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Formação Política, a linha entre corruptos e militantes - leonardo koury

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Formação Política, a linha entre corruptos e militantes 
 
Leonardo Koury Martins
1 
 
Resumo: Este artigo pretende dialogar sobre o 
papel da educação popular na concepção de 
formação política como forma de diminuir corruptos, 
predispostos ao clientelismo, individualismo e 
assistencialismo e formar sujeitos educadores com 
ideais coletivistas. 
 
 
Sem o interesse de ser academicamente correto, porem fazendo um diálogo no âmbito da 
Educação Popular, gostaria de construir neste artigo um diálogo sobre quatro termos 
conceituais: política, formação, corrupção e militância. É importante considerar que este 
diálogo não se baseia em uma perspectiva fechada ou fundamentalista, mas tende a 
acirrar algumas questões polêmicas e às vezes tão pouco discutidas no âmbito da 
esquerda, principalmente quando o senso comum trata a política na ótica de que 
atualmente não existe diferença entre esquerda e direita, ou então, que é tudo igual. 
 
Política, definiria no viés da epistemologia o nome grego se derivara das palavras politiké 
(política em geral) e politikós (dos cidadãos, pertencente aos cidadãos), que estenderam-
se ao latim politicus e chegaram às línguas europeias modernas através do francês 
politique que, em 1265 já era definida nesse idioma como ciência do governo dos 
Estados. Contudo, considerando não como conceituação simplória, mas simplificada 
consideraríamos que política e a construção negociada das relações humanas. O jogo de 
definição mais claro entre interesses alcançados e interesses não alcançados. Melhor 
arguição e posicionamento. 
 
 
 
 
 
 
1 Leonardo Koury Martins: Escritor, Assistente Social, MBA em Gestão Pública e Educador 
Todo posicionamento é inevitavelmente político 
 
Uma grande amiga do campo da geografia, contava a um grupo de amigos nossos, que 
ouvia dizer que a política estava constituída desde o nascimento, que a escolha ao nascer 
de respirar ou não respirar era uma escolha política. De que esta escolha inicial definia 
em viver ou não viver e que se a escolha fosse à vida, que esta decisão era 
cotidianamente sustentada a cada nova respiração, que a política não era uma escolha 
isolada, mas sim a construção de uma escolha e sua constante afirmação entre a vida, 
portanto a vida no seu olhar era a política. 
 
Neste sentido nos baliza que viver é uma escolha política, e concretamente todos os 
momentos da nossa vida fazemos política, primeiro por estarmos nos posicionando e 
segundo porque nossa posição não nos afeta somente, ao menos a todas e todos que 
definiram viver em mais que apenas a unidade. 
 
A vida coletiva é a continua afirmação que nossos olhares, posicionamentos e escolhas 
traduzem a orientação política que temos ao coletivo e nossas posições não são 
meramente individuais, por mais que o modo de produção capitalista nos perceba como 
indivíduos. Porem mesmo assim, na escolha da individualização social, na cultura do meu 
e não do nosso, reafirmar isso, mesmo que de forma alienada é uma decisão política, é 
perpetuar a cultura do ter, mesmo que insistimos em acreditar que seja involuntário. 
 
O conceito de formação, ou o ato de formar, na discussão do senso comum: refere ao 
“por na forma”, modelar, porem, a construção da formação é o que vai definir se este 
conceito se esgota na obviedade ou se torna complexo. 
 
Uma formação qual se proponha a sair da obviedade, da reprodução das atuais relações 
sociais e ambientais, deve considerar duas máximas acadêmicas que discutem que toda 
formação por si é um ato político, ou que toda formação é política. A primeira que segundo 
FREIRE (1996) Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho, educamos entre si, 
mediatizados pelo mundo. Se considerarmos esta construção de que o conhecimento 
está na relação de diálogo, nos aproximamos do conceito de que a política é construída 
no dia a dia, no posicionamento e na reafirmação e sustentação deste posicionamento 
cotidianamente. 
 
Este conceito incide sobre uma segunda discussão, de que a hierarquização do 
conhecimento além de um erro pedagógico manifesta apenas para a construção da 
desigualdade e desentende os educandos e educadores como sujeitos comuns, 
apropriados de uma construção natural de conhecimento. Além de padronizar um modelo 
de certo ou errado, de bom ou ruim, trata com diferença todos os espaços de produção do 
conhecimento, fazendo o mundo perder a graça e a luz da caverna includir numa 
minúscula sala de aula. 
 
A formação se da em todos os espaços vividos, sistematizados ou não, no âmbito formal, 
informal e não formal, porem na proposta do contraponto da reprodução do capital, não 
pode existir um modelo de educação que não se proponha a pluralidade, a criticidade e a 
constante posição e sustentação e ou derrubada das verdades compreendidas. 
 
A segunda máxima quando compreendemos que esta educação não pode no âmbito 
político ter uma tonalidade ingênua e reprodutora da mesmice imposta, deve também 
estabelecer alguns diálogos no âmbito da diversidade para que não caia na opressão do 
contraponto, tornando ao invés de uma educação popular uma educação novamente 
opressora. 
 
Boaventura de Souza Santos faz considerações fundamentais sobre direitos humanos 
que devem nortear o papel desta formação na construção de outra ordem societária, esta 
fundamentada organicamente na transversalidade da igualdade e da diferença: 
 
Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o 
direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a 
necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença 
que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades. 
(SANTOS; 2005) 
 
Esta construção da diversidade sobre as relações humanas e ambientais é o que nos 
distinguirá não apenas enquanto classe, mas na reafirmação de uma outra ordem 
societária. Muito além da visão ingênua da substituição de poder, mas a discussão de que 
poder é este? Um poder opressor? Ou a tomada de poder pelos oprimidos que não 
desejam o poder da opressão a ninguém. 
 
Compreender que a educação e a midiatização com o mundo e a forma de interpretar 
estas relações nos trará a condição de construção de tomadas de decisão, aproxima a 
possibilidade de não apenas reproduzir a ordem, mas até compreender a desordem do 
atual sistema com fundamental para a construção de uma sociedade igualitária. Assim 
compreenderíamos que o socialismo não foi uma experiência vivida em sua plenitude, 
pois os patamares das iniciais experiências estavam dotadas de opressões e de 
condições individuais, como a ganância ou o sexismo, preconceitos que expurga uma 
possibilidade de diálogo entre igualdade e diferença trazida por Boaventura. 
 
A linha que produz a ordem e a desordem 
 
Segundo o dicionário Aurélio, corrupção significa um ato de deterioração do ambiente 
coletivo e ou público, a condição de favorecimento de bem individual ao que deveria ser 
de um bem coletivizado. 
 
Consideraríamos claramente que este conceito se aplica a um modelo de educação 
reprodutor do modo de produção capitalista, que em sua descrição conceitual a ideia do 
lucro, da exploração e a da acumulação da propriedade privada nada mais é uma mola 
propulsora do avanço do conceito de corrupção. 
 
Não seria ousado dizer que a corrupção acentua-se a todo segundo num ambiente no 
qual a desigualdade é a opressão da diferença e a aniquilação da igualdade, esta 
substituída pela palavra modelo. O que seria diferente deve no modelo de produção 
vigente ser descaracterizado a ponto de ser irreconhecível e aceitávele contudo apenas o 
que encontra-se nos padrões da sociedade burguesa deve ser considerável. 
 
Num diálogo popular, poderíamos claramente considerar que assaltantes de porta de 
escolas são abominados por perturbarem a ordem social vigente, mas os grandes 
políticos, capachos de empresários são consideramos como sujeitos que não oferecem 
risco a sociedade, portanto podem viver em prisão domiciliar. Outrora numa concepção 
radical de educação popular, os verdadeiros revolucionários ainda estariam nos pequenos 
larápios, estes vítimas do sistema vigente que trata a vantagem como expressão de 
competência. Porem estes microproblemas da segurança pública apesar de afetarem tão 
pouco o sistema capitalista sempre serem punidos. Estes apenas reproduzem a ordem, 
vitimas da falta de formação política e de uma escola hierarquizada nos princípios da 
desigualdade e da padronização do sujeito. 
Considerações sobre uma educação militante 
 
Finalizo na intenção de trazer segundo Frei Beto uma discussão do que é ser militante. 
Não diferente do corrupto o militante encontra-se no planeta Terra, qual hegemonicamente 
o capital apropria-se dos valores sociais, culturais, naturais e econômicos. Os dois atores 
estão dispostos a possível passagem alienante por espaços educacionais reprodutores da 
ordem social padrão. 
 
Mas considerando que os movimentos sociais, partidos de esquerda e os intelectuais 
orgânicos trazem a identidade de contra cultura do sistema capitalista, devemos não 
apenas preocupar com o início do longo prazo da mudança do mundo. Este longo prazo 
nos prevê uma cotidiana crítica a nossa vivência e como construímos a vivência do outro, 
pautada na solidariedade em seu princípio máximo de compreender que coletivizamos em 
nossa vivência conhecimento e expressões políticas. 
 
Não é na simplista ideia de vigília coletiva de que se eu não sou opressor ninguém pode 
ser, porque assim apenas reproduziremos a opressão de vigiar os opressores, mas de 
construir condições reais de pensar a diversidade como princípio comum. 
 
As opressões somente podem deixar de ser opressões quando na condição cotidiana das 
nossas decisões políticas buscarmos a ótica do em si para si segundo Marx e Engels. 
Para não ser opressor devo-me pautar pela observância crítica de minhas ações e de 
como elas afetam o mundo, da constante formulação dos efeitos de minha atitude e da 
compreensão de que minhas atitudes refletem na atitude do outro. 
 
O contador de piada que deixa de contar piadas opressoras não perde a graça no 
contraponto que as piadas opressões não são engraçadas para quem as conta. 
Compreender o espaço vivido é buscar no espaço educacionalmente coletivizado a 
solidariedade de perceber no outro a presente alienação, é trazer o conceito da práxis em 
sua raiz, experienciando a solidariedade de perceber que suas condições de formação, 
muitas vezes na condição econômica, não se data a condição do outro e que sua relação 
de diálogo é a oferta absoluta desta nova possibilidade. 
 
É importante também compreender que o sofrimento do imediatismo apenas trará no 
cotidiano, olhares fatalistas como diz Paulo Freire. Desfazer a ideia de que tudo que 
nasce torto, torto morrerá é possibilitar ao mundo a condição de que ele é redondo e tudo 
que é redondo não se finda em uma esquina. Assim a própria relação entre os 
microproblemas tão bem percebidos da segurança pública seriam menos noticiados frente 
àqueles que exploram milhares de trabalhadores a custa de baixos salários todos os dias. 
Ou até mesmo que uma ocupação é a clara posição daqueles que estão insatisfeitos com 
uma minoria populacional que detêm além de uma grande propriedade privada a 
possibilidade política de trazer a cena pública o valor social de suas caridades como 
compensação das milícias do capital. 
 
Tira a possibilidade de que a ajuda é mais justa do que os direitos e de que direitos são as 
maiores conquistas da classe oprimida. Direitos neste âmbito não ingênuo de olhar a 
educação como libertadora traz a discussão política que são apenas um passo importante 
da luta dos oprimidos, porem uma pena migalha de sua própria opressão. Que direitos 
apenas traduzem a realidade da desigualdade, pois uma sociedade justa não seleciona 
direitos pela importância, mas faz uma nova ordem na qual seja como único direito 
primário a liberdade, contudo a liberdade não é uma situação individual. 
 
Somente uma educação popular, que se proponha a construir uma outra formação que 
politicamente esteja aliada aos oprimidos pode substituir a palavra capital pelo social e a 
condição de que tenhamos menos corruptos e mais militantes, desde que uma mudança 
de modo de produção não é uma virada de página, mas a sua constante leitura e 
manutenção, para que não vejamos depois de tanta luta, uma nova revolução dos bichos. 
 
 
 
Referências 
 
A Universidade do Século XXI: para uma reforma democrática e emancipatória da 
Universidade". 2.ed. São Paulo: Cortez Editora, 2005. (Coleção questões de nossa época; 
v.120) 
FREIRE, Paulo Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

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