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Relatório Economico de Angola 2016

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2016
RELATÓRIO
ECONÓMICO
DE ANGOLA
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA
Centro de Estudos e Investigação Científica
Relatorio_economico_2016_01a288.indd 1 6/6/17 6:02 PM
TÍTULO
Relatório Económico de Angola 2016
AUTOR
Universidade Católica de Angola
EDITOR
Universidade Católica de Angola
Rua Pedro de Castro Van‑Dúnem, 24,
Bairro Palanca, C.P. 2064 Luanda
Web site: www.ucan.edu
Email: info@ucan.edu
PRÉ‑IMPRESSÃO
LeYa, SA
CAPA
LeYa, SA
IMPRESSÃO E ACABAMENTOS
CEM
LUANDA, JUNHO DE 2017 • 1.a EDIÇÃO 
1.a TIRAGEM (1000 exemplares)
Registado na Biblioteca Nacional de Angola sob o n.o 7954/2017 
Relatorio_economico_2016_01a288.indd 2 6/6/17 6:02 PM
CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA 
DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA (CEIC/UCAN) 
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
PATRONO – D. José Manuel Imbamba, Magno Chanceler da Universidade Católica de Angola
DIRECTOR DO CEIC – Alves da Rocha
COORDENADORES – Alves da Rocha
Regina Santos
Carlos Vaz
Francisco Paulo
Precioso Domingos
Fernando Pacheco
Ana Duarte (Instituto Superior Politécnico Lusíada de Benguela)
Vissolela Gomes
COM A COLABORAÇÃO DO CHRISTIAN MICHELSEN INSTITUTE
Aslak Orre
Odd‑Helge Fjeldstad
Jan Isaksen
CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA
INVESTIGADORES PERMANENTES 
Alves da Rocha
Francisco Paulo
Nelson Pestana
Osvaldo Silva
Precioso Domingos
Regina Santos
Cláudio Fortuna
Carlos Vaz
Vissolela Chivunda
Esperança Tchili
INVESTIGADORES COLABORADORES
Albertina Delgado
Carlos Leite
Eduardo Sassa
Fernando Pacheco
Luís Bonfim
Gilson Lázaro
José Oliveira
Carlos Pinto
Margareth Nanga
ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS
Margarida Teixeira
Lúcia Couto
Evadia Kuyota
Afonso Romão
Website do CEIC: www.ceic ‑ucan.org
Relatorio_economico_2016_01a288.indd 3 6/6/17 6:02 PM
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................... 7
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11
1. A economia mundial e o enquadramento externo da economia angolana .................... 16
2. Política orçamental ........................................................................................................... 19
2.1 Os efeitos económicos da política orçamental ............................................................ 19
2.2 O conteúdo do OGE 2016 e a sua execução. A influência do ciclo negativo 
do preço do petróleo ................................................................................................... 36
2.3 Some more considerations on tax reform in Angola ................................................... 41
3. O sector monetário ........................................................................................................... 56
3.1 Introdução .................................................................................................................... 56
3.2 Objectivos da política monetária, condições para a sua eficácia e canais 
da sua transmissão. ...................................................................................................... 59
3.3 A dimensão económica do sector financeiro nacional ................................................. 65
3.4 As relações entre a política monetária e a política orçamental e a necessidade 
da sua consideração para a sua definição concreta. .................................................... 66
4. Nível geral da actividade económica ................................................................................ 70
4.1 Enquadramento geral .................................................................................................. 70
4.2 Produto Interno Bruto: uma análise geral ................................................................... 73
4.3 Análise sectorial do Produto Interno Bruto ................................................................. 88
4.3.1 Agricultura, pecuária e florestas ......................................................................... 88
4.3.1.1 Comportamento da produção ................................................................ 88
4.3.1.2 As políticas agrárias ................................................................................ 105
4.3.2 Indústria transformadora ................................................................................... 111
4.3.2.1 Comportamento da produção ................................................................ 112
4.3.2.2 As políticas industriais ............................................................................ 125
4.3.3 Construção e obras públicas ............................................................................... 126
4.3.3.1 Comportamento da produção ................................................................ 126
4.3.4 Transportes ......................................................................................................... 130
4.3.4.1 Considerações gerais ............................................................................... 130 
4.3.4.2 A prestação de serviços de transporte .................................................... 132 
4.3.4.3 As políticas de transportes ..................................................................... 133
4.4 O sector externo .......................................................................................................... 140
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5. Análise da competitividade da economia angolana ........................................................ 152
5.1 A libertação dos mercados e as reformas administrativas como impulsionadoras 
do crescimento económico .......................................................................................... 152
5.2 A competitividade de Angola na CEEAC e na África Subsariana ................................... 158
6. Pobreza, desigualdade e desenvolvimento humano ....................................................... 179
6.1 Introdução .................................................................................................................... 179
6.2 A pobreza em Angola .................................................................................................... 181
6.3 Desigualdade de rendimentos e de riqueza e o Índice de Desenvolvimento Humano .... 186
7. Emprego e produtividade ................................................................................................. 195
7.1 Introdução .................................................................................................................... 195
7.2 Salários e desemprego ................................................................................................. 199
7.3 Estimativas do desemprego e do valor da produtividade ............................................ 204
7.4 Políticas públicas de emprego e formação profissional ................................................ 211
8. Perspectivas de crescimento ............................................................................................ 213
8.1 Introdução .................................................................................................................... 213
8.2 A economia mundial e dos principais parceiros económicos de Angola ...................... 215
8.3 A economia angolana ................................................................................................... 219
 8.3.1 Aspectos gerais ................................................................................................... 219
 8.3.2 Os factores de risco ............................................................................................. 222
 8.3.3 Os quadros de referência do Governo ................................................................224
 8.3.4 As previsões ....................................................................................................... 226
9. A posição de Angola em diferentes índices internacionaiso ............................................ 229
10. Recapitulação dos principais acontecimentos económicos de 2016 ............................. 241
11. Monografia da situação económica da província do Moxico ........................................ 247
11.1 Caracterização geográfica, administrativa e demográfica ......................................... 247
11.2 Diagnóstico dos sectores económicos ...................................................................... 249
 11.2.1 Agricultura, silvicultura, pecuária e pescas .................................................... 250
 11.2.2 Geologia, minas e indústria ........................................................................... 265
 11.2.3 Comércio e turismo ....................................................................................... 267
 11.2.4 Construção, infra‑estruturas e transportes ................................................... 270
 11.2.5 Energia e águas .............................................................................................. 275
11.3 Diagnóstico estratégico da dimensão económica da província do Moxico ............... 276
11.4 Conclusões e recomendações ................................................................................... 278
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 283
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Angola encontra‑se, uma vez mais, numa encruzilhada tremenda. A transição da economia 
centralizada, ineficiente, planificada, burocrática e administrativa para a economia de mercado 
dependeu de nós próprios e foi uma opção política perante a ineficácia de resultados dos anos 
de socialismo. A transição da guerra para a paz dependeu igualmente de esforços internos – 
mais ou menos violentos – ainda que com envolvimento de uma parte da comunidade interna‑
cional. A transição de um sistema político de partido único para um outro multipartidário foi, 
da mesma forma, uma construção dos angolanos, ainda que se não possa falar de completa 
democracia (os índices internacionais classificam o regime político de Angola de autoritário). 
A viragem da presente situação financeira e económica do país – grave, séria, de fundamentos 
ainda não totalmente explicados por quem politicamente o devia fazer – já não depende de nós 
mesmos, mas da conjuntura internacional do preço do petróleo e da capacidade de contracção 
de empréstimos externos para financiar os avultados e crescentes défices orçamentais, financei‑
ros e económicos. Pode estar a acontecer o fim do ciclo do petróleo em Angola, sem modelos de 
crescimento alternativos a curto prazo. O que leva a questionar: fim de ciclo, começo de quê?
A diversificação da economia está em marcha, na opinião do Governo, do MPLA e de alguns 
empresários. Evidentemente que a diversificação sempre esteve em movimento, porque o esta‑
do normal das economias é crescer e diversificarem‑se. Normalmente, a diversificação econó‑
mica (especialmente das exportações) é um processo demorado e exigente em disponibilidades 
financeiras (internas e externas), capital humano, capital social (competição na base de salários 
altos e preços baixos é o desafio a ser vencido, o que passa pela educação), produtividade, com‑
petitividade, Estado e Governo eficientes e limpos de corrupção e de tráfico de influências e de 
capacidade empresarial. A diversificação intensifica o crescimento, oportuniza mais emprego e 
pode ser magnânima com os salários. Assim sendo, a diversificação pode ser o começo e a vira‑
gem: começo de quê, viragem para onde?
Fim de ciclo e viragem de estratégia num ambiente social muito difícil, muito provavelmen‑
te até, pelo menos, 2020. Porquê? A degradação das condições de vida da grande maioria da 
população é evidente, pois a situação financeira é de carência de recursos, a económica é de 
aumento do desemprego e retracção do crescimento da produção e inexistem mecanismos de 
mitigação social dos efeitos da crise. O ponto de acumulação destas disfuncionalidades é a desi‑
gualdade de rendimentos e de riqueza, que, de acordo com determinados indicadores, não tem 
diminuído e segundo outros índices até tem piorado, sendo de esperar que os efeitos da crise 
APRESENTAÇÃO
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8 |
CEIC / UCAN
agravem a disparidade de salários, rendimentos e riqueza. Assim, se a diversificação é uma vira‑
gem, cabe perguntar: ao serviço de quem?
As perguntas anteriores – fim de ciclo, começo de quê/começo de quê, viragem para onde/ 
/viragem para onde, ao serviço de quem – cabem perfeitamente bem no processo de transi‑
ção política pós‑José Eduardo dos Santos. O ano de 2016 marca o início do fim do ciclo político 
de um Presidente da República que esteve no poder durante 38 anos e que deixa o país numa 
encruzilhada crítica, do ponto de vista financeiro, económico e sobretudo social. O PIB por habi‑
tante em 2016, de pouco mais de USD 3500 (menos de USD 10 por dia), retrata bem alguns dos 
insucessos/atrasos económicos (dos quais os mais importantes são do domínio das reformas 
estruturais de mercado) registados e que tiveram consequências sociais indeléveis sobre as 
condições de vida da grande maioria da população. O seu ciclo político chega ao fim, mas não 
o do regime por si fundado, com o apoio persistente do seu partido. Ou seja, começa um novo 
ciclo político com um novo Presidente da República, esperando‑se que o novo modelo seja mais 
democrático, mais comprometido com a população e o combate à pobreza, mais desenvolvi‑
mentista, mais aberto a propostas de outros modelos de gestão económica e social que tenham 
como ponto forte a inclusividade das políticas. 
Um modelo social de mercado – modelo muitas vezes repetido pelo Presidente cessante em 
diversas intervenções públicas, durante o seu mandato – tem elementos económicos e sociais 
que se devem conjugar, através de políticas públicas diferentes, mas eficientes e eficazes, no sen‑
tido do progresso social da maioria esmagadora da população. A expressão “crescer mais, para 
distribuir melhor” do Programa Eleitoral do MPLA de 2012 pode ter sido uma boa aproximação 
desta necessária e importante conjugação entre os elementos económicos e sociais de um siste‑
ma de economia de mercado. Mas em Angola falhou completamente: o país nem cresceu mais 
(pelo contrário, em 2015 e 2016, segundo as Contas Nacionais, registou‑se não apenas uma assi‑
nalável quebra dos ritmos de crescimento do PIB, como se deu conta de episódios de recessão 
económica), nem se distribuiu melhor. Os coeficientes medidores da pobreza e da distribuição 
primária do rendimento nacional têm vindo a piorar, sendo preocupante como 60% da popula‑
ção pode viver com menos de USD 2 por dia com uma taxa de inflação superior a 40% em 2016. 
Dir‑se‑á que a abrupta e continuada queda do preço do petróleo é a razão essencial explica‑
tiva da actual crise. Mas não é verdade. O abaixamento do preço do barril de petróleo só veio 
pôr a nu as falhas de gestão económica num país que foi capaz de gerar cerca de USD 580 mil 
milhões de receitas de exportação do petróleo. Como se disse anteriormente, a mais importan‑
te prioridade definida pelo MPLA foi a da acumulação primitiva de capital e a criação de uma 
burguesia nacional capaz de disputar o poder financeiro às empresas estrangeiras existentes 
e comprando activos mobiliários e imobiliários nas praças estrangeiras e deixando o país sem 
USD 29 mil milhões colocados no exterior a título de transferências de capitais1.Para além de se 
1 Carlos Rosado de Carvalho – Editorial do Semanário Expansão de 3 de Março de 2017: “Os investi‑mentos angolanos no estrangeiro e os maridos que comem fora de casa”.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
não terem feito as reformas estruturais fundamentais, os próprios angolanos não têm confian‑
ça em si, nem no seu país. Estará a futura nova liderança do país interessada e capaz de mudar 
radicalmente este status quo?
Admitindo que esta viragem pode acontecer, a dúvida seguinte é “ao serviço de quem”? Os 
resultados do intenso crescimento económico ocorrido entre 2002 e 2008 foram distribuídos 
de uma forma muito desigual e o IBEP 2008/2009 revelou que 60% do PIB (ou do rendimento 
nacional) foram captados por menos de 20% da população. A inaceitável e inexplicável crise nos 
hospitais ocorrida no final de 2015 e em 2016 é prova cabal de que o domínio social da econo‑
mia angolana tem sido o parente pobre do crescimento económico, não colhendo a justificação 
oficial de que o Orçamento de Estado tem conferido verbas crescentes para o seu funcionamen‑
to e gestão. Ainda que possa ser verdade em termos puramente aritméticos, a questão funda‑
mental é a da sua eficiência. A questão colateral é a da corrupção que grassa todos os serviços 
sociais do país. Que margem política o futuro Presidente da República terá para mexer e atra‑
palhar os poderosos interesses aqui instalados?
No entanto, as mudanças são sempre de saudar e apoiar. Para isso é necessário que a nova 
liderança do país se abra a novas ideias, formatos e modelos.
Foi então neste contexto de expectativas de mudanças e de incerteza que o ano económico 
de 2016 se desenrolou, apresentando um desempenho final reconhecidamente recessivo – 
uma taxa de crescimento do PIB de ‑3,6% – com consequências sociais muito adversas para a 
grande maioria da população, que não dispõe de meios que lhe permitam sobreviver em con‑
dições minimamente dignas.
O Relatório Económico de 2016 manteve, no essencial, a mesma configuração da de anos 
anteriores, tendo, no entanto, reforçado os enfoques monetário e orçamental da política do 
Governo, na medida em que são as duas áreas por onde os ajustamentos estruturais terão de 
passar, para se criarem novos fundamentos macroeconómicos que possibilitem a passagem a 
um modelo novo de crescimento, para lá do petróleo. 
O Relatório Económico de 2016 não aborda a temática sobre a diversificação da economia, 
porque mantêm‑se as análises e conclusões avançadas em documentos semelhantes prece‑
dentes, reforçadas no livro Estudos Sobre a Diversificação da Economia Angolana, lançado no 
dia 13 de Março de 2017 na UCAN (resultado de um projecto de pesquisa específico sobre o 
tema). No entanto, os investigadores do CEIC e do CMI (nossos parceiros neste projecto de pes‑
quisa) mantêm que a diversificação da economia – a única forma de aumentar a capacidade de 
resiliência da economia nacional e de densificar a malha de relações inter e intra‑sectoriais (os 
famosos clusters) – é a grande reforma estrutural que deve ser posta em prática rapidamente, 
em moldes serenos, pensados e racionais, pois os resultados exigem tempo e muito dinheiro e 
para que sejam sustentáveis e endogeneizáveis, apelativos de capital humano nacional. 
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10 |
CEIC / UCAN
Criou‑se um capítulo novo (na circunstância, o sexto) para se tratar, mesmo que de modo 
resumido, a situação social da população, num contexto de abaixamento sistemático do valor 
do rendimento médio por pessoa desde 2013. O capítulo intitula‑se “Pobreza, desigualdade e 
desenvolvimento humano”.
A análise da competitividade é apresentada através de um estudo comparativo entre Ango‑
la, a SADC, a CEEAC e a África Subsariana. Por intermédio de uma bateria de indicadores macroe‑
conómicos relevantes que foi possível quantificar com recurso às estatísticas internacionais (em 
especial o Regional Economic Outlook, Sub‑Saharan Africa de Abril de 2017, do Fundo Mone‑
tário Internacional). O objectivo desta pesquisa, que está prevista no Programa de Actividades 
do CEIC para 2017, de uma forma bem mais desenvolvida e aprofundada, é a de fornecer con‑
tribuições para a próxima adesão de Angola à Zona de Livre Comércio da SADC anunciada para 
2019. A questão investigativa é: tem a economia nacional capacidade de se integrar em Zonas 
de Livre Comércio e competência para disputar franjas dos mercados comunitários de elevada 
exigência? Os amplos benefícios económicos e sociais associados às economias de escala pró‑
prias de mercados alargados e de grande dimensão só poderão ser repartidos de forma relati‑
vamente equilibrada entre as partes integrantes se cada uma souber aproveitar, com destreza, 
as respectivas vantagens comparativas.
Na abordagem sectorial do PIB e apesar de ser o principal responsável pela crise financeira 
e económica do país – dado que a sua influência na gestão macroeconómica do crescimento 
ainda é importante e mesmo decisiva, tendo em atenção o seu relevante peso nas exportações 
– e ainda o único produto que verdadeiramente conta para o saldo da balança comercial, deci‑
diu‑se retirar do Relatório Económico a análise do sector petrolífero e do gás. O Relatório de 
Energia vai passar a ser o local privilegiado de análise do sector petrolífero, nas suas diferentes 
vertentes que passarão a constar desse documento do CEIC. 
As perspectivas de crescimento da economia angolana, apresentadas no capítulo 8, foram 
elaboradas na base do modelo estrutural existente no CEIC (um modelo IS‑LM‑BP). Como se 
sabe, existem mais de “ene” projecções sobre a economia nacional. É um cardápio completo de 
hipóteses, objectivos e políticas. Evidentemente que o MODUCAN, (assim se chama o modelo 
da Universidade Católica de Angola) se baseia em hipóteses e considerandos próprios, que, em 
alguns casos, diferem dos admitidos por alguns organismos internacionais. Nesse mesmo capí‑
tulo faz‑se uma apresentação resumida do modelo de previsão macroeconómica.
As projecções abarcam o período 2017/2021, fazendo‑se uma comparação com os valores 
disponibilizados por algumas agências internacionais, especialmente o Fundo Monetário Inter‑
nacional. 
Resolveu‑se, desta vez, monografar a província do Moxico para completar o ciclo de mono‑
grafias das províncias do corredor do Lobito.
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A actual situação financeira de Angola tende a ficar cada vez mais grave, sendo difícil vislum‑
brar‑se o que vai acontecer até final da década. Há algumas certezas: 
a) Falta estrutural de divisas, devida à queda do preço do barril do petróleo (USD 30, Bloom‑
berg 11 Fevereiro 2017) e à inexistência de alternativas sustentáveis de geração de recei‑
tas de exportação. A consultora Business Monitor Internacional (BMI) considera que o 
aumento de produção de petróleo em Angola nos próximos anos e consequente receita 
de exportação deverá ser insuficiente para compensar os preços baixos que a indústria 
enfrenta (LUSA, 12 de Fevereiro 2017).
b) Exíguas receitas fiscais do Estado (assiste‑se agora a uma autêntica caça ao imposto, dis‑
farçada de campanha de sensibilização cívica quanto à obrigatoriedade de se cumprir 
com este preceito constitucional, continuando os contribuintes sem saber a quem servirá 
o seu sacrifício de redução do seu rendimento disponível, já de si exíguo, pois continua a 
assistir‑se à atribuição de obras públicas de avultadíssimos valores monetários a empre‑
sas e empresários fiéis ao regime político e para cujo financiamento os nossos impostos 
serão seguramente canalizados).
c) Aumento da dívida pública (Estado e empresas públicas, muitas de racionalidade e viabi‑
lidade económica duvidosa, apenaspersistindo por decisão política e enquanto veículos 
de tráfico de influências), com um custo diário estimado em 28,5 milhões de dólares (10 
400 milhões no final do ano) e cujo montante total pode chegar aos 62,3% do PIB, segun‑
do estimativas da Economist Intelligence Unit (da prestigiadíssima Revista Económica The 
Economist). Dos 10 mil milhões de dólares identificados no OGE de 2015 como financia‑
mento externo necessário para cobrir o défice fiscal, 9,5 mil milhões foram praticamente 
conseguidos e estão a ser ou serão aplicados na construção de duas barragens, da nova 
marginal, na reconfiguração urbanística de Luanda. No briefing do Africa Monitor de 8 
de Fevereiro de 2017 está apresentada a lista das origens deste colossal financiamento 
(valores em mil milhões de USD): 6 (nova linha da China negociada aquando da última 
visita do Chefe de Estado àquele país), 1,5 (lançamento do empréstimo obrigacionista 
em euros, com uma taxa de juro de 9,5% ao ano e uma maturidade de 10 anos), 0,450 
(empréstimo do Banco Mundial), 0,500 (empréstimo da Société Général), 0,500 (emprés‑
timo do BBVA), 0,250 (empréstimo da Goldman & Sachs) e 0,250 um outro empréstimo 
concedido pela Gemcorp Capital. Um total de 9450 milhões de dólares. Este montante 
INTRODUÇÃO
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12 |
CEIC / UCAN
destina‑se, como referido, a cobrir o défice fiscal de 2015 e de 2016. O défice fiscal ins‑
crito no OGE de 2016 é de 5,5% do PIB, ou sejam, 710,9 mil milhões de kwanzas (cerca 
de 4,7 mil milhões de dólares). O Fundo Monetário Internacional é mais optimista; 4,1% 
do PIB ou 3,9 mil milhões de dólares2. No entanto, a busca de novos financiamentos e a 
contratação de novas linhas de crédito vão iniciar‑se de novo para se compensar a falta de 
dinheiro do Estado. A desvalorização cambial – aumentando‑se em kwanzas as receitas 
fiscais petrolíferas – podia ser usada como um instrumento de redução do défice orça‑
mental, num cenário de cortes mais ousados, generalizados e profundos das despesas do 
Estado (não serão excessivos 35 Ministros e 70 Secretários de Estado?) Em 2001 e depois 
de um processo complexo de reajustamento dos efectivos da Função Pública foi declara‑
do, oficialmente, o fim dos funcionários fantasmas, mas parece que voltaram a aparecer 
e em situações mais descabidas do que no passado. É perfeitamente possível mais aus‑
teridade na actividade do Estado sem prejudicar as transferências e as prestações sociais 
para os mais pobres. Por esta via, o endividamento público podia ser travado, em defesa 
das gerações futuras, melhor focado em prioridades de investimento público mais racio‑
nais e com um efeito de contágio sobre a economia e a sociedade muito maior e vigoroso 
e podia ser muito mais selectivo, reduzindo o efeito de crowding out. Evidentemente que 
teria de ser feita uma gestão inteligente do trade‑off com a taxa de inflação.
d) Em quanto pode o país endividar‑se? O que pode significar este crescente endividamento 
para as gerações futuras e a sua capacidade tributária? Em quanto o seu rendimento dis‑
ponível expectável será afectado e, com ele, o seu nível de vida?
e) As taxas de juro para financiamentos internacionais estão a aumentar, podendo tornar 
incomportável a obtenção de empréstimos externos (fala‑se que o lançamento de novos 
títulos da dívida pública só será possível a taxas de juro superiores a 10%).
A presente situação económica caracteriza‑se, igualmente, por muitas dificuldades. De 
um país, que oficial e partidariamente, se dizia com bases económicas sólidas e fundamen‑
tos macroeconómicos sustentáveis, passou‑se para uma situação, hoje e futuramente, onde 
não existe capacidade disponível para se crescer às mesmas taxas anuais médias de um passa‑
do ainda relativamente presente. As oportunidades dadas por esse intenso crescimento foram 
desperdiçadas em proveito da simples acumulação de dinheiro, tendo‑se deixado o sistema 
produtivo sem bases defensáveis para a fundação de uma outra economia, baseada na agricul‑
tura e na criação e maximização do valor agregado interno. 
As reformas económicas de mercado – das quais provavelmente a diversificação era a mais 
relevante – não foram feitas ou foram marcadas por um ritmo lento, numa expectativa, afinal 
errada, de que o preço do petróleo seria eternamente alto, propiciando receitas fiscais e de 
2 Fundo Monetário Internacional – Angola: Consultas de 2016 ao Abrigo do Artigo IV, 7 de Fevereiro de 2017.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
exportação inesgotáveis. Em algum momento do processo de crescimento económico falharam 
aspectos essenciais para o incremento da produtividade – a base da eficiência e da competi‑
tividade e a única fonte não inflacionista de financiamento da melhoria das remunerações do 
trabalho – tais como, a armadura científica e tecnológica, as novas tecnologias da informação e 
comunicação, os recursos humanos altamente qualificados, etc. Como já noutras circunstâncias 
o CEIC tem defendido, faltou visão estratégica para que esta situação fosse evitada, ou, pelo 
menos, mitigada nos tremendos efeitos sociais que está a desencadear. Há também algumas 
certezas:
a) Baixa intensidade de crescimento do PIB, pelo menos até 2021 (taxa média anual entre 
2017 e 2021 de 1,4%)3. Se não forem criadas outras condições básicas e essenciais para 
se inverter este ciclo de crescimento económico de baixa intensidade e de desacelera‑
ção estrutural da dinâmica evolutiva da economia nacional – que já vai relativamente 
longo, já que se iniciou em 2009, ainda que com alguns episódios fugazes com taxas de 
crescimento ligeiramente acima de 4% – então o futuro apresenta‑se sombrio. O cresci‑
mento diminuiu significativamente de 2015 para 2016, conforme já anotado, podendo 
apontar‑se como uma das causas o abrandamento muito acentuado da actividade não 
petrolífera (de 8,2% em 2014, para 1,5% em 2015 e 1,1% em 2016), dado que os secto‑
res industrial, da construção e dos serviços se ajustaram aos cortes no consumo privado 
e no investimento público num contexto de disponibilidade mais limitada de divisas, e 
do fraco desempenho da agricultura face ao seu potencial devido a choques da oferta. 
Receia‑se que em 2017 a situação possa piorar, porque, e ainda de acordo com a análi‑
se do Fundo Monetário Internacional: “Os indicadores de actividade económica de alta 
frequência apontam para um abrandamento mais profundo em 2016, tendo a confiança 
empresarial atingido os níveis mais baixos já registados no segundo e terceiro trimestres 
de 2016”4. 
b) Encerramento de muitas empresas que não conseguem trabalhar sem importações. 
Ainda que não se saiba qual o verdadeiro conteúdo importado da produção nacional, 
tem‑se a desconfiança de que é elevado, porque, entretanto, a agricultura familiar foi 
devotada à condição de marginalidade no processo de crescimento da economia.
c) Incremento do desemprego, por força do fecho de muitas pequenas e médias empresas, 
mas igualmente devido ao facto do crescimento económico estar a patinar (o OGE 2016 
3 Fundo Monetário Internacional: Angola – Consultas de 2016 ao abrigo do Artigo IV, 7 de Fevereiro de 2017, página 45, Cenário Base Ilustrativo de Médio Prazo 2010‑2021. Num cenário mais optimista, a taxa média anual de crescimento do PIB poderá atingir 2,4% ainda assim inferior à taxa de cresci‑
mento demográfico, estimada pelo INE em 3,1%. Até pelo menos 2021 a economia nacional estará para além do estado estacionário de Solow, com quebras anuais das condições gerais de vida entre 
‑1,7% e ‑0,7%, o que, em termos acumulados, significa que, no geral, a população vai ficar mais pobre.
4 Fundo Monetário Internacional: Angola – Consultas de 2016 ao abrigo do Artigo IV, 7 de Fevereiro de 2017.
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Revisto previa uma variação real do PIB de 1,1% e para a economia não petrolífera de 
1,2%, quando, na realidade e pela mesma ordem foram de 0,1% e de 1,1%). Na medida 
em que tem sido o sector não petrolífero o mais importante criador de emprego líquido, 
uma taxa na vizinhança de 1% – expressando uma retracção do investimento privado – é 
insuficiente para se terem incrementos significativos na taxa de emprego da economia. 
No entanto, as estatísticas oficiais sobre esta variável económico‑social já nos habitua‑
ram a uma inversão da Teoria Económica e da correlação entre crescimento e baixa do 
desemprego. Na verdade, parece que a economia angolana tem uma especial apetência 
para criar mais postos de trabalho justamente quando a sua dinâmica de crescimento se 
atenua. Como a Teoria do Emprego tem alicerces fortes e universalmente reconhecidos, 
então tem de se admitir, pelo menos em tese, que as informações estatísticas não expres‑
sam a realidade dos factos. No respectivo capítulo – o sétimo, com o título “Emprego e 
Produtividade” –, estas matérias encontram‑se estudadas e analisadas, como, de resto, 
em anos anteriores. Segundo o Fundo Monetário Internacional, “As autoridades referi‑
ram que estão em vias de encerrar 48 empresas públicas que não estão operacionais e de 
privatizar outras 53. Além disso, um plano de reestruturação da Sonangol foi lançado em 
junho de 2016 a ser implementado ao longo de 24 meses. O Conselho de Administração 
recentemente nomeado planeia reorientar a Sonangol para os seus principais negócios 
de petróleo e gás, tornando a empresa mais transparente e eficiente”5. 
d) O Sistema Financeiro Nacional enferma de vícios, fraquezas e limitações várias, estando 
hoje marginalizado do sistema financeiro internacional, com graves consequências sobre 
o funcionamento normal da economia e a vida das pessoas. Ainda segundo o Fundo 
Monetário Internacional “os vínculos do sector real ao sector financeiro são limitados. 
Os bancos comerciais foram afectados pelo abrandamento económico, conduzindo à ele‑
vação dos créditos malparados. Recentemente, os vínculos do crédito privado do sector 
financeiro ao sector real tornaram‑se menos significativos, em parte devido ao aumento 
de risco de crédito, com os bancos, em particular, reduzindo o crédito ao consumo e hipo‑
tecário, bem como o crédito à mineração e à construção. Historicamente, o nível de cré‑
dito ao sector privado tem sido relativamente baixo e os bancos têm canalizado menos 
de metade dos seus activos internos ao sector privado. À medida que o crescimento eco‑
nómico abranda, os bancos continuam a tornar as normas de concessão de crédito mais 
restritivas, o que pode atrasar, em termos marginais, uma recuperação da economia”6.
e) Escassez generalizada de produtos em praticamente todas as superfícies de venda e no 
mercado paralelo. Está‑se a regressar ao passado da economia socialista esquemática, 
5 Fundo Monetário Internacional: Angola – Consultas de 2016 ao abrigo do Artigo IV, 7 de Fevereiro de 2017.
6 Fundo Monetário Internacional: Angola – Consultas de 2016 ao abrigo do Artigo IV, 7 de Fevereiro de 2017.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
com limitação na quantidade a comprar de vários produtos, o açambarcamento de outros 
produtos, a existência de filas para se poder comprar determinados bens, etc., ou seja, 
tudo o que se pensava ser passado, de repente transforma‑se em presente e não se vis‑
lumbra como regressar ao futuro num tempo próximo.
f) A taxa de inflação vai permanecer em dois dígitos: desvalorização cambial, falta de produ‑
tos (excesso de procura), especulação, retracção da economia, etc.
Receia‑se pela estabilidade social, pelo respeito dos direitos humanos (Angola recuou no 
Índice da Freedom House de 2016 (Semanário O Novo Jornal de 29 de Janeiro, página 6), pela 
melhoria das condições de vida da maioria da população e pela saúde da democracia.
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CEIC / UCAN
1. A ECONOMIA MUNDIAL E O ENQUADRAMENTO EXTERNO 
DA ECONOMIA ANGOLANA
As perspectivas económicas para 2016 foram influenciadas pelas preocupações quanto à 
capacidade de retoma do crescimento na China, que depois de um longo período de varia‑
ção média anual do seu PIB em redor de 9,5%, passou para uma cadência mais suave de 
6,5%. A alteração de algumas traves‑mestras do seu modelo de desenvolvimento foi a razão 
para essas preocupações, dado que não se tinha a certeza de que o mercado interno chinês 
pudesse apresentar condições equiparadas ao mercado internacional para garantir ritmos 
de variação do PIB capazes de puxar pela economia mundial. Hoje, a não ser que emirjam 
factos neste momento difíceis de prever, a China parece ter estabilizado a sua velocidade 
de crescimento e mantido a respectiva capacidade de influência sobre o comércio interna‑
cional. 
Outra preocupação para 2016 relacionou‑se com o comportamento do preço das principais 
commodities, que durante os últimos 4 anos foi sujeito a uma pressão em baixa, com reflexos 
significativos sobre a capacidade de crescimento de muitas economias africanas, cujas expor‑
tações e geração de receitas externas dependiam, num elevado grau, destes produtos de base. 
Para 2017, as instituições internacionais apontam para uma subida e estabilidade do seu valor.
As taxas de juro nos Estados Unidos mantiveram‑se em níveis estimuladores do aumento 
do investimento e da diminuição do desemprego, o que pode vir a ser alterado durante 2017.
No entanto, dois acontecimentos relevantíssimos marcaram 2016: o BREXIT e as eleições 
presidenciais americanas. Dois factos novos e de enorme relevância para 2017 e cujos efeitos 
económicos mundiais estão, por enquanto, longe de puderem ser avaliados com a precisão que 
as previsões económicas exigem.
Na África Subsariana surgiram novos focos de tensão política que podem pôr em causa as 
expectativas de crescimento (Gâmbia, Sudão do Sul, Moçambique, África do Sul que irá esco‑
lher um novo líder do ANC em Dezembro de 2017, Burundi onde o desacordo quanto ao terceiro 
mandato do seu actual presidente Nkurunziza permanece, Zimbabwe, República Democrática 
do Congo, etc.). Ainda que se preveja uma retoma dos preços das matérias‑primas no merca‑
do mundial, a instabilidade política pode atrasar, mais uma vez, a recuperação dos excelentes 
índices de crescimento registados entre 2003 e 2008. Também para a África Subsariana a nova 
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
política económica de Trump poderá revelar‑se perversa, não apenas de uma forma indirecta 
através da China – que acabará por crescer menos devido às barreiras alfandegárias sobre as 
suas exportações para a primeira economia mundial – mas igualmente por algumas das opções 
anunciadas.
As previsões sobre o crescimento económico mundial apresentadas pelas principais insti‑
tuições financeiras internacionais, com destaque para o Fundo Monetário Internacional (World 
Economic Outlook, October 2016), não levam em conta os mais do que prováveis efeitos per‑
versos da política económica de Donald Trump, até porque não é fácil, por enquanto, discernir 
claramente a sua verdadeira natureza.
PREVISÕES DE CRESCIMENTO ECONÓMICO (%)
2015 2016 2017
Mundo 3,2 3,1 3,5
Economias avançadas 2,1 1,7 2,0
Estados Unidos 2,6 1,6 2,3
Euro Área 2,0 1,7 1,6
Alemanha 1,5 1,8 1,6
França 1,3 1,2 1,4
Itália 0,8 0,9 0,8
Espanha 3,2 3,2 2,6
Japão 0,5 1,0 1,2
Reino Unido 2,2 1,8 2,0
Canadá 1,1 1,4 1,9Fonte: IMF, World Economic Outlook, April 2017.
As economias avançadas irão crescer em 2017, no seu conjunto, 2,0%, com destaque evi‑
dente para osEUA (presume‑se que ainda sem a incorporação do efeito‑Trump), que vai res‑
ponder por cerca de 40% desse crescimento, mantendo o estatuto de primeira economia do 
mundo.
Não deixa de ser curioso que as previsões de crescimento para o Reino Unido minimizem o 
efeito BREXIT (a taxa passa de 1,8% em 2016, para 2% em 2017), embora as consequências mais 
negativas – se as houver – possam ocorrer depois de consumada a sua saída da União Europeia. 
Na verdade, como se irá também ver no capítulo das previsões económicas deste relatório, em 
2018 se preveja uma redução para 1,5%.
 
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CEIC / UCAN
PREVISÕES DE CRESCIMENTO ECONÓMICO (%)
2015 2016 2017
Mundo 3,2 3,1 3,5
Rússia ‑3,7 ‑0,2 1,4
China 6,9 6,7 6,6
Índia 7,6 6,8 7,2
Brasil ‑3,8 ‑3,6 0,2
Nigéria 2,7 ‑1,5 0,8
África do Sul 1,3 0,3 0,8
África Subsariana 3,4 1,4 2,6 Fonte: IMF, World Economic Outlook, April 2017.
A Índia e a China podem vir a ser os países mais afectados com o retorno dos investimentos 
americanos realizados durante muito tempo nestes países, pelo que as taxas de crescimento 
previstas não consideram, por enquanto, a incidência deste fenómeno. O primeiro destes dois 
países pode mesmo vir a ser o mais prejudicado.
No geral, para as chamadas economias emergentes, 2017 apresenta‑se, de acordo com as 
estimativas do Fundo Monetário Internacional, como de retoma face a 2016. No entanto, tudo 
vai depender dos efeitos da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
2. POLÍTICA ORÇAMENTAL 
2.1 Os efeitos económicos da política orçamental
A política orçamental é, provavelmente, a mais importante do leque das políticas públi‑
cas. Por várias razões, mas especialmente pelos sinais que dá ao país e aos agentes econó‑
micos (empresas e famílias) sobre como as receitas fiscais serão utilizadas (de que modo o 
Estado/Governo devolve esse dinheiro para a economia e sociedade) – não se deve perder 
de vista que o Estado não gera rendimentos, nem produção, limitando‑se a ser um mero 
intermediário entre os contribuintes, que a título gratuito lhe entregam proporções dife‑
renciadas dos seus rendimentos (salários, lucros e juros), e a economia (fomento do cres‑
cimento) e a sociedade (famílias) corrigindo os mecanismos da distribuição primária do 
rendimento nacional. 
O Estado/Governo acaba por ser um gestor destes mecanismos de aplicação das receitas 
dos impostos. Por isso é que tem de ser confiável, senão, por muitas campanhas que existam 
para estimular ou obrigar cidadãos e empresas a pagar tributos, a tendência será sempre a 
da evasão e fraude fiscal. O Estado tem de dar sinais muito concretos da sua competência, 
honestidade e transparência no uso de fundos públicos, de todos, para estimular o crescimento 
da economia e promover melhorias consistentes e sustentáveis no nível de vida dos cidadãos. 
É para isto que os Orçamentos de Estado e a política orçamental existem, e não para facilitar e 
estimular processos de enriquecimento dos agentes políticos da governação, seus familiares e 
amigos. Daí a necessidade de serem respeitadas regras de elaboração dos Orçamentos de Esta‑
do, como a da universalidade, a da especificidade, a da não consignação de receitas, a do orça‑
mento bruto, a da anualidade e a do equilíbrio. Esta última é basilar: não se deve gastar mais do 
que se tem. É um princípio também aplicável aos orçamentos das empresas e das famílias. O seu 
incumprimento sistemático gera défices e cria dívida. Não necessariamente nefastos, depen‑
dendo de para onde o dinheiro vai. Ou seja, se o excesso de despesa for aplicado no aumento 
de capacidade de geração de rendimentos adicionais, então défice e dívida podem ser virtuosos 
e ser debelados nos ciclos económicos e financeiros seguintes. Exemplos: investimento público 
e privado em capital físico e investimento público e privado em capital humano (sobretudo edu‑
cação, incrementando‑se a produtividade do factor trabalho e as respectivas remunerações).
Como é do conhecimento geral, o Orçamento Geral do Estado de Angola tem registado 
défices fiscais sistemáticos desde 2003, perfazendo um acumulado em 2016 de ‑16,2% do 
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PIB7. Trata‑se de uma violação clara da regra do equilíbrio orçamental, só atenuada se os efeitos 
económicos das despesas públicas (crescimento económico e melhor distribuição do rendimen‑
to) forem positivos. Um aumento das despesas públicas provoca um incremento do produto 
nacional e do emprego, equivalendo a um efeito expansionista sobre a actividade económica8.
CORRELAÇÃO ENTRE GASTOS PÚBLICOS E PIB
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
RI.2017.0000.01.01
DT_01
3.ª prova
30 maio 2017
Paulo Amorim
0,0
–20,0
–40,0
–60,0
20,0
40,0
60,0
80,0
Taxa crescimento gastos públicos (%) Taxa crescimento PIB nominal (%)
Fonte: Ficheiros do CEIC com base em dados oficiais.
Nota‑se uma correlação quase perfeita entre gastos públicos e evolução do PIB nominal, a 
despeito de em alguns períodos se apresentar desproporcionada e de sentido inverso, talvez 
devido à influência de outras variáveis como o investimento privado e o consumo das famílias, 
potencialmente aumentado pelas remunerações dos funcionários públicos. Na verdade, entre 
2006 e 2009, os incrementos nominais nos gastos públicos foram superiores ao crescimento do 
7 Na Europa do euro, o debate sobre o rigoroso cumprimento da regra do equilíbrio orçamental con‑
tinua muito vivo, considerando a Comissão Europeia que todos os países não podem exceder o limite 
máximo de 1,5% ao ano, com tendência para zero dentro de alguns anos. A principal razão é a do endividamento excessivo, prejudicial ao andamento das economias. Joseph Stiglitz e Paul Krugman 
têm dado a sua opinião quanto à rigidez dos rácios do défice e da dívida pública, afirmando o pri‑
meiro que nenhum daqueles limites tem sustentação na Teoria Económica ou em indícios econó‑
micos, tudo dependendo, afinal, de para onde o dinheiro vai: “se for para investimento, reforça‑se a 
economia”. Se é verdade esta afirmação, acrescento que só o bom investimento do Estado tem esta 
capacidade. O mau investimento público prejudica a economia, introduz assimetrias entre sectores 
e regiões, facilita a corrupção e promove o tráfico de influências. Angola tem muito investimento 
público mau, devendo agora todos os cidadãos pagá‑lo através do aumento da dívida pública.
8 Nomeadamente pelo investimento público. Sendo em infra‑estruturas físicas – estradas, caminhos‑ 
‑de‑ferro, portos, escolas e hospitais, etc. –, o efeito final sobre o rendimento pode ter um lag menor 
do que em capital humano, incluindo a investigação, mais exigente em tempo para se induzirem melhorias no produto potencial. 
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PIB nominal (provavelmente pouca eficácia dos mesmos, prevalência de influências negativas, 
internas e externas, sobre a economia (crise económica internacional 2008/2009, queda do 
preço do petróleo), enquanto no período 2009/2011 parece registar‑se o efeito multiplicador 
das despesas do Estado sobre a economia (Ky,g>1). No intervalo temporal 2011/2014, o efeito 
reprodutivo das despesas públicas é neutro (Ky,g=1). 
Esperava‑se, tal como a Teoria Económica o sugere, que uma redução no valor dos gastos 
públicos tivesse efeitos mais devastadores sobre o PIB (anos 2013, 2015 e 2016). Porém, em 
2009, a teoria funcionou: uma redução de ‑14,5% nas despesas do Estado induziu menor cresci‑
mento numa quantidade de ‑26,5%.Já para 2015 e 2016, embora prevaleça a correlação nega‑
tiva, os impactos negativos sobre a actividade económica são de menor extensão.
As evidências empíricas anteriores são insuficientes para se deduzir uma “teoria da inefi‑
ciência dos gastos públicos em Angola”. Há‑que investigar mais, desdobrando‑se a actividade 
financeira do Estado (medida pelos seus gastos – correntes e investimentos) noutras variáveis 
(salários dos funcionários civis e militares – quais os de maior efeito multiplicador sobre a eco‑
nomia? – despesas de funcionamento, despesas sociais, etc.). Por exemplo, é possível medir o 
impacto das transferências do Estado para as famílias sobre a distribuição do rendimento e a 
melhoria das suas condições de vida, conseguindo‑se, assim, uma escolha pública mais criteriosa 
(no Relatório de Fundamentação do OGE 2017 prevêem‑se 1920,6 mil milhões de kwanzas para 
os sectores sociais e 1012,6 mil milhões de kwanzas para a defesa e segurança: porquê? Que 
critérios foram usados? Não terão as despesas sociais um efeito multiplicador sobre a economia 
maior do que as orientadas para a defesa e segurança? Qual a componente importada de cada 
uma delas (quanto maior for, maiores as perdas para o exterior em favor dos países exportado‑
res)? Estão disponíveis metodologias e algoritmos facilitadores duma abordagem orçamental 
mais criteriosa e as instituições do Estado têm informação estatística suficiente para tornar as 
escolhas públicas mais racionais. 
Assim sendo, que efeitos sobre a actividade económica decorreram dos aumentos dos gas‑
tos públicos no período 2002/2016? 
Considerando valores para parâmetros como a propensão marginal ao consumo (=86%), 
ao investimento (27%) e à importação (44%), a taxa de poupança (14%)9 e a taxa de imposição 
fiscal (30%), é possível ter uma aproximação dos efeitos dos défices fiscais sobre a economia 
nacional, através do multiplicar keynesiano das despesas públicas (=1,19). 
9 De acordo com o Fundo Monetário Internacional (Regional Economic Outlook, Sub-Saharan Africa, 
October 2016), a taxa de poupança em Angola é muito baixa, rondando não mais do que 3% do PIB entre 2014 e 2016. Em 2012, o seu valor foi de 26,9% do PIB, graças à actividade do sector petrolífero. 
Auferindo 60% da população menos de 2 dólares diários de rendimento, a sua preferência é para con‑
sumo (necessidades básicas), ficando a capacidade/propensão de poupar para outras classes sociais. 
Lembra‑se, no entanto, que em 2015 a remuneração média mensal do factor trabalho no país foi de 
aproximadamente AKZ 50000 (equivalente a USD 413, à taxa de câmbio oficial média desse ano). 
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CEIC / UCAN
SIMULAÇÃO DOS EFEITOS MULTIPLICADORES DAS DESPESAS PÚBLICAS
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Incremento PIB 
com Ky,g de 1,19 ‑156,7 1079,1 5267,5 4875,5 6634,5 16 955,3 ‑6361,7 ‑1252,3 14 764,4 8547,5 ‑116,3 3880,4 ‑25 279,9 ‑6637,6
Incremento real 
do PIB 847,7 6776,5 16 310,0 12 561,0 13 005,1 22 921,3 ‑23 462,2 17 828,0 28 069,8 14 706,1 ‑713,5 1971,8 ‑24 936,6 ‑2974,6
% de participação ‑18,5 15,9 32,3 38,8 51,0 74,0 27,1 ‑7,0 52,6 58,1 16,3 196,8 101,4 223,1
Influência de outros 
factores (X, C)
1004,4 5697,4 11 042,5 7685,4 6370,5 5966,0 ‑17 100,5 19 080,2 13 305,4 6158,6 ‑597,2 ‑1908,6 343,3 3663,0
Fonte: Cálculos do CEIC.
Tal como já tinha sido anteriormente sublinhado, confirma‑se a influência positiva dos gas‑
tos públicos sobre o nível geral da actividade económica, de onde se destacam os investimentos 
públicos, físicos e humanos. Porém, a conclusão não deve de imediato ser no sentido do seu 
incremento sistemático, porquanto existem outros considerandos a respeitar, como a capaci‑
dade de endividamento do Estado para cobrir os consequentes défices fiscais, a regra do equi‑
líbrio orçamental e a eficiência da actividade do Estado. Um Ky,g igual a 1,19 pode ser sintoma 
da existência de filtros na economia impeditivos de o multiplicador assumir um valor mais rele‑
vante: elevada taxa de pobreza responsável por uma propensão marginal ao consumo excessi‑
vamente alta (evidentemente que o consumo privado é também um factor de crescimento, mas 
com desfasamentos temporais superiores aos do investimento, donde efeitos menos expres‑
sivos e com maiores tempos de espera)10, taxa média de imposição fiscal alta, afectando o 
rendimento disponível das famílias e empresas e por arrastamento a sua disponibilidade de 
investimento (as famílias não consomem apenas, também investem em habitação e bens de 
consumo duradouro) e uma elevada exposição ao exterior medida pelo coeficiente de impor‑
tação (Angola produz muito pouco e por isso os efeitos económicos directos e indirectos dos 
gastos do Estado perdem‑se a favor dos países exportadores). 
Da observação da tabela anterior retiram‑se aspectos curiosos:
a) Até 2008, dentro do período 2003/2016, a relação entre gastos públicos e nível geral da 
actividade apresenta‑se tal como a Teoria Económica ensina, tendo aumentado a sua 
percentagem de participação nos incrementos do PIB. A percentagem de 74% em 2008 
indiciava já a necessidade de a política orçamental ser contracíclica, devido aos efeitos da 
crise económica internacional.
10 O actual modelo de crescimento económico de Portugal passou a considerar o consumo privado 
como um factor relevante pela via do aumento de rendimentos das famílias (reposição de salários, 
descongestionamento e aumento de pensões e reformas (modelo centrado na redistribuição do 
PIB)). Os resultados ainda são incipientes, continuando as exportações (sobretudo de serviços) e 
o investimento privado (o investimento público tem severas restrições orçamentais impostas pelo 
cumprimento das metas do défice fiscal estabelecidas por Bruxelas) a serem os principais motores.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
b) Em 2010, operou‑se um ajustamento desfasado na economia: o Estado, devido à quebra 
das suas receitas em 2009, viu‑se obrigado a diminuir os seus gastos (donde a sua influên‑
cia negativa sobre o PIB de ‑1252 milhões de dólares) e o sector privado (investimento 
e exportações) garantiu o essencial do incremento de 17 828 milhões de dólares do PIB.
c) Em 2011 e 2012, a Teoria Económica voltou a funcionar, com percentagens importantes 
de influência dos gastos públicos sobre o crescimento do nível geral da actividade econó‑
mica, respectivamente 52,6% e 58,1% de incremento do PIB.
d) A partir de 2013, o PIB nominal contraiu‑se significativamente, iniciando‑se um ciclo de 
redução sustentada do PIB nominal, ocorrendo, do mesmo modo, uma diminuição dos 
gastos públicos, menos proporcional, o que explica o peso de outros factores, igualmente 
em crise de crescimento.
e) Os outros factores considerados neste exercício são: as exportações (especialmente de 
petróleo), o investimento privado petrolífero e algum não petrolífero, o consumo das 
famílias (continua‑se a aguardar a publicação das contas nacionais 2013/2015) e as trans‑
ferências a título de reformas, pensões e abonos de família.
Os investimentos públicos em capital físico e capital humano têm sido objecto de controvér‑
sia, em especial os aplicados em obras públicas executadas por empresas chinesas11. A qualidade 
das mesmas tem sido o principal elemento de crítica e a comprová‑lo a reduzida durabilidade 
de muitos milhares de quilómetros de vias rodoviárias (alguns em reconstrução pelas mesmas 
empresas chinesas), diminuindo a sua rendibilidade económica e utilidade social. O incremento 
do stock de capital público – físico e humano – está computado em USD 113 623,7 milhões no 
período 2002/2016. Muito dinheiro retirado, pela via dos impostos, aos rendimentos das famí‑
lias e aos lucros das empresas.A maior parte dos esperados efeitos económicos destes investi‑
mentos incide, especialmente, sobre a actividade da economia não petrolífera, cujo PIB registou 
uma variação, naquele mesmo período, de USD 71 248,1 milhões. A rendibilidade média dos gas‑
tos de capital do Estado é, portanto, de 1,6 significando que por cada unidade de investimento 
público se geram 0,6 unidades de produto não petrolífero. O melhoramento deste rácio depen‑
de da qualidade das obras de infra‑estruturas, do seu custo de construção (talvez 20% a 25% se 
perdem em comissões), da sua fiscalização e da sua correcta programação. Se em cada ciclo de 
investimento público se perdem 20% a título de bónus e comissões, então desde 2012 que se 
transferiram USD 22720 milhões para intermediários e facilitadores da contratação pública.
Do lado das receitas fiscais, o Governo tem privilegiado o seu aumento, como forma de con‑
trolar os défices orçamentais, sem cuidar dos seus efeitos sobre a economia e continuando a 
11 A última estimativa do acumulado de dívida à China é de 12,5 mil milhões de dólares, não sendo claro se com o novo aeroporto e as respectivas vias de acesso – novamente autorizado o seu início – 
ou devendo recorrer‑se a novos empréstimos. O recente Fórum China‑Angola teve uma representa‑
ção chinesa significativa.
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manter despesas públicas de elevado montante sem introduzir reformas fundamentais, como 
a diminuição do número de funcionários públicos (para além da identificação de cerca de 
55 000 considerados fantasmas nada mais se fez), de modo a ajustar as suas remunerações à 
sua real produtividade, o ajustamento e a reestruturação dos Ministérios e a melhoria dos ser‑
viços prestados aos cidadãos e às empresas (tal como se encontra, e mesmo considerando os 
realinhamentos introduzidos no seu funcionamento no âmbito de vários programas de refor‑
ma administrativa desde há mais de 25 anos, a Administração do Estado ainda não é amiga dos 
cidadãos e dificulta bastante a criação e funcionamento de grande parte das empresas que 
estão afastadas do círculo político do MPLA). 
A Reforma Tributária, que aparentemente no seu essencial terminou, manteve taxas eleva‑
das para alguns impostos, impendentes sobre as famílias e as empresas, reduzindo‑se os res‑
pectivos rendimentos disponíveis, de onde se retiram consumos privados (também alavanca do 
crescimento económico, ainda que por vias indirectas) e investimento privado, variável directa 
de aumento do PIB presente e potencial. 
EVOLUÇÃO COMPARADA DO PIB E RECEITAS FISCAIS
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
RI.2017.0000.01.01
DT_02
2.ª prova
25 maio 2017
Paulo Amorim
0,0
–50,0
–100,0
50,0
100,0
150,0
200,0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Taxa crescimento receitas tributárias Taxa crescimento PIB nominal (%)
Fonte: Ficheiros do CEIC, com base em dados oficiais.
Do gráfico anterior retira‑se que parece valer a pena aumentar impostos, dado que em 
Angola a correlação com o PIB é positiva: quanto mais elevada a variação das receitas tributá‑
rias maior o crescimento do produto. É assim? A Teoria Económica diz o contrário (Curva de Laf‑
fer, multiplicadores de Keynes, fiscalidade neoliberal, coeficiente de Colin Clark). No entanto, as 
informações financeiras do Estado, entre 2003 e 2017, apontam para um ajustamento perfeito 
entre aumento da fiscalidade e incremento do PIB. Mas este relacionamento positivo exige uma 
acrescida investigação: tipo de impostos que mais contribuíram para o aumento das receitas 
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
fiscais, modificações ou não da taxa fiscal de cada imposto, alteração das bases fiscais de cada 
imposto, o peso da inflação no crescimento nominal do PIB e dos impostos, o desfasamento 
temporal na equação fiscal (T=T0+tY), etc. 
Como sublinhado já, o aumento de impostos exerce um efeito de retracção da actividade 
económica através do rendimento nacional disponível, aplicado em investimento (poupança) 
e consumo. O efeito depressivo dos impostos é medido através do respectivo multiplicador 
keynesiano e difere consoante o incremento se processe através de impostos directos ou de 
impostos indirectos. Os primeiros actuam directamente sobre as remunerações dos facto‑
res de produção, enquanto os segundos afectam o consumo. As receitas fiscais ascenderam 
a USD 449 950,1 milhões, entre 2002 e 2016 representando uma carga fiscal média de 30%. 
A incentivação do investimento privado requer uma diminuição neste coeficiente, talvez um 
dos elementos mais importantes da competitividade económica do país no curto prazo, porque 
o ambiente de negócios é francamente mau e a produtividade geral dos factores baixa12.
RECEITAS FISCAIS ENTRE 2003 E 2016 (MILHÕES USD)
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Receitas fiscais 6446,6 6301,7 8677,8 16 235,7 22 134,8 29 979,3 44 631,1
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Receitas fiscais 35 993,7 54 077,1 58 366,8 50 192,5 44 752,7 27 904,6 20 366,6Fonte: Ficheiros do CEIC, com base em dados oficiais
O pico das receitas fiscais foi em 2012, notando‑se uma quebra de mais de USD 38 000 
milhões em 2016, tornando urgente a busca de outras fontes de financiamento do Estado, uma 
das quais está, seguramente, na diminuição do seu peso na economia e na contracção da sua 
dimensão. 
A Teoria Económica demonstra que é possível ampliar o PIB através do aumento dos impos‑
tos e das despesas públicas, em determinadas condições: estrutura da fiscalidade (os efei‑
tos negativos dos impostos directos são mais elevados do que os dos indirectos), escalões de 
rendimento, amplitude da base fiscal, incidência da evasão e fraude fiscal e justiça tributária. 
O imposto sobre fortunas e rendimentos dos mais ricos pode ser uma via de aligeirar o sacrifício 
12 Ainda que se sustente que este coeficiente fiscal seja igual ao da África do Sul, este país dispõe de 
argumentos competitivos que Angola está longe de deter: acervos tecnológicos e científicos, investi‑
gação científica, sistema financeiro internacionalmente credível e confiável, organização institucio‑
nal reconhecida, universidades que estão bem classificadas nos rankings internacionais, etc. O Brasil 
também tem um elevado coeficiente fiscal (cerca de 42%), mas tem sido possível captar investimento externo devido a outras facilidades que oferece aos investidores privados.
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fiscal sobre os rendimentos mais baixos detidos pela classe baixa e média baixa: quando se taxa 
as pessoas mais ricas, o efeito de contracção é muito menor do que o efeito expansionista con‑
seguindo ao apoiar as pessoas com rendimentos mais baixos, podendo ainda ser mais forte ao 
aplicar‑se o dinheiro em bens públicos essenciais, como educação e saúde. 
A distribuição de rendimento em Angola é tão desigual, díspar e acintosa que remete para 
a vala dos deserdados cada vez mais pessoas. A crise financeira e económica, iniciada em finais 
de 2013, está a agravar a situação de exclusão social no país, atirando crescentes camadas da 
população para situações de pobreza, absoluta e relativa.
A Teoria Económica igualmente fornece razões e algoritmos que permitem reconhecer que, 
mesmo preservando o equilíbrio financeiro das contas do Estado, ainda se gera crescimento 
através do multiplicador keynesiano do equilíbrio orçamental. Portanto, só considerandos de 
índole estritamente política podem justificar desmandos orçamentais e violação da regra do 
equilíbrio orçamental. Por isto, e evidentemente por outras razões consignadas à crise finan‑
ceira e económica, grave, que o país atravessa, é que o Fundo Monetário Internacionalreco‑
menda que o défice orçamental global deveria ser contido na vizinhança de 2,25% do PIB13. 
Evidentemente que são admissíveis excepções quando os desequilíbrios económicos são de tal 
envergadura – próximos da recessão – que exigem a intervenção do Estado através de políticas 
orçamentais activas e anticiclo económico14. 
O défice fiscal global projectado pelo Governo para 2017 (‑5,8% do PIB) não respeita a regra 
de ouro das finanças públicas, que estabelece que o seu valor não deve ultrapassar o rácio do 
investimento público (5% para 2017), um factor adicional de criação de produto potencial da 
economia15.
Uma situação de crise financeira como a actual perdurará sempre para lá dos limites acei‑
táveis e comportáveis por causa das obrigações que deixa atrás de si e consubstanciadas na 
dívida pública.
13 Relatório de Missão ao Abrigo do Artigo IV, Novembro de 2016.
14 O valor do multiplicador keynesiano do orçamento equilibrado é igual à unidade, querendo signi‑
ficar que um aumento dos gastos públicos compensado por incremento de impostos tem um efeito 
sobre a actividade económica igual à variação das despesas do Estado.
15 A produtividade média aparente do trabalho foi de USD 13 242,7 no período 2002/2015 (baixa, 
não apenas de per se, mas também para estruturar uma competitividade internacionalmente com‑
parável (para este mesmo período a produtividade média aparente do trabalho na África de Sul foi 
de USD 47 000)). A taxa de desemprego estimada pelo CEIC para 2015 foi de 21,6%. Se considerar‑
mos como possível uma situação de pleno emprego correspondente a uma redução de 17 pontos per‑
centuais e uma produtividade média de USD 20000, o produto potencial da economia pode atingir a 
cifra de USD 254,3 mil milhões (as estimativas para 2016 dão uma cifra de USD 98,9 MM para o PIB). 
O défice fiscal calculado em relação ao produto potencial denomina‑se défice estrutural ou de pleno 
emprego, ou seja, uma correcção para 2,26% do PIB, entendendo‑se melhor ainda a sugestão do FMI.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
A questão da dívida pública16 – que pode chegar a 75% em 2017 se considerarmos as 
empresas públicas, que só não será assim se algumas delas forem privatizadas em condições 
de alienação também dos passivos, como pode vir a ser o caso da TAAG e de algumas empresas 
agro‑pecuárias, de resto referidas em vários documentos oficiais sobre a estratégia de saída da 
crise – é importante por ser um dos elementos de classificação do risco‑país de cada país (capa‑
cidade de crescimento, compliance do sistema financeiro (como se sabe, neste momento os 
bancos comerciais suspenderam, sem limite de tempo, todas as operações em dólares, porque 
não têm respaldo internacional, o que é um mau sinal para as agências internacionais de nota‑
ção), transparência, gestão pública e boa governação, são outros itens). E estes aspectos são 
cruciais para captar investimento privado estrangeiro de que Angola tanto necessita.
Mas o rácio da dívida pública com que normalmente se opera em Angola é mais restrito e 
atingiu o seu máximo justamente este ano (ver Relatório de Fundamentação do OGE 2017) com 
61,9%. Para 2017, o Governo projecta 52,7%, uma redução de quase 10 pontos percentuais. 
Não está completamente claro o modus faciendi desta redução, porquanto o défice fiscal vai 
ser de ‑5,8% do PIB (a ser coberto com financiamento externo e interno que se soma ao stock 
de dívida presente), o crescimento do PIB de 2,1% (para o FMI 1,25%), o investimento público 
aumenta 3,5% e as despesas correntes incrementam‑se em 8,2%. Só através da conjugação de 
vários factores tal poderá ocorrer (o stock de dívida pública aumenta de USD 61 198,7 milhões 
em 2016, para USD 69 927,6 milhões em 2017):
a) Se o montante previsto para amortização da dívida existente for superior ao incremento 
da dívida (nova dívida a contrair). 
b) Se a taxa de crescimento nominal do PIB for de 20,8%17 sendo suficiente reduzir‑se a 
metade para que o rácio da dívida suba para 64,1%.
c) Se a desvalorização do kwanza face ao USD for de 20% em 2017, o rácio da dívida pública 
poderá atingir 61,1% do PIB. 
d) Se fosse previsto um saldo primário positivo, poder‑se‑ia presumir que parte seria para 
amortização da dívida e outra para pagamento de juros, não sendo, porém, o caso em 
análise, com o défice fiscal programado.
Ou seja, um conjunto de condições exigentes em boa capacidade técnica de controlo e ges‑
tão da dívida do Estado e de contenção política, nomeadamente nos investimentos públicos, 
devendo fazer parte do respectivo pipeline apenas os que criarem e valorizarem o capital huma‑
no nacional e o produto potencial da economia. 
16 Há dois tipos de dívida pública com que a política orçamental e a política monetária operam: dívida 
bruta (presumindo‑se que o rácio de 52,7% a esta se refira) e dívida líquida, consolidando a dívida bruta com os activos do Estado).
17 Calculada na base da conversão do PIB em kwanzas (Relatório de Fundamentação) para USD com 
uma taxa média de câmbio de 165,37 (desvalorização de 15%). 
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A sustentabilidade das dívidas públicas deve ser enquadrada por 3 factores: défice fiscal pri‑
mário, taxas reais de juro e taxas de crescimento do PIB. O rácio da dívida pode ser controlável 
(62% registado em 2016), se e só se os restantes factores forem positivos e sintetizados numa 
inequação: taxa de crescimento do PIB> Taxa real de juro. Isto significa que a médio prazo – até 
2020 se o cenário do comportamento do preço do petróleo se mantiver, no essencial, constante 
(USD 50 o barril) – o país pode ter problemas com a sua dívida pública. Porquê? 
a) A intensidade de crescimento da economia vai manter‑se baixa (o Governo prevê para 
2017 2,1% para o total da actividade económica e 2,3% para o PIB não petrolífero, qual‑
quer uma das cifras inferior à taxa de crescimento da população – 3,1% segundo o Censo 
populacional de 2014 e os mais recentes Boletins Informativos do INE sobre o fenómeno 
demográfico em Angola – donde uma degradação das condições de vida da maioria da 
população, o CEIC estima que até 2020 a taxa média anual de variação do PIB deverá estar 
entre 2% e 2,75%, o The Economist recentemente aponta para menos de 3% até 2021 e o 
FMI, no seu cenário mais optimista, para 2,4% e no cenário de base para 1,4%). 
b) As taxas de juro estão altas, independentemente de serem internos ou externos os 
empréstimos (uma média ponderada aponta para um valor de 8,8% em 2016, com ten‑
dência ao agravamento devido aos factores de instabilidade e de risco impendentes 
sobre a economia nacional). 
c) O défice fiscal primário está, por enquanto, longe de um efectivo controlo18. 
d) As contradições entre políticas orçamentais activas (em favor do crescimento) e políticas 
orçamentais de estabilidade (favoráveis à preservação de equilíbrios macroeconómicos 
fundamentais) são mais evidentes em situações de crise financeira e económica, como é 
claramente o caso de Angola.
A sustentabilidade da dívida pública pode igualmente ser analisada em termos nominais, 
mantendo‑se as mesmas variáveis de análise. Assim para 2017: taxa nominal de crescimento 
do PIB de 38,9%19 (um exagero e em manifesta contradição com a taxa de inflação prevista de 
15,8%, conforme mais adiante se demonstra), saldo fiscal primário de ‑3,3% do PIB e taxa de 
juro implícita de 4,85% (obtida dividindo‑se o montante de juros, internos e externos – cerca de 
USD 3046 milhões – pelo stock da dívida pública (em redor de USD 62 800 milhões). Neste qua‑
dro de referência, a dívida pública ainda está dentro dos limites da sua sustentabilidade (taxa 
de juro nominal inferior à taxa nominal de variação do PIB). Mas háuma diferença significativa 
entre taxa de juro implícita e taxa de juro efectiva, cujo valor vai depender de Angola ser aceite 
18 De acordo com o Relatório de Fundamentação do OGE 2017, o rácio dos juros da dívida pública evo‑
luiu da seguinte forma: 0,8% em 2013, 1,2% em 2014, 2% em 2015, 2,6% em 2016 e projecta‑se 
um valor de 2,5% para 2017. Consequentemente, o défice primário em relação ao PIB, pela mesma sequência temporal, é de 1,1%, ‑5,4%, ‑1,3%, ‑3,3% e ‑3,3% (um acumulado de ‑12,2%).
19 Calculada em kwanzas correntes (Relatório de Fundamentação do OGE 2017).
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
no sistema financeiro internacional como um país normal em transparência financeira, account‑
ability, compliance e boa governança bancária. Seguramente não ocorrerá antes de 2020.
A taxa de crescimento do PIB e a taxa de juro – em termos reais ou nominais – servem para 
se avaliar o chamado efeito “bola de neve”, ou seja, para se saber se o simples pagamento dos 
juros agrava ou não o rácio da dívida (uma das manifestações de insustentabilidade da dívida 
pública aparece quando a taxa nominal de juro for superior à taxa de crescimento do PIB). 
Mas há outros factores, fora da rota estrita da gestão orçamental do Estado, que podem 
impactar negativamente a dívida pública: a recapitalização do BPC (o Estado já colocou nesta 
instituição cerca de USD 1000 milhões), do BCI (talvez um montante menor de recapitalização), 
da TAAG (a sua reestruturação está em curso, tendo sido identificadas novas necessidades de 
financiamento para aquisição de novas aeronaves, acompanhadas de despedimentos de pes‑
soal, como forma de redução dos custos de funcionamento), da Sonangol (segundo declarações 
públicas a sua dívida pode ascender a USD 9000 milhões e a quem a China recusou o pedido de 
empréstimo de USD 5000 milhões, depois de ter aberto uma linha de crédito para o país de USD 
15 000 milhões por intermédio do CDB – China Development Bank20), da Endiama (a braços 
com a queda da cotação internacional do diamante), da SODEPAC – Fazenda Pungo Andongo 
(a necessitar de injecção urgente de dinheiro, especialmente de divisas, para reactivar a pro‑
dução, segundo declarações do seu presidente), etc. É nisto que dá ter‑se um Estado exage‑
radamente grande (ainda a herança socialista, exigindo uma reformulação do seu modelo de 
intervenção na economia, que terá de ser muito mais indirecto – através de políticas de incen‑
tivo – e muito menos directo) e significativamente atreito a jogos e tráficos de influências polí‑
ticas do partido no poder.
A privatização de bancos comerciais públicos e de muitas empresas estatais tem de ser a via 
para se amenizarem os défices orçamentais e centrar a actividade do Estado na criação de efi‑
ciências para o crescimento do PIB.
A matéria dos juros da dívida pública – que impacta o peso que a mesma tem na vida das 
famílias e das empresas21 – pode ser vista de dois ângulos diferentes. Tratando‑se de dívida 
pública interna, os juros pagos aumentarão o rendimento disponível das famílias e empresas – 
o que é bom, pois o consumo privado e o investimento privado podem aumentar (na ausência 
20 Gustavo Costa – “China Recusa Novo Empréstimo à Sonangol”, Semanário Expresso, Caderno de Economia de 15 de Outubro de 2016.
21 O Relatório de Fundamentação do OGE 2017 apresenta o montante de juros pagos pelo Estado e 
a sua repartição em moeda nacional e divisas, havendo, assim, a possibilidade de analisar os sacri‑
fícios solicitados às gerações presentes pelos “desmandos” da gestão financeira do Estado. Como 
sublinhado mais atrás, os défices orçamentais que originam dívida pública só serão virtuosos se 
incrementarem o produto potencial da economia e melhorarem as condições de vida da população 
(mais crescimento, mais emprego e mais rendimentos para distribuir). Sempre que assim não for, os 
desequilíbrios fiscais favorecem a elite burguesa do círculo político da governação.
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de equivalência ricardiana e sob expectativas racionais, isto é, se os incrementos de rendimento 
disponível não forem canalizados para poupança), consequencializando crescimento económi‑
co. Mas também neste caso não se pode esquecer que a dívida pública interna pode ser subscri‑
ta por estrangeiros residentes e os juros podem ser aplicados em actividades internas (óptimo), 
ou transferidos para o exterior (um direito financeiro internacional). A opção depende do nível 
de confiança e credibilidade que o país suscita.
Quanto à divida pública externa, o efeito é só um (poder‑se‑iam detectar outros, mas cuja 
lógica é um bocado tortuosa, mesmo em circunstâncias económicas e financeiras normais que 
Angola não apresenta neste momento), qual seja: dívida contraída em divisas no estrangeiro, 
transferência integral dos juros em moedas fortes (a não ser que outras condições tenham sido 
negociadas no momento de contracção do empréstimo). Os efeitos positivos sobre o aumento 
do rendimento disponível perdem‑se completamente a favor dos credores estrangeiros e das 
suas economias. Daí a importância da estratégia de endividamento: aplicar os empréstimos na 
importação de bens e serviços finais é um erro, porque consomem‑se esses produtos e fica a 
dívida. Os financiamentos externos – incluindo as linhas de crédito – devem contribuir para a 
criação de produto potencial – capacidade de crescimento futuro – de modo a serem gerados 
rendimentos de onde se retirarão as partes a transferir para o exterior para cumprimento do 
serviço da dívida. 
No Relatório de Fundamentação do OGE 2017 detecta‑se uma tendência/preferência do 
Estado pela dívida pública interna, o que é bom em termos de facilitação da sua gestão e de 
reencaminhamento interno dos seus efeitos sobre o rendimento nacional disponível. O desa‑
fio a vencer é o da (re) negociação das taxas de juro, dependente do cumprimento das regras 
básicas de boa governação do Estado e de compliance da parte do sistema financeiro nacional. 
DÍVIDA PÚBLICA EM ANGOLA
Rubricas 2013 2014 2015 2016 2017
Dívida pública total (USD MM) 30,6 41,6 48,6 56,6 62,8
% do PIB 24,5 32,8 47,4 61,9 52,7
Externa (USD MM) 15,7 20,2 22,2 26,5 32,5
% do PIB 12,6 15,9 21,6 29,0 27,3
Interna (USD MM) 14,9 21,4 26,5 30,0 30,3
% do PIB 12,0 16,9 25,8 32,9 25,4Fonte: Relatório de Fundamentação do OGE 2017.
 
O facto de não haver dívida privada externa é um sintoma evidente da falta de credibilida‑
de e confiança internacional no sistema financeiro, nas empresas e nos empresários nacionais.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016
Como resultado directo da crise financeira e económica e indirecto da Reforma Tributária, 
a estrutura fiscal tem‑se alterado. Mas na base de uma diminuição geral dos réditos do Estado. 
A capacidade de crescimento diminuiu drasticamente e as fontes de impostos ressentiram‑se 
na mesma proporção, não sendo o recurso sistemático à criação de dívida o melhor modelo 
para se financiar o défice. 
Como já destacado, a reforma integral do Estado (de que faz parte a alteração de menta‑
lidades de governantes e do middle management22 dos Ministérios e instituições públicas em 
geral) tem de vir em primeiro lugar, sendo possível incentivar a economia (o abaixamento dos 
impostos sobre o valor agregado das empresas e a estabilidade fiscal a médio prazo têm efeitos 
indeléveis sobre o crescimento económico futuro e o aumento de emprego líquido e, conse‑
quentemente, sobre a ampliação das receitas fiscais) e, simultaneamente, aumentar as despe‑
sas sociais estruturantes duma maior produtividade e competitividade do sistema económico. 
Basta estudar muitas experiências internacionais para

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