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8 Fisiologia do Sistema Digestório

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Ludmila AmitranoMannarino Página 71 
 
Fisiologia do Sistema Digestório 
 
O metabolismo celular depende de substrato, ou seja, de nutrientes, água e eletrólitos, que são 
obtidos por meio de processos de digestão e absorção realizados pelo trato gastrintestinal. Durante a 
passagem por esse sistema os alimentos vão sendo digeridos e transformados em moléculas menores, 
para então serem absorvidos pela corrente sanguínea e distribuídos para o corpo. Tudo que não foi 
digerido e absorvido será eliminado do organismo por meio das fezes, junto com a secreção biliar, por 
onde também excretamos produtos do metabolismo. Nessa unidade iremos perceber a variedade de 
estruturas que compõe esse sistema, com diferenças anatômicas, histológicas e funcionais; a 
complexidade da regulação neural, com diversos neurotransmissores; e a importância de vários 
mediadores químicos que interferem no processo digestório. 
 
Funções do sistema digestório 
Quando nos alimentamos, temos como objetivo obter nutrientes para serem ofertados ao sangue e 
assim distribuídos para as células do nosso corpo. Para isso, o sistema digestório promove a quebra dos 
alimentos, por meio da digestão, tornando-os moléculas menores, prontas para serem absorvidas. Como 
nem tudo que ingerimos somos capazes de digerir, e nem tudo é absorvido no trato digestório, esse 
material não digerido e não absorvido será excretado junto com produtos de metabolismo celular 
contidos na secreção biliar, por meio das fezes. Além da água que ingerimos os alimentos também 
fornecem volume aquoso, que serão absorvidos juntamente com a água secretada no trato digestório, 
durante a digestão. 
A digestão resulta na hidrólise de macromoléculas, por processos químicos, realizados basicamente 
pela ação de enzimas e mecânicos, resultantes dos movimentos de trituração (feito pelos dentes), 
peristálticos e de mistura, que auxiliam na quebra dos alimentos ingeridos. Esses processos tem início na 
boca e seguem por boa parte do tubo digestório. 
A absorção dos nutrientes ocorre nos intestino delgado, pois é nessa região que ocorre o término da 
digestão, estando eles aptos a serem absorvidos, além desta região apresentar uma grande superfície de 
contato, resultante de vilosidades da mucosa e microvilosidades da membrana dos enterócitos. Ocorre 
absorção residual de água e eletrólitos no intestino grosso. 
 
Trato gastrintestinal - funções de digestão, absorção, secreção e motilidade 
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Divisão anatômica 
O sistema digestório, anteriormente denominado sistema digestivo, é composto por um tubo oco, o 
trato gastrintestinal (TGI), e pelas glândulas acessórias. O alimento entra no TGI pela boca, sendo 
conduzido para o esôfago, estômago, intestino delgado (duodeno jejuno e íleo), intestino grosso que é 
formado pelo ceco, colón (ascendente, transverso, descendente e sigmoide) e reto, que finalmente 
termina no ânus, por onde as fezes são eliminadas. As glândulas acessórias liberam seu conteúdo no TGI, 
participando da digestão dos alimentos, e são elas as salivares, o fígado e o pâncreas. 
 
Regiões anatômicas do sistema digestório 
 
Histologia funcional e Sistema imune 
Todo tubo digestório, a partir do terço médio até o reto, é formado por uma mucosa, submucosa, 
muscular externa e serosa. Os enterócitos formam a camada epitelial da mucosa e são de diversos tipos, 
exercendo funções como absorção do conteúdo para o sangue, secreção de muco e enzimas para a luz do 
tubo, alem de outros que secretam hormônios que participam do controle da atividade do sistema 
digestório e do comportamento alimentar. A camada muscular da mucosa é formada por uma fina 
camada de músculo liso que promove dobramentos da mucosa, auxiliando nos movimentos de mistura. A 
submucosa é formada por tecido conjuntivo, que permite a distensão da parede, para acomodar o 
conteúdo. A muscular externa é formada por duas camadas separadas de músculo liso, uma longitudinal 
(externa), que encurta o tubo digestório, e uma circular (interna) que diminui o diâmetro do tubo. A 
contração coordenada das duas camadas realizam movimentos de mistura e propulsão do alimento. A 
serosa reveste externamente o TGI, sendo formada por tecido conjuntivo fibroso, que dá sustentação das 
estruturas e pelo mesotélio, mais externamente, que secreta uma solução lubrificante que permite o 
deslizamento dos órgãos entre si. 
O sistema imune do TGI está distribuído pela mucosa e submucosa, sendo formado pelas placas de 
Peyer, que são aglomerados de tecido linfoide e linfonodos, sendo responsável pela defesa contra 
microrganismos presentes nesta região e são capazes de responder a antígenos alimentares. Os 
mediadores inflamatórios, uma vez liberados, irão interferir na secreção e na motilidade do tubo 
digestório. 
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regiões histológicas do trato gastrintestinal 
 
Movimentos gastrintestinais 
Os movimentos gastrintestinais são de propulsão, que propele o conteúdo no sentido boca-ânus (Lei 
do Intestino), devido as contrações peristálticas, que consistem na contração dos músculos circulares 
atrás do conteúdo, e dos longitudinais adiante, conduzindo-o para o segmento seguinte, que está 
relaxado; o de mistura, que ocorre devido as contrações segmentares, que fragmentam o conteúdo em 
porções, aumentando a superfície de contato, além de aumentar o tempo de deslocamento no TGI, 
permitindo que o conteúdo seja misturado as secreções, além de alternar a superfície que fica em 
contato com a mucosa; e o interdigestivo, que ocorre nos intervalos de atividade digestiva, sendo 
contrações intercaladas com um longo período sem atividade (75-90 min imóvel, e 5-10 min de 
movimentos), tendo início no estômago e conduz os resíduos da digestão e bactérias para o intestino 
grosso. 
 
Movimentos do trato gastrintestinal: A-Propulsão, B - Mistura 
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Secreções gastrintestinais 
O volume secretado para dentro do tubo digestório corresponde em média à 7L/dia, que ainda podem 
ser acrescidos de 2L ingeridos voluntariamente, totalizando 9 L, que são praticamente reabsorvidos em 
sua totalidade, sendo eliminado com as fezes apena 0,1L, em média. 
Essas secreções são do tipo enzimáticas, e participam da digestão química dos alimentos; mucóide, 
que são responsáveis pela proteção da mucosa e lubrificação; de íons (sódio, potássio, cloreto, 
bicarbonato e hidrogênio) e água, que corresponde ao maior volume secretado. 
As secreções são produzidas por: 
Glândulas salivares → secreção salivar (1,5 L) 
Células da mucosa gástrica → secreção gástrica (2 L) 
Pâncreas exócrino → secreção pancreática (1,5 L) 
Fígado → secreção biliar (0,5 L) 
Intestino → secreção entérica (1,5 L) 
 
secreções gastrintestinais 
 
Regulação neural da função gastrintestinal 
A regulação da função gastrintestinal é realizada por sistema nervoso intrínseco e extrínseco, além de 
hormônios secretados pelo estômago e intestino delgado. O controle hormonal será abordado mais 
adiante, por enquanto vamos entender a regulação neural. 
O sistema nervoso extrínseco é constituído pela inervação autônoma simpática e parassimpática, 
onde a primeira diminui a atividade digestiva e a segunda aumenta. 
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O sistema intrínseco, também chamado de sistema nervoso entérico é formado por um conjunto de 
células nervosas próprias do sistema digestivo, sendo neurônios sensitivos, que recebem informações 
sobre a composição do conteúdo, o grau de distensão da parede, e sensações de dor e temperatura; 
interneurônios que integram as vias sensitivas, motoras e o sistema extrínseco; e neurônios motores, 
responsáveis em controlar a atividade muscular, secreção glandular e endócrina e o grau de dilatação dos 
vasos sanguíneos.Esses neurônios estão organizados em dois plexos nervosos, o submucoso (ou de 
Meissner) e o mioentérico (ou de Auerbach), localizados respectivamente na submucosa e na muscular 
externa, que atuam regulando as atividades gastrintestinais de forma independente do extrínseco, mas 
podendo ser influenciados por ele. De uma forma geral, o plexo mioentérico regula a motilidade ao longo 
do TGI, enquanto o submucoso controla a função em pequenos segmentos, regulando a secreção, fluxo 
sanguíneo e contração da mucosa (pregueamento). 
Diversos são os neurotransmissores que participam da atividade muscular do TGI, sendo a acetilcolina 
e a substância P responsáveis pela contração, e o peptídeo intestinal vasoativo (VIP) e o óxido nítrico, pelo 
relaxamento. 
 
Regulação neural da função gastrintestinal 
 
Visão geral da digestão e absorção dos principais nutrientes 
 
A digestão de proteínas consiste na quebra de sua cadeia por meio de proteases constituídas pelas 
endopeptidases, que são secretadas inativas e quebram as proteínas em fragmentos de peptídeos e as 
exopeptidases, que liberam aminoácidos pela extremidade da cadeia; e por dipeptidases, que liberam 
aminoácidos dos di e tripeptídeos. 
Os carboidratos (polissacarídeos) são digeridos em dissacarídeos (lactose, maltose e sacarose) pelas 
amilases, e posteriormente em monossacarídeos (glicose, frutose e galactose) pelas dissacaridases. A 
celulose não é digerida pelo homem, mas é importante a sua obtenção na dieta, pois é um importante 
componente fibroso, ajudando na formação e eliminação do bolo fecal. 
Os lipídios são digeridos em monoglicerídeos e ácidos graxos livres, pelas lipases, mas sua digestão 
depende da atuação da bile, que emulsifica as gotas de gordura em pequenas partículas (micelas), onde 
as enzimas conseguem atuar. 
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Os processos envolvidos na absorção são difusão simples e facilitada, transporte ativo e osmose. A 
absorção dos produtos da digestão e da água são feitas pelos enterócitos, principalmente no intestino 
delgado, sendo que ocorre absorção adicional de água e eletrólitos pelo intestino grosso. Os aminoácidos 
e os monossacarídeos são disponibilizados no espaço intersticial, para serem absorvidos pelos capilares 
sanguíneos, sendo que as micelas da digestão de lipídeos formam, nos enterócitos, os quilomicrons, que 
serão absorvidos pelos vasos linfáticos (vasos quilíferos). 
As vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) são absorvidas junto dos lipídeos, e as hidrossolúveis por 
transporte facilitado. A absorção do cálcio é regulada pela vitamina D, que aumenta a eficiência dos 
mecanismos de transporte envolvidos. E a absorção de ferro é facilitada pela vitamina C, que forma com 
este um complexo solúvel. 
 
Função dos órgãos que compõe o sistema digestório boca (cavidade oral) e esôfago 
 
A boca é o primeiro seguimento do tubo digestivo, sendo o local onde o alimento inicia a digestão 
mecânica pelos movimentos de mastigação, fazendo com que o alimento seja triturado pelos dentes. 
Conforme o alimento é mastigado ele é misturado à secreção salivar com auxílio da língua, onde se 
encontram papilas gustativas, que juntamente com olfato participam da sensação do sabor dos 
alimentos. 
A secreção salivar é produzida pelas glândulas salivares (extrínsecas) que ocorrem em pares, sendo 
que as sublinguais e submandibulares possuem secreção serosa e mucosa, enquanto que as parótidas 
possuem secreção exclusivamente serosa. A secreção mucoide tem como função lubrificar o bolo 
alimentar para facilitar a deglutição, e a serosa possui a enzima amilase salivar (ptialina) que digere o 
amido em oligossacarídeos, além de favorecer a fluidificação do bolo alimentar. Existem ainda as 
glândulas intrínsecas, localizadas sob a membrana mucosa da boca, lábios, bochechas e língua, que 
secretam apenas muco. O pH da saliva varia entre 6,2 a 7,2, de acordo com o fluxo. 
Fora do momento digestivo, ocorre secreção salivar em torno de 0,5 mL/min, sendo esta 
predominantemente mucoide. E durante a alimentação o volume de saliva aumenta, variando de acordo 
com o alimento ingerido, sendo controlado principalmente pelo sistema nervoso autônomo, onde a 
ativação parassimpática aumenta o volume seroso e a simpática diminui. Os estímulos para secreção 
salivar podem ser classificados em 3 fases, e ocorrem por reflexo parassimpático mediado por núcleos 
situados na ponte e bulbo, e consistem na fase psíquica, que ocorre por estímulo visual, olfativo ou 
simplesmente pela lembrança do alimento; na fase gustativa em que o estímulo é desencadeado pela 
presença do alimento na boca; e a terceira fase é a gastrintestinal, em que a saliva continua a ser 
secretada mesmo após a deglutição, sendo importante para limpeza esofagiana de alimentos que possam 
ter ficado retidos. 
São funções da saliva: 
 Limpeza mecânica de restos alimentares e bactérias, além da lubrificação das superfícies orais, 
 Atividade antimicrobiana, por secreção de lisozima, enzima que age sobre a parede microbiana; de 
Íons tiocianato, que penetram na bactéria e interferem no seu metabolismo; e de anticorpos, que 
atuam principalmente nas bactérias causadoras de cárie, 
 Dissolução de compostos para percepção do paladar, 
 Facilitação da fala, mastigação e deglutição, 
 Digestão inicial de amido, 
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Limpeza esofagiana e tamponamento do ácido gástrico após refluxos gástricos que podem ocorre 
normalmente. 
A deglutição é uma ação predominantemente reflexa, controlada pelo centro nervoso da deglutição, 
localizado na ponte e bulbo, podendo ser dividida em 3 fases: 
Fase oral ou voluntária → onde a língua por um movimento voluntário empurra o alimento para 
região da faringe, estimulando os receptores táteis que ativam no centro de deglutição, que está 
localizado no bulbo, o reflexo da deglutição que é involuntário. 
Fase faríngea → por ação reflexa e involuntária ocorrendo contrações musculares que impedem o 
refluxo para nasofaringe; fechamento da glote e inibição da respiração, para evitar que o alimento entre 
nas vias respiratórias; relaxamento do esfíncter faringiano superior (EES), e início da onda peristáltica, que 
direciona o bolo alimentar para o esôfago. 
Fase esofágica → corresponde a passagem do bolo alimentar da faringe em direção ao estômago, 
sendo necessário o relaxamento receptivo do esôfago e do esfíncter esofagiano inferior (EEI) 
Podemos dizer que o esôfago é um canal de passagem para o estômago, possuindo apenas uma 
secreção mucoide, que protege a mucosa de abrasões de alimentos e da secreção ácida do estômago, que 
pode refluir. Ocorrem duas ondas peristálticas, a primária e a secundária, onde a segunda remove o que a 
primeira não conseguiu remover de forma efetiva. 
 
Deglutição 
 
Estômago 
As funções do estômago são: iniciar a digestão enzimática de proteínas; misturar o alimento com as 
secreções gástricas; funcionar como um reservatório do alimento ingerido, liberando o produto da 
digestão de forma gradativa para o intestino delgado; esterilizar o bolo alimentar, devido sua secreção ser 
ácida; e produção do fator intrínseco, importante para absorção da vitamina B12 no intestino delgado. A 
digestão no estômago resulta na formação do quimo, que apresenta uma consistência mais líquida e 
ácida. 
Estruturalmente o estômago pode ser dividido em fundo, corpo e antro. As duas primeiras regiões 
acomodam grande quantidade de alimento sem aumentar a pressão interna, pois com a deglutição e a 
distensão do esôfago, ocorre a liberação do peptídeo intestinal vasoativo e do óxido nítrico, que 
promovem um relaxamento acomodativo, permitindo o armazenamento do conteúdo que será liberado 
gradativamente para o duodeno. O Antro possui uma parede muscular espessa, sendo responsável pela 
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digestão mecânica (fragmentação) e mistura. O Piloro é o esfíncter que separa o estômago do intestino 
delgado, sendo responsável por controlar a passagem do alimento. 
O estômago produz em média 2 L de secreção por dia, sendo que no período interdigestivo essa 
secreção é de alguns mL/h, com predomínio de secreção mucoide. Devido a estímulos emocionais, o 
volume secretado pode chegar a mais de 50 ml/h, com uma composição mais ácida e com maior 
quantidade de enzima. O início da secreção gástrica ocorre pelos mesmos fatores que estimulam a 
secreção salivar, mas a efetiva é determinada pela presença do alimento no estômago, que estimula os 
receptores de estiramento e quimiorreceptores. Diversas células participam da secreção gástrica e do seu 
controle. Vejamos a seguir: 
O ácido clorídrico (HCl) é produzido pelas células parietais e torna a secreção bastante ácida, com pH 
em torno de 1,5 a 2,0. Essa secreção ácida tem função catalisadora, pois ativa a protease gástrica; 
antisséptica, pois poucos microrganismos sobrevivem em pH tão baixo; além de facilitar a desnaturação 
de proteínas dos alimentos. Sua secreção é estimulada pela acetilcolina, liberada pelo nervo vago 
(parassimpático); pela histamina, produzida pelas células enterocromoafins, que possuem ação parácrina 
atuando sobre as células parietais intensificando a secreção de HCl; e pela gastrina, que é produzida pelas 
células G, e tem como estímulo de secreção os peptídeos e aminoácidos presentes no próprio estômago, 
e atuam por ação endócrina estimulando as células parietais e as células enterocromoafins. As 
prostaglandinas, produzidas pelas células intersticiais, por ação parácrina inibem a secreção de HCl, e 
possuem uma secreção tônica. 
As células epiteliais da mucosa gástrica secretam muco e bicarbonato, que formam uma barreira de 
proteção contra a secreção ácida do estômago. 
A secreção enzimática do estômago é estimulada pelo nervo vago e pelo aumento da acidez no 
estômago. As células principais secretam pepsinogênio, que é uma protease inativa, sendo necessário o 
pH baixo para transforma-lo em pepsina, que é ativa e atua sobre as proteínas. Logo, o início da digestão 
das proteínas estimula a secreção de gastrina, que intensifica a digestão de mais proteínas por aumentar 
a acidez, que estimula mais secreção de pepsinogênio. Pequenas quantidades de lipase e amilase gástrica 
são secretadas, mas não exercem grande importância no processo da digestão das gorduras e 
carboidratos. 
As células parietais, além do HCL secretam o fator intrínseco, que é uma mucoproteina responsável 
pela absorção da vitamina B12 no íleo. 
O esvaziamento gástrico é gradativo, pois a contração que inicia no corpo do estômago (porção 
média) propele o conteúdo em direção ao piloro, mas também promove a contração desse esfíncter, 
limitando o conteúdo que é passado para o duodeno. O volume que permanece no estômago, por um 
movimento de retropropulsão, retorna as porções anteriores do estômago, o que ajuda na digestão 
mecânica e na mistura. O controle do esvaziamento gástrico é importante para que haja condições de 
neutralizar a acidez do conteúdo que chega ao duodeno, e para que possa ocorrer a digestão e absorção 
dos nutrientes pelo intestino delgado. O tipo de alimento influencia o tempo de esvaziamento, onde 
proteínas, gorduras, fibras e alimentos mal mastigados promovem maior lentidão, e água, carboidratos, 
porções pequenas de alimento aumentam rapidez no esvaziamento gástrico. A distensão do duodeno, e o 
conteúdo ácido, também retardam o esvaziamento gástrico. 
 
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Glândula gástrica 
 
Intestino delgado (ID) 
É no ID que ocorre o término da digestão dos alimentos, que consiste na formação do quilo, uma 
solução rica em nutrientes que serão absorvidos nesta região. Anatomicamente corresponde à maior 
porção do tubo digestório, chegando a medir no indivíduo vivo de 2,5 a 3 metros de comprimento (após a 
morte, com o relaxamento muscular, chega a 8 metros). É dividido em três porções: o duodeno, região 
mais curta, com 30 cm, o jejuno e o íleo, que correspondem às porções finais. O duodeno recebe as 
secreções pancreáticas e a biliar, e junto com o jejuno formam a região onde ocorre a maior parte da 
digestão e absorção dos nutrientes. O ID está separado do intestino grosso pela esfíncter (válvula) 
ileocecal. 
O intestino delgado apresenta adaptações morfofuncionais que favorecem a digestão e, 
principalmente a absorção dos nutrientes. A grande superfície de contato do ID é resultante de dobras 
circulares, que são resultantes de pregueamento da mucosa; das vilosidades, que são projeções da 
mucosa; e microvilosidades, que são projeções da membrana dos enterócitos. E a absorção é favorecida 
pela grande quantidade de vasos sanguíneos e linfáticos que está interposto nas vilosidades. 
Essas adaptações chegam a aumentar em até 1.000 vezes a área, dando um total de 250 metros 
quadrados de superfície, ou mais!!! 
 
Adaptações morfofuncionais do intestino delgado - a- dobras circulares b- vilosidades c- 
microvilosidades 
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Adaptações morfofuncionais do intestino delgado – vascularização 
 
O quimo, que é ácido, quando passa pelo piloro e distende a parede do duodeno, estimula a mucosa a 
secretar dois hormônios endócrinos, a secretina, pelas células S e a colecistoquinina (CCK), pelas células I, 
que irão interferir na secreção pancreática e biliar, sendo que a secretina promove o fechamento do 
piloro, retardando o esvaziamento gástrico. São três as secreções que atuam no intestino delgado: a 
pancreática, a biliar e a entérica. 
A secreção pancreática é rica em enzimas que atuam sobre as proteínas, carboidratos e gordura, que 
são secretadas pelas células acinares do pâncreas. As principais são a tripsina e quimiotripsina, que atuam 
sobre as proteínas (são secretadas inativas); a amilase pancreática e a lipase pancreática, que digerem 
carboidratos e gorduras, respectivamente. As células do ducto pancreático liberam uma secreção aquosa 
rica em bicarbonato, que tem como função neutralizar a acidez, tendo em vista que as enzimas são ativas 
em pH alcalino. 
O estímulo para secreção pancreática ocorre pelo nervo vago, que atua sobre as células acinares e dos 
ductos; pela CCK e gastrina que estimulam as células acinares a liberarem conteúdo enzimático; e pela 
CCK e a secretina que estimulam a secreção da solução de bicarbonato de sódio, pelas células dos ductos. 
A composição da secreção é influenciada pelo conteúdo do quimo, onde pequenos peptídeos, 
aminoácidos e ácidos graxos estimulam a secreção de CCK; peptídeos e aminoácidos presentes no 
estômago estimulam a secreção endócrina da gastrina que além de favorecer a secreção gástrica ácida, 
estimula a secreção enzimática do pâncreas; o pH baixo do quimo estimula a liberação de secretina, 
favorecendo a secreção aquosa, rica em bicarbonato. 
As fases de secreção pancreática são: fase cefálica e gástrica, que estimulam, por meio do nervo vago 
e da gastrina, uma secreção predominantemente enzimática e pouco fluida; e a fase intestinal, 
desencadeada pela presença do quimo no duodeno, por meio da secretina e da CCK, que favorecem a 
secreção fluida, além de mais secreção enzimática. 
A secreção flui pelo ducto pancreático que une-se ao ducto hepático antes de desembocar no 
duodeno através da papila de Valter que é circundada pelo esfíncter de Oddi 
O fígado é um órgão que desempenha diversas funções, como metabolismo de diversos substratos, 
síntese de proteínas plasmáticas, armazenamento de ferro e vitaminas, degradação de hormônios, 
remoção de eritrócitos velhos do sangue entre outras, mas a produção da secreção biliar é o evento que 
interfere no trato digestório. 
A bile é produzida de forma contínua peloshepatócitos, e durante o período interdigestivo é 
conduzida para a vesícula biliar, pelo ducto cístico, onde é armazenada e desidratada, pois ocorre 
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absorção da água junto dos eletrólitos, o que a torna mais concentrada. Sua composição é de sais biliares, 
colesterol, fosfolipídios e pigmentos biliares, sendo isenta de enzimas. A função consiste em emulsificar a 
gordura, permitindo sua digestão e a absorção, além de excreção de produtos de metabolismo hepático, 
como a bilirrubina que é proveniente da degradação de hemácias. 
A gordura tende a formar gotas que não se misturam com a fase aquosa do tubo digestório, o que 
dificulta a ação das lipases. Os sais biliares são anfipáticos, ou seja, possuem porções hidrofílicas e 
hidrofóbicas, de modo que misturados com as gotas de gordura, pelos movimentos intestinais, quebram 
as gotas maiores (ação emulsificante), formando pequenas gotículas de gordura, as micelas, que 
possibilitam maior interação das enzimas com seus substratos. As micelas, contendo os produtos da 
digestão das gorduras, mais colesterol e vitaminas lipossolúveis, são absorvidas pelos enterócitos. 
A bilirrubina é um pigmento amarelo que é formado a partir da degradação das hemácias, sendo 
eliminada na bile. Na luz intestinal ela é convertida a urobilinogênio, que parte é reabsorvida pelo 
intestino e excretada na urina dando a cor amarelada, e parte é oxidada formando urobilina e 
estercobilina, que são excretadas pelas fezes, dando a coloração acastanhada. 
 
Estruturas da secreção pancreática e biliar 
As etapas da secreção biliar são: 
Secreção contínua de ácidos biliares, colesterol e outros compostos orgânicos, pelos hepatócitos, que 
serão conduzidos pelos canalículos biliares até os ductos hepáticos. O aumento de secreção é estimulado 
pela CCK, durante o período digestivo. 
Os ductos hepáticos possuem células que produzem uma solução aquosa de sódio e bicarbonato que 
é conduzida até o ducto hepático comum. O aumento de secreção é estimulado pela secretina, que pode 
aumentar em até 100% o volume, durante o período digestivo. 
O ducto hepático comum e o ducto cístico (vesícula biliar) confluem formando o colédoco (ducto biliar 
comum), que desemboca junto com o ducto pancreático no duodeno através da ampola de Valter que é 
circundada pelo esfíncter de Oddi . 
A secreção biliar durante a digestão ocorre pela presença de alimento, principalmente gorduroso no 
duodeno, que favorece a secreção hepática estimulada pela CCK e secretina, sendo que a CCK também 
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contrai a vesícula biliar além de relaxar o esfíncter de Oddi, permitindo o esvaziamento da vesícula e a 
liberação das secreções hepática e biliar no duodeno. 
Podemos concluir que a secreção hepática é somada a secreção da vesícula, e nos casos em que 
ocorre a remoção cirúrgica da vesícula biliar, não compromete a secreção hepática, sendo a bile liberada 
no duodeno menos concentrada. 
A secreção entérica é formada por muco alcalino, suco digestivo e secreção enzimática. O muco 
alcalino é produzido pelas glândulas de Brunner na porção inicial do duodeno, tendo a secreção 
estimulada pelo nervo vago, pela presença do conteúdo no intestino e por hormônios gastrintestinais, 
principalmente a secretina. Sua função é proteção da mucosa intestinal contra a secreção ácida e péptica 
proveniente do estômago. 
Suco digestivo é produzido nas Criptas de Lieberkühn, que são depressões presentes em todo ID, 
localizadas entre as vilosidades, sendo possível identificar dois tipos de células epiteliais secretoras, as 
células caliciformes, que secretam muco (lubrificação e proteção) e os enterócitos, que secretam água e 
eletrólitos. O estimulo para secreção é o mesmo da secreção mucoide, sendo importante a CCK. Sua 
função é favorecer as reações enzimáticas (hidrólise), o transporte dos substratos para borda em escova e 
a absorção dos nutrientes, além de proteção da ação irritante (mecânica ou química). 
A secreção enzimática é feita pelas células absorvitivas da vilosidade, e a maioria das enzimas ficam 
sobre as microvilosidades (borda em escova), onde digerem o alimento enquanto estão sendo absorvidos. 
As principais enzimas são as dipeptidases, dissacaridases, lipases intestinal, proteases, amilase intestinal e 
enteroquinase. A enteroquinase atua no tripsinogênio (secretado pelo pâncreas), convertendo-o em 
tripsina, que é a forma ativa, e a própria tripsina é responsável pela ativação das outras proteases 
pancreáticas. 
 
Mucosa duodenal 
De uma forma geral, podemos dizer que a CCK é responsável por uma secreção mais concentrada, 
tanto pancreática, como entérica e hepática, além de favorecer o relaxamento do esfíncter de Oddi e a 
contração da vesícula biliar. Por outro lado, a secretina favorece o fechamento do piloro e estimula as 
três secreções, sendo estas mais fluidas e alcalinas. 
Os movimentos do Intestino delgado são de mistura e de propulsão, permitindo que o quimo seja 
misturado às secreções entéricas, pancreática e biliar, além de alternar a superfície exposta à membrana 
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e condução do conteúdo para a válvula ileocecal. O transito intestinal é relativamente lento, durando, em 
média de 3 a 5 horas, o que permite a digestão completa do conteúdo e a absorção dos nutrientes. O 
controle dos movimentos intestinais é realizado pelo reflexo gastroentérico, onde a distensão do 
estômago ativa o plexo mioentérico intestinal, além da presença do quimo no duodeno. As secreções 
gastroduodenais interferem na movimentação, onde a gastrina e a CCK aumentam o peristaltismo, e a 
secretina retarda. 
 
Intestino grosso (IG) 
O IG é formado pelo ceco, cólon e reto. O ceco recebe de 500 a 1500 mL de quilo/dia, sendo que 
praticamente já ocorreu a absorção de todos os nutrientes, permanecendo um volume residual de água 
com eletrólitos, material não digerido e bactérias. O ceco é uma bolsa que continua na sua porção inferior 
com o apêndice vermiforme vestigial, que é um órgão oco e muscular com uma mucosa com tecido 
linfoide, tendo a função de defesa contra microrganismos nesse local do tubo digestivo. A porção superior 
do ceco comunica com o cólon ascendente, que é contínuo com o descendente, transverso e sigmoide, e 
finalmente com o reto, que termina no esfíncter anal. A função do ceco é absorção de água e eletrólitos, 
armazenado o material fecal até sua eliminação. 
A mucosa nessa região do trato gastrintestinal não apresenta vilosidades, mas possui as criptas de 
Lieberkühn, sendo estas formadas principalmente por células produtoras de muco. As outras células 
secretam íon bicarbonato, sendo, portanto a secreção no IG de muco alcalino, apenas, com objetivo de 
proteger a mucosa de escoriações, da atividade microbiana da massa fecal (formação de ácidos), além de 
manter o material fecal unido (aderência), favorecendo o deslocamento das fezes. O controle da secreção 
ocorre por estimulação tátil direto nas células da mucosa, por reflexos locais sobre as criptas de 
Lieberkühn e estímulo parassimpático. 
A camada muscular longitudinal na região do ceco é descontínua e forma faixas estreitas 
denominadas tênias do colón. A motilidade no IG consiste em contrações circulares somadas a contração 
das tênias cólicas. Essas contrações lentas e constantes no ceco e cólon ascendente permitem a absorção 
de água, pois leva de 8-15 h para chegar ao cólon transverso. Quando o conteúdo chega ao cólon 
transverso, a distensão de sua parede estimula movimentos de propulsão em massa, que consiste em 
contração circular que progride em toda extensão, onde os segmentos permanecem contraídos por mais 
tempo, deslocando todo conteúdo até o colón sigmoide, onde as fezes ficam armazenadas até serem 
eliminadas pelo reflexo da defecação. O movimento em massaocorre de 1 a 3 vezes por dia, sendo 
intensificados pelos reflexos gastrocólico (distensão do estomago) e reflexos duodenocólico (distensão do 
duodeno). 
Normalmente o reto não tem fezes, e com a contração em massa do colón, a distensão da parede 
desencadeia o reflexo da defecação, que consiste no aumento do peristaltismo do colo descendente, 
sigmoide e reto, forçando as fezes em direção ao ânus e relaxamento do esfíncter anal interno, mas a 
defecação de fato depende do relaxamento do esfíncter anal externo, que é de controle voluntário. A 
defecação é auxiliada pela inspiração profunda, contração dos músculos abdominais com a glote fechada, 
que aumentam a pressão intra-abdominal sobre as alças intestinais. 
Ludmila AmitranoMannarino Página 84 
 
 
Intestino Grosso 
Movimentos gastrintestinais especiais 
A presença de substância irritante no trato gastrintestinal estimula o aumento da secreção de muco, 
para proteger a mucosa, podendo ainda aumentar a velocidade do peristaltismo, que resulta na diarreia, 
pois o rápido transito intestinal impede a absorção da água e dos nutrientes. Outro evento possível de 
acontecer é o vômito, em consequência do movimento antiperistáltico, resultante de uma forte 
contração da parede visceral, que promove o peristaltismo no sentido inverso. 
O estímulo no centro nervoso do vômito, localizado no bulbo, resulta na sensação de náuseas, que se 
persistir irá desencadear o reflexo do vômito, com fechamento da glote, impedindo o acesso às vias 
respiratórias, relaxamento dos esfíncteres esofagianos e contração do diafragma e músculos abdominais, 
favorecendo o retorno do conteúdo do estômago para o esôfago para ser expelido. É possível refluir com 
o conteúdo desde o intestino delgado, em sua porção mais distal, o íleo, sendo mais difícil do intestino 
grosso devido a válvula ileocecal e o conteúdo ser menos fluido. 
 
Exercício 
 
1.Não é função do sistema digestório: 
a) Digerir alimentos transformando-os em nutrientes 
b) Absorver os nutrientes 
c) Eliminar o resto não digerido pelas fezes 
d) Produzir os hormônios que controlam a glicemia 
 
 
Ludmila AmitranoMannarino Página 85 
 
2.Assinale a alternativa incorreta quanto à função da secreção ácida do estômago: 
a) Facilita a fragmentação de macromoléculas 
b) Possui ação antisséptica contra a maioria das bactérias 
c) Ação catalisadora, por transformar o pepsinogênio em pepsina. 
d) Ação protetora contra sua própria secreção 
 
3.A importância das secreções entéricas, biliar e pancreática alcalinizarem o intestino delgado é: 
a) Permitir o peristaltismo 
b) Ajudar na emulsificação de gorduras 
c) Permitir a atuação das enzimas 
d) Lubrificar o quilo 
 
4.A utilização de antiácidos interfere no pH gástrico prejudicando a ativação de uma enzima. A 
consequência será: 
a) Interferir na digestão péptica 
b) Interferir na digestão facilitada pela bile 
c) Inibição das enzimas pancreáticas 
d) Diminuição da produção de muco 
 
5.O evento que permite que a absorção dos nutrientes ocorra à nível do intestino delgado é: 
a) Maior superfície de contato 
b) Movimentos peristálticos 
c) Lei do intestino 
d) Produção de muco 
 
6.Assinale o evento que permite que alimento seja conduzido no sentido boca-ânus. 
a) Movimentos de mistura 
b) Movimentos peristálticos de propulsão 
c) Deglutição 
d) Fechamento dos esfíncteres 
 
7.Assinale a alternativa que indica corretamente as glândulas exócrinas do trato digestório: 
a) Parótidas, sublinguais e submandibulares. 
b) Parótidas, fígado e baço. 
c) Salivares, fígado e pâncreas. 
d) Fígado, pâncreas e baço. 
 
Ludmila AmitranoMannarino Página 86 
 
8.O seguimento do trato digestório responsável em secretar a colecistocinina e a secretina é: 
a) Esôfago 
b) Estômago 
c) Duodeno 
d) Ceco 
 
9.Explique o porquê de boa parte da absorção dos nutrientes ocorrer no intestino delgado. 
 
10.Explique o que é a lei do intestino. 
 
Gabarito 
1. D 
2. d 
3. C 
4. A 
5. A 
6. B 
7. C 
8. C 
9.O intestino delgado apresenta adaptações morfofuncionais que favorecem a absorção dos 
nutrientes, que são: a grande superfície de contato resultante de dobras circulares, resultantes do 
pregueamento da mucosa; de vilosidades, que são projeções da mucosa; e de microvilosidades, que são 
projeções da membrana dos enterócitos. Além de grande quantidade de vasos sanguíneos e linfáticos 
interpostos nas vilosidades. 
10.O movimento gastrintestinal de propulsão propele o conteúdo no sentido boca-ânus (Lei do 
Intestino), devido à contração dos músculos circulares atrás do conteúdo, e dos longitudinais adiante, 
conduzindo-o para o segmento seguinte, que está relaxado

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