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Inclusão e Exclusão na Era Digital

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Incluir ou excluir
Dessa água, eu nunca beberei - incluir-se ou excluir-se, eis o dilema!
Por Jorge Márcio Pereira de Andrade
Conta um antigo relato oriental, daqueles que têm um conteúdo 'parabólico', que Deus preveniu aos homens na Terra que haveria um grande Tsunami, seguido de um terremoto que tragaria todas as águas da terra, trocando-as por outras que enlouqueceriam a todos os seres humanos no mundo. Somente um profeta, um ermitão, tomou esta profecia como verdade. Procurou trazer para sua toca, no alto do monte, vários baldes de água, por ele considerada "pura", para que não lhe faltasse este elemento essencial nos dias que se seguiram. Pouco tempo depois veio o tsunami e o terremoto, que transformou a todas as águas em um novo líquido vital e produziu uma espécie de loucura coletiva, um grande ataque histérico em massa, tornando naturalizada a carnavalização da vida cotidiana, o que fez com que todos acreditassem que era ele, o profeta, o único louco. 
Diz esta estória que o profeta recolheu-se à sua caverna, ficando contente por ter sido o único precavido e prudente. Porém, com o passar do tempo, surgiu uma insuportável solidão, que crescia a cada dia que passava. O profeta saiu de sua caverna várias vezes em busca de alguém idêntico a ele, porém só foi discriminado e intolerantemente afastado de todos os outros seres humanos. Eles eram agora ainda mais diferentes dele. Então o profeta, tornando um filósofo humanista tomou uma sábia decisão: tirou toda a água "pura" que havia guardado somente para ele, bebeu da água "nova e impura" e se incluiu entre os seus semelhantes na "nova loucura" instituída.
Esta metáfora é uma provocação e uma busca de reflexão sobre a posição de isolamento e de fechamento narcísico em nossos movimentos individuais de estranhamento diante das diferenças e da diversidade humana
Idade Mídia
Nossos tempos, por mim denominado de IDADE MÍDIA, é um tempo de aparente coletivização de todos os espaços, como por exemplo, as comunidades virtuais, à moda de Orkuts. Porém ainda mantemos uma dificuldade de entendimento do processo de exclusão, principalmente quando falamos de Novas Tecnologias, Comunicação e Inclusão. os avanços tecnocientíficos, no campo das tecnologias da Informação e Comunicação, são alardeados como as mais sofisticadas e modernas produções industriais, da história da modernidade, principalmente quando utilizamos a palavra "progresso". Um progresso quase sempre emblema do mundo globalizado, palavra da moda, quem sabe mais uma ilusão, ou campo de produção de subjetividades dominadas.
Por isso é necessário questionar, eticamente, o que os avanços favorecem em termos de mudanças de qualidade de vida. Inevitavelmente teremos de pensar tanto em Inclusão como em Exclusão Social, pois ambos fazem como "Janus, o mito greto de duas faces, parte de um mesmo processo. Um processo, como o mito, que tem portas que se abrem e fecham, tanto para o passado com para o futuro. Se olharmos, para uma das faces apenas, acabamos por nos esquecer do "outro lado da moeda",ainda mais num sistema neoliberal de consumo e produção de técnicas e tecnologias, no qual estamos todos "incluídos".
A utilização acrítica e apolítica, de novas tecnologias, por si só, não modificam ou revolucionam as estruturas sociais. Bem como não darão conta, sozinhas, do processo de mudança de mentalidades e de práticas sociais ligadas ao preconceito, estigmatização e vitimização que um sujeito diferente e estranho é submetido. Porém sua utilização, aliadas a um processo educacional, por cidadãos em situação de desvantagem, os que são colocados sob o preconceito, o estigma e vulnerabilização, quaisquer que sejam, podem lhe garantir um processo de equiparação de oportunidades e de criação de alternativas de conscientização político-social de seu papel e direitos em uma comunidade ou movimento social.
Por isso estamos cada mais propondo e produzindo a necessidade de um processo EDUCATIVO INCLUSIVO. Um processo que pressupõe o reconhecimento de diferenças, afirmação de cidadania e equiparação de oportunidades e direitos, com ênfase em uma visão de Direitos Humanos, para todos os brasileiros e brasileiras, sejam eles com ou sem deficiências.
É nos primórdios da formação ético-política e ecosófica dos sujeitos que poderemos inserir alguns princípios ou novos paradigmas, daí a importância de promoção de uma Escola aberta para a formação de cidadãos e cidadãs críticos e com letramento suficiente para compreender que a sua inclusão pode se tornar uma falácia ou engodo, caso este processo ativo não realize seu reconhecimento político e afirme seus direitos.
"Brecha"
Uma única e recente informação comprova a compreensão de que: não basta sair da caverna, beber a água digital dos novos tempos, tornar-se membro de uma comunidade virtual, compactuar com as ilusões cibernéticas do Capitalismo Mundial Integrado. Estamos todos, loucos ou aparentemente sãos, muito mais na Exclusão, em especial a Digital, e na sua "brecha", que separa os que têm e os que não têm acesso. O Comitê Gestor da Internet (www.cgi.br) publicou (recentemente) uma estatística que diz: Cerca de 54% da população brasileira nunca usou um computador e 67% nunca navegou na Internet.
Fica ainda, então, uma pergunta: -e quantos ainda nem freqüentam uma escola?.
Jorge Márcio Pereira de Andrade é psiquiatra, psicanalista, analista institucional e editor responsável do informe InfoAtivo DefNet

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