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CONTEÚDO DO PROCESSO FORMULAR ROMANO, COM SUAS CONDIÇÕES DA AÇÃO E PRESSUPOSTOS Contenuto del processo formulare romano, con le sue condizioni dell'azione e presupposti Doutrinas Essenciais - Novo Processo Civil | vol. 2/2018 | p. 215 - 233 | | Revista de Processo | vol. 245/2015 | p. 551 - 568 | Jul / 2015 DTR\2015\11024 Francisco da Silva Caseiro Neto Mestre em Direitos Difusos e Coletivos pela PUC-SP. Doutorando em Processo Civil Coletivo pela PUC-SP. Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual. Coordenador Acadêmico da Comissão de Processo Civil da OAB/SP (Jabaquara). Professor de Processo Civil, Processo Civil Romano e do Núcleo de Prática Jurídica em Processo Civil, da Faculdade de Direito da PUC-SP. Advogado. Área do Direito: Civil; Processual Resumo: "No final da República e no começo da nossa era, vão os romanos se libertando do sistema processual oral inflexível das 'Legis Actiones' e com o papiro, implantam o sistema processual escrito, com fórmulas flexíveis e moldáveis às infindáveis controvérsias. As Institutas de Gaio e o Edito Perpétuo do Pretor Salvio Juliano (117 d.C.), são poderosas fontes de estudo desse período processual, a que se deu o nome de processo 'per formulas'. Para melhor compreendê-lo, levaremos na bagagem, ingredientes da ciência processual moderna (Elementos, Condições da Ação, Relação Jurídica Processual e Pressupostos), como se os Jurisconsultos do Alto Império já os conhecessem e deles já se utilizassem!" Palavras-chave: Processo Civil Romano - Período Formular - Pressupostos Processuais - Condições da Ação - Processamento - Conteúdo. Riassunto: Alla fine della Repubblica e l'inizio della nostra era, i romani si libertano del sistema procedurale orale inflessibile "Legis Actiones" e, con il papiro, introduscono il sistema procedurale scritto, con formule flessibili e modellabili a polemiche infinite. Le Istituzioni di Gaio e l'Editto Perpetuo del Pretore Salvius Julianus (117 d.C.) sono potenti fonti di studio di questo periodo procedurale, che ha dato il nome di processo "per formule". Per capire meglio, prendiamo in considerazione tutti i dettagli della Scienza Moderna Procedurale (Elementi e Condizioni di Azione, Legale Procedura di Relazione e Presupposti), come se i Giuristi dell'Alto Impero già li conoscevano! Parole chiave: Processo Civile Romano - Formulae Periodo - Ipotesi Procedurali - Condizioni Dell'Azione - Procedimenti Giudiziari - Contenuto. Revista de Processo • RePro 245/551-568 • Jul./2015 Sumário: - 1.Compreensão - 2.Elementos da Ação Formular - 3.Condições da Ação Formular - 4.Relação Jurídica Processual Formular - 5.Pressupostos do Processo Formular - 6.Procedimento in iure iudicia legitima e imperio continens - 7.Nominatio Iudex, Partes Ordinárias e Partes Adjetas - 8.Causa Petendi e Modificação Subjetiva da Fórmula - 9.Meios Complementares da Tutela Pretoriana - 10.Bibliografia Recebido em: 03.04.2015 Aprovado em: 19.06.2015 1. Compreensão Em período de grande expansão comercial e territorial, receberam os romanos grande Conteúdo do processo formular romano, com suas condições da ação e pressupostos Página 1 influência da intelectualidade e filosofia gregas (VILLEY, p. 54-55), acabando, com isso, por aperfeiçoarem-se – seus operadores do direito (especialmente os juristas) e o sistema judiciário-jurisdicional – inclusive para jurisdicionar sobre os cidadãos dos povos conquistados. Libertam-se do sistema processual oral inflexível das Legis Actiones e com o papiro, implantam o sistema processual escrito, com fórmulas flexíveis e moldáveis às infindáveis controvérsias. Seu período de duração consolidou-se no período clássico, ou seja, durante a paz interna romana (VILLEY, página mencionada), entre 126/17 a.C. (Lex Aebutia) (Lex Juliae) até 304 d.C. (Morte de Diocleciano). Conviveu com as Legis Actiones (até a desativação total desta, 17 a.C.) e com a Extraordinaria Cognitio (a partir de então nas províncias). Do ponto de vista processual, foi o período da Ordo Iudiciorum Publicum/Privatorum, especialmente porque esse convívio implicava, nas províncias, a atuação jurisdicional somente pelo Pretor (até por conta de um controle maior do Estado Romano sobre os povos dominados). Manteve as duas fases: In Iure (com o pretor, funcionário do Estado Romano) e Apud Iudicem (com o juiz particular, nomeado pelo pretor e aprovado pelas partes). “A fórmula – que altera a característica eminentemente oral do sistema anterior – correspondia ao esquema abstrato contido no edito do pretor, e que servia de paradigma para que, num caso concreto, feitas as adequações necessárias, fosse redigido um documento (iudicium) – pelo magistrado com o auxílio das partes –, no qual se fixava o objeto da demanda que devia ser julgado pelo iudex particular” (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 47). Ou ainda, “um autêntico modelo abstrato pelo qual se podia litigar por escrito, em conformidade com os esquemas jurisdicionais previstos, pelo direito honorário, pelo edito do pretor” (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 74). As Institutas de Gaio e o Edito Perpétuo do Pretor Salvio Juliano (117 d.C.), são poderosas fontes de estudo desse período processual, a que se deu o nome de processo per formulas. Também denominadas concepta verba (GAIO I., 4.30 apud CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 75 e DI PIETRO e LAPIEZA ELLI, p. 174), as fórmulas continham palavras escritas adaptáveis ao caso concreto. Para melhor compreendê-la, levaremos na bagagem, ingredientes da ciência processual moderna (Elementos e Condições da Ação, Relação Jurídica Processual e Pressupostos), como se os jurisconsultos do Alto Império o fizessem! 2. Elementos da Ação Formular 1.º) Subjetivos a) Partes – Autor e Réu, admitindo-se o litisconsórcio ativo, passivo ou misto, nas ações reais e nas pessoais (“lis plurium personarum”) (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 82). 2.º) Objetivos a) Pedido – É o pedido do autor que move a ação. Ele também vai deduzir sua pretensão diante do pretor. Esse pedido vai se apresentar como Mediato, a coisa (na actio rem) ou a obrigação (na actio in personam) e Imediato – a via processual eleita ou seja, a fórmula eleita. Conteúdo do processo formular romano, com suas condições da ação e pressupostos Página 2 b) Causa petendi – É a soma dos fundamentos de fato agora por escrito, na “concepta verba”, aos fundamentos de direito (estes agora a serem encontrados pelo Pretor e pelo Iudex). Pode ser Próxima (os fatos narrados) e Remota (o jus gentium) dos cidadãos Romanos e Peregrinos (estrangeiros) e o jus honorarium (sequência de editos dos pretores, até o engessamento de todos eles, no Edito Perpétuo de Salvio Juliano (117 d.C.), acima mencionado. 3. Condições da Ação Formular Em que pese o direito de ação e o direito material ainda permanecerem mesclados neste período formular, levaremos também dos nossos tempos, a teoria abstratista, isolando-os um do outro, para procurar compreendê-los melhor. Assim, 1.ª Partes Legítimas – Romanos ou Estrangeiros, os próprios titulares do direito material subjetivo em questão, possuíam legitimidade ordinária “ad causam”. O réu podia ser interrogado pelo pretor (interrogatio in iure) sobre sua legitimidade passiva no feito. Mas já se admitia a legitimação extraordinária, através dos cognitors ou dos procuratores ad litem, aqueles nomeados solenemente na presença do pretor e da parte contrária, e estes, mediante contrato de mandato previamente celebrado. Também a figura do gestor de negócios (negotiorum gestio), que representaria a parte, em nome próprio, sem qualquer formalidade (GAIO, I., 4.82, 4.83 e 4.84) (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 82) (DI PIETRO/LAPIEZA ELLI, p. 176). Importante frisar, que estes representantes, agiam processualmente em nome próprio, postulando, como autores ou réus, mas na defesa do direito material do representado, daí porque concebê-los como legitimados extraordinariamenteou substitutos processuais . Ademais disso, através de uma promessa de um terceiro (sponsor) e da ratificação do representado (satisdatio ratam rem dominum habiturum), ficaria garantido o objeto litigioso (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 82) (DI PIETRO/LAPIEZA ELLI, p. 176). 2. ª) Interesse Processual – Edictio formula (ou edictio aciones) – era a comunicação prévia, extrajudicial, mediante instrumentum escrito (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 80), pelo autor ao réu, da pretensão (intentio), sem o que não lhe era conferido sequer o direito de ação. 3. ª) Possibilidade Jurídica do Pedido – Previsão do abrigo jurídico material (repita-se, mesclado com o direito de ação e encontrados pelos juízes) alegado, no Jus Gentium ou no Jus Honorarium. 4. Relação Jurídica Processual Formular A relação jurídica processual formular, triangular, podia ser concebida como formada e fixada, pelas partes, pelo Estado-Pretor e pelo Iudex unus particular (auxiliado por Conselho de Amigos, que, na fase apud iudicem, se não estivessem convencidos, podiam devolver a instância, nomeando-se outro juiz (DI PIETRO/LAPIEZA ELLI, p. 177) (todos estes no vértice do triângulo), aperfeiçoando-se com a in ius vocatio (citação do réu). “Iudicium est actus trium personarum…” (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 13) Conteúdo do processo formular romano, com suas condições da ação e pressupostos Página 3 O direito ao processo, então, era ditado pelo preenchimento dos seguintes pressupostos: 5. Pressupostos do Processo Formular A – Existência – Sem os quais ele inexistiria: 1. Petição Inicial – O “agere” escrito, desencadeador do processo, posto que já consolidado o princípio dispositivo; 2. Jurisdição – Pretor legalmente investido no cargo (fase in iure e o poder de imperium) e o iudex, escolhido pelo pretor e pelas partes, dentre os cidadãos romanos cadastrados em álbum constante dos arquivos judiciais (para a fase apud iudicem e o poder da jurisdictio). Ou o Tribunal de Recuperatores, para os feitos envolvendo os peregrinos. 3. Citação (“in ius vocatio”) – Imprescindível à existência do processo formular, ainda consumada pelo próprio autor, mas agora fiscalizado de perto pelo Pretor e suprimida a violência do período anterior. Regularmente citado, o réu poderia: i) comparecer e oferecer sua defesa; ii) oferecer um vindex (pessoa que garantiria seu comparecimento sob pena de arcar patrimonialmente com a responsabilidade) ou iii) comprometer-se a novo comparecimento se necessário (stipulatio), prometendo, caucionando ou jurando um vadimonium, pelo qual arcaria com multa, penhora ou perda total de seus bens, na hipótese de ficar indefensus (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 81). Assinale-se algumas restrições ao ato citatório, como a proibição de citação (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, página mencionada): i) daquele que acompanhava enterro; ii) daquele que estava se casando; iii) daquele que assistia a culto religioso. Por outro lado, o cônsul, o pretor, o pontífice e os generais, haveriam de ser convocados oficial e formalmente pelo pretor, na fase in iure. Conteúdo do processo formular romano, com suas condições da ação e pressupostos Página 4 4. Capacidade Postulatória – Nesse período já estava consolidada a figura do “advocatus ”, tanto para o autor quanto para o réu, mediante mandato “ad judicia” (inclusive com direito a honorários a partir do Séc. II d.C., (ad exitum) (palmario), pactum de quota litis, verba sucumbencial e redemptio (quando o advogado assumia o risco da demanda) (MARIZ DE OLVEIRA, Antonio Cláudio, A formação do advogado. In: José Renato Nalini (coord.). Formação jurídica. SP: Ed. RT, 1994, p. 18-19), sem o que não poderia ser tido como existente o processo. O advocatus era alguém especial, estando proibidos de advogar “os condenados pela prática de um delito capital, os gladiadores (D. 3.1.2.6, Ulpiano, libro VI ad edictum), os cegos, as mulheres e o infame (Gaio, I., 4.182)” apud CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 85). B – Validade – Sem os quais o processo seria inválido. 1. Petição Inicial Apta – “Editio actionis”, apresentando a fórmula que entendia adequada, tanto ao pretor quanto à parte contrária (postulatio actionis) (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 83) (DI PIETRO/LAPIEZA ELLI, p. 177). Não poderia apresentar a intentio mais ampla (plus petitio), sob pena de causa cadere. Tampouco a intentio menos ampla (minus peter ”), só podendo ajuizar a ação sobre o remanescente, após o pretor deixar o cargo (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 84). “A pluris petitio re ocorria nos casos em que o autor pedia quantidade maior do que lhe era devida pelo réu; verificava-se a pluris petitio tempore quando o autor, por exemplo, ajuizava a demanda antes de vencida a dívida; a pluris petitio loco, na hipótese em que se exigia que o devedor pagasse em local diferente daquele pactuado; e, por fim, a pluris petitio causa, quando o demandante modificava a causa em que se devia fundar a pretensão” (GAIO, I.4.52-60 e PAULO (Sentenças), 1.10.1 apud CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 84). 2. Competência Absoluta e imparcialidade Pode-se dizer que a estrutura in iure e apud iudicem, era inafastável para os litígios entre cidadãos romanos, de sorte que o endereçamento a magistrado diferente ou a falta de um deles (ou de ambos), ensejaria a incompetência absoluta e a falta de um pressuposto processual de validade do processo. Pode-se dizer também que prevaleceu nesse período, para os litígios entre romanos (de um lado) e peregrinos (de outro), ou entre peregrinos, um órgão colegiado denominado recuperatores, composto de três ou cinco juízes particulares (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 86) (FRÓES, p. 209), o que ensejava uma competência absoluta, de tal Órgão, criado em razão das pessoas componentes da relação jurídica processual. Mantido também, o tribunal dos centumviri (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 55) (FOGNET, p. 247) (cento e cinco pessoas), formados por senadores, cidadãos romanos, magistrados administrativos, com o escopo de julgar as questões de sucessão hereditária, coisa que também ensejava competência absoluta em razão da matéria. “A competência dos pretores (…) era fixada em razão da cidadania das partes, do território e, ainda, do objeto do litígio, sendo absoluta. A lex Julia iudiciorum privatorum teria admitido que as partes acordassem em derrogá-la”(grifos nossos) (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 80). Ambos, em razão das pessoas e da matéria, configuravam competência absoluta e sua não observância invalidaria o processo. Pode-se dizer, também e ainda, que a imparcialidade era examinada no momento e escolha do iudex unus, sendo certo que as partes anuiriam ou recusariam a escolha, inclusive indicando pessoa alheia aos quadros (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 87), fazendo uma espécie de filtro. Conteúdo do processo formular romano, com suas condições da ação e pressupostos Página 5 Na falta dessa anuência ou dessa recusa, da escolha desse juiz, o impedimento pelo parentesco sanguíneo poderia acarretar a invalidade do processo. 3. Capacidade de ser parte (de direito) – Tanto os cidadãos romanos (patrícios e plebeus) (status civitatis), livres (status libertatis), do sexo masculino e homens sui iuris (status familiae), quanto os peregrinos, com status similar ou aproximado. Também as pessoas jurídicas legalmente constituídas; e os entes despersonalizados, como a herança jacente (MATOS PEIXOTO, p. 356); 4. Capacidade processual (de fato) – Sem tutor ou curador, apenas os maiores de 25 anos e na livre consciência mental. Pessoa jurídica, através de seu representante legal; já admitida a representação, por cognitor, procurator ou defensor, como se viu acima, que se misturava com a legitimação extraordinária e ao mesmo tempo, regularizava a capacidade processual. 5. Dias fastos – Dias especiais para a realização da justiça. 6. Basílica – O lugar dos principais atos processuais desse período já eram edifícios apropriados (grandessalões retangulares, divididos em alas por colunas e com a arquitetura típica) (FRÓES, p. 209), podendo mesmo ser invalidado se realizado em local diferente. C – Negativos 1. “Bis de idem re ne sit actio” – Pela litispendência ou coisa julgada preexistente ( eadem personae, eadem quaestio (mesmas pessoas e mesmo objeto) (JULIANO, D.44.2.3, ULPIANO, apud CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 104) ou ainda (idem corpus, eadem causa petendi e eadem condicio personarum) (mesmo bem, mesma causa de pedir e mesma condição das pessoas) (PAULO, Digesto, 44.2.12 e 14 apud CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 105), rompia-se o direito ao novo processo, que nem sequer seria saneado na fase in iure, declarando-se o pretor. 6. Procedimento in iure iudicia legitima e imperio continens Pelo primeiro, in iudicia legitima, processavam-se as questões envolvendo romanos, diante de um iudex unus, dentro de Roma ou até uma milha de distância, com prazo de 18 meses para finalização, sob pena de extinção (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 78). Pelo segundo, iudicium imperio continens, processavam-se os feitos, no Tribunal dos Recuperatores acima mencionado, nestas circunstâncias: 1.º) se pelo menos uma das partes ou o próprio juiz fosse peregrino; 2.º) mesmo que todos fossem romanos, mas o feito iria ser julgado além do pomerium (1 milha de distância de Roma). Tanto num quanto noutro, procedida à citação (in iure vocatio), na forma acima visualizada (pressuposto de existência) e, presentes as partes e seus advocatus diante do Pretor, na 1.ª fase (in iure), apresentava o autor, a este e ao réu, sua petição inicial (edictio actionis), com sua fórmula, como se disse acima. Verificava o Pretor as condições da ação e os pressupostos processuais acima visualizados e, na falta insanável de algum deles, lançando mão de seu imperium, julgava denegada a ação (denegatio actionis) (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 84). Em não verificando quaisquer dessas faltas, deferia a preambular e passava a palavra ao advogado do réu, que haveria de apresentar as excepctiones adequadas, podendo até e também, reconvir (in iudicium contrario), nas ações entre sócios, mandante e mandatário, bem como referentes ao negotiorum gestio (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 85). Conteúdo do processo formular romano, com suas condições da ação e pressupostos Página 6 Poderia ainda, presente o réu, diante do Pretor, tomar uma das seguintes posições (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 85): 1.º) Confessio in iure, de quantia certa (certa pecunia), redundando sua confissão em situação idêntica à condenação; 2. º) Confessio in iure, de quantia incerta, teria apenas eficácia probatória (Digesto, 42,2.6, ULPIANO: Certum confessus pro iudicato erit, incertum non erit apud CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 85); 3.º) Iusiurandum in iure, juramento sobre a inexistência da dívida, a requerimento do Advogado do autor. O silêncio implicava a existência dela e autoriza o Pretor a proceder à execução. Ademais disso, poderia o réu tornar-se indefensus, que tinha o mesmo efeito da confessio certa pecunia, por uma das seguintes razões: a) Não comparecer por estar ausente de Roma ou do Juízo (absens); b) Não comparecer porque se ocultou da citação (latitans); c) Comparecer e não se defender da forma adequada; d) Comparecer, mas incorrer no vadimonium desertum. Similar à revelia de hoje, teria contra si a condenação, submetendo-se à responsabilidade patrimonial pela execução. 7. Nominatio Iudex, Partes Ordinárias e Partes Adjetas Não ocorrendo tais hipóteses, o feito prosseguiria e as partes poderiam, por determinação do Pretor, oferecer caução, real ou fidejussória (satisdatio iudicatum solvi) ou juramento, de que litigariam com lealdade (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 87). Passava-se, então à escolha do Iudex ou do Tribunal de Recuperatores, protagonizada pelo Magistrado e pelas partes (como já se viu acima), sendo certo que o Juízo dispunha de um album iudicum, recrutando-se, em Roma, dentre os sui iuris do sexo masculino, os senadores e os cavaleiros (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 87). Mas nas províncias, a lista, em princípio formada por romanos com certa renda anual e de reputação ilibada, especialmente na Magna Grécia (sul da Península Itálica) (CRETELLA JR., p. 44), se o réu fosse grego, poderia ser grego o Iudex (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 87). O próximo passo implicava na redação da fórmula, mediante um confronto triangular (PUGLIESE, GIOVANNI, “Il processo civile romano”, vol. 2, “Il processo formulare” apud CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 88), ou seja, preparada pelo Magistrado, pelo Advogado do autor e pelo Advogado do Réu, com possíveis interferências dos próprios litigantes. Desse esforço conjunto, nascia a fórmula, com o nome do iudex em primeiro plano (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 89), fórmula essa que tinha o seguinte desenho: “Partes formularam” I – Partes Ordinárias a) Intentio – Exposição de sua pretensão (FRÓES, p. 216) apresentado de forma hipotética, com a expressão si paret. “Se parecer que N. Negídio deve dar 10.000 sestércios a A. Agerio ” (GAIO, I.4.41 apud CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 90) ou “ Se parecer que o escravo Stichum seja de A. Agerio” (idem, ibidem). As mais comuns eram as (i) in rem (reais em decorrência da propriedade jus possidendi Conteúdo do processo formular romano, com suas condições da ação e pressupostos Página 7 [reivindicatórias, publicianas e negatórias] [vide 3.ª Aula]); para as decorrentes da própria posse (jus possessiones), valiam-se dos interditos, (vide também 3.ª Aula) e como a seguir esclarecido); (ii) e as in personam (obrigacionais), como as dos exemplos acima. b) Demonstratio – Fatos constitutivos do direito, numa consequência lógica da intentio; “posto que A. Agerio vendeu e um escravo a N. Negídio, retendo-o em sua posse…” ou “posto que N. Negídio recebeu como mútuo de A. Agerio, 10.000 sestércios…”. c) Adiudicatio – Pedido para adjudicação da coisa nas ações de divisão e partilha (FRÓES, p. 216). E também nas ações reais, jus possidendi. Por exemplo, “juiz, adjudicai a A Agerio, tanto quanto se lhe deva ser adjudicado”. d) Condemnatio – Pedido de condenação ou absolvição do réu, v.g., “juiz, condena N. Negídio a pagar 10.000 sestércios a A. Agerio; se não parecer que N. Negídio deve pagar, absolve” (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 93) e) exceptio – Vide ponderações a seguir. II – Partes Adjetas da Fórmula As adjectiones tinham por escopo, dimensionar os exatos limites da demanda, quando as partes ordinárias não o alcançavam (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 95). a) Praescriptio – Tanto para o autor, quanto para o réu, tal parte evitava o pluris petitio, acima mencionado, mas assegurando que outras postulações conexas aos mesmos fatos, não estariam prescritas (ou preclusas) e não induziriam litispendência ou coisa julgada. (Hoje, a estrutura do art. 469 do nosso CPC dá sinal de ligação com essa previsão adjeta, na medida em que dispõe não fazerem coisa julgada os motivos, a verdade dos fatos e a questão prejudicial decidida incidenter tantum). Como exemplo, temos ea res agatur cuius rei dies fuit – “essa ação venha a ser deferida em relação àquilo que já venceu” (GAIO, I., 4.130 apud CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 96), abrindo caminho para a cobrança das prestações vincendas, em outra fórmula. b) Exceptio – Derivada da praescriptio pro reo, criação pretoriana, era inserida no corpo da fórmula, a pedido do réu, que tinha ampla possibilidade de alegação, tanto no tocante ao que hoje denominamos preliminares (condições da ação e pressupostos vistos acima), quanto ao mérito. Sem a ordem técnica processual de hoje, ora apareciam como peremptoriae, ora como dilatoriae (GAIO, I, 4.120 apud CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 97). As primeiras, alegáveis a qualquer tempo e perpetuamente, exceptio doli (dolo do autor ), exceptio rei iudicatae etc.; as segundas, somente na fórmula do processo em curso, após a condemnatio e de cunho preclusivo,como a exceptio pacti conventi temporalis (fato [acordo] modificativo do direito do autor), a exceptio non adimpleti contractus, a exceptio non rite adimpleti contractus etc. c) Replicatio, duplicatio e triplicatio – Decorrentes da prática judiciária dos pretores, na fase in iure, os operadores romanos do direito, sublimaram o contraditório e a ampla defesa. Em razão da dinâmica negocial trazida para dentro dos autos, viram que a exceptio, muitas vezes, poderia ser uma surpresa para o autor, daí porque abriram espaço na fórmula para a replicatio. Também esta poderia apresentar surpresa para o réu, hipótese em que o magistrado abriu espaço para a duplicatio. Gaio, em suas Institutas, dá ainda sinal da existência sucessiva da triplicatio, de volta Conteúdo do processo formular romano, com suas condições da ação e pressupostos Página 8 para o autor. 8. Causa Petendi e Modificação Subjetiva da Fórmula Da mihi factum dabo tibi ius e jura novit curia (NERY, Comentários…, p. 575), tinham presença marcante na causa de pedir formularia, porque o Pretor e o Iudex, nas fase in iure e na apud iudicem, atribuiriam o jus gentium ou o jus honorarium, ao caso concreto que lhes fora trazido pelo autor. Daí porque a causa petendi da fórmula (a demonstratio) ensejava uma preocupação maior do autor com os fatos (causa de pedir próxima) do que propriamente com o direito (causa de pedir remota). “Dá-me os fatos que eu te darei o direito” ou então “O Juiz conhece o Direito”. Naquela hipótese, se a fórmula não indicasse o direito que dava respaldo à pretensão, o Pretor, o Iudex (ou os Recuperatore) o fariam. E nesta hipótese, caso o direito invocado não servisse aos fatos apurados, seriam conformados a ele, o direito que realmente lhes servisse, porque o juiz conhecia o direito. Litis Contestatio Por ela, num consenso progressivo com as partes (doutrina romanista moderna, depois de muitas controvérsias de Ludwig Keller, Moriz Wlassak, Gunther Jahr e Max Kaser) (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 99) colocava o Pretor fim à fase in iure, saneando o processo (na linguagem de hoje), no tocante às condições da ação e pressupostos processuais (ainda na linguagem de hoje), fazendo isso por meio de um decreto denominado iudicium dare. Com essa verdadeira decisão interlocutória (também na linguagem processual moderna), ademais disso, fixava-se os pontos controvertidos da lide e entregava a fórmula aprovada ao Iudex escolhido (que, como se viu, tinha seu nome no frontispício da mesma), para início da fase apud iudicem, que coincidia com a fase instrutória e decisória de hoje, e com o que seria analisado o mérito. Portanto, a litis contestatio, trazia como efeitos (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 100-103): a conservação da fórmula, fixando a res in iudicio deducta, estabilizando a demanda e tornando-a inalterável; i) a preclusão da ação (in personam), ensejando a litispendência ou a coisa julgada; ii) a novação da obrigação (também nas ações in personam), que agora teria como fonte a futura sentença de mérito; iii) interrupção da prescrição; iv) ruptura da boa-fé nas ações possessórias (in rem), tornando a posse sub iudice; Instância apud iudicem (FRÓES, p. 218) (CRUZ E TUCCIAZEVEDO, p. 124/127) 1.º) Instrução Probatória – acerca dos pontos controversos (questões) entre intentio/demonstrativo e exceptio, atribuindo-se o ônus a quem alegasse e não a quem negasse (ei incumbit probatio qui dicit, non qui negat (D. 22.3.2, Paulo, libro LXIX ad edictum). 2.º) Meios de Prova (FABIO QUINTILIANO, Séc. I, DC Institutiones Oratoriae) – Além da confesssio, (a) praeiudicia (sentenças precedentemente prolatadas) (prova emprestada); (b) fama atque rumores (opinião pública); (c) “tormenta” (tortura), (d) tabulae (documentos, por exemplo o contrato retratado em tabletas de cera); (e) ius iurandum (juramento); (f) “testes” (testemunhas). 3.º) Alegações finais (FABIO QUINTILIANO, Séc. I, d.C. Institutiones Oratoriae) – Conteúdo do processo formular romano, com suas condições da ação e pressupostos Página 9 Discursos dos Advogados (parte oral do processo) divididos em: (a) exordium; (b) narratio; (c) partitio, (d) confirmatio, (e) reprehensio ou refutatio, (f) conclusio. 4.º) Sentença (pronuntiatio) – Livre convicção (legis actiones, vínculo irrestrito à prova). Independentemente de fundamentação, era escrita e limitava-se a declarar a condemnatio ou absolutio, pecuniária ou a adiudicatio, nas ações reais. 5.º) Execução – De volta para o Pretor, transitada em julgado a decisão, era ordenada a imediata imissão de posse nas ações reais; nas condenações em dinheiro, era conferido ao réu o prazo de 30 dias para o pagamento, poderia opor embargos (infitiatio crescit in duplum) (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 128 e 132), podendo alegar: a) inexistência da coisa julgada; b) nulidade do processo ou da sentença (prova falsa, incompetência absoluta, inexistência ou nulidade da citação); c) Cumprimento da obrigação Abrir-se-ia nova fase in iure e nova fase apud iudicem, sendo certo que o réu seria condenado ao dobro em caso de improcedência. Na hipótese de não serem apresentados os embargos, ainda sob o comando do pretor, expedia-se em favor do autor, a ordem de execução pela soma devida e a ordem missio in possessionem, para que tomasse posse de todos os bens daquele e procedesse à venditio bonorum. Expediam-se os editais (proscriptiones) e o produto da venda pagaria as despesas, revertendo tudo em favor do credor. Ademais disso, ao devedor seria atribuída a pena de infâmia ou mesmo recaindo sobre sua status libertatis, caso não tivesse o montante suficiente de bens. Poderia ainda, ser aberto concurso de credores se necessário, rateando-se o produto da venda (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 134-136) (FRÓES, p. 219). Translatio iudicii O Iudex e as partes, poderiam ser substituídos em caso de morte, doença, capitis deminutio ou se reconhecesse aquele não ter formado convicção (sibi non liquere), autorizando-se a translatio iudicii (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 108), ou seja, a alteração subjetiva da fórmula, ressaltando-se que o Pretor, mesmo depois da litis contestatio, com seu poder de império, permanecia na supervisão judiciária do andamento do feito. 9. Meios Complementares da Tutela Pretoriana Para situações de urgência, com perigo de grave dano ou dano irreparável no direito das partes, à semelhança das medidas cautelares (ou de urgência) de hoje, em alguns casos, oralmente (remanescente das leges actiones) poderiam estas postular ao pretor, medidas que seriam determinadas (também oralmente, podendo ser ex ofício) somente por ele, com seu poder de império (“poder de ordenar ou proibir certos atos” – CRETELLA JR., p. 430), independentemente da segunda fase (apud iudicem) e da nomeação do iudex unus, salvo circunstâncias especiais. Eram quatro: interdicta, missio in possessionem, stipulatio pretoriae e a restitutio in integrum. Examinemo-las, uma a uma, então. Assim, 1.º) Interditos Rememorização (CASEIRO NETO/SERRANO, p. 89-90) “Defesa Judicial da Posse” (“Interdictum” – proibição) Posse decorrente da posse (“ius possessionis”) Conteúdo do processo formular romano, com suas condições da ação e pressupostos Página 10 I) Turbação (Interdictum Retinendae) a) Interdictum uti possidetis – para bens mancipi (mancipatio) (imóveis ao tempo de Justiniano); b) Interdictum utrubi – para bens nec mancipi, posteriormente móveis. II) Esbulho (Interdictum recuperandae) a) Interdictum unde vi – recuperação de bens mancipi esbulhados; b) Interdictum utrubi – para bens nec mancipi; c) Interdictum de vi armata – contra esbulhos praticado com violência; d) Interdictum de precário – recuperação da posse de esbulho de quem a recebera a título precário. Exemplo: locatário. Interditos (Interdicta) eram ordens orais condicionais, do pretor, baseadas em seu poder de império, paraque, só o requerido (simples) ou, o requerente e o requerido (duplo), no interesse de um deles, de ambos ou no interesse público, fizessem, deixassem de fazer algo ou exibissem documento, coisa ou pessoa, imediatamente. Sobretudo, protegiam a possessio, inclusive das coisas públicas e sagradas. Eram caracterizados pela sua rapidez e sumariedade (MOREIRA ALVES, p. 301) (CORREIA/SCIASCIA, p. 107) (CRETELLA JR., p. 432) (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 121) (ARANGIO-RUIZ, p. 158). Poderiam ser: i) Restitutórios – quando ordenava a execução de um ato de reintegração de posse (por esbulho), como por exemplo, nos interdictum recuperandae, unde vi (bens mancipi) e utrubi (bens nec mancipi); ii) Exibitórios – quando ordenava fosse trazido e exibido diante do pretor, bem (exemplo: escravo) ou pessoa (exemplo: o pater famílias querendo reaver o filius ou a mulher in manu, em poder de terceiro (MOREIRA ALVES, p. 296); iii) Proibitórios – quando ordenava uma abstenção (não fazer), como no caso dos interdictum retinendae (para turbação ou ameaça), uti possidetis (bens mancipi) ou utrubi (bens nec mancipi). De se notar que eram investigados sumariamente os argumentos (até então orais, repita-se) do querelante, pelo Magistrado, que concederia ou mesmo denegaria em definitivo a ordem. (MOREIRA ALVES, p. 295) (CORREIA/SCIASCIA, p. 107) (CRETELLA JR., p. 432) (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 121) (ARANGIO-RUIZ, p. 158). Se o querelado acatasse, seria posto fim ao litígio. Se ele se insurgisse, o pretor manteria a liminar e concederia a fórmula ao querelante, para o desenvolvimento da actio ex interdicto (per sponsionem e per formulam arbitrariam) diante do iudex unus, no processo de conhecimento (MOREIRA ALVES, p. 295) (CORREIA/SCIASCIA, p. 107) (CRETELLA JR., p. 432) (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 121) (ARANGIO-RUIZ, p. 158). Em interditos restitutórios, exibitórios e proibitórios simples (a pedido só do querelante), no prazo de um ano, agia-se per formulam arbitrariam e também per sponsionem. Assim, poderiam as partes requerer a nomeação de um árbitro e se não o fizessem, cobrava o Advogado do autor, do réu, uma promessa (com garantia, real ou fidejussória), stipulatio (vide a seguir), de que arcaria pecuniariamente se ao final não lhe fosse reconhecida a razão (MOREIRA ALVES, p. 296-298) (CORREIA/SCIASCIA, p. 107) (CRETELLA JR., p. 432) (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 114/116) (ARANGIO-RUIZ, p. 158). Conteúdo do processo formular romano, com suas condições da ação e pressupostos Página 11 Poderia haver, também, uma restipulatio, do autor para o réu, a requerimento e pergunta do Advogado deste. O processo seguia, então, pela fase apud iudicem, também sobre a confirmação ou não, da liminar de reintegração, proibição ou exibição, e também sobre a responsabilidade pecuniária recíproca, num total de três lides (MOREIRA ALVES, p. 296/298) (CORREIA/SCIASCIA, p. 107) (CRETELLA JR., p. 432) (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 114/116) (ARANGIO-RUIZ, p. 158). Nesses mesmos interditos, mas nos duplos (a pedido de ambos), cada um apresentava duas stipulatios e duas restipulatios, decidindo-se assim, cinco lides (essas quatro e a [ dúplice] manutenção ou não da liminar, além dos eventuais prejuízos) (MOREIRA ALVES, p. 296/298) (CORREIA/SCIASCIA, p. 107) (CRETELLA JR., p. 432) (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 114-116) (ARANGIO-RUIZ, p. 158). 2.º) Missio in possessionem Na fase de execução (venditio bonorum) e da citação (indefensus, vadimonium desertum e vindex), como acima se viu, haveria a ordem oral do pretor (a pedido ou ex oficcio), da imissão de posse (missio in possessionem) sobre os bens do executado ou do terceiro , para assegurar que o devedor não se desfizesse dos mesmos em detrimento do credor, até que fosse cumprida a obrigação. Também era usada anteriormente à partilha de bens (MOREIRA ALVES, p. 300). 3.º) Stipulatio praetoriae Por ela, o Magistrado convocava a parte contrária a comparecer em juízo e comprometer-se verbal e solenemente (stipulatio), com o postulante, a pagar quantia, fazer, deixar de fazer algo, ou mesmo ainda, caucioná-lo em vista de um possível dano. Poderia haver garantia real ou fidejussória (satisdatio pretoriana) (CRETELLA JR., p. 433) e o inadimplemento ensejava a fórmula da actio ex stipulatu (MOREIRA ALVES, p. 298) (CORREIA/SCIASCIA, p. 106). Eram de três tipos: (i) “judiciais” (iudiciales) (garantiam a execução da sentença da fase apud iudicem), (ii) “caucionais” (cautionales) (serviam de garantia cautelar a possíveis prejuízos, como por exemplo, garantia do usufrutuário do imóvel ao proprietário (cautio usufructuaria), (iii) “comuns” (communes) (para ambas as hipótese) (ULPIANO, D.XLVI, 5, 1pr, apud MOREIRA ALVES, p. 299) (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 118) (CRETELLA JR., p. 433). 4.º) Restitutio in Integrum Tanto os atos jurídicos em geral quanto os próprios processos findos ou em andamento (inclusive com a res iudicata) (daí ser a precursora da atual ação rescisória), poderiam ser alvo da medida em questão, e com sustentáculo na equidade, no prazo de um ano, por onde o Magistrado (pretor) os invalidava e colocava a situação no status quo ante (MOREIRA ALVES, p. 301) (CORREIA/SCIASCIA, p. 107) (CRETELLA JR., p. 432) (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 121). Os primeiros podiam ser invalidados por vício do consentimento, como o erro, o dolo, a violência, a menoridade, “capitis deminutio”, “fraudem creditorum” e os segundos, por falta de pressuposto processual, condição da ação ou nulidade insanável. Em ambos os casos, mesmo se não houvesse causa prevista no Edito (MOREIRA ALVES, p. 301) (CORREIA/SCIASCIA, p. 107) (CRETELLA JR., p. 432) (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, p. 121). O pretor poderia conceder a medida ab initio, cautelarmente, avaliando seu cabimento ( iudicio rescindens) (exemplo: anulação da litiscontestatio, dado que inepta a fórmula) e, conforme o caso, determinar o processamento na segunda fase, para extirpação das consequências do ato (por exemplo, recuperação dos bens negociados pelo menor) (ou outra sentença de mérito do processo anulado) (iudicio rescissorium) (MOREIRA ALVES, p. 301) (CORREIA/SCIASCIA, p. 107) (CRETELLA JR., p. 432) (CRUZ E TUCCI/AZEVEDO, Conteúdo do processo formular romano, com suas condições da ação e pressupostos Página 12 p. 121). 10. Bibliografia ARANGIO-RUIZ, Vincenzo. Instituciones de Derecho Romano (Instituzioni di Diritto Romano), (tradução espanhola de José M. Caramé Ferro da 10. ed. italiana). Buenos Aires: De Palma, 1986. ABIB NETO. Curso de direito romano. São Paulo: Letras & Letras, 1993. ARRUDA ALVIM, José Manoel de. Manual de direito processual civil. São Paulo: Ed. RT, 2010. vol. 1. BARBOSA, Rui. 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