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Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 1 MED RESUMOS 2011 ARLINDO UGULINO NETTO LUIZ GUSTAVO C. BARROS YURI LEITE ELOY MEDICINA – P7 – 2010.2 INFECTOLOGIA REFERÊNCIAS 1. Material baseado nas aulas ministradas pelas Professoras Ana Isabel Vieira, Nilma Farias e Luciana Holmes na FAMENE durante o período letivo de 2010.2. 2. GODMAN, C. Tratado de Medicina Interna. 21ª ed., Guanabara: 2001. 3. SCHECHTER. Doenas Infecciosas: conduta diagnstica e teraputica. 2ª ed., 4. Guanabara: 2001. 5. SIQUEIRA, B. Manual de Infectologia. 19ª ed., Revinter: 2003. 6. VERONENI. Tratado de Infectologia. 19ª ed., Atheneu: 2001. Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 2 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino; ELOY, Yuri Leite. INFECTOLOGIA DENGUE (Professora Ana Isabel Vieira Fernandes) A dengue uma doena de grande incidncia no Brasil, cursando com perodos de epidemia e acalmia. Alm disso, seu estudo importante, pois com o passar do tempo, pesquisas demonstraram que a doena est se tornando endmica, e os casos de dengue hemorrgica, manifesta o mais grave da doena, est se tornando mais comum. Sabe-se que existem 4 tipos de vrus causadores da dengue. Esses sorotipos, geralmente apresentam uma distribui o geogrfica. No Brasil at o ano de 2009, havia um predomnio do sorotipo 3, entretanto, h indcios da introdu o do sorotipo 4. Esse dado importante, pois por ser um vrus novo na popula o pode haver uma nova epidemia. INTRODUO A dengue geralmente se manifesta na forma benigna, trazendo ao pacientes sintomas leves e moderados, que incluem: febre, dor no corpo, cefalia, astenia, indisposi o, mialgia e lombalgia, sendo assim denominada de dengue clássica, que, com o tratamento adequado, o paciente se recupera sem maiores complicaes. Entretanto, esse mesmo paciente pode evoluir para a forma mais grave, que constitui a febre hemorrágica da dengue (FHD), subtipo altamente letal. Isso importante, pois n o possvel prever qual paciente infectado com o vrus da dengue vai evolui para a FHD. Entretanto estudos demonstraram que alguns sorotipos, de acordo com sua virulncia, apresentam uma maior possibilidade de evoluir para FHD. Essa particularidade dada ao sorotipo 2. Alm disso, nos fatores que determinam a ocorrncia de dengue hemorrgica, importante salientar a pr-disposi o individual naqueles indivduos que diante da infec o viral, desenvolvem uma rea o inflamatria muito intensa que determina o aparecimento da febre hemorrgica da dengue. Assim a dengue considerada a mais importante arbovirose que afeta o homem, em termos de morbidade e mortalidade. As mudanas climticas favorecem a expans o do Aedes aegypti para regies mais frias, fora dos trpicos (norte e sul). Este aspecto importante pois pode favorecer ao aparecimento do mosquito em reas antes isentas, provocando uma epidemia, grave, j que aquela popula o n o possui nenhum tipo de imunidade ao vrus. A doena tem se tornado endmica no Brasil com surgimento de formas mais graves em crianas INTERPRETAES ERRNEAS SOBRE A FHD Antes de iniciar o estudo propriamente dito sobre a dengue, pertinente a desmistifica o de alguns conceitos e ditos populares sobre a dengue, principalmente quando falamos em febre hemorrgica da dengue. Entre os principais e mais comuns conceitos gerais sobre a doena na popula o brasileira, temos: comum a associa o da FHD quando o paciente apresenta, ao longo do curso evolutivo da doena, sangramentos, fato este justificada principalmente pela sua nomenclatura, febre hemorrágica da dengue. Entretanto sabe-se que essa associa o n o verdadeira, j que pacientes com a dengue clssica pode apresentar, eventualmente, sangramentos nasais, e n o possuir necessariamente a FHD. Erroneamente, associa-se a morte por FHD a episdios de hemorragia (“FHD mata por hemorragia”). Quanto a este aspecto, fisiopatologicamente sabe-se que antes do sangramento propriamente dito, ocorrer um extravasamento de lquido iniciado por uma les o endotelial. Essas alteraes favorecem sinais clnicos como: hipotens o e choque hipovolmico, sem necessariamente haver sangramentos exteriorizados, e, antes mesmo que estes ocorram, o paciente pode vir a bito. “O controle inadequado da dengue evolui para FHD”, consiste em outra afirma o equivocada. Os pacientes que desenvolvem a FHD, geralmente j se apresentavam desde o incio da doena com sinais e sintomas mais expressivos e acentuados que o paciente com a dengue clssica, com vmitos intensos, prostra o, hipotens o, tonturas, febre alta, desidrata o clara. A FHD foi descrita pela primeira vez no sudeste asitico, na dcada de 50. Entretanto a dengue clssica j existia h muitos anos. Com isso, a popula o adulta em geral, vai adquirindo imunidade ao sorotipos 1, 2, 3 e 4, e tendo menos chances de contrair a forma hemorrgica da dengue. Dessa forma, as crianas que ainda n o foram infectadas, desenvolviam a forma hemorrgica mais facilmente, caracterizando assim uma predominncia maior em crianas. Entretanto, no Brasil, tanto a dengue hemorrgica, como clssica, foram instaladas concomitamente, e com isso, pode ocorrer em adultos e crianas, n o tendo predominncia por alguma faixa peditrica. A prova do laço (cuja metodologia veremos mais adiante, na OBS7) consiste em um teste que avalia a fragilidade endotelial do paciente. Para sua realiza o, faz-se uma mdia da press o sistlica e diastlica, e mantm-se o manguito insuflado, por um perodo n o superior a 5 minutos e observa-se a presena de Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 3 petéquias principalmente na fossa cubital e antebraço, evidenciando a presença de sangramentos. Apesar disso, não é um teste patognomônico de FHD, e nem de dengue clássica. Indivíduos podem ser portadores de defeitos ou doenças coagulativas, que favoreçam ao sangramento. Com isso, para que tenha algum valor clínico, é necessário, que o paciente apresente sinais clínicos de dengue, como febre, dor no corpo, cefaléia, astenia, mialgia etc. É errado afirmar que a dengue é doena de “pobre”, já que o vírus não tem predileção quanto às condições sócio-econômicas. O que realmente ocorre é falta de informação e medidas preventivas das classes mais pobres, o que favorece ao desenvolvimento do mosquito. FISIOPATOGENIA O vírus da dengue é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. A postura dos ovos após o acasalamento é feito em superfícies que se mostram ásperas, acima de um nível de água que possa se elevar com a chuva. Dessa forma, possibilita a maturação do ovo, com conseqüente eclosão, crescimento da larva até formar o mosquito propriamente dito. Os ovos podem permanecer viáveis por até um ano. O mosquito adquire o vírus através do contato com o homem infectado. Ou ainda a fêmea já infectada pode transmitir o vírus para os ovos, e o mosquito já nascer infectado. REPLICAO E TRANSMISSO DO V RUS DA DENGUE O humano adquire o vírus através da picada (saliva) do mosquito. Após a inoculação do vírus, este passa a se replicar dentro de um período que é chamado de perodo de incubao. Esse período compreende ao intervalo entre o momento do contágio até o aparecimento dos primeiros sintomas. Esse período está em torno de 5 a 7 dias. A replicação viral ocorre em tecidos como linfonodos locais, músculos e fibroblastos. Com isso, nessa fase da doença o paciente já pode apresentar gânglios aumentados e referir mialgias. O vírus ainda infecta as células brancas do sangue e tecidos linfáticos e a viremia ocorre livre ou no interior de macrófagos e monócitos. Atualmente vêm-se analisando a presença de dor de garganta, sintoma clínico que era utilizado antigamente para a diferenciação de outras viroses que produzem um quadro semelhante. Essa dorocorre principalmente pela riqueza de tecido linfóide que se concentra na faringe, determinando aumento dos mesmos e presença de dor. A forma de se diferenciar a dengue de um quadro gripal comum se faz por meio dos fenômenos exsudativos, que, estão presentes na gripe. Diferentemente da dengue, em que não há uma riqueza de fenômenos exsudativos, podendo se manifestar com uma tosse seca. Entretanto, os achados exsudativos, podem se tornar confusos quando o paciente infectado por dengue possui rinite alérgica, de modo que o processo inflamatório exacerba o quadro de rinite e, com isso, determina uma grande eliminação de secreção. OBS1: A dengue constitui uma doença de um espectro clínico variado, ou seja, podendo se apresentar de várias formas, especialmente quanto à gravidade dos sinais e sintomas. Entretanto a maioria dos indivíduos infectados com o vírus da dengue vai desenvolver a forma mais branda da doença e, por isso, muitos pacientes que tiveram dengue no passado não tem conhecimento de sua infecção devido à simplicidade dos sintomas. Da mesma forma pacientes que evoluem com a FHD podem apresentar um quadro mais brando, entretanto a maioria tem um prognóstico ruim. OBS2: Devido à grande semelhança da dengue com diversas outras infecções virais e bacterianas, deve-se suspeitar de dengue clássica quando o paciente apresentar impreterivelmente, febre e, dois sintomas inespecficos como cefaléia, dor nos olhos, mialgia, vômitos, diarréia, hemorragias, dores articulares. Mesmo assim, identificado os sintomas, ainda não está estabelecido o diagnóstico, somente a suspeita. TEORIAS FISIOPATOLGICAS DA FHD Atualmente existem basicamente três teorias que tentam explicar a ocorrência da febre hemorrágica da dengue. São elas: teoria de Rosen, teoria de Halstead e teoria da Multicausalidade. Teoria de Rosen. Afirma que a ocorrência de FHD está relacionada principalmente com a virulência da cepa infectante, principalmente a Den-2 (cepa asiática e cepa americana). Teoria de Halstead. A teoria de Halstead baseia-se em uma resposta inflamatória intensa à infecção viral por sorotipos diferentes, associada principalmente à presença de anticorpos pré-formados. Com isso, um paciente infectado pela primeira vez, apresentará uma resposta imune, inicialmente mediada por monócitos e macrófagos, que tem como função apresentar os antígenos virais a células específicas (Linfócitos B), para que então sejam produzidos anticorpos contra o vírus. Nessa reação o paciente poderá cursar com febre branda. Após isso o indivíduo encontra-se imunizado daquele sorotipo, 1 por exemplo. Entretanto esse paciente ainda pode entrar em contato com outro sorotipo (2) em um período de 3 meses a 5 anos. Na ocasião, inicia-se o mesmo processo mediado pelos macrófagos e monócitos, entretanto mesmo sendo um subtipo diferente, os anticorpos identificam parte da molécula viral, promovendo assim a ligação de um complexo Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 4 antígeno-anticorpo, que se liga a receptores específicos (Fc) na superfície dos macrófagos. Esta ligação determina uma liberação intensa de citocinas para a mobilização de outras células do sistema imune. Concomitante a este evento ainda há produção de anticorpos específicos para o novo sorotipo infectante (2, no exemplo). Essas citocinas vão se ligar aos receptores das células endoteliais, promovendo uma anormalidade funcional, tornando o endotélio mais permeável à saída do líquido intravascular para o espaço extra-vascular. Esse extravasamento intenso de líquido leva a uma maior concentração de células no compartimento intracelular, explicando o hematócrito elevado. Além disso, haverá uma redução das plaquetas, explicada pelo fato de elas não estarem livre no plasma sanguíneo, mas sim presas à parede endotelial, tentando conter o sangramento. Essas alterações ainda podem estar acompanhadas de leucopenia (linfopenia). Entretanto nem todos os pacientes vão apresentar as alterações laboratoriais descritas até aqui, ou seja, redução expressiva das plaquetas, linfopenia e hematócrito aumentado. Apesar de explicar claramente que as infecções subsequentes podem determinar uma reação inflamatória intensa, e assim cursar com FHD, esta teoria não explica o fato de que alguns pacientes desenvolvem FHD na primeira infecção (sem serem expostos a outro sorotipo). Alguns estudos demonstraram que há formação de auto-anticorpos contra o endotélio, por reação cruzada, determinando as alterações em nível vascular (o que ainda é incerto). OBS3: Diante do que foi exposto até aqui, para que seja estabelecido o diagnóstico diferencial entre a dengue clássica e a FHD, é preciso que o paciente apresente (1) febre, (2) redução acentuada de plaquetas (abaixo de 100.000), (3) presença de sangramentos e (4) extravasamento de líquido, visualizada através da elevação do hematócrito ou pela redução da albumina. Teoria da Multicausalidade. Atualmente, considera-se que, para que um paciente infectado pelo vírus da dengue evolua com FHD, é necessário que fatores virais, ambientais e do hospedeiro atuem concomitantemente. Quanto aos fatores ambientais, a alta densidade vetorial em locais densamente povoados, com alta proporção de indivíduos suscetíveis e circulação viral de dois ou mais sorotipos são fatores que contribuem para a ocorrência de FHD. Quanto a esse aspecto há um paradoxo que pode muito bem ser esclarecido. A presença de alta densidade vetorial em locais densamente povoados não está relacionada à transmissão de um indivíduo infectado para outro, mais sim do mosquito, aumentando o número de focos, já que existe uma área populosa. Em relação aos fatores virais, sabe-se que algumas cepas podem determinar maior viremia e infecciosidade. Além disso, a sequência de infecções parece ter papel importante, sendo que o risco é maior para Den-2, seguido do Den-3, Den-4 e Den-1. Apesar da importância dos fatores descritos acima, o que está mais relacionada com a ocorrência de FHD, explicada pela teoria da multicausalidade são os fatores relacionados ao hospedeiro. Os principais são: (1) imunidade à dengue, isto é, presença de anticorpos heterotípicos pré-existentes; (2) doença endotelial prévia, como diabetes, hipertensão arterial sistêmica; (3) sexo: em Cuba, as mulheres apresentaram risco maior de desenvolver FHD; (4) idade: em Cuba e nos países asiáticos, as crianças apresentaram risco maior para as formas mais graves, embora isto não se verifique em outros países americanos; (5) Etnia: fenótipos caucasóides (brancos) parecem ser mais predispostos a formas mais graves; (6) fatores genéticos que regulam a resposta imune, como a produção de citocinas e possivelmente perfis imunogenéticos, determinados por antígenos de histocompatibildade, possivelmente têm papel importante na patogênese da FHD. Um dos eventos peculiares que pode determinar o aparecimento da forma atípica da doença é a (7) morte celular programada, como na falência hepática ou nas alterações neurológicas (convulsão, encefalites) que, devido ao processo patológico, há uma sinalização para que essas células sejam destruídas através do desencadeamento de um processo imune. OBS4: Nos pacientes infectados pela dengue há uma transitória desregulação da resposta imunológica, manifestada principalmente pela superprodução de citocinas, determinando as alterações já descritas anteriormente e mudança da resposta Th1 para Th2. Essa última alteração é importante, pois em pacientes asmáticos, a resposta Th2 estará exacerbada, especialmente devido a presença prévia de IgE, determinando um processo inflamatório mais intenso gerando também alterações respiratórias. Outra peculiaridade importante são os pacientes alérgicos, pois, também podem cursar com uma resposta auto-imune exacerbada. Há ainda uma inversão na relação CD4/CD8, ou seja, redução dos linfócitosCD4+. OBS5: Dessa forma, de acordo com o que foi explicado sobre a fisiopatologia da dengue e os fatores de gravidade que a caracterizam podemos resumir o resultado final desse processo em três alterações principais: (1) aumento da permeabilidade capilar, com consequente extravasamento de líquido, podendo cursar com (2) diminuição da pressão arterial e (3) manifestações hemorrágicas associadas à trombocitopenia (alterações quantitativas e qualitativas). Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 5 OBS6: Um diagnóstico diferencial importante para a dengue é a meningococemia; uma doença infecciosa bacteriana que cursa clinicamente com cefaléia, febre, vômitos, petéquias, manifestada nas primeiras 24 horas de evolução. Quanto a esse aspecto pode ser diferenciada clinicamente através do sangramento precoce que ocorre na meningococemia, enquanto que na dengue, as manifestações hemorrágicas são mais tardias. MANIFESTAES CL NICAS E CLASSIFICAO A partir das manifestações clínicas da dengue, podemos classificá-la nas seguintes entidades: Dengue clássica Dengue Clássica com manifestações hemorrágicas Febre Hemorrágica da Dengue Dengue com complicações DENGUE CLÁSSICA Como foi dito anteriormente, a dengue é uma doença de espectro clínico variável, podendo cursar com sinais e sintomas clássicos, ou ainda, ocorrer de forma branda, em que na maioria das vezes é subnotificada pela simplicidade de seus sintomas. Entretanto a dengue clássica cursa com as seguintes manifestações: Febre (associada a pelo menos 2 dos seguintes sintomas) Cefaléia Prostração Dor retroorbitária Dores musculares e em articulações Náuseas e vômitos Exantema Manifestações Hemorrágicas Na criança a dengue pode se manifestar como uma síndrome febril, ou ainda com sinais e sintomas inespecíficos como: apatia ou sonolência, recusa alimentar, vômitos, diarréia ou fezes amolecidas e choro persistente. Nas formas mais graves as alterações ocorrem em torno do 3º ou 4º dia, coincidentemente no momento em que a criança passa a ficar afebril, ou seja, queda da temperatura, podendo este ser um sinal precoce de choque, que clinicamente evolui com hipotermia. Além disso, muito comumente pode ocorrer a dor abdominal intensa, contínua, sem sinais de melhora com posicionamento específico ou medicamentos. Além disso, ainda pode apresentar uma recusa de líquidos e exantema. Os pacientes com dengue, de uma forma geral, ainda podem cursar com derrame pleural, principalmente do lado direito. Esse derrame (transudato) será drenado espontaneamente para o compartimento intravascular com o tratamento adequado do paciente, não havendo nenhuma indicação clínica para a realização de drenagem torácica. Nos pacientes que se apresentam clinicamente desfavoráveis, com alterações respiratórias, que tem indicação para internação em UTI, o máximo que pode ser realizado é uma punção de alívio, mas nunca deixar dreno torácico. Com a evolução da doença, pode ocorrer o extravasamento de líquido para o tecido conjuntivo frouxo, e o paciente, principalmente crianças, manifestar clinicamente hipertrofia labial, conjuntival e de mãos. Além disso, ainda pode ocorrer, rash cutâneo, evidenciado através de manchas de coloração esbranquiçada difusamente espalhada pelo corpo produzindo um prurido difuso no paciente. Geralmente o uso de anti-histamínicos responde satisfatoriamente bem. Entretanto quando o prurido é intenso, na palma das mãos ou na planta dos pés, que dura em torno de 48 horas, a resposta dos anti-histamínicos será ineficiente. Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 6 DENGUE COM MANIFESTAÇÕES HEMORRÁGICAS As manifestações hemorrágicas da dengue, mostradas na figura anterior, caracterizam-se por: Hemorragias na pele: Petéquias, púrpuras e equimoses Sangramento gengival; Sangramento gastrintestinal: hematêmese, melena e hematoquezia Hematúria; Metrorragia; Petéquias: presentes espontaneamente ou na prova do laço. Não desaparecem com a digito-pressão. OBS7: Prova do Laço (teste do torniquete). A prova do laço deve ser realizada da seguinte forma: Insuflar o manguito a um ponto médio entre as pressões sistólicas e diastólicas por 5 minutos. Caso o paciente apresente 20 ou mais petéquias em uma área quadrada no antebraço com 2,5 cm2, diz-se que o teste é positivo. Nas crianças o teste é feito com um tempo não superior a 3 minutos, e a presença de 10 petéquias já indica um teste positivo. A prova do laço determina uma interrupção local da circulação arterial capilar, e posteriormente com a redução através da pressão média, permite a passagem do fluxo sanguíneo, garantindo a visualização das petéquias mostrando a alteração funcional dos vasos. Quando o paciente não relata histórico de nenhuma das manifestações citadas anteriormente, deve-se proceder com a prova do laço. A prova do laço é importante para a identificação da gravidade dos pacientes. Quando o paciente apresenta uma prova do laço negativa, pode-se orientá-lo a voltar para casa, e indicar a ingestão de líquidos. Entretanto quando o paciente tem a prova positiva, mas não apresenta condições clínicas desfavoráveis, deve- se solicitar um hemograma, enquanto isso o paciente deve ser hidratado por via endovenosa. Com isso, pode-se perceber que a prova do laço é de grande importância, para a conduta ser adotada em cada paciente. No segundo caso, por exemplo, verifica-se que o paciente mesmo que não apresente sinais clínicos de sangramento, possui uma tendência a ocorrência de hemorragias, justificado pela prova do laço positiva. FEBRE HEMORRÁGICA DA DENGUE (FHD) A definição da Organização Mundial de Saúde de febre hemorrágica de dengue tem sido usada desde 1975. Todos os quatro critérios devem ser preenchidos: Febre ou história recente de febre Manifestações ou tendências hemorrágicas: prova do laço positivo, contusões espontâneas, sangramento da mucosa, vômito de sangue ou diarreia sanguinolenta. Trombocitopenia: baixa contagem de plaquetas (100.000/mm3 ou menos) Evidências de extravasamento capilar (plasmático) Elevação do hematócrito (20% ou mais do nível basal): criança 38% e 42%; mulher 40% e 44%; homem 45% e 50% Baixa albumina: <3,5mg/dl Derrame pleural, ascite, extravasamento na vesícula biliar visto na USG ou outras efusões OBS8: Alguns pacientes podem se apresentar com USG de abdome evidenciando derrame cavitário, redução plaquetária, entretanto não apresenta nenhum sangramento espontâneo. Nesse caso, a não realização da prova do laço, exclui a possibilidade de diagnóstico da dengue hemorrágica. Em contra-partida, sua realização pode determinar um teste positivo e com isso, mudar totalmente a conduta a ser adotada. Assim, evidencia-se a importância da realização da prova do laço, para o estabelecimento do diagnóstico de dengue hemorrágica, de acordo com os 4 critérios citados lodo adiante. De acordo com sua gravidade, a FHD pode ser classificada em: Grau 1: Febre e sintomas constitucionais não-especificos; Sangramento só pode ser evidenciado através da prova do laço positiva. Grau 2: Sinais e sintomas do grau 1 e sangramentos espontâneos Grau 3: Sinais de falência circulatória (pulso rápido e fino, hipotensão, pele fria e úmida) Grau 4: Conhecida clinicamente como síndrome do choque da dengue (SCD), em que o paciente evolui com choque profundo (Pulso e PA imperceptíveis). Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 7 Sinais de alerta na FHD. Dor abdominal: intensa e contínua Aumento repentino do hematócrito; Vômitos persistentes; Hipotensão postural: para isso deve-se aferir a pressão do paciente em posição supina e ortostática. Nos pacientes com hipotensão postural, há uma tendência a desmaios freqüentes. Mudança abrupta de febre parahipotermia com sudorese e prostração Hepatomegalia dolorosa; Hemorragias importantes (hematêmese e/ou melena); Hipotensão arterial; Pressão diferencial < 20mmHg (PA convergente); Extremidades frias, cianose; Pulso rápido e fino; ETAPA CRÍTICA Agitação e/ou letargia; Diminuição da diurese; Desconforto respiratório. DENGUE COM COMPLICAÇÕES E APRESENTAÇÕES ATÍPICAS As principais manifestações atípicas podem ser caracterizadas por manifestações inespecíficas de gravidade considerável: Alterações neurológicas: Rebaixamento do nível de consciência (letargia, confusão, coma); Convulsão, rigidez de nuca, Guillain-Barré, Reye e encefalites Alterações Psíquicas: delírio, sonolência, depressão, irritabilidade, psicose maníaca, demência, amnésia Insuficiência Hepática; Disfunção cardio-respiratória; Severa hemorragia gastrintestinal; Plaquetopenia: inferior a 50.000/mm3 (internação em UTI); Leucometria global igual ou inferior a 1000/mm3 (internação em UTI); Derrames cavitários. OBS9: Quando o paciente é colocado em uma ressuscitação volumétrica, deve-se levar em consideração sua fragilidade capilar, devido ao risco de rompimento do vaso, principalmente em pacientes idosos. A reposição de plaquetas está indicada para os pacientes em SCD com plaquetas inferior a 50.000, pacientes que se apresentam com plaquetas abaixo de 10.000 sem sinais e sintomas exacerbados de dengue ou abaixo de 20.000 com sangramentos. DIAGNSTICO Além do diagnóstico clínico, devemos proceder de testes laboratoriais e específicos para dengue, garantindo assim uma melhor identificação da fase clínica e classificação da doença. TESTES LABORATORIAIS Hemograma, Plaquetas Albumina Provas de função hepática: importante devido ao uso específico de paracetamol. Urina: pode mostrar hematúria microscópica TESTES ESPECÍFICOS PARA O DENGUE Isolamento do vírus: pode ser realizado até o quinto dia de doença RT-PCR Antígeno NS1: até o quinto dia de doença Sorologia IgM e IgG: após o sétimo dia, maior positividade a partir do décimo dia Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 8 ESTADIAMENTO E TRATAMENTO O tratamento dos pacientes com dengue deve ser feito de acordo com a classificação de risco. Através dela é possível a realização de uma intervenção terapêutica adequada para cada tipo de paciente, levando-se em consideração a gravidade dos sinais e sintomas clínicos e resultados dos exames laboratoriais. Grupo de risco Grupo A Grupo B Grupo C Grupo D Características Sem sangramentoSem sinal de alerta Com sangramento Com sinal de alerta Com sinal de choque Local de atendimento Unidade básica de saúde (UBS) Unidade de atenção secundária e Leite de observação Unidade de atenção terciária com Leito de internação Unidade de atenção terciária com Leito de UTI GRUPO A Características Clínicas. São pacientes que se apresentam com sinais clássicos de dengue (febre, cefaléia, mialgia, astenia), entretanto são sintomas leves. Além disso, importante salientar sobre a ausência de sangramentos e sinais de alerta. A história clássica desses pacientes é aquela de febre por até 7 dias, acompanhada de pelo menos dois sinais e sintomas inespecíficos (cefaléia, prostração, dor retroorbitária, exantema, mialgia, artralgia) e história epidemiológica compatível. Além disso, outras características importantes são: Ausência de manifestações hemorrágicas (espontâneas ou induzidas) Ausência de sinais de alerta. Ausência de sinais de choque Em lactentes, sonolência, irritabilidade e choro persistente podem caracterizar sintomas como cefaléia e algias. Conduta Terapêutica. Nesses pacientes o tratamento é ambulatorial. É pertinente solicitar sorologia de acordo com situação epidemiológica. Os exames devem ser solicitados somente para os seguintes casos: Crianças abaixo de 15 anos, gestantes, idosos, e pacientes com presença de co-morbidades (HAS, DM, DPOC, Anemia falciforme, doença renal crônica, cardiovascular, ácido-péptica, auto-imune). Hidratação oral 60 a 80ml/kg/dia, sendo 1/3 de solução salina e o restante líquidos caseiros (água, sucos, leite, água de coco, chá, sopa, leite materno). Sintomático Antitérmicos e analgésicos o Paracetamol Criança: 10 a 15mg/kg/dose (1 gota/kg/dose) de 6/6h Adulto: 500mg/dose de 6/6h ou no máximo 750mg de 6/6h o Dipirona Criança: 10 a 15mg/kg/dose ou 1 gota/kg/dose de 6/6h Adulto; 500mg/dose de 6/6h o Antipruriginosos: Não utilizar AAS ou antiinflamatórios Orientar sobre sinais de alerta: caso ocorram procurar imediatamente atendimento médico Retorno diário se possível ou pelo menos no primeiro dia sem febre Adoção do cartão de identificação GRUPO B Características Clínicas. São aqueles pacientes que apresentam clinicamente sangramentos, ou com prova do laço positiva. A evolução dos pacientes do grupo B é uma febre, semelhante a do grupo A, com manifestações hemorrágicas brandas sem repercussão hemodinâmica, com ausência de sinais de alerta. O diagnóstico desses pacientes deve ser feito obrigatoriamente com exame específico. E exames inespecíficos como: hematócrito, hemoglobina, plaquetas e leucograma. Após a coleta, o resultado deve ser dado o mais rápido possível, no mesmo dia. Enquanto o paciente aguarda o resultado, deve ser iniciada hidratação. Conduta Terapêutica. A conduta nesses pacientes deve ser feita na unidade de atenção secundária em saúde com suporte para observação clínica adequada. A conduta pode ser resumida nas seguintes ações: Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 9 Hidratação oral ou venosa supervisionada em leito de observação por no mínimo 12 horas até resultado dos exames Sintomáticos Hidratação venosa se Hto > 10% e/ou Plaquetopenia abaixo de 50.000 cél/mm3 Volume líquido 80ml/kg/dia: 1/3 solução salina e 2/3 solução glicosada OBS10: Se surgirem sinais de alerta ou aumento de Hematócrito na vigência de hidratação, deve-se indicar a internação hospitalar. GRUPO C Características Clínicas. São aqueles pacientes que se apresentam com sinais de alerta, entretanto sem hipotensão importante. Entre os achados clínicos mais comuns temos: Dor abdominal intensa e contínua Vômitos persistentes Hipotensão postural e/ou lipotímia Sonolência e/ou irritabilidade Hepatomegalia dolorosa Hemorragias importantes (hematêmese e/ou melena) Diminuição da diurese Diminuição repentina da temperatura corporea ou hipotermia Desconforto respiratório Aumento repentino do hematócrito Queda abrupta das plaquetas Conduta Terapêutica. Nesses pacientes, deve-se adotar uma conduta mais agressiva em unidade de atenção terciária com leito de internação. A conduta está baseada nas seguintes medidas: Fase de expansão com SF ou Ringer 25ml/kg/ em 4 horas (adulto/criança), podendo repetir 3 vezes até melhora Hematócrito. Após essas medidas, se o paciente evoluir com instabilidade hemodinâmica, deve-se considerar um paciente de maior gravidade, sendo este enquadrado no grupo D. Nestes deve ser feita uma hidratação ainda mais agressiva 20ml/kg/hora, ou nos casos mais graves, em 20 minutos. Reavaliação Clínica de hora em hora: frequência respiratória, cardíaca, avaliação da diurese. Hematócrito a cada 2 horas GRUPO D Características Clínicas. Os pacientes se apresentam com características hemorrágicas importantes e sinais de choque hipovolêmico: Hipotensão arterial Pressão arterial convergente (PA diferencial < 20 mmHg) Extremidades frias Cianose Pulso rápido e fino Enchimento capilar lento (duração maior que 2 segundos) Conduta Terapêutica. Hidratação IV imediata vigorosa (expansão) em qualquer ponto de atenção, adulto e criança, com SF 0,9% - 20 mL/Kg em até20 min até 3 vezes ao dia sob supervisão médica. Reavaliação a cada 15 a 30 min A cada 2h dosar hematócrito Apresentando sinais de melhora, enquadra-se o paciente no GRUPO C, tomando as medidas necessárias de acordo a nova classificação. Sem melhora, avaliar a possibilidade de administrar hemoconcentrado, sob cuidados em UTI. INDICAÇÕES DE HEMODERIVADOS Plaquetas: 20.000 com sangramentos 10.000 mesmo sem sangramentos Suspeita sangramento no SNC + plaquetas < 50.000 Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 10 Plasma fresco congelado: Sangramento importante + INR > 1,25 Dose de 10 mL / Kg + vitamina K TRATAMENTO DA FHD No tratamento da FHD algumas consideraes devem ser lembradas: Evitar procedimentos invasivos Uso de imunoglobulina ou transfus o de plaquetas para diminuir a dura o ou reduzir a severidade da trombocitopenia Pacientes em choque necessitam de cuidados em UTI CRITÉRIOS PARA ALTA HOSPITALAR Ausncia de febre durante 24h (sem uso de tratamento antitrmico) e retorno do apetite Melhora clnica visvel Boa diurese Hematcrito normal e estvel por 24h Plaquetas em eleva o e maior ou igual a 50.000/mm Nenhuma dificuldade respiratria causada por derrame pleural ou ascite DIAGNSTICO DIFERENCIAL Influenza Sarampo Rubola Malria Febre tifide Leptospirose Meningococcemia (ver OBS6) Infeces por Rickettsia Sepsis por Bactrias Outras febres hemorrgicas virais Hantaviroses CLASSIFICAO DA DENGUE SEGUNDO A OMS Dengue com ou sem sinais de alerta Provvel dengue Moradores ou viagem para rea endmica Febre e mais dois critrios abaixo: – Nuseas e vmitos – Rash – Dores – Prova do lao positiva – Leucopenia – Algum sinal de alerta Dengue grave Grave extravasamento de plasma - Levando ao choque SSD - Desconforto respiratrio Hemorragia grave Disfun o orgnica - Fgado: AST ou ALT > 1000 - SNC: Perda da conscincia - Disfun o miocrdica ou outro rg o DISCUSSO DE CASOS Caso 1. Criana do sexo masculino, 10 anos, procedente de Cajazeiras chegou ao HU com histria de febre h 4 dias, rash cutneo petequial, edema em plpebras, desconforto respiratrio e abdome distendido com dor intensa, que n o cede ao uso de analgsicos. Vinha em hidrata o venosa h 2 dias, mas apresentava hipotens o postural importante. Os exames laboratoriais revelam hematcrito de 48%, leuccitos de 13.000/mm3, plaquetas de 20.000, albumina de 2,0mg/dl e transaminases acima de 300. Supondo o diagnstico de Dengue responda: a) Qual a classifica o e o estadiamento clnico? Grupo C b) Quais os exames devem ser solicitados e o tratamento? Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 11 Caso 2. Paciente do sexo feminino, 34 anos, hipertensa e diabética, foi admitida com diagnóstico de Dengue por apresentar febre, mialgia, cefaléia, dores articulares há 4 dias. Não referia sangramentos espontâneos. Ao exame: Desidratada, febril, PA= 140x90 mmHg, (sentada e deitada), prova do laço positiva. Exames laboratoriais: Hto = 36%, leucócitos = 700 cél/mm3, Plaquetas = 35.000/ mm3. Albumina =4,0mg/dl, glicemia = 200. Qual a classificação e o estadiamento no quarto dia de doença e quais os critérios de gravidade que indicaram a internação da paciente? Caso 3. Escolar de 9 anos, há 3 dias com quadro de dengue, vem ao posto de saúde com queixa de dor abdominal e vômitos incoercíveis. Ao exame: EGC, PA= 100x60mmHg deitado e 80x40mmHg sentado, palidez cutâneo-mucosa, tax = 370C, abdome distendido, presença de petéquias na face e pernas. Os exames laboratoriais de urgência no PSF revelaram Hto=45%; Leucócitos =12.000; Plaquetas=23.000/mm3. a) Qual a classificação e o estadiamento clínico? b) Quais os critérios de gravidade que a criança apresenta? c) Qual o tratamento que deve ser instituído? Caso 4. Paciente do sexo masculino, 24 anos, casado, começou a apresentar febre, cefaléia, dor retro-orbitária, calafrios, dores musculares de início abrupto há 5 dias. Procurou várias urgências, sendo prescrito antinflamatório injetável e encaminhado para casa. Chegou ao serviço de DIC, encaminhado de uma emergência da cidade por apresenta taquicardia e PA e pulso imperceptíveis (encaminhado com suspeita de Endocardite). Na admissão, paciente consciente, orientado, chocado, dispnéico, cianose de extremidades, PA inaldível e pulsos impalpáveis, MV abolido nas bases, abdome globoso com piparote positivo. a) Qual a sua principal HD e comente a condução do caso até o atendimento na DIC? b) Como proceder na admissão deste paciente em relação a medidas emergenciais e exames solicitados? Caso 5. Criança de 2 anos de idade portadora de asma brônquica, vem com quadro de febre há 2 dias, rash cutâneo petequial, dor abdominal e dispneia. Hoje não apresentou mais febre. Os exames mostram: Hto de 44%, leucócitos de 2.300, plaquetas de 35.000, albumina de 2,3mg/dl. a) Dê a classificação e o estadiamento para dengue. Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 12 MED RESUMOS 2011 ELOY, Yuri Leite; NETTO, Arlindo Ugulino. INFECTOLOGIA MONONUCLEOSE INFECCIOSA (Professora Nilma Farias) A sndrome mononucleose corresponde a um quadro agudo ou subagudo de febre e adenomegalias generalizadas, acompanhadas ocasionalmente de visceromegalias, alteraes hematolgicas, exantema, cefalia, mal- estar, faringite. Todas estas manifestaes s o geralmente limitadas no tempo e na gravidade, tem como ponto em comum o acometimento dos linfcitos B. A sndrome da mononucleose tem vrias causas; contudo, a mononucleose infecciosa (MI) causada pelo vrus Epstein Barr (VEB) a principal representante. A MI corresponde a 79% dos casos, enquanto que o citomegalovrus, vrus da imunodeficincia humana, Toxoplasma gondii, vrus da rubola, produzem um tipo de mononucleose denominada de mononucleose-like. Alm disso, outras bactrias como Treponema pallidum (causadora da sfilis secundria), Trypanosoma cruzi, Bartonella hanselae e estreptococo β-hemoltico grupo A tambm podem produzir a sndrome da mononucleose. Medicamentos como difenilidantona, carbamazepina, isoniazida, cido paraaminossaliclico, s o causas da sndrome citada. Apesar das diversas causas para a sndrome o captulo que segue abordar as particularidades, da mononucleose infecciosa pelo VEB. HISTRICO 1920: foi introduzido o termo Mononucleose Infecciosa; 1930: foi desenvolvido o teste de Paul e Bunnel que capta anticorpos heterfilos. 1968: Henle e cols.: evidncia soroepidemiolgica do VEB; 1984: Descoberta a seqncia do DNA da cepa B95-8 do VEB ETIOLOGIA O vrus Epstein Barr pertence a famlia herpesviridae (HVH4). Pode se apresentar nas seguintes formas: tipo 1 e 2 ou A e B (distribui o geogrfica). Essa divis o n o tem importncia clnica, pois produzem sinais e sintomas semelhantes. Possui uma simetria cbica, envelopado, c/ 180-200nm, DNA dupla cadeia (codifica 100 genes). Atualmente uma infec o incurvel, presente em aproximadamente 90% do planeta. EPIDEMIOLOGIA conhecida como a doença do beijo, justificada principalmente pelo modo principal de transmiss o. uma doena de distribui o universal, sendo ela de baixa infectividade. Nos pases subdesenvolvidos devido promiscuidade e aglomera o, a doena se manifesta mais precocemente, em torno de 15 a 24 anos, quando comparada com pases desenvolvidos. N o h predile o por sexo ou raa. Como foi dito a principal forma de transmiss o a oral, ou seja, contato com a saliva de indivduos doentes ou infec o lisognica. Entretanto outras causas menos comuns tambm podem acontecer: hemotransfus o, contato sexual, sndrome da ps-perfus o durante a circula o extracorprea em cirurgia cardaca e transplantes. Em resumo, caracteriza-se: Nos pases subdesenvolvidos, em conseqncia a aglomera o e promiscuidade existem uma maior tendncia de se haver contamina o entre as pessoas, principalmente, na faixa etria infantil. J nos pases desenvolvidos, o prprio ato de comunica o n o facilita a contamina o da mononucleose infecciosa. O hbito de se comunicar atravs de pouca formalidade, com beijos e abraos, algo tpico dos pases sulamericanos, em especial, o Brasil. por essa e mais outras que esta doena tem sua maior prevalncia em pases subdesenvolvidos. Indivduos infectados at 18 meses aps inicio da doena apresentam baixa infectividade; Maior freqncia na idade entre 18-25 anos; N o h preferncia por sexo ou raa. VIAS DE TRANSMISSO Existem, basicamente, trs principais vias de transmiss o da MI: (1) oral, (2) sangunea e (3) contato sexual. A transmissão oral a que ocorre a partir do contato da saliva de um individuo infectado com a de um indivduo sadio. A transmissão sanguínea presente nas ocasies de contato direto ou indireto do sangue infectado com o individuo Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 13 previamente sadio. Ocorre, por exemplo, nas hemotransfusões, cirurgias que requerem circulação extra-corpórea, dentre outros. O contato sexual, do mesmo modo, também determina graus de infecção variáveis. Apesar de incomum, a transmissão sexual ocorre em alguns pacientes. OBS1: Nos dias atuais, também se encaixa como via de transmissão o fato do paciente apresentar-se preparado com imunodepressores para um possível transplante de órgãos. Ou seja, nesse grupo de indivíduos, dada a alta taxa de rejeição do transplante, a prevenção com imunodepressor pode acarretar no aparecimento dos sinais e sintomas oriundos da MI. FISIOPATOLOGIA A principal forma de infecção pelo VEB ocorre através do beijo, pelo contato com a saliva de uma pessoa previamente infectada. O vírus quando na cavidade oral, tem um tropismo pelo tecido linfóide, e como sabemos a cavidade oral é uma região rica nesse tipo de tecido, possuindo inclusive o anel linfático de Waldeyer. Assim o vírus se concentra principalmente nas amígdalas (nas criptas). O vírus estabelece no indivíduo dois tipos simultâneos de interação. No primeiro deles, responsável pela persistência da infecção, em longo prazo e pelo potencial oncogênico do vírus, há infecção latente e imortalização dos linfócitos B, ou seja, com a infecção dos linfócitos B. Estas células vão se multiplicar infectadas podendo se diferenciar em células B de memória e com isso imortalizar a infecção. Por isso que alguns pacientes podem ser portadores do vírus e não transmitirem, fato este que só ocorre nas reativações do vírus, que corresponde à segunda interação do vírus com os linfócitos B. No segundo momento, há infecção lisogênica dos linfócitos B, com produção de novos vírus e a sua disseminação a outros indivíduos, através da saliva. As evidências mais recentes indicam que a infecção de um novo hospedeiro se dá diretamente nos linfócitos localizados no interior das criptas do linfoepitélio do anel de Waldeyer. Assim durante o decorrer do capítulo, o leitor deve entender a reativação do VEB como: reativação de linfócitos B de memória previamente infectados pelo VEB, desencadeando a fase lisogênica com multiplicação do vírus no interior do linfócito (que se diferencia em plasmócito), tornando o indivíduo passível de transmissão e com clínica clássica. Esse ciclo ocorre basicamente no tecido linfóide da cavidade oral (anel de Waldeyer), mas também pode ocorrer em nível esplênico, onde há grande concentração de tecido e células linfóides. CONTÁGIO Em resumo temos: infecção do vírus na cripta do linfoepitélio do anel de waldeyer, de modo que o genoma do vírus (que é o DNA), torna-se circular e com isso demonstra o epissomo, permitindo a latência no interior dos linfócitos B. Na infecção primária haverá uma replicação intensa do vírus, permitindo assim a transmissão através do contato com a saliva do paciente infectado. Sabe-se que a função dos linfócitos, quando ativados é, de forma geral, eliminar a infecção através da produção de anticorpos, depois disso, são recrutados no baço para serem eliminados. Entretanto quando esses linfócitos estão infectados, o vírus emite um sinal, de fisiologia ainda desconhecida, que impede a apoptose da celulas B, e nesse momento ocorre a imortalização viral e do processo infeccioso. Esse sinal emitido pelo vírus acredita-se ser semelhante a uma mutação gênica, e por isso, determinando a infecção pelo VEB estreita relação com o câncer. Nos pacientes com a primo infecção pelo VEB, a viremia ainda pode permanecer elevada por pelo menos 6 meses, mesmo com a medicação, pois leva ao alívio dos sinais e sintomas, entretanto os linfócitos B infectados e imortais ainda permanecem levemente ativos, podendo transmitir a doença; isso explica o fato de ser contra-indicada a para pacientes com episódio agudo de mononucleose a doação de sangue. Após o controle, o paciente ainda pode ter uma reinfecção ou reativação de uma infecção prévia. REATIVAÇÃO A reativação de todo o processo descrito acima ainda não está esclarecida. Entretanto acredita-se que diversos fatores, inclusive emocionais, como estresse, depressão, medicamentos (uso de corticóides), pode determinar uma queda da imunidade e com isso, reativar o ciclo reprodutivo viral. Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 14 Na reativa o ocorre uma intera o dos linfcitos B com os antgenos virais, fato este que ativa o ciclo lisognico, ou seja, reativando os linfcitos, levando a reprodu o e elimina o de mais vrus e com isso, determinando a infec o de novos linfcitos. Essa reativa o leva a uma grande produ o de anticorpos pelos linfcitos (plasmcitos), por isso, na mononucleose, laboratorialmente detecta-se uma eleva o considervel de anticorpos inespecficos, denominados de heterfilos, ou seja, gamopatia policlonal, com aumento de IgG (50%) e IgM (100%). Esses anticorpos s o detectados pela rea o de Paul Bunnel. A infec o pelo VEB vai persistir pelo resto da vida, entretanto, a prpria imunidade do paciente, determina a redu o da viremia, ou seja, pacientes imunocompotentes entrar o em fase de remiss o da doena, que consiste no equilbrio entre o combate e replica o viral, de modo que permanea assintomtico, e n o ocorra transmiss o. Acredita- se que permanea cerca de 1 a 50 vrus, por cada milh o de linfcito B imortalizado. QUADRO CL NICO Os sintomas aparecem aps o perodo de incuba o que est em torno 30 a 45 dias; tempo necessrio para penetra o do vrus nas criptas do tecido linfide, infec o dos linfcitos B e replica o viral. Aps o perodo de incuba o, o paciente apresenta um perodo prodrmico de 7 a 14 dias, at o aparecimento dos primeiros sinais e sintomas. O quadro clnico dos pacientes com mononucleose identificado por uma trade clssica: faringite, adenomegalia e febre. Alm disso, o paciente pode apresentar outros sintomas associados como: calafrios, inapetncia, fadiga, mal-estar, sudorese, mialgia. Com isso, pode-se perceber que os sinais e sintomas apresentados pelo paciente s o inespecficos, insuficientes para estabelecer o diagnstico clnico de mononucleose, entretanto, atravs da histria clnica j possvel, identificar a presena de uma infec o viral, e n o bacteriana. O exantema pode estar presente, e quando se manifesta do tipo rubeoliforme, ou seja, pequenos pontos avermelhados na pele. A presena de exantema ocorre devido ao uso incorreto de antibiticos, que reage na corrente sangunea com os anticorpos heterfilos, determinando o aparecimento dessas manchas. Os sinais importantes incluem a linfadenopatia, podendo ocorrer em regi o abdominal, cursando com dor abdominal,hepatomegalia, com ictercia (rara), e por ltimo um edema palpebral, clinicamente descrito como “sinal de Hoagland”. OBS2: Geralmente, os pacientes com faringite, que apresentam mucosa avermelhada, febre, dor de garganta, cefalia e podem apresentar uma infec o bacteriana (superinfec o por Streptococus pyogenes, podendo estar associada a infec o viral, sendo assim necessrio o tratamento especfico (por isso, algumas vezes no tratamento da mononucleose tambm indicado antibiticos). Geralmente esses pacientes apresentam uma secre o purulenta de colora o avermelhada, j nas infeces virais, a secre o adquire uma colora o esbranquiada, por isso importante o diagnstico diferencial nesses casos para n o cometer iatrogenias. OBS3: O aumento do bao importante na mononucleose devido a uma complica o grave, que consiste na ruptura do rg o, indicando uma emergncia cirrgica. uma condi o rara. Na imagem, podemos evidenciar hiperemia e edema de orofaringe. Percebam que o diagnstico diferencial com amigdalite bacteriana deve ser procedida, pela sintomatologia semelhante. A linfoadenomegalia cervical algo comum na MI, conforme podemos evidenciar na imagem ao lado. Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 15 Na imagem, percebemos edema palpebral (sinal de Hoagland). O rash do tipo petequial pode ocorrer no quadro agudo da MI. Orofaringe edemaciada, avermelhada o padr o mais comum. Nesta ocasi o, se faz diagnstico com difteria. COMPLICAES Ruptura baço (2-3ª semana); Infecção crônica ativa EBV: uma complica o rara, mas que pode ocorrer naqueles pacientes em que o sistema imune n o tem a capacidade de estabelecer um equilbrio, de forma que o paciente permanea assintomtico. Como foi explicado na fisiopatologia. Pulmonares: infiltrados intersticiais; Hematológica: anemia hemoltica, sndrome hemofagoctica e da fadiga crnica (gatilho) OBS4: A infec o por EBV apresenta potencial oncognico. Segue abaixo, as principais complicaes e/ou associaes com a infec o por EB: Doena linfoproliferativa de clulas B Doena de Hodgkin Neoplasias em pacientes com SIDA (Sarcoma de Kaposi, Linfoma N o-Hodking e CA invasivo de crvice uterina) Linfoma de Burkitt Leucoplasia pilosa Carcinoma nasofarngeo Doena linfoproliferativa ligada ao X Infec o crnica ativa pelo EBV DIAGNSTICO LABORATORIAL Exames Inespecíficos Hemograma: leucocitose, com aumento de linfcitos atpicos, anemia hemoltica, trombocitopenia (redu o das plaquetas) e, s vezes, granulocitopenia auto-imune (redu o macia de sries brancas e vermelhas). Aumento das transaminases: em at 90% dos casos. Anticorpos heterófilos: dosados a partir da rea o Paul Bunnel Davidson, que positiva em aproximadamente 90% dos casos quando ≥ 40. ECG (8%): n o um exame de rotina, entretanto quando solicitado, mostra defeito na condu o, redu o do segmento ST e altera o onda T. Aps a realiza o desses exames se ainda persistir dvida, pode ser solicitados os exames especficos, que incluem as sorologias: Exames Específicos Pesquisa Ac contra Ag capsídeo viral (anti-VCA): dosa IgM em paciente com Ac heterfilo negativo Pesquisa Ac contra Ag nuclear viral (anti-EBNA): surge mais tardiamente (3 a 4 semanas aps) Teste de avidez para IgG anti-VCA: diferencia infec o recente (baixa avidez) e tardia (alta avidez em 30 a 45 dias). muito utilizado em gestantes, pois a paciente n o sabe a poca da infec o, sendo assim solicitado esse teste. Avaliando ou n o um possvel tratamento, visando o bem estar da m e e criana. Reação em cadeia de polimerase (PCR): pouco utilizada. Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 16 DIAGNSTICO DIFERENCIAL MONONUCLEOSE POR CITOMEGALOVÍRUS (CMV) O citomegalovrus, que tambm da famlia do herpes, tem sua importncia clinica, n o devido mononucleose propriamente dita, mas principalmente por acometer paciente imunossuprimidos, como diabetes, uso de corticides, HIV e com isso podendo haver uma reativa o do VEB. Alm disso, a infec o pelo CMV em pacientes grvidas consiste em alteraes graves no feto. A infec o acomete pacientes em qualquer idade, com febre e sintomas gerais, em torno de 1 a 4 semanas. A mialgia, cefalia e esplenomegalia s o freqentes. A ocorrncia de faringite exsudativa e linfadenopatia cervical s o raras. Investigar a presena de “rash” e na histria clnica antecedentes de transfus o sangnea TOXOPLASMOSE Toxoplasmose conhecida como doena do gato, j que em seu ciclo o gato um hospedeiro que n o contrai a doena, contribuindo somente para a sua dissemina o. Sua importncia, assim como o CMV, est associada a paciente imunossuprimidos, principalmente com HIV. Assim caso o paciente seja imunocompetente a infec o n o trar sinais e sintomas exuberantes. A transmiss o do parasita por via oral, os sintomas s o simplrios, como febre e aumento de gnglios. O tratamento prescrito para aliviar os sinais e sintomas do paciente, e abreviar o tempo de evolu o da doena, pois na maioria das vezes, o prprio sistema imune, eliminar a infec o. Elimina o esta parcial, pois o cisto ainda permanecer no indivduo e, em situaes de imunodeficincia, poder desenvolver os sinais e sintomas da doena. A grande problemtica de toxoplasmose inclui justamente a neurotoxoplasmose nos pacientes portadores de HIV. Nas grvidas a toxoplasmose pode ocasionar diversas alteraes morfolgicas no feto, podendo at determinar aborto espontneo. Com isso nas pacientes com suspeita de toxoplasmose, pode ser solicitado o exame sorolgico, identificando a presena de IgG e IgM. Quando h aumento de IgM, indica fase aguda da doena, ou seja, rubola, sfilis, toxoplasmose. Entretanto a presena de IgG indica fase crnica da doena, sugerindo a cura. Apesar das consideraes descritas acima, a forma da toxoplasmose que se assemelha a mononucleose a toxoplasmose aguda forma linfoglandular, podendo evoluir com febre, linfadenopatia cervical assintomtica, hepatoesplenomegalia e menos frequentemente astenia e exantema. SÍNDROME DE INFECÇÃO AGUDA PELO HIV Consiste em uma condi o de difcil diagnstico, com exce o dos casos em que j existe um acompanhamento clnico prolongado do paciente. Geralmente s o pacientes adultos ou jovens, que s o atendidos com queixas inespecficas como febre persistente, mialgia, cefalia, indicando infec o viral. Em alguns casos pode apresentar dor na nuca, sendo necessrio a realiza o do diagnstico diferencial com meningite viral (aliquoclara, ou seja, com ausncia de bactrias). O paciente ainda pode cursar com faringite, exantema, hepatoesplenomegalia e linfocitose. TRATAMENTO Indica-se ao paciente repouso relativo, principalmente devido ao risco de ruptura do bao, podendo evoluir para o quadro mais grave. Depois disso, combater os sintomas clnicos com medicamentos, exemplo, antipirticos, analgsicos, etc. Nos casos de inflama o persistente pode ser utilizado corticosterides 60-80mg/d, ou ainda, nos casos de obstru o respiratria alta (intuba o OT e/ou traqueostomia), ou complicaes (encefalite, mio e pericardites, anemia hemoltica e trombocitopenia). Quanto ao uso de antibiticos, deve-se lembrar da concomitncia da infec o por S. pyogenes. Com isso o tratamento feito com antibiticos, macroldeos, evitando a penicilina, devido ao risco do paciente evoluir com exantema. MEDIDAS DE PROFILAXIA N o h medidas individuais de controle Medidas de higiene geral Evitar doar sangue na vigncia de infec o primria e por at 6 meses EBV n o citado como causa de anomalias fetais Vacina o em estudo Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 17 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino.INFECTOLOGIA AIDS (Professora Nilma Farias) A pandemia da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS ou SIDA) comeou oficialmente em 1981, quando foi publicado no boletim dos Centers Diseases Control (CDC) de 5 de julho de 1981, o relato de cinco homens jovens homossexuais com pneumonia por Pneumocystis carinii (atualmente chamado de P. jiroveci) diagnosticados em Los Angeles, EUA. A pneumonia por P. carinii era muito rara at ent o, e nos meses e anos subsequentes, centenas de casos foram diagnosticados. Logo, observou-se que estes casos ocorriam em pacientes com algum tipo de imunossupress o que levava invers o na rela o de linfcitos, hoje conhecida como CD4 e CD8. Por defini o geral, a AIDS uma doena do sistema imunolgico humano causada pelo vrus da imunodeficincia humana (HIV). Esta condi o reduz progressivamente a eficcia do sistema imunolgico e deixa os pacientes suscetveis a infeces oportunistas e tumores. A epidemia da infec o pelo HIV e da AIDS representa fenmeno global, dinmico e instvel, cuja forma de ocorrncia nas diferentes regies do mundo depende, entre outros determinantes, do comportamento humano individual e coletivo. A AIDS destaca-se entre as enfermidades infecciosas emergentes pela grande magnitude e extens o dos danos causados s populaes. BREVE HISTRICO 1926/1946 – o HIV espalhou-se de macacos para os humanos. Contudo, n o se sabe ao certo como houve tal mecanismo de transmiss o. 1959 – Relato do caso de um homem no Congo cuja morte foi atribuda por alguns pesquisadores como sendo o primeiro caso comprovado de morte por AIDS. 1981 – a CDC informa ocorrncia cinco casos de pneumonia por Pneumocystis carinii (atualmente chamado de P. jiroveci) em homens jovens homossexuais (neste tempo, ficou conhecida como a doena dos “5 Hs”, dentre eles: homossexualismo, hemoflicos e harlot – prostituta, em ingls). 1982 – termo AIDS usado pela primeira vez, recebendo a defini o do CDC. 1983/1984 – cientistas americanos e franceses reivindicam a descoberta do vrus, que mais tarde seria chamado de HIV. 1985 – FDA (Food and Drug Administration) aprova primeiro teste anti-HIV para doadores 1987 – A AZT (zidovudina), um inibidor de transcripitase reversa do HIV-1, primeira droga anti-HIV aprovada pelo FDA, sendo ela utilizada at os dias atuais, mas em associa o a outras drogas. Atualmente, o esquema para o tratamento da AIDS consiste na associa o de trs frmacos diferentes e, de preferncia, de classes diferentes. 1989 –Cazuza, cantor brasileiro, declarou ser soropositivo e sucumbiu doena em 1990, no Rio de Janeiro. 1991 – Magic Johnson, estrela do basquete americano, anuncia que HIV positivo. Participou do Dream Team na Olimpada de Barcelona em 1992, considerado o melhor time de basquete de todos os tempos. Ativista, pesquisador, Magic impulsionou grande parte do desenvolvimento de tratamentos alternativos para portadores do vrus HIV, sendo reconhecido por seu ativismo em prol da sade humana. 1996 – FDA aprova os primeiros inibidores de protease. 1999 – Estima-se que h 650 mil a 900 mil americanos vivendo com HIV/AIDS 2002 –O nmero de mortos pela AIDS atinge cerca de 28,1 milhes CONSIDERAES GERAIS O ano de 1981 foi, portanto, um marco cientfico para o histrico da AIDS e, de um modo geral, descobriu-se que sua transmiss o fruto do comportamento humano individual e coletivo. A AIDS tornou-se, ent o, um fenmeno global, dinmico e instvel, caracterizando uma epidemia complexa composta de subepidemias regionais. Os principais grupos de risco s o, historicamente: homossexuais, haitianos, hemoflicos, prostitutas e prisioneiros. O grfico a seguir mostra a incidncia de AIDS no mundo. Estima-se que a prevalncia nos pases de maior incidncia chega a 28% da popula o adulta. A epidemia no Brasil seria do tipo concentrada, juntamente com alguns pases da Amrica do Sul, Sud o, Tailndia e Etipia. Por outro lado, a epidemia generalizada ocorre em pases da frica subsaariana e Haiti, enquanto observou-se tipo baixo nvel em pases como a Arglia, Chile, Costa Rica, Cuba, Suriname, Federa o Russa e Polnia. Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 18 O gráfico ao lado, por sua vez, mostra que, apesar de toda a divulgação na mídia ou por meio de programas de saúde a respeito da prevenção da doença, os números da infecção continuam aumentando, descrevendo uma curva ascendente. Em 1990, por exemplo, havia cerca de 7 milhões de pessoas vivendo com HIV. Em 2008, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que mais de 33 milhões de pessoas apresentam o HIV. No Brasil, a maioria dos casos está concentrada na região Sul e Sudeste. A taxa de incidência em homens e mulheres está convergindo: o que antes era uma grande diferença entre os sexos, atualmente, mostra uma diminuição dos casos no sexo masculino (mas que ainda se mostra alto) e um aumento no sexo feminino. TRANSFORMAÇÕES NO PERFIL DA EPIDEMIA No início, a AIDS era considerada como uma doença mais comum em homens, sendo restrita para aqueles grupos vistos anteriormente (homossexuais, haitianos, hemofílicos, prostitutas e prisioneiros). Contudo, atualmente, houve uma transformação no perfil da doença, a qual sofreu uma heterossexualização, de modo que a relação homem/mulher infectados está quase 1:1. De fato, a AIDS sofre por um processo de feminização (mais mulheres estão se infectando), envelhecimento (pacientes com mais de 60 anos estão se infectando com maior frequência, graças ao efeito de drogas que permitem a potência sexual), interiorização (aumento da incidência em cidades no interior do Brasil, por exemplo) e pauperização (prevalência maior em países pobres). PANORAMA NO BRASIL A partir do eixo Rio-São Paulo, os casos de AIDS disseminaram-se para as demais regiões, inicialmente às metrópoles regionais, a partir do final da década de oitenta. As transformações no perfil da AIDS no Brasil, embora com dinâmicas regionais e populacionais distintas devem-se, sobretudo, a difusão geográfica da doença a partir dos grandes Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 19 centros urbanos em direção aos municípios de médio e pequeno porte do interior do País, ao aumento da transmissão heterossexual e ao persistente crescimento dos casos entre usuários de drogas injetáveis (UDI). Atualmente, a epidemia não mais se restringe aos grandes centros urbanos e já atinge 59% dos 5.507 municípios brasileiros. Os cartogramas representados nas figuras abaixo ilustram a progressiva expansão da epidemia do litoral sudeste para as regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte, considerando-se a distribuição espacial dos municípios com pelo menos um caso de AIDS registrado, para os períodos de 1980 a 1986, de 1987 a 1993 e de 1994 a 2000. Atualmente, estima-se que o número esteja mais alarmante ainda. HISTRIA NATURAL A infecção pelo HIV pode ser dividida nos seguintes estágios: 1. Transmissão viral; 2. Infecção primária, também denominada AIDS aguda ou síndrome aguda da soroconversão; 3. Soroconversão: produção de anticorpos contra o HIV; 4. Período de latência clínica com ou sem linfadenopatia persistente generalizada; 5. Infecção sintomática inicial pelo HIV, anteriormente conhecida como complexo relacionado com AIDS; 6. AIDS propriamente dita, definida pelos critérios do CDC, que inclui contagem de linfócitos abaixo de 200 células por mm3. Atualmente no Brasil é considerado para efeito de notificação os pacientes sintomáticos ou os assintomáticos com menos de 350 células CD4. Os casos com menos de 50 células constituem a infecção avançada do HIV. Em resumo, o primeiro passo para a infecção pelo HIV é a contaminação (transmissão sexual, por transfusão sanguínea, etc.). O indivíduopode, porém, passar um período assintomático, que varia para cada organismo (em média, 2 a 4 semanas). Depois desse período, pode ocorrer o aparecimento de sintomas inespecíficos, que incluem febre baixa, letargia, dor de cabeça, etc., que caracteriza a infecção aguda (ou primária) da AIDS, quando os exames (como o ELISA) podem não detectar a presença do vírus (e por isso, os testes quase sempre devem ser repetidos semanas depois de uma provável infecção). Este período é conhecido como síndrome retro -viral aguda (SRA) , caracterizado por uma viremia considerável do HIV, o qual se replica demasiadamente e promove a sintomatologia. Cerca de 2 a 4 semanas depois, ocorre uma queda na taxa de viremia do HIV até o ponto denominado set point. O valor quantitativo da viremia neste ponto determina a progressão cronológica da doença (quanto menor for o nível estabilizado da carga viral. Nesta fase, mais tempo o indivíduo permanecerá com contagem de linfócitos CD4 elevados e mais tempo levará para desenvolver AIDS nas fases avançadas). Com a queda da carga viral, inicia-se o período conhecido como soroconversão , caracterizado pela resistência relativa do organismo contra o vírus, de modo que, a cada dia, uma quantidade de vírus é destruída e mais vírus vai sendo formado. A fase de infecção crônica assintomática pode durar, em média, 8 anos, até o paciente desenvolver a AIDS propriamente dita, quando desenvolve sintomas de diminuição da imunidade: perda de peso, fraqueza, diarréia, Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 20 alopcia, candidase oral, infeces oportunistas, etc. Se a doena n o for tratada criteriosamente, o quadro evoluir para morte em tempo varivel, que pode ser, em mdia, de um ano, devido ao comprometimento de sua imunidade. MODIFICAÇÃO NA HISTÓRIA NATURAL Com os modernos meios de diagnstico e as medicaes atuais, h um crescente aumento na sobrevida e uma diminui o do nmero absoluto de bitos. Considera-se hoje que a AIDS deixou de ser uma doena letal para caracterizar uma doença crônica, assim como a diabetes ou a hipertens o arterial. O advento da terapia combinada de dois inibidores de transcriptase reversa com um inibidor de protease foi possvel modificar a histria natural da doena. Aps trs anos do surgimento desta terapia conhecida como “coquetel” ou HAART (do ingls: Highly Active AntiRetroviral Treatment) foi constatada a dramtica diminui o das infeces oportunistas, da AIDS propriamente dita, das hospitalizaes e da mortalidade da doena de 60 a 80%. Mesmo n o se obtendo a cura da doena, a terapia modificou radicalmente a histria natural da doena. ETIOPATOGENIA VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (HIV) A AIDS causada por um retrovrus da família Retroviridae do gnero Lentivirus, com uma espcie, o Human Immunodeficiency Virus (HIV), com dois tipos biolgicos, HIV-1 e HIV-2. , portanto, um vrus de RNA (que, por ser um retrovrus, apresenta a transcriptase reversa) que porta duas cpias de RNA. Os vrus desta famlia apresentam as seguintes caractersticas em comum: Curso crnico da doena Longo perodo de latncia Replica o viral persistente Envolvimento do sistema nervoso central O HIV-1 e HIV-2 diferem no peso molecular de suas protenas, assim como apresentam diferenas nos seus respectivos genes acessrios. O quadro clnico da AIDS causada pelo HIV 2 tem curso mais benigno, causando menor imunodeficincia que o HIV-1. Ambos replicam-se nos linfócitos T CD4+. As partculas virais do HIV-1 possuem dimetro de cerca de 100nm de dimetro e s o envolvidos por uma membrana lipoprotica. Cada partcula viral contm 72 complexos de glicoprotenas que s o integrados na membrana lipdica e cada um deles composto por trmeros de uma glicoprotena externa, a gp120, e uma protena transmembrana, a gp41. Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 21 O vírus é composto de duas cópias de RNA que são parte do complexo protéico e ácido nucléico. As partículas virais possuem todos os equipamentos enzimáticos necessários para sua replicação intracelular: a transcriptase reversa, uma integrase e uma protease. Tais enzimas são alvo estratégico da terapia anti-retroviral. Muitos outros genes estão presentes no HIV-1 e suas funções foram determinadas. Por exemplo, os genes tat e ver são proteínas regulatórias essenciais à replicação. As sequências gênicas codificadas por este vírus fazem parte do genoma LTRs (long terminal repeats), sendo eles os genes gag e os genes env, que também são genes regulatórios. Gag: origina uma proteína precursora (p53) que, clivada, dá origem às proteínas da matriz e do capsídio viral (p24, p17 e p15); Pol: origina a proteína precursora (p160) das enzimas envolvidas na replicação e integração viral: transcriptase reversa (p66/p55), integrase (p32) e protease (p10); Env: origina a proteína precursora (gp160) que é clivada pela protease viral nas glicoproteínas do envelope: gp120 e gp41. OBS1: O HIV 1 tem distribuição universal, enquanto que o HIV 2 é restrito à África ocidental. O HIV 1 pode ser subdividido ainda em subtipos de A a N. No Brasil, o mais prevalente é o HIV subtipo B, embora, atualmente, o perfil não seja mais tão restrito assim. O gp120 e o gp41 são, portanto, fundamentais para a entrada do vírus da célula hospedeira. Contudo, alguns indivíduos apresentam um defeito genético que faz com que eles não expressem receptores para tais glicoproteínas virais, o que garante que eles não se infectem pelo vírus (ver OBS2). Tanto é que alguns estudos atuais se voltam para a formação de novos esquemas terapêuticos ou preventivos a partir deste mecanismo. MECANISMO FISIOPATOLÓGICO O ciclo de vida do HIV inicia com a sua presença no sangue, sêmen ou fluidos corporais do indivíduo infectado. O HIV penetra no organismo do hospedeiro através da mucosa genital. A glicoproteína (gp120) liga-se às células dendríticas através dos receptores CD4 presentes no epitélio cervicovaginal, mas que também são encontradas nas tonsilas e na adenóide e podem servir como células-alvo na transmissão via sexo oral. A ligação da gp120 ao CD4 é crucial para a entrada do vírus na célula, mas também interfere com as vias dos sinais de transdução intracelular e promove apoptose nas células CD4. Deste modo, a molécula CD4 é um receptor primário e necessário para o HIV-1 e 2. Contudo, estudos postularam a existência de co-receptores necessários para a entrada do vírus, como o CCR5 (receptor de fase inicial; ver OBS2) e o CXCR4 (nas fases avançadas), também presentes no complexo CD4 dos linfócitos. Existem fármacos para tratamento da AIDS que inibem este processo de fusão do vírus com a célula. Contudo, o custo do tratamento ainda é alto, atingindo cerca de 45 mil reais por ano. Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 22 OBS2: A importância do CCR5 como co-receptor predominante deriva de outra observação em que as pessoas que possuem um defeito genético homozigoto e não expressam CCR5 na superfície do linfócito são resistentes à infecção com o HIV. Uma vez que o HIV entra nas células T, irá ocorrer no citoplasma uma conversão do RNA viral em DNA viral, mediada pela enzima viral conhecida como transcriptase reversa (TR) e é um passo essencial no ciclo de replicação viral (esta fase serve como alvo terapêutico dos seguintes fármacos: inibidor de TR análogos de nucleosídeo e inibidor de TR não-análogo de nucleosídeo). As duas fitas de RNA são transcritas para duas fitas de DNA. Essas fitas de DNA denominadas pró-vírus são então inseridas no material genético da célula hospedeira por meio da ação da integrase. O pró-vírus pode permanecer inativo por meses ou anos, com pouca ou nenhuma produção de novas proteínas virais. A replicação viral depende do estadode ativação das células que albergam os vírus, ou seja, macrófagos, células dendríticas e linfócitos T. A transcrição dos genes do pró-vírus integrado é regulada pelo LTR a montante dos genes estruturais do vírus, e as citocinas ou outros estímulos fisiológicos para as células T e macrófagos acentuam a transcrição do gene viral. A enzima conhecida como protease (que é alvo terapêutico dos inibidores de protease) é a responsável pela clivagem de proteínas celulares para montagem de novos vírus. As células infectadas com o HIV se fundem com os linfócitos CD4 e disseminam o vírus pelo organismo, que é detectado nos linfonodos regionais dentro de dois dias da exposição e no plasma surgem em mais três dias, aproximadamente. Nesta fase, o organismo ainda não desenvolveu qualquer resposta imune e a medida quantitativa do RNA viral circulante (carga viral) revela níveis significativamente elevados. É aqui que podem ocorrer manifestações clínicas de uma infecção aguda viral (síndrome da infecção aguda pelo HIV), muitas vezes semelhante à da mononucleose infecciosa (mononucleose-like ou mononucleose-símile). Em resposta a esta invasão, o organismo solicita imunidade específica contra o HIV mediada pela atividade citotóxica dos linfócitos CD8 (soroconversão). Os níveis plasmáticos do RNA viral caem para níveis mais baixos. É neste momento que os sintomas da fase retroviral aguda (SRA) desaparecerão. Quanto menor for o nível estabilizado da carga viral após esta fase, mais tempo o indivíduo permanecerá com contagem de linfócitos CD4 elevados e mais tempo levará para desenvolver AIDS nas formas avançadas. O contrário irá ocorrer nos pacientes que estabilizaram sua carga viral em níveis elevados. Os anticorpos desenvolvidos contra HIV não são neutralizantes e, portanto, sua presença revela infecção viral presente. O diagnóstico da fase aguda é feito exatamente pela soroconversão que ocorre entre dois exames colhidos, no início dos sintomas da doença aguda e 30 a 60 dias após, respectivamente. Após esta fase aguda, o indivíduo entra no estado de latência clínica e poderá permanecer assintomático por muitos anos. Nesta fase, o vírus se multiplica principalmente nos centros germinativos dos linfonodos, e em materiais de biópsias ganglionares observa-se presença de grande número de células infectadas. Com o evoluir da replicação viral, o número de células presentes nos linfonodos vai diminuindo por esgotamento dos centros germinativos, e nas fases avançadas da doença a quantidade de vírus nos linfonodos é bem menor. O contrário ocorre com os níveis plasmáticos da carga viral, que são menores na fase de latência clínica e aumentam nas fases terminais da AIDS. Deste modo, podemos afirmar que a velocidade de desenvolvimento da doença depende do nível da carga viral no fim da fase aguda e o estado imunitário pode ser mesurado pela contagem dos linfócitos CD4. OBS3: Note que a infecção por HIV depende das enzimas principais deste complexo viral. Por esta razão, os principais subsídios terapêuticos disponíveis atualmente trabalham no intuito de inibir esta bateria enzimática e quase sempre devem ser utilizados em associação. Arlindo Ugulino Netto – INFECTOLOGIA– MEDICINA P7 – 2010.2 23 MECANISMO DE TRANSMISSO O HIV pode ser transmitido a partir dos seguintes mecanismos: Rela o homossexual ou heterossexual. H um risco aumentado com o intercurso anal (devido maior incidncia de leses e sangramentos), presena de lceras genitais, imunodeficincia do transmissor, presena de outras doenas sexualmente transmissveis (DST), ausncia de circuncis o e rela o durante o perodo menstrual. Sexo oral e anal. Hemotransfus o (risco aumentado para aqueles que receberam sangue antes de 1981). Uso de drogas injetveis. A exposi o acidental com prfuro-cortante apresenta risco baixo (cerca de 0,25%), diminuindo a incidncia em 80% com a profilaxia. Transmiss o m e-concepto: Transmiss o vertical: pode ocorrer intra-tero (isto durante a gesta o, principalmente no ltimo trimestre da gravidez), durante o parto ou pela amamenta o (ver OBS4). A m e deve ser tratada com AZT a partir da 14 semana. Transmiss o perinatal – risco de 25% (ver OBS5). O risco cai para menos de 1% com a profilaxia com AZT. Na ocasi o, deve-se fazer uma dosagem de ataque de AZT 4h antes do parto e manter a droga por pelo menos 6 semanas. OBS4: A amamenta o estritamente proibida nos casos de m e com HIV: a cada amamenta o, aumenta-se pelo menos em 7 vezes o risco de infec o pelo vrus. Por esta raz o, quando a criana nasce, s o administrados medicamentos na m e para inibir a lacta o, evitando assim a tenta o materna em amamentar. OBS5: Devido ao risco da transmiss o perinatal do vrus do HIV, prudente a realiza o de parto cesariano para m es portadoras do vrus. Contudo, alguns advogam que uma paciente que entre em trabalho de parto, mas que apresenta um carga viral abaixo de 1500 cpias, poderia passar por um parto normal sem maiores riscos para a criana. Contudo, por segurana, a maioria dos obstetras optam pelo parto cesariano. OBS6: prudente indicar a rela o sexual protegida tambm para casais em que ambos s o contaminados, uma vez que a manuten o do sexo desprotegido promove uma troca mtua de vrus, o que possibilita a forma o de um super-vrus (ainda mais se apenas um deles faz uso de medica o), o que dificulta o tratamento. DIAGNSTICO O diagnstico da infec o pelo HIV baseado, basicamente, na detec o de anticorpos contra o vrus (sorologia) ou na detec o de antgenos do mesmo. EXAMES SOROLÓGICOS Os testes sorolgicos demonstram a presena de anticorpos contra o HIV em material (sangue, saliva, liquor) do paciente. O princpio de tais testes baseia-se no fenmeno da soroconvers o, uma vez que quase todos os pacientes infectados desenvolver o anticorpos anti-HIV em at 6-12 semanas aps o contgio (janela imunolgica). O teste padr o o ELISA seguido de um teste Western blot (WB) confirmatrio, caso o primeiro seja positivo. O teste de rotina o ELISA (enzyme linked immunosorbent assay) tambm conhecido como EIA (teste enzimtico de imunoabsorbncia). Existem hoje ELISA de 3 e 4 gera o (quanto maior a gera o, mais sensvel o exame). Apresenta sensibilidade e especificidade bastante altas, maiores que 98%, principalmente por volta do 7 ao 14 dia de infec o. O ELISA avalia a presena do anti-HIV, que s acontece aps a fase de soroconvers o. O Ministrio da Sade preconiza que um ELISA positivo j confirma o diagnstico. De fato, exames positivos em pessoas com quadro clnico ou histria epidemiolgica compatveis tm valor preditivo positivo prximo a 100%. Contudo, preconiza-se que os testes devem ser confirmados por mtodos diferentes (por exemplo, Western blot ou a imunofluorescência). Geralmente s o realizados dois mtodos diferentes na mesma amostra de soro e o resultado vem expresso como “reativo” ou “n o-reativo”. As indicaes para realiza o da sorologia para o HIV s o: Avalia o mdica de achados sugestivos de infec o pelo HIV, como linfoadenopatia generalizada pelo HIV, demncia, meningite a lquor claro, neuropatia perifrica, diarria, emagrecimento, doenas que geralmente complicam com a infec o pelo HIV (herpes zoster, herpes simples, cadidase oral, infeces ou tumores oportunistas, citopenias); Presena de doena sexualmente transmissvel (DST); Categorias de alto risco: usurios de drogas injetveis, homens homo ou bissexuais, heterossexuais com mais de um parceiro nos ltimos 12 meses que n o fazem uso regular de preservativo, receptores de sangue ou derivados antes de 1985, etc.; Pessoas que se consideram de risco ou que pedem para fazer o exame; Gestante; Crianas expostas ao HIV (filhos de m es HIV-positivas); Tuberculose ativa; Acidente com material biolgico;
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