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53 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 GESTÃO DAS OPERAÇÕES PRODUTIVAS Unidade III 5 O PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO O projeto físico de uma operação produtiva deve proporcionar recursos capazes de satisfazer as exigências dos consumidores. O planejamento e controle preocupam‑se com a operação desses recursos no âmbito diário, fornecendo bens e serviços, atendendo as necessidades dos consumidores. Planejar e controlar significa gerenciar as atividades da operação produtiva, visto que qualquer operação produtiva requer planos e controle, mesmo que com graus de formalidade e detalhes variáveis. Isso torna evidente que algumas operações são mais difíceis de planejar do que outras. As que não permitem previsão são particularmente difíceis de planejar, enquanto as que têm alto grau de contato com os consumidores são mais difíceis de controlar, devido ao imediatismo das operações e à variabilidade impostas pelos consumidores. Contudo, os diferentes aspectos do planejamento e controle podem ser vistos como a representação da conciliação entre suprimento e demanda. 6 O QUE É PLANEJAMENTO E CONTROLE? Já abordamos as atividades de projeto que determinam a forma e a natureza do sistema e os recursos que contêm, sem nos preocuparmos com o andamento do processo no dia a dia. A atividade de planejamento e controle tem por objetivo garantir que os processos da produção ocorram eficaz e eficientemente, produzindo produtos e serviços conforme requisitados pelos consumidores. Proporcionam os sistemas, procedimentos e as decisões que conciliam as capacidades dos recursos com o conjunto de demandas gerais e específicas. Existem diferenças entre planejar e controlar, identificadas por algumas de suas características gerais: • um plano é uma formalização daquilo que se pretende que aconteça em determinado momento no futuro. Porém, não garante que o mesmo irá acontecer, sendo somente uma declaração de intenção; • planos são baseados em expectativas, que são esperanças relativas ao futuro; • quando operações tentam implementar planos, nem sempre as coisas acontecem como esperado: — os consumidores mudam de ideia; — os fornecedores nem sempre entregam na hora; 54 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 Unidade III — máquinas quebram; — funcionários faltam por doença. Dessa forma, planos geram ações de curto prazo, necessitando intervenções diretamente nas operações. O controle faz os ajustes que permitem que a operação atinja os objetivos que o plano estabeleceu, mesmo que o originalmente planejado não se confirme. Em resumo: • Plano é o conjunto de intenções para o que deveria ocorrer. • Controle é o conjunto de ações que visam ao direcionamento do plano, monitorando o que realmente acontece e fazendo eventuais mudanças necessárias. Lembrete Controlar consiste no processo que verifica se o que foi especificado e/ou planejado corresponde ao que foi produzido, realizado ou entregue ao cliente. Pelo exposto, fica evidente que a natureza do planejamento e controle muda ao longo do tempo. A figura seguinte mostra o que deve ser decidido nos horizontes de planejamento de curto, médio e longo prazo. Importância do planejamento ou controle Planejamento Controle Ho ra s/ di as M es es /a no s Ho riz on te d e te m po Di as /s em an as /m es es Planejamento e controle de longo prazo: • usa previsão de demanda agregada; • determina recursos de forma agregada; •‑objetivos estabelecidos em termos financeiros. Planejamento e controle de médio prazo: • previsão de demanda parcialmente desagregada; • determina recursos e contingências; • objetivos definidos tanto em termos financeiros e operacionais. Planejamento e controle de curto prazo: • previsão de demanda baseada na demanda real; • intervenções nos recursos para corrigir desvios; • considera objetivos operacionais ad hoc (caso a caso). Parte Planejamento Parte Controle 100% planejamento 100% controle Figura 28 – Atividades de planejamento e controle para curto, médio e longo prazo 55 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 GESTÃO DAS OPERAÇÕES PRODUTIVAS Saiba mais Verifique uma aplicação do PCP no artigo: LOPES, R. A.; LIMA, J. F. G. Planejamento e controle da produção: um estudo de caso no setor de artigos esportivos de uma indústria manufatureira. 2008. Disponível em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/ enegep2008_tn_sto_069_491_11556.pdf>. Acesso em: 20 maio 2014. Observação Quando analisamos a abrangência de tempo pelo planejamento dentro dos níveis organizacionais, temos o planejamento estratégico focado no longo prazo, o planejamento tático no médio e o planejamento operacional no curto prazo. Natureza do suprimento e demanda Sem planejamento e controle e o processo de conciliar demanda e suprimento, a natureza das decisões tomadas para planejar e controlar uma operação produtiva dependerá tanto da natureza da demanda como da natureza do suprimento na operação. Tanto o suprimento como a demanda podem conter certa dose de incerteza, gerada por características próprias de cada processo. Suprimento confiável requer disponibilidade de todos os recursos transformados e em transformação. A falta de algum deles pode resultar na falha do suprimento. A compreensão da incerteza no suprimento deve considerar a incerteza de cada recurso de entrada, participante do suprimento. A proteção para tal incerteza denomina‑se estoque ou reserva de contingente. As incertezas no lado da demanda são também importantes de analisar. Alguma operação tem demanda bastante previsível, como, por exemplo, uma escola, onde o consumo de todos os materiais necessários é bastante previsível em longo prazo. Em outras operações a demanda é imprevisível mesmo em curto prazo, como o exemplo de quiosques de sorvetes em shopping centers, que têm uma demanda independente de suas ações mercadológicas em geral. A única forma de proteger os processos contra tal variação de demanda também usa o recurso dos estoques, que auxiliará na proteção contra aumentos inesperados de consumo. Temos, assim, a definição de dois grupos distintos de demanda: • Demanda dependente: toda vez que uma montadora entrega um carro ao fim da linha de produção, o mesmo apresenta cinco pneus (não esqueça o estepe!) e um manual de instruções. Assim, a demanda de pneus e de manuais de instruções é absolutamente dependente da demanda 56 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 Unidade III de automóveis fabricados pela montadora – mais carros significam mais pneus e mais manuais. Tipicamente, pode ser previsível, devido a sua dependência de alguns fatores conhecidos (figura seguinte). Demanda dependente Ex: armazém de pneus em uma montadora Lembrar que cada automóvel utiliza 5 pneus! Demanda de pneus definida pelo número planejado de carros a ser montados. É, portanto, relativamente previsível devido a sua dependência de alguns fatores conhecidos. Figura 29 – Demanda dependente • Demanda independente: São Paulo era conhecida como a “terra da garoa”. Com as mudanças climáticas dos últimos anos, passou a ser conhecida como a terra das enchentes. Nos dias de chuva, por uma misteriosa razão, os pregos perdidos de embalagens e de carrocerias de caminhões “aparecem” dentro das poças de água, provocando uma maior incidência de pneus furados. Empresasdistribuidoras de pneus (citando, por exemplo, a D’Paschoal) adquirem pneus dos fabricantes, baseando‑se em um histórico de consumo por tipo ou modelo de pneu, e os mesmos são mantidos em estoque até que apareça algum cliente. Nos dias de chuva, com certeza, o numero de pneus vendidos aumenta (porque ninguém quer parar na chuva para trocar o furado). Assim, a demanda de pneus em uma rede como a citada é totalmente imprevisível, devendo ser calculada com base em históricos de consumo e assumindo riscos de ficar com muito ou pouco estoque (figura seguinte). Demanda independente Ex: serviço de venda e troca de pneus A demanda é gerada, em grande parte, por fatores aleatórios. + Isto é um prego ! Figura 30 – Demanda independente 57 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 GESTÃO DAS OPERAÇÕES PRODUTIVAS Lembrete Demanda é a quantidade de produtos que o mercado está disposto a comprar em determinado momento. Saiba mais A identificação do tipo de demanda é imprescindível para a realização do PPCP – Planejamento, Programação e Controle da Produção de uma operação. Veja que artigo contributivo: SOUZA, R. S. et al. Previsão da demanda como suporte para o planejamento e controle da produção na Sigma – indústria eletroeletrônica. Ingepro, v. 3, n. 4, p. 84‑96, abr. 2011. Disponível em: <http://www.ingepro. com.br/Publ_2011/Abr/437%20pg%2084‑96.pdf>. Acessado em 20 maio 2014. A resposta para as condições de demanda depende da forma da escolha de como agir. Em cada caso, deve ser analisada a relação entre o tempo de demanda D e o tempo total de processo P. • Demanda = tempo total de espera pelo consumidor, desde o momento do pedido até o recebimento do produto ou serviço. • Processo = tempo total do processo gasto por quem oferece o produto ou serviço. As figuras seguintes apresentam os diferentes tempos de P e D para tipos de planejamento e controle. Comprar P EntregarFazer D Pedido (a) P e D no planejamento e controle do tipo fazer‑para‑estoque 58 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 Unidade III Comprar P EntregarFazer D Pedido (b) P e D no planejamento e controle do tipo fazer‑contra‑pedido Comprar P EntregarFazer D Pedido (c) P e D no planejamento e controle do tipo obter recursos‑contra‑pedido Figura 31 – Relação entre os tempos P e D para diferentes tipos de planejamento e controle Comprar D Pedido Fazer peças Montar Entregar P Figura 32 – Relação entre os tempos P e D para o tipo híbrido de fazer‑para‑estoque para depois montar‑contra‑pedido Lembrete O tempo de espera do consumidor depende da quantidade de etapas a serem executadas, a partir do momento do pedido até a efetiva entrega do produto ou serviço. Quanto menor for esse tempo de ciclo, melhor para o consumidor. Atividades de planejamento e controle O planejamento e o controle requerem a conciliação do suprimento e da demanda em termos de volume, tempo e qualidade. Para conciliar volume e tempo, quatro atividades justapostas são desempenhadas: carregamento, sequenciamento, programação e controle (ver figura seguinte). 59 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 GESTÃO DAS OPERAÇÕES PRODUTIVAS Quando fazer? Programação Carregamento Sequenciamento Monitoramento e controle Em que ordem fazer? Quanto fazer? As atividades estão conforme o plano? Figura 33 – Atividades de planejamento e controle Saiba mais O planejamento e controle de produção baseiam‑se nas três atividades principais. Leia o artigo: FIGUEIREDO, M. V. et al. Sequenciamento da produção em uma linha de usinagem industrial utilizando a Metaheurística Simulated Annealing. 2013. Disponível em: <http://www.aedb.br/seget/artigos13/42118455.pdf>. Acesso em: 20 maio 2014. 1. Carregamento: é a quantidade de trabalho alocado para um centro de trabalho, levando em conta o tempo real de operação (que desconta do máximo tempo disponível os períodos não trabalhados, as trocas de preparação e os tempos de máquina parada para manutenção, por exemplo). Para efeito de carregamento podem‑se considerar duas abordagens: • Carregamento finito: que aloca trabalho para um centro de produção até um limite preestabelecido. É um método importante para operações em que é possível limitar a carga (consultório médico), ou onde é necessário limitar a carga (pessoas em um avião), ou quando o custo da limitação da carga não é proibitivo (fila de espera para comprar uma Ferrari). • Carregamento infinito: em que não se limita a aceitação do trabalho, mas procura‑se corresponder a ele. Torna‑se relevante para operações nas quais não é possível limitar o carregamento (pronto‑socorro de emergências em um hospital de clínicas), ou onde não e necessário limitar o carregamento (quiosques de fast food), ou quando o custo de limitação do carregamento é proibitivo (um banco de varejo não pode recusar clientes, mesmo estando com certa quantidade de pessoas dentro). 60 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 Unidade III 2. Sequenciamento: na chegada de trabalho, decisões devem ser tomadas, definindo a ordem em que as tarefas serão executadas, que é o sequenciamento da produção. Tal sequenciamento depende de um conjunto de regras predefinidas, algumas delas complexas: • Restrições físicas, considerando que a natureza física dos materiais pode determinar a prioridade do trabalho (pode‑se escurecer um tecido claro, mas não é possível clarear um tecido escuro). • Prioridade do consumidor, tendo em vista que algumas operações permitem algumas vezes que consumidores importantes, ou temporariamente ofendidos, sejam “processados” antes dos demais. Deve‑se observar que tal procedimento pode baixar a média de desempenho da operação se o fluxo de trabalho existente for perturbado por causa de consumidores importantes, podendo erodir o nível de qualidade e de produtividade da operação, fazendo‑a menos eficiente. • Lifo (last in first out, ou último a entrar, primeiro a sair), que acaba se tornando um método de sequenciamento usualmente escolhido por razões práticas (descarga de um elevador, por exemplo). Todavia, sua abordagem não é equitativa: quem espera em uma fila não ficará nada satisfeito ao ver o último a chegar sendo atendido na sua frente. A sequência não é determinada por razões de qualidade, flexibilidade ou custo, não sendo esses objetivos de desempenho bem servidos por esse método. • Fifo (first in first out, ou primeiro a entrar, primeiro a sair), regra de sequenciamento simples de utilizar, que permite, em operações de alto contato com o consumidor, mostrar uma forma justa de sequenciamento, ou que permite garantir que produtos estocados há mais tempo sejam consumidos primeiro. Aspectos como rapidez e confiabilidade de entrega podem não apresentar níveis altos de desempenho, assim como é difícil ser flexível em um sistema no qual a priorização é visível aos consumidores. • Operação mais longa/tempo total mais longo da tarefa primeiro, que significa sequenciar os trabalhos mais longos em primeiro lugar, gerando a vantagem de ocupar os centros de trabalho dentro da operação por longos períodos. Todavia, essa regra não leva em conta a rapidez, confiabilidade e/ou flexibilidade, podendo, em certos instantes, até ser contra tais objetivos. • Operação mais curta/tempo total mais curto da tarefa primeiro, tendo em conta que muitas operações,em certo momento, tornam‑se limitadas por disponibilidade de caixa. Ajustando‑se o sequenciamento, de forma a fazer trabalhos mais curtos na frente, torna‑se possível faturar tais trabalhos e seus pagamentos recebidos mais rapidamente, facilitando o fluxo de caixa. Todos os objetivos de desempenho podem ser usados para o julgamento das regras de sequenciamento, mas os objetivos de confiabilidade, rapidez e custo destacam‑se dos demais em termos de importância, visto que o que se busca é: • atender a data prometida ao consumidor (confiabilidade); • minimizar o tempo que o trabalho gasta no processo, conhecido como tempo de fluxo (rapidez); 61 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 GESTÃO DAS OPERAÇÕES PRODUTIVAS • minimizar o estoque do trabalho em processo (um elemento de custo); • minimizar o tempo ocioso dos centros de trabalho (outro elemento de custo). Observação Desempenhar corresponde a resgatar o que estava empenhado. Em um processo estão empenhados os recursos materiais, humanos e tecnológicos. O desempenho é o resultado obtido pelo empenho desses insumos. Resultado medido pela qualidade, rapidez, custo, confiabilidade e pela sua flexibilidade. Ao determinar a sequência em que o trabalho será desenvolvido, algumas operações exigem a construção de um cronograma detalhado, que mostre quando os trabalhos devem começar e terminar – isso é um programa. Programas são declarações de volume e tempo (horários ou datas), familiares em ambientes como o do transporte coletivo nas cidades, que considera horários de partida e de chegada, assim como o aumento da oferta nos horários de pico. Programas de trabalho aparecem quando o planejamento é necessário para garantir a demanda esperada pelo consumidor. Operações nas quais a chegada do consumidor acontece de forma não planejada não podem ser programadas em curto prazo, respondendo somente quando a demanda aparece. Programar é a mais complexa das atividades que aparece no gerenciamento da produção: • os programadores precisam lidar com diferentes tipos de recursos ao mesmo tempo; • as máquinas têm diferentes capacidades e capacitação; • o pessoal tem diferentes habilidades; • o número de programas possíveis aumenta em função do crescente número de atividades e processos. Imaginando‑se uma situação real, com cem diferentes processos e trinta máquinas, em que cada processo usa cinco máquinas diferentes, temos uma tarefa de programação extremamente complicada. Mesmo onde um produto é manufaturado repetidamente, pode haver certo número de processos (rotas) diferentes que o produto pode percorrer para ser produzido. Na prática, muitas das alternativas calculadas levando em conta o número de processos (n) e o número de máquinas (m) – (n!).m – não são aplicáveis, sendo rapidamente eliminadas. Mas ainda sobrarão muitas alternativas válidas em cada caso. 62 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 Unidade III Nunca um processo de programação pode ser estático, considerado válido por um período longo. A atividade de programar uma produção deve ser repetida com frequência, a fim de levar em conta mudanças no ambiente e no mix de produtos. O método de programação pode ser feito de duas formas: • a partir da data na qual o pedido do cliente foi lançado no sistema de controle, denominada programação para frente; • a partir da data desejada pelo cliente para receber o produto, e conhecendo‑se o tempo de fabricação de cada componente, “caminha‑se” para trás na escala de tempo, chegando‑se ao tempo mínimo no qual os trabalhos devem começar, permitindo atender o prazo desejado. Esse processo denomina‑se programação para trás. Quadro 4 – Vantagens da programação para frente e para trás Vantagens da programação para frente Vantagens da programação para trás Alta utilização do pessoal: os trabalhadores sempre começam a trabalhar para manter‑se ocupados. Custos mais baixos com os materiais: os materiais não são usados até o momento em que tenham de ser, retardando agregar valor até o último momento. Flexível: as folgas de tempo no sistema permitem que trabalhos inesperados sejam programados. Menos exposto a riscos no caso de mudança de programação pelo consumidor, tendendo a focar a operação nas datas prometidas ao consumidor. Fonte: Slacks (2009). Criando‑se um plano para a operação, por meio de carregamento, sequenciamento e programação, cada parte precisa agora ser monitorada para assegurar que o plano esteja dentro do esperado. O sistema de controle é a intervenção periódica nas atividades da operação, podendo ser realizada controlando cada posto de trabalho, e ao finalizar a tarefa o resultado é enviado para a estação de trabalho seguinte (denominada controle empurrado) ou aguardando que o posto de trabalho seguinte solicite a confecção de determinada atividade (denominada controle puxado). A importância do entendimento das programações empurrada e puxada é o fato de que cada uma tem diferentes efeitos em termos de estoques acumulados durante as operações. Os sistemas puxados são muito menos propensos à criação de estoques em processo, uma vez que são, em geral, aplicados em conjunto com operações Just In Time (produção apenas a tempo), que veremos adiante. Enquanto isso, no sistema empurrado, cada estação de trabalho produz sem nenhuma relação com a estação seguinte e torna‑se inevitável a geração de estoque em processo (ver figura a seguir). 63 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 GESTÃO DAS OPERAÇÕES PRODUTIVAS Demanda Empurrado: condições para disparar produção: 1. disponibilidade do material; 2. presença da ordem no programa definida a partir de previsões; 3. disponibilidade do equipamento. Puxado: condições para disparar produção: 1. sinal vindo da demanda ‑ quadrado Kanban com menos de dois produtos (no exemplo); 2. disponibilidade do equipamento; 3. disponibilidade do material. Figura 34 – Sistema “empurrado” e “puxado” de programação da produção Lembrete A produção empurrada é mais aplicável para sistemas de produção em massa e contínua, pois eles utilizam a previsão de vendas para definir a demanda futura e proceder o seu PCP. Observação O JIT – Just In Time – surgiu da observação dos representantes da Toyota, criadores do Sistema Toyota de Produção, em um supermercado norte‑americano. Nas pequenas gôndolas de mercadorias, com menos que 1 m² de espaço para o estoque na loja, vendiam‑se milhares de unidades por semana. O modelo simples de controle e monitoramento da produção mostrado na figura a seguir auxilia no entendimento das funções básicas da atividade de monitoramento e controle, mas não deixa de ser uma simplificação. Um conjunto útil de questões a serem usadas na avaliação do grau de dificuldade associado com o controle de qualquer operação pode ser: • Existe consenso sobre quais deveriam ser os objetivos da operação? • Quão bem pode ser mensurada a saída de uma operação? • São previsíveis os efeitos das intervenções em operações? 64 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 Unidade III • As atividades das operações são muito repetitivas? Controle difícil, porque Controle mais fácil, porque nenhum objetivo aceito universalmente; portanto, difícil saber se a operação está funcionando como devia; Baixo Alto Consenso sobre os objetivos das operações o desempenho das operações pode ser avaliadosegundo objetivos claros do processo; nenhuma medida geral de como a operação está se desempenhando; portanto, difícil detectar desvios no plano; Baixa Alta Mensurabilidade das saídas da operação mensurabilidade das saídas significa que o nível de desempenho é conhecido; nenhuma previsão dos efeitos das inversões; portanto, difícil saber o que fazer, caso o processo se desvie do plano; Baixo Alto Conhecimento sobre o comportamento da operação as consequências de qualquer intervenção na operação são previsíveis, portanto, desvios dos planos podem ser corrigidos; nenhuma repetição; as saídas variam tanto que, se um deles é insatisfatório, como o próximo envolve atividades diferentes, é difícil aprender. Baixa Alta Repetição das atividades da operação fazer a mesma coisa muitas vezes facilita o aprendizado. Serviço de creche Produção de alimentos Serviço de aconselhamento tributário Figura 35 – Modelo simplificado de controle da produção O modelo simples de controle e monitoramento da produção mostrado na figura auxilia no entendimento das funções básicas da atividade de monitoramento e controle, mas não deixa de ser uma simplificação. Um conjunto útil de questões a serem usadas na avaliação do grau de dificuldade associado com o controle de qualquer operação pode ser: • Existe consenso sobre quais deveriam ser os objetivos da operação? • Quão bem pode ser mensurada a saída de uma operação? • São previsíveis os efeitos das intervenções em operações? • As atividades das operações são muito repetitivas? 65 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 GESTÃO DAS OPERAÇÕES PRODUTIVAS Finalmente, para bem posicionar a atividade de planejamento e controle, deve‑se analisar como a relação volume/variedade influencia a atividade de planejar e controlar (ver figura a seguir). Volume Variedade Resposta ao consumidor Horizonte de planejamento Grandes decisões de planejamento Decisões de controle Robustez Baixo Alto Alta Baixa Lenta Rápida Curto Longo Tempo Volume Detalhadas Agregadas Alta Baixa Figura 36 – Efeitos de volume/variedade no planejamento e controle Operações que produzem alta variedade de produtos ou serviços em volume relativamente baixo têm consumidores que requerem um conjunto diferente de fatores e utilizam processos que possuem um conjunto diferente de necessidades, quando comparados às operações que criam produtos ou serviços padronizados em grande volume. Assim, a prontidão de resposta ao consumidor, o horizonte de planejamento, as principais decisões de planejamento e a robustez do planejamento e controle são claramente afetados pelo volume e pela variedade. 6.1 Planejamento e controle da capacidade Prover a capacidade produtiva para satisfazer a demanda atual e futura é uma responsabilidade fundamental da atividade de administração da produção. Um bom equilíbrio entre capacidade e demanda pode gerar altos lucros e resultar em clientes satisfeitos. Mas, atingir o equilíbrio envolve decisões que afetam toda a organização: • decisões sobre a capacidade têm impacto sobre toda a empresa; • todas as funções da organização fornecem entradas vitais para o processo de planejamento; • cada função do negócio deve planejar e controlar a capacidade de suas próprias “micro‑operações”, para atender a função produção principal. O termo capacidade é geralmente associado a algo estático, como o volume ou a capacidade do porta‑malas de um automóvel ou de uma caixa d’água, ou a capacidade ou lotação de um cinema, de um avião etc. Nesse sentido, capacidade descreve o tamanho da operação, mas não descreve a capacidade de processamento. Quando utilizamos o termo capacidade para descrever capacidade de processamento, devemos adicionar o fator tempo. 66 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 Unidade III Capacidade é, portanto, o máximo nível de atividade de valor adicionado em determinado período de tempo que o processo pode realizar em condições normais de operação. Em determinada operação, podemos ter: • parte dos postos de trabalho observados operando abaixo de sua capacidade, visto a demanda ser insuficiente para “preencher” a capacidade do posto; • alguns outros postos trabalhando “a plena carga”, no que se denomina “capacidade máxima”. Esses postos não permitem mais nenhuma adição de ordens novas, sendo, portanto, assumidos como as restrições de capacidade para toda a operação. Entende‑se por planejamento e controle da capacidade a tarefa de determinar a capacidade efetiva da operação produtiva, de forma que ela possa responder à demanda, ou seja, como decidir a reação da operação perante às flutuações da demanda. Saiba mais As restrições em um processo produtivo são representadas por “gargalos”, ou seja, etapas ou subprocessos mais lentos, que acabam por ditar o ritmo de toda a produção. Leia mais sobre restrições no livro: GOLDRATT, E. M.; COX, J. A meta. São Paulo: IMAM, 1990. As decisões tomadas no planejamento das políticas de capacidade de médio e curto prazos vão afetar diversos aspectos de desempenho: • os custos são afetados pelo equilíbrio entre capacidade e demanda. Se houver excedente de capacidade, temos subutilização da mesma e, portanto, alto custo unitário; • as receitas são afetadas como os custos, porém de forma oposta: como existe excedente de demanda, significa que toda a demanda será atendida, não havendo perda de receitas; • o capital de giro será afetado, por exemplo, pela produção de estoques para atender a demanda, que deve ser financiada pela organização; • a qualidade dos bens ou serviços pode ser afetada devido à contratação de mão de obra terceirizada ou temporária, podendo aumentar a incidência de erros; • a velocidade de resposta à demanda pode ser melhorada, seja pela criação dos estoques ou pelo aumento deliberado da capacidade, evitando‑se filas; 67 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 GESTÃO DAS OPERAÇÕES PRODUTIVAS • a confiabilidade será menor quando a capacidade total estiver mais próxima da demanda, visto a produção, nessa situação, perder sua flexibilidade; • a flexibilidade de volume é melhorada pela capacidade excedente, mas se a capacidade estiver próxima à demanda, não será possível atender às variações desta. Na maioria das organizações, a previsão de demanda é de responsabilidade dos departamentos de vendas e marketing, sendo a principal entrada para as decisões de planejamento e controle da capacidade. Sem uma estimativa de demanda futura, não é possível planejar para futuros eventos, restando somente reagir a eles. As previsões de demanda devem obedecer a três requisitos: • serem expressas em termos úteis para o planejamento e controle da capacidade (muitas vezes previsões baseadas em resultados financeiros não são úteis para quem administra a gestão da produção); • serem tão exatas quanto possível (mesmo sabendo que podem mudar antes da produção ocorrer, ou mostrar‑se muito diferentes da demanda real); • dar uma indicação da incerteza relativa, tendo por base a estatística da demanda, determinando uma distribuição da mesma para cada período avaliado. Em muitas organizações, o planejamento e controle da capacidade estarão preocupados com flutuações sazonais de demanda. Certos produtos têm sazonalidade de demanda, e outros também têm sazonalidade de suprimentos (ver o próximo quadro). Quadro 5 – Diferentes operações que devem lidar com demanda sazonalCausas da sazonalidade Climáticas Festivas Comportamentais Políticas Financeiras Sociais Alguns produtos e serviços sazonais Materiais de construção Serviços de viagem Bebidas Férias Alimentos (panetone) Processamento de impostos Vestuário (maiôs) Médico (epidemia de dengue) Itens de jardinagem (sementes) Serviços de esportes (olimpíadas) Fogos de artifício Serviços de educação Fonte: Slacks (2009). Para bem definir uma capacidade, deve‑se ter também o recurso da medição da capacidade, mas tendo‑se em vista a complexidade do processo produtivo, tal medição pode ser bastante complexa. O volume de produção é a medida mais prática de capacidade, porque a natureza do produto não varia (ver quadro a seguir). 68 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 Unidade III Quadro 6 – Medidas de capacidade por diferentes operações Operação Medida de capacidade de insumos Medida de capacidade de volume de produção Fábrica de ar condicionado Horas/máquinas disponíveis Número de unidades por semana Hospital Leitos disponíveis Número de pacientes tratados por semana Teatro Número de assentos Número de clientes entretidos por semana Universidade Número de estudantes Estudantes graduados por ano Loja de venda no varejo Área de vendas Número de itens vendidos por dia Companhia aérea Número de assentos disponíveis no setor Número de passageiros transportados por semana Companhia de eletricidade Tamanho do gerador Megawatts‑hora de eletricidade gerada Cervejaria Volume dos tanques de fermentação Litros por semana Fonte: Slacks (2009). A proporção entre o volume de produção realmente conseguido por uma operação e sua capacidade de projeto, e entre a saída real e sua capacidade efetiva é respectivamente chamada de utilização e eficiência da fábrica. Utilização = (volume de produção real) / (capacidade do projeto) Eficiência = (volume de produção real) / capacidade efetiva Exemplo: Suponha que um fabricante de papel fotográfico tenha uma linha de produção com capacidade de projeto de 200 m2 por minuto, com a linha operando 24 horas por dia, sete dias por semana (168 horas por semana). A capacidade do projeto é, portanto, de 200 x 60 (minutos por hora) x 24 (horas por dia) x 7 (dias da semana) = 2.016 milhões de m2 por semana. Os registros de perdas (tempos perdidos que não foram utilizados para a produção) para uma semana de produção são: Quadro 7 Motivo Descrição Tempo perdido 1 Mudanças de produtos (set‑up) 20 h 2 Manutenção preventiva regular 16 h 3 Nenhum trabalho programado 8 h 4 Amostragens de qualidade 8 h 5 Tempos de troca de turnos 7 h 69 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 GESTÃO DAS OPERAÇÕES PRODUTIVAS 6 Paradas para manutenção 18 h 7 Investigação de falhas de qualidade 20 h 8 Falta de estoque 8 h 9 Falta de pessoal 6 h 10 Espera por rolos de papel 6 h Em certa semana, o volume de produção real foi de 582.000 m2. Cinco motivos para a produção perdida eram inevitáveis e totalizaram 59 horas. Outros cinco são perdas não planejadas e totalizam 58 horas. Resultados (ver figura a seguir): • Capacidade do projeto = 168 h/semana • Capacidade efetiva = 168 – 59 = 109 h/semana • Volume de produção real = 168 – 59 – 58 = 51 h • Utilização = (volume de produção real) / (capacidade do projeto) = (51 h) / (168 h) = 0,304......30,4% • Eficiência = (volume de produção real) / (capacidade efetiva) = (51 h) / (109 h) = 0,468......46,8% Capacidade de projeto 168 h/semana Produção real 51 h/semana Capacidade efetiva 109 h/semana Eficiência = (volume de produção real) / (capacidade efetiva) = 51/109 = 0,468 = 46,8% Perdas planejadas 59 h/semana Perdasque podem ser evitadas 58 h/semana Utilização = (volume de produção real) / (capacidade de projeto) = 51/168 = 0,304 = 30,4% Figura 37 – Utilização e eficiência 70 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 Unidade III Observação “A capacidade de produção é corresponde ao máximo nível de atividade de valor adicionado em determinado período de tempo que o processo pode realizar sob condições normais de operação” (SLACK et al., 2009, p. 314). Entendido o que é eficiência, pode‑se imaginar o que é eficácia geral do equipamento, baseando‑se em três aspectos de desempenho: • velocidade ou taxa de atravessamento (quanto tempo o produto demora para começar a ser transformado no equipamento até o final de seu processo de transformação no equipamento); • qualidade do produto ou serviço que produz; • tempo que está disponível para operar. A utilização também pode ser pensada como sendo uma medida de desempenho das operações, a qual, para muitos negócios, pode ser uma das medidas‑chaves do desempenho da produção. Por exemplo: • níveis de ocupação de quartos nos hotéis; • fator de ocupação para assentos de avião; • tempo de utilização em algumas fábricas. Uma vez conhecidas a demanda e a capacidade, quais métodos utilizar quando aparece a flutuação da demanda (natural no mundo dos negócios)? Basicamente, três são as soluções apresentadas: • Ignorar as flutuações e manter os níveis das atividades constantes (denominada política de capacidade constante), processo utilizado em operações de grande volume, mas não aplicáveis a produtos perecíveis, produtos de moda ou produtos customizados. Pode resultar em subutilização da capacidade, como no caso de hotéis que mantêm toda a equipe de atendimento durante todo o ano. • Ajustar a capacidade para refletir as flutuações da demanda (denominada política de acompanhamento da demanda), o que é muito difícil de se conseguir, pois envolve diferentes quantidades de pessoas, horas trabalhadas ou quantidade de equipamentos em cada período. Conseguem, entretanto, refletir as mudanças na demanda. Por exemplo, os postos de pedágio nas grandes rodovias, que aumentam o número de baias de atendimento em finais de semana, diminuindo durante as madrugadas. Alguns métodos para ajustar a capacidade são: 71 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 GESTÃO DAS OPERAÇÕES PRODUTIVAS — horas extras e tempo ocioso; — variar o tamanho da força de trabalho; — usar pessoal em tempo parcial; — subcontratação. • tentar mudar a demanda para ajustá‑la à disponibilidade da capacidade (denominada gestão da demanda), o que significa transferir a demanda dos horários de pico para os períodos mais tranquilos. Depende muito das funções de marketing e/ou vendas, utilizando recursos distintos, tais como: — preço (descontos); — propaganda (coma panetone o ano todo!); — produtos e serviços alternativos (voo charter). Finalmente, quando uma organização estiver perto de decidir qual política de capacidade adotará, deve conscientizar‑se das consequências da adoção de cada política acima exposta. Teoria das filas Um dos métodos de avaliação das consequências da adaptação de políticas específicas de capacidade denomina‑se teoria das filas. Teoria das filas é aplicada em operações nas quais tipicamente não existe a possibilidade de estocar seus produtos, como aparece na maior parte das operações de serviços. Embora essas operações façam previsões de seu nível médio de demanda, não existe forma de prever exatamente quando cada cliente ou pedido individual chegará. Assim, torna‑se especialmente difícil prover a capacidade adequada. Da mesma forma como a chegada do cliente é incerta, o tempo paraseu atendimento também é incerto (lembre dos caixas de banco). Conclui‑se que, mesmo quando a capacidade média (capacidade de processamento) da operação atender a demanda média (taxa de chegada dos clientes) do sistema, tanto filas como tempo ocioso podem ocorrer. 72 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 Unidade III Saiba mais Na maioria das operações, com as quais temos contato cotidiano, lidamos com a mais básica das formas de organização para sequenciamento de atendimento, as filas. Leia mais sobre as filas no artigo: CARVALHO, M. F.; DIAS, A. C. S. Aplicação dos conceitos de Teoria de Fila à melhoria do tempo de resposta em computadores de grande porte. 2006. Disponível em: <http://www.simpep.feb.unesp.br/anais/anais_13/ artigos/523.pdf>. Acesso em: 20 maio 2014. Alguns exemplos de operações que podem gerar filas são mostrados no quadro seguinte. Quadro 8 – Exemplos de operações, tipo de chegada e capacidade de processamento Operação Chegadas Capacidade de processamento Banco Clientes Caixas Supermercado Consumidores Caixas Clínica de hospital Pacientes Médicos Artista gráfico Encomendas Artistas Decorador de bolo sob encomenda Pedidos Decoradores de bolo Serviço de ambulância Emergências Ambulâncias com pessoal Mesa de telefonista Chamadas Telefonistas Departamento de manutenção Panes Pessoal de manutenção Fonte: Slacks (2009). Se tomarmos por exemplo um banco e tivermos que decidir quantas pessoas deverão estar à disposição para atendimento ao público durante o horário de pico do almoço, faz‑se necessário, primeiro, pesquisar o que ocorre na agência em questão, levantando‑se os seguintes dados: • os clientes chegam à agência nesse período, a uma taxa de 9 clientes/hora; • o tempo médio de atendimento para responder as perguntas dos clientes demanda 15 minutos. O gerente da agência conclui que quatro funcionários dariam conta desse fluxo de clientes, mas deseja garantir que ninguém espere mais que 3 minutos, em média, para ser atendido. Segundo a teoria das filas, teremos: λ = taxa média de chegada de clientes/hora 73 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 GESTÃO DAS OPERAÇÕES PRODUTIVAS λ = 9/h µ = taxa média de atendimento por atendente (capacidade de atendimento/h) 15 minutos de atendimento, em média, correspondem a 25% de uma hora. Assim: µ = 1 / 0,25 = 4 clientes por hora η = número de atendentes η = 4 atendentes Fator de utilização = λ / (ηµ) = 9 / (4 x 4) = 0,5625 A figura seguinte mostra a relação entre o número médio de clientes no sistema e o fator de utilização. 30 20 10 8 6 4 2 1.0 0.8 0.6 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 Fator de utilização λ/nµ L s (n úm er o m éd io n o sis te m a) o u λW n = 10 n = 4 n = 5 n = 3 n = 2 n = 1 Figura 38 – Curvas de filas para um sistema com n atendentes em paralelo Assim, para um fator de utilização de 0,5625 e η = 4 atendentes: LS = número médio de clientes no sistema LS = 2,56 (ver figura) Lq = número médio de clientes em fila = LS – ρ ρ = intensidade de tráfego = λ / µ ρ = 9 / 4 = 2,25 74 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 Unidade III Lq = 2,56 – 2,25 = 0,31 WS = tempo médio que o cliente gasta no sistema = (Lq / λ) + (1 / µ) WS = (0,31/9) + (1/4) = 0,284 horas = 17,04 minutos Wq = tempo médio que o cliente gasta na fila = Lq / λ Wq = 0,31/9 = 0,0344 horas = 2,07 minutos Consequentemente, o gerente pode estar seguro de que com a capacidade de quatro pessoas para o atendimento durante o horário de almoço, o tempo médio que um cliente esperará será menor do que três minutos. Observação Observar que este cálculo só é válido para o sistema apresentado: modelo de fila única com atendentes em paralelo. Modelos de sistemas de filas Estágio Sistema de estágio único Estágio Estágio Estágio Sistema de estágios múltiplos Servidor Sistema de estágio único e servidores em paralelo Servidor Servidor Servidor Sistema de estágio único e filas concorrentes 75 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 GESTÃO DAS OPERAÇÕES PRODUTIVAS Sistema de estágio único e fila única Servidor Servidor Servidor Sistema de estágio único e fila discriminada Servidor 1 Servidor 2 Figura 39 – Sistemas de filas A psicologia das filas • A maioria das pessoas superestima o tempo de espera (em mais de 20%). • O tempo ocioso parece mais longo do que o tempo ocupado. • A espera pré‑processo parece maior do que o tempo em processo. • Esperas sem explicações são menos toleradas do que aquelas explicadas. • Quanto maior o “valor” dado pelo cliente ao serviço, maior a tolerância com a espera. • Esperas sem previsão de atendimento parecem mais longas do que aquelas com prazo conhecido. • Esperas solitárias parecem mais longas do que as em grupo. Finalizando este tema, a matriz apresentada a seguir mostra claramente a dinâmica do planejamento da capacidade, considerando perspectivas de curto e longo prazos: Perspectiva = Demanda prevista Capacidade prevista 76 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 Unidade III Quadro 9 – A dinâmica do planejamento da capacidade Perspectiva de curto prazo Perspectiva ruim < 1 Perspectiva normal = 1 Perspectiva boa > 1 Pe rs pe ct iv a de lo ng o pr az o Perspectiva ruim < 1 Pessoal despedido Adiar qualquer ação Horas extras Contratar pessoal temporário Perspectiva normal = 1 Curto prazo Tempo ocioso Não fazer nada Horas extras Contratar pessoal temporário Perspectiva boa > 1 Produzir para estoques curto prazo Contratar e produzir para estoques Iniciar o recrutamento Contratar pessoal Fonte: Slacks (2009). 6.2 Planejamento e controle Just In Time (apenas a tempo) O que é Just In Time? JIT, ou Just In Time, que traduzido para o português resulta em apenas a tempo, pode ser entendido tanto como uma filosofia como um método de planejamento e controle das operações. Em princípio, JIT significa produzir bens e serviços exatamente no momento em que são necessários – não antes, para não existir estoques, nem depois, para não gerar espera. O quadro seguinte demonstra claramente a percepção do JIT como filosofia, conjunto de técnicas e um método de planejamento e controle. Lembrete O kaizen é uma filosofia que exige a mudança de cultura dos colaboradores para que possam produzir mudanças contínuas nos processos. São pequenas alterações, porém constantes, e em pequenos intervalos de tempo. Quadro 10 – JIT como filosofia, conjunto de técnicas e método de planejamento e controle JIT como filosofia de produção Eliminar desperdícios Envolvimento de todos Aprimoramento contínuo (Kaizen) 77 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 GESTÃO DAS OPERAÇÕES PRODUTIVAS JIT como um conjunto de técnicas para a gestão da produção JIT como método de planejamento e controle Práticas baseadas no trabalho Programação puxada Projeto para manufatura Controle Kanban (piso de fábrica) Foco na produção Programaçãonivelada Máquinas pequenas e simples Modelos mesclados Arranjo físico e fluxo Sincronização Manutenção produtiva total (TMP) Redução de set‑up (preparo das máquinas) Envolvimento total das pessoas Visibilidade Fornecimento JIT Um dos grandes méritos do JIT é fazer com que os problemas existentes nas organizações apareçam, uma vez que antes estavam escondidos, submersos pelo excesso de estoques, que mostravam um cenário distinto do real. A figura seguinte mostra de forma comparativa o que acontece ao adotar‑se o método JIT. Ataques seletivos aos problemas Figura 40 – A adoção do método JIT reduz estoques, permitindo que os problemas apareçam e sejam resolvidos Observação O “estoque zero”, ao longo de uma operação, é uma utopia que impulsiona a busca constante da excelência e de práticas menos falhas, que possibilitem estoques cada vez menores e menos custosos. 78 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 Unidade III Pelo exposto, é bastante evidente que o JIT aplica‑se perfeitamente à produção de bens. Just In Time em operações de serviços Todavia, muitos dos princípios JIT também são aplicáveis em operações de serviços. Aliás, alguns dos princípios da filosofia JIT podem ser encontrados, de forma equivalente, no setor de serviços. Para deixar bem clara tal comparação, finalizamos o módulo com a figura a seguir, que mostra a equivalência comentada: Quadro 11 – Estoques e filas têm características similares Estoques (“filas” de materiais) Filas (“estoque” de pessoas) Custo Empata capital Desperdiça tempo Espaço Requer armazém Requer áreas de espera Qualidade Os defeitos são escondidos Gera impressão negativa Conexão entre estágios Torna estágios independentes Permite divisão do trabalho e especialização Utilização Estoque em processo mantém estágios do processo ocupados Clientes esperando mantêm os servidores ocupados Coordenação Evita ter de sincronizar o fluxo Evita ter de adequar fornecimento e demanda Fonte: Slacks (2009). Resumo Sempre devemos ter em mente que a operação de produção existe para satisfazer às necessidades dos clientes. Tais necessidades exigem diferentes formas de avaliação, entre elas a que analisa o fornecimento de bens e serviços utilizando os recursos disponíveis. O planejamento e o controle tratam dos recursos diariamente, procurando garantir que as exigências dos consumidores sejam cumpridas nos prazos contratados. O projeto físico de uma operação produtiva deve proporcionar recursos capazes de satisfazer as exigências dos consumidores. Para tanto, torna‑se importante a identificação do tipo de demanda que tem a operação em estudo. Se for uma demanda dependente, será feito um planejamento com base na expectativa de demanda de outro(s) produto(s), cujo volume de venda determina a demanda do produto em planejamento. No entanto, se a demanda for independente, o planejamento deve ser feito por meio de uma previsão de demanda própria, com base em estudos mercadológicos, políticos e econômicos, entre outros estudos, pretendendo diminuir ao máximo a imprevisibilidade da demanda. 79 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 GESTÃO DAS OPERAÇÕES PRODUTIVAS O planejamento e controle preocupam‑se com a operação desses recursos no nível diário, fornecendo bens e serviços, atendendo as necessidades dos consumidores. Planejar e controlar significam gerenciar as atividades da operação produtiva, visto que qualquer operação produtiva requer planos e controle, mesmo que com graus de formalidade e detalhes variáveis. Isso torna evidente que algumas operações são mais difíceis de planejar do que outras. As que não permitem previsão apresentam planejamento particularmente complexo, e as que têm alto grau de contato com os consumidores são mais difíceis de controlar, devido ao imediatismo das operações e à variabilidade impostos pelos consumidores. Contudo, os diferentes aspectos do planejamento e controle representam os processos e procedimentos, visando à conciliação entre suprimento e demanda nas operações. Um exemplo do planejamento e controle da produção apresentado foi o JIT, Just In Time, baseado no modelo japonês que foi preconizado pelas técnicas desenvolvidas no Sistema Toyota de Produção, que revolucionou o sistema de manufatura mundial, a partir da década de 1970. Exercícios Questão 1. (Enade 2006) Observe a figura que se segue, onde a capacidade de produção de cada operação está representada em unidades por hora (un/h). MP A representa a matéria‑prima A, que recebe seguidamente as operações A1, A2 e A3. MP B representa a matéria‑prima B, que recebe seguidamente as operações B1 e B2. C1 representa a operação de montagem dos componentes produzidos a partir de 3 unidades da matéria‑prima A e 2 da matéria‑prima B. C2 representa a operação que dá o acabamento final ao produto. oper. A1 oper. B1 oper. C1 (20 un/h) (30 un/h) (10 un/h) MP A demanda do mercado (12 un/h) MP B (9 un/h) (25 un/h) (15 un/h) (17 un/h) oper. A2 oper. B2 oper. C2 oper. A3 Sabendo que a demanda do mercado é de 12 un/h, de quanto é a produção máxima de produtos acabados? A) 12 un/h. 80 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 Unidade III B) 10 un/h. C) 9 un/h. D) 5 un/h. E) 3 un/h. Resposta correta: alternativa E. Análise das alternativas Justificativa: o quadro a seguir mostra os cálculos para cada uma das situações propostas. Observe que a operação A2 é o “gargalo” da produção, ficando o número de produtos limitado à capacidade de produção nessa operação. Quadro – Cálculos para cada uma das situações propostas. Processo Capacidade em um/h Quantiddade de unidade por produto Produção máximo de produtos por hora Matérias prima A Operação A1 20 3 7 Operação A2 9 3 3 Operação A3 17 3 6 Matérias prima B Operação B1 30 2 15 Operação B2 25 2 13 Montagem Operação C1 10 1 10 Acabamento final Operação C2 15 1 15 Questão 2. (Enade 2009) Você é consultor e estuda o mercado de esmagamento de soja no Brasil. Os produtos comercializados nesse mercado são farelo de soja e óleo vegetal. As plantações de soja estão espalhadas por todo o interior do país. A margem de lucro dos produtos é muito pequena, e a logística é um custo significativo da operação. O transporte é feito via modal rodoviário e o volume de soja colhida é muito superior ao volume somado de farelo e óleo. Para ter um desempenho sustentável em longo prazo, é necessário que as empresas tenham: I – grande volume de esmagamento; II – proximidade de centros de plantação de soja; III – frota de transporte próprio; IV – localização perto de uma grande capital metropolitana. 81 Re vi sã o: B ea tr iz /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 1 1/ 07 /1 4 GESTÃO DAS OPERAÇÕES PRODUTIVAS Estão corretas somente as afirmativas: A) I e III. B) II e III. C) I e II. D) III e IV. E) I e IV. Resolução desta questão na plataforma.
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