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EXAME FÍSICO DO FÍGADO Porto, Celmo C. Semiologia Médica. 7.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. INSPEÇÃO Somente grandes nódulos ou massas na superfície hepática podem ser percebidos à inspeção. Nestas condições, observa-se elevação ou abaulamento na área hepática (QSD ou região epigástrica). A melhor maneira de examinar esta área é inspecionando-a lateral e tangencialmente. A vesícula, quando obstruída, pode aumentar seu volume e ser visível como uma área elevada e arredondada no QSD. PERCUSSÃO A percussão visa determinar os limites superior e inferior do fígado e estabelecer o seu tamanho. Esta manobra é imprescindível para: (1) identificar o limite ou borda inferior, precedendo e orientando a palpação; (2) determinar a área hepática para biópsia; (3) certificar-se do volume hepático, como ocorre nas cirroses, esta manobra é insubstituível. O limite superior é determinado pela percussão ao longo da linha hemiclavicular, no nível do 5ºEIC E, identificado pelo som submaciço. Este som corresponde à musculatura diafragmática sobre a cúpula hepática e é uma transição entre a sonoridade pulmonar e a macicez hepática. A percussão do limite ou borda inferior – é necessário lembrar que não existe borda superior – é feita, suavemente, de baixo para cima, na projeção das linhas hemiclavicular e medioesternal, em direção à arcada costocondral. Os pontos de macicez correspondem ao limite inferior do fígado e servem como locais de referência para a palpação. A distância entre o limite superior e o ponto de macicez inferior, mais baixo, corresponde, com boa aproximação, ao tamanho real do fígado. PALPAÇÃO Deve-se analisar: (1) Borda, quanto à espessura: - Fina - Romba (2) Superfície - Regular ou Lisa - Irregular (3) Sensibilidade - Indolor - Dolorosa (4) Consistência - Elástica ou normal - Firme ou aumentada - Diminuída (5) Refluxo hepatojugular - Ausente - Presente A palpação superficial e profunda é executada em conjunto. u BORDA O primeiro elemento a se determinar na palpação é a borda, que pode ser examinada de duas maneiras. Na primeira, a mão direita, aberta e espalmada, é colocada no ponto onde a percussão identificou o limite inferior. Se a primeira manobra não for possível ou se o examinador tiver dúvidas, a palpação deve começar a partir do QID. Em ambos os casos, a mão deve estar suave e totalmente apoiada na parede abdominal, com sua borda interna paralela à linha média do abdome, com exceção do polegar. Os demais dedos devem permanecer unidos e estirados. A seguir, imprimem-se movimentos de flexão da articulação intermetacarpiana, rápidos e firmes, deprimindo a parede como se se telegrafasse sobre ela, em sentido ascendente. Quando não há hepatomegalia, nenhuma resistência é oferecida até a arcada costal. Quando o fígado está aumentado, as pontas dos dedos encontram-se resistência sólida, correspondente à sua borda. O examinador deve então, prosseguir a manobra de modo a senti-la em toda a sua extensão, ou seja, os lobos direito e esquerdo. Após a delimitação da borda, procede-se à analise da sua espessura da seguinte maneira: a mão esquerda do examinador é colocada sob a região lombar, na topografia da loja renal direita, em uma área limitada pela margem externa da musculatura paravertebral e o arco costal. Os dedos devem empurrar as estruturas para cima, podendo-se usar a terceira articulação metacarpofalangiana como fulcro da alavanca cujo ponto de apoio será a cama. Esta manobra objetiva “empurrar” o fígado para diante, aproximando-o da mão direita do examinador, que estará espalmada sobre o abdome, com os dedos indicador e médio tocando a borda hepática. A seguir, pede-se ao paciente que inspire profunda e lentamente. Esta manobra movimenta o fígado para baixo, pela descida do diafragma. Assim, a palpação conta com dois movimentos do fígado: para diante e para baixo. Enquanto o órgão está sendo deslocado para baixo, o examinador desloca sua mão para cima. Com isto percebe-se a borda hepática. Uma segunda maneira de palpar a borda hepática é por intermédio da “manobra em garra”. Para executá- la, o examinador coloca-se à altura do ombro direito do paciente deitado, podendo o médico ficar em pé ou sentado no leito. Onde as outras manobras identificaram a borda, colocam-se os dedos mínimo, anular e médio de ambas as mãos, no mesmo alinhamento, de tal maneira que as extremidades dos dedos médios se toquem. Isto permite formar uma enorme superfície contínua para palpação. Solicitando ao paciente que inspire profunda e lentamente outra vez, as pontas dos dedos trazem para cima a borda hepática, que pode ser então avaliada. A borda pode ser fina ou romba. A espessura normal da borda é fina, cortante, o que se percebe pelo deslocamento ou passagem rápida da mesma pelos dedos do examinador. Nem toda borda fina indica um fígado normal. A superfície compreendida entre a borda costal e a borda hepática deve ser medida em centímetros e não em dedos transversos, pois a largura dos dedos varia de pessoa para pessoa. Assim, é conveniente que cada examinador meça a largura de seus dedos. A borda romba é espessa e tem altura variável, dependendo da afecção e do tempo da doença. u SUPERFÍCIE Ao tocar a borda e sentir sua espessura, o examinador deve deslizar a palma de seus dedos pela superfície hepática, tentando senti-la em toda a sua extensão, isto é, para cima e para os lados, de maneira suave. Com concentração e sensibilidade podem-se perceber desde pequenas irregularidades na superfície, como diminutos nódulos, até grandes massas. Ao encontrar um nódulo, o observador descreve sua localização e seus diâmetros aproximados, com frases objetivas, como “nódulos em ambos os lobos, de tamanhos variados, entre 0,5 e 3 cm”, e assim por diante. u SENSIBILIDADE E CONSISTÊNCIA Avaliada a superfície do fígado, o examinador pressiona-a com a polpa dos dedos, em um gesto firme e de curta duração, enquanto indaga ao paciente se sente dor ao toque. A hepatomegalia dolorosa ocorre, por exemplo, na insuficiência cardíaca congestiva ou na hepatite viral aguda. As hepatomegalias de instalação súbita ou rápida geralmente são muito dolorosas, devido ao estiramento da cápsula de Glisson. Nas formas crônicas existe uma adaptação volumétrica da cápsula, e o fígado é indolor. Ao mesmo tempo em que se avalia a sensibilidade, a pressão sobre a superfície possibilita também determinar a consistência do órgão. A consistência normal do fígado é relativamente elástica. Um exemplo de fígado firme ou duro é o da cirrose, devido à intensa proliferação de tecido fibrótico. A infiltração gordurosa ou esteatose aguda da gravidez é um exemplo de fígado de consistência diminuída ou amolecida. u REFLUXO HEPATOJUGULAR Nos pacientes com cardiopatia, deve-se fazer a compressão da superfície hepática com a palma da mão. Após uma compressão firme e contínua, o examinador observa se há enchimento e turgência da veia jugular externa direita (o paciente deve ter a cabeça voltada à esquerda, para facilitar a observação). Em caso positivo, diz-se que há refluxo hepatojugular, o que representa um dos sinais da insuficiência ventricular direita. AUSCULTA A ausculta da área da projeção do fígado pode ser útil, pois, em algumas doenças, podem ser ouvidos sopros suaves, como no câncer primitivo e na hepatite alcoólica. As neoplasias hepáticas não raro produzem um pequeno atrito cujo ruído pode ser nitidamente auscultado. Descrição breve do exame do fígado HEPATOMEGALIA Caracterizada pelo aumento volumétrico do fígado à custa de um ou de todos os lobos. Isto significa que o órgão, como um todo, ultrapassa seus limites superior, inferior e transverso. Entretanto, devemos estar atentos ao fato de que nem todo fígado palpável está aumentado de volume. Por exemplo,nos enfisematosos pode-se palpar o fígado graças à expansão dos pulmões, os quais deslocam para baixo o diafragma. Neoplasias no polo superior do rim direito podem deslocar o fígado para baixo e para frente, simulando uma verdadeira hepatomegalia. O lobo de Riedel, raro prolongamento do lobo direito, pode simular volumosa hepatomegalia, neoplasia ou rim. A medida do tamanho do fígado, pela palpação e por cuidadosa e delicada percussão hepática, é o método hepatimétrico mais rápido, fácil e barato. Talvez, adquirindo-se experiência, possa ser um dos mais preciso. Quando houver dúvidas a respeito do volume e dos limites do fígado, assim como das características de sua superfície, podem-se utilizar outros métodos, tais como o exame radiológico, a ultrassonografia e a tomografia. A radiografia simples do abdome é o método radiológico mais usado, apesar de depender de uma série de aspectos técnicos, tais como regime, gás e/ou líquido e posição do paciente. Apesar de a densidade hepática ser bem caracterizada e de estar aumentada na hepatomegalia, a avaliação radiológica das dimensões do fígado não é fácil, porque o lobo esquerdo raramente é individualizado. Entretanto, alguns sinais são valiosos para caracterizar a hepatomegalia, destacando-se: è Alterações na curvatura normal do diafragma direito, como variação dos ângulos dos seios costofrênico e cardiofrênico. Elas estão sempre presentes em uma série de condições patológicas Para facilitar a anotação dos achados, o médico deve habituar-se a fazer uma descrição sucinta e objetiva, por exemplo: “Limite superior percutível no 5ºEIC E. Limites inferiores a 12 cm abaixo do RC no nível da linha hemiclavicular e a 9 cm da linha medioesternal. Superfície irregular, caracterizada por múltiplos nódulos em ambos os lobos, variando de 2 a 4 cm de diâmetro, sendo alguns dolorosos à compressão. Consistência firme. Não se auscultam sopros ou atritos”. do fígado. Por exemplo, a cúpula diafragmática pode estar retificada nas neoplasias hepáticas e elevada nos abscessos subfrênicos. è O deslocamento do estômago para a esquerda, visto à radiografia constratada, é um sinal de hepatomegalia comumente encontrado nas neoplasias do fígado. Porém, não é um método usual. CAUSAS DA HEPATOMEGALIA A correlação com o quadro clínico é fundamental, embora sejam frequentes as hepatomegalias silenciosas ou assintomáticas. A exploração funcional hepática é obrigatória e a biópsia e/ou exame por imagem podem vir a ser os elementos de decisão. Um exemplo de hepatomegalia não patológica é a do recém- nascido, no qual o fígado está aumentado enquanto cumpre sua temporária função hematopoética. Uma hepatomegalia de questionável significado patológico e de evolução assintomática é a secundária a uso crônico de fenobarbital e outros medicamentos que produzem o fenômeno de indução enzimática, o qual provoca hipertrofia e hiperplasia do retículo endoplasmático liso; entretanto, à microscopia óptica praticamente não se detectam alterações. Enfim, a hepatomegalia não caracteriza o fígado como sede primitiva de doença. Na verdade, o fígado aumentado de volume é um sinal clínico que traduz hepatopatia ou apenas resposta a uma doença a distância ou sistêmica. Circulatórias Þ Insuficiência ventricular direita Þ Obstrução venosa supra-hepática Þ Pericardite constritiva Þ Doença veno-oclusiva Parasitária Þ Abscessos amebianos Þ Malária Þ Esquistossomose Þ Calazar Þ Hidatidose Þ Micoses profundas (blastomicose sul- americana, hisptoplasmose) Colestase intra e extra- hepática prolongada Þ Benigma Þ Maligna Infecciosa Þ Abscessos piogênicos Þ Infecções bacterianas e virais sistêmicas Þ Hepatites virais agudas e crônicas Þ Tuberculose Þ Leptospirose Þ Hanseníase Þ Febre amarela Þ Mononucleose Þ Sarcoidose Þ Sífilis Metabólicas Þ Hemocromatose Þ Amiloidose Þ Doença de Wilson Þ Glicogenoses Þ Lipidoses Þ Kwashiorkor Þ Diabetes melito Þ Obesidade Þ Alcoolismo Neoplásicas Þ Câncer primitivo e metastático Þ Neoplasias hematopoéticas, cistos e hemangiomas Outras Þ Hepatite alcoólica e por substâncias Þ Fibrose congênita Þ Hepatite crônica autoimune
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