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POR QUE A CRIMINOLOGIA EXPLICA

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POR QUE A CRIMINOLOGIA EXPLICA? 
 
Rubens Correia Junior 
Parecista, Advogado, Palestrante e Professor de Direito Penal e processo 
penal da Universidade Antonio Carlos – UNIPAC/MG e professor em nível de 
pós-graduação da pontifícia universidade católica – PUC/MG. Graduado em 
Direito pela Universidade de Uberaba. É Especialista em Direito Tributário e 
Direito Penal e Processual Penal pela Universidade de Franca (2007) e pós-
graduado em Criminologia pela PUC/BH e doutorando em Direito Penal pela 
Universidade Nacional de Buenos Aires - UBA. 
 
RESUMO 
 
A criminologia é considera uma ciência nova, empírica e bastante controversa, 
ela tem como objeto o estudo do crime, delinqüência, suas manifestações, 
causas e consequências, mas no afã de responder todas as indagações e 
procurar motivos para a criminalidade resta a pergunta simples, porém crucial 
de por que a criminologia explica? Qual o motivo impulsionador de suas 
respostas e definições? Este artigo discute estas indagações, vislumbrando 
além da criminologia a ideologia que a move essa ciência. 
 
Palavras chave: Criminologia, positivismo, teorias críticas 
 
ABSTRACT 
 
The criminology is considered a new science, empirical and very controversial, 
it has as object the study of crime, delinquency, its manifestations, causes and 
consequences, but the eagerness to answer all questions and seek reasons for 
the crime remains the simple question, But crucial to explain why the crime? 
What is the reason of your answers and driver settings? This article discusses 
these questions, seeing beyond the ideology of criminology that the move this 
science. 
 
Keywords: Criminology, positivism, critical theory 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
Por que a criminologia explica? Pode parecer uma pergunta quimérica e 
até mesmo falaz, mas merece cada vez mais ser respondida e principalmente 
refletida. En passant essa inquirição pode se mostrar despretensiosa, mas não 
o é. Tal indagação induz a dezenas e variadas respostas, tanto críticas como 
conceptivas. 
Em se tratando de uma resposta baseada no conhecimento da 
criminologia e sua história, outra não poderia ser a resposta senão de um ponto 
de vista questionador e principalmente deflagrador, que ponha em cheque, 
várias das ideologias ligadas aos estudos dos fenômenos da criminalidade. 
Para respondermos essa questão, imperioso se faz relembrarmos que a 
criminologia tem o seu gene ligado ao iluminismo, a revolução burguesa e a 
concretização moderna da eterna dicotomia pobre versus ricos, entendida aqui 
como dominados subjugados aos dominantes. 
A solidificação do capitalismo, a ascensão da burguesia e a 
exponenciação da ideologia de lucro e propriedade exigiam sistemas e teorias 
que garantissem e justificassem as disparidades, exigiam uma explicação que 
também aplacasse os ânimos. 
 
 
2 O CONTRATO E O ACALANTO BURGUÊS 
 
 
Daí vieram os clássicos... 
Focando no “Contrato Social”, edificaram a idílica definição de criminoso 
como aquele sujeito que rompeu com o contrato social. Mas que contrato é 
esse? Poderia perguntar os premidos camponeses, sem saber que a partir 
daquele momento seriam cobrados por um contrato edificado à sua revelia e 
com vistas a esbulhá-los ainda mais. 
 Não nos olvidemos que muitos dos pensadores atuais atribuem sentido 
diverso a esse contrato, até mesmo reduzindo a sua importância no âmbito 
criminológico, mas cabe-nos neste artigo levantar as indagações e impingir a 
controvérsia. Sendo que ao menos um ponto parece pacífico: a ficção criada 
por Rousseau (2004) não comporta a todos. 
Os clássicos vieram e se instalaram, mas... 
Entretanto com o passar de um século os anseios mudaram, ou melhor, 
se multiplicaram. O capitalismo se difundiu, alastrou-se por completo, a 
revolução industrial enriqueceu a nova burguesia e trouxe ainda mais poder às 
classes significantes. 
Tal “progresso” trouxe como efeito colateral: a invasão das cidades pela 
perigosa, mas necessária, massa de proletariados (sim.. neste período eles 
ainda existiam). Trabalhadores que tinham apenas um direito, o de trabalhar 
incessantemente para o enriquecimento de seu empregador. No entanto tal 
peça, totalmente substituível, mas indispensável para a engrenagem industrial, 
poderiam se rebelar. 
A estratificação social, que já era grande, se tornou imensurável, e isso 
poderia impulsionar a revolta dessas peças “substituíveis” frente à classe 
burguesa. Como se não bastasse os intelectuais e burgueses viam a situação 
catastrófica da massa proletariada como uma situação inquietante. 
Era necessário, portanto, outra explicação, uma resposta ainda mais 
justificante que respondesse não só a questão social como também 
acalentasse os burgueses e abonasse o fosso social 
Em meio a esse turbilhão de acontecimentos e mudanças cria-se mais 
uma ficção o Positivismo, nascido nos seios da Escola Italiana. Tal Escola não 
teve como mérito ser inovadora, pelo contrário, foi à síntese de várias idéias 
que permeavam o ideário europeu há séculos. 
As pré-históricas definições fisionomistas de Della Porta (1535 - 1615); 
Gaspar Lavater (1741 – 1801) que defendia o julgamento pela aparência do 
condenado; Marques de Moscardi e o édito de Valério, “ na dúvida pune-se o 
mais feio”, somados a cranioscopia de Fran Gall (1758 - 1828), a frenologia de 
Spurzheim (1776-1832) conjugando aos ensinamentos de Morel (1809 - 1873) 
deram o ambiente propício e os argumentos necessários para Cesare 
Lombroso (1835 - 1909) edificar a teoria que a classe dominante esperava 
da criminologia, a teoria do homem delinqüente. 
Tal teoria foi menos criada, e mais sistematizada, por Lombroso, com 
seu livro “O homem delinquente” finalizado em 1874 e lançado em 1876. 
Para o regozijo dos corações burgueses, estava então explicada, de 
uma vez por todas (pelo menos até então), a razão da seletividade do Direito 
Penal. Era genético (!!!!!). Portanto não era culpa do sistema capitalista, nem 
dos modos de produção e distribuição da sociedade. 
Amparadas nesta “reconfortante” idéia, tomava formas ainda mais 
delineadas a Ideologia da Defesa Social (ou do fim), uma sistematização que 
respondia de maneira clara e incontroversa (lógico que para classe dominante 
somente) as razões do sistema penal e os motivos do desvio. 
A classe dominante não precisava mais se preocupar, não havia relação 
do sistema capitalista, a estratificação social, as condições subumanas dos 
proletariados com o comportamento desviante, tudo estava correto, e caso 
alguma coisa não se adaptasse era “genético”, regenerecência apenas. 
Os revoltosos eram há esse tempo degenerados, a criminologia assim 
edificava e pasmem (!!!!) a criminologia até provava (!!), por meio de crânios, 
fossetas occipitais, atavismo e outros caracteres típicos. 
Seguindo as esteiras de Carvalho (2008) podemos aferir que as décadas 
se seguiram, e o juízo comum absorveu o discurso ideológico de defesa, e com 
isso a alteridade que já não contava com força e energia começou um 
processo gradativo de perda e negação. 
A criminologia, portanto, respondia de forma direta e voraz para 
criminalizar o diferente, o “inferior”, amparada pelos cidadãos abastados que 
não admitiam (e não admitem) a temporalidade e alteridade do outro. 
Desconsiderava-se então o indivíduo em prol da universalidade, todos iguais, 
mas dentro das suas desigualdades. 
Lembrando que a criminologia não só elucidava como se travestia de 
ferramenta para o equilíbrio Social, M. Angelo Vaccaro (2004) chega a focar 
seus estudos na seara criminológica na origem das leis que protegem os 
fracos (!!!!!!). 
As explicaçõesda criminologia continuavam. A Defesa Social agora 
posta, passou por décadas de (in) evolução, discussões e aprimoramentos. 
Houve a escola de Chicago e sua teoria ecológica, o crime talvez não 
fosse um defeito genético, mas estaria ligado ao nicho, ao “lócus” criminalizar. 
Ou seja, o meio era ocasionador, o determinismo continuava embora com 
indumentárias sociais. 
Vieram também as hipóteses sociológicas, onde baseados em Durkheim 
a criminologia continuava a explicar e os motivos e sistema de idéias eram 
praticamente os mesmos. 
Variações existiram, mas não por coincidência, tais teorias foram 
reconhecidas e batizadas nas palavras de Shecaira (2004) como “teorias do 
consenso” e não estaríamos equivocados em entender “consenso”, até mesmo 
como conivência, como conveniente. 
Até então a Ideologia da Defesa Social estava como o Ciclope Polifemo, 
vencido por Odisseu, ou seja, um monstro com uma fome voraz, insaciável e 
cego. Contudo em 1940, Sutherland revendo a sua própria teoria de 1929, 
planta uma indagação que reverbera até os dias hodiernos. 
A teoria do “White Collar”, ou colarinho Branco de Sutherland 
basicamente questionava como as teorias pretéritas lidavam com os crimes 
cometidos pelas pessoas abastadas. Como explicação insurgia com a Teoria 
da Associação Diferencial, um avanço em relação às teorias vigentes, no 
entanto ainda muito distante de uma contraposição da Defesa social, 
Nesta esteira teorias como subcultura, anomia, entre outras, trabalharam 
em terreno similar, mas sempre partindo do princípio (ou poderíamos dizer: 
falácia) da sociedade tendo por finalidade o funcionamento perfeito das 
instituições e todos os cidadãos compartilhando interesses comuns. 
A criminologia, deste modo, cada vez mais explicava para justificar 
o quadro de dominação existente. Assim sendo por quase dois séculos a 
Ideologia da Defesa Social, não só solidificou-se, mas se entranhou nas 
vísceras da sociedade. A criminologia servia ao seu papel, qual seja: o papel 
de abonadora e validadora da engrenagem tal como ela se encontrava e ainda 
se encontra. 
 
 
 
 
 
 
3 IDÉIAS INCONVENIENTES 
 
 
Porém algumas vozes inconvenientes se levantaram para afirmar que a 
criminologia não poderia explicar nada baseada em um consenso imaginário e 
fictício. Tendo como pontapé inicial o Interacionismo Simbólico (Labelling 
Approach) a própria criminologia é questionada, e é estabelecido (ou lembrado) 
que a sociedade é fundada na força e na coesão, a dominação de muitos sobre 
poucos. 
Tomando emprestado uma definição de Salo de Carvalho (2008), a 
criminologia sofre então a primeira de várias “feridas narcisísticas”. Percebe-se 
que a ciência criminal se funda em conceitos pré-determinados (como uma 
sociedade estruturada e cooperação mútua) inexistentes e não factíveis. 
Muda-se o foco, não mais o crime e o criminoso como satisfazia a classe 
dominante, mas agora o sistema penal como um todo, que de baluarte e aliado 
incontestável dos detentores dos meios de produção, começa a ser visto como 
sistema seletivo e cruel. 
A doutrina Criminal parece então, querer se livrar da Eleuterofobia que 
se encontrava afundada, desde seus primórdios e arrisca os primeiros e 
incertos passos. 
Ao invés de degenerescência, a estigmatização, ao invés da prisão 
ressocializadora, a prisão como sistema eficaz de controle da velha massa 
proletariada (hoje precariada). 
A partir deste fermento de ruptura vieram os críticos, radicais e os 
abolicionistas, a escola de Bolonha (Baratta, Bricola, Pavarini entre outros) 
bradando pelo fim das desigualdades, eliminação da exploração econômica e 
da opressão de classe. Concretizando que o delito é um fenômeno dependente 
do modo de produção capitalista e exigindo o fim do Direito Penal. 
A criminologia se encontrou desfigurada, ferida em seu narcisismo, mas 
os motivos que a impeliam a explicar o delito (a proteção dos interesses de 
uma classe, a massificação do medo) continuavam a existir e a clamar por uma 
resposta a altura. 
E as respostas não tardariam a vir. Nas últimas décadas as teorias de 
Defesa se fortaleceram e voltaram travestidas das mais diversas formas, mas 
com a mesma voracidade ciclopeana de sempre. 
Utilizando-se da proliferação do sentimento de medo e a democratização 
do terror e do pânico, a indigitada teoria lançou mão de doutrinas tais como: A 
“tolerância zero” e “janelas quebradas” entre outras e a punibilidade máxima 
em respostas ao absurdo (para a classe dominante é claro) do Direito Penal 
Mínimo. 
E como arcabouço e garantia da perpetuação do ideário dominante 
Jackobs lança o seu Direito Penal do Inimigo, tão aplaudido no meio intelectual 
e inafastadamente absorvido pela jurisprudência de quase todos os países. 
 
 
CONCLUSÕES (se assim podemos chamar) 
 
 
Mas por que a criminologia explica? Ela explica por que é imprescindível 
justificar, por que os detentores dos meios de produção e arrendatários 
também do Direito Penal necessitam de respostas que abonem e garantam as 
suas riquezas, suas propriedades e regalias. E principalmente que perpetuem a 
classe de desprivilegiados em seu papel coadjuvante, desapropriada de todo 
tipo de benesse. 
Portanto a criminologia da repressão (Cirino, 2008 ) não só explica como 
afiancia, por todos estes motivos ora apresentados. No entanto não seria 
quimérico lembrar que nos resta a velha (???) criminologia da libertação 
(Cirino, 2008 ), esta sim, tenta explicar na tentativa de edificação de um mundo 
mais igualitário e democrático. Uma utopia orientadora, mas que tenho a 
esperança que se torne uma realidade reformuladora. 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. 3. ed. 
Rio de Janeiro: Revan, 1999. 254p. 
 
 
 
BECCARIA, Cesare de. Dos Delitos e das Penas. Tradução de Torrieri 
Guimarães. 11. ed. São Paulo: Hemus, 1995. 126p. 
 
 
 
CARVALHO, Salo. Anti-Manual de Criminologia. Rio de Janeiro: Lumen 
Júris, 2008. 228p. 
 
 
 
CIRINO DOS SANTOS, Juarez. A criminologia radical. 3 ed. Curitiba: Lumen 
Juris,2008. 137p. 
 
 
 
LOMBROSO, César. O Homem Delinqüente. Tradução de Maristela Bleggi 
Tomasini. Porto Alegre: Ed. Ricardo Lenz, 2001.556p. 
 
 
ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social e outros escritos. Tradução de 
Rolando Roque da Silva. São Paulo: Cultrix, 2004. p.236. 
 
 
 
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. RT. São Paulo, 2004. 384p.

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