios não só como mão de obra barata (ouentão escrava), mas também fizeram uso de seus saberes. A técnica da coivara foi levada a proporções imensas. A região das minas foi encontrada graças a ajuda indígena; remédios eram feitos com base nos saberes de pajés e xamãs e a mandioca transformou-se na base da alimentação da colônia durante 300 anos.
Durante todo o período colonial, os portugueses e colonos nascidos na América utilizaram os índios não só como mão de obra barata (ou então escrava), mas também fizeram uso de seus saberes. A técnica da coivara foi levada a proporções imensas. A região das minas foi encontrada graças a ajuda indígena; remédios eram feitos com base nos saberes de pajés e xamãs e a mandioca transformou-se na base da alimentação da colônia durante 300 anos.
MOVIMENTOS EXPLORATÓRIOS DA AMAZÔNIA
A partir das décadas de 1920 e 1930, os movimentos exploratórios da Amazônia despertaram não só interesses econômicos, mas também chamaram a atenção de muitos intelectuais brasileiros. 
Conforme visto em aulas anteriores, nesse período havia um forte debate sobre a identidade nacional brasileira, que passava a encarar a mestiçagem de forma positiva. Embora boa parte dos estudos históricos e sociológicos se detivesse ao exame do legado africano no Brasil, os antropólogos (brasileiros e estrangeiros) iniciaram uma série de análises sobre os grupos indígenas.
Foi graças a esses trabalhos que o arquétipo de índio construído no século XIX foi desmontado. Em primeiro lugar, os estudos antropológicos apontaram que era impossível falar de índio no singular. O contato com os portugueses e demais colonos havia transformado padrões socioeconômicos e culturais. O estudo das línguas indígenas demonstra isso. 
Segundo os estudos da FUNAI:
“Os povos que habitavam a costa leste, na maioria falantes de línguas do Tronco Tupi, foram dizimados, dominados ou refugiaram-se nas terras interioranas para evitar o contato (...)
Os Guaranis, que vivem em diversos estados do Sul e Sudeste brasileiro e que também conservam a sua língua, migraram do Oeste em direção ao litoral em anos relativamente recentes.
As demais sociedades indígenas que vivem no Nordeste e Sudeste do País perderam suas línguas e só falam o português, mantendo apenas, em alguns casos, palavras esparsas, utilizadas em rituais e outras expressões culturais.
A maior parte das sociedades indígenas que conseguiram preservar suas línguas vive, atualmente, no Norte, Centro-Oeste e Sul do Brasil. Nas outras regiões, elas foram sendo expulsas à medida que a urbanização avançava”.
Texto na íntegra disponível em: www.funai.gov.br
Tais estudos criaram novas demandas estatais.
Em 1939 foi instituído o Conselho Nacional de Proteção aos Índios (CNPI,  Decreto nº 1.794, de 22 de novembro de 1939), órgão que permitiu que antropólogos destacados atuassem na formulação das políticas indigenistas brasileiras. Era preciso reavaliar a política “sertanista” do SPI que, em certa medida, dava continuidade às premissas coloniais como a distribuição de presentes, a defesa de vestir os índios, ensinar-lhes a tocar instrumentos e a comportar-se como ocidentais.
O “governo dos índios” exigia ainda uma boa formação científica e “espírito de dedicação à causa pública”. A produção de informações cartográficas e ambientais era fundamental para subsidiar as atividades de conquista e exploração comercial do interior. 
Além disso, a proposta de registrar minuciosamente as expedições acabou por contribuir com a formação da antropologia no Brasil e das coleções de cultura material indígena dos museus brasileiros e estrangeiros. Tal política já vinha sendo questionada pelos irmãos Villas-Boas que ficaram famosos por suas expedições na região central do Brasil entre as décadas de 1940 e 1960.
Nesse contexto, antropólogos importantes como Heloísa Alberto Torres, Darcy Ribeiro, Roberto Cardoso de Oliveira, Eduardo Galvão, tentaram levar ao SPI as premissas antropológicas da época, questionando os cânones e práticas sertanistas. Embora considerassem inevitável a integração dos índios à sociedade nacional, defendiam que o órgão indigenista não se comprometesse a estimular este processo.
As discussões que propunham estavam em consonância com os debates latino-americanos e internacionais mais amplos realizados no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), que, em 1957, promulgou, através da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Convenção nº 107 “Sobre a Proteção e Integração das Populações Indígenas e outras Populações Tribais e Semitribais de Países Independentes”, que apenas foi ratificada pelo Brasil em 1966 (Decreto nº 58.824/66). 
Os poucos recursos destinados ao SPI e o baixo grau de profissionalização dos seus funcionários (muitos deles militares e trabalhadores rurais que não tinham qualquer conhecimento frente às questões indígenas) e acusações de genocídio levaram à extinção do órgão juntamente com o CNPI.
FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO (FUNAI)
Em 1967 foi criada a Fundação nacional do Índio (FUNAI) cujo principal objetivo era servir como tutora dos índios brasileiros. A partir de então, cabe à FUNAI promover a educação básica aos índios; demarcar, assegurar e proteger as terras por eles tradicionalmente ocupadas; estimular o desenvolvimento de estudos e levantamentos sobre os grupos indígenas.
A Fundação tem, também, a responsabilidade de defender as comunidades indígenas; promover o interesse da sociedade nacional pelos índios e suas causas; e gerir o seu patrimônio e fiscalizar suas terras, impedindo ações predatórias de garimpeiros, posseiros, madeireiros e quaisquer outras que ocorram dentro de seus limites e que representem um risco à vida e à preservação desses povos.
DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS
Uma das questões mais trabalhadas pela FUNAI é a demarcação das terras indígenas. Na legislação brasileira terra indígena é “a terra tradicionalmente ocupada pelos índios, por eles habitada em caráter permanente, utilizada para as suas atividades produtivas, imprescindível à preservação dos recursos ambientais necessários ao seu bem-estar e para à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”. 
Atualmente, para uma terra ser reconhecida e demarcada como indígena, ela precisa passar por um longo processo:
• Estudos científicos chefiados por antropólogos reconhecidos pela FUNAI; 
• Aprovação da FUNAI do relatório feito pelo estudo científico e publicação no Diário Oficial;
• Passar os 90 dias de contestação; 
• Declarar os limites da área;
• Demarcação física do território bem como o reassentamento da população não indígena (tarefa que cabe ao INCRA); 
• Homologação do Presidente da República; 
• Registro da homologação no Serviço de Patrimônio da União.
Observa-se que esse é um processo longo e burocrático, e que ainda tem que se deparar com outros obstáculos. De um lado, os interesses econômicos, sobretudo a exploração madeireira e a derrubada sistemática da floresta amazônica para a criação de gado e a produção de soja têm colocado sociedades indígenas, a FUNAI e os grandes proprietários de terra em constante embate. 
De outro, a noção de terra e território dos grupos indígenas é muito mais fluida do que a lei brasileira determina. Conforme visto nas primeiras aulas do curso, a maior parte das sociedades indígenas era nômade ou seminômade o que, por si só, já aponta outros usos e significados da terra para esses povos.
MAPA DAS TERRAS INDÍGENAS BRASILEIRAS
Percebe-se, então, que as questões referentes às populações indígenas ainda estão longe de uma solução que agrade os diferentes sujeitos, principalmente os índios. 
Embora a presença indígena e o legado por eles deixado na história e nos costumes do Brasil sejam cada vez mais reconhecidos, ainda falta muito para que sua integração seja feita de forma efetiva, levando em consideração não só os interesses da União, mas a diversidade indígena em suas múltiplas facetas.
AULA 9 - MOVIMENTO NEGRO E A BUSCA DE OUTRA MEMÓRIA AFRODESCENDENTE

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