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1 ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE Graduação ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE 49 U N ID A D E 4 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA Na unidade anterior, vimos as principais doenças crônicas degenerativas ligadas ao sedentarismo e à obesidade. Você pôde perceber também o papel do estilo de vida positivo e da atividade física no combate a estas doenças. Nesta unidade, veremos como a Educação Física foi reconhecida enquanto área da saúde e o que isso implica na atuação profissional e responsabilidade social. Conheceremos a organização da saúde em nosso país e as principais estratégias governamentais no combate às doenças crônicas, melhoria da saúde e da qualidade de vida da população brasileira, além de alguns protocolos de avaliação do nível de atividade física. Vamos continuar nossa jornada! OBJETIVOS: Conhecer e discutir o Sistema Único de Saúde – SUS. Analisar e discutir políticas públicas para a promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida através do incentivo à adoção de um estilo de vida ativo. Discutir a inserção do profissional de Educação Física na atenção básica à saúde. Conhecer instrumentos de avaliação do nível de atividade física habitual e de saúde. PLANO DA DISCIPLINA: • Sistema Nacional de Saúde. • Criação do Sistema Único de Saúde – SUS. • Atenção Básica à Saúde. • Programa Saúde da Família – PSF - como estratégia de atenção básica. • Inserção do profissional de Educação Física na Atenção Básica à Saúde. • Políticas públicas de promoção da saúde através do incentivo ao estilo de vida ativo. • Medidas de avaliação e monitoramento da atividade física e saúde. Bons estudos! UNIDADE 4 - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA 50 A história recente da Educação Física no Brasil aponta a estreita relação da nossa área com a saúde de tal forma que em 1997 o Ministério da Saúde, através da Resolução nº 218 de 6 de Março de 19971, reconheceu a Educação Física como área da saúde. Isto não quer dizer que saímos da área escolar, muito pelo contrário, este fato ampliou ainda mais nossa possibilidade de intervenção profissional, assim como, nossa responsabilidade social, inclusive, reforçou ainda mais nossa intervenção no contexto educacional. Você verá porque na sequência das unidades. Outro fato recente que merece destaque, foi a promulgação da Lei 9.696/98 que criou o sistema Conselho Federal/Conselhos Regionais de Educação Física – CONFEF/CREFs. Este ditame legal veio consolidar o entendimento social do atual estado da área de intervenção profissional em Educação Física. Uma vez que esta intervenção situa-se na saúde, na “outra ponta” pode trazer riscos a própria saúde do assistido. É sobre essa égide que se sustenta a criação do sistema CONFEF/CREFs, ou seja, proteger a sociedade do mau profissional através da promulgação e fiscalização das normas de conduta ético-profissional. Agora precisamos conhecer o Sistema Nacional de Saúde. SISTEMA NACIONAL DE SAÚDE Em linhas gerais, o Sistema Nacional de Saúde é formado por três níveis de atenção à saúde. O primeiro nível, também conhecido como atenção primária ou básica, lida com a prevenção de doenças através da orientação e cuidados com as pessoas na comunidade em que vivem, ou, ainda, com pequenas enfermidades que não necessitam de internamento. Este assunto será melhor abordado na sequência da nossa unidade. A atenção secundária acontece no ambiente médico-hospitalar, e tem relação mais próxima com as consultas e encaminhamento de tratamento medicamentoso. A atenção terciária também acontece no ambiente hospitalar, mas tem relação com os tratamentos e manejo de enfermidade a longo prazo onde a pessoa assistida precisa ficar internada. Estes três níveis acontecem tanto na saúde pública quanto na saúde privada. Esta última se destaca mais nos níveis secundários e terciários de atenção à saúde. ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE 51 A CRIAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS A saúde no Brasil do século XX foi marcada por várias mudanças contextuais, assim vimos um sistema que transitou do sanitarismo campanhista (início do século até 1965) para o modelo médico-assistencial privado, até chegar, no final do anos 80, ao modelo plural hoje vigente, que tem como sistema público o SUS. Esta nova dimensão tem seu caráter político- ideológico, uma vez que parte de uma concepção ampliada do processo saúde-doença e de um novo paradigma sanitário e tem também seu caráter científico-tecnológico, uma vez que utiliza conhecimentos e técnicas para sua implementação (MENDES,1999). Não podemos dizer que o SUS, enquanto um processo social em marcha, tenha iniciado em 1988 com a sua consagração constitucional2, mas não podemos deixar de registrar este salto qualitativo da saúde brasileira na busca de garantir um sistema único em todo território nacional, garantindo seus princípios doutrinários através dos seguintes preceitos constitucionais: · da universalidade, em que todas as pessoas têm direitos aos serviços do SUS; · da eqüidade, em que é garantido o acesso de qualquer pessoa, em igualdade de condições aos diferentes níveis de complexidade do sistema de saúde. Determinado pelas prioridades epidemiológicas e não pelos privilégios ou favorecimento desigual e; · da integralidade, em que as ações de promoção e recuperação da saúde não podem ser compartimentalizadas. Sua organização está baseada na: · regionalização e hierarquização, em que os serviços devem ser organizados em níveis de complexidade crescente, sempre dispostos numa área geográfica delimitada e com definição da população a ser atendida; · resolutividade, em que os serviços devem resolver os problemas de saúde até o nível da sua competência; · descentralização, em que cabe aos municípios a execução da maioria das ações, cabendo-lhe, principalmente, a responsabilidade política pela saúde de seus cidadãos; · participação dos cidadãos, através do controle social exercido nos Conselhos e Conferências de Saúde de forma paritária com o governo, os profissionais de saúde envolvidos e os prestadores de serviços e, ainda; · complementaridade do setor privado, através da lícita contratação de serviços privados previstos na Carta Constitucional (COSTA & CARBONE, 2004). Paradigma sanitário: modelo de saúde. UNIDADE 4 - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA 52 Ainda segundo as autoras, existe atualmente no mundo inteiro uma forte pressão sobre o sistema de saúde oriunda do aumento da demanda de serviços. Este fenômeno tem várias razões, mas podemos destaca algumas: · as mudanças demográficas motivadas pelo envelhecimento da população, onde esta população, geralmente, padece de mais de uma patologia crônico-degenerativa demandando consultas e controle freqüentes e exames mais sofisticados; · as novas doenças que demandam diagnósticos e tratamentos mais sofisticados; · os novos tratamentos que prolongam a sobrevida e aumentam dependência do acompanhamento médico e, por fim; · a expectativa dos pacientes, que através dos meios de comunicação cada vez mais acessíveis, atualizam-se e exigem do sistema de saúde melhores serviços. São questões como estas que colocam a Atenção Básica e o Sistema Único de Saúde em constante discussão visando seu aprimoramento e sua consolidação, e por se tratar de um processo em marcha, merece destaque, além de ser uma das poucas políticas perenes em nosso país. Como brasileiros e universitários, não podemos ficar de fora desta discussão, pois a consolidação deste sistema é mais que uma necessidadeé a garantia da soberania nacional e da eqüidade entre os filhos desta nação. ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE Não são recentes os problemas com a atenção básica ou primária à saúde no Brasil, desde 1949 quando a OMS passou a conceituar a saúde como sendo um completo estado de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença, ficou evidenciado o conceito ampliado da relação saúde/doença e da necessidade de mudança do foco, que, até então, era na doença e deveria passar para a saúde, ou seja, para a prevenção das doenças e melhoria da qualidade de vida. Conceito este que você já teve oportunidade de aprender. Porém, na contramão desta declaração, a partir da década de 50, houve uma excessiva valorização dos tratamentos medicamentosos em detrimento da prevenção e da elevação da saúde. Nesta mesma época, você deve lembrar, iniciava-se a transição epidemiológica que se ratificou na década de 60 em que as doenças infecto-parasitárias deram lugar às cardiovasculares. Foi então que o foco da saúde começou a ser discutido para a mudança que tantos defendiam. Um fato interessante de se destacar aconteceu em 1974, quando o, então, Ministro da Saúde do Canadá Marc Lalonde, chamou a atenção para os excessivos gastos com os serviços de saúde daquele país, destacando a importância do estilo de vida, da biologia humana e dos fatores ambientais como os principais determinantes do processo saúde/ doença e como tais, merecedores de uma melhor compreensão deste processo multifacetado (COSTA & CARBONE, 2004). Processo multifacetado: processo em que se con- s idera muitos aspectos intervenientes. ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE 53 Esta nova perspectiva de atenção à saúde foi confirmada ainda em vários encontros internacionais, a exemplo da I Conferência Internacional de Promoção de Saúde, também no Canadá em 1986 (Carta de Ottawa), onde se destacou a importância das dimensões socioeconômicas, políticas e culturais sobre o impacto nas condições de saúde da população mundial. Em 1992, no Rio de Janeiro, a Agenda 21 uniu o conceito de saúde ao de cidade saudável, alicerçado numa dimensão tríplice de qualidade de vida, intersetorialidade e participação popular. Em todo o mundo, a reforma da atenção à saúde é uma constante, mesmo para aqueles países com um sistema de saúde mais estável. Boa parte deste ímpeto por reforma, dá-se pelos custos financeiros sempre crescentes, destinados a atenção à saúde. Este fenômeno acontece, em parte, pelo crescente envelhecimento da população, pela ampliação da sobrevivência dos portadores de doenças crônicas que se beneficiaram dos resultado de tratamentos aprimorados, dos custos com equipamentos sofisticados e das drogas mais eficazes no manejo destas doenças (STARFIELD, 2002). Comum entre os sistemas de serviços de saúde pública, são duas as metas internacionalmente aceitas como imprescindíveis: a primeira baseia- se na otimização da saúde da população através da utilização do que há de mais avançado em conhecimento sobre a causa das enfermidades, manejo das doenças e maximização da saúde. A segunda, igualmente importante, trata de minimizar as disparidades entre os subgrupos populacionais, perspectivando evitar as desvantagens da população mais pobre em relação ao acesso aos serviços de saúde do mais alto nível. Duas metas internacionais são imprescindíveis aos sistemas de serviços de saúde pública, são elas: a otimização da saúde da população e a diminuição das disparidades entre os subgrupos populacionais. Diante deste fato e, em reconhecimento às crescentes iniqüidades sociais e de saúde em quase todos os países, a OMS adotou um conjunto de princípios para construir a atenção primária à saúde. Conhecida como Carta de Lubliana, nela ficou proposta que os sistemas de atenção à saúde deveriam ser: · dirigidos por valores de dignidade humana, eqüidade, solidariedade e ética profissional; · direcionados à proteção e promoção da saúde; · centrados nas pessoas, permitindo que os cidadãos influenciem os serviços de saúde e assumam a responsabilidade por sua própria saúde; Iniqüidades sociais: desigual- dades sociais. Iniqüidade, antônimo de eqüidade ou igualdade. UNIDADE 4 - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA 54 · focados na qualidade, incluindo a relação custo-efetividade; · baseados em financiamento sustentável, para permitir a cobertura universal e o acesso eqüitativo e; · direcionados para a atenção primária. (STARFIELD, 2002. p. 19-20). A Comunidade Européia adotou estes princípios em 1996, pois eles têm como base uma longa tradição de luta em direção da eqüidade social. Mas, afinal, como conceituar a atenção primária à saúde? Para Starfield (op. cit), a atenção primária é uma abordagem que forma a base e determina o trabalho de todos os outros níveis do sistema de saúde. Aborda os problemas mais comuns na comunidade, oferece serviços de prevenção, cura e reabilitação para maximizar a saúde e o bem-estar da população. Lida com o contexto onde a doença existe e busca influenciar positivamente as pessoas na resolução de seus problemas de saúde. É também a atenção que organiza e racionaliza o uso de todos os recursos tanto básicos como especializados, objetivando a promoção, manutenção e melhoria da saúde. Diferencia-se da atenção secundária (consulta de curta duração) e da atenção terciária (manejo de enfermidade a longo prazo), pois lida com os problemas mais comuns e menos definidos geralmente próxima à unidade comunitária, tem um caráter mais preventivo, e justamente por estar mais próxima e integrada à comunidade, seus profissionais tem uma posição privilegiada para avaliar a influência dos múltiplos e interativos determinantes da doença e da saúde. Pelo que foi colocado até agora, você já tem uma idéia dos três níveis de atenção à saúde e já percebeu onde a Educação Física melhor se encaixa neste complexo sistema. E mais, pode perceber ainda o quanto é importante para o profissional de Educação Física conhecer melhor o sistema de saúde nacional. Vamos em frente, pois precisamos saber onde melhor nos colocamos profissionalmente. PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA – PSF COMO ESTRATÉGIA DE ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE. A atenção à saúde da família que inicialmente foi proposta em forma de programa (Programa Saúde da Família - PSF) configura-se hoje como a principal estratégia do Governo Federal e do Ministério da Saúde para reorientar o modelo assistencial do SUS a partir da Atenção Básica. Esta estratégia destina-se a realizar atenção contínua nas especialidades básicas, através de uma equipe multiprofissional habilitada para desenvolver as atividades ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE 55 de promoção, proteção e recuperação da saúde, características do nível de atenção primário já apresentado. Porém, é preciso relembrar que esta estratégia foi iniciada em 1991, com a implementação do Programa de Agentes Comunitários – PACs, voltado à redução dos altos índices de mortalidade infantil e materna na Região Nordeste, uma vez que esta região concentrava a maior população em situação de pobreza e, conseqüentemente, mais exposta aos riscos de doenças e mortes (BRASIL, 2002). Estes agentes comunitários eram recrutados e treinados nos postos de saúde ou hospitais existentes na comunidade. Por serem oriundos da comunidade, tinham uma visão mais específica de seus problemas, além de uma maior aceitação pelos membros da comunidade. Esta estratégia desencadeou uma ampla discussão sobre a descentralização e a municipalização dos recursos para a atenção primária à saúde, pois os agentes comunitários passaram a ser um valiosoinstrumento para retratar a realidade social de sua comunidade repercutindo também na análise da reforma do modelo assistencial de saúde. Uma parte desta discussão sustentava-se na insuficiência do PACs para provocar mudanças efetivas na forma de organização dos serviços básicos de saúde. Um outro problema era o reconhecimento da crise do modelo assistencial de saúde que precisava ser enfrentado para consolidar o processo de reforma da saúde brasileira iniciado pela implantação do SUS, que já expressava avanços significativos com a descentralização e a municipalização dos serviços de saúde. Portanto, era preciso romper com o modelo centrado na doença para um novo modelo, agora centrado na saúde. Diante disto, iniciou-se a formulação das diretrizes do Programa Saúde da Família lançado em março de 1994, tendo como principal estratégia atuar diretamente na comunidade, através de uma equipe multiprofissional concebida inicialmente e minimamente por um médico, um enfermeiro, dois técnicos em enfermagem e quatro agentes comunitários; estes assumiriam um território onde vivessem em torno de 4.500 pessoas ou 1.000 famílias. As Equipes de Saúde da Família – ESF - assumiram o desafio da atenção básica e continuada no primeiro nível de atenção à saúde, cumprindo seu relevante papel social de reorganização e reformulação do modelo assistencial de saúde em vigor. O PSF (agora conhecido como ESF) completa hoje 13 anos e atendeu em 2006 mais de 83 milhões de brasileiros, a expectativa é aumentar ainda mais estes número no ano de 2007. UNIDADE 4 - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA 56 Cada ESF é capacitada para conhecer a realidade das famílias pelas quais são responsáveis, elaborando com a participação da comunidade, um plano local para enfrentarem os determinantes do processo saúde/ doença (COSTA & CARBONE, 2004). Diante do que já estudamos até agora e fundamentado na literatura especializada, defendemos que o profissional de Educação Física precisa ser inserido na Atenção Básica à Saúde principalmente no que diz respeito à proteção e promoção da saúde. Você já imaginou o contingente de brasileiros que podem ter sua qualidade de vida melhorada pela nossa intervenção profissional? Pois é, precisamos primeiro nos convencermos disso, aprendermos como funciona o sistema e depois buscar nosso espaço na atenção básica. INSERÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE Em janeiro de 2003, durante a quinquagésima oitava Assembléia Geral das Nações Unidas – ONU - em Paris, os Ministros responsáveis pelo Esporte e pela Educação Física proclamaram que 2005 seria o Ano Internacional do Esporte e da Educação Física3. O objetivo desta assembléia foi o de destinar investimentos dos governos e dos países membros, para de Educação Física e para o Esporte, com a perspectiva de melhoria da educação, da saúde, do desenvolvimento e dos processos de paz. Diante destes fatos recentes, o Governo Federal, através do Ministério da Saúde e de suas secretarias Executiva e de Atenção à Saúde, propôs em 2004 a criação do Núcleo de Atenção Integral na Saúde da Família, proposta essa, que foi promulgada pela portaria nº 1065 de 04 de Julho de 2005,4 com o então Ministro Humberto Costa. Esta portaria destaca a integralidade e a resolubilidade como um dos princípios fundamentais do SUS e um dos pilares da organização da Atenção Básica. A integralidade fundamenta-se em dois princípios: o primeiro destina- se à abordagem do cidadão no seu contexto familiar e social e o segundo refere-se à organização das práticas de saúde, integrando ações de promoção, prevenção, assistência e reabilitação. Outro ponto que merece destaque na fundamentação da criação do Núcleo é o entendimento que o Ministério da Saúde tem de que precisa combater o sedentarismo através do incentivo ao aumento das atividades físicas, buscando minimizar os riscos de desenvolvimento de algumas doenças crônicas, a exemplo das cardiovasculares, do diabetes mellitus e a da hipertensão arterial. ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE 57 Você sabe inclusive o potencial de morbimortalidade destas doenças. Imagine então os custos financeiros que estas doenças causam aos cofres públicos em consultas, medicamentos e internações, além é claro, dos custos com afastamento do trabalho. A proposta de criação do Núcleo de Atenção Integral na Saúde da Família baseia-se na qualificação e ampliação da atenção básica à saúde, através de quatro modalidades de ação em saúde: · alimentação/nutrição e atividade física. · atividade física. · saúde mental. · reabilitação. Estas modalidades serão implantadas em municípios que já são assistidos pelas ESF, com população igual ou superior a 40 mil habitantes, a exceção da Amazônia Legal onde será permitido a instalação em municípios com 30 mil habitantes. É possível percebermos o status da Educação Física, pois é a área que esta presente em duas das quatro modalidades propostas. Outro ponto que está na portaria e que reforça nosso bom momento, é o fato de serem justamente as duas modalidades que podem ser implantadas sem a presença da ESF no município. Além do profissional de Educação Física, participarão deste núcleo profissionais de Psicologia, Assistência Social, Nutricionistas, Fisioterapeutas e Instrutores de práticas corporais. Todos eles incorporando novos saberes e práticas ao processo de trabalho das ESF. Nesta perspectiva, a modalidade Atividade Física (que no primeiro texto recebia a nomenclatura Atividade Física e Saúde) foi concebida buscando desenvolver ações que promovam atividades físicas e práticas corporais, proporcionando a melhoria da qualidade de vida da população e a redução dos agravos e danos decorrentes das doenças crônicas não-transmissíveis. Esta boa notícia demonstra o quanto o Governo Federal está preocupado em implementar políticas públicas no sentido de combater os agravos à saúde, através do fomento às atividades físicas nas suas versões habituais ou do cotidiano, de lazer e/ou esportivas, unindo ações interministeriais (Ministérios da Saúde, da Educação e dos Esportes), além de fazer valer sua função de tutor dos direitos constitucionais de acesso às práticas esportivas5. UNIDADE 4 - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA 58 POLÍTICAS PÚBLICAS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE ATRAVÉS DO INCENTIVO AO ESTILO DE VIDA ATIVO As políticas públicas de incentivo ao estilo de vida ativo devem acontecer nas esferas municipais, estaduais e federais, com a participação e parceria da iniciativa privada e das organizações não-governamentais (ONGs), além da iniciativa pessoal e coletiva dentro da comunidade, ou seja, é da responsabilidade de todos nós. No Brasil, a exemplo do que já acontece na maioria dos países desenvolvidos, várias foram as iniciativas no sentido de elaborar e consolidar políticas públicas de incentivo ao estilo de vida ativo. Uma das principais iniciativas teve início no Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul – CELAFISCS, coordenado pelo Dr. Victor Matsudo, que desde 1996 vem desenvolvendo trabalhos em parceria com as Secretarias de Estado da Saúde de São Paulo, quando foi fundado o Programa Agita São Paulo que tem a coordenação técnico-científica do CELAFISCS. O Programa Agita São Paulo tem vários parceiros nos setores governamentais, não-governamentais e privados, em âmbito nacional e internacional; tem como objetivos principais: aumentar o nível de atividade física e o conhecimento das pessoas sobre os benefícios da atividade física e doestilo de vida ativo. Possui três grandes focos de atuação: escolares, trabalhadores (adultos) e idosos. Ao longo dos anos que se segue, após sua criação, esta brilhante iniciativa cresceu e se multiplicou pelo Brasil e por outros países das Américas. Continuou sua expansão por outros continentes até ganhar seu reconhecimento e notoriedade pela OMS, que instituiu em 2002 a rede mundial “Agita Mundo”. Nesta mesma época, o governo brasileiro criava, através do Ministério da Saúde, o Programa Agita Brasil envolvendo gestores estaduais e municipais do SUS, além, obviamente, de contar com o respaldo técnico-científico do CELAFISCS. Já em 2002, o Agita Mundo conseguiu mobilizar cerca de 148 países, num total de 1.987 eventos espalhados pelo mundo, tendo seu slogan traduzido em 63 diferentes idiomas. Quem diria que uma iniciativa brasileira chegaria a este patamar! E não parou por aí… Recebeu vários prêmios, entre eles: o 1º prêmio do CDC (respeitado Centro de Controle de Doenças de Atlanta, USA em 2004); a participação do programa na Estratégia Global de Promoção de Atividade Física e Nutrição Saudável em combate à Obesidade, promovida pela OMS em 2005 e ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE 59 o reconhecimento do Banco Mundial em 2005 sobre os benefícios (custo- benefício) alcançados pelo programa em âmbito mundial, pois teve o potencial de economizar 310 milhões de dólares, fazendo com que o Banco Mundial o recomendasse como modelo de política pública de saúde para os países membros (MATSUDO, 2006). Para saber mais sobre o programa, acesse: http://www.agitasp.com.br e fique deslumbrado com que já fomos capazes de fazer. Medidas de avaliação e monitoramento da atividade física e saúde Ao falarmos de políticas públicas de incentivo ao estilo de vida ativo precisamos conhecer alguns protocolos de medição de níveis de atividade física habitual geralmente empregados em pesquisas de epidemiologia da atividade física, ou seja, pesquisas populacionais que visam avaliar o impacto do sedentarismo e do estilo de negativo. Neste contexto, ao recorrermos à literatura encontramos mais de 30 diferentes protocolos que se baseiam no método de informações fornecidas pelas pessoas que participam da pesquisa. Estes métodos geralmente trabalham com três diferentes estratégias de coleta de informação, a saber: o questionário, em que a pessoa responde às perguntas preestabelecidas sem a necessidade do pesquisador por perto e configura-se como o mais utilizado, devido sua praticidade e economia; a entrevista, que como a própria palavra diz, pressupõe a presença do entrevistador e é o mais dispendioso desta modalidade de coleta, pois pressupõe a utilização, quase sempre, de gravadores de voz e finalmente, o diário de atividade, onde a pessoa deve levá-lo consigo por alguns dias e anotar tudo que faz. É o mais complexo e mais dependente do envolvimento do avaliado com o estudo. Todos os protocolos devem ser validados com procedimentos estatísticos para garantir a confiabilidade das informações e o nível de reprodutibilidade dos mesmos. Alguns destes instrumentos ganham notoriedade em âmbito mundial pela sua competência e nível de confiança. Outro ponto que estimula a reprodução destes protocolos é a possibilidade de comparação entre as populações pesquisadas, porém eles devem passar por um processo de revalidação para a população específica. Mas, por que isso? Acontece que as perguntas que são elaboradas levam em consideração os aspectos do cotidiano de cada povo/ região, ou seja, as perguntas que são feitas na China, por exemplo, precisam passar por adequação aqui no Brasil. No Brasil temos vários pesquisadores, laboratórios e instituições que se ocupam de desenvolver, aplicar e tratar os resultados de protocolos de avaliação de atividade física e saúde. Podemos destacar, sem demérito dos demais, o NuPAF – Núcleo de Pesquisa em Atividade Física e Saúde, da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, coordenado pelo Profº Dr. Markus Nahas. E o Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul – CELAFISCS, coordenado pelo Dr. Victor Matsudo, o Atividade física habitual (AFH): aqui entendidas como ocupacionais ou de tra- balho, de lazer e esportivas, ou seja, as atividades do dia- a-dia de cada um. UNIDADE 4 - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA 60 qual já falamos anteriormente. Estes dois laboratórios desenvolveram estudos em grupos, lugares e épocas diferentes, com o propósito de revalidar aqui no Brasil a versão 6 do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ), proposto pela OMS em 1998. Posteriormente, apresentaram os resultados de seus estudos em revistas científicas, seminários e congressos. A divulgação destes e de outros trabalhos para a comunidade acadêmica, tornou-se bastante relevante na perspectiva de continuidade e ampliação dos estudos, além, é claro, de podermos comparar os resultados destes estudos em âmbito nacional e até mundial. Caso você tenha se interessado em conhecer mais sobre estes e outros protocolos pode acessar os seguintes endereços eletrônicos: http:// www.celafiscs.org.br - (Celafiscs) e http://www.nupaf.ufsc.br - (NuPAF). Outra preocupação que achamos prudente destacar é com o estado de prontidão para atividade física, pois a pessoa, principalmente adulta, que nunca se envolveu com a prática de atividade física deve tomar alguns cuidados ao iniciar. Com o intuito de prevenir este tipo de risco, a Sociedade Canadense para Fisiologia do Exercício e Saúde propôs o Questionário sobre Prontidão para Atividade Física – PAR-Q, que tem sido recomendado como padrão mínimo de inquérito para iniciação de atividades físicas moderadas em todo o mundo (ACSM, 2000). Este questionário é facilmente encontrado na literatura especializada e na internet6 e constitui-se de sete perguntas objetivas (sim e não). Se a pessoa que responde marcar algum item “sim” deverá procurar um médico antes de iniciar o programa de atividade física. Afinal, prevenir é sempre melhor que remediar! É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA) .Interaja conosco! Na próxima unidade, estudaremos a Educação para a Saúde. Vamos em frente ! NOTAS 1 Ver: http://www.confef.org.br/extra/juris/ 2 Art. 198, BRASIL - Constituição da Republica Federativa do Brasil – 1988. 5ª ed. 1993. p.137. 3 Ver: http://www.unicrio.org.br/Agenda.php 4 Ver: http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2005/GM/GM-1065.htm 5 Art. 217. Constituição da Republica Federativa do Brasil – 1988. 5ª ed. (1993). 6 Veja este enderço, por exemplo:http://www.saudeemmovimento.com.br/conteudos/ conteudo_print.asp?cod_noticia=481
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