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DISCIPLINA: Direito Penal III (turmas: 2005, 3001, 3003) PROFESSORA: Luciana Correa (email: lucianacsouza.adv@gmail.com) CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL – PARTE I Constrangimento ilegal – Art. 146 Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 1. Aspectos Introdutórios Trata-se de crime subsidiário, já que é utilizado como elementar, qualificadora ou meio de execução para crimes mais graves. 2. Sujeitos do crime: Crime comum OBS: Não se exige qualidade específica do sujeito ativo (crime comum). Se, no entanto, for funcionário público, no exercício da sua função, havendo o constrangimento ilegal, estaremos diante do delito previsto no art. 350 do CP ou de abuso de autoridade (Lei 4.898/65). 3. Tipo objetivo Núcleo do tipo: O verbo nuclear é constranger O delito possui três meios de execução: violência, grave ameaça e outros meios capazes de reduzir a resistência da vítima. 4. Elemento subjetivo: Dolo É o dolo, consistente na vontade consciente de coagir a vítima, visando obrigá-la a fazer o que a lei proíbe ou deixar de fazer o que a lei não manda, sendo irrelevante o motivo que animou o crime. Não há forma culposa. E se a vítima é constrangida a praticar crime? E se o constrangimento exercido é para satisfazer uma pretensão legítima? Responde pelo exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do Código Penal) 5. Consumação e tentativa Consumação: Consuma-se o crime no momento em que a vítima, constrangida, faz ou deixa de fazer algo (ainda que parcialmente) contrário à sua vontade, obedecendo, assim, o que imposto pelo agente. Tentativa: Admite-se a modalidade tentada (crime plurissubsistente). Ex: A vítima que, compelida violentamente a fazer algo, não cede à vontade do agente. 6. Majorante de pena e o cúmulo material Aumento de pena § 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas. § 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência. Prevalece o entendimento que há concurso material de crimes (Art. 69, CP). OBS: Greco: Embora a regra a ser aplicada, conforme a determinação legal, seja a do cúmulo material, tecnicamente, estaremos diante do chamado concurso formal impróprio ou imperfeito, previsto na segunda parte do art. 70 do Código Penal. 7. Exclusão do crime § 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; II - a coação exercida para impedir suicídio. Discute-se na doutrina sobre a natureza jurídica da norma permissiva em comento: a) Para Bitencourt e Damásio de Jesus trata-se de causa excludente da tipicidade; b) para a segunda, e majoritária, defendida por Hungria, Mirabete, o parágrafo tem a natureza de causa especial de exclusão da ilicitude. Independentemente da discussão, o agente pratica o constrangimento, sem, todavia, cometer crime. 8. Ação penal Ação penal pública incondicionada. Ameaça – Art.147 Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - Somente se procede mediante representação. 1. Aspectos introdutórios A ameaça é a manifestação idônea da intenção de causar a alguém qualquer mal injusto e grave (não necessariamente um crime). 2. Sujeitos do crime Ativo: qualquer pessoa Passivo: apenas a pessoa física, certa e determinada, capaz, de fato, de entender o mal prometido. Desse modo é condição obrigatória que o sujeito passivo apresente condições de tomar consciência do mal, excluídos, portanto, os menores, os loucos, os ébrios (a não ser que a ameaça se reflita sobre outras pessoas, capazes de adverti-los), as pessoas jurídicas (a não ser que recaia sobre os componentes) e as pessoas indeterminadas (a lei diz: ameaçar alguém). OBS: Se o crime, entretanto, for praticado por funcionário público, no exercício de suas funções, poderá ser aplicado o art. 3º da Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, que define os crimes de abuso de autoridade. 3. Tipo objetivo Núcleo do tipo: O verbo contido no tipo ameaçar significa intimidar, anunciar um mal injusto e grave De forma livre: a ameaça pode ser: 1) explícita: clara e induvidosa; 2) implícita: de forma velada; 3) direta: o mal prometido atinge a própria vítima da ameaça; 4) indireta: o mal prometido será causado em terceira pessoa; 5) incondicional: não depende, para efetivar-se, de acontecimento futuro; 6) condicional: depende, para efetivar-se, de um acontecimento futuro. OBS: O mal deve ser injusto e grave, não será injusto o exercício de um direito. Ex: pedido de instauração de inquérito policial 4. Tipo subjetivo: Dolo. Não há modalidade culposa. Elemento subjetivo: É o dolo, caracterizado pela vontade consciente do agente de amedrontar a vítima, manifestando idônea intenção maléfica. ATENÇÃO: Não se exige que exista no espírito do sujeito ativo a intenção de cumprir o mal anunciado. OBS: O animus jocandi exclui o dolo. 5. Consumação e tentativa Consumação: Por ser delito formal, consuma-se no momento em que a vítima toma conhecimento do mal prometido, independentemente da real intimidação, bastando capacidade para tanto Tentativa: É doutrinariamente admitida, exemplo tentativa de ameaça realizada na forma escrita (carta ameaçadora interceptada). Entretanto, para Hungria, nesse exemplo seria mero ato preparatório para o crime, sendo, portanto, um indiferente penal. Greco: Pode-se visualizar a hipótese em que a vítima ameaçada seja um adolescente com 16 anos de idade. A ameaça, embora não tendo chegado ao seu conhecimento, foi descoberta por seu representante legal, no caso, o seu próprio pai, que, querendo a punição do agente, confecciona sua representação, permitindo o início da persecutio criminis in judicio. 6. Ação penal Depende de representação da vítima ou seu representante legal (ação penal pública condicionada). Sequestro e cárcere privado – Art.148 Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado: (Vide Lei nº 10.446, de 2002) Pena - reclusão, de um a três anos. 1. Aspectos Introdutórios Sequestro e cárcere privado são formas de privar alguém da sua liberdade de locomoção, isto é, do livre arbítrio, da livre escolha que cada pessoa faz sobre o local em que deseja ficar ou o momento de locomover-se para outro diverso daquele em que se acha. Desse modo, o bem jurídico tutelado é a liberdade de ir, vir e ficar (liberdade pessoal de movimento) Sequestro x cárcere privado: Majoritariamente, entende-se que sequestro e cárcere privado significam a mesma coisa. De acordo com o Greco: quando se cuida de sequestro, existe maior liberdade ambulatorial; ao contrário, quando a liberdade ambulatorial é menor, ou seja, o espaço para que a vítima possa se locomover é pequeno, reduzido, trata-se de cárcere privado. 2. Sujeitos do crime: Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo ou passivo (crime comum). ATENÇÃO Forma qualificada: O § 1 °, nos incisos I e IV, traz qualificadora para os casos em que a vítima é descendente, ascendente, cônjuge ou companheiro do agente, maior de sessenta ou menor de dezoito anos. § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: I - se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta)anos; (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005) IV - se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005) OBS: Sendo o crime for praticado por funcionário público no exercício de suas funções, aplica-se a alínea a do art. 3º da Lei nº 4.898/1965 (abuso de autoridade) Princípio da especialidade OBS: É bem disponível (liberdade de locomoção), o consentimento da vítima exclui o crime, desde que consciente e válido (se, durante a privação consentida, o ofendido, mudando de ideia, dissentir, deve ser colocado imediatamente em liberdade, sob pena de se configurar o delito em tela). 3. Tipo objetivo: Por ser crime de execução livre, a privação da liberdade pode ser antecedida de violência, grave ameaça ou mesmo fraude (induzir a vítima em erro). Pode ser praticado por: • Ação afastar a vítima do lugar em que vive para outro detenção • Omissão médico que não concede alta para paciente já curado retenção 4. Tipo subjetivo: Dolo (Direto ou Eventual). Não há modalidade culposa. 5. Consumação/tentativa O crime do artigo 148 é de natureza permanente, portanto, somente com a devolução da liberdade da vítima cessa a sua perpetração. E quanto ao tempo de duração? Temos duas correntes: a) a primeira ensina ser irrelevante o tempo de privação, configurando-se o delito a partir do momento em que a vítima teve subtraído seu direito de locomoção, pouco importando se por tempo mais ou menos longo; b ) a segunda exige que o tempo seja juridicamente relevante, sendo a privação momentânea mera tentativa (ou um constrangimento ilegal - art. 146 do CP) . Por ser delito plurissubsistente, admite-se a tentativa quando praticado por ação. 6. Formas qualificadas § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: I - se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005) II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias. IV - se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005) V - se o crime é praticado com fins libidinosos. (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005) § 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral: Pena - reclusão, de dois a oito anos. 7. Ação penal Em todas as suas modalidades – simples ou qualificadas –, a ação penal no crime de sequestro e cárcere privado é de iniciativa pública incondicionada. 8. Sequestro e roubo com pena especialmente agravada pela restrição da liberdade da vítima Se durante a prática de um crime de roubo a vítima for privada de sua liberdade por um período relativamente curto, teremos tão somente o crime de roubo com a pena especialmente aumentada em razão da aplicação do inc. V do § 2º do art. 157 do Código Penal. No entanto, se for por um período longo de privação de liberdade, de acordo com o Greco teremos hipótese de concurso material entre o delito de roubo e o de sequestro ou cárcere privado, afastando-se, nesse caso, a causa especial de aumento de pena prevista no inc. V do § 2º do art. 157 do Código Penal, pois, caso contrário, estaríamos aplicando o tão repudiado bis in idem. Ameaça – Art.147 1. Aspectos introdutórios 2. Sujeitos do crime 3. Tipo objetivo 5. Consumação e tentativa Sequestro e cárcere privado – Art.148 1. Aspectos Introdutórios 3. Tipo objetivo: 5. Consumação/tentativa 6. Formas qualificadas 7. Ação penal 8. Sequestro e roubo com pena especialmente agravada pela restrição da liberdade da vítima
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