Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ludmila Amitrano Mannarino Página 38 Fisiologia do Sistema Circulatório O sistema circulatório é composto pelo coração e pelos vasos sanguíneos, contando com a colaboração dos vasos linfáticos, sendo o responsável pela circulação de sangue e líquidos corporais, nos diversos tecidos do nosso corpo. Desta forma, oferta às células os elementos essenciais ao metabolismo, assim como remove os seus produtos resultantes, além de transportar, entre outros elementos, as substâncias que fazem a comunicação entre as células (hormônios), os elementos envolvidos na defesa do organismo (relacionados ao sistema imune) e as substâncias que devem ser excretadas, aos tecidos relacionados a essa função. Participa também da regulação da temperatura corporal e dos ajustes necessários em condições especiais, como no exercício, nas mudanças posturais e até mesmo nas hemorragias. Sendo assim, esse sistema colabora com a manutenção da homeostasia por auxiliar na manutenção do meio interno em condições para a célula possa manter-se viva e exercer sua função. O sangue é transportado pelo sistema circulatório dentro dos vasos sanguíneos graças à força propulsora realizada pelo coração. Esses vasos formam um circuito "aparentemente" fechado, saindo do coração pelas artérias e retornando pelas veias, mas a nível tecidual ocorre a formação de capilares, que é o seguimento vascular que permite a troca de água e substâncias, entre os compartimentos teciduais e vasculares. Como o retorno de líquidos nos capilares é menor do que foi ofertado, o sistema linfático atua de forma acessória nessa drenagem, transportando pelos vasos linfáticos um líquido semelhante ao intersticial, acrescido de elementos que não são capazes de serem captados pelos capilares teciduais, como proteínas e corpos estranhos. Uma particularidade da circulação linfática é o seu início em capilares linfáticos no tecido, que convergem formando vasos de maior calibre que formam os ductos (linfático direito e torácico) que desembocam na circulação venosa, já próximo ao coração. A circulação do sangue ocorre em dois circuitos, circulação sistêmica (grande circulação) e circulação pulmonar (pequena circulação), onde a primeira disponibiliza a chegada do sangue a todos os seguimentos corporais, ocorrendo a distribuição em circulações especiais, que exercem funções específicas relacionadas a cada sistema irrigado, além de nutrição e troca gasosa; enquanto a segunda, somente ao pulmão, permitindo a obtenção do oxigênio e a liberação do gás carbônico. O estudo do sistema circulatório será realizado baseado na função das estruturas anatômicas que o compõem e nos eventos resultantes desse funcionamento. Ludmila Amitrano Mannarino Página 39 Coração O coração é uma estrutura muscular oca, localizada no centro da caixa torácica, que recebe o sangue por veia para impulsioná-lo para a artéria. Histologicamente é constituído pelo: Pericárdio – membrana serosa que envolve externamente o coração, dividida em dois folhetos, o visceral ou epicárdio (em contato com o coração) e o parietal ou saco fibroso (em contato com a cavidade torácica). Entre os folhetos existe um líquido seroso (líquido pericárdico) que tem a função de diminuir o atrito do coração quando ele realiza seus movimentos de contração (sístole) e relaxamento (diástole). Miocárdio – é a porção muscular que é intermediária, sendo responsável pelo movimento bombeador do coração. Endocárdio – é o tecido interno, revestindo as cavidades, as válvulas cardíacas, além de todo o seguimento vascular. Anatomicamente é possível identificar 4 câmaras cardíacas (dois átrios e dois ventrículos) dispostas em dois lados que não se comunicam, separados por septos, o lado direito e o lado esquerdo cada um com o respectivo átrio e ventrículo. Ciclo Cardíaco O sangue chega aos átrios pelas veias, passando para os ventrículos e desses para as artérias. O que permite o fluxo unidirecional nos dois circuitos são as válvulas atrioventriculares (AV), localizadas entre os átrios e seus respectivos ventrículos, sendo a tricúspide no lado direito e bicúspide ou mitral, no esquerdo; e as válvulas semilunares, a aórtica entre o ventrículo esquerdo e a artéria aorta, e a pulmonar que separa o ventrículo direito da artéria pulmonar. A abertura e o fechamento das válvulas são reguladas pelas pressões internas de cada seguimento. Reparem que a musculatura ventricular é mais espessa que a atrial, pois exercem mais força para conseguir bombear o sangue a uma distância maior, sendo a do ventrículo esquerdo mais desenvolvida que a do direito, para conseguir vencer a resistência oferecida pela artéria aorta, que é maior que a oferecida na pulmonar. Ludmila Amitrano Mannarino Página 40 O ciclo cardíaco é o período compreendido entre duas sístoles ventriculares, e consiste em uma sequência de eventos percebidos pelas fases de sístole (contração) e de diástole (relaxamento) ventricular. Vejam a sequencia de eventos: O retorno venoso, que é a chegada do sangue no coração pelas veias, é possível porque a pressão atrial é menor do que a venosa, tendo em vista os átrios estarem em diástole. Como os ventrículos também estão relaxados, as AV permitem o escoamento do sangue para esta câmara. Com a sístole atrial, ocorre esvaziamento dos átrios e o término do enchimento dos ventrículos, que ainda estão relaxados. Ocorrendo a diástole atrial, a pressão é menor nos átrios do que nos ventrículos, forçando o fechamento das AV, e coincide com a fase de contração isovolumétrica dos ventrículos, que corresponde ao momento em que estão cheios de sangue e as válvulas AV e semilunares estão fechadas, não havendo movimentação de sangue nessa câmara. Quando a pressão de contração é suficiente, as semilunares se abrem e inicia a ejeção ventricular, que conduz o sangue em direção às artérias, não refluindo para as câmaras atriais devido as AV se abrirem somente no sentido dos ventrículos. O relaxamento isovolumétrico é o momento em que inicia a diástole ventricular, as válvulas AV estão fechadas e as semilunares se fecham devido à diminuição da pressão nos ventrículos em relação às artérias, impedindo o refluxo para as câmaras ventriculares. Como a pressão é menor também em relação aos átrios, as AV abrem permitindo o escoamento do sangue. Em resumo, as atrioventriculares se abrem para passagem do sangue dos átrios para os ventrículos, e se fecham impedindo o refluxo de sangue para os átrios quando ocorrer a sístole ventricular. As semilunares se abrem permitindo o fluxo em direção as artérias, e se fecham impedindo o refluxo para o ventrículo quando este estiver em diástole. Ludmila Amitrano Mannarino Página 41 As bulhas cardíacas são sons produzidos pela atividade cardíaca. Com o uso de estetoscópio podem ser percebidos dois sons, um mais forte e outro mais fraco. O primeiro corresponde ao momento do fechamento das válvulas atrioventriculares, e o segundo das semilunares. O volume sistólico é o volume de sangue ejetado em "jorros" nas artérias a cada sístole ventricular, promovendo a pulsação arterial. Quando comprimimos uma artéria sobre um superfície dura (tomada de pulso radial ou carotídeo), estamos verificando a frequência cardíaca, ou seja, o número de batimentos cardíacos por minuto. Essa frequência sofre alterações quando estamos em repouso ou em atividade, oscilando entre 60-100 batimentos por minuto, com a média de 80. Já nas crianças, oscila entre 80-120 batimentos por minuto, tendo em vista o metabolismo ser mais intenso, o que requer maior atividade cardíaca para atender a demanda corporal. O débito cardíaco é o volume de sangue ejetado em cada circuito cardíaco por minuto, sendo,portanto uma consequência do volume sistólico e da frequência cardíaca, sendo o volume de sangue que chega pelo retorno venoso, que preenche os ventrículos, a pré-carga; e a resistência à entrada de sangue na artéria (devido à pressão do sangue), a pós-carga. De uma forma geral, quando a frequência aumenta o volume sistólico diminui, e vice-versa, mantendo constante o débito cardíaco. Alterações na frequência e/ou no volume sistólico ocorrem para ajustar o volume de sangue liberado para os circuitos cardíacos atendendo a necessidade corporal, seja de oxigênio (circulação pulmonar), ou de distribuição sistêmica, como os que ocorrem durante o exercício físico, a variação postural e a gestação. Organização funcional das fibras cardíacas O músculo cardíaco possui dois tipos funcionais de fibras musculares, as que são contrateis e as autorrítmicas, sendo essas últimas capazes de gerar e conduzir potenciais de ação de forma coordenada. As fibras contráteis são as atriais e as ventriculares, que estão organizadas formando os respectivos sincícios funcionais. É essa organização em sincícios que permite a sístole simultânea entre os dois átrios e entre os dois ventrículos, mas que ocorrem de forma alternada, primeiro a dos átrios seguida pela dos ventrículos. Essa sincronia é conseguida pelo sistema de condução elétrica do miocárdio. As autorrítmicas, que não têm função contrátil, geram espontaneamente potenciais de ação que serão conduzidos pelo miocárdio, formando o sistema de condução elétrica intrínseco (próprio do coração) de controle da contração cardíaca. Este sistema independe do sistema nervoso para ocorrer, mas sofre influência da via nervosa eferente autônoma, onde o simpático acelera o ritmo (cronotropismo) e a força (inotropismo) de contração, enquanto o parassimpático os diminui. Logo, o autônomo forma o sistema extrínseco de controle da frequência de contração cardíaca. O sistema intrínseco possui dois tipos de células autorrítmicas, as de marca-passo que são capazes de iniciar potenciais de ação, sendo responsáveis por determinar o ritmo, e formam os nódulos sinoatriais (SA) e atrioventriculares (AV); e as fibras de condução, que propagam rapidamente os potenciais, sendo estas os feixes de Bachmann, internodais, de Hiss e o sistema de Purkinje. É graças a esse conjunto, que a condução do impulso elétrico no coração, ocorre de forma sincronizada. Ludmila Amitrano Mannarino Página 42 Seguem as estruturas envolvidas e suas funções: Nódulo sinoatrial (SA): localizado na parte superior do átrio esquerdo, na junção com a veia cava. É o marca-passo do coração, pois iniciam o potencial de ação, que irá propagar pelas fibras atriais, sendo conduzido para o átrio esquerdo pelo feixe de Bachmann, permitindo a sístole simultânea dos átrios. Existem os feixes internodais, que permitem a chegada do potencial de ação ao nódulo AV. Nódulo atrioventricular (AV): localizado no átrio direito, no septo interatrial próximo à válvula tricúspide. Apesar das células SA também serem marca-passo, a despolarização do nódulo SA é mais rápida, ocorrendo antes, sendo, por isso, responsável pela despolarização das células AV. Estas, por sua vez, retardam o impulso por transmitirem potenciais de ação mais lentamente, permitindo que ocorra a despolarização atrial antes da ventricular. O potencial AV é conduzido para o feixe de Hiss. Feixe de Hiss (ou feixe atrioventricular): tem início no nódulo AV, e logo após origina um ramo direito e um esquerdo, que percorrem o septo interventricular nos ventrículos respectivos, em direção à base do coração, onde se ramificam, formando o sistema de Purkinje. Essas fibras recebem o potencial de ação do nódulo AV e o conduz pelas fibras do sistema de Purkinje. Sistema de Purkinje (ramos subendocárdicos): as fibras desse sistema estão entremeadas na massa ventricular, e se dirigem até as válvulas cardíacas atrioventriculares. Após receber o impulso dos ramos do feixe de Hiss, o sistema de Purkinje o propaga para o miocárdio ventricular, permitindo a sístole simultânea dos ventrículos. Como a despolarização tem início na base do coração, a contração ocorre no sentido ápice-base, conduzindo o sangue em direção à abertura das artérias. Ludmila Amitrano Mannarino Página 43 O registro da atividade elétrica do coração é feito colocando eletrodos em pontos específicos da pele, distribuídos pelo corpo, que registrarão, por meio de traçados, os impulsos elétricos no eletrocardiógrafo, resultando no eletrocardiograma. Em sequência iremos descrever, de forma geral, a leitura de um traçado normal. Onda P: equivale a despolarização dos átrios. Complexo QRS: equivale a despolarização dos ventrículos. Onda T: equivale a repolarização ventricular. Intervalo PQ ou PR: equivale ao tempo gasto para o potencial gerado nos átrios (nódulo sinoatrial) chegar aos ventrículos. Intervalo QT: equivale ao período de sístole ventricular Intervalo ST: equivale ao período de inatividade elétrica dos ventrículos Intervalo TQ: equivale ao período de diástole ventricular Vasos sanguíneos Após a ejeção do sangue pelo coração, ele irá percorrer o sistema de vasos sanguíneos, que tem início e término no coração, sendo formado pelas artérias, arteríolas, capilares, vênulas e veias. O leito arterial (artérias e arteríolas) conduz o sangue até os tecidos, onde forma o leito capilar, que permite as trocas entre os dois compartimentos, para retornar ao coração pelo leito venoso (vênulas e veias). A microcirculação corresponde às arteríolas, capilares e vênulas, pois só podem ser vistos com uso de microscópio. Os leitos apresentam diferenças anatômicas e histofuncionais, que permitem ajustes conforme a necessidade de manter a homeostasia corporal. O interior oco dos vasos é denominado luz ou lúmem, cujo diâmetro determina o calibre do vaso, e é limitado pelo endotélio vascular, que é contínuo ao cardíaco. A estrutura histológica da parede dos vasos, que reveste externamente o endotélio, onde podem ser encontrados tecidos conjuntivos e musculatura lisa, varia de um vaso para outro, determinando as diferenças funcionais. Ludmila Amitrano Mannarino Página 44 Histologia e função vascular O leito arterial tem início no coração com a artéria aorta (circulação sistêmica) e a pulmonar (circulação pulmonar), que vão ramificando (formando vasos de menor calibre), até a formação das arteríolas. Nas artérias é possível identificar as três túnicas que formam a parede do vaso, a íntima (tecido endotelial), a média (tecido elástico e muscular liso) e adventícia (colágeno e tecido elástico). As artérias de maior calibre, para suportarem a pressão de ejeção do sangue, possuem a média predominantemente elástica, o que permite acomodar o volume sistólico sem romper suas paredes, e quanto mais próximas aos tecidos, a camada muscular é maior. As arteríolas por serem predominantemente musculares, controlam o volume do sangue que chega ao leito capilar, sendo que nelas não é possível diferenciar as túnicas. Os capilares são os menores vasos, em tamanho e calibre, porém são bastante ramificados, permitindo que as células estejam próximas a eles. Possuem a parede formada apenas de endotélio e membrana basal, dando-lhes a característica de semipermeabilidade, onde grandes moléculas não conseguem atravessá-lo, e essa permeabilidade varia em relação ao tipo de tecido, por exemplo, são menos permeáveis no tecido nervoso (formam a barreira hematencefálica) e mais, em órgãos como o fígado (são do tipo sinusoides). As metarteríolas são vasos de transição de onde originam os capilares que podem ser de dois tipos, os capilares verdadeiros, que permitem a troca entreo compartimento vascular e intersticial, e os canais preferenciais (contínuos à metarteríola), que conduzem o sangue direto do leito arterial para o venoso, e por possuírem musculatura lisa na forma circular regulam indiretamente o volume de sangue que passa pelos capilares. O enchimento capilar é regulado pela presença do esfíncter pré-capilar, onde a atividade metabólica do tecido irrigado é que determina maior abertura ou fechamento, mas sempre há passagem de sangue por ele, variando apenas por ser um fluxo mais intenso (mais sangue) ou menos, em áreas específicas, de acordo com a atividade celular. Quanto menor o fluxo de sangue pelos capilares, maior será nos canais preferenciais e vice-versa. O leito venoso é o responsável pelo retorno do sangue ao coração, recolhendo o sangue do leito capilar como vênulas, que se juntam formando veias de maior calibre, até retornar como veia cava (grande circulação) e veia pulmonar (pequena circulação). As vênulas são constituídas de endotélio e pequena quantidade de tecido conjuntivo, e conforme vão adquirindo um calibre maior é possível observar fibras musculares lisas com fibras elásticas e de colágeno entremeadas a elas. Ludmila Amitrano Mannarino Página 45 Internamente, a túnica íntima das veias apresenta dobras formando válvulas. O retorno venoso é favorecido pelos movimentos musculares, que comprimem as veias sem que haja refluxo de sangue, conduzindo o sangue em direção ao coração. Movimentos de partes do corpo, como a planta do pé, também auxiliam. Esse auxilio é extremamente importante para circulação nos membros, principalmente o inferior. Quando comparamos o leito venoso com o arterial, é possível perceber que as veias possuem paredes menos espessas, porém com o calibre maior que as artérias correspondentes, e por serem bastante complacentes conseguem acomodar um maior volume, sem alterar a pressão interna. Tal propriedade é importante, pois em repouso as veias possuem maior volume de sangue que as artérias, mas se houver necessidade de aumentar a disponibilidade de sangue para os tecidos, essa condição é invertida. A vasodilatação e constrição são reguladas pelo sistema nervoso simpático, hormônios e por fatores locais, ajustando o volume a ser disponibilizado em cada segmento do corpo e do tecido. Passagem de sangue pelos vasos A passagem de sangue pelos vasos inclui fatores como velocidade do fluxo e pressão sanguínea. O fluxo é determinado pelo volume de sangue que passa em um minuto (mL/min), a pressão pela força que esse volume faz sobre a parede do vaso, que pode oferecer maior ou menor resistência a passagem desse volume, sendo medida em milímetros ou centímetro de mercúrio (mmHg ou cmHm). A musculatura lisa vascular participa na sua resistência, sendo possível ocorrer: Vasoconstrição: que é a diminuição da luz, aumentando a resistência e diminuindo o fluxo de sangue; Vasodilatação: que é o aumento da luz, diminuindo a resistência e aumentando o fluxo de sangue. O total da área ocupada pelos vasos que compõe cada leito vascular no corpo é denominada de área de secção transversa, estando relacionada ao volume de sangue que cada leito comporta, sendo útil para entendermos a dinâmica circulatória. Lembrem-se: as artérias ramificam até a formação de arteríolas, que também ramificam até originarem a rede de capilares, estes se unem para formar as vênulas que se unem para formar as veias. Ludmila Amitrano Mannarino Página 46 A cada ramificação diminui o calibre, porém aumenta o número de vasos, ocorrendo o inverso no retorno ao coração. A área de secção transversa das artérias é pequena quando comparada ao volume de sangue que deve transitar por elas, para então chegar aos leitos seguintes que possuem áreas maiores, resultando em uma velocidade maior do fluxo sanguíneo. A chegada do sangue em jorros determina a sua expansão onde a pressão é máxima; e o escoamento permite a sua retração, sendo nesse momento a pressão mínima. Essa elasticidade das artérias favorece o fluxo de sangue, e é nesse seguimento que são registrados os maiores valores de pressão. Quando o sangue chega às arteríolas a velocidade diminui, assim como a pressão, pois a área de secção transversa aumenta, o que compensa o diâmetro menor do vaso. Por serem predominantemente musculares, são as responsáveis em controlar o volume de sangue que é disponibilizado para o leito capilar, onde a vasodilatação aumenta o fluxo e a vasoconstrição o diminui. Pelo fato da área de secção transversa nos capilares ser a maior de todas, a velocidade de passagem do sangue é baixa, sendo possível fazer as trocas com o tecido, e a pressão é menor que nas arteríolas, devido a sua grande ramificação. Conforme o sangue retorna ao coração a área de secção transversa vai diminuindo, o que aumenta a velocidade do fluxo sanguíneo, sendo que a pressão continua diminuindo, pois o seguimento venoso apresenta maior distensibilidade de parede, permitindo acomodar maior volume com menor reflexo na pressão. Mesmo a velocidade sendo maior que no leito capilar, ela chega ao máximo à metade da registrada nas grandes artérias. Por outro lado, a pressão mínima pode chegar a zero nas veias cavas. Troca de elementos entre o sangue e os tecidos O controle de fluxo sanguíneo para os tecidos ocorre de acordo com a atividade metabólica e a pressão de perfusão (determinada pelo volume e pressão do sangue nas artérias), onde a vasodilatação e a vasoconstrição, que ocorre nas porções musculares, determinam o grau de enchimento no leito capilar. As trocas que ocorrem entre o compartimento vascular e os tecidos só são possíveis a nível capilar, pois é o único vaso que apresenta permeabilidade devido a constituição de sua parede (endotélio e membrana basal), sendo a filtração, a reabsorção e a difusão os processos envolvidos. A diferença na permeabilidade capilar em alguns tecidos é devido à organização das células, que permitem a existência ou não de fenestrações (espaço entre as células endoteliais) que podem ser maiores ou menores, limitando o trânsito das substâncias de acordo com o tamanho. Os de maior permeabilidade são encontrados no fígado, no baço e na medula óssea, permitindo o trânsito de proteínas e células. Os menos permeáveis são encontrados formando a barreira hematencefálica. A concentração da substância nos compartimentos, seu peso molecular e sua solubilidade na porção lipídica da membrana, associados à fenestração capilar, são os principais fatores que determinam a difusão nos capilares, lembrando que podem ocorrer nos dois sentidos, para dentro ou para fora dos capilares. A movimentação de líquidos ocorre pela filtração (dos capilares para o tecido) e pela reabsorção (do tecido para os capilares), sendo determinada pela diferença da pressão do líquido e de concentração de soluto, em cada compartimento. Como o sangue chega com pressão nos capilares próximo as arteríolas, ocorre a filtração, aumentando a pressão do líquido intersticial, determinando então a reabsorção, próximo as vênulas. Ludmila Amitrano Mannarino Página 47 Considerando a difusão de solutos, nem toda água filtrada será absorvida pelos capilares sanguíneos, sendo então drenada pelos vasos linfáticos. Circulação linfática O sistema linfático participa do sistema cardiovascular por recolher o excesso de líquido tecidual e substâncias que não foram captadas pelos capilares sanguíneos, como proteínas, formando a linfa. Os vasos linfáticos têm início em fundo cego nos próprios tecidos, na forma de capilares, que possuem as células endoteliais fixadas no tecido por filamentos, e com extremidades que prolongam umas sobre as outras, formando válvulas sobre grandes fenestrações, cujaabertura e fechamento são regulados pela pressão líquida no tecido e no capilar linfático. Como a pressão líquida no tecido normalmente é maior, ocorre a abertura das válvulas, permitindo a drenagem do liquido intersticial juntamente com outros elementos. Conforme os capilares vão se unindo para formação de vasos de maior calibre, que devolverão a linfa, próximo ao coração, eles passam a possuir tecido muscular liso e conjuntivo, além das válvulas que direcionam o fluxo. Durante este trajeto a linfa é "filtrada" em gânglios linfáticos (linfonodos), que possuem tecido linfoide (relacionado à defesa do organismo) onde bactérias, células e partículas ficam retidas, depurando-a antes de retornar ao leito venoso, e auxiliando nas respostas de defesa orgânica. O fluxo linfático é favorecido pelo aumento da pressão do líquido intersticial, e seu deslocamento é devido aos seguintes eventos: Presença de válvulas → deslocamento no sentido do coração Bomba linfática → distensão das paredes pelo volume de linfa desencadeando contração reflexa do músculo liso, impulsionando a linfa Contração muscular, pulsação arterial, compressão dos tecidos do corpo → auxiliam o bombeamento, pois comprimem o vaso linfático, impulsionando a linfa Os vasos quilíferos são vasos linfáticos que têm como função absorver os quilomicrons, no intestino delgado, resultantes da digestão dos lipídeos, e que não são absorvidos pelos vasos sanguíneos, pois o peso molecular é elevado. Ludmila Amitrano Mannarino Página 48 Controle da atividade cardíaca e da pressão sanguínea pelo sistema nervoso Como descrito anteriormente, a atividade cardíaca é regulada pelo sistema intrínseco (células autorrítmicas) que sofre Influência do extrínseco (sistema nervoso autônomo). O centro nervoso de controle da atividade cardíaca e da pressão sanguínea (centro vasomotor) fica localizado no bulbo, e recebe informações aferentes que foram geradas em barorreceptores. Estes são receptores de estiramento, logo percebem as variações de pressão, e estão localizados na parede do coração e vasos sanguíneos, sendo que os principais são os da carótida e da aorta. As respostas eferentes do centro vasomotor (CV) pertencem ao grupo vasoconstritor (vias simpáticas) e vasodilatador (vias parassimpáticas). A diminuição da pressão arterial resultara em uma resposta do grupo vasoconstritor, que irá promover aumento da resistência vascular (RV), devido à vasoconstrição periférica; e aumento do débito cardíaco (DC), por aumentar tanto a frequência como a força de contração, aumentando o volume de sangue. De forma inversa, o grupo vasodilatador promove resposta quando há elevação da pressão do sangue, e atuam inibindo o grupo vasoconstritor e promovendo diminuição da resistência vascular e do débito. Desta forma, ajustam os valores de pressão conforme a necessidade. Barorreceptor ↓pa Centro VM Grupo vasoconstritor ↑RV ↑DC ↑pa Grupo vasodilatador ↓RV ↓DC Exercícios - unidade 5 1. Assinale a alternativa que indica de forma correta a participação dos vasos linfáticos no sistema circulatório: a) Transporte do líquido extracelular, oferecendo aos tecidos nutrientes, além de oxigênio. b) Participar da distribuição do líquido extracelular para os pulmões. c) Recolher o excesso de sangue nos tecidos, principalmente nos intestinos. d) Recolher o excesso de água tecidual, juntamente com outros elementos intersticiais. 2. A função das válvulas cardíacas atrioventriculares e semilunares: a) Permite que o fluxo de sangue seja unidirecional. b) Evita o refluxo de sangue para os átrios durante a sístole ventricular. c) Impedir o refluxo de sangue para os ventrículos quando estiverem em diástole. d) Favorecer a circulação de sangue do ventrículo para o átrio esquerdo durante o ciclo cardíaco. 3. Para atender as necessidades corporais, o fluxo sanguíneo deve ser ajustado. Em situações, como durante a atividade física, ocorre aumento da frequência cardíaca e da força de contração, que conjuntamente resultarão em: a) Aumento da resistência vascular. b) Aumento do débito cardíaco. c) Aumento do débito sistólico. d) Aumento das bulhas cardíacas. Ludmila Amitrano Mannarino Página 49 4. As fibras musculares presentes no miocárdio que são responsáveis pelo sistema intrínseco de frequência cardíaca são: a) Atriais. b) Ventriculares. c) Contráteis. d) Autorrítmicas . 5. São propriedades do leito arterial, exceto: a) Permeabilidade. b) Elasticidade. c) Resistência. d) Controle do fluxo capilar. 6. Os vasos quilíferos, que drenam o intestino, absorvendo os quilomicrons provenientes da digestão de lipídeos, são vasos do tipo: a) Arterial. b) Venoso. c) Capilar. d) Linfático . 7. O que favorece os eventos de filtração, reabsorção e difusão nos capilares é: a) A constituição de sua parede. b) O retorno venoso. c) O débito sistólico. d) A pré-carga cardíaca. 8. Quanto ao sistema circulatório, analise as afirmativas e assinale a incorreta. a) O circuito cardíaco direito circula sangue pobre em oxigênio. b) O sangue que chega ao átrio esquerdo vindo dos pulmões, rico em oxigênio, é transportado por artéria. c) A pressão sanguínea é resultado do volume de sangue e da resistência vascular. d) O principal marca-passo cardíaco é o nódulo sinoatrial. 9. Justifique a importância de válvulas no seguimento venoso. 10. Explique a participação do centro vasomotor no sistema circulatório. Gabarito 1. D 2. A 3. b 4. D 5. A 6. D 7. A 8. B Ludmila Amitrano Mannarino Página 50 9.As válvulas presentes nas veias colaboram com o retorno do sangue no sentido do coração, tendo em vista a velocidade do fluxo e a pressão sanguínea serem menores, sendo favorecido pelos movimentos de partes do corpo e pela contração muscular. 10.O centro vasomotor é responsável por regular a atividade cardíaca e a pressão sanguínea. Recebe informação gerada nos barorreceptores e promove respostas eferentes pertencentes ao grupo vasoconstritor (vias simpáticas) e vasodilatador (vias parassimpáticas). A diminuição da pressão arterial resultará em uma resposta do grupo vasoconstritor, que aumentará o débito cardíaco e a resistência vascular, mantendo a pressão sanguínea dentro da faixa de normalidade, e a elevação desencadeia a resposta do grupo vasodilatador, que inibe o grupo vasoconstritor e promove diminuição da resistência vascular e do débito cardíaco, também ajustando a pressão sanguínea.
Compartilhar